quarta-feira, 30 de março de 2011

Uma vitória bem instrutiva


Holanda, finalmente, teve de se esforçar. E conseguiu um triunfo que deixa ensinamentos (AP)


Pelo começo do jogo na Amsterdam ArenA (que teve bonita homenagem a Van Bronckhorst, antes de seu início), a Holanda repetiria, na segunda partida contra a Hungria, pelas eliminatórias da Euro 2012, o passeio dado na última sexta, em Budapeste. Afinal de contas, a Oranje iniciou chegando constantemente ao ataque. E o gol que abriu o placar, feito por Van Persie, parecia o prenúncio de uma partida fácil.

Não foi. E não foi porque, achando que a partida estava definida, a equipe treinada por Bert van Marwijk cometeu aquele que talvez seja o seu pior erro: jogar esperando o adversário, oferecendo espaços a ele no ataque. Poderia até ser uma estratégia possível, caso a seleção tivesse uma defesa acima de qualquer suspeita. Não tem. Pior: não só a escalação contraindicava isso, uma vez que Van der Vaart não tem o poder de marcação de Van Bommel, como alguns defensores tiveram atuação frágil. Como Pieters e Van der Wiel, pelas laterais.

A consequência era óbvia: cada vez mais, os húngaros começaram a aproveitar os espaços oferecidos e a chegar perigosamente ao ataque, contando com as boas atuações de Gergely Rudolf e Zoltán Gera - auxiliados por Dzsudzsák, mais discreto dessa vez, mas sempre útil. O empate já poderia ter saído no final do primeiro tempo, quando os visitantes eram francamente melhores. Saiu no início do segundo, quando Rudolf teve até sorte, com o chute que desviou em dois defensores. E, com a Holanda aturdida, Gera fez o segundo gol. Parecia o golpe final na invencibilidade de nove jogos - que é maior, quando se lembra de jogos na Amsterdam ArenA. E maior ainda, em termos de jogos pelas eliminatórias da Euro (46 jogos!).

Parecia. Porque, aí sim, a Holanda tratou de justificar porque é uma das grandes seleções do mundo, atualmente. Com Afellay aparecendo no jogo, junto do esforço de Kuyt e de Sneijder, a Oranje chegou à virada - e contando também com a experiência de um personagem especial. Ao fazer o terceiro gol, Ruud van Nistelrooy empatou com Faas Wilkes, tornando-se o terceiro maior goleador da história da Oranje, com 35 gols. O nativo de Oss pode ser reserva, pode não aguentar mais o ritmo de uma partida completa, mas sua experiência e capacidade de finalização é algo de que não se pode prescindir.

A defesa até voltou a falhar, oferecendo o empate a Gera. Mas a confiança e a consciência de que precisava se esforçar para chegar à vitória continuavam grandes. E resultaram numa reação rápida, com os dois gols de Kuyt que deram a continuação da invencibilidade e a aproximação maior ainda da Euro. Numa vitória mais árdua do que se esperava, mas merecida.

Não só merecida, mas muito instrutiva. Porque mostra que a Holanda não pode se dar ao luxo de achar que jogar cautelosamente sempre dará resultado. E mostra que mesmo um adversário fraco exige todo o esforço possível. Caso aprenda isto, a Holanda continuará apta a exercer o domínio que hoje exerce no Grupo E das eliminatórias da Euro 2012.


segunda-feira, 28 de março de 2011

Rob de Wit: parado pelo cérebro

De Wit poderia ter tido o mesmo destino de sucesso do contemporâneo Van Basten. Mas a saúde não permitiu (ajax.nl)


Atualmente, a seleção da Holanda encara uma rodada das eliminatórias da Euro 2012, na qual enfrenta a Hungria, duas vezes. São jogos decisivos, obviamente: vencendo-os, a Oranje fica muito perto da vaga na principal competição europeia de seleções. No entanto, já houve outras partidas decisivas para a seleção contra a Hungria. E uma delas foi a principal da carreira de um jogador que começou de modo fulgurante, mas teve de encerrar a carreira repentinamente: o atacante Rob de Wit.

Para começar a falar de De Wit, devemos voltar quase 26 anos no tempo. Mais precisamente, ao mesmo estádio de Budapeste que viu o jogo contra a Hungria, na última sexta-feira - hoje, chamando-se Ferenc Puskás, mas ainda Népstadion à época. Era o dia 14 de maio de 1985. Ainda disputando vaga na Copa do Mundo de 1986, em uma disputa renhida com a Áustria, no Grupo 5 das eliminatórias europeias, a Oranje enfrentava a Hungria, já classificada para o Mundial. Precisando da vitória.

Era jogo duro. Até que, aos 24 minutos do segundo tempo, Simon Tahamata, da direita, inverteu o jogo com Rob de Wit, que havia substituído Ton Lokhoff, no intervalo. O atacante dominou, passou por dois defensores húngaros como se eles não existissem e tocou, levemente, por cobertura, na saída do goleiro Peter Disztl. Era o gol da vitória holandesa. Aquele 1 a 0 fez com que a equipe de Leo Beenhakker empatasse com a Áustria, em pontos, superando-a no saldo de gols e conseguindo lugar na repescagem. Foi eliminada dramaticamente pela Bélgica, mas essa é outra história.

Aquele era o pico de uma subida vertiginosa. Que começara em 1982, quando De Wit, nascido em Utrecht, em 8 de setembro de 1963, iniciou sua carreira profissional jogando pelo clube da cidade. Com a camisa dos Utregs, foram poucos jogos: 42, marcando sete gols. Mas o estilo leve, de dribles rápidos, com que chegava ao ataque fez com que o nome de De Wit logo ficasse famoso. Não demorou para que, em 1984, o Ajax decidisse contratá-lo, para substituir Jesper Olsen, que saíra para o Manchester United.

E também foi um pulo para que De Wit se tornasse um dos favoritos da torcida. E justificasse os aplausos com ótimas atuações. Que, finalmente, o levaram à seleção holandesa, estreando em 1º de maio, contra a Áustria, também pelas eliminatórias europeias da Copa. E, treze dias depois, De Wit faria o descrito acima, em Budapeste.

Se ainda era reserva no início das oportunidades que recebeu, De Wit terminaria aquelas eliminatórias como titular - jogando, inclusive, a malograda partida contra a Bélgica, que eliminou a Oranje do Mundial. E entrou 1986 como parte da base holandesa, além de permanecer titular no Ajax, onde conquistaria a Eredivisie, naquele ano. Era fato: De Wit prometia subir ainda mais na carreira, junto de companheiros do Ajax, como Van Basten ou Jan Wouters.

Mas o destino disse não. Ao final da temporada 1985/86,  quando passava férias na Espanha, De Wit sofreu uma hemorragia cerebral. Até pareceu um incidente contornável. Tanto é que seus companheiros trataram de mandar um cartão, ao hospital onde o atacante estava internado, fazendo piada: "Nós nem sabíamos que você tinha cérebro".

Na continuação do tratamento, o jogador viajou para a Suécia, de modo a fazer um tratamento com laser. Tinha grandes chances de cura. Pois elas diminuíram barbaramente, com os erros médicos: o laser provocou danos irreparáveis no local da hemorragia. De Wit até tentou voltar aos treinamentos. No entanto, tinha dificuldades em fazer os movimentos, e o corpo reagia aleatoriamente. O zagueiro Ronald Spelbos, já veterano, deu a dica: "Robbie, é melhor você parar". E, em 1986, ainda aos 23 anos, De Wit abandonou a carreira.

De Wit sofreria mais duas hemorragias cerebrais, em 1993 e em 2005. Mas está vivo e lúcido, morando em Utrecht. E ainda pode contar a respeito do jogo que decidiu contra a Hungria.

Ficha
Nome:
Rob de Wit
Posição: atacante
Data de nascimento: 8 de setembro de 1963, em Utrecht
Clubes: Utrecht (1982 a 1984) e Ajax (1984 a 1986)
Títulos: 1 Campeonato Holandês (1985/86)
Pela seleção: 8 jogos, 3 gols 


Veja o gol de De Wit contra a Hungria, nas eliminatórias para a Copa de 1986

sábado, 26 de março de 2011

E não vai mudar nada


Restam poucas dúvidas: a Holanda nada de braçada em seu grupo nas eliminatórias da Euro (AP)


Quando os grupos das eliminatórias para a Euro 2012 foram sorteados, já dava para se ver que a Holanda teria um caminho tão fácil como foi o da qualificação para a Copa de 2010. Até por ser cabeça de chave, pela terceira colocação no ranking da UEFA para as seleções europeias, a Oranje certamente teria um grupo sem adversários que pudessem causar grandes dores de cabeça.

O que não se esperava é que ele fosse mais fácil ainda. Afinal de contas, o time de Bert van Marwijk teria dois países um pouco mais tradicionais pela frente, Suécia e Hungria. É certo que haveria o alívio de pegar equipes como Moldávia e San Marino - este último, um saco de pancadas reconhecido. Ainda assim, dava para pensar na hipótese de suecos e húngaros fazendo alguma pressão contra a Laranja.

Pois foram justamente estes dois rivais tradicionais que sofreram duas das goleadas aplicadas pela equipe na qualificação para a Euro. A Suécia já havia sido destroçada com um 4 a 1. E, nesta sexta, foi a vez da Hungria sentir a ampla superioridade batava no Grupo E. O que só prova uma coisa: a solidez do elenco com que Van Marwijk trabalha, atualmente, é tão grande que a regularidade das atuações continua, sejam quais forem os jogadores.

Para começar, no gol, Michel Vorm foi bem sempre que exigido, como em chutes de Rudolf e Dzsudzsák. Já em boa fase há algum tempo, o goleiro do Utrecht se credencia, cada vez mais, como o reserva imediato de Stekelenburg. Mas é no meio-campo que se dá a grande revelação da boa fase que vive a Oranje. O personagem dessa revelação é Van der Vaart.

O meia do Tottenham foi o homem do jogo em Budapeste. Não só deu qualidade na saída de bola, como ainda assumia o papel de armador (como no terceiro gol, quando seu passe pegou a defesa húngara desprevenida, deixando Van Persie e Kuyt livres), ou até chegava ao ataque - resultando no primeiro gol, após bom passe de Sneijder.

Paralelamente a isso, depois de sofrer nos dez primeiros minutos de jogo, a linha de quatro defensores ficou absolutamente tranquila. O que deu liberdade para que Van der Wiel pudesse avançar o quanto quisesse, sem causar a menor preocupação na parte de trás. Enquanto isso, os coadjuvantes fizeram bem o seu serviço. Por exemplo, sem muitas preocupações na marcação, De Jong mal usou de força nas tentativas de repelir as subidas húngaras.

Com a vitória, a Holanda solidifica mais ainda um ciclo bastante seguro. É verdade que o grupo não é dos mais fortes. E as atuações do time tampouco são exuberantes a ponto de merecer os elogios derramados que Marco van Basten proferiu, comentando o jogo pela TV Veronica ("Foi agradável de se ver, lembrou algo do Barcelona", falou San Marco). Mas, assim como já fizera no caminho para a África do Sul, o time de Van Marwijk vai passando pelos rivais sem dificuldades.

E, após a derrota na final da Copa do Mundo, já consegue uma nova sequência invicta: desde o empate contra a Ucrânia, em agosto de 2010, já são oito partidas sem derrota. Sete vitórias seguidas (duas por amistosos, cinco nas eliminatórias da Euro). Cem por cento de aproveitamento na qualificação.

Ou seja: pode até ser que haja um empate, quem sabe uma derrota, em Amsterdã, na próxima terça. Mas nada indica que a Holanda deixará de estar na Polônia ou na Ucrânia para disputar a Eurocopa pela nona vez, no ano que vem. Com ou sem Robben, com Van Bommel ou Van der Vaart como parceiros de De Jong na dupla de marcadores no meio... nas eliminatórias para 2010, 2012... não vai mudar nada.


quarta-feira, 16 de março de 2011

Como acompanhar um jogo em holandês

Agora você já sabe que falar "Cocu na trave" não é o jeito mais correto (postproduktie.nl)


Gol. Tor. Golo. But. Essa história de glossário esportivo faz com que todo mundo saiba pelo menos o básico da terminologia futebolística em outros idiomas. Pois bem, este blog aqui não poderia ficar de fora. Ainda mais tendo em vista que um dos principais atrativos do futebol holandês são os nomes ligeiramente complicados.

(Parêntese para uma anedota: dizem que, pouco após a Copa de 1974, jornalistas brasileiros toparam com ninguém menos do que Johan Cruyff. Tiveram o ímpeto de perguntar a ele como se dizia o seu sobrenome: cráif, cróif, crúif, como diabos se dizia aquela palavrinha complicada? Perguntaram. E "Jopie" disse, impassível: "Podem me chamar de Johan".)

Feita a pausa levemente humorística, vamos a algumas dicas. A primeira delas é o famoso dígrafo ij - que é, na verdade, uma letra em si, na Holanda. Ele é pronunciado como sendo um éi. E, ao ser falado assim, acaba ficando parecido com um ái. Daí estar certo falar "réicard" ou o mais popular "ráicard" para Rijkaard, por exemplo.

Também há uma particularidade envolvendo o encontro vocálico oe. Quando as duas letras estão juntas numa palavra, nessa ordem, são pronunciadas como se fossem o u português. Por exemplo: quando nos referimos ao ex-zagueiro da seleção holandesa, de passagem vitoriosa pelo Barcelona, fala-se cúman para Koeman. E não quêman, como se a palavra fosse de origem alemã, com aquele trema característico. Outro exemplo vem não da Holanda, mas da Ucrânia: o volante do Bayern de Munique é chamado não de Tymoshchuk, mas de Tymosjoek.

Pois bem: se o u, para os holandeses, é o oe, então como se fala o u de fato? Neste caso, o som continua sendo de u, mas falado com "bico", o que faz o som virar uma leve mistura de u com i. Para tanto, lembremo-nos dos velhos e bons cacófatos envolvendo o sobrenome do ex-meia, hoje auxiliar de Bert van Marwijk na seleção e de Fred Rutten, no PSV: sim, ele, Phillip John William Cocu, o terror dos narradores. O Cocu não é pronunciado como se espera em português, mas fica sendo meio o Cocu natural, meio Coquí.

Outra dica importante é sobre mais um encontro vocálico, ui. Ele é pronunciado como se fosse, na verdade, um ãi (embora esse ainda não seja um som exato para descrevê-lo). Sendo assim, o nome do maior artilheiro da história da seleção holandesa é pronunciado Clãifert - é, o v tem som bem forte em holandês, quase como um f. E Kuyt (ou Kuijt, a forma holandesa original) fica sendo cãit, ao invés do cúit falado normalmente.

A última dica válida é sobre o ee, cujo caso mais conhecido é o de Seedorf. Embora o uso de Sídorf para o nome do meio-campista do Milan já tenha ficado consagrado, o certo seria falar o ee do nome como ei. Logo, Seedorf seria Cêidorf.

Ainda há outras regrinhas. Mas são dispensáveis, pelos usos consagrados de certos modos. Por exemplo, o fato de o j ser sempre pronunciado como i. Isso faz com que os holandeses chamem o que aqui é dito como Ajax de Áiax. Só que se, na ânsia de falar certo, você chegar numa discussão com brasileiros e falar Áiax, isso soará meio arrogante e desnecessário.

O mesmo com o g. Em holandês, ele é pronunciado de modo gutural, como um rr. Só que também torna-se uma preocupação excessiva, por exemplo, passar a falar Rrúlit para Gullit, como ficou aqui no Brasil. Isto é, estas são duas regras "dispensáveis", em termos.

Dito isto, vamos ao famoso glossário de termos futebolísticos em holandês. Boas tentativas!

Aanval - ataque
Aanvaller - atacante
Aansluitingstreffer - gol de honra
Aanvoerder - capitão
Aftrap - início de jogo
Beker - copa
Blessure - contusão
Blessuretijd - acréscimos
Buitenspel - impedimento
Bondscoach - técnico da seleção (ao pé da letra, "técnico da federação")
Clublied - hino do clube
Coach - técnico
Doelpunt - gol
Doelman - goleiro
Eerste helft - primeiro tempo
Eigen doel - gol contra
EK - Eurocopa (de "Europese Kampioenschap", "campeonato da Europa" ao pé da letra)
Elftal - time
Erelijst - lista de títulos
Extra tijd - prorrogação
Gelijkspel - empate
Gewonnen - vitória
Hoekschop - escanteio
Jeugd - juvenil
Kaart - cartão
Keeper = doelman
Kopbal - cabeçada
Lat - travessão
Links - esquerda
Middenveld - meio-campo
Middenvelder - meio-campista
Omhaal - bicicleta
Overtreding - falta
Paal - trave
Rechts - direita
Rust - intervalo

Scheidsrechter - auxiliar
Schot - chute
Selectie - elenco
Speeldag - rodada
Speler - jogador
Spits = aanvaller
Strafschop - pênalti
Supporters - torcedores
Technische staf - comissão técnica
Tegenaanval - contra-ataque
Thuis - em casa
Topscorer - artilheiro

Trainer = coach
Tweede helft - segundo tempo
Uit - fora de casa
Verdediger - defensor
Verlenging = extra tijd
Verliezen
- derrota
Verslaggever - narrador
Vleugelaanvaller - ponta
Vleugelverdediger - lateral
Voorzet - cruzamento
Wedstrijd - jogo
Winnen = gewonnen
WK - Copa do Mundo (de "Wereld Kampioenschap", "campeonato do mundo" ao pé da letra)

segunda-feira, 14 de março de 2011

810 minuten: como foi a 27ª rodada

Ola John transformou o esforço do Twente em mais uma difícil vitória, contra o VVV (Vincent Jannink/EFE)

Tem sido periódica a disputa entre PSV, Twente e Ajax pela liderança da Eredivisie. Em algumas rodadas, nada acontece nela; noutras, o PSV consegue um respiro maior na liderança. Porém, a 27ª rodada do Campeonato Holandês seguiu pelo caminho em que os Enschedese e os Ajacieden reavivaram suas esperanças de título. Com o tropeço do time de Eindhoven frente ao NEC, o Twente ficou a apenas um ponto do líder - e os Ajacieden, a três.


Logo abaixo na tabela, o AZ pode ser considerado o grande beneficiado da rodada. Começou-a em sexto lugar, e teve todos os resultados que lhe ajudavam: venceu o concorrente direto Roda JC, e viu Groningen e ADO Den Haag caírem. Com isso, subiu para a quarta posição, e aumentou suas chances de ir para a Liga Europa. Também aumentou o otimismo do Feyenoord, que cravou a terceira vitória consecutiva e já tem esperança de minorar os traumas de uma temporada que ficará negativamente marcada em sua história. Aqui, uma geral dos jogos:


Utrecht 1x0 Groningen
Tentando reagir após duas derrotas, o time de Pieter Huistra foi ao ataque por algumas vezes. A mais perigosa delas, logo no começo do segundo tempo, quando Leandro Bacuna mandou uma bola no travessão de Michel Vorm. Mas os Utregs tinham uma arma: a volta de Frank Demouge, recuperado de contusão. E foi precisamente o camisa 12, que, após três minutos em campo, fez o gol da vitória. Fato negativo: a cotovelada que o goleiro Luciano aplicou em Ricky van Wolfswinkel. Não rendeu punição do árbitro ao brasileiro, mas foi flagrada pelas câmeras.


Heracles 4x1 Excelsior
23 minutos. Este foi o tempo em que se acreditou que o estádio Polman, em Almelo, poderia ver um jogo equilibrado. Até que Daan Bovenberg foi expulso, por derrubar Everton na entrada da área, como último homem. Dos 24 minutos da etapa inicial em diante, domínio claro dos Almelöers - que ainda contaram com alguma ajuda, como no terceiro gol, em que Mark Looms chutou e o goleiro Nico Pellatz falhou. A goleada também representou um passo a mais na ascensão dos comandados de Peter Bosz, sendo a terceira vitória consecutiva. Já ao Excelsior, fica a certeza de que a tentativa de fuga do rebaixamento será árdua.


Roda JC 1x2 AZ
O jogo em Kerkrade era muito importante para as duas equipes, concorrentes diretas por vagas na Liga Europa. E os Alkmaarders apresentaram uma eficiência bastante útil para uma partida tão decisiva. Primeiramente, com o gol de Sigthórsson, que desviou muito levemente na bola após cobrança de falta de Maarten Martens. E, depois, com o próprio Martens fazendo 2 a 1, dois minutos após o Roda empatar, sem deixar que os comandados de Harm van Veldhoven se empolgassem na partida. Vitória bastante importante para o time de Gertjan Verbeek - que, após a saída turbulenta do Feyenoord, voltou a ter uma sequência de bons trabalhos.


Vitesse 1x1 Heerenveen
Tentando ampliar ainda mais a sua distância em relação às zonas de rebaixamento e da Nacompetitie, os Arnhemmers conseguiram a "ajuda" da defesa no gol de Martí Riverola. Afinal, o espanhol cabeceou completamente livre, sem marcação na área. E, ao longo do jogo, o time aurinegro criou mais chances. Não as aproveitou, parando na boa atuação do goleiro Kevin Stuhr-Ellegaard. E foi punido com o gol de Darryl Janmaat, aos 42 minutos do segundo tempo. Ainda assim, manteve vantagem segura em relação ao goleado Excelsior. Os frísios, por sua vez, continuam na disputa para entrarem nos play-offs por vaga na Liga Europa.


De Graafschap 1x0 ADO Den Haag
O time de Haia tentou. Com Jens Toornstra, com Lex Immers, com Dmitri Bulykin, vice-artilheiro da Eredivisie. Mas pararam numa ótima atuação de Boy Waterman, que fez boas defesas no gol dos Superboeren. Então, bastou um contra-ataque de Steve de Ridder, um cruzamento deste, e Rydell Poepon fez 1 a 0. Vitória surpreendente, até certo ponto, mas merecida por parte da equipe de Darije Kalezic. Ao Den Haag, restou a decepção de perder um jogo altamente importante para seguir a ótima campanha que vinha fazendo - e para entrar de vez na disputa da vaga nos play-offs da Liga Europa.


Feyenoord 2x1 NAC Breda
Como de costume nas últimas partidas, o Stadionclub exibiu um espírito esforçado e renovado em campo. Algo exemplificado na rapidez que Ryo Miyaichi exibe para jogar pelos lados do campo. E pela força que Luc Castaignos mostra nas finalizações - o gol que abriu o placar no De Kuip foi o terceiro seguido do atacante, e o seu 11º na Eredivisie. A possibilidade da vitória até levou um forte solavanco, com o gol de empate do NAC, conseguido num chute de Jenner, em que Rob van Dijk (substituto de Erwin Mulder, às voltas com a morte do pai) cometeu uma falha ridícula. Mas o esforço que o Feyenoord emprega em suas atuações foi premiado com o gol de Stefan de Vrij. E uma temporada que ficará negativamente marcada, ao menos, vai se tornando mais digna.


Twente 2x1 VVV-Venlo
Já há algum tempo, o Twente tem se caracterizado por conseguir suas vitórias na Eredivisie de um modo relativamente difícil. E o triunfo sobre os Venlonaren não foi diferente. A começar pelo fato de que os Tukkers ficaram atrás, em casa, logo aos três minutos do primeiro tempo, com o gol de Ferry de Regt. A sorte é que o time de Michel Preud'homme, quase sempre, consegue correr atrás dos resultados com esforço e organização. Resultado: também consegue virar comumente. Já antes do intervalo, empatou, com Brama. No segundo tempo, o sempre bom Theo Janssen mandou uma bola na trave. Até que, aos 38 minutos, Ola John, que entrou no lugar de Bajrami, virou. E o esforço continua mantendo o Twente forte na disputa do título holandês.


Willem II 1x3 Ajax
Apesar de estarem em situação, no mínimo, desesperadora na tentativa de fugir do rebaixamento, os Tilburgers tinham alguma esperança de oferecer dificuldade aos Ajacieden. O retrospecto ajudava: há cinco partidas, o último colocado da Eredivisie não perdia em casa. E a esperança aumentou quando Toby Alderweireld falhou, e permitiu a chegada à área. Verhoeven, substituto de Stekelenburg, também falhou, e Rangelo Janga também ficou livre para fazer 1 a 0. No intervalo, Frank de Boer decidiu arriscar, colocando Dario Cvitanich e Aras Özbiliz em campo. Não foram necessários mais do que três minutos para a aposta render: Özbiliz passou a Siem de Jong, que fez 1 a 1. No entanto, só após a expulsão (justa) de Halilovic é que o Ajax ficou mais tranquilo. E consolidou a virada, com dois belos gols de Vertonghen e Christian Eriksen.


NEC 2x2 PSV
Durante todo o primeiro tempo, os Nijmegenaren ameaçaram mais o gol de Isaksson. Principalmente com Leroy George. Numa jogada, já no final do primeiro tempo, o atacante foi lançado em profundidade. Estava livre, mas deixou a bola passar por ele. Mas, aos 41 minutos, George voltou a ser acionado. E, num bonito chute de fora da área, fez 1 a 0. Porém, o PSV mostrou alta eficiência e empatou ainda antes do intervalo: num belo cruzamento de Manolev, Dzsudzsák marcou. Já no segundo tempo, em boa jogada individual, Jeremain Lens virou o jogo. E os Eindhovenaren iam garantindo mais uma vitória providencial, até que a defesa relaxou. Aos 45 minutos do segundo tempo. E Ramon Zomer, de cabeça, fez 2 a 2. Um empate inesperado e ruim para os (ainda) líderes da Eredivisie.

Declaração de intenções






Sem este time, a história do futebol holandês não seria a mesma. Só que ele já jogou há 37 anos (holland74.net)


Já há muitos blogs feitos no Brasil falando sobre o futebol mundial. Falando, aliás, de países incomparavelmente mais tradicionais. Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha. Todos muito bem feitos. No entanto, havia uma falta: o futebol holandês. Não que ninguém falasse sobre ele: alguns blogs já haviam sido começados. E as comunidades existem: no Orkut, no Twitter, no Facebook. Nada que fizesse os blogs continuarem regularmente.

E, então, fica a lacuna. Que sempre é preenchida pelos velhos estereótipos, como lembrar da "Laranja Mecânica" da Copa de 1974, Cruyff, Van Basten, Gullit, as épocas em que Romário e Ronaldo estiveram no PSV, o Ajax do início dos anos 1970, o Ajax de Louis van Gaal... de fato, todos elementos justamente reconhecidos na história do futebol batavo. Mas que, no entanto, estão longe de refletir o que é o futebol holandês em seu todo.

Continuava, então, o mistério. De quatro em quatro anos, a Oranje aparecia nas Copas do Mundo; de vez em quando, um time holandês se destacava; mas ninguém se preocupava em acompanhá-los a par e passo. Mesmo no cenário atual: o país tem a seleção vice-campeã do mundo. E mesmo assim, pelo nível relativamente baixo, o campeonato nacional continua sendo pouco acompanhado.

E é por isso que esse blog foi criado. Para se focar sobre um país pequeno, mas dono de uma escola futebolística facilmente reconhecida mundo afora - não só reconhecida, mas cujas influências são sentidas até hoje. Até mesmo no estilo de jogo da Espanha, atual campeã mundial. Para tentar compreendê-lo um pouco mais - sim, compreendê-lo: afinal de contas, por mais que o autor goste dele, ele não é um holandês, e sim um brasileiro que apenas gosta de futebol holandês.

E, se gosta, essa paixão tem um cupido. E o nome dele é Edwin van der Sar. Acompanho sua carreira desde que tomei conhecimento da existência dele pela primeira vez, no guia que a revista Placar organizou para a Copa de 1994 - havia uma foto de VDS, como reserva que foi de De Goey naquela Copa. É o maior ídolo que tenho no futebol. E, a partir dele, passei a acompanhar a seleção holandesa - com mais proximidade, a partir de 2006. Para seguir mais proximamente os campeonatos nacionais, foi um pulo.

E este blog é a concretização de um velho projeto. Que começa com uma só pessoa. Mas que pode ter mais. Caso você se interesse, escreva para espremealaranja@gmail.com. Teremos um tom mais analítico do que noticioso, fazendo análises da rodada, análises de times e da seleção, relembrando campeonatos, equipes e jogadores - de Puck van Heel a Sneijder, de Harry Vos a John de Wolf. E vamos começar, porque Cruyff já se aposentou há 27 anos e alguém precisa continuar falando sobre futebol holandês. Welkom!