domingo, 29 de novembro de 2015

810 minuten: como foi a 14ª rodada da Eredivisie

Sob a emoção da lembrança de Di Tommaso, o Utrecht virou para cima do Heracles e enlouqueceu a torcida (ANP)
Cambuur 2x3 De Graafschap

Enfim, o De Graafschap conseguiu o que já merecia há algum tempo, pelo espírito de luta que mostrava: a primeira vitória no Campeonato Holandês desta temporada. E ela veio com importância dupla: num jogo direto, contra o penúltimo colocado, fora de casa, e de modo sofrido. Coisa que parecia distante no primeiro tempo. Porque, já aos sete minutos, após falha do zagueiro Marvin Peersman, Cas Peters fez 1 a 0 para os mandantes. Depois, de cabeça, o zagueiro Bart Straalman fez 2 a 0. Ainda no primeiro tempo, o meio-campista Youssef El Jebli poderia ter definido, mas chutou em cima do goleiro Leonard Nienhuis. O gol perdido custou caro: aos 43 minutos, Sjoerd Overgoor diminuiu para os Leeuwarders. Estava iniciada uma pressão forte dos visitantes, que culminou no gol contra de Nathaniel Will, igualando o jogo já no segundo tempo.  Depois, Robin Pröpper ainda foi expulso. Parecia outra decepção para os Superboeren... mas aos 39 minutos da etapa final, numa cobrança de falta perfeita, Karim Tarfi trouxe a vitória desejada. Que abriu até perspectivas de deixar a lanterna: a desvantagem para o Cambuur caiu para dois pontos.

Heerenveen 3x0 Roda JC

As duas equipes chegavam com mudanças para o jogo. Após cair para o AZ na rodada passada, o interino Foppe de Haan mudou o esquema do time da Frísia, recolocando-o no 3-4-3. No Roda, a novidade foi fora de campo: no meio da semana, o milionário Frits Schrouff comprou o clube. O que não quer dizer que as coisas já mudaram dentro de campo, porque novamente o time de Kerkrade caiu sem pena nem glória, como na rodada passada, quando fora goleado pelo Zwolle. E Luciano Slagveer foi o principal responsável por encaminhar a fácil vitória do Heerenveen. Aos 29 minutos do primeiro tempo, Slagveer abriu o placar, aproveitando rebote de chute de Branco van den Boomen; aos 43, em chute próprio, fez 2 a 0. No segundo tempo, o Fean jogou tranquilamente, e a vitória foi confirmada em pênalti convertido por Mitchell te Vrede, aos 26 minutos. Enquanto o triunfo trouxe emoção a Foppe de Haan, que chorou na entrevista coletiva ao lembrar a crise que o clube viveu ("Isso é muito bom, é tudo para os torcedores. Quero que venham aqui e vejam um time jogando com o coração"), ao Roda sobrou a preocupação: os Koempels já não vencem há nove jogos.

Excelsior 2x4 Feyenoord

Visitar o clube que já foi seu satélite (Jordy Clasie e Robin van Persie tiveram rápidas passagens pelo Excelsior) normalmente resulta em boas atuações para o "primo rico" no clássico de Roterdã. E foi o que aconteceu, novamente, neste sábado. Aliás, podia ter sido até mais tranquilo: já aos dois minutos da etapa inicial, Dirk Kuyt fez seu 11º gol no Campeonato Holandês da atual temporada, aproveitando rebote de desvio de Simon Gustafson. Todavia, na grama artificial do estádio Woudestein, o Feyenoord não conseguiu transformar a ampla superioridade em mais gols. Só veio mais um, com Michiel Kramer, aproveitando cruzamento de Rick Karsdorp. O Excelsior aproveitou, empolgou-se (Karsdorp evitou o gol de Brandley Kuwas em cima da linha), e enfim Jeff Stans diminuiu, ainda antes do intervalo. Na volta, os Kralingers tiveram até mais chances, mas em repetição da jogada do segundo gol, Karsdorp cruzou e Kramer fez 3 a 1 para o Feyenoord, aos dez minutos. Finalmente, já aos 26 minutos, Adil Auassar recuou erradamente a bola, Kramer aproveitou e garantiu seu terceiro na partida. Aos 43, Tom van Weert ainda marcou mais um de honra, mas já era tarde para evitar nova vitória do Stadionclub, que segue acompanhando o Ajax a par e passo na disputa da liderança da Eredivisie.

Twente 1x3 Willem II

Diante do momento que o diretor financeiro Gerard van der Belt qualificou como "o mais difícil da história do clube", a torcida do Twente atendeu o pedido. Lotou o Grolsch Veste para alentar os Tukkers. Mas de nada adiantou: os Tricolores impuseram a quinta derrota consecutiva na Eredivisie aos Enschedese. E o triunfo dos visitantes teve um personagem destacado: Lucas Andersen. O atacante emprestado pelo Ajax tornou-se o primeiro jogador dos Tilburgers a fazer três gols num jogo desde Willy van der Gils, em 1983. O primeiro, aos 16 minutos do primeiro tempo, em chute que enganou o goleiro Joël Drommel; o segundo, em cobrança de falta, aos 21. Jari Oosterwijk ainda diminuiu aos 37, mas Andersen fez seu terceiro no minuto final da etapa inicial. E enquanto o Willem II deixou a zona de repescagem/rebaixamento, o Twente vê sua situação mais e mais crítica: com nove pontos, está em 16º, quatro pontos à frente do lanterna De Graafschap. Pior: cresce a perspectiva de perda de pontos, como punição da federação ao acordo irregular com o fundo de investimentos Doyen Sports. E aí, o temor da queda se tornaria real.

Vitesse 1x0 NEC

Jogo direto. Entre o quinto e o sexto colocado. Um clássico, o "Derby van het Gelderland" (Dérbi da Géldria, em português). Só isso já aumentaria a tensão vista no Gelredome de Arnhem. Só que o Vitesse tinha mais a perder: afinal, vinha de uma derrota e de um empate. Resultado: os aurinegros começaram a toda a velocidade no ataque. Porém, não só os Nijmegenaren seguraram o ímpeto dos primeiros minutos, mas também atacaram, e até foram melhores ao fim dos 45 minutos iniciais. Era daqueles jogos em que somente um lance poderia definir tudo. E definiu: já aos quatro minutos do segundo tempo, Valeri Qazaishvili foi derrubado na área por Janio Bikel. O próprio georgiano bateu o pênalti e fez 1 a 0. E a despeito de alguns chutes perigosos do NEC, o Vitesse saiu do clássico com a vitória. Com a quinta posição. E diante do resto da rodada, ainda com a perspectiva de alcançar o Heracles Almelo.

Zwolle 0x2 Ajax

Do modo como começou, caprichando na marcação por pressão, o Zwolle deu a impressão de que faria jogo duríssimo contra os Ajacieden, como tem sido a tônica das últimas duas temporadas. Afinal, ainda retumbam os 5 a 1 dos Dedos Azuis no Ajax, na final da Copa da Holanda em 2013/14. Ou a vitória em plena Amsterdam Arena, na Supercopa da Holanda 2014/15. Sem contar que o Zwolle não perdera dos Godenzonen na Eredivisie passada (dois empates, 0 a 0 e 1 a 1). Só que os Amsterdammers trataram de acabar logo com esse temor: aos poucos, dominaram massivamente o jogo, com troca rápida de passes e várias chances, até o gol de Amin Younes, aproveitando péssima saída de gol de Kevin Begois para passar por trás dele e completar cruzamento de primeira para as redes. No entanto, a superioridade do Ajax ficou nisso, para lamento de Frank de Boer à emissora pública de tevê NOS: "Foi ruim que tenha ficado no 1 a 0, podia ter sido 5 a 0, e a culpa é nossa".

Resultado: no segundo tempo, o Zwolle cresceu. A entrada de Stef Nijland acelerou o meio-campo do time de Ron Jans, que se animou e passou a tentar mais chutes a gol contra Jasper Cillessen. Paralelamente, nem mesmo a entrada de Vaclav Cerny (destaque na vitória contra o Celtic, na quinta passada, pela Liga Europa) animou o Ajax. Surpreendentemente, foi um volante, Thulani Serero, o autor do gol que tranquilizou a equipe e encaminhou a vitória, já aos 40 minutos do segundo tempo. E o Zwolle foi, enfim, neutralizado pelos Ajacieden, que mantêm os três pontos de vantagem para o Feyenoord na liderança do Campeonato Holandês. Ainda assim, a falta de eficiência nas finalizações serve de alerta para uma equipe que ainda tem muito a melhorar.

Groningen 2x1 ADO Den Haag

Por pior que seja sua campanha (é o 14º colocado), o ADO Den Haag viveu um dia como os que o De Graafschap viveu várias vezes, nesta temporada: não merecia perder, mas perdeu. Mesmo jogando no Euroborg, os Hagenaren atuaram melhor no primeiro tempo. Controlaram a pressão inicial dos mandantes, começaram a atacar um pouco mais, e enfim abriram o placar, aos 24 minutos do primeiro tempo: Édouard Duplan viu cruzamento de Aaron Meijers, superou Johan Kappelhof no jogo aéreo e cabeceou para fazer 1 a 0. No segundo tempo, precisando satisfazer a torcida que vaiara no fim da etapa inicial, os Groningers partiram para o ataque. Bastaram quatro minutos, e pronto: um cruzamento "mal feito" de Lorenzo Burnet, desvio acidental do zagueiro Tom Beugelsdijk, e 1 a 1. Então, o jogo caiu num marasmo, e achava-se que nada mais iria acontecer. Até que aos 50 minutos da etapa final, num bate-rebate na área, a bola caiu com Danny Hoesen, que fez o gol da virada. Por um lado, vitória que não fez justiça ao jogo igual que se viu em Groningen. Por outro, vitória que segue a boa sequência do time alviverde (seis jogos invicto: dois empates, quatro triunfos). 

Utrecht 4x2 Heracles Almelo

"DiToDay". Foi sob esse nome que os Utregs chegaram para o jogo contra os Heraclieden. Um nome que trazia uma lembrança dolorida: exatamente há dez anos, em 29 de novembro de 2005, um ataque cardíaco fulminante durante o sono matou o francês David di Tommaso, 26 anos, meio-campista que atuava no Utrecht àquela altura, horas após a vitória sobre o Ajax, pela Eredivisie 2005/06. As lamentações foram tão grandes que o falecimento de "DiTo" motivou até a "aposentadoria" do número 4 que o francês usava. E neste domingo, 29 de novembro de 2015, a família de Di Tommaso (incluindo a viúva Audrey e o filho Noah) voltou ao estádio Galgenwaard, testemunhou homenagens emocionantes e, claro, não faltaram lágrimas. Nem faltaram capítulos palpitantes numa vitória tocante do Utrecht.

Até porque o Heracles saiu na frente: aos 26 minutos, Iliass Bel Hassani recebeu passe de Oussama Tannane e fez 1 a 0 para os visitantes. De quebra, após puxar Tannane, o lateral direito Kevin Conboy recebeu o segundo amarelo, o cartão vermelho consequente e deixou o Utrecht com dez. Mas no segundo tempo, quando as coisas estavam mornas, Nacer Barazite virou o jogo em três minutos: aos 15, completou uma triangulação com Yassin Ayoub e Sébastien Haller, e chutou forte aos 18. Tannane ainda empatou para o time de Almelo, mas nos últimos minutos, foi justamente um compatriota de Di Tommaso que ganhou o destaque: marcando aos 39 e aos 42 da etapa final, Haller enlouqueceu a torcida e consolidou-se como o "salvador" dos Utregs. E como o responsável pela vitória que deixou a gostosa sensação de ampliar a homenagem a David di Tommaso.

PSV 3x0 AZ

Três minutos do primeiro tempo no Philips Stadion. Escanteio para o PSV. Joshua Brenet cobra da direita, Luuk de Jong desvia na primeira trave, a bola bate no volante Celso Ortiz, e o zagueiro Derrick Luckassen "completa" para as redes o gol contra que abriu o placar para os donos da casa. A sensação foi inevitável: era dia do PSV. Até foi, com a segura vitória por 3 a 0. Mas diante do que o time de Phillip Cocu jogou no primeiro tempo, ficou a impressão de que uma goleada acachapante era provável. Ainda mais pelo que jogou a dupla Luuk de Jong e Gastón Pereiro. Se vira Dirk Kuyt novamente "dividir" a liderança da artilharia da Eredivisie no sábado, Luuk tratou de retomá-la isoladamente: fez mais dois gols neste domingo, ainda no primeiro tempo, aos 15 (cabeceando cruzamento de Brenet) e aos 41 minutos (completando passe de Pereiro), chegando a 13 na temporada. E o uruguaio, por sua vez, mais e mais justifica por que colocou Luciano Narsingh no banco de reservas: mostra rapidez pela esquerda, além de capacidade invejável de finalização. Como Narsingh, lesionado, só deverá voltar a jogar na retomada da temporada, já em 2016, Pereiro tem a chance de aprofundar seu desenvolvimento já acelerado no futebol holandês. E de ajudar o PSV a ter atuações mais regulares para buscar o bicampeonato nacional. O 3 a 0 do domingo até poderia ser a vitória para voltar a falar grosso, mas os Eindhovenaren tiraram o pé no segundo tempo. Ainda assim, atuação respeitável.

sábado, 28 de novembro de 2015

Retomando o caminho

O Japão superou a Holanda na Copa do Mundo. E as Leoas querem a revanche (onsoranje.nl)
Quase nada mudou na seleção feminina da Holanda. Mas as poucas coisas que mudaram foram suficientemente importantes para deixar turbulento o caminho que parecia bem desenvolvido após a honrosa participação na primeira Copa do Mundo de sua história. E será justamente contra o time que as desclassificou (o Japão, vice-campeão mundial, em amistoso neste domingo) que as Leoas Laranjas continuarão mostrando qual é o grau de avanço que o caminho delas precisa ter, até o decisivo quadrangular europeu em março de 2016, por uma vaga nos torneio de futebol dos Jogos Olímpicos.

Para princípio de conversa, a principal alteração veio no banco de reservas. No cargo desde 2010, comandante da equipe que enfim chegou à Copa do Mundo, Roger Reijners tinha respaldo mais do que suficiente para continuar coordenando o trabalho rumo a uma vaga nos Jogos. Porém, havia um impasse com a KNVB: ela oferecia a renovação de contrato ao técnico, que tinha compromisso até o meio de 2016. Ele não aceitou, e julgou-se pela demissão imediata, no meio de julho. Segundo a diretora de futebol feminino da entidade, Minke Booij, a intenção já estava além de 2016: "Queríamos dar ao novo técnico mais de um ano para poder trabalhar com vistas ao Campeonato Europeu de 2017, e deixar o time pronto para atuar em casa". 

Claro, as palavras de Booij em relação a Reijners foram bem elogiosas: "Ele significou demais para nosso time, foi o primeiro a nos levar a uma Copa. Podemos ver que foi um período longo e frutífero". O técnico, por sua vez, lamentou a demissão: "Queria ir aos Jogos Olímpicos com a equipe, e só depois ir embora. Mas entendo a decisão da federação por outro técnico, já que eu não queria renovar meu contrato".

Porém, não havia outro nome imediato na agulha. Resultado: somente em setembro, após a interina Sarina Wiegman comandar a seleção na goleada por 8 a 0 sobre Belarus, chegou um novo treinador. E Arjan van der Laan mostrou-se até impressionado com o desafio, após um período de trabalho em categorias de base masculinas de NEC, Sparta Rotterdam e Utrecht. "É uma honra trabalhar aqui como técnico. Já estou esperando pelo primeiro dia em que as comandarei em campo".

Nas duas primeiras partidas, um bom resultado (2 a 1 em cima das francesas, quadrifinalistas da Copa) e um semifracasso (o jogo contra a Polônia, que as Leoas perdiam por 1 a 0, foi suspenso no intervalo, pela forte chuva que causou pane no fornecimento de eletricidade no estádio). Mas só o terceiro jogo trará uma equipe tradicional e de respeito inquestionável no futebol feminino, com as japonesas.

E aí entram as mudanças vistas em campo. Que já começam no gol: enquanto Loes Geurts se recupera de uma séria concussão que teve em seu clube (o Göteborg, da Suécia), Sari van Veenendaal aproveita a grande chance que tem. Atuando no Arsenal, a goleira já vem mostrando que não foi sorte de principiante a ótima atuação contra a China, na Copa do Mundo, quando já substituíra Geurts.

No resto do time, as atuações na Eredivisie feminina vão indicando aos poucos substitutas para gente mais antiga. Na lateral direita, não há mais Dyanne Bito: reserva na Copa, ela encerrou a carreira após o torneio. Na zaga, Daphne Koster já não fora ao Mundial, e provavelmente não voltará a vestir a camisa laranja que usou em 129 partidas. No meio-campo, embora seja uma das mais célebres jogadoras holandesas, a volante Anouk Hoogendijk, titular do Ajax, ficou de fora das convocações.

Caminho livre, então, para novidades vindas da Eredivisie Vrouwen. Vindas, aliás, principalmente de Twente e Ajax, que disputam a liderança ponto a ponto. Como a defensora Kika van Es, que volta a ser lembrada após uma fratura na perna, ou a defensora Danique Kerkdijk. Do Ajax, vêm jogadoras que começam a se destacar na Oranje, mas que nela já estiveram durante a Copa. O grande exemplo é a meio-campista Tessel Middag. Mas os Amsterdammers também têm promessas como a atacante Kelly Zeeman. Ainda assim, em matéria de atacantes, a esperança atual tem sido Vanity Leiwerissa, do PSV.

E é com essas novidades que a Holanda tenta retomar o caminho ligeiramente interrompido no futebol feminino. Além disso, gente de desempenho discreto na Copa, como a atacante Vivianne Miedema, tem de voltar a provar algo. Sem contar veteranas que ainda estão presentes, como a lateral direita Claudia van den Heiligenberg e a atacante Kirsten van de Ven, das melhores holandesas no Mundial. Van der Laan tem até março de 2016 para preparar um time que possa enfrentar Suécia, Suíça e Noruega de igual para igual, e ainda tendo o fator casa como ajudante (o quadrangular pela vaga olímpica será jogado na Holanda). Haverá melhor prova de confiança do que uma vitória contra as algozes nipônicas?

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O médico e o monstro

Luuk de Jong voltou à Holanda e voltou a marcar. Sorte do PSV (Rene Bouwman)
Dr. Jekyll. Mr. Hyde. A maioria das pessoas que saiba o básico de literatura já ouviu falar da história escrita por Robert Louis Stevenson (lançada em 1886, e mais conhecida aqui no Brasil como “O médico e o monstro”). Na história, um advogado amigo de Dr. Jekyll investiga ocorrências incomuns entre este e a misteriosa figura de Mr. Hyde – para, depois, a história enveredar pelo assunto da dupla personalidade. Eis a principal descrição do PSV na temporada atual do futebol holandês: dupla personalidade.


A equipe de Eindhoven vive dois momentos claramente distintos, embora tenha um elenco de capacidade técnica reconhecidamente razoável. No Campeonato Holandês, por desatenções várias (principalmente na defesa), tropeçou duas vezes nas últimas quatro rodadas, e está na terceira posição, um ponto atrás do Feyenoord. Na Liga dos Campeões, de nível técnico bem mais difícil do que a Eredivisie, os Eindhovenaren não enchem os olhos, propriamente. Mas mostram precisão e segurança suficientes para só dependerem deles na disputa por uma vaga nas oitavas de final do torneio continental.

Claro, a situação da equipe é até desejável na liga nacional. Contudo, não só os tropeços são prejudiciais, por serem contra equipes do meio ou da parte de baixo da tabela. Por exemplo: sábado passado, pela 13ª rodada, houve empate em 2 a 2 com o Willem II, 16º colocado. Na rodada anterior, a vitória sobre o Utrecht (3 a 1, em Eindhoven) teve períodos de incerteza. E nada simboliza mais essa montanha russa do que os 6 a 3 sobre o De Graafschap, vistos na 11ª rodada.

Jogando contra o último colocado do campeonato, em 31 minutos os Boeren fizeram 3 a 0. Partida definida, certo? Errado: no minuto final do primeiro tempo, o escocês Andrew Driver fez o primeiro do De Graafschap. Está certo que Driver empurrou Andrés Guardado antes de dominar a bola e marcar o gol, mas o árbitro deixou passar. E o PSV não teria desculpas diante do que se viu no segundo tempo: motivado pela boa atuação de outro atacante, o belga Nathan Kabasele, os Superboeren foram à frente e conseguiram o empate em menos de vinte minutos. Em jogadas que tiveram participação (melhor dizendo, não tiveram) horrível do miolo de zaga dos PSV’ers.

O desastroso empate só foi evitado porque o ataque do time treinado por Phillip Cocu apareceu. Dois minutos após os mandantes fazerem 3 a 3, Luuk de Jong marcou o quarto gol, e depois Luciano Narsingh e Gastón Pereiro definiram o alívio. O triunfo fora conseguido, mas a impressão deixada fora bem preocupante. E Cocu expressou isso à FOX Sports holandesa, após aquele jogo maluco: “É inacreditável que às vezes nos coloquemos em situações tão ruins”.

Não era a primeira vez em que desatenções haviam cobrado o preço: na rodada anterior, recebendo o Excelsior, a equipe vencia por 1 a 0, mas tomou o gol de empate dos Kralingers no último lance do jogo, aos 49 minutos do segundo tempo. E nem seria a última: na rodada posterior, contra o Utrecht, a equipe levou o empate logo no início da etapa final. Passou de novo à frente, mas isso não significou que as falhas haviam acabado: Luuk de Jong perdeu o sétimo dos últimos onze pênaltis que o time já teve em 2015. Pelo menos, amenizou o erro da melhor maneira possível, fazendo o gol que definiu os 3 a 1.

Contra o Willem II, foi quase a mesma coisa. No primeiro tempo, atuação segura e placar aberto rapidamente (com Pereiro, aos 11 minutos). No segundo tempo, um período de “apagão”, e os Tricolores viraram para 2 a 1, com Erik Falkenburg marcando duas vezes. Novamente, De Jong teve de salvar a pátria, igualando de novo o placar. Ainda assim, o tropeço permitiu que o Feyenoord retomasse a segunda posição da Eredivisie, ao golear o Twente no domingo (5 a 0).

Por isso, quando se vê o PSV jogando pela Liga dos Campeões, salta aos olhos a alternância de desempenho. Na primeira parte da fase de grupos, excetuando-se a vitória sobre o Manchester United (que ainda teve a lesão de Luke Shaw como atenuante), os resultados foram “esperados”: derrotas para CSKA Moscou e Wolfsburg. Mas nos jogos “de volta”, o que se vê é um time seguro, que não quer jogar mais do que sabe. Concentrado ao extremo, para evitar erros bobos como os vistos no Holandês. E eficiente, para aproveitar as raras chances que tem.  Foi assim ao receber o Wolfsburg no Philips Stadion: jogando nos contra-ataques, o PSV aproveitou os espaços que os Lobos deram para fazer 2 a 0 e reanimar-se na disputa por um lugar nas oitavas de final.

Finalmente, na quarta passada, em Old Trafford, o time não só aguentou muito bem os momentos de pressão do Manchester United no ataque (com o goleiro Jeroen Zoet como destaque), mas animou-se mais nos contra-ataques do segundo tempo, e talvez até pudesse ter vencido. Seja como for, o 0 a 0 manteve a condição de só depender de uma vitória simples contra o CSKA para garantir a vaga.

E o mais curioso é que as atuações dos Boeren na Liga dos Campeões dão até mostra mais fiel das qualidades da equipe, no 4-3-3. Zoet, considerado goleiro de atuações irregulares durante a temporada, fechou o gol contra o United; Jeffrey Bruma e Héctor Moreno fazem uma dupla de zaga dura, que pode sofrer quando pressionada, mas que cumpre seu papel quando concentrada; Joshua Brenet, improvisado pela esquerda após lesão de Jetro Willems, aos poucos se acostuma mais à posição; e Santiago Arias oferece constante opção ofensiva pela lateral direita - às vezes, ofensiva até demais.

No meio-campo, Jorrit Hendrix aos poucos desenvolve bem sua capacidade de marcação, enquanto Andrés Guardado continua sendo o centro do time. Não há jogada que não passe pelos pés do mexicano, para começar a organizar as ações. E o auxílio de Guardado na marcação libera Davy Pröpper para ser o “elemento-surpresa”, chegando ao ataque e armando bem as jogadas e os contragolpes - coisa que fez contra o United, quando foi eleito um dos melhores do jogo. 

No ataque, lamentáveis problemas particulares ainda tiram Maxime Lestienne do elenco: após a morte repentina da mãe, poucas horas antes do clássico contra o Ajax, pela Eredivisie, o belga voltou a seu país, para cuidar da família. E no início desta semana, após longa enfermidade, foi a vez do pai falecer. Ainda assim, Lestienne já prometeu que retorna na próxima semana, após a justa liberação que recebeu do PSV. 

Com relação aos que ficaram, Luuk de Jong cumpre muito bem o papel de goleador: é o artilheiro da Eredivisie, com 11 gols. E sua eficiência nos cabeceios e na função de pivô fazem crer que ele passa pelo mesmo processo que Klaas-Jan Huntelaar encontrou quando chegou ao Schalke 04: após fracassar em campeonatos maiores, De Jong voltou a um torneio mais adequado a seu nível técnico. E faz gols a ponto de sonhar com uma boa e necessária competição com Bas Dost pelo posto de atacante nas convocações da seleção holandesa - posto que deve ser de titular em pouco tempo, dada a idade avançada de Robin van Persie e de Huntelaar.

Pelas pontas, na direita, o uruguaio Gastón Pereiro superou o período de adaptação. E desde a ótima atuação na vitória sobre o Ajax, cresceu a ponto de já ser o titular, desbancando Luciano Narsingh. Na esquerda, uma experimentação deu certo: brigado com Phillip Cocu no início da temporada, Jürgen Locadia quase deixou o PSV. Já tinha até um sonho: tomar o mesmo caminho de Memphis Depay, rumo ao Manchester United ("É minha primeira opção", comentou à revista Voetbal International). Só que o tempo passou, Locadia se acertou com a direção e com o técnico, e recebeu uma chance na ponta. E ali está se dando bem, com porte físico avantajado e habilidade decisiva, como na vitória por 3 a 1 sobre o Twente.

Ao fim e ao cabo, além de vencer o AZ pela 14ª rodada, no próximo domingo, o PSV tem uma obrigação maior na temporada. Manter na Eredivisie a concentração vista na Liga dos Campeões. Que o tem colocado muito perto de ser o primeiro holandês a chegar às oitavas de final da Champions desde 2006/07. Aliás, nunca esteve tão perto.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 27 de novembro de 2015)

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A conta chegou

Não faltam motivos para o Twente estar de cabeça baixa (VI Images)

Um fim turbulento na temporada passada, incluindo perda de três pontos durante o último Campeonato Holandês, por fracassar no cumprimento de um plano de reestruturação financeira. Vendas de vários jogadores durante a janela de transferências do verão europeu, para minorar o peso das dívidas. Início péssimo de temporada: é o 15º colocado da Eredivisie. Na última rodada, uma goleada inapelável aplicada pelo Feyenoord (5 a 0). Enfim, não podia estar pior a situação atual do Twente.

Mas ficou. Na terça-feira, a história da decadência veloz que vive o clube de Enschede ganhou mais um capítulo. O site Football Leaks vazou um contrato entre a agremiação e a Doyen Sports Investments, fundo de investimentos com sede em Malta. O acordo fechado em fevereiro de 2014 (que você pode ler aqui na íntegra, em inglês) diz que a Doyen teria, e tem, direito à comissão na venda de alguns jogadores do elenco dos Tukkers. Dois deles se transferiram ainda em 2014: Quincy Promes e Dusan Tadic. Mais três foram vendidos na última janela: Luc Castaignos, Bilal Ould-Chikh e Younes Mokhtar.

O problema está nos dois que seguem sob contrato com o Twente: os volantes Shadrach Eghan e Kyle Ebecilio. Caso não sejam vendidos, o clube teria de pagar à Doyen uma multa por cada um: Ebecilio, atualmente emprestado ao Nottingham Forest, valeria 780 mil euros ao grupo de investimentos, enquanto Eghan, reserva na equipe holandesa, custaria 650 mil euros ao Twente. Porém, o regulamento da FIFA para transferências é claro: um fundo de investimentos não pode ter direitos sobre jogador algum. 

Resultado: a comissão de licenciamento da KNVB, a federação holandesa, já advertiu que investigará os procedimentos surgidos do contrato. Dependendo das conclusões, em caso de punição, o Twente pode perder pontos no campeonato atual, no mínimo. Ou pode até ter cassada a licença profissional para disputar competições, no máximo. O vazamento do contrato com a Doyen foi tão destrutivo para a diretoria do clube que Aldo van der Laan, presidente interino, renunciou ao cargo na mesma terça da revelação.

A história mal explicada com a Doyen é mais um capítulo numa história que começou a eclodir ainda em 2014. Mas que se iniciara ainda antes, desde o título holandês da temporada 2009/10. Na verdade verdadeira, aliás, vem desde 2003: neste ano, o Twente correu sério risco de falir. Foi quando o empresário Joop Munsterman comprou o clube. Aos poucos, modernizou-o. O antigo Arke Stadion foi reformado, teve a capacidade ampliada, e virou o Grolsch Veste atual, com capacidade de 30 mil espectadores. 

Os resultados em campo também foram crescendo de 2003 em diante. Em 2007/08, houve um primeiro grande salto: nos play-offs vigentes à época para a Liga dos Campeões, a equipe de Enschede eliminou o Ajax, vice-campeão na temporada regular, e classificou-se para a fase de play-offs preliminares da Liga dos Campeões 2008/09. Nesta temporada, ainda foi à final da Copa da Holanda - perdeu para o Heerenveen -, e conseguiu o vice-campeonato na Eredivisie. Finalmente, em 2009/10, o apogeu: a conquista do primeiro título holandês da história do clube, num time em que brilharam o goleiro Sander Boschker (jogador com mais partidas na história do clube, que defendeu entre 1989 e 2003, e 2004 a 2014), o zagueiro brasileiro Douglas (hoje, naturalizado holandês), o meio-campista Kenneth Perez e os atacantes Bryan Ruiz e Blaise Nkufo (este, o maior goleador da história dos Tukkers).

O problema é que com os títulos e o crescimento, também veio a ilusão de grandeza. Ilusão expressa em números colocados numa primorosa matéria do site catenaccio.nl, que sinalizaram dois grandes erros para qualquer clube que pretenda ter as finanças saneadas. O primeiro: gastar muito em compras sem tentar lucro nas vendas. Foi o que aconteceu em alguns casos. Por exemplo: em 2011, o clube gastou 3,5 mi de euros no sueco Emir Bajrami; 7 mi no atacante austríaco Marc Janko; 2 mi no lateral direito venezuelano Roberto Rosales… e só teve lucro ao vender Nacer Chadli ao Tottenham, por 8,15 mi, após compra por 300 mil euros. De resto, o dinheiro gasto não foi reposto. Janko, por exemplo, foi cedido ao Porto por 3 mi. Ou seja, prejuízo de 4 milhões com o austríaco.

O segundo pecado capital do Twente foi oferecer altos salários, fora do padrão do futebol holandês. Em 2009/10, o clube gastou cerca de 20 milhões de euros com pagamentos aos atletas do elenco. Em 2011/12, o gasto foi de cerca de 30 milhões. O que representava… mais de 60 por cento do orçamento do clube. Para que se tenha uma ideia do exagero, em 2011/12, o Ajax bancava os salários dos jogadores com 43,2% do dinheiro. O Feyenoord, 44,5%.

Pior: os investimentos na base não renderam lucros em vendas futuras. Tanto que só Ola John e Quincy Promes renderam algum interesse em mercados mais aquinhoados financeiramente. E outras compras em mercados alternativos também fracassaram, deixando o clube posteriormente. Casos não faltam: o atacante sul-africano Bernard Parker, o atacante australiano Nikita Rukavytsya, o goleiro português Daniel Fernandes...

Resultado: sabendo o tamanho do furo no barco dos Tukkers (furo causado por várias decisões suas, diga-se de passagem), Joop Munsterman renunciou à presidência ainda no final da temporada 2014/15. E já na última janela de transferências, o Twente implorava por negociações de gente que aliviassem a folha salarial. O supracitado Ebecilio foi cedido ao Nottingham Forest. Sem espaço nos titulares, Younes Mokhtar foi para o Al Nassr, da Arábia Saudita, a preço de banana (1 milhão de euros). Jesús Corona, cada vez mais titular na seleção mexicana, era cobiçado pelo Porto. E por 10 milhões, lá se foi o meio-campista para o Dragão, vestir a alviazul tripeira. Castaignos, destaque na temporada passada, foi quem mais rendeu: 2,5 milhões, na transferência para o Eintracht Frankfurt. 

Já pressionado desde a Eredivisie passada, o treinador Alfred Schreuder não aguentou ter três derrotas nas quatro primeiras rodadas, e foi demitido. Em seu lugar, René Hake (interino logo efetivado) tem um elenco atual com muita gente vinda direta da base. Principalmente na defesa. As lesões de Nick Marsman e Sonny Stevens abriram caminho para o goleiro Joël Drommel, 19 anos. Há ainda o lateral direito Hidde ter Avest, 18 anos (titular da seleção holandesa sub-19); os zagueiros Peet Bijen (20 anos), Joachim Andersen (19 anos) e Jeroen van der Lely (19 anos).

Ainda há novatos emprestados de outros clubes, como os atacantes Thomas Agyepong (ganês vindo do Manchester City) e Michael Olaitan (nigeriano cedido pelo Olympiacos). Para constar, um dos membros do elenco é brasileiro: o zagueiro Bruno Uvini, emprestado pelo Napoli, que foi para o banco de reservas.

Ainda há os titulares absolutos. Como o meio-campista chileno Felipe Gutiérrez, presença frequente nas convocações e jogos da seleção campeã sul-americana. E Hakim Ziyech, um caso à parte: o meio-campista marroquino (chegou a ser convocado para treinar com a seleção holandesa, mas escolheu defender os magrebinos) é o destaque absoluto do Twente na temporada. Dos 13 gols da equipe na temporada da Eredivisie, esteve envolvido em 11 - marcou sete, e fez a assistência em quatro.

Sabendo de seu valor e da situação do Twente, Ziyech já anunciou à FOX Sports holandesa: "Estou aberto [a ofertas]. Se surgir uma oferta para a qual o clube não diga não, eu saio". Talvez isso ocorra em janeiro. Será mais um baque neste momento que justifica o que disse o diretor Gerard van der Belt, em nota divulgada pelo clube: "O Twente se encontra na fase mais difícil de seus cinquenta anos de história". Completados neste 2015. A conta dos anos de glória chegou. E de maneira impiedosa.

domingo, 22 de novembro de 2015

810 minuten: como foi a 13ª rodada da Eredivisie

Kramer ajudou, e Gustafson brilhou na goleada do vice-líder Feyenoord (feyenoord.nl)

AZ 3x1 Heerenveen

Na 12ª rodada, o AZ tivera a reestreia de Mounir El Hamdaoui. E o atacante marroquino, principal destaque do título holandês de 2008/09, teve destaque já no segundo jogo da volta aos Alkmaarders. E era necessário, já que o Heerenveen abrira o placar cedo, com gol de Mitchell te Vrede. Pois bem: no empate, El Hamdaoui chutou na trave, e Vincent Janssen (despontando como grande destaque no AZ) fez 1 a 1.  E para virar o jogo, o próprio El Hamdaoui tabelou, novamente com Janssen, recebeu de volta e bateu na saída do goleiro Erwin Mulder. No segundo tempo, ainda houve tempo para Janssen marcar pela segunda vez, fechando o placar em 3 a 1. Mas o destaque já era de El Hamdaoui, provando que ainda pode ser útil ao AZ, cinco anos depois. E o Heerenveen, enfim, sofreu sua primeira derrota sob o comando interino de Foppe de Haan. 

Roda JC 0x5 Zwolle

Com cinco minutos da etapa inicial, Wouter Marinus já fazia 1 a 0 para os Zwollenaren. Podia ser o sinal de uma vitória tranquila, ou uma oportunidade para os Koempels virarem o jogo em casa. Felizmente, para os Dedos Azuis, a primeira hipótese se confirmou facilmente. Já aos 15 minutos, após o lateral Henk Dijkhuizen empurrá-lo dentro da área, o neozelandês Ryan Thomas (prestes a renovar contrato) cobrou o pênalti subsequente para fazer 2 a 0. E no primeiro minuto da etapa complementar, a vitória se sacramentou: um erro de marcação de Arjan Swinkels deu a Kingsley Ehizibue a chance de fazer um passe e deixar Thomas livre para marcar pela segunda vez no jogo. Outra falha de marcação do Roda JC - no caso, do zagueiro Gibril Sankoh - resultou no quarto gol, de Lars Veldwijk. E já no fim da partida, Stef Nijland deu números finais a uma goleada que serviu não só para encerrar a sequência de três jogos sem vitória, mas também para manter o time de Ron Jans firme na quinta posição, logo abaixo dos ponteiros.

Ajax 5x1 Cambuur

"As bolas paradas foram nossa arma", comentou Frank de Boer, logo após o fim do jogo, à FOX Sports holandesa. Tinha toda a razão. Afinal de contas, foi com elas que o ambiente na Amsterdam Arena esquentou, após um início enfraquecido em função do boicote de parte da torcida do Ajax (justificado pela crise na diretoria). E as bolas cruzadas foram úteis a um lado e ao outro, no espaço de apenas três minutos, no primeiro tempo. Aos 25, Joël Veltman, livre na segunda trave, desviou perfeitamente escanteio de Nemanja Gudelj para abrir o placar; aos 27, foi a vez de Jaïro Riedewald falhar, deixando Sander van de Streek se deslocar na área para completar o cruzamento e empatar para o penúltimo colocado do Campeonato Holandês. 

Seria o ânimo necessário para o Cambuur partir rumo à tentativa de uma surpresa... se no instante seguinte, em novo escanteio ensaiado, "Arek" Milik não se desmarcasse e cabeceasse para recolocar os Godenzonen na frente. Aí as coisas ficaram em seus devidos lugares: não demorou muito para dois gols de Davy Klaassen, aos 38 (outra cabeçada!) e 45, praticamente definirem a vitória dos anfitriões. No segundo tempo, o Ajax até foi mais ofensivo, mas só fez mais um gol, com o alemão Amin Younes. A bem da verdade, nem precisava. Mas a goleada manteve o "controle" sobre as turbulências internas no clube da estação Bijlmer Arena, além de garantir mais uma rodada na liderança da Eredivisie. 

Willem II 2x2 PSV

Que a defesa do PSV andava frágil e desatenta quando não podia, já se vira nas duas últimas partidas. Contra o Excelsior, o empate por 1 a 1, sofrido num dos últimos lances dos 90 minutos; contra o lanterna De Graafschap, uma vantagem de 3 a 0 jogada fora no início do segundo tempo (pelo menos, veio a vitória final por 6 a 3). Contra os Tricolores, em Tilburg, um gol precoce de Gastón Pereiro - e um gol até bonito, tocando sutil na saída do goleiro Kostas Lamprou - fazia crer numa vitória tranquila. Mas novamente, o miolo de zaga fraquejou num momento crucial: na metade do segundo tempo, com dois gols em sete minutos, o meio-campista Erik Falkenburg virou para o Willem II, reforçando sua importância como goleador da equipe na temporada. Aí surgiu outro protagonista, não só do PSV, mas do Campeonato Holandês em geral: Luuk de Jong fez seu 11º gol no torneio. E salvou um ponto para os Eindhovenaren. Ainda assim, foi um tropeço nada auspicioso para um clube que tem jogo fundamental no meio de semana, pela Liga dos Campeões, contra o Manchester United, em Old Trafford. E Phillip Cocu expressou seu descontentamento: "Falaremos sobre isso". 

De Graafschap 1x2 Groningen

De Graafschap, pobre De Graafschap. Time esforçado, considerado dono de um dos estádios onde a torcida mais faz barulho e apoia (o De Vijverberg, em Doetinchem), teve reação comovente contra o PSV... mas vitória que é boa, nada, ainda. A equipe chegou à 13ª rodada com apenas dois pontos, para enfrentar o atual campeão da Copa da Holanda. E no fim de um primeiro tempo equilibrado, a maior qualidade técnica dos Groningers se sobressaiu: Albert Rusnák completou para as redes, após desvio de Jesper Drost, e fez 1 a 0. No segundo tempo, após um drible seco, Michael de Leeuw - que passou pelo De Graafschap - fez aquele que é o gol mais bonito da rodada: encobriu sutilmente o goleiro Hidde Jurjus, da entrada da área. Já aos 33 minutos, Nathan Kabasele ainda converteu pênalti para diminuir a vantagem da equipe do norte holandês, e houve certa pressão. Mas o Groningen saiu com a vitória, e a pontuação igualada à do Zwolle. Enquanto isso, o De Graafschap segue com dois pontos. Em 14 rodadas. Jamais na história do Campeonato Holandês um lanterna tivera pontuação tão fraca.

Heracles Almelo 0x0 Excelsior

Com o tropeço do PSV no sábado, o Heracles tinha ótima chance de colocar mais brilho na sua já boa campanha nesta temporada da Eredivisie. Era ganhar do Excelsior e igualar a pontuação à do time de Eindhoven, terceiro colocado. Só que os Kralingers impediram isso. E mais: impediram sendo melhores ao longo da partida. Já no primeiro tempo, a melhor chance de gol veio do time visitante, com Daryl van Mieghem chutando para boa defesa do goleiro Heraclied, Bram Castro, e perdendo o rebote. Na segunda etapa, Oussama Tannane voltou a campo, após uma lesão que o tirou de algumas rodadas. Ainda assim, nem o principal destaque do Heracles conseguiu movimentar o ataque. Com o armador Iliass Bel Hassani em mau dia, mais a diminuição do ritmo do Excelsior, o único empate sem gols da rodada foi inevitável - para gáudio de Zwolle, Vitesse, NEC e Groningen, agora mais perto dos Almelöers. Pelo menos, manteve-se a distância de dois pontos para o PSV. 

Feyenoord 5x0 Twente


A atuação do Feyenoord no Klassieker contra o Ajax rendeu o que pensar ao técnico Giovanni van Bronckhorst. Por um lado, Eric Botteghin ganhou a vaga de Sven van Beek no miolo de zaga; por outro, Simon Gustafson voltou ao  meio-campo após ser barrado no clássico. E o meio-campista sueco retribuiu da melhor maneira possível a escolha de Van Bronckhorst: aos seis minutos, abriu o placar com bonito chute colocado, da entrada da área. A fragilidade da defesa do Twente possibilitava ao Stadionclub trocar passes como e quando quisesse, e só Hakim Ziyech e Thomas Agyepong, pelas pontas, tentavam algo para os Tukkers. Com muito mais rapidez e habilidade nas jogadas coletivas, não demorou para o Feyenoord ampliar: aos 26 minutos, Gustafson aproveitou o rebote de chute de Michiel Kramer.

No segundo tempo, foi até mais massacrante. Já no primeiro minuto, a tradicional fragilidade da defesa dos Enschedese em bolas aéreas atacou novamente: Dirk Kuyt cruzou e Kramer se antecipou e cabeceou para fazer 3 a 0. Mais quatro minutos, e a falha foi mais gritante ainda: Elia puxou a marcação no meio da área, e Karim El Ahmadi entrou livre para escorar cruzamento de Rick Karsdorp e fazer o quarto. O jogo já poderia ter acabado aí. Mas o Twente ainda viu um ato simbolizar sua atuação desastrosa: um minuto após entrar em campo, substituindo Jelle van der Heyden, o atacante Tim Hölscher cometeu falta e foi expulso diretamente. Nos acréscimos, ainda houve tempo de Bilal Basaçikoglu fazer o quinto. Quase igualando a maior vitória que já conseguira sobre o Twente (6 a 0, na temporada 1967/68), o Feyenoord venceu tão facilmente que Kuyt nem brilhou. E os Rotterdammers seguem firmes atrás do Ajax. Ao Twente, resta continuar amargando o desespero em que a crise financeira lhe jogou nesta temporada.

NEC 1x0 Utrecht

Luuk de Jong. Dirk Kuyt, Arek Milik. Esta temporada da Eredivisie mostra como nunca a responsabilidade que os goleadores dos times ponteiros têm nas boas campanhas deles. E outro exemplo vem de um clube que está na briga logo abaixo. É Christian Santos, do NEC. Após um primeiro tempo equilibrado, em que o Utrecht até teve mais chances para abrir o placar, o venezuelano apareceu na mais própria das horas para definir o placar: após pênalti de Yassin Ayoub em Navarone Foor, Santos bateu no ângulo. Foi seu nono gol na temporada (apenas Kuyt e Luuk de Jong marcaram mais). E foi a vitória que manteve o NEC na disputa para ver quem é o melhor do resto no Campeonato Holandês.

ADO Den Haag 2x2 Vitesse

Mal começou o jogo em Haia, e o ADO Den Haag partiu para o ataque. O que aconteceu? Isso mesmo: o Vitesse fez 1 a 0 logo aos seis minutos. Um passe em profundidade de Maikel van der Werff pegou a defesa dos Hagenaren toda desprevenida, e o israelense Sheran Yeini só teve o trabalho de tocar na saída do goleiro Martin Hansen. Só que a desvantagem precoce não inibiu os mandantes, que logo conseguiram o empate: aos 33 minutos, Ruben Schaken aproveitou erro de Guram Kashia na saída de bola, dominou e tocou no canto baixo do arqueiro Eloy Room. Ainda assim, o Vites novamente foi preciso. Logo aos 38 minutos, Kelvin Leerdam subiu sozinho, para cabecear e recolocar os visitantes na frente. Só restava ao Den Haag atacar no segundo tempo. E o empate surgiu já aos cinco minutos, num lance controverso: Leerdam disputou bola aérea com Mike Havenaar na área, e o jogo de corpo levou o japonês ao chão. Havenaar valorizou, e na interpretação do árbitro, o pênalti foi marcado. O zagueiro Timothy Derijck converteu, e ainda teve grande chance de virar o jogo, em cabeceio aos 25 minutos, para grande defesa de Room. Mas o último jogo da rodada ficou mesmo no 2 a 2.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Um fim tristemente apropriado

Ao invés do estádio, a volta para o hotel. O pesadelo também chocou o ônibus da Oranje (Vincent Jannink/ANP)
"Queríamos estar aqui, como uma afirmação. Até hoje à noite, conseguimos manter isso, mas infelizmente esta ordem precisou ser seguida. Não queríamos abaixar a cabeça para o terror, triste que as coisas tenham sido deste jeito. (...) Após a sexta-feira, o mundo parece totalmente diferente." Enquanto a delegação holandesa chegava ao aeroporto de Hannover, para viajar sã e salva de volta, Bert van Oostveen, diretor de futebol profissional da federação holandesa, lamentou desta forma o cancelamento do amistoso entre Holanda e Alemanha, nesta terça.

De fato, o cenário antes do jogo era de reanimação. Tanto pela vitória contra Gales, quanto pela mensagem simpática lida por Danny Blind, na segunda, ainda sob a gigantesca e justificada consternação pelos atentados terroristas vistos em Paris. Vale repetir trechos dela aqui: "Num momento como esse, você se toca mais uma vez que há coisas mais importantes do que o futebol. E automaticamente vem a pergunta sobre se o jogo deveria ser realizado. Sabemos todos que a seleção alemã teve um fim de semana de muita comoção. Também respeitamos muito o fato de que eles queiram jogar amanhã [terça]. E é o que nós queremos, também".

Até pela proximidade entre holandeses e alemães nos clubes, o clima de ajuda era mútuo. Notou-se isso nas palavras de Klaas-Jan Huntelaar, ao diário De Telegraaf, comentando contato com um colega de Schalke 04 que estava no Stade de France, durante as duas explosões no estádio: "No dia, eu tinha falado com Leroy [Sané] por mensagem de texto sobre a ameaça de bomba no hotel deles. Ele disse que passaram a noite no estádio, e só queria uma coisa: voltar para casa o mais rápido possível. (...) Nunca se pode baixar a cabeça para o terror, mas compreendo se a federação alemã decidir cancelar o jogo. Agora o futebol é um assunto secundário".

Afinal, a confirmação do jogo veio no domingo. O que até dificultou o trabalho de Danny Blind. Pois logo após o 3 a 2 sobre os galeses em Cardiff, Riechedly Bazoer (dores musculares na coxa) e Virgil van Dijk (lesão no joelho) foram mais duas baixas na delegação holandesa, e não tiveram substitutos exatamente pela incerteza quanto à realização da partida na HDI-Arena de Hannover. Também no domingo, foi a vez de Eljero Elia ser dispensado. Aí, Jürgen Locadia foi chamado às pressas, em sua primeira convocação para a seleção principal.

Seria curioso vê-lo recebendo uma chance durante os 90 minutos - mesmo caso de Marko Vejinovic.. Com relação aos titulares, com a ausência de Arjen Robben já prevista, como Memphis Depay voltaria a campo? Bas Dost, surpresa agradável em Cardiff, daria lugar a Huntelaar - mostraria o veterano faro de gol? E Joël Veltman, como substituiria Van Dijk como "líbero" no 5-3-2? Do lado alemão, seria curioso ver o escolhido para substituir Manuel Neuer, entre Kevin Trapp, Bernd Leno e Ron-Robert Zieler. Assim como seria de bom tom ter visto Holanda e Alemanha abrindo mão da execução de "Het Wilhelmus" e "Deutschland über alles", os respectivos hinos, em favor da execução única d'A Marselhesa, antes do jogo - algo combinado pelas duas federações.

Só que nada disso aconteceu, pela ameaça crescente descoberta na HDI-Arena, pouco antes do jogo. Pouco antes mesmo: a delegação já estava a caminho do estádio quando o cancelamento foi anunciado. A mudança brusca de caminho chocou os jogadores, primeiro levados a uma delegacia, e depois trazidos de volta ao hotel - em cuja entrada, policiais armados fizeram a ronda. Até agora, não está certo se realmente havia explosivos, muito menos se estavam numa ambulância, como informou Volker Kluwe, chefe de polícia da cidade (Thomas de Maizière, ministro alemão de assuntos internos, negou os explosivos na ambulância, mesmo alertando que não podia dar mais detalhes).

Restou a Veltman acalmar, em mensagem de texto enviada à AT5, emissora de tevê local em Amsterdã: "Estamos seguros agora! Esperando rápido pelo que acontecerá". Restaram as declarações de Bert van Oostveen, citadas no primeiro parágrafo. Restaram os agradecimentos à federação alemã, em nota da federação holandesa, que lamentou por "um jogo tão bonito não ter sido realizado". Restou a decepção pela Oranje não ter podido tentar a primeira vitória desde 2002, contra uma das grandes adversárias. E ficou, acima de tudo, a sensação depressiva de que um jogo perturbado e cancelado por razões lamentáveis foi um fim tristemente apropriado para o péssimo 2015 que a seleção holandesa teve em campo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Um pequeno ânimo

Robben prestou muita atenção às jogadas de ataque, e as aproveitou duas vezes. Sorte da Holanda (AFP)
Manter o esquema tático da seleção da Holanda num 4-3-3 espaçado demais entre os setores foi uma das principais razões para o fracasso da equipe nas eliminatórias da Euro 2016, tanto sob Guus Hiddink como sob Danny Blind. Pelo menos, após o vexame, Blind teve tempo para reconsiderar seus erros. Tratou de proteger mais a defesa. E bastou uma atuação mais acelerada e relativamente entrosada no ataque para a Oranje conseguir vencer o País de Gales, por 3 a 2, no amistoso desta sexta, em Cardiff.

E já após os treinos na capital galesa, na quinta, o treinador indicou que precisaria se preocupar mais com a parte de trás da equipe. Só não sabia qual alternativa escolher. Uma delas era clara: o 5-3-2 com que Louis van Gaal pensou a equipe terceira colocada na Copa do Mundo passada. A outra foi indicada pelo próprio Danny Blind: "Uma outra possibilidade seria jogar com dois meio-campistas mais defensivos [no 4-3-3]". De qualquer modo, ele reconhecia: "Precisamos fortalecer mais nossa defesa. Só que ainda guardarei em segredo o que farei".

Por fim, a equipe foi escalada no 5-3-2. E ainda se viram algumas experiências nos titulares: Daley Blind ficou na zaga, pela esquerda, enquanto Terence Kongolo era o lateral propriamente dito. No meio-campo, Quincy Promes foi experimentado, enquanto Bas Dost superou a escolha previsível de Klaas-Jan Huntelaar e começou jogando ao lado de Arjen Robben. Essas mudanças geraram um estilo interessante. Sim, sem a bola via-se claramente a linha de cinco defensores. Mas com a bola, não só a Holanda jogava mais num 3-4-1-2, com Quincy Promes às vezes avançando mais, como também tinha mais volume ofensivo.

No início do jogo, os galeses ainda se aproveitaram da falta de prática holandesa no novo-velho esquema tático para conseguirem algumas chances. Por duas vezes Virgil van Dijk avançou demais até para um líbero, e o espaço ficou aberto para que Tom Lawrence aproveitasse essas duas vezes com a bola e arriscasse chutes a gol. Mas após esse período de "adaptação", os holandeses se recompuseram. Jogando mais atrás, como armador, Wesley Sneijder começou a fazer bons lançamentos. Robben, enfim, voltou a atuar como "líder técnico": sempre se apresentava como opção de jogadas, e não só pela esquerda, sua faixa tradicional. Bas Dost, por sua vez, saía de suas características: ao invés de esperar as jogadas para finalizar, também participava das tabelas. 

Bastou um dos vários avanços de Daryl Janmaat (boa atuação) dar certo, para uma jogada bem tramada resultar no gol de Dost que abriu o placar. E a Oranje até merecia sair do primeiro tempo com a vantagem. Mas uma "imprudência" levou ao pênalti que empatou a partida, já nos acréscimos: Kongolo levantou as mãos para se livrar de um chute que lhe pegaria em cheio. Involuntário? Talvez. Mas cada vez mais árbitros marcam as penalidades em lances assim. Joe Allen bateu, e Jasper Cillessen teria um grande momento de glória, ao defender uma cobrança pela primeira vez em sua carreira... se Joe Ledley não tivesse aproveitado o rebote para empatar.

Acertadamente, Danny Blind não alterou demais a equipe logo na volta para os vestiários: apenas o lesionado Van Dijk deu lugar a Joël Veltman. Mais do que isso: continuaram os bons lançamentos de Sneijder. E principalmente, continuou a movimentação de Robben. Que aproveitou rápido contra-ataque para fazer o que sabe de melhor: cortar para a esquerda, sem marcação, e chutar a gol. Fez 2 a 1 e deu razões para que o jornalista Willem Vissers, do diário De Volkskrant, colocasse em seu perfil no Twitter: "Mais importante do que escolher entre 5-3-2 e 4-3-3 é ter um jogador como Robben em forma". De fato, ainda não dá para prescindir do nativo de Bedum na Oranje.

Mas novas falhas de posicionamento da defesa resultaram em empate dos galeses: após cruzamento para a área, o trio de zagueiros deixou alguns adversários livres ao sair para cortar. Um deles, Emyr Huws, cabeceou livre para as redes de Cillessen. A decepção só não foi maior porque, novamente, um contra-ataque acelerado (por um rápido passe de Dost, no caso) pegou Robben livre. E ele não errou, garantindo a vitória por 3 a 2. Só então Danny Blind pôde experimentar por alguns minutos na equipe - por exemplo, promovendo a estreia de Riechedly Bazoer no meio-campo

Na saída de campo, Danny Blind ainda alertou: "Só é chato termos sofridos dois gols em bolas paradas. Nas eliminatórias, sofremos três ou quatro gols de escanteios e bolas paradas. Isso precisa melhorar". Mas também afagou: "Estou razoavelmente feliz. Não cedemos muitas chances e jogamos compactos". Cillessen também se alternou entre a lamentação ("Eu ainda estava na bola, no rebote [do pênalti], mas foi muito frustrante. Legal que eu tenha defendido um pênalti, e nada mais. No fim, foi um gol que sofremos") e o otimismo ("Espero que da próxima vez eu defenda sem dar rebote"). E Arjen Robben, de novo o salvador da Holanda, também se alegrou: "Estamos recomeçando, com um sistema antigo. Por isso, precisamos trabalhar. Mas estou com um bom sentimento para o futuro". 

Exatamente por isso a Holanda precisava da vitória: para recuperar o bom sentimento. Obviamente, a vitória desta sexta não quer dizer que a equipe virou favorita para o jogo de terça, contra a Alemanha. Mas, pelo menos, deu um pequeno ânimo. Já é algo, na situação atual da Oranje.

Tentando recomeçar

Como a vaga para a Euro não veio, a Holanda tem de baixar a cabeça e treinar para os amistosos (Bas van Lonkuijsen/ANP)
“São jogos estranhos. Você faz amistosos como preparação para a Euro, ou a Copa – se necessário, até para jogos de repescagem. Mas faremos jogos de preparação só para setembro do ano que vem. Até o final desta Euro eu me lembrarei de que a gente não está lá. Não jogaremos uma Euro na França, que é tão perto [da Holanda]. Teria sido um grande torneio”.

Essas palavras de Arjen Robben, na última segunda-feira, no diário “Algemeen Dagblad”, exemplificaram com perfeição o clima com que a seleção holandesa se reúne nesta semana, para amistosos contra País de Gales - nesta sexta, em Cardiff - e Alemanha - próxima terça, em Hannover. A Laranja ainda se envergonha do vexame da ausência no torneio continental. E chega aborrecida ao limbo em que ficará até o início das eliminatórias europeias para a Copa de 2018. Mais ou menos como aquele estudante que gazeteou quando não devia, ficou em recuperação (com justiça) e agora tem de amargar o início das férias sentado, estudando para as provas, enquanto os colegas que fizeram tudo direitinho já entram com todo o gás no período da diversão.

E não é por falta de ação que o elenco holandês está meio desanimado. Primeiramente, houve novidades entre os jogadores. Na convocação definitiva, feita na última sexta, Terence Kongolo enfim retornou à seleção, para a qual não era convocado desde a Copa do Mundo, quando só jogou os segundos finais contra o Chile. Se fora chamado às pressas para substituir o lesionado Davy Klaassen, na última rodada das eliminatórias da Euro 2016, agora o volante Riechedly Bazoer recebe uma chance mais concreta.

Caso semelhante ao de Bazoer é o de Maarten Stekelenburg: relacionado apenas para substituir Tim Krul no banco de reservas na partida derradeira da qualificação, o goleiro está de volta à Oranje para valer. E o bom início de Eredivisie, oferecendo qualidade na saída de bola e na marcação pelo meio-campo do Feyenoord, rendeu a primeira convocação à seleção adulta para o volante Marko Vejinovic (nascido e criado em Amsterdã, apesar do nome entregar a ascendência sérvia).

Todavia, mais surpreendentes do que as presenças foram as ausências. Já na pré-convocação, há duas semanas, Danny Blind abriu mão de Robin van Persie. O jornal “De Telegraaf” já havia vazado a notícia no dia anterior, mas ainda assim a confirmação causou espanto. Blind esclareceu tudo na entrevista coletiva, abrindo o novo “ciclo” de seu trabalho com declarações mais carregadas: “Acho que Robin não está no seu ritmo normal, desde que se transferiu para a Turquia. Ainda não jogou uma partida completa. Isso não é um bom sinal. Acho que ele não está jogando bem. Não está afiado, não está em boa forma”.

Está certo que Blind colocou panos quentes quase imediatamente após as justificativas (“Se ele estiver bem para os próximos jogos, provavelmente será convocado”). E Wesley Sneijder lembrou de situação semelhante que viveu na Oranje, sob Louis van Gaal, em 2013, ao site NUSport: “É a mesma situação. Primeiro eu perdi a faixa de capitão, e já saquei onde iria terminar. Dói muito quando não se é convocado. (...) Eu senti o que ele deve estar sentindo. Mas num momento assim, você tem dois caminhos. Ou não pensa mais no assunto, ou trabalha ainda mais duro”.

O próprio barrado minimizou sua ausência: “Não muda nada, eu não abandono a seleção. Estou à disposição. Sim, foram palavras duras [de Blind], mas isso não é relevante”. No entanto, pela má fase inegável no Fenerbahçe, e pelas situações nos últimos dois jogos (contra o Cazaquistão, o atacante ficou no banco, e teria brigado com Memphis Depay; contra a República Tcheca, também começou na reserva, e ainda teve o gol contra), muito se cogita que Danny Blind talvez tenha encerrado abruptamente a carreira de Robin van Persie com a camisa laranja, após 101 jogos e 50 gols – ninguém marcou mais pela Oranje, bom lembrar. As próximas convocações responderão.

Outra ausência foi “alarme falso”, mas ainda repercute. Na pré-convocação, o treinador também deixou de fora Memphis Depay. E ainda passou uma carraspana leve no atacante: “Ele é um jogador para o futuro. Mas há outras coisas em questão. No futebol de alto nível, você deve funcionar dentro do coletivo. E ele nem sempre faz isso”. Curiosamente, quem saiu em defesa de Memphis foi justamente quem o colocou no banco no Manchester United: seu “tutor” Louis van Gaal. “Eu já disse que ele é o maior talento [no futebol] de sua faixa etária, mas ele só tem 21 anos e não podemos esperar regularidade dele. (...) Tenho certeza de que voltará, e mais forte do que antes, mas precisamos lhe dar tempo”.

Seja como for, Blind deu um voto de confiança após o puxão de orelhas e incluiu Memphis na convocação definitiva para os amistosos. E justiça seja feita: o alerta do técnico veio ao encontro do que torcida e imprensa, em sua maioria, pensam do jovem. Depay anda sofrendo críticas na Holanda pelos mesmos motivos por que Neymar era (ainda é, um pouco) olhado com desagrado por alguns, no Brasil: excessivo individualismo dentro de campo, maior preocupação com a badalação e com o vestuário fora dele. Porém, o nível das atuações do brasileiro no Barcelona anda a tal ponto que minora até as lembranças dos processos judiciais que correm contra ele e sua família, no Brasil e na Espanha.

Já o holandês não tem conseguido responder dentro de campo. Pior: a imprensa do país se desagradou com algumas atitudes suas (como não parar na zona de entrevistas, após a derrota para a República Tcheca, nas eliminatórias da Euro). E sua apresentação à comissão técnica, na última segunda, não mudou muito as coisas: Depay chegou ao hotel com um chapelão que chamou mais a atenção dos jornalistas do que a própria situação da Oranje. Aí o jogador decidiu reagir: “Sim, é um chapéu. O que um homem faz com um chapéu? Eu visto. É só um chapéu. Eu achei bonito. (...) Não é estrelismo, não tem nada a ver, porque eu sou a mesma pessoa que era nos tempos de PSV. As pessoas leem muita coisa. Quem faz parte do meu círculo sabe da verdade, o resto do mundo, não”. E o próprio Danny Blind também não ligou muito para o alarido, brincando: “[O chapéu] não faz meu tipo... se achei um outro mau sinal dele? Não, eu presto atenção em outras coisas”.

E os problemas não pararam em Van Persie e Depay. Ao chamar inicialmente cinco atletas do Ajax para os amistosos (Cillessen, Tete, Veltman, Riedewald e Klaassen), Blind novamente ouviu críticas de um suposto favorecimento excessivo a jogadores dos Amsterdammers. Mas não foi apenas de torcida e imprensa: foi de um jogador. Em declarações à emissora de tevê Omroep Brabant, o lateral Joshua Brenet, do PSV, não economizou: "Como ele [Blind] é alguém com história no clube, pode-se dizer que talvez isso interfira". Brenet ainda acrescentou dúvidas sobre os critérios do técnico: "Alguns caras jogam bem três jogos, e ele já chama". O treinador ignorou: "Eu li algo sobre [as críticas de Brenet], mas não posso me preocupar muito com isso".

Outra polêmica veio quando Blind revelou que pedira a Dirk Kuyt que aceitasse voltar à Oranje para os últimos dois jogos das eliminatórias, mas que o atacante teria respondido que só atenderia convocações caso tivesse garantida a titularidade. Kuyt negou veementemente: “Soou estranho ouvir que eu teria exigido ser titular. Não exigi nada. Nem eu ao técnico e nem ele a mim. Pronto”. Mas antes que a frase se tornasse outro foco exagerado de crise, o atacante do Feyenoord tranquilizou: “Falei com o técnico durante a semana, e minimizamos a ‘tempestade’”.

Bom para o técnico, que viu as contusões diminuírem sua convocação pouco a pouco. Na semana passada, Anwar El Ghazi (tornozelo) já fora cortado. Após a rodada da Eredivisie, o goleiro Kenneth Vermeer foi mais um descartado. Jaïro Riedewald mal se apresentou e também foi dispensado, com dores no joelho – o que promoveu mais um retorno à seleção, o de Erik Pieters. E finalmente, nesta quinta Davy Klaassen deixou o elenco, também por causa do joelho. Tendo saído de Feyenoord x Ajax com dores musculares, Bazoer quase engrossou a lista, mas se recuperou aos poucos. E se já tem jogado após a distensão na virilha que o tirou da fase final das eliminatórias da Euro, Arjen Robben ainda prefere jogar num ritmo um pouco menor, e por isso só estará em campo contra País de Gales.

Com tantos incidentes, a seleção da Holanda poderia estar em séria turbulência. Nada disso. O ambiente é calmo, mas melancólico. A lembrança da ausência da Euro ainda incomoda, mas é uma realidade inescapável. E Danny Blind está tentando inserir algumas mudanças no grupo de jogadores. Contudo, nem mesmo vencer os dois amistosos vai tirar o clima macambúzio e as desconfianças que ainda cercam a Oranje após o vexame. 

A revolução não é mais aveludada

Desprestigiado pela diretoria, Wim Jonk quis sair. E criou mais um capítulo na crise do Ajax (Jeffrey van Bakel/Pro Shots)
Era 20 de setembro de 2010. Dias depois do Ajax ser derrotado inapelavelmente pelo Real Madrid, na estreia pela fase de grupos da Liga dos Campeões: fora 2 a 0 para os Merengues, e ficara muito barato. O desnível entre os Ajacieden e os madridistas foi tamanho que motivou uma coluna bastante ácida de Johan Cruyff (quem mais?), no diário De Telegraaf. Para citar somente o título: "Este não é mais o Ajax". Tudo bem, mais um trecho: "Após o apito final, todos estavam felizes pela derrota ter sido 'somente' por 2 a 0, enquanto ela podia ter sido de 8 ou 9".

Não se passaram mais de dois meses: em 15 de novembro, Cruyff escreveu outra coluna no De Telegraaf. Título: "Mensagem a todos os Ajacieden". Ali pedia que antigos jogadores do clube se candidatassem a cargos no Conselho Deliberativo, para que assim, personagens importantes de sua história estivessem de volta à condução dos destinos. Bastou: Marc Overmars, Tscheu La Ling, Peter Boeve, Keje Molenaar... enfim, todos estes foram eleitos conselheiros. Estava iniciada a "Fluwelen Revolutie", a "Revolução de Veludo" no Ajax, assim nomeada por não ocorrer com grandes conflitos internos. 

Também mudaram os personagens em campo. Um triunvirato de ex-jogadores formou-se para trazer de volta o estilo técnico que fizera o clube famoso pelo mundo: Wim Jonk, diretor das categorias de base; Dennis Bergkamp, técnico da equipe de juvenis; e Frank de Boer, então técnico dos juniores. Sentindo que seu espaço e seu método tático não caberiam mais na Amsterdam Arena, o técnico Martin Jol pediu o boné, no início de dezembro. Frank de Boer assumiu imediatamente, e até com um resultado positivo: vitória por 2 a 0 sobre o Milan, em San Siro, na última partida da fase de grupos da Liga dos Campeões.  A mudança pretendia ter resultados para dali a algum tempo. Mas baseado num final de temporada fulgurante - sete vitórias nos últimos sete jogos -, o Ajax conseguiu ser campeão holandês em 2010/11, após sete anos de jejum.

Desde então, a revolução de veludo conseguira trazer o Ajax de volta ao posto de grande clube do futebol holandês. Até agora. Porque, se dentro de campo a equipe ainda lidera a Eredivisie desta temporada, fora dele a crise está cada vez mais aberta. E um novo capítulo aconteceu nesta semana: o pedido de demissão de Wim Jonk - que seguia desde 2010 dirigindo as categorias de base em De Toekomst, o afamado centro de treinamento da base dos Amsterdammers.

O anúncio da saída de Jonk (ex-meia, com duas Copas pela seleção no currículo) foi o capítulo mais dramático num racha que já se aprofunda há pelo menos dois anos. De um lado, o próprio Jonk, que defende o plano original de Cruyff, com a continuação do uso frequente de egressos da base na equipe adulta do Ajax - cabe citar aqui: do atual time-base que Frank de Boer normalmente escala, sete dos onze titulares são formados no próprio clube. Do outro lado, há Marc Overmars: hoje diretor de futebol, cada vez mais o ex-atacante acredita que o Ajax precisa contratar, caso ainda sonhe com campanhas honrosas nos torneios continentais. Com o leve apoio de Frank de Boer, Overmars foi o idealizador das chegadas de Arkadiusz "Arek" Milik e John Heitinga, por exemplo. Aos poucos, o conflito cresceu, e Jonk passou a não se reunir mais com os outros integrantes da diretoria técnica - último passo antes de pedir demissão, que era a intenção real dos que o escanteavam.

O pior é que o racha não tem mediadores confiáveis. Para tentar solucioná-lo, no final do ano passado, Cruyff já aconselhara a vinda de Tscheu La Ling, como supervisor técnico. Mas La Ling não durou mais do que alguns meses, desprestigiado pela dupla Overmars-Frank. O diretor geral Dolf Collee tem nome discreto demais para exercer destaque; e a outra opção, se tem destaque, também mostra fraqueza. Edwin van der Sar, na diretoria desde 2012 (era o diretor de marketing, e assumiu o posto de diretor técnico há pouco) é criticadíssimo por não mostrar pulso firme na situação.

Para muitos, uma prova disso foi vista na última quarta-feira, dia da demissão de Jonk. Van der Sar estava treinando em campo, junto de André Onana e Diederik Boer, goleiros reservas de Cillessen na equipe adulta. Ao invés de estar no ambiente frenético e turbulento dos gabinetes, o ex-goleiro agia como se ainda fosse profissional dentro de campo. Pouco recomendável para quem foi pensado por Johan Cruyff para ser o futuro diretor-geral do clube, exercendo no Ajax um papel semelhante ao de Karl-Heinz Rummenigge no Bayern de Munique, por exemplo.

Pelo menos, Van der Sar não precisou aguentar dúvidas sobre sua conduta, como Overmars precisou: na última segunda, o diário De Volkskrant publicou que uma empresa pertencente ao cunhado do diretor de futebol fora contratada para construir uma escola dentro de De Toekomst, neste ano, e que em 2013, uma reforma nos vestiários dos campos da base fora feita por uma empresa que já fizera trabalhos a outros negócios do dirigente. Overmars defendeu-se dizendo que avisou a direção do clube sobre seus contatos anteriores com a empresa, e que a contratação não tivera sua participação. O Ajax confirmou as palavras do ex-atacante, e as acusações caíram no esquecimento.

Ainda assim, no aspecto técnico, o pedido de demissão de Jonk (e, antes ainda, o fracasso no trabalho de Tschen La Ling) seguiram esquentando a crise. As duas saídas foram vistas como um projeto da direção atual para minimizar a influência de Johan Cruyff no Ajax. Resultado: mesmo no início do tratamento contra o câncer no pulmão, Cruyff precisou falar ao De Telegraaf para criticar a saída do diretor da base: "Jonk naturalmente tem muita razão. Ele se afastou das reuniões. É que ele não me falou nada, senão eu teria observado isso. As coisas não podem ser assim, em que ninguém fala nada, depois as coisas dão errado, e colocam tudo nas minhas costas. Digam, então, 'a sua visão não nos serve mais'".

Eis que, nesta quinta, não só Jonk voltou normalmente ao trabalho, como uma carta aberta da equipe técnica de De Toekomst à diretoria manifestou-se contrária à saída dele: "A partir do nosso comprometimento com o Plano Cruyff e nossa crença na missão e na visão que Wim Jonk trouxe ao clube com esse plano, achamos completamente ilógico e portanto incompreensível que vocês o tenham ameaçado".

Nesta sexta, haverá a reunião dos acionistas do Ajax. Certamente, a situação não será aveludada. Johan Cruyff já colocou um ultimato, na entrevista supracitada: "Os acionistas precisam parar o que a diretoria e o conselho estão fazendo. Ou então, digam que acabou o Plano Cruyff. Que sejam honestos e não usem indevidamente o meu nome". Diante das manifestações contrárias à saída de Jonk, partidário de Cruyff, fica a dúvida sobre a coragem dos diretores para dizerem que o Ajax mudará, de novo. E agora, sem tanta simplicidade.

domingo, 8 de novembro de 2015

810 minuten: como foi a 12ª rodada da Eredivisie

Vilhena e Gudelj disputam a bola: divididas ficaram maiores do que o jogo em Feyenoord x Ajax (feyenoord.nl)
Roda JC 1x1 ADO Den Haag 

Os Koempels tiveram o melhor dos começos para se recuperarem da goleada sofrida para o Ajax, na 11ª rodada: abriram o placar já aos nove minutos, com Tom van Hyfte. Na verdade, já poderiam até estar ganhando por 2 a 0, mas o gol do atacante Tomi Juric fora anulado, por suposta falta no zagueiro Gianni Zuiverloon. No entanto, o Den Haag foi melhorando progressivamente no ataque. Até que Mike Havenaar fez o que já está acostumado: gol. O nipônico empatou o jogo para os Hagenaren, sendo o dono de uma façanha: era a 2000ª vez que o ADO Den Haag balançava as redes em sua história no Campeonato Holandês. No segundo tempo, os visitantes cresceram ainda mais, principalmente depois da expulsão de Juric, aos 18 minutos. Até poderiam ter vencido, tantas foram as chances criadas - na principal, o lateral direito Ard van Peppen tirou a bola em cima da linha, salvando o Roda JC. Mas a partida em Kerkrade ficou mesmo no 1 a 1.

Twente 1x4 Heerenveen

Antes da primeira partida de sábado se iniciar, o Twente já sabia: era o pior início de temporada do clube em 40 anos (bem, em seis anos, considerando o tempo em que vitórias valem três pontos), com apenas nove pontos em 11 jogos. E pouco depois do começo dos 90 minutos no Grolsch Veste, já estava claro que seria novamente uma tarde frustrante para os Tukkers. Logo aos seis minutos de jogo, aproveitando rebote, Luciano Slagveer abriu o placar para os frísios. Pior: aos 15 minutos, Hakim Ziyech, sempre a chance de desafogo para o time vermelho, cobrou pênalti, mas mandou a bola para fora. Custou caro: ainda na etapa inicial, após falha do goleiro Joël Drommel em bola aérea, o zagueiro Kenny Otigba fez 2 a 0 para o Heerenveen. 

Amenizando ligeiramente sua falha no pênalti perdido, Ziyech novamente destacou-se pelo Twente, diminuindo com um chute de fora da área, já no segundo tempo. Só que novo erro defensivo praticamente definiu a vitória dos visitantes: aos 33 minutos, Drommel rebateu uma bola nas costas do zagueiro Joachim Andersen, e ela foi mansa para as redes. E Sam Larsson aproveitou outra falha de Andersen para fazer o segundo 4 a 1 de um visitante em Enschede, na temporada. Uma goleada que consolida a reação do Heerenveen sob o técnico interino Foppe de Haan (que anunciou: só fica até a pausa de inverno): já são três jogos sem derrota, com duas vitórias e um empate, afastando o perigo da zona de repescagem/rebaixamento. E uma goleada que só aumenta a aflição que se vive no Twente.

NEC 2x0 De Graafschap

Se o leitor não se lembra, o venezuelano Christian Santos foi o autor do gol da "Vinotinto" na goleada da Seleção Brasileira, por 4 a 1, nas eliminatórias para a Copa do Mundo. Pois bem: Santos joga no NEC. E ele foi o principal destaque da vitória que consolida a reação que já leva o atual campeão da segunda divisão holandesa à sexta posição (melhor campanha de um time promovido à elite desde o Haarlem, em 1976). Uma falha do volante Alexander Bannink levou ao primeiro gol. Tentando tirar a bola da área após cruzamento, Bannink furou o chute e tocou a mão na bola. Richard Liesveld apitou o pênalti, e Santos abriu o placar, aos 32 minutos do primeiro tempo. O comportamento dos Superboeren foi o mesmo das últimas rodadas: um time esforçado ao extremo em busca de gols, e até causando problemas. Mas um contra-ataque bem feito resultou no segundo gol de Santos na partida (nono na temporada), já aos 35 minutos da etapa final. Uma vitória que intensifica o despontar dos Nijmegenaren - e também afunda o lanterna De Graafschap (em 12 jogos, dois pontos!) na fama de time esforçado, mas ruim e quase fadado ao rebaixamento direto.

Willem II 2x3 Excelsior

Jogos malucos e frenéticos no ataque são frequentes no Campeonato Holandês. E a partida em Tilburg foi o exemplo da vez. Já aos 41 segundos da etapa inicial, Richairo Zivkovic abria o placar para os anfitriões; e aos dois minutos, Tom van Weert desviou para as redes cruzamento de Daryl van Mieghem, fazendo 1 a 1. Depois, novamente os Tricolores marcaram, em jogada dos irmãos Wuytens (Stijn tocou, e Dries completou), aos 19 minutos. Sem problemas: o Excelsior obteve o empate aos 29 minutos, em pênalti convertido por Jeff Stans. Aí, a partida diminuiu um pouco o ritmo. Ainda assim, com times semelhantes em nível técnico, quem errasse cederia a vitória ao outro. E o infeliz da vez foi Dries Wuytens: aos 12 minutos do segundo tempo, o zagueiro perdeu um recuo de bola, e abriu caminho para Van Mieghem chegar livre à área, virar o jogo e garantir a vitória dos Kralingers, que saltaram para a 10ª posição. Falha dura para o Willem II: com só uma vitória na Eredivisie, o time sofre no antepenúltimo lugar.

Zwolle 1x1 Heracles

Já com duas derrotas consecutivas em casa (e três no campeonato), os Dedos Azuis precisavam reavivar a campanha, enquanto cabia ao Heracles manter o contato bem próximo com o Trio de Ferro na ponta da tabela. E os Heraclieden conseguiam fazer isso à perfeição no estádio Ijsseldelta: já no primeiro tempo, o zagueiro Thomas Lam falhou ao tentar deter um ataque, e a bola sobrou limpa para Wout Weghorst fazer seu sexto gol na temporada, colocando os visitantes na frente. Durante o restante do jogo, os Almelöers mantinham a vitória sob controle, e os Zwollenaren eram ineficazes na frente, mesmo chutando mais a gol. Quem resolveu foi Stef Nijland: saído do banco aos 39 minutos do segundo tempo, o ponta-de-lança bateu firme de fora da área, aos 49 minutos, para empatar o jogo e manter o Zwolle próximo do NEC. E mesmo perdendo a vitória nos acréscimos, o Heracles segue a par e passo com Ajax, Feyenoord e PSV.

PSV 3x1 Utrecht


Já no início da partida em Eindhoven (precisamente, aos dois minutos do primeiro tempo), Héctor Moreno abriu o placar para o PSV. O que não quer dizer que a vitória final dos Boeren foi fácil. Já no primeiro tempo, a equipe da casa se mostrou desatenta e dispersa. E no início da etapa final, os Utregs tiveram muito mais volume ofensivo, tendo a recompensa no empate de Bart Ramselaar: após chute de Timo Letschert que mandou a bola na trave, e Nacer Barazite cabecear o rebote para grande defesa de Jeroen Zoet, o meio-campista dos visitantes bateu da entrada da área, a bola desviou em Joshua Brenet e tirou Zoet do lance. Parecia que o time de Utrecht colocaria fogo no jogo.


Mas Phillip Cocu decidiu agir: substituiu de uma vez só Adam Maher e Luciano Narsingh, que estiveram mal em campo, para colocar Jorrit Hendrix e Gastón Pereiro. Mudanças bem vindas: Hendrix fechou melhor o meio-campo, ajudando a evitar os ataques adversários. E Pereiro, que normalmente atua pela direita, ficou inteligentemente no meio-campo. Puxou a marcação e abriu espaço para Santiago Arias. E numa das jogadas em que chegou livre pela direita, o lateral colombiano fez 2 a 1. Luuk de Jong até poderia ter ampliado o placar antes (chutou um pênalti nas mãos de Robbin Ruiter, na sétima cobrança desperdiçada pelo PSV das últimas onze que teve), mas aproveitou um contra-ataque para fazer seu décimo gol na Eredivisie. 3 a 1, numa vitória daquelas em que o técnico, enfim, teve certa participação.

Feyenoord 1x1 Ajax

O Klassieker foi relativamente decepcionante. Porque não entregou o que chegou a prometer durante o primeiro tempo, que foi tenso, mas aberto. É verdade que nenhum dos dois goleiros teve preocupações constantes, mas também é verdade que os dois arquirrivais foram a campo com esquemas de jogo ofensivos. O Feyenoord estava pensando em se impor mais pela força física, com a escalação de Eric Botteghin na zaga; já o Ajax preferiu a segurança na armação de jogadas, com a opção por Viktor Fischer e Arkadiusz "Arek" Milik iniciando como reservas, ao passo que Davy Klaassen começou como "falso centroavante", no 4-3-3 tradicional. Porém, a falha comum dos Amsterdammers foi submeter-se à marcação por zona da defesa do Stadionclub. Bastou apenas uma desatenção da defesa (que até jogava bem, com Jaïro Riedewald como destaque) para Sven van Beek escorar cruzamento de Dirk Kuyt e apagar a lembrança de seu gol contra na rodada passada do melhor modo possível: abrindo o placar no grande clássico do futebol holandês.

E o Ajax já sofreu com a necessidade de fazer duas alterações forçadas. Milik voltou a campo substituindo Lasse Schöne, ainda no fim da etapa inicial; e Riechedly Bazoer, que já sofrera com dores musculares nos primeiros 45 minutos, deu lugar a Fischer, a partir do intervalo. Parecia que o planejamento tático inicial de Frank de Boer estava arruinado. Bom para ele: as mudanças aceleraram os Ajacieden, que foram encurralando aos poucos a defesa Feyenoorder até o empate muito comemorado, num lance de sorte de Klaassen (seu chute de fora da área resvalou em Terence Kongolo, encobrindo o goleiro Kenneth Vermeer). A igualdade no placar prometia um resto de segundo tempo empolgante. Mas numa jogada pela lateral direita, Eljero Elia e Kenny Tete disputaram a bola com alguma violência, e sobraram alguns safanões. A punição amena do árbitro Bas Nijhuis a ambos (cartão amarelo) foi suficiente para tornar o jogo mais pegado do que propriamente empolgante, algo que seguiu até o apito final. Por isso, a decepção. A qualidade satisfatória do primeiro tempo poderia ter se repetido. Se alguém saiu satisfeito, foi o Ajax, que manteve a liderança; ao Feyenoord, restou lamentar a "oportunidade perdida", nas palavras de Dirk Kuyt após a partida, e também restou ver o PSV se fixar na segunda posição.

Cambuur 2x2 Groningen

Não havia muita dúvida sobre quem era o favorito. Afinal, mesmo jogando em casa, o Cambuur não vencera uma partida na temporada (e fizera apenas três gols jogando em seu estádio), contra um time que não perdia. E no entanto, eram os Leeuwarders que estavam com 2 a 0 aos 15 minutos do primeiro tempo, por obra e graça de dois gols de Martijn Barto. Porém, a ilusão da primeira vitória para os auriazuis foi atingida duramente no segundo tempo. Primeiro, Johan Kappelhof diminuiu. Aos 11 minutos, Barto fez um gol, mas o árbitro Serdar Gözübüyük o anulou. E dois minutos depois, Jesper Drost empatou para o time do norte holandês, em chute de fora da área. E assim, os Groningers seguiram junto a NEC e Zwolle como times de campanha honrosa, logo abaixo dos ponteiros, enquanto o Cambuur amargou uma grande decepção no que podia ter sido um grande dia.

Vitesse 0x2 AZ

Nem parecia que o AZ fora derrotado em casa pelo NEC, na rodada passada. E nem parecia que o Vitesse era um time que mantinha contato próximo como o Heracles - logo, estava um andar abaixo dos líderes da Eredivisie. Desde o início do jogo, os Alkmaarders mandaram e desmandaram em pleno Gelredome de Arnhem. Criaram mais chances de gol e tiveram mais posse de bola. De quebra, a expulsão do meio-campista Marvelous Nakamba, aos 42 minutos do primeiro tempo, tornou as coisas ainda mais perigosas para a defesa do Vites. Com todo esse cenário, os gols de Vincent Janssen e Markus Henriksen, que definiram o jogo, até demoraram: surgiram apenas aos 30 e 33 minutos do segundo tempo, respectivamente. Seja como for, o AZ conseguiu subir para a 10ª posição, numa temporada em que ainda tenta preencher seu potencial, ganhando tempo para evitar crises. E o Vitesse nem perdeu tanto: apenas ficou com a mesma pontuação do NEC, mas segue no quinto lugar.