quarta-feira, 30 de março de 2016

Luzes (fracas) no fim do túnel

O pênalti convertido pelo promissor Janssen animou a Holanda na vitória honrosa diante da Inglaterra (ANP/Pro Shots)
Só de não ter tomado um gol aos dois minutos de jogo, como ocorrera no amistoso da sexta passada, contra a França, já era possível dizer que a seleção da Holanda jogava melhor contra a Inglaterra, nesta terça, no estádio de Wembley. E se a vitória por 2 a 1 teve algo de sorte, também foi possível ver na atuação da Oranje algumas coisas que, se bem trabalhadas, indicam possibilidade de melhora para a base da equipe que Danny Blind tenta formar, com vistas às eliminatórias para a Copa de 2018.

E se já fora difícil tentar formar uma base antes do jogo contra os Bleus, com tantas lesões em convocados/possíveis convocados, ficou ainda mais árduo para o duelo com o English Team. Já na partida de sexta, Wesley Sneijder lesionou o músculo superior da coxa e foi cortado (ficará um mês fora dos campos). No treino de domingo, mais dois desligamentos foram necessários. Ao sair do gol para evitar chute de Klaas-Jan Huntelaar, Jasper Cillessen teve o rosto atingido involuntariamente pelo pé do atacante: nariz fraturado e goleiro cortado. Pouco depois, Davy Klaassen sentiu dores na coxa, e foi mais um dispensado.

Com tantas adversidades, nem mesmo as convocações rápidas de dois substitutos para Cillessen (Michel Vorm) e Klaassen (Marco van Ginkel) minoravam os problemas de Danny Blind para formar o esquema tático da equipe, que seguiria no 4-3-3 de certo êxito no segundo tempo contra a França. Restou colocar Ibrahim Afellay como principal armador, trazendo de volta aos titulares Georginio Wijnaldum como volante, em papel semelhante ao feito na Copa de 2014. 

No ataque é que veio a grande surpresa: ao invés da prevista escalação de Huntelaar, Vincent Janssen já começaria como titular em seu segundo jogo pela Laranja. Falando à SBS, emissora holandesa de tevê que mostrou o jogo, Danny Blind reconheceu e explicou: "Naturalmente, Huntelaar não ficou feliz, pois queria jogar. Mas eu já defini o papel dele. Sei como joga, e como funciona. Quero ver como os outros atacantes atuam. Em novembro [no amistoso contra País de Gales], eu vi Bas Dost. No jogo passado, vi Luuk de Jong. Agora, quero ver Janssen".

Pelo primeiro tempo, até deu certo. Meio-campo e ataque criaram mais jogadas, e tiveram mais velocidade do que contra a França. Wijnaldum e Riechedly Bazoer protegeram melhor a defesa, e Afellay assumiu bem a responsabilidade de pensar o jogo. Se bem que nem foi o meio-campo o responsável por trazer mais perigo, e sim os jogadores pelas pontas: tanto Quincy Promes (destaque, na soma dos dois amistosos) quanto  Memphis Depay mostraram rapidez para avançar e proteger os laterais - algo necessário, com as atuações temerosas de Joël Veltman e Jetro Willems.

Porém, a rapidez ofensiva não se viu na defesa. Prova disso foi o gol inglês que abriu o placar. Havia ampla superioridade numérica de holandeses na área de defesa: cinco contra quatro. Nem isso impediu que Adam Lallana, Kyle Walker e o autor do gol, Jamie Vardy, trocassem passes com velocidade, envolvendo facilmente o miolo de zaga da Oranje para o 1 a 0 do English Team. Foi o 14º gol sofrido pela seleção, em sete jogos sob o comando de Danny Blind: sem dúvida, a insegurança da defesa é o grande problema do trabalho. Seja no 5-3-2 ou no 4-3-3.

Ainda assim, veio a virada no segundo tempo. Com sorte, como já se disse: o gol de empate saiu de pênalti - ou seja, bola parada -, e foi clara a falta cometida por Janssen na jogada que levou ao gol de Luciano Narsingh. Ainda assim, os méritos holandeses foram inegáveis. A começar pelo goleiro: sempre que foi exigido, Jeroen Zoet se mostrou seguro, e vai se firmando como reserva imediato de Cillessen (por enquanto...). Na zaga, mesmo com a lentidão que possibilitou o gol da Inglaterra, Daley Blind mostrou espírito de liderança e até algum senso de posicionamento, suficientes para justificarem a braçadeira de capitão que ostentou no jogo. No meio-campo, Afellay dava velocidade na criação; e no ataque, enquanto Memphis Depay seguiu com a boa atuação, Narsingh teve um dia de "sim". Irregular no PSV, o ponta-direita entrou bem no lugar de Promes, com velocidade e sem individualismos, e mereceu fazer o gol da vitória.

Mas é inegável: o destaque do dia em Wembley foi Vincent Janssen. Tanto pela coragem em bater o pênalti e empatar o jogo, em seu primeiro gol pela seleção ("Quando marcaram o pênalti, eu pensei 'essa é minha, não vou mais deixar escapar', descreveu Janssen após o jogo, lembrando da chance perdida na jogada imediatamente anterior ao penal), quanto pela participação "decisiva" no gol de Narsingh, ao fazer a falta sem que fosse marcada e ainda cruzar para a finalização. Com 16 gols em 15 jogos no ano, juntando clube e seleção, o nativo de Heesch agarrou bem a sua chance. Impressionou Danny Blind ("Ele não se impressionou, não ficou nervoso", comentou o técnico), e certamente será observado bem mais de perto no restante da temporada. Por Danny Blind, por Fred Grim (técnico da seleção sub-21), por clubes de centros maiores do futebol europeu... nada mal para alguém que só estivera em Wembley a passeio, como Janssen falou à imprensa.

Enfim, a vitória sobre a Inglaterra foi até surpreendente. Pelo que os ingleses haviam apresentado no segundo tempo sobre a Alemanha - e pelo que a Holanda NÃO apresentara contra a França. Valeu pela alegria vista em jogadores e comissão técnica após o jogo. Danny Blind assumiu: "Precisávamos disso, o time e a comissão técnica. Precisamos tentar trazer de volta a vontade". Só ela não basta: é preciso melhorar a fragilidade da defesa e os espaços entre os setores do time holandês. Contudo, é inegável: a vitória em Wembley trouxe as luzes (fracas) no fim do túnel que a Oranje precisa para acreditar numa reação, na nova fase do trabalho.

sexta-feira, 25 de março de 2016

O pior dos dois mundos

O comovente tributo a Cruyff foi a única coisa a se guardar, em mais um dia ruim da Oranje (Rene Bouwman)

Já era um dia doloroso. Afinal de contas, a lembrança de Johan Cruyff, o maior futebolista da história de seu país, falecido nesta quinta, estava presente em cada número 14 que se via na Amsterdam Arena nesta sexta, antes, durante e depois do amistoso da seleção holandesa contra a França - e eram muitos "números 14" presentes, até na manga das camisas laranjas vestidas hoje. Depois da partida, além de doloroso, o dia também ficou desalentador. A derrota da Oranje, por 3 a 2, deixa claro que a equipe tem falhas defensivas (e até ofensivas) gritantes. E há sérias dúvidas sobre a capacidade que os jogadores têm para resolvê-las, a meses do início de uma campanha que deve ser duríssima, nas eliminatórias para a Copa de 2018.

Na defesa, a menção de que os franceses já venciam por 2 a 0 aos 13 minutos do primeiro tempo já basta para descrever o início pavoroso da Laranja no jogo. Mesmo atuando no 5-3-2, supostamente mais seguro, ficou clara a falta de entrosamento entre Jeffrey Bruma, Virgil van Dijk e Daley Blind. Certo, o primeiro gol saiu em bola parada, na falta cobrada com perfeição por Antoine Griezmann já aos dois minutos do primeiro tempo. Mas o segundo dos Bleus não deu desculpas: mesmo num escanteio, com quase todos os jogadores laranjas dentro da área de defesa, não havia posicionamento inteligente o suficiente para evitar que Blaise Matuidi estivesse livre para aproveitar a sobra - muito menos para evitar a finalização acertada de Olivier Giroud, também sozinho na área.

O curioso é que, no meio-campo e no ataque, até havia alguma velocidade a mais, em comparação com as atuações nas eliminatórias da Euro 2016 e nos amistosos anteriores. Mas... era só. No meio, Davy Klaassen e Jordy Clasie falhavam na saída de bola - e Wesley Sneijder vivia um dia apagado, como de costume nos últimos anos de sua carreira. Somente havia algum lampejo de ataque holandês nos avanços de Joël Veltman e Jetro Willems, pelas laterais, e pelo esforço de Quincy Promes, que até justificava os elogios do técnico Danny Blind, chegando até a voltar para buscar a bola e partir com ela dominada, tentando acelerar, criar alguma jogada digna de nota, sair da pasmaceira. 

Mas eram movimentos previsíveis, facilmente marcados pelos franceses, muito melhor entrosados e muito melhor preparados, no caminho para disputarem a Euro que sediarão. Além disso, com a crônica e irritante lentidão dos holandeses na recomposição da defesa sem a bola, era muito mais fácil para os Bleus escaparem da marcação e contra-atacarem com velocidade. Quase sempre, a bola sobrava com Dimitri Payet - que justificava a confiança repetindo na seleção as boas atuações desta temporada pelo West Ham, com chutes perigosos (um deles, logo no primeiro minuto, antes mesmo do gol de Griezmann). Ou sobrava com o próprio Griezmann, o melhor do jogo enquanto esteve em campo, veloz e criativo. Sem contar a opção sempre válida de Blaise Matuidi, melhor até do que o (justamente) badalado Paul Pogba: Matuidi chegava constantemente como alternativa para finalização, quando não criava ele mesmo as jogadas.

Ao final dos 45 primeiros minutos, a sensação de completo desalento era indisfarçável para os holandeses. A ponto de o jornalista Pieter Zwart ter colocado em seu perfil no Twitter três imagens que comprovavam como é alarmante a atuação da defesa da seleção holandesa. Na primeira imagem, uma linha de três marcadores, no meio-campo, deixando um francês livre entre a linha do meio e a defesa. Na segunda, Bruma deixava a linha de marcação da defesa e ia dar o primeiro combate. O que abria espaço para um rápido toque do meio-campista francês, acelerando mais um ataque dos Bleus contra um meio-campo aberto e uma defesa fragilizada, como se pôde notar na terceira foto que Zwart postou. Não só explicava o 2 a 0; aumentava o desânimo, a ponto de se exagerar aqui e ali dizendo que era a pior seleção holandesa de todos os tempos. De quebra, a lesão muscular que tirara Sneijder do jogo ainda no primeiro tempo (e também o tirará do jogo contra a Inglaterra, na próxima terça) aprofundava a apatia.

Pelo menos neste momento, Danny Blind mereceu os elogios. Com a entrada de Memphis Depay (na vaga de Virgil van Dijk, mal de novo) e Ibrahim Afellay (na vaga de Clasie, lento no jogo), o 5-3-2 mudou para o 4-3-3 velho de guerra na Oranje. Até aí, só uma mudança de números - bem lembrou Klaassen após a partida, à FOX Sports holandesa: "Contra o País de Gales [amistoso em novembro passado], o 5-3-2 tinha funcionado". Só que a velocidade aumentou no ataque, e a seleção holandesa criou mais jogadas. Já aos dois minutos, conseguiu o gol, em bola parada - e contando com a sorte do tento não ter sido anulado, já que o braço de Luuk de Jong claramente tocou a bola no desvio para as redes defendidas por Mandanda.

Com a melhora, não só jogadores que já estavam em campo subiram de produção (caso de Willems, Klaassen, Promes e Riechedly Bazoer - substituto de Sneijder), mas também os que entraram ajudaram, casos de Georginio Wijnaldum e Vincent Janssen. Com isso, o empate tardio de Afellay foi até merecido. Só que o lance seguinte ao 2 a 2 foi mais justo ainda: quando Payet se viu com a bola em ataque francês, Veltman foi tentar o desarme, e deixou seu lado livre na área. Payet viu e lançou Matuidi; entrando em profundidade pela área, o meio-campista chutou e fez o gol da vitória justa dos franceses.

Os números negativos se avolumam: foi a quarta derrota da Oranje sob o comando de Danny Blind, a quarta derrota seguida em casa (não acontecia desde 1933!). Mas pior do que novo revés é saber que... é isso que a Holanda tem a apresentar, atualmente. O treinador reconheceu, na coletiva após a partida: "Pode-se aprender com um bom adversário. E eu posso conviver com esta derrota, porque em muitos aspectos de jogo eles estão bem mais avançados do que nós". De fato, não há comparação entre uma seleção francesa cada vez mais afinada para tentar seu terceiro título europeu e uma seleção holandesa que tenta juntar os cacos e fazer a transição de gerações. 

Mas ficou claro: será difícil ver rápida melhora da Holanda, com um time excessivamente espaçado, que une o pior de dois mundos: uma defesa que não se define entre marcar por zona ou por homem, e um ataque que fracassa quando é bem marcado. Um jogo para (quase) esquecer. A não ser pela belíssima homenagem no 14º minuto do primeiro tempo, lembrando Johan Cruyff, o símbolo de tempos melhores na história da seleção holandesa. 

A mudança começou na Oranje. E é bom que continue

Quincy Promes (à frente) pode ser parte da renovação da Oranje, na qual Depay (à direita) será protagonista (Soenar Chamid/VI Images)

Já nas duas últimas rodadas das eliminatórias para a Euro 2016, quando a esperança de vaga era muito escassa, era notável a presença de jogadores novatos na seleção da Holanda. Claro, era fruto da campanha caótica na qualificação, a última aposta. Ela não deu certo, e a Oranje verá o torneio continental pela tevê. Mas as convocações para estes primeiros amistosos de 2016 (contra a França, nesta sexta, em Amsterdã; contra a Inglaterra, na próxima terça, em Londres) mostram: enfim, Danny Blind decidiu dar as chances que os novatos precisavam na equipe nacional. Não que isso importe muito: nesta quinta, a morte de Johan Cruyff fez a Holanda parar e prantear o jogador maior de sua história. Mesmo assim, com os amistosos confirmados, será curioso ver a mudança de gerações no elenco que irá a campo.

Basta dizer que, dos 23 chamados, 12 têm menos de dez partidas com a camisa laranja. Mais do que isso: alguns deles, embora já tendo uma convocação na carreira, não eram chamados havia tempos. O índice de novidades podia até ter sido maior, se a rodada passada dos campeonatos nacionais não houvesse vitimado nada menos que cinco jogadores escolhidos por Blind pai: Daryl Janmaat, Ron Vlaar, Erik Pieters, Davy Pröpper e Jurgen Locadia lesionaram-se, e foram cortados tão logo se apresentaram à comissão técnica no hotel Huis ter Duin, em Noordwijk, clássico local de concentração da Oranje.

Os cortes foram inoportunos para três deles: Vlaar, que coroaria a renascença de sua carreira no AZ com o retorno à seleção; Pröpper, que estava voltando (jogou um amistoso contra os Estados Unidos, ano passado), mas agora sendo merecedor de mais confiança, pelas atuações razoáveis no PSV; e Locadia, que teve azar pela segunda vez seguida. Ele estrearia entre os titulares no amistoso contra a Alemanha, em novembro, mas este foi cancelado por ameaça de atentado terrorista em Hannover; agora, Locadia distendeu os ligamentos do tornozelo, jogando pelo PSV no clássico contra o Ajax, domingo passado.

Ainda assim, são vários os jogadores que poderão ser experimentados – e que, se aprovados, poderão formar uma base para a nova fase do trabalho. Um deles merece destaque: o atacante Vincent Janssen faz um ano admirável pelo AZ. No primeiro turno, fizera seis gols pelo Campeonato Holandês (e um na fase de grupos da Liga Europa). Foi 2016 começar para Janssen despontar: nos onze jogos do returno até agora, 14 gols – na rodada passada, o gol contra o Twente lhe fez passar Luuk de Jong para tornar-se o goleador desta Eredivisie. 

Se já era titular da seleção holandesa sub-21, nada mais merecido que sua primeira convocação para a Oranje adulta. Mas o próprio Janssen sabe que não poderá decepcionar, como reconheceu: “Ser convocado é uma coisa, ficar é outra. E farei de tudo para ficar”. Até porque seu concorrente na disputa da artilharia da liga, Luuk de Jong, também está entre os convocados. E pela maior experiência, certamente está na frente quando Danny Blind pensa numa novidade para marcar os gols. Provavelmente, De Jong será o titular no 5-3-2 com que a seleção deverá ser escalada. A seu lado, uma surpresa: Quincy Promes. O atacante do Spartak Moscou desbancou Memphis Depay e Luciano Narsingh, e até mereceu elogios do técnico pela aplicação: “Ele é um exemplo para os jovens que querem dar passos adiante”. 

Também vale citar Davy Klaassen e Riechedly Bazoer, ambos titulares absolutos do meio-campo no Ajax, símbolos da melhora técnica que levou os Ajacieden a voltarem à primeira colocação do Holandês. Mais: improvisado na lateral direita com a lesão de Kenny Tete, Joël Veltman tem saído a contento nos Ajacieden. Prova disso foi o cruzamento primoroso para o gol de Arkadiusz “Arek” Milik que abriu o caminho para a vitória sobre o PSV. Com a lesão de Janmaat, é possível imaginar Veltman começando os amistosos nessa posição – até porque o reserva convocado para a vaga aberta (o estreante Rick Karsdorp, do Feyenoord) tem claros problemas na marcação.

Na lateral esquerda, sem esquecer da alternativa sempre válida que é Daley Blind, há Jetro Willems. Após uma lesão renitente no joelho, o jogador do PSV parece ter voltado melhor. Não só continua bem no apoio (aliás, está até melhor nos cruzamentos), mas parece ter minorado suas falhas antes crônicas na marcação. Para a zaga, ainda há a convocação de mais um neófito completo em Oranje: Timo Letschert, um dos pilares da ótima campanha do Utrecht na Eredivisie. Sem contar retornos de gente que ainda não foi testada suficientemente, como Virgil van Dijk (precisa reagir após as más atuações nas eliminatórias da Euro) ou Patrick van Aanholt (de volta após dois anos). E no gol, mesmo que Jasper Cillessen esteja absoluto, Jeroen Zoet tem sido elogiado no PSV.

Seja como for, com estreias ou retornos, o fato é que Danny Blind abriu espaço definitivo para a transição entre o pessoal mais novo e os veteranos. E precisava fazer isso (talvez já precisasse até durante as eliminatórias da Euro). Em queda no Fenerbahçe, Robin van Persie ficou novamente de fora da convocação.  Na entrevista coletiva em que anunciou a convocação, o treinador fez questão de ressaltar que pode chamá-lo “no futuro”, mas também reconheceu que o máximo goleador da história da Laranja segue irregular: “Eu sempre assisto aos jogos, e segue difícil. Ele joga, depois não joga. Sai do banco numa partida, é titular noutra, depois sai do banco de novo...”.

Arjen Robben é outro veterano com cuja ausência a Oranje precisará aprender rapidamente a lidar. Não seria assim em situações normais: Robben segue num bom nível técnico, e é, ora bolas, o capitão da equipe. Todavia, mais uma vez, uma lesão (coxa) o tirou de convocações. O que é quase o padrão: levantamento feito pela revista “Voetbal International” revelou que, desde a estreia do ponta-direita pela seleção (2003), ele fez 88 partidas, mas ficou fora de... 79 outras, por lesão ou opção técnica. Com seus 32 anos, cabe pensar que a propensão já alta a problemas físicos pode aumentar. Uma pena, pois Robben é ainda o único craque holandês indubitável da atualidade. Mas pensar numa alternativa para ele é imperioso.

Restam Wesley Sneijder e Klaas-Jan Huntelaar, que estão na relação. E Sneijder, 120 jogos pela Oranje, reconheceu que o momento é de reformulação: “Duas derrotas [nos amistosos] seriam o normal, mas não acho que o importante é o resultado, nesse momento. Mais importante é como poderemos atuar”.A conferir, então, como será a atuação da Oranje, a partir desta sexta, num amistoso contra a França, que deverá ser carregado de homenagens a Cruyff (aos 14 minutos, o jogo será interrompido para outro minuto de silêncio, além do inicial). Vale citar as palavras de Danny Blind para – mais uma – homenagem ao “Nummer 14”: “Ele colocou a Holanda e o Ajax no mapa do futebol mundial. Até hoje colhemos os frutos disso”. A colheita continua.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Cruyff colocou o futebol holandês no mapa

Cruyff para sempre apontou os caminhos do futebol holandês (Sportfotodienst gmbH/VI Images)
Antes de Pelé? Ah, antes de Pelé houvera Friedenreich, Leônidas, Zizinho, Ademir de Menezes. Antes de Maradona? Ah, antes de Maradona houvera Loustau, Pedernera, Di Stéfano. Antes de Beckenbauer? Ah, antes de Beckenbauer houvera Fritz Walter e Helmut Rahn. Antes de Zidane? Ah, antes de Zidane houvera Michel Platini, Raymond Kopa, Just Fontaine. Antes de Roberto Baggio? Ah, antes de Baggio houvera Silvio Piola, Giuseppe Meazza, Giampiero Boniperti, Gigi Riva, Luigi Rivera. Antes de Andrés Iniesta e Xavi? Ah, antes deles houvera Telmo Zarra, Ladislao Kubala, Enrique "Quini" Castro, Emilio Butragueño...

Claro, houve gente da Holanda que tratou bem a bola antes dele. Mas nenhum (ressalte-se: NENHUM) com a capacidade de pensar sobre o jogo, colocar em prática um estilo de jogar futebol que marcasse tanto um país - e que colocasse, por tabela, o próprio país no mapa do futebol mundial -, que criasse raízes tão fundas, até hoje seguidas de um modo ou de outro pelos times e pelas seleções holandesas depois dele. Enfim: nenhum jogador holandês simbolizara tanto o país no resto do mundo. Por isso, é justo dizer: não havia futebol holandês, não havia seleção holandesa antes de Hendrik Johannes Cruyff, falecido nesta quinta aos 68 anos, vestir a camiseta laranja.

Nascido em Amsterdã (cresceu na Akkerstraat, no bairro de Betondorp), Cruyff foi maturando sua habilidade nas peladas pelas ruas de Amsterdã - isso, quando não tinha de trabalhar na quitanda mantida pela mãe, Petronella "Nel" Bernarda Draaijen, e pelo pai, Hermanus "Manus" Cornelis Cruyff. Porém, em 1959, seu pai "Manus" morreu, vitimado por um ataque cardíaco, no que foi um dos maiores traumas de sua vida. A perda também levou-o para um caminho decisivo em sua carreira: já trabalhando voluntariamente no Ajax, não só "Nel" passou a ser remunerada pelo clube, mas também foi trabalhar como empregada doméstica na casa do inglês Vic Buckingham, técnico do Ajax. Enquanto isso, "Jopie" (apelido de infância de Cruyff) já estava na escolinha do Ajax desde 1957. E não demorou a ascender para marcar época. Veloz e técnico ao mesmo tempo. Parecia correr o que não pudera na infância, por um problema de saúde. Ao mesmo tempo, parecia ter o campo todo em sua cabeça.

Tanto é que marcou gol logo em sua estreia pelos profissionais do Ajax, ainda com Vic Buckingham como o treinador – o único do time na derrota por 3 a 1 para o GVAV, em 15 de novembro de 1964, pela 11ª rodada do Campeonato Holandês 1964/65. E justamente em 1965, chegou aquele que seria seu mestre, o sujeito que exigiria demais dele – mas também o trataria como seu pupilo, numa relação de amor e ódio: Rinus Michels. Que faria de Cruyff o  ponto principal, o “primus inter pares”, o craque entre craques, o personagem a ajudá-lo em campo no caminho que levou o Ajax a se transformar num clube lendário no futebol europeu e mundial. O pupilo reconheceu isso quando Michels faleceu, em março de 2005: "Ele me deu muitas broncas, mas me fez ser o que sou".

Também ficou marcada desde cedo a irascibilidade do gênio. Basta mencionar sua primeira partida pela seleção holandesa, em 7 de setembro de 1966, contra a Hungria, num amistoso. Ele já marcou o primeiro de seus 33 gols pela Oranje. Mas também foi o primeiro jogador da história da equipe nacional holandesa a ser expulso de campo. Afetou tanto sua imagem que recebeu uma suspensão de um ano. Seu temperamento pode ser resumido numa frase dita orgulhosamente: "Nunca aceitei uma ordem".

Tão logo voltou, viu-se que não se poderia prescindir daquele jogador único. E único não só dentro de campo. Sua parceria com o sogro Cor Coster (sogro a partir de 1968, após o casamento com Danny) o transformou no primeiro jogador holandês a capitalizar em cima da própria imagem naquele futebol de riqueza crescente. Cada patrocínio, cada camisa que vestia, cada produto que propagandeava: tudo rendia a Johan milhares de florins, a moeda holandesa antes do euro. Vale dizer: Cruyff não era só um símbolo do futebol holandês, era um símbolo da mudança da sociedade holandesa nos anos 1960-70. Basta lembrar da camisa de duas listras que a Adidas fez para ele na Copa de 1974, já que ele se negava a usar a camisa com as três listras que marcam a multinacional de material esportivo - rival da... Puma, que patrocinava... Cruyff.

E tudo isso - seu brilhantismo dentro de campo, seu temperamento fortíssimo, sua capacidade para promover sua imagem – foi visto no início dos anos 1970. No Ajax, como já dito, ele foi o personagem principal daquela equipe que colocou os Ajacieden no mapa, com o tricampeonato da Copa dos Campeões, mais Mundial Interclubes de 1972 (nos outros anos, o Ajax declinou da participação), três títulos holandeses (1969/70, 1971/72 e 1972/73) e três Copas da Holanda (1969/70, 1970/71 e 1971/72). Pessoalmente, foi o goleador da Eredivisie em 1966/67 e em 1971/72. Sem contar seus três prêmios como melhor jogador da Europa, em 1971, 1973 e 1974.

Nesse tempo de Ajax, duas histórias merecem menção. Em 30 de agosto de 1970, Cruyff voltava de uma lesão na virilha, num clássico contra o PSV, pela rodada do Campeonato Holandês. Na reserva, vestia a camisa 14, enquanto a 9 (seu número habitual até então) ficou com Gerrie Mühren. O Ajax venceu por 1 a 0. Na semana seguinte, por "ter achado legal", Cruyff usou novamente a 14. E estva definido o número que usou por toda a carreira, e que até lhe rendeu um de seus apelidos. A outra história: em 1973, o técnico Stefan Kovacs decidiu fazer uma votação para ver quem seria o capitão do Ajax. Cruyff era o titular da braçadeira, mas o atacante Piet Keizer a exigia. Por 13 votos a 3, o elenco decidiu que Keizer seria o novo capitão. Bastou: julgando que o elenco cometera uma quebra de confiança, o "Nummer 14" saiu da sala de votação direto para seu quarto no hotel, ligando para o sogro e empresário Cor Coster. Suas palavras: "Ligue imediatamente para o Barcelona. Estou saindo". E assim Cruyff tomou o caminho de Les Corts, onde também fez história definitiva.

Na Oranje, participou das eliminatórias para as Copas de 1970 e 1974. Mas, acima de tudo, teve fundamental papel na decisão de trazer Rinus Michels para o comando da seleção, no início de 1974. E, óbvio, foi o principal interlocutor e principal peça da equipe que assombrou o mundo na Copa daquele ano. De fato, Cruyff merecia cada um dos apelidos que ganhou a partir dali: “Nummer 14” (Número 14), “Pitágoras de chuteiras”, “O salvador” (dado pela torcida do Barcelona, após o título espanhol de 1973/74, encerrando 14 anos de jejum). Enfim, o personagem principal do Totaalvoetbal.

Depois da Copa de 1974, é justo dizer que Cruyff estaria para sempre na história do futebol mundial. Tanto é que seu nome só ganhou o “y” então, para facilitar a leitura do resto do mundo, distanciando-o da grafia holandesa “Cruijff”. Porém, a partir dali seu nome perdeu um pouco de força. Na seleção, uma participação turbulenta na Euro 1976, e a recusa em participar da Copa de 1978. Até hoje, vários motivos são ventilados: a ameaça de sequestro da família, recusa em viajar à Argentina então sob ditadura militar, eventual ordem da mulher após suposta noite passada com prostitutas às vésperas da final de 1974... enfim, o fato é que Cruyff parou com a Laranja após 48 jogos e 33 gols.

Pior: também sua produtividade pelos clubes caiu. A ponto dele declarar o fim da carreira já em 1978, um dos seus mais melancólicos anos. Na partida de “despedida”, o Ajax encarou o Bayern Munique... e perdeu por 8 a 0, a mais dura derrota da carreira de Cruyff. Mais: carreira encerrada, ele tentou viver dos negócios em Barcelona com o amigo Michel Basilevitch, na criação de porcos e na exportação de vinho, cimento e imóveis. Fracasso, prejuízo e fuga de Basilevitch, deixando Cruyff com seis milhões de florins em débitos variados.

Restou tirar as chuteiras do armário e aceitar ofertas variadas para pagar as dívidas. Na lucrativa NASL, a liga norte-americana da época, passagens pelo Los Angeles Aztecs e pelo Washington Diplomats; um jogo único pelo Milan; um semestre rapidíssimo no Levante-ESP... mas sua carreira só voltou aos eixos após o retorno ao Ajax, em 1981. Inicialmente, nem era para jogar, mas para auxiliar o treinador Leo Beenhakker. Qual nada: Cruyff voltou aos gramados e foi personagem fundamental nos títulos holandeses de 1981/82 e 1982/83. Daí, o Ajax acreditou que ele estava “velho”, e não renovou seu contrato. Bastou para a vingança maligna: Cruyff aceitou a proposta do arquirrival Feyenoord, onde conquistou a Eredivisie e a Copa da Holanda na temporada 1983/84. 

Carreira encerrada no campo, Cruyff começou no banco de reservas. Treinando o Ajax entre 1985 e 1988, não só levou os Amsterdammers ao título da Recopa europeia, em 1987/88, mas também revelou vários jogadores: os De Boer, Dennis Bergkamp, Sonny Silooy... sem contar gente com quem havia jogado e que ganhou espaço com ele no banco, como Marco van Basten e Frank Rijkaard. Como não poderia deixar de ser, um desentendimento com a diretoria do Ajax o tirou do clube, em 1988, levando-o ao Barcelona – sua outra casa, o outro clube em que fez história. 

Também por sua personalidade irascível é que a federação holandesa nunca o chamou seriamente para treinar a Oranje, coisa que muito se esperou até hoje. E por ela, também, sua relação com o Ajax sempre foi turbulenta – basta citar o projeto natimorto de trabalho com Van Basten quando este assumiu o clube, em 2008, ou a “Revolução de veludo" rachada nesta temporada.

Ainda assim, se a importância de Cruyff no Barcelona é gigante, no futebol holandês ela é ainda maior, definitiva. Basta saber que até livros foram editados com suas frases. “Toda desvantagem tem sua vantagem”; “Os italianos não podem lhe vencer, mas você pode perder para eles”; “Antes de cometer um erro, eu não cometo um erro”... viraram marcas das “Cruijfiaans”, suas tiradas misteriosas e até curiosas.

Mas hoje, neste dia em que a Holanda para, pela perda de um de seus símbolos mundiais (Cruyff foi eleito o sexto holandês mais importante da história do país, numa pesquisa de 2004 - à frente de Anne Frank, Rembrandt e Vincent van Gogh), basta lembrar duas frases para dimensionar sua importância. A primeira: “Jogar futebol é muito simples, mas jogar o futebol de modo simples é a coisa mais difícil que há”. E a segunda: “Em qualquer sentido, eu provavelmente sou imortal”. De fato: em cada Cruyff Court (quadras destinadas a crianças carentes para a prática do futebol), em cada aluno da Cruyff University (faculdade destinada à formação de dirigentes esportivos), em cada mudança tática vista atualmente, em cada elogio de gente como Josep Guardiola, não há como não reconhecer: Verdade, Johan, verdade. De fato, você é imortal.

terça-feira, 22 de março de 2016

Grandes jogadores holandeses de que você nunca ouviu falar: Sjaak Swart

Swart homenageado em seu jogo de despedida: não dá para imaginá-lo sem a camisa do Ajax (ANP Archief)
Em 2012, como o leitor deve se lembrar, o Ajax fez sua intertemporada na cidade de São Paulo: treinou por uma semana na capital paulista, antes de um amistoso em 14 de janeiro, no Pacaembu, contra o Palmeiras - Pedro Carmona fez, nos acréscimos do segundo tempo (47 minutos), o gol palestrino, único do jogo. E naquela semana, enquanto os Ajacieden se preparavam, o Palmeiras celebrava o fim da carreira daquele que é um de seus jogadores mais marcantes: Marcos, festejado e cantado em prosa e verso pelos adeptos alviverdes. A ponto de Palmeiras x Ajax ter sido precedido por uma procissão em honra ao ex-goleiro palmeirense. E na nota sobre o amistoso, o site do Ajax comentou: "A lenda do clube, Marcos, colocou a cabeça para fora da tribuna de honra, no alto do estádio, pouco antes do jogo. E o ex-goleiro de 38 anos foi ovacionado pelos torcedores".

Todavia, é a frase seguinte do texto sobre o jogo que faz relação com o jogador descrito neste texto: "Por 19 temporadas, o 'Sjaak Swart' do Palmeiras defendeu as cores do clube de São Paulo". Pois é: assim como Marcos notabilizou-se pelo tempo e pela dedicação com que defendeu o gol palmeirense em toda a sua carreira, virando figura quase mitológica para os torcedores, o Ajax também teve um jogador até hoje visto como "símbolo" do clube. Um jogador cuja imagem é indissociável dos Amsterdammers. Que, obviamente, é alvo de reverência e afeto quase inesgotáveis da torcida Ajacied. E que virou sinônimo de fidelidade tão grande que é a medida pela qual Marcos foi descrito para os holandeses que porventura leram o texto. Esse jogador é Sjaak Swart - ou melhor, Jesaia Swart, como ele foi batizado ao nascer, em 3 de julho de 1938, em Muiderberg.

Se não fez fama mundial, "Paco" (apelido de Swart) pode ser descrito, sem dúvidas, como um elemento de ligação entre o clube regional que os Ajacieden eram, e a potência mundial que a equipe se tornou, no início dos anos 1970. No entanto, este momento de apogeu parecia distante quando Swart estreou pelo Ajax, aos 18 anos, em 16 de setembro de 1956, na partida contra o Stormvogels (um dos clubes fundidos na união que gerou o atual Telstar), pela segunda fase da Copa da Holanda, na temporada 1956/57, a primeira do futebol holandês sob o profissionalismo. E o Ajax acabou conquistando o campeonato nacional, naquele ano. Mas Swart, ainda iniciante, participou de poucos jogos na campanha do título: cinco.

A conquista da primeira Eredivisie da era profissional do futebol holandês rendeu ao Ajax a participação na Copa dos Campeões 1957/58. Logo, rendeu a Swart as duas primeiras partidas por competições europeias: aos 19 anos, já foi titular nos dois jogos contra o SC Wismut, da Áustria, em novembro de 1957. Mas o importante daquela temporada veio novamente num Campeonato Holandês. Sjaak marcou o primeiro gol de sua carreira: em 6 de outubro de 1957, pela sétima rodada do campeonato, na vitória fora de casa sobre o NOAD (mais um clube participante de fusão: junto do ADVENDO, gerou o NAC Breda).

Porém, tal gol iniciou também um incômodo e curioso tabu: desde sua estreia profissional, Swart só marcou em jogos fora de casa. A sequência só foi quebrada na temporada 1958/59: em 1º de janeiro de 1959, na primeira fase da Copa da Holanda, o atacante marcou um dos gols na goleada sobre o JOS (8 a 3). Era o início da fase em que Swart despontou, aos 21 anos: em 1959/60, o Ajax novamente conquistou o título holandês, e o atacante teve claro salto de desempenho, marcando 18 gols em 29 jogos. Um desses gols, por sinal, foi marcante: na goleada por 9 a 0 sobre o Volendam, em 18 de abril de 1960, pela 30ª rodada do campeonato, "Paco" marcou o 100º gol do Ajax no torneio, na primeira vez em que um clube holandês passou da centena de gols numa competição.

A evolução lhe rendeu, então, a primeira chance na seleção holandesa: em 26 de junho de 1960, Swart jogou 56 minutos no amistoso contra o México, em que a Oranje caiu derrotada por 3 a 1, na Cidade do México. E aos poucos, a história daquele (ainda) jovem foi se consolidando no Ajax. Na temporada 1960/61, mais uma Copa dos Campeões: e Swart marcou o primeiro gol em campeonatos continentais, na derrota por 4 a 3 sobre o Frederikstad-DIN, em 31 de agosto. De quebra, pouco antes, Swart marcara o primeiro gol com a camisa da seleção: em outro 4 a 3, mas desta vez com vitória (da Oranje sobre o Suriname), em 3 de julho, o atacante marcou um dos gols.

E ao longo da década de 1960, a história de Swart foi se consolidando dentro do Ajax. Na temporada 1961/62, veio a primeira conquista europeia do clube, a Copa Intertoto. Pela seleção holandesa, ainda no segundo escalão do futebol europeu, Sjaak viveu momentos difíceis: participou das eliminatórias da Euro 1964 - ainda disputada em formato de quadrangular. E na qualificação, a Oranje foi derrotada por Luxemburgo, numa melhor de três (o jogador participou apenas do jogo de volta, empatado em 1 a 1, como na ida - os luxemburgueses fizeram 2 a 1 no jogo de desempate).

Tendo passado pelo difícil momento com a seleção, em que já era titular, Swart teve enfim a compensação em sua carreira através das profundas mudanças por que o Ajax passou no meio da década. Em 1965, Rinus Michels tornou-se técnico dos alvirrubros - onde já surgira um certo Johan Cruyff, no ano anterior. E os dois seriam os líderes da transformação mencionada no início deste texto, em que o Ajax deixou de ser regional. O que não quer dizer que Swart viu tudo isso como coadjuvante. Inclusive, o atacante foi titular na estreia de Cruyff pela seleção holandesa (jogo pelas eliminatórias da Euro 1968, contra a Hungria, empatado em 2 a 2, em 7 de setembro de 1966).

E a temporada 1966/67 já indicou as mudanças: não só o Ajax foi novamente campeão holandês com aquela geração que aparecia (Cruyff e o lateral direito Wim Suurbier já eram titulares), mas também teve sua primeira aparição assombrosa na Europa, ao eliminar o Liverpool nas oitavas de final da Copa dos Campeões, aplicando 5 a 1 nos Reds, em Amsterdã, no jogo de ida (a volta ficou no 2 a 2). Já a caminho dos 30 anos, Swart era um dos raros experientes do elenco que escapariam da reformulação que Rinus Michels fazia sem dó nem piedade.

Assim, mesmo perdendo espaço na seleção holandesa (apenas três jogos em 1968, mais um em 1970, e nunca mais foi convocado para a Oranje), o atacante seguiu como titular absoluto no Ajax. Em 1967/68, mais um título holandês. Ou seja, na temporada seguinte houve mais uma participação na Copa dos Campeões. Que rendeu a primeira final continental dos Ajacieden, naquela competição. Só que a decisão contra o Milan provou que ainda faltava algo à equipe de De Meer: 4 a 1 para os Rossoneri. Ali houve o ponto culminante da escalada do Ajax. Rinus Michels descartou vários jogadores do elenco (o zagueiro Theo van Duivenbode e o atacante Klaas Nuninga, titulares até então, foram dois dos jogadores barrados por Michels), em favor da garotada que surgia, com Ruud Krol e Barry Hulshoff já na zaga. Paralelamente, alguns veteranos eram contratados, como o zagueiro sérvio Velibor Vasovic. Ou então, eram mantidos.

Caso de... Swart. Que soube se encaixar naquele novo esquema tático que nascia, e teve a felicidade de participar, ativamente, da era do "Gloria Ajax". Nos últimos quatro anos de carreira, "Paco" ganhou títulos que nem sonhava ganhar quando começou a atuar. Em 1969/70, veio a dobradinha doméstica (campeonato e copa holandeses). E em 1970/71, o time de Amsterdã se apresentou à Europa em grande estilo, com o primeiro dos três títulos consecutivos na Copa dos Campeões. Em 1971/72 e 1972/73, mais dois títulos da Eredivisie; junto ao título de 1969/70, 1970/71 e 1971/72 renderam o tricampeonato da Copa da Holanda; em 1972, houve ainda a conquista do Mundial Interclubes; e a Supercopa da Europa foi conquistada em 1971/72 e 1972/73.

Em quase todas essas campanhas, Swart atuou como titular, ainda no ataque, sendo valioso coadjuvante para Johan Cruyff e Piet Keizer. Só foi desacelerar o ritmo em 1972/73: atuou mais na Eredivisie (26 jogos, 9 gols) do que pela Copa dos Campeões (3 jogos, 1 gol - este marcado na estreia do Ajax, vitória por 3 a 1 sobre o CSKA Sofia-BUL, nas oitavas de final). Ainda assim, encerrar sua carreira no dia 20 de maio de 1973, na última rodada do Campeonato Holandês que o Ajax já conquistara, foi um fecho merecidamente vitorioso para aquele que já carregava (e carrega desde então) o apelido de "Mister Ajax".

Decididamente, não é à toa: por 17 anos, entre 1956 e 1973, foram 603 jogos oficiais pelo Ajax - o jogador com mais partidas pelos Amsterdammers, quase cem partidas acima do segundo (Wim Suurbier, com 509). De quebra, foram 175 gols pela Eredivisie - número que o torna o terceiro maior goleador Ajacied pelo campeonato nacional, só abaixo de Johan Cruyff e Piet van Reenen. Após parar de jogar profissionalmente, Sjaak fez alguns negócios pessoais, como uma tabacaria, e até hoje atua como auxiliar do ex-jogador Sören Lerby no agenciamento de carreiras de jogadores.

Mas é óbvio: sua face mais visível ainda está ligada ao Ajax. Eleito conselheiro de honra do clube em 2010, Swart ainda assiste a todos os jogos na Amsterdam Arena. De quebra, aos 78 anos, ainda faz algumas partidas recreativas, como titular absoluto do Lucky Ajax, o time de masters do clube. Dá para cravar: Sjaak Swart é um marco na história do Ajax. Um Marcos do Ajax, que tal?

Sjaak Swart
Nascimento: 3 de julho de 1938, em Muiderberg, Holanda
Carreira: Ajax (1956 a 1973)
Seleção: 31 jogos, 10 gols

domingo, 20 de março de 2016

810 minuten: como foi a 28ª rodada da Eredivisie

El Ghazi deu o tiro de misericórdia no PSV: Ajax jogou com maturidade e voltou à liderança (Maurice van Steen/VI Images)
Utrecht 2x1 Excelsior (sexta-feira, 18 de março)

Por melhor que o Utrecht esteja na atual temporada - e está: afinal, é o quinto colocado -, o Excelsior surpreendeu no início do jogo que abriu a 28ª rodada do Campeonato Holandês. Foi um típico "início-relâmpago": os Kralingers foram melhores, criando mais jogadas, e mereceram o gol que abriu o placar. Ele veio logo aos cinco minutos: após rebote da defesa, o meio-campista Rick Kruys arriscou um voleio. Deu alguma sorte: a bola desviou nas costas do lateral esquerdo Christian Kum, tirando as chances de defesa do goleiro Robbin Ruiter. Ia tudo bem para os Rotterdammers (16º lugar na tabela), até os 33 minutos da etapa inicial, quando o zagueiro Jürgen Mattheij colocou a mão na bola, dentro da área. O juiz Edwin van de Graaf não titubeou: marcou o pênalti.

E mesmo com a ausência do outro goleador dos Utregs (com dores no joelho, Ruud Boymans não foi relacionado para o jogo), Sébastien Haller novamente assumiu a responsabilidade. E fez o que é comum dele nesta temporada: efetuou a cobrança, empatando o jogo com seu 15º gol no campeonato. Não demorou muito, e "Seb" reapareceu na área, antes ainda que o primeiro tempo acabasse. Aos 45 minutos, após cruzamento, o goleiro do Excelsior, Tom Muyters, socou a bola para cima, tentando afastá-la. Ela subiu, e o atacante francês foi chegando. Na disputa aérea enquanto a bola caía, os braços de Muyters não subiram o bastante para evitar o cabeceio de Haller: 2 a 1, seu 16º gol na temporada. E após um começo preocupante, o Utrecht conseguiu mais uma vitória para sacramentar sua boa fase - e a importância de "Séb" Haller.

Diante de um Heerenveen decepcionante, o Heracles voltou a vencer fora de casa (ANP/Pro Shots)

Heerenveen 0x1 Heracles Almelo (sábado, 19 de março)

Se havia acabado com a sequência de quatro derrotas na rodada passada, ao vencer o Cambuur, o Heracles ainda tinha o que fazer no jogo disputado em Heerenveen: desde a 10ª rodada da Eredivisie, os Almelöers não conseguiam uma vitória fora de casa. Pior: desde a derrota para o Utrecht (4x2, na 15ª rodada), ainda em 2015, nem marcavam gol fora de casa (quem marcara fora Oussama Tannane, que nem no Heracles está mais). Pois bem, os Heraclieden cumpriram a tarefa, e conseguiram vencer o Heerenveen na casa dos frísios.

Desde o começo, o time de Almelo foi superior em campo. E fez seu gol aos 33 minutos do primeiro tempo: Iliass Bel Hassani deu passe em profundidade que deixou Jaroslav Navrátil na cara do gol, e o atacante tcheco não bobeou, tocando na saída do goleiro Erwin Mulder para fazer 1 a 0. Surpreendente na rodada passada, ao empatar com o PSV, o Heerenveen decepcionou: só foi criar uma jogada de perigo no segundo tempo, aos 30 minutos, quando Mitchell te Vrede cabeceou perto do gol de Bram Castro. E num jogo de poucas emoções, o Heracles Almelo pôde comemorar um triunfo que o reaproximou do Utrecht na tabela, mantendo-o na zona dos play-offs por Liga Europa.

Um gol de Michiel Kramer abriu os caminhos para o Feyenoord escapar do tropeço (ANP/Pro Shots)
Feyenoord 3x1 De Graafschap (sábado, 19 de março)

Sem o capitão Dirk Kuyt, suspenso por cartões amarelos, o Feyenoord teve de remontar seu esquema ofensivo para o jogo contra o penúltimo colocado do campeonato. Simon Gustafson voltou aos titulares, tendo a função de armar o jogo, enquanto Jens Toornstra seguiu pela ponta-direita. Ainda assim, estar sem o grande destaque da equipe, a referência, foi altamente prejudicial ao Stadionclub. A equipe da casa criou pouquíssimo, mesmo tendo mais posse de bola. Sorte do De Graafschap: aos poucos, os visitantes foram se animando nos contragolpes, e chegando vez por outra ao gol adversário. A primeira oportunidade foi um aviso: aos 14 minutos do primeiro tempo, Karim Tarfi bateu de fora da área para boa defesa de Kenneth Vermeer.

E aos 26 minutos, os Superboeren conseguiram o gol que mereciam. Após sobra de escanteio, o lateral direito Bart Straalman passou a Robin Pröpper. Pela esquerda, o zagueiro driblou Rick Karsdorp, e passou a Vincent Vermeij. O atacante o devolveu, já na grande área, e o irmão de Davy tocou por baixo de Vermeer, que ainda tentou desviar, mas não evitou o 0 a 1 em pleno De Kuip. Só aí os Feyenoorders foram ao ataque seriamente. Primeiro, aos 35 minutos: Tonny Trindade de Vilhena chutou de fora da área, exigindo boa defesa do goleiro Hidde Jurjus. Aos 39, Jurjus apareceu melhor ainda: espalmou uma bola à queima-roupa, vinda de cabeceio de Toornstra. No escanteio subsequente, outra defesa incrível: Michiel Kramer desviou na primeira trave, e o goleiro rebateu rigorosamente em cima da linha (como mostrou a "tecnologia no-goal" usada pela tevê holandesa, a bola só não entrou por alguns milímetros).

No segundo tempo, o Feyenoord aprendeu com seus erros. Gustafson, ineficaz na armação, deu lugar a Bilal Basaçikoglu, que foi para a ponta-direita, com Toornstra voltando ao meio-campo. Deu certo: enfim, as criações ofensivas do time da casa se aceleraram, e o empate não demorou. Aos nove minutos, Miquel Nelom cruzou da esquerda, e Kramer se antecipou à marcação para desviar na primeira trave. Jurjus falhou ao sair antes do gol, abrindo o seu canto, e o 1 a 1 foi inevitável. A partir do empate, o jogo mudou: já aos 11 minutos, Basaçikoglu saiu da direita e cruzou, para cabeceio de Kramer que Jurjus defendeu bem. E o Feyenoord, mais ofensivo, foi prensando o De Graafschap em sua defesa, impedindo que os visitantes contra-atacassem e forçando-os a terem cinco defensores na área. Até que, aos 31 minutos, enfim veio a virada merecida e previsível: Basaçikoglu (mudou o jogo, sem dúvida) cruzou da direita, justamente quando o goleiro saía para evitar, e Eljero Elia completou de cabeça para o 2 a 1. Só para definir, aos 37 minutos, em escanteio, Kramer desviou de cabeça, Jurjus tentou rebater fraco, mas a bola bateu no zagueiro Thijs Bouma (dividindo com Eric Botteghin), indo vagarosamente para as redes e confirmando o 3 a 1 - a arbitragem julgou gol contra de Bouma. Foi mais difícil e demorado do que se pensava, mas o Feyenoord conseguiu, afinal, a sua quarta vitória seguida no campeonato.

Zwolle 4x1 Willem II (sábado, 19 de março)

Desde que o jogo principiou no estádio Ijsseldelta, os anfitriões foram francamente superiores. Ainda assim, demorou um pouco para que traduzissem isso em chances e gols. Mas na primeira oportunidade que tiveram, veio o 1 a 0 dos "Dedos Azuis", aos 17 minutos: Dirk Marcellis arriscou chute (de perna esquerda, mesmo sendo destro), e a bola foi para as redes. Aos 22, o meia-direita Queensy Menig ampliou para os Zwollenaren, e a vitória parecia garantida. Parecia: aos 36, Rochdi Achenteh cobrou escanteio da esquerda, e Erik Falkenburg cabeceou para marcar o gol do Willem II. Os Tilburgers se animaram em busca do empate, e o primeiro tempo terminou com certa tensão para o time da casa.

Lars Veldwijk tratou de minorar definitivamente essa tensão: aos 15 minutos, o atacante completou cruzamento de Wouter Marinus para fazer 3 a 1. Depois, os anfitriões tiveram até mais chances de ampliar a goleada, diante de um adversário entregue e apático. Primeiro, aos 36 minutos, Stef Nijland arriscou o chute de fora; depois, aos 41, Veldwijk quase marcou seu segundo no jogo. Mas o goleiro Kostas Lamprou fez bela defesa em ambas as ocasiões. Finalmente. já nos estertores da partida (48 minutos), Nijland bateu quase sem ângulo, no canto oposto de Lamprou, para enfim confirmar a merecida goleada do Zwolle, que segue perto da zona de play-offs por vaga na Liga Europa. Ao Willem II, resta a temível permanência na 15ª posição, uma acima da zona de repescagem/rebaixamento.

Cambuur 0x1 Roda JC (sábado, 19 de março)

Com o De Graafschap derrotado, o Cambuur tinha uma chance valiosa para deixar os Superboeren na última posição da Eredivisie, uma rodada antes do jogo direto entre ambos. Porém, também era lícito supor que o time de Leeuwarden não teria muitas condições técnicas para fazer isso, mesmo atuando em casa. Afinal de contas, o Roda JC melhorou visivelmente na parte ofensiva, após as contratações feitas no meio da temporada. Ainda assim, o primeiro tempo no Cambuur Stadion foi decepcionante. Os visitantes de Kerkrade não criaram nenhuma chance; os mandantes, só no minuto final, quando o irlandês Jack Byrne arriscou chute, para a defesa do goleiro Benjamin van Leer.

Na etapa final, o Roda preferiu não esperar muito para buscar a vantagem. Aos três minutos, Georgi Zhukov cruzou de longe, e Tom van Hyfte (justo ele, um remanescente do turno) fez o 1 a 0, de cabeça. No resto da partida, então, o Cambuur teve obviamente de atacar. O técnico Marcel Keizer colocou na equipe os atacantes Furdjel Narsingh, Xander Houtkoop (estes, aos 14 minutos) e Kevin van Veen. Até surgiram mais chances - a mais perigosa, aos 34, quando Van Veen mandou a bola na trave, logo após entrar em campo. Só que o Cambuur também deixou espaço para os contragolpes do Roda JC, que quase marcou duas vezes, com Rydell Poepon. Segurando a pressão, os Koempels conseguiram a importante vitória fora de casa, que os mantêm a uma distância segura (ainda...) da zona de repescagem/rebaixamento. Ao Cambuur, restou suportar as vaias justas da torcida. Serão duas semanas tensas até o jogo contra o De Graafschap.

O conto de fadas de Stefan Thesker só tornou o empate entre AZ e Twente mais empolgante (Anja Veurink/fc-twente.nl)
Twente 2x2 AZ (domingo, 20 de março)

Na montanha-russa de emoções e desempenhos que o Twente vive nesta temporada, era de se esperar superioridade do AZ, mesmo no Grolsch Veste. Afinal de contas, os Alkmaarders seguiam firmes: 10 vitórias em 11 jogos pelo Campeonato Holandês no ano, pontuação igual à do Feyenoord (3º colocado)... no entanto, a vontade dos Tukkers, somada ao talento conhecido dos meio-campistas e atacantes, resultou num primeiro tempo superior dos mandantes. Aos 11 minutos, veio a primeira chance: Felipe Gutiérrez recebeu de Zakaria El Azzouzi e bateu na trave. Depois, aos 24. El Azzouzi dominou a bola na área e tocou na saída do goleiro Sergio Rochet, mas Ron Vlaar tirou a bola em cima da linha. Pressionado na saída de bola, o AZ precisava reagir e acelerar seu jogo ofensivo. Deu certo ainda na etapa inicial: aos 39, Levi Garcia driblou o lateral Hidde ter Avest pela esquerda e chutou no travessão.

No segundo tempo, não demorou muito, e a maior qualidade técnica do AZ rendeu o primeiro gol, aos sete minutos: após tabelar com Ben Rienstra, Joris van Overeem passou a Vincent Janssen, na área. Resultado? O de sempre no momento atual do atacante: gol. Chute cruzado, no canto direito do arqueiro Nick Marsman, para balançar as redes pela 20ª vez no campeonato, isolando-se como goleador e confirmando o merecimento da convocação para a seleção holandesa. Minutos depois, a coisa pareceu ainda melhor para os Alkmaarders: aos 15, após briga com Ridgeciano Haps antes de um escanteio, El Azzouzi deu com a mão na cara do lateral esquerdo. Nem foi tão forte assim, é preciso dizer. Mas o juiz Pol van Boekel viu e deu o cartão vermelho, direto, ao atacante do Twente.

Jogo perdido? Nada disso. Para começo de conversa, Stijn Wuytens também foi expulso (segundo amarelo), aos 20 minutos, e o AZ também ficou com 10 em campo. Pouco depois, aos 24, começava a história mais comovente da rodada, tendo como protagonista Stefan Thesker. Recuperado de uma cirurgia para remoção de um tumor, há algumas semanas, o zagueiro alemão (vindo em janeiro, junto ao Greuther Furth, por empréstimo até o fim da temporada) pôde ser novamente relacionado e entrou em campo para recompor a defesa, no lugar do lateral Robbert Schilder. E aos 30, Thesker buscou o melhor presente para sua recuperação e reestreia: Ziyech cobrou falta da direita, e o zagueiro alemão cabeceou para as redes, empatando o jogo.

Só que a partida em Enschede continuava acelerada, sem pausa e com muita emoção. E o AZ frustrou a animação da torcida: aos 34 minutos, Thom Haye (volante recuado para a zaga após a expulsão de Wuytens) recebeu de Garcia e chutou de fora da área, no ângulo direito de Marsman, fazendo 2 a 1. Nem assim as duas equipes desistiram do ataque. O AZ teve a entrada de Dabney dos Santos (e do volante paraguaio Celso Ortiz, para recompor a marcação); o Twente viu o polonês Oskar Zawada substituir Chinedu Ede. E os donos da casa seguiram em busca do empate. Aos 44, Ziyech quase fez mais um golaço na temporada: arriscou de longe, ao ver Rochet adiantado, e mandou no travessão. Mas quem merecia brilhar era Thesker: nos acréscimos, aos 49, Cabral cruzou da esquerda, e o zagueiro cabeceou de novo para empatar. Mesmo que o resultado em si não tenha servido muito para ninguém, as circunstâncias serviram para tornar o empate muito agradável. Ainda mais pela vitória pessoal de Stefan Thesker, cujas palavras após o jogo à televisão foram mais do que compreensíveis: "Não quero mais falar do meu tumor, só quero falar das coisas boas". Merece.

ADO Den Haag 1x0 NEC (domingo, 20 de março)

Aos 12 minutos do primeiro tempo, um chute de Anthony Limbombe, após uma jogada individual, e a bola foi na rede pelo lado de fora. Durante a maior parte do jogo em Haia, foi esta a única oportunidade de gol que aconteceu, para ambos os times. Por aí, já se tem uma ideia de como a partida no estádio Kyocera foi desanimada e pouco empolgante. O único fato de destaque foram as faixas da torcida do Den Haag, contra o proprietário do clube, o chinês Hui Wang (enfim, presente na Holanda, para conversas com a diretoria do clube).

Mesmo com a entrada de Ludcinio Marengo, no segundo tempo, fazendo o ataque voltar a ter três jogadores, o time da casa não criava muita coisa que valesse. Isso só aconteceu a partir dos 30 minutos da etapa final - e ainda assim, mais no abafa do que na qualidade técnica. Pelo menos, deu resultado: aos 44 minutos, Dennis van der Heijden cruzou da esquerda, Todd Kane falhou no corte, e Dion Malone mandou para as redes, dando a segunda vitória seguida aos Hagenaren e mantendo o time seguro no meio da tabela. Ainda assim, o técnico Henk Fräser foi realista após o jogo: "Foi um jogo horrível, na minha opinião. Mas é uma certa qualidade vencer jogos de modo feio".

Vitesse 3x0 Groningen (domingo, 20 de março)

Mesmo que as duas equipes tivessem sido derrotadas na rodada passada, a pressão inegavelmente era maior sobre o Groningen. Afinal, o time do norte holandês já vinha de cinco derrotas consecutivas. Sendo assim, os visitantes pressionaram mais durante o primeiro tempo. As chances mais perigosas vieram com chutes de Lorenzo Burnet (completando cruzamento de Juninho Bacuna) e Michael de Leeuw (toque tirado em cima da linha por Kevin Diks).

No segundo tempo, o Vitesse usou suas cartas na manga. Valeri Qazaishvili (voltando de suspensão) e Dominic Solanke (voltando de lesão) entraram aos 20 minutos, e definiram o jogo na parte final. Aos 28 minutos, Solanke fez 1 a 0, aproveitando falha do lateral esquerdo Abel Tamata após passe de Qazaishvili. Aos 33, o próprio "Vako" fez o segundo, em chute forte. E aos 40, em toque suave por cobertura, Solanke definiu a vitória que manteve o Vites na sétima posição, dentro dos play-offs por vaga na Liga Europa. O que significa que o Groningen teve a sua sexta derrota seguida, igualando recorde negativo de 1974. Não é à toa que a torcida dos Groningers protestou por todo o jogo.... 

PSV 0x2 Ajax (domingo, 20 de março)

Depois da eliminação tão honrosa quanto dramática para o Atlético de Madrid, na Liga dos Campeões, o líder PSV procurava se recompor no clássico decisivo contra o vice-líder Ajax. Mesmo que o cansaço fosse grande, mesmo que o time da estação Bijlmer Arena esteja sendo mais irregular durante a temporada, não dava para bobear: afinal, só um ponto separava ambos na tabela. E, ora bolas, o jogo seria em Eindhoven, onde o PSV normalmente se impõe. Todo esse cenário promissor caiu por terra após meros 72 segundos. Pois é: com 1min12 no cronômetro, o Ajax estava na frente do placar. Contragolpe preciso: Joël Veltman cruzou da direita, na cabeça de Arkadiusz "Arek" Milik, e o polonês cabeceou por cima de Jeroen Zoet, marcando pela quinta rodada seguida e chegando aos 16 gols na temporada. Começo melhor para os Ajacieden (e mais impactante para os Boeren), impossível. Até porque os visitantes puderam impor o estilo que desejavam.

Sim: o Ajax fez o PSV provar do próprio veneno, em sua própria casa. Tão logo fez o gol, deixou a posse de bola predominantemente com os Eindhovenaren. E estes começaram a tentar criar jogadas. Aí veio a falha: quase sempre, essas jogadas consistiam em lançar a bola para a frente, esperando que Luuk de Jong fizesse o pivô para os pontas (Luciano Narsingh ou Jurgen Locadia), ou que o próprio De Jong arrematasse. Assim surgiu a primeira chance dos mandantes no Philips Stadion, aos 14 minutos: Santiago Arias lançou, De Jong dominou na área e chutou cruzado. Cillessen rebateu, e Locadia mandou a sobra para fora. A pressão seguia pelos lados: tanto que, numa jogada aos 25, Andrés Guardado chegou pela direita, foi marcado e calçado por Riechedly Bazoer. Até agora discute-se a existência de pênalti (este blogueiro acha que o toque de Bazoer em Guardado foi leve demais para forçar a queda do mexicano).

Depois, aos 28, Pröpper lançou Narsingh. Este cruzou para o meio da área, mas Locadia escorou para fora. Aos 30, o mesmo Locadia aproveitou sobra de córner e passou a De Jong, que cruzou; Héctor Moreno bateu de primeira, mandando a bola por cima do gol. Insistindo tanto, o PSV começou a deixar espaços na defesa. E o Ajax quase aproveitou uma vez: aos 43, Milik recebeu bola lançada da esquerda, de Amin Younes, e chutou exigindo boa defesa de Zoet. Já nos acréscimos, aos 47, Nemanja Gudelj cobrou falta, Moreno rebateu torto, e o atacante polonês chutou por cima do gol. E o primeiro tempo mostrou o tamanho da pressão do PSV: eram 68% de posse de bola (o menor índice do quesito para o Ajax na temporada). O jogador dos Godenzonen que mais vezes tocara na bola fora... o goleiro (Jasper Cillessen dera 34 toques). Ainda assim, quem estava na frente era o Ajax.

Mais confiante, o Ajax até começou contra-atacando no segundo tempo. Aos quatro minutos, Bazoer chutou cruzado da esquerda, mas Zoet defendeu. Depois, aos sete, Gudelj quase marcou belo gol: aplicou drible seco em Guardado e entrou na área, mas seu chute colocado saiu à direita do gol. Fora isso, a bola seguia com o PSV. Que teve a melhor chance do empate aos 13 minutos: Luuk de Jong escorou a bola para Jetro Willems,  o lateral entrou na área pela esquerda e chutou, mas Cillessen fez boa defesa. Pouco depois, na queda após uma disputa aérea pela bola, Locadia torceu o tornozelo e teve de ser substituído por Maxime Lestienne. Ainda assim, a pressão seguia. E quase deu resultado: aos 24 minutos, Narsingh recebeu na área, girou para cima da marcação e mandou para as redes, mas o gol foi anulado por impedimento.

Aos poucos, o cansaço dos 120 minutos contra o Atlético de Madrid batia no PSV. Foi a hora do golpe final do Ajax: Frank de Boer trocou seus pontas. Lasse Schöne e Younes deram seus lugares respectivos a Viktor Fischer e Anwar El Ghazi, aos 28 minutos. Aos 31, bastou uma jogada rápida, e veio o segundo gol do Ajax: cobrança de lateral, disputa de bola aérea, e a bola sobrou com Bazoer. Este desviou a Milik, que com um passe deixou El Ghazi na cara do gol. E o jovem chutou colocado, no canto direito de Zoet, para fazer o 2 a 0 que abateu definitivamente o PSV. Após 54 partidas (desde 28 de setembro de 2014, quando perdeu para o Heerenveen), o time de Eindhoven sairia de campo sem marcar um gol sequer.

E o Ajax podia comemorar: pela primeira vez desde 1971, vencera o PSV em Eindhoven por duas temporadas seguidas. Mas em 2014/15, a vitória não adiantara muito: os Boeren já estavam perto do título nacional. Agora, a vitória foi fundamental. Devolveu aos Ajacieden a liderança do campeonato, dois pontos à frente dos PSV'ers. À FOX Sports holandesa, Frank de Boer provocou: "Agora, eles é que têm de nos alcançar". A seis rodadas do fim, com uma vantagem ainda acessível (dois pontos), a disputa de gato e rato continua. Mas o Ajax virou o jogo.


sábado, 19 de março de 2016

PSV x Ajax: enfim, chegou a esperada decisão

A dura disputa entre PSV e Ajax pelo título holandês terá um capítulo decisivo (Stanley Gontha/ANP)

Não chega a ser um domínio tão acachapante quanto o do mais “novo” (tetra)campeão francês, o Paris Saint-Germain, 25 pontos à frente do Monaco na Ligue 1. Mas está claro, desde o começo de 2016, que PSV e Ajax monopolizam a disputa do título do Campeonato Holandês desta temporada. Nas últimas rodadas, ambos encarregaram-se de erigir uma distância considerável para os outros 16 participantes da Eredivisie. O PSV segue na primeira posição, com 65 pontos; o Ajax segue acossando os Boeren, com 64; e o Feyenoord, na terceira posição, vem com... 46. A 19 pontos.

Se antes, era comum falar em “trio de ferro” no futebol holandês, há pelo menos 15 anos é mais apropriado falar em “duo de ferro”. Sim, houve o solavanco no domínio do trio, com os títulos de AZ e Twente no fim da década passada. Mas a reação do Ajax, que o levou ao tetracampeonato, restabeleceu o domínio quase monopolista da dupla. E a temporada atual confirma isso à perfeição. Nada mais lógico, portanto, que a espera ansiosa pelo clássico entre líder e vice-líder do Holandês, neste domingo, no Philips Stadion, às 12h45 (horário de Brasília), pela 28ª rodada do campeonato. Aqui cabe o clichê: é “a decisão do campeonato”.

Aliás, a rodada passada até se encarregou de prover mais expectativa para o jogo. Primeiro, o PSV repetiu contra o Heerenveen uma dificuldade já vista nas duas rodadas anteriores: enfrentando equipes bem postadas defensivamente (ADO Den Haag, na 24ª rodada; Groningen, na 25ª), demorara para superá-las definitivamente, só confirmando as vitórias contra ambos – 2 a 0 no ADO Den Haag, 3 a 0 no Groningen  - no segundo tempo. Contra o Fean, a equipe de Eindhoven não conseguiu a mesma coisa: parou na compactação dos visitantes no primeiro tempo, e saiu atrás no início do segundo. Depois empatou, mas não saiu desse 1 a 1, que poderia lhe ter tirado a liderança.

Para isso, bastava o Ajax ter vencido o NEC, no domingo passado. Obviamente, os Ajacieden jogaram no ataque. Mas a velha fragilidade defensiva da equipe não conseguiu conter a técnica razoável da equipe de Nijmegen. Que puniu os mandantes na Amsterdam Arena com requintes de crueldade: vencendo por 2 a 1, e com o jogo nas mãos, o Ajax permitiu um contra-ataque aos 37 minutos do segundo tempo. Bastou: o lateral direito Todd Kane saiu veloz, e cruzou para o venezuelano Christian Santos cabecear firme, decretando o 2 a 2 que frustrou os Amsterdammers. 

Ainda assim, a vantagem do PSV na liderança diminuíra para um ponto com os resultados. E não custa lembrar: na temporada passada, mesmo com os Eindhovenaren já havia muito tempo na rota do título, o Ajax superou-os em Eindhoven mesmo, fazendo 3 a 1. E o desenvolvimento das duas campanhas na temporada deixa claro: o que se verá não é somente a disputa da primeira posição do campeonato nacional. É a disputa de dois estilos táticos diferentes, que podem muito bem simbolizar a encruzilhada em que vive o futebol holandês em seu momento atual.

No PSV, Phillip Cocu mostra ter aprendido muito bem as lições que a Oranje deixou (forçada pelas circunstâncias, é verdade) na Copa do Mundo passada. Mesmo que sua equipe siga no 4-3-3 velho de guerra, a postura dela é francamente defensiva, de espera pelo adversário. Se havia alguma dúvida sobre isso, ela foi dissipada no jogo de volta contra o Atlético de Madrid, pelas oitavas de final da Liga dos Campeões: Cocu não teve dúvidas em escalar os Boeren num 5-3-2 jamais visto na equipe, nesta temporada.

O resultado foi (quase) o melhor possível. O Atleti teve a bola, criou mais chances, mas não as aproveitou. Principalmente porque a defesa dos visitantes foi perfeita em Madri. Jeffrey Bruma, Héctor Moreno e Nicolas Isimat-Mirin não erraram um bote, uma intervenção, pelo alto ou por baixo. O entrosamento no miolo de zaga dos PSV’ers impressiona – para este que vos escreve, impressiona ainda mais a evolução técnica de Bruma, antes um zagueiro com mais pose do que nível técnico. E mesmo se o trio falhasse, havia o goleiro Jeroen Zoet, numa das melhores atuações de sua carreira, deixando para trás a irregularidade vista nesta temporada. Bem disse o ex-arqueiro Stanley Menzo: “Zoet não é melhor do que Cillessen, mas está chegando perto”.

Enfim: chamando os Colchoneros para o ataque, o PSV os segurou, deu grande temor à torcida da casa no Vicente Calderón, só caiu na disputa de chutes da marca dos pênaltis... teve a mais honrosa das eliminações (embora a história de “sair de cabeça erguida”, seja história repetida e enjoativa no futebol holandês). Contudo, também ficou clara a dificuldade para criar jogadas. Andrés Guardado foi bem, é fato. Mas nem Davy Pröpper, nem Marco van Ginkel conseguiram êxito na aceleração – inviabilizando, pois, maior aparição de Luuk de Jong (que nem nível técnico tem para criar jogadas vindo de trás). Essa lentidão ofensiva, caso faltem os espaços para contra-atacar, pode ser perigosa para o PSV.

E pode ser perigosa principalmente pela clara melhora do Ajax na temporada. Na parte ofensiva, é claro o crescimento de produção de alguns jogadores. Se Amin Younes segura demais a bola na esquerda, também é verdade que passou a ser mais perigoso fazendo isso. No meio da área, Arkadiusz “Arek” Milik talvez viva seu melhor momento no Ajax: basta dizer que desde Luis Suárez e Marko Pantelic (2009/10), nenhum jogador do clube passara dos 13 gols na temporada, e o polonês já tem 15. Vindo do meio-campo, Davy Klaassen também brilha: comanda a armação, chega à área para finalizar, lidera a equipe... enfim, talvez o capitão Ajacied tenha alcançado o ponto de maturidade necessário para pensar em jogar num centro maior da Europa.

Outro nesse estágio é Riechedly Bazoer: nem parece ter 19 anos, tal a calma com que desarma e a habilidade na saída de bola, no meio-campo. E até a defesa do Ajax, baqueada pelas perdas dos lesionados Kenny Tete e Jaïro Riedewald, se remontou com relativo sucesso, já que Joël Veltman e Mike van der Hoorn não estão mal – sem contar o crescimento de Mitchell Dijks e a segurança conhecida de Jasper Cillessen. Porém, mesmo que tenha adotado mais cuidados ofensivos após o vexame na Liga dos Campeões e a queda não muito melhor na Liga Europa, o Ajax é uma equipe ofensiva acima de tudo. Contra a eficiência do PSV nos contragolpes, pode ser prejudicial.

Seja como for, o fato é que PSV e Ajax não só monopolizam o domínio no futebol holandês (como sempre...), mas também trazem uma nova geração que deverá servir de base para a nova fase do trabalho de Danny Blind na seleção. Prova disso são os jogadores dos dois times que estão convocados para os amistosos da Oranje contra França e Inglaterra, na próxima semana: Cillessen, Zoet, Bruma, Veltman, Willems, Bazoer, Klaassen, Pröpper, Locadia, Narsingh e Luuk de Jong. Cabe a essas equipes provarem seu domínio com um bom jogo, neste domingo. E também tentando melhor papel em competições continentais, na temporada 2016/17, porque o futebol holandês precisa desesperadamente disso. A Bélgica já ultrapassou-o, no índice de coeficientes da Uefa. Turquia, Suíça e República Tcheca estão à espreita.

(Coluna originalmente publicada na Trivela.com, em 18 de março de 2016)

domingo, 13 de março de 2016

810 minuten: como foi a 27ª rodada da Eredivisie

O PSV agradece: Navarone Foor mostrou que o NEC seria duro adversário para o Ajax. E foi, arrancando empate (ANP/Pro Shots)

De Graafschap 3x0 Roda JC (sexta-feira, 11 de março)

Embora tenha tido melhores resultados nas últimas rodadas - e até mostre mais técnica do que o De Graafschap -, o Roda JC não teve a menor esperança de um bom resultado no jogo que abriu a rodada. Desde o início da partida no estádio De Vijverberg, os mandantes foram muito melhores. Mostraram o tradicional ânimo, mas também tiveram um pouco mais de técnica. Vista, por exemplo, no primeiro gol, aos 30 minutos do primeiro tempo: após cruzamento de Cas Peters, Youssef El Jebli tirou dois zagueiros da jogada com um drible de corpo, e chutou colocado para fazer o primeiro gol dos Superboeren (e seu primeiro pela Eredivisie). A torcida, já animada, se empolgou a ponto de não parar nem mesmo com o acidente que interrompeu a partida por alguns minutos: logo após o gol, uma placa eletrônica de publicidade caiu do lado de dentro do gramado. Os próprios adeptos ajudaram a erguê-la.

No segundo tempo, precisando empatar, o Roda JC criou mais chances. Mas três momentos praticamente definiram o clima e o resultado do jogo. Aos dois minutos, Rydell Poepon perdeu chance clara de gol, chutando para defesa do goleiro Hidde Jurjus. Aos cinco, o De Graafschap fez 2 a 0: Mark Diemers cobrou escanteio, e Robin Pröpper subiu para cabecear e marcar o gol. Pouco depois, aos quinze, uma oportunidade valiosa para os Koempels voltarem ao jogo: Nathaniel Will agarrou Arjan Swinkels na área, e o juiz marcou o pênalti... que Jurjus agarrou sem dar rebote, após cobrança de Poepon. Ali o De Graafschap definitivamente mostrou que o dia era seu. Nem mesmo a entrada do reserva Maecky Ngombo, que costuma deixar sua marca nas redes tão logo sai do banco, animou os visitantes desta vez. Para completar, o atacante reserva Piotr Parzyszek ainda fez 3 a 0, nos acréscimos, logo após substituir El Jebli. Era a confirmação de uma vitória merecida, que novamente tirou o De Graafschap da última posição.

Ziyech e Cabral, os destaques habituais, apareceram para salvar o Twente de novo (Gerrit van Keulen/VI Images)
Twente 2x1 Zwolle (sábado, 12 de março)

A temporada do Twente tem sido um turbilhão de emoções. Fora de campo, os problemas econômicos que talvez forcem o clube até a deixar o futebol profissional por um tempo; dentro, pelo menos neste returno, a equipe mostra uma aplicação elogiável o suficiente para tirá-la das últimas colocações, levando-a a uma posição mais confortável na tabela. A torcida reconheceu isso: antes do jogo, milhares de pessoas se dirigiram ao estádio com gritos de apoio ao clube e uma faixa: "Twente leeft" ("O Twente vive"). Mas tudo levava a crer que os Tukkers novamente viveriam um dia melancólico em casa. No gramado do Grolsch Veste, o Zwolle dominou o primeiro tempo. Até demorou para fazer o primeiro gol: aos 28 minutos, Wouter Marinus cobrou falta, e o goleiro Nick Marsman rebateu a bola com um soco. Na sequência da jogada, então, Dirk Marcellis cruzou para a área, e Kingsley Ehizibue completou para o gol, fazendo 1 a 0. Em vantagem, os Zwollenaren sequer sofriam pressão dos mandantes.

No segundo tempo, tudo mudou. E não demorou quase nada para o Twente renascer no jogo, graças a um destaque há muito conhecido, e quase sempre confiável: Hakim Ziyech. O marroquino fez mais uma das suas para empatar o jogo, com seu 15º gol na temporada: aos dois minutos, dominou a bola pela direita, cortou para a esquerda e bateu colocado, mandando a bola no ângulo canhoto do arqueiro Mickey van der Hart. A igualdade animou os Tukkers, que foram atrás da virada. E ela também não demorou muito para chegar. Aos 12 minutos, Jerson Cabral repetiu Ziyech: veio pela direita, ajeitou com a perna esquerda, chutou, gol. 2 a 1, a quarta vitória seguida em casa, a sexta de todo o ano. A reação em campo comprovou o que a faixa da torcida dizia: sim, o Twente vive. As dificuldades não acabaram, e provavelmente imporão tempos difíceis. Mas o Twente vive.

O PSV de Luuk de Jong tropeçou inesperadamente contra o Heerenveen: pelo menos o atacante marcou (Broer van den Boom Fotografie/VI Images)

PSV 1x1 Heerenveen (sábado, 12 de março)

Quem tem, tem medo. Vivendo uma temporada bastante irregular, o Heerenveen ainda jogaria contra o PSV sem o volante Joey van den Berg, suspenso pela expulsão contra o Utrecht. Com o cenário nada auspicioso que teria - jogar fora de casa, contra o líder do Campeonato Holandês -, o técnico Foppe de Haan decidiu-se por um esquema contido: 4-4-2, apenas com Morten Thorsby a armar o jogo para Mitchell te Vrede e Sam Larsson tentarem algo na frente. Enquanto isso, os Boeren estavam tranquilos: sem nenhum desfalque entre os titulares habituais, Luciano Narsingh já foi escalado no Philips Stadion, para ganhar algum entrosamento com vistas ao importantíssimo jogo da terça-feira, contra o Atlético de Madrid, pela volta das oitavas de final da Liga dos Campeões.

Eis que o Heerenveen saiu ganhando nesse cenário. Num 4-4-2 bem compactado, os frísios deixaram o PSV com a função de criar as jogadas. Todavia, exatamente pela compactação dos visitantes, nenhum dos meio-campistas (Marco van Ginkel, Andrés Guardado ou Davy Pröpper) tinha espaço para tanto - minorando, pois, a participação de Luuk de Jong, Narsingh e Jürgen Locadia. A única chance que o time da casa teve para marcar foi aos 22 minutos: na entrada da área, a bola sobrou meio acidentalmente para Pröpper, que bateu por cima do gol defendido por Erwin Mulder. Já o Heerenveen só se arriscou de fato aos 35: Larsson arriscou de fora da área, e o goleiro Jeroen Zoet rebateu perigosamente, sem que Te Vrede conseguisse dominar a sobra. A vaia da torcida dos Eindhovenaren ao final dos primeiros 45 minutos deixava claro: algo tinha de mudar, após o empate sem gols e o jogo truncado que os visitantes alviazuis impunham.

De fato, mudou. Mais confiante, o Heerenveen foi para o ataque: já no intervalo, o meio-campo foi mudado, com a entrada de Branco van den Boomen, mais ofensivo, na vaga do zagueiro Joost van Aken (e Jeremiah "Jerry" St. Juste recuou para o miolo de zaga), mudando o esquema para o 4-3-3. Verdade que isso trouxe mais pressão no começo da etapa final: já aos cinco minutos, Jeffrey Bruma arriscou o chute, forçando defesa difícil de Mulder, e na sequência Pröpper pegou a sobra de primeira e quase fez belíssimo gol. Só que a recompensa por suportar a pressão veio rapidamente para o Heerenveen: aos oito minutos, Larsson fez passe inteligente em profundidade e deixou Te Vrede livre para tocar na saída de Zoet, encerrando sua invencibilidade de 413 minutos sem sofrer gols. Incrível, mas merecido: o PSV estava perdendo em casa.

A pressão só aumentou, e nem demorou muito para vir o empate: já aos 12 minutos, Narsingh cruzou da direita e Luuk de Jong pintou livre na pequena área para cabecear e marcar seu 19º gol na Eredivisie. Aí, sim, o PSV deu mostras da razão de ser o líder do campeonato: dominou o jogo daí por diante. Contudo, novamente teve dificuldades em superar defesas fechadas. Aos 32 minutos, a maior chance: Van Ginkel chutou de fora da área, Mulder rebateu, e Gastón Pereiro (substituto de Narsingh) arrematou torto na sobra, mandando para fora. Outro a entrar em campo, Maxime Lestienne teve má atuação, desperdiçando jogadas. Bem segura e esforçada, a defesa do Heerenveen até conteve lances perigosos - como aos 43, quando Kenny Otigba desarmou De Jong no momento exato da finalização. E os frísios conseguiram o imprevisto: tiraram pontos do PSV em Eindhoven, no primeiro tropeço da equipe pela liga em 2016. Pelo menos, o Ajax também falhou ao tentar tomar a liderança.

O de sempre nos últimos tempos do AZ: Janssen festejado, mais uma vitória (ANP/Pro Shots)
Willem II 0x2 AZ (sábado, 12 de março)

Pelo que se viu no estádio Koning Willem II, neste sábado, ficou claro que as derrotas para Ajax (Holandês) e Feyenoord (semifinal da Copa da Holanda) foram apenas tropeços, e não perturbaram em nada o ótimo papel que o time de Alkmaar faz neste ano. Porque o AZ dominou completamente os mandantes de Tilburg. Nem mesmo as ausências dos lesionados Markus Henriksen e Dabney dos Santos afetaram a imposição ofensiva dos Alkmaarders. Tudo graças à boa atuação do trinitário Levi Garcia, com dribles rápidos pela ponta esquerda. E, como sói acontecer, graças a Vincent Janssen: mostrando ótima fase dentro da área, o atacante se credencia mais e mais como um dos melhores jogadores da Eredivisie desta temporada. Merece plenamente a pré-convocação (que, salvo acidente, certamente será efetivada) de Danny Blind para os amistosos da seleção holandesa contra França e Inglaterra, ainda neste mês. Voltando ao jogo: de certa forma, o AZ repetiu neste sábado a história vista na rodada passada, contra o Excelsior. Dominou o jogo desde o começo, mas mostrou algum nervosismo excessivo no primeiro tempo

Tanto que o lance mais comentado dos primeiros 45 minutos não foi uma jogada, mas o pênalti que Janssen reclamou ter sofrido do zagueiro Jordens Peters. E o Willem II teve até mesmo boa chance de marcar, aos 32 minutos: Rochdi Achenteh cobrou falta, e a bola foi no travessão. De quebra, Janssen teve gol anulado por (justo) impedimento, aos 45. Mas a etapa final não deixou falsas esperanças aos Tricolores. Já aos cinco minutos, o lateral direito Derrick Luckassen quase marcou para o AZ: cabeceou a bola no travessão. Até que, enfim, Janssen pôs fim à demora. Aos 25 minutos, Funso Ojo colocou a mão na bola dentro da área. Pênalti, cartão amarelo dado a Ojo pelo juiz Edwin de Graaf, e o atacante do AZ fez 1 a 0. Mais um pouco e, aos 31 minutos, Janssen recebeu passe em profundidade de Joris van Overeem (substituto de Henriksen) e marcou o 2 a 0 final. Foi seu 19º gol na temporada: enfim, está empatado com Luuk de Jong como goleador principal do Campeonato Holandês. Janssen merecia faz tempo. E o AZ merece a sequência de sua boa fase.

Excelsior 2x1 Groningen (sábado, 12 de março)

Não é à toa que Erwin van de Looi já anunciou faz tempo que deixará o Groningen ao fim da temporada (por sinal, nesta semana seu substituto foi anunciado: Ernest Faber, do NEC). Os nortistas têm sofrido demais com a falta de definição nas escalações e no esquema tático. O resultado é sensível: quatro derrotas nas quatro rodadas anteriores, antes de visitarem o Excelsior. Pior: Michael de Leeuw, o atacante mais confiável dos Groningers, novamente ficou no banco. Pior ainda: mesmo tendo qualidade técnica maior do que a do Excelsior, que peleja na zona de repescagem/rebaixamento, o Groningen foi plenamente superado na partida jogada em Roterdã. Desde o começo, os Kralingers estiveram melhores contra um Groningen taticamente perdido.

No entanto, exatamente pela falta de qualidade técnica, os mandantes não criaram chances que dessem trabalho ao goleiro Sergio Padt, configurando um primeiro tempo fraco. Mas na etapa final, aproveitaram as chances. A primeira delas, num erro adversário: aos quatro minutos, o lateral esquerdo Lorenzo Burnet errou num recuo, e deu a bola a Rick Kruys, que cruzou para Tom van Weert escorar e fazer 1 a 0. Aos nove, Brandley Kuwas foi derrubado na área por Juninho Bacuna: pênalti, e Jeff Stans mandou para as redes. Só então Van de Looi mudou um pouco seu esquema. Enfim, De Leeuw e Oussama Idrissi entraram em campo, mobilizando mais o ataque visitante. E deles saiu o gol que diminuiu a vantagem do Excelsior, aos 26 minutos: Idrissi chutou na trave, e De Leeuw pegou o rebote para marcar. Ainda assim, as chances criadas não levaram ao empate. E o Excelsior conseguiu importante vitória: mesmo ainda na antepenúltima posição, igualou a pontuação do Willem II, primeiro fora da zona de repescagem/rebaixamento. Já o Groningen viu se agravar o clima de fim de festa: caiu para a 12ª posição, perdendo terreno na disputa por vaga nos play-offs por Liga Europa.

Utrecht 2x2 ADO Den Haag (domingo, 13 de março)

Parecia mais um dia tranquilo para o Utrecht, durante o primeiro tempo. Jogando em casa, os Utregs dominaram completamente o ADO Den Haag, com a ofensividade que tem sido a tônica na equipe desta temporada. Os alvirrubros não foram perturbados nem mesmo pela lesão que vitimou o zagueiro Timo Letschert, pré-convocado por Danny Blind para a seleção holandesa (logo aos 14 minutos, Letschert caiu de mau jeito e lesionou o ombro, tendo de dar lugar a Ruben Ligeon). E a superioridade foi confirmada graças aos dois grandes destaques do time da casa nesta Eredivisie. Aos 38, Sébastien Haller fez um dos gols mais bonitos da rodada: recebeu passe alto de Christian Kum, dominou com a perna e bateu de voleio para as redes, fazendo 1 a 0 com seu 14º gol na temporada. Pouco depois, aos 42 minutos, Ruud Boymans completou cruzamento de Andreas Ludwig, ampliando a vantagem.

Mas o início deste minitexto disse bem: parecia mais uma dia tranquilo. Apenas parecia. O ADO Den Haag se valeu das indecisões dos mandantes para equilibrar novamente o jogo, no segundo tempo. Logo aos três minutos, Danny Bakker cobrou falta e marcou o primeiro do time de Haia - o goleiro Robbin Ruiter poderia ter coberto melhor seu ângulo. Mais algum tempo e, aos 17, Mike Havenaar deixou a bola nas redes pela 13ª vez na temporada: Édouard Duplan cruzou, e o japonês cabeceou, empatando o jogo. Nada mais apropriado para contentar o mecenas Hui Wang (enfim, apareceu na Holanda!) do que uma reação assim. E após Ruud Boymans quase recolocar os Utregs na frente, o terceiro gol quase veio para os visitantes, diante de um Utrecht inseguro na defesa: Ruben Schaken, vindo do banco, teve boa chance nos acréscimos, mas Kum tirou em cima da linha. Mesmo assim, o empate foi bom para o Den Haag - e fez o Utrecht perder um pouco de fôlego nas primeiras posições da tabela.

Heracles Almelo 3x1 Cambuur (domingo, 13 de março)

Em queda livre no returno, o Heracles entrou em campo com um objetivo: vencer e acabar com a sequência de quatro jogos sem vitória. "Oras, e o Cambuur também não queria a vitória?", pensará o leitor. Sim, obviamente era esse, também, o objetivo dos visitantes. Só que a razão era diferente: deixar novamente a última posição da Eredivisie com o De Graafschap, que vencera na sexta. Pois bem: com maior qualidade técnica, o Heracles chegava com mais constância ao gol adversário, durante o primeiro tempo. Quase marcou, aos 22: Thomas Bruns cruzou, e Wout Weghorst completou na trave. Só que, inesperadamente, um chute do irlandês Jack Byrne, de fora da área, aos 32 minutos, deu o 1 a 0 muito bem vindo (e imerecido) ao Cambuur.

Só restou aos Heraclieden continuar criando chances em busca da virada. E a recompensa, afinal, veio no segundo tempo. Aos quatro minutos, Weghorst aproveitou um rebote, após defesa do goleiro Leonard Nienhuis em um primeiro chute seu, para empatar o jogo. A entrada de Robin Gosens fortaleceu a criação de jogadas no meio-campo, ampliando a pressão contra os atarantados Leeuwarders. Até que, aos 32 minutos, o próprio Gosens virou o jogo, de voleio. Aí, o técnico Marcel Keizer colocou mais um atacante de área no Cambuur: Kevin van Veen. Não só foi infrutífero, como o Heracles ainda teve mais um gol: aos 44, Iliass Bel Hassani fez 3 a 1 e confirmou a volta dos Almelöers às vitórias. E, por tabela, ainda deixou o Cambuur novamente na lanterna da Eredivisie.

Demorou para a estratégia do Feyenoord dar certo. Mas, uma hora, Kramer acertou, e a vitória veio (Feyenoord.nl)
Vitesse 0x2 Feyenoord (domingo, 13 de março)

O caminho era pelas pontas. Desde o início do jogo na cidade de Arnhem, ficou claro que as duas equipes apostavam nos lados para chegarem ao gol. Pelo Vitesse, Renato Ibarra e Milot Rashica avançavam constantemente, para tentar ajudar Isaiah Brown, isolado no ataque; no Feyenoord, exatamente para dar mais velocidade aos lados ofensivos, Dirk Kuyt foi recuado ao meio-campo, para criar as jogadas, enquanto Jens Toornstra começou a partida pela direita. Porém, se ambos os adversários sabiam que o caminho era pelas pontas, as defesas também sabiam. Resultado: defesas congestionadas, com as linhas de quatro defensores auxiliadas pelos volantes. E pouquíssimas chances apareceram no primeiro tempo. A maior delas, do Feyenoord: aos 23 minutos, Eljero Elia apareceu pela esquerda e chutou cruzado, para defesa de Eloy Room, agarrando a bola. Pelo Vitesse, Lewis Baker até forçou o goleiro Kenneth Vermeer a fazer boa defesa aos 37, mas nada notável.

Na etapa final, as coisas se aceleraram um pouco mais. Pelas pontas, claro: os Arnhemmers tiveram boa chance com Ibarra, aos dez minutos, mas o equatoriano chutou cruzado para fora (acompanhando-o na marcação, Terence Kongolo teve séria distensão muscular, e teve de sair do jogo). Pouco depois, aos 24, Kuyt deixou o campo - já com cartão amarelo, está suspenso para a próxima rodada -, dando lugar a Bilal Basaçikoglu. Foi a mudança que o Feyenoord queria. As jogadas pelas pontas voltaram a ser aceleradas. E, enfim, o Stadionclub chegou ao gol: aos 29 minutos, Rick Karsdorp acelerou pela direita, recebeu a bola e cruzou para Michiel Kramer escorar, fazendo 1 a 0.

Só então, em desvantagem, é que o time da casa decidiu fortalecer o ataque, com as entradas em campo de Kelvin Leerdam, no meio, e Zhang Yuning, na frente. Mas os aurinegros apelaram para o abafa com bolas inócuas lançadas na área, facilmente rebatidas pela defesa do Feyenoord. E enfim, de novo pelo lado direito, no fim do jogo, veio o gol que desafogou os visitantes: aos 43 minutos, Basaçikoglu dominou e bateu colocado, na entrada da área, fazendo 2 a 0. Terceira vitória seguida dos Feyenoorders no Campeonato Holandês: se não dá mais para o título, pelo menos a fase mais aguda da crise passou.

Ajax 2x2 NEC (domingo, 13 de março)

Enfim, o que o Ajax tanto queria aconteceu. O PSV tropeçara, com o empate contra o Heerenveen. E o caminho estava aberto para a liderança do Campeonato Holandês. Para tanto, os Ajacieden teriam de vencer um NEC que vive sob uma importante turbulência: já confirmado como técnico do Groningen a partir da próxima temporada, Ernest Faber viu aumentar a pressão sobre si (não falta quem peça sua saída imediata do clube de Nijmegen). Todavia, se há crise, ela fica restrita ao banco de reservas, porque os Nijmegenaren mostraram uma escalação técnica o suficiente para ter criado o primeiro momento de perigo na Amsterdam Arena: logo aos dois minutos do primeiro tempo, Navarone Foor inverteu o jogo para Anthony Limbombe, e o atacante belga se esquivou da marcação de Mike van der Hoorn e Joël Veltman, entrando livre na área. Só Jasper Cillessen conseguiu evitar o gol, saindo bem para evitar o chute.

Então, os anfitriões começaram a impor o estilo habitual: posse de bola maciça, e criação mais acelerada. Não bastassem os três escalados na frente (Lasse Schöne, Arkadiusz "Arek" Milik e Amin Younes), todos os meio-campistas ajudavam no ataque. Riechedly Bazoer até cuidava mais da marcação, mas Nemanja Gudelj e Davy Klaassen se adiantavam bastante. Na primeira chance real, aos 14 minutos, uma troca de passes encontrou Klaassen na área, mas o capitão dos Amsterdammers chutou fraco para a defesa do goleiro Brad Jones. Dois minutos depois, veio o ansiado gol: Foor perdeu a bola na entrada da área, Gudelj retomou a posse, entrou na área, e chutou para Jones rebater. Na sobra, Milik fez o que um atacante digno do nome deve fazer: dominou, procurou o melhor ângulo de chute e, com classe, finalizou "cavando", tirando a bola dos três defensores que o cercavam e mandando para a rede. Era o 1 a 0 que ia colocando o Ajax na liderança da Eredivisie.

Mas já se comentou aqui: o NEC era técnico. E com tanta gente avançando e mantendo a posse de bola na frente, a defesa do Ajax ficava vulnerável. Um erro cometido, aos 19 minutos, e veio o empate: Foor dominou pela direita após passe do lateral Todd Kane, carregou a bola para o meio, se livrou da marcação de Nick Viergever e chutou no canto esquerdo, baixo, sem chances para Cillessen. O meio-campista se recuperava da falha no gol do Ajax, da melhor maneira possível: empatando o jogo. Restou aos mandantes criarem mais chances, mantendo a posse de bola. Todavia, a compactação dos visitantes no 4-4-2 impedia troca de passes pelo meio. Restou tentar algo pelas pontas. Como aos 33 minutos, quando Younes cruzou da esquerda e Milik dominou, chutando por cima do gol.



O segundo tempo começou do mesmo modo que o primeiro terminara. Pressão irrespirável do Ajax: aos dois minutos, cruzamento da esquerda, e Milik completou de cabeça para boa defesa de Jones. Depois, a resposta do NEC: aos quatro minutos, Limbombe trouxe a bola até a área pela esquerda, cruzando para Christian Santos tentar uma bicicleta. Mas, aos seis minutos, a sorte sorriu de novo para os Ajacieden: Gudelj veio pela esquerda e tentou novo cruzamento. Antes mesmo de Milik chegar, a bola bateu no zagueiro Rens van Eijden e foi para as redes, recolocando o time da casa na frente do placar. Depois do 2 a 1, as coisas se tranquilizaram mais para o Ajax. Aos 13 minutos, em chute de fora da área, Bazoer quase fez o terceiro (mandou a bola na rede pelo lado externo). Aos 19, Milik tocou colocado, mas Jones impediu o gol, espalmando com a ponta dos dedos. 

Fosse como fosse, o time da casa mantinha as coisas sob controle, e o NEC parecia entregue, sem muita velocidade nem muitos contragolpes. Até os 37 minutos, quando, do nada, veio o empate do time de Nijmegen: novamente, Kane veio veloz pela direita, cruzou para a área, e Christian Santos surgiu livre para fazer 2 a 2, cabeceando da pequena área. Mais impressionante ainda: aos 42, Joey Sleegers quase virou o jogo, chutando colocado para boa defesa de Cillessen. Viktor Fischer, vindo do banco, ainda chutou para boa defesa de Jones, nos acréscimos. E, enfim, o NEC conseguiu o empate merecido, por sua atuação respeitável em um bom jogo. Ao Ajax, resta lamentar uma chance de ouro perdida para retomar a liderança, pela falta de chances (e de finalizações). Em algum lugar de Eindhoven, sorrisos foram vistos na noite holandesa deste domingo. E só aumenta a ansiedade pelo jogo decisivo entre líder e vice-líder, no Philips Stadion, no próximo domingo.