segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Um jogo, um parágrafo, um vídeo: a 3ª rodada da Eredivisie

Twente 3x1 Groningen (sexta-feira, 25 de setembro)

O Twente poderia até ter aberto o placar antes: aos 17', Vaclav Cerny completou cruzamento curto para as redes, mas o auxiliar anulou, e o VAR apareceu: após revisão longa, o juiz decidiu confirmar a anulação, mesmo que o impedimento de Cerny fosse imperceptível para muitos. A decisão fez muitos reclamarem. Mas pelo menos, o Twente teve a chance de outros gols. Chances dadas pelas muitas falhas da defesa do Groningen. Aos 22', o zagueiro Wessel Dammers escorregou, o brasileiro Danilo dominou, e deixou Cerny livre para ele fazer o 1 a 0 dos mandantes; e aos 37', o erro foi do goleiro Sergio Padt - ele cobrou tiro de meta nos pés de Wout Brama, o volante passou a Danilo, e era o segundo gol dos Tukkers. No começo do segundo tempo, o Groningen voltou melhor, e comprovou isso diminuindo a vantagem: aos 52', Ahmed El Messaoudi marcou, de cabeça. E os visitantes até buscaram o empate. Só que, aos 89', também cabeceando, Alexander Jeremejeff confirmou a vitória de um Twente que segue invicto em três rodadas, com um começo promissor.



Zwolle 4x0 Sparta Rotterdam (sábado, 26 de setembro)

Até o fim do primeiro tempo, Zwolle e Sparta Rotterdam dividiam chances num jogo pouco animado: era Sai van Wermeskerken num chute aqui (aos 18'), era Dirk Abels atacando para os visitantes ali (aos 36')... até que, no último minuto regulamentar do primeiro tempo, o lateral esquerdo Mica Pinto impediu a bola com a mão, em cima da linha. Pênalti para os Zwollenaren, cartão vermelho para Mica Pinto, e Reza Ghoochannejhad fez 1 a 0 na cobrança. Estava aberto o caminho para a goleada dos donos da casa, construída no segundo tempo. Já aos 47' (dois minutos), Reza deixou o segundo dele nas redes, de cabeça. Mais sete minutos, e Clint Leemans ajeitou na pequena área para chutar cruzado e forte, no ângulo direito, fazendo o 3 a 0. Mesmo sem brilhar, o Zwolle era mais perigoso nos avanços - como aos 71', quando Van Wermeskerken chutou de longe e o goleiro Benjamin van Leer espalmou. Do escanteio que se seguiu, veio o gol que completou a goleada: Yuta Nakayama cabeceou para os 4 a 0 da primeira vitória dos "Dedos Azuis" na temporada.


Fortuna Sittard 3x3 AZ (sábado, 26 de setembro)

De novo, o AZ começou uma partida em baixa velocidade. Sorte do Fortuna Sittard: pressionando um pouco mais, o time da casa saiu na frente já aos 9', num belo chute de Zian Flemming, no canto esquerdo. Só em desvantagem o desfalcado time de Alkmaar (sem o suspenso Calvin Stengs nem o lesionado Ron Vlaar) foi à frente. E aos 21', veio o empate: Owen Wijndal cruzou rasteiro, Albert Gudmundsson ajeitou, e Dani de Wit desviou na pequena área para o 1 a 1. De quebra, Zakaria Aboukhlal quase marcou aos 27', quando chutou para fora após boa jogada. Mas a virada no placar só veio no segundo tempo, aos 53': Jonas Svensson cruzou da direita, o goleiro Alexei Koselev falhou ao soltar a bola na área, e Gudmundsson ajeitou para Teun Koopmeiners fazer 2 a 1. Parecia a senha de uma vitória, porque o AZ seguiu com chances - Gudmundsson quase marcou aos 60' - e afinal fez o terceiro gol, em outro erro da defesa do Fortuna: aos 69', Branislav Ninaj escorregou ao sair jogando, De Wit lhe roubou a bola e tocou para Myron Boadu completar. Só que o time da casa estava vivo em Sittard, até porque Marco Bizot já fizera defesas salvadoras. A lembrança da vida dos mandantes auriverdes veio aos 80', quando Emil Hansson diminuiu para 3 a 2. Finalmente, aos 90' + 5, Tesfaldet Tekie passou, Flemming chutou, e Bizot deixou passar bola defensável. 3 a 3: empate com gosto de vitória para o Fortuna Sittard - e mais um sinal preocupante para o AZ.


Heerenveen 1x0 VVV-Venlo (sábado, 26 de setembro)

Já motivado pelas duas vitórias nas duas primeiras rodadas, o Heerenveen começou ofensivo o jogo em casa. Só faltavam chances claras de gol. Mas na primeira delas, aos 30', já houve um pênalti: Oliver Batista Meier cruzou, e Danny Post interceptou a bola com a mão. Joey Veerman cobrou: bola num canto, o goleiro Thorsten Kirschbaum no outro, 1 a 0 para o Fean. O VVV só começou a tentar o empate no segundo tempo, tendo a grande chance aos 52', quando Joshua John forçou o goleiro Erwin Mulder a fazer boa defesa. Mas qualquer perspectiva de reação dos visitantes de Venlo sofreu duro corte aos 63', quando o lateral direito Tobias Pachonik foi expulso por falta dura em Joey Veerman. Aos 80', novamente Joey sofreu: Simon Janssen foi com os dois pés em sua perna, num carrinho duro, e recebeu mais um cartão vermelho. E o Heerenveen pôde celebrar uma vitória magra, mas que foi a sua terceira vitória em três rodadas da Eredivisie. Algo não conseguido desde 1998/99. Quem diria?!


Ajax 2x1 Vitesse (sábado, 26 de setembro)

O Vitesse assustou o Ajax logo no primeiro minuto: Oussama Tannane chutou por cima do gol de André Onana. O time da casa respondeu já aos 2': Antony passou para Quincy Promes, que também finalizou por cima. No minuto seguinte, Loïs Openda tocou na saída de Onana, rente à trave. E o equilíbrio seguiu em todo o primeiro tempo. Só que os Ajacieden aproveitaram a chance: aos 21', Antony passou, Noussair Mazraoui cruzou, e Promes completou para o gol vazio no 1 a 0. O Vites, não: Oussama Darfalou quase empatou aos 24' (arremate que Onana pegou) e 26' (cabeceio que o goleiro do Ajax espalmou). Porém, os mandantes "ajudaram" os visitantes de Arnhem: aos 44', um pisão de Edson Álvarez em Openda foi flagrado pelo VAR, e o juiz Pol van Boekel expulsou o mexicano. Surpreendentemente, mesmo com dez homens, o Ajax até se acertou - e o segundo gol quase veio aos 53', quando Antony tocou e Jürgen Ekkelenkamp driblou o goleiro e tocou, mas a bola passou pela linha sem entrar e bateu na trave. Até que veio o empate do Vitesse, aos 56': após escanteio, Riechedly Bazoer chutou forte e alto da entrada da área, no ângulo. Mais uma bola na trave, de Eli Dasa, aos 68', quase foi a virada para o Vitesse. Aí, Mohammed Kudus e Antony foram ao resgate: o ganês criou a jogada do contra-ataque, e passou para o brasileiro fazer 2 a 1, aos 70', num chute cruzado com o pé direito, seu pior. O equilíbrio seguiu, mas, por fim, o Ajax garantiu uma vitória a ser comemorada.


Feyenoord 4x2 ADO Den Haag (domingo, 27 de setembro)

Num De Kuip sem tanta aglomeração, o jogo começou com troca de chances entre os times. Foi Steven Berghuis completando escanteio para fora aos 4' de um lado, foi o goleiro Justin Bijlow rebatendo chute de Dante Rigo aos 5' do outro... até que um erro de Lutsharel Geertruida abriu as portas para o 1 a 0 do ADO Den Haag, aos 11': num lançamento alto, Geertruida falhou, e Jonas Arweiler ficou livre na área para concluir. Porém, as chances trocadas seguiam: foi Samy Bourard quase ampliando aos 21' (Bijlow rebateu, de novo), foi Jens Toornstra batendo para Luuk Koopmans espalmar... e aí, aos 27', no escanteio da sequência, o Feyenoord empatou, com Geertruida "corrigindo" seu erro ao fazer 1 a 1 de cabeça. E o Stadionclub quase virou ainda na etapa inicial, com Toornstra (Koopmans espalmou seu cabeceio aos 44') e Marcos Senesi (cabeceou para fora com o gol vazio, aos 45'). Mas a virada dos anfitriões seria mais bonita: um belíssimo gol de Senesi aos 57' - o zagueiro argentino aproveitou sobra de escanteio para mandar às redes numa meia-bicicleta. O Den Haag sofreu para provar que estava vivo no jogo: Arweiler sofreu pênalti, cobrou, e Bijlow pegou - mas com o jogo iniciado, o VAR apontou que o goleiro do Feyenoord se adiantara, e aos 69', enfim, Shaquille Pinas empatou na nova cobrança. Pelo menos, o time da casa reagiu rápido para garantir a vitória. Aos 71', Luciano Narsingh tocou cruzado para o 3 a 2; e aos 84', em outro pênalti (mão na bola de Pinas), Berghuis definiu o placar.


Utrecht 3x1 RKC Waalwijk (domingo, 27 de setembro)

Durante boa parte do primeiro tempo, o RKC Waalwijk protegeu arduamente sua defesa, impedindo os ataques do Utrecht. A válvula de escape dos mandantes foi o lateral esquerdo Django Warmerdam. Aos 33', Warmerdam finalizou: na rede pelo lado de fora. Quando cruzou a bola, foi melhor: aos 40', o lateral mandou a bola para Mimoun Mahi, enfim, abrir o placar para os Utregs. Contudo, no começo do segundo tempo, Vitalie Damascan foi a esperança ofensiva dos visitantes de Waalwijk: vindo do banco no intervalo, o atacante moldávio empatou aos 59', completando passe de Anas Tahiri. Só restou aos mandantes voltarem a pressionar: Simon Gustafson quase fez aos 69' (o goleiro Kostas Lamprou pegou), o zagueiro Melle Meulensteen quase cometeu gol contra depois, mas o 2 a 1 do Utrecht veio só aos 74': Morad El Haddouti errou ao tentar afastar de cabeça, deixando a bola nos pés de Gyrano Kerk, que balançou as redes. Aos 85', Sander van de Streek garantiu de vez a primeira vitória na temporada. 


Emmen 1x1 Willem II (domingo, 27 de setembro)

A ressaca do Willem II pela goleada do Rangers-ESC que o eliminou da Liga Europa, na quinta passada, seguiu tão logo a partida começou. Porque logo aos 6', o Emmen fez 1 a 0: Sergio Peña tentou o chute, a defesa bloqueou, mas Michael de Leeuw - recuperado de lesão - arrematou a sobra para as redes. Pelo menos, os Tricolores demoraram pouco para se recompor e empatar: num contra-ataque aos 13', Vangelis Pavlidis e Mike Trésor se viram livres, e aquele tocou para este fazer 1 a 1 com o gol vazio. Depois, o time da casa teve dificuldades no segundo tempo: aos 63', Glenn Bijl derrubou John Yeboah evitando "chance clara e manifesta de gol", e foi expulso, deixando o Emmen com dez jogadores. Mas o time da casa se esforçou na reta final, mantendo um ponto e impondo outro tropeço aos visitantes de Tilburg na semana.


Heracles Almelo 1x1 PSV (domingo, 27 de setembro)

No duro, no duro mesmo, a primeira chance de gol em Almelo só veio aos 11'. E foi do PSV: Bruma tabelou com Mohamed Ihattaren e chutou da entrada da área, à direita do gol. Depois, os visitantes de Eindhoven chegaram perto aos 16', com Bruma, mandando a bola na rede pelo lado de fora. Todavia, jogando com bolas altas, apostando no físico, o Heracles Almelo começou a assustar. Mais precisamente, aos 21': num cruzamento de Mats Knoester, o zagueiro Jordan Teze tentou afastar de cabeça e quase cometeu o gol contra. Depois, aos 26', Sinan Bakis cabeceou para fora. Mas aos 31', um pênalti polêmico trouxe a chance que os Heraclieden queriam: Nick Viergever foi desajeitado ao tentar afastar bola cruzada, desviou com o cotovelo, e o juiz Jochem Kamphuis apitou o pênalti que Rai Vloet converteu para o 1 a 0. Nos acréscimos do primeiro tempo, Adrián Szöke até mesmo balançou as redes, mas o gol foi anulado (impedimento). Com mudança tripla no intervalo - entraram Ryan Thomas, Donyell Malen e Noni Madueke -, o PSV também contou com um lance desastrado para o empate: aos 51', Teun Bijleveld derrubou Madueke desajeitadamente na área, e mais um pênalti foi marcado, com Philipp Max batendo para o 1 a 1. De resto, emoção mesmo, só aos 67', quando Vloet quase recolocou o Heracles na frente, chutando para ótima defesa de Yvon Mvogo. E nada mais, no primeiro tropeço do PSV na temporada.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

O benefício da dúvida

Frank de Boer chega para treinar a seleção masculina da Holanda sabendo que a desconfiança é enorme. Mas há alguma chance de dar certo (Alex Lifesey/Getty Images)

O próprio vídeo de boas vindas da federação holandesa a Frank de Boer, novo técnico da seleção masculina, brinca com a incorrigível tendência neerlandesa à corneta: várias pessoas - jornalistas, jogadores, torcedores - palpitando sobre este ou aquele nome, este ou aquele esquema tático... até Frank aparecer e dizer: "Prima, dan gaan we wat kijken" ("Beleza, então vamos ver"). De fato, como o vídeo lembrou, é "o país de 17 milhões de técnicos... e de Frank de Boer". E nenhum outro nome escolhido chegaria sob tanta pressão e desconfiança para treinar a Laranja quanto o ex-zagueiro de 50 anos e 112 partidas pela seleção, com três Euros e duas Copas no meio.

E essa desconfiança tingida de pessimismo é compreensível. Afinal de contas, Frank de Boer vai treinar a seleção holandesa com o filme de sua carreira carbonizado, por enquanto. Tudo graças aos péssimos quatro anos anteriores em sua carreira como técnico. Em 2016, Frank só durou 85 dias na Internazionale; em 2017, no Crystal Palace, somente dez semanas; e mesmo no Atlanta United, em que viveu uma ligeira reabilitação em 2019 ao comandar o time campeão da Open Cup, saiu em baixa, com a eliminação na primeira fase da MLS deste ano. O pior, para o ex-jogador, é que todos esses fracassos tiveram sua cota de responsabilidade. 

Embora a Inter estivesse num momento traumático, em troca no controle do clube e um grupo de jogadores sendo reformulado, De Boer chegou como o técnico errado na hora errada: pedia tempo e paciência, justamente duas coisas que faltavam no clube azul-e-negro de Milão. E ao invés de incentivar o grupo de jogadores, o técnico não só fracassou ao se adaptar com o que tinha em mãos, como foi até deselegante com muitos nomes que poderiam ter sido, no mínimo, respeitados (Gabigol talvez tenha algo a dizer sobre isso). No Crystal Palace, foi ainda pior: De Boer chegou e quis forçar ofensividade num time acostumado a ser defensivo para se proteger, na parte baixa da tabela do Campeonato Inglês. Não só deu errado, como ficou marcante o discurso de José Mourinho tripudiando do holandês: "Ele diz que eu sou um mau técnico por que só penso em vencer. Bem, jogando com ele, o pior técnico da história da Premier League - seis derrotas em seis jogos -, talvez aprendam como perder". E mesmo no Atlanta United, De Boer teve algum azar, com a lesão de Josef Martínez e a venda de Pity Martínez, mas também desapontou ao dar sequência ao trabalho de Gerardo "Tata" Martino.

Talvez todos esses fracassos tenham ocorrido por um único motivo: Frank de Boer quis implantar em outros clubes o "estilo Ajax" com o qual se dera tão bem em Amsterdã, conquistando o tetracampeonato holandês e comandando a volta do clube às luzes da ribalta no futebol da Holanda. Só que essa implantação ignorava um fato simples e inquestionável: cada clube tem sua história, seu contexto, e são coisas que não podem ser mudadas de uma hora para outra. Achar que o mundo inteiro é Amsterdã e que todos os torcedores aceitariam mudanças bruscas rumo a um estilo mais ofensivo era e foi, no mínimo, ingenuidade excessiva de Frank.

Frank de Boer volta a basear sua carreira na Holanda - e nela, foi o símbolo da volta do Ajax ao domínio, com o tetracampeonato holandês (Divulgação/ajax.nl)

E por incrível que pareça, é por isso que o ex-zagueiro merece o benefício da dúvida em sua volta para casa - não exatamente para Amsterdã, mas para um país onde, literalmente, falam o seu idioma. Pois foi na Holanda, entre os seus, que De Boer viveu seu único bom momento como técnico - embora os últimos tempos de seu trabalho no Ajax já tenham sido preocupantemente repetitivos. Todos lá já sabem o que esperar dele: posse de bola, muito espaço, troca de passes (ainda que no campo de defesa) etc. Além do mais, mesmo que tenha tido comportamento deselegante na Internazionale, Frank de Boer não é visto como um técnico "traíra", ou mesmo alguém que goste excessivamente de destaque. 

Foi justamente a vontade de deixar sua marca em tudo que impediu Louis van Gaal de retornar ao cargo, seis anos depois. Mesmo semiaposentado, Van Gaal sinalizou aqui e ali que pensaria no caso - mas os jogadores não simpatizaram muito com a ideia, e a federação viu poucas vantagens em contratar alguém que chegaria para mudar até o que não precisava ser mudado. Aliás, isso era o oposto do critério da federação holandesa: trazer alguém que mexesse o mínimo possível no que Ronald Koeman deixou encaminhado em seu trabalho, e que tivesse boa relação com todas as partes (imprensa, jogadores e dirigentes). 

Henk ten Cate era bem visto pelos jogadores, mas deixou má impressão na federação desde que espalhou aos quatro ventos seu convite para treinar a Laranja em 2017, após a demissão de Danny Blind - e de toda forma, Ten Cate há muito está fora dos grandes centros, fazendo a carreira em China e Emirados Árabes. Esse mesmo alheamento tirou as chances de Frank Rijkaard: sondado pela federação, já com a experiência de treinador da seleção entre 1998 e 2000, Rijkaard perdeu o ânimo por continuar como técnico - desde 2013 está parado, sem pressões, e assim prefere continuar. Erik ten Hag e Peter Bosz teriam respaldo de torcida e imprensa: são os dois melhores técnicos holandeses da atualidade. Mas têm contrato vigente com seus clubes (ambos até o meio de 2022), e dificilmente largariam trabalhos já bem desenvolvidos no meio. Pensar num técnico estrangeiro na seleção - estrangeiro MESMO, não um holandês nascido no Canadá como Dwight Lodeweges é? Não só isso ainda é tabu na Holanda (Países Baixos), como nenhum nome de fora do país empolgaria.

Ou seja, sobrou Frank de Boer. O único holandês à disposição. E assim, no esquema "não tem tu, vai tu mesmo", ele chega para treinar a seleção holandesa. Sob pessimismo justificado. No entanto, exatamente por voltar a um cenário que conhece mais, por estar num lugar em que se sinta mais à vontade, por chegar sem grandes expectativas, talvez Frank mereça o benefício da dúvida. Pode dar errado? Pode, e é o mais provável. Mas pode dar... certo.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Um jogo, um parágrafo, um vídeo: a 2ª rodada da Eredivisie

VVV-Venlo 1x1 Utrecht (sexta-feira, 18 de setembro)

Enfim estreando no Campeonato Holandês - o jogo contra o AZ foi adiado -, o Utrecht teria pela frente um mandante motivado em Venlo. Afinal, tratava-se do líder da Eredivisie, pelos critérios. De mais a mais, os aurinegros tinham um destaque em Georgios Giakoumakis, autor de três gols na estreia contra o Emmen. E Giakoumakis apareceu de novo no gol dos Venlonaren, aos 8': não marcou, mas cruzou na medida para Guus Hupperts escorar e fazer o 1 a 0. Daí, só restou aos Utregs atacarem em busca do empate. Fizeram isso com Simon Gustafson (aos 16') e num escanteio (aos 38'), mas o goleiro Thorsten Kirschbaum se destacou, evitando o gol. Porém, no segundo tempo, justamente quando o VVV mais estava perto de ampliar o placar - Danny Post e Hupperts tiveram boas chances -, veio o empate, aos 58': Mimoun Mahi deixou Sean Klaiber na cara do gol, e o ala direito fez 1 a 1. Porém, o Utrecht não foi muito além disso. Nem a entrada de Eljero Elia evitou o empate - decepcionante, para os visitantes.


AZ 1x1 Zwolle (sábado, 19 de setembro)

O AZ "estreava" ainda abatido, pela queda na Liga dos Campeões. E o primeiro tempo contra o Zwolle piorou isso, de certa forma. O primeiro golpe quase veio aos 7': o VAR salvou, ao transformar o que seria pênalti para os visitantes numa falta. Mas aos 16', o próprio árbitro do vídeo impôs uma dura perda aos mandantes de Alkmaar: Calvin Stengs derrubou Kenneth Paal com um duro carrinho, o juiz Serdar Gozübüyük ouviu que a falta tinha sido dura, reviu o lance e deu o cartão vermelho direto a Stengs. O baque foi duro para o AZ, mas só quando ele se recuperava (Albert Gudmundsson acertara a trave aos 37') é que o Zwolle deu o segundo golpe: aos 38', Clint Leemans chutou de fora da área, e fez 1 a 0 para os Dedos Azuis visitantes. No segundo tempo, os dois times fizeram um jogo ríspido, com muitas divididas, e equilibrado: Albert Gudmundsson quase empatou aos 52', Eliano Reijnders quase ampliou aos 66'... até que Myron Boadu salvou o AZ, aos 68': após escanteio rebatido, o atacante fez 1 a 1. Os gols pararam aí. A rispidez continuou - tanto que o próprio Zwolle ficou com dez jogadores: ainda houve tempo para a expulsão de Thomas Lam, aos 83'.


Vitesse 2x0 Sparta Rotterdam (sábado, 19 de setembro)

Nem mesmo a onda de infecções pelo novo coronavírus entre os dois times (no Vitesse, oito nomes da comissão técnica, incluindo o treinador Thomas Letsch, e o lateral Jacob Rasmussen; no Sparta, o volante Deroy Duarte) impediu o jogo em Arnhem. E nele, o Vitesse foi dominante desde o começo. Porém, não havia muitos chutes a gol que emocionassem os torcedores. Só uma bola parada resolveu isso: aos 27', Oussama Tannane acertou o ângulo em cobrança de falta, num belo gol. Os visitantes de Roterdã responderam aos 29', com Mohamed Rayhi quase empatando. Mas o zagueiro Michael Heylen foi expulso, o Vites restabeleceu o domínio logo, e Loïs Openda perdeu duas chances - na primeira etapa, aos 37', e na segunda, aos 46'. Depois, assustaram Armando Broja (aos 68', finalizando à queima-roupa para o goleiro Benjamin van Leer pegar) e Tannane, de novo (aos 74', em chute de fora, pouco acima do travessão). Finalmente, aos 82', a vitória fácil foi confirmada por Broja, aproveitando rebote após chute.


PSV 2x1 Emmen (sábado, 19 de setembro)

Do jeito como iniciou a partida em Eindhoven, o PSV parecia prensar o Emmen na defesa. Começou com Donyell Malen, num cabeceio aos 2'. Depois, aos 5', Mohamed Ihattaren arriscou chute de fora da área, e o goleiro Dennis Telgenkamp espalmou. Só aos poucos o Emmen se arriscou a raros contragolpes. O mais perigoso, aos 18': Sergio Peña arriscou para escanteio, e na cobrança, após bate-rebate, Robbert de Vos mandou de voleio, para o goleiro Yvon Mvogo espalmar. Só que, pouco depois, o PSV abriu o placar, aos 21': em troca de passes de um lado a outro, Philipp Max entrou na área pela esquerda, cruzou rasteiro, e Noni Madueke desviou para o gol vazio (o toque saiu alto, mas entrou). Mas a vantagem acabou tirando a força ofensiva dos Boeren: poucos ataques vieram depois. No primeiro tempo, Madueke bateu na rede pelo lado de fora, aos 43'; na etapa final, Ryan Thomas e Bruma arriscaram. O Emmen tentou se insinuar mais (Glenn Bijl trouxe perigo numa falta, aos 68'), mas parecia pouco capaz de um empate. Até o infeliz erro de Mvogo, aos 83': Philipp Max recuou a bola para o goleiro suíço do PSV, que falhou no domínio, a bola passou por ele e... 1 a 1. Seria um desastroso empate para os mandantes. O "abafa" final veio em tentativas de Malen, aos 87' e aos 90' + 1. Finalmente, aos 90' + 4 - último minuto dos acréscimos -, Max cruzou e o argentino Maxi Romero, de cabeça, mandou para as redes. Alívio para o PSV - em especial, para Mvogo.


Fortuna Sittard 1x3 Heerenveen (sábado, 19 de setembro)

Até que o Fortuna Sittard sonhou com uma vitória, com chances iniciais. Mas o Heerenveen tratou de acabar com esse sonho ainda no primeiro tempo, em três passos. No primeiro deles, aos 15', em jogada pela direita, bola cruzada na área, e Henk Veerman ajeitou para Oliver Batista Meier chutar alto e marcar seu primeiro gol no clube da Frísia. Aos 29', o segundo passo do Fean para a vitória: o próprio Batista Meier foi derrubado por Roel Janssen na área, e Joey Veerman cobrou o pênalti sem problemas para o 2 a 0. Finalmente, aos 34', o Veerman que marcou o 3 a 0 foi Henk - o atacante completou para as redes após jogada de Arjen van der Heide. Só no segundo tempo, com algumas alterações, o Fortuna criou chances - como um chute de Mats Seuntjens, aos 54', e um cabeceio de Sebastian Polter, aos 65'. Finalmente, aos 73', também de cabeça, Polter diminuiu. Mas já era tarde para colocar a vitória do Heerenveen a perigo. Dois jogos, duas vitórias: nada mal para um time que perdera todos os seus amistosos de pré-temporada...


ADO Den Haag 0x1 Groningen (domingo, 20 de setembro)

Até que o Groningen tivera algumas chances no começo do jogo - como um chute de Mohamed El Hankouri, aos 12' -, mas nada que realmente assustasse a torcida. Aí apareceu a infelicidade do zagueiro Shaquille Pinas: aos 23', em cruzamento para a área, Pinas tentou afastar a bola, mas sua perna "espirrou" para a rede o 1 a 0 dos Groningers. Que aumentaram o volume ofensivo: Azor Matusiwa acertou a trave aos 30', e o goleiro Luuk Koopmans impediu o gol de Jörgen Strand Larsen aos 38'. Já no começo do segundo tempo, a coisa quase ficou pior para o Den Haag: aos 48', Michiel Kramer acertou um chute na virilha do zagueiro Ko Itakura, sem bola - mas o juiz Danny Makkelie, ao ouvir o VAR, "apenas" deu o cartão amarelo a Kramer. Koopmans ainda evitou dois gols dos visitantes - de Ramon-Pascal Lundqvist, aos 70', e Tomas Suslov, aos 76'. E a vitória do Groningen ficou só no 1 a 0. Talvez tenha doído até mais para Pinas, o autor do gol contra, que chorou após o fim do jogo. Acontece.


Feyenoord 1x1 Twente (domingo, 20 de setembro)

Até que o ambiente em De Kuip estava bem animado - a ponto da torcida do Feyenoord até "desobedecer" o distanciamento social pedido pela federação. Mas toda essa animação parou logo aos dois minutos, quando Queensy Menig passou a Danilo, o brasileiro deu a bola de calcanhar, e Vaclav Cerny finalizou bem para o 1 a 0 do Twente. A desvantagem baqueou um pouco o Feyenoord, que só atacou aos 13': num passe de Steven Berghuis a Bryan Linssen, este completou para fora. Depois, aos 24', o empate quase veio num escanteio - o goleiro Joël Drommel rebateu com soco. E até quando o gol do Stadionclub enfim veio, aos 29', foi no sufoco. Um minuto antes, um pênalti já fora marcado, quando Jayden Oosterwolde empurrou Lutsharel Geertruida na área. Berghuis bateu, e Drommel defendeu... mas no rebote, Julio Pleguezuelo derrubou Berghuis com um carrinho. Mais um pênalti, mais uma cobrança de Berghuis, e aí sim, 1 a 1. Ainda assim, o Twente seguiu dando esporádicos sinais de vida, com chances de Menig (aos 36' e 51'). Só na reta final do jogo o Feyenoord teve mais espaço e força para tentar virar o jogo. Tentou com Orkun Kökcü, aos 68' (Drommel pegou) e com Leroy Fer, aos 89' (Drommel defendeu o cabeceio). Steven Berghuis teve duas grandes chances nos acréscimos: finalizou torto na pequena área, aos 90' + 4, e mandou rebote para fora aos 90' + 5. Luciano Narsingh perdeu a última chance, sem ângulo. E ficou o empate.


Willem II 4x0 Heracles Almelo (domingo, 20 de setembro)

O símbolo da falta de emoções no primeiro tempo em Tilburg veio num voleio de Rai Vloet, meio-campo do Heracles, mandando a bola literalmente por cima do estádio.. O Willem II criou pouco perigo, enquanto os Heraclieden se ressentiam da ausência do atacante Silvester van der Water - destaque na primeira rodada, Van der Water quis se ausentar, pelo desejo de viabilizar a transferência para o Orlando City. Porém, os mandantes Tricolores resolveram isso tão logo o segundo tempo começou. Já no primeiro minuto da etapa final, Vangelis Pavlidis fez 1 a 0 com um chute colocado. Mais quatro minutos, e o placar foi a 2 a 0 para o Willem II: Pavlidis chutou, o goleiro Janis Blaswich rebateu, e Gorkem Saglam completou a sobra. Aos 52', Saglam foi quem deu a bola, e John Yeboah fez seu primeiro gol pelo novo clube. Nem mesmo a alteração quádrupla feita no Heracles impediu que a vitória do Willem II virasse goleada aos 84', com o segundo gol de Pavlidis, goleador atual da Eredivisie. Goleada que motiva os Tilburgers para o jogo contra o Rangers, pela Liga Europa.


Ajax 3x0 RKC Waalwijk (domingo, 20 de setembro)

A animação com que o RKC Waalwijk começara o jogo já foi esfriada pelas constantes movimentações do Ajax pelos lados. Já aos oito minutos, um chute cruzado de Zakaria Labyad mandou a bola perto do gol. E aos 10', o gol surgiu, de uma troca de passes: Noussair Mazraoui cruzou, Mohammed Kudus (boa partida) ajeitou, e Dusan Tadic finalizou para as redes com uma "meia-puxeta". Ficou tão fácil que, aos 13', Labyad balançou as redes de novo. Só que aí, o VAR foi "estraga-prazeres" pela primeira vez na Johan Cruyff Arena: o juiz Bas Nijhuis ouviu, reviu a jogada e anulou o gol, por falta de Lisandro Martínez no começo dela. No mais, os Ajacieden criaram chances - e Labyad aparecia bastante. Apareceu mais ainda aos 34', quando seu gol enfim valeu: Mazraoui ajeitou de cabeça para o marroquino completar às redes. Curiosamente, só com tal desvantagem é que o RKC foi mais à frente. Quase marcou graças a um erro de André Onana na saída de bola, aos 45' (Martínez afastou), e começou o segundo tempo pressionando levemente. No Ajax, a alegria de Labyad foi novamente estragada pelo VAR - que anulou outro gol, por impedimento, aos 54'. Pelo menos, o VAR que perturbara o Ajax o "ajudou" aos 68': um cartão amarelo de Luuk Wouters virou vermelho (o lateral esquerdo empurrara Promes, sendo o último homem). E houve espaço para mais um gol - o mais bonito de uma vitória tranquila: aos 73', Promes deu de calcanhar a Tadic, este cruzou, e Martínez cabeceou.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Os últimos dias antes do resto da vida

A saída já anunciada de Sarina Wiegman simboliza o começo do fim de um ciclo na seleção feminina da Holanda. Mas o desejo de todos, a começar pela própria treinadora, é que esse fim seja satisfatório (BSR Agency)

O futebol feminino já tinha voltado internamente na Holanda (Países Baixos), com o início do Campeonato Holandês de mulheres - no qual o Ajax já se insinuou bem, com duas vitórias. Faltava apenas o grande estandarte da modalidade para o mundo - e até para os neerlandeses. Pois bem: não faltará mais a partir desta sexta, às 11h de Brasília. Na Sapsan Arena de Moscou, a seleção holandesa feminina voltará a campo após seis meses, pela sexta rodada do grupo A das eliminatórias da Euro 2022 - que seria em 2021, mas foi adiada, por causa da pandemia de COVID-19. A vaga para tentar defender o título continental ganho em 2017 - se a Euro 2022 ocorrer... - está muito perto: com seis vitórias em seis jogos nas eliminatórias, nove pontos à frente exatamente da seleção russa, mais um triunfo ampliaria a vantagem já enorme que as Leoas Laranjas têm na chave.

No entanto, os fatos ocorridos internamente na seleção fazem crer que a campanha de qualificação para a Euro inicia os últimos dias de um ciclo, que se encerrará no torneio olímpico de futebol feminino em Tóquio-2021. Afinal de contas, se definiu no mês passado que Sarina Wiegman trocará de seleção tão logo os Jogos Olímpicos acabem: a treinadora da Holanda tomará o rumo da seleção inglesa. E sua anunciada saída é o marco do fim de uma era: afinal, comandando as Leoas Laranjas desde meados de 2016, Sarina é o símbolo da ascensão irresistível da seleção feminina nos últimos anos.

Ainda assim, já antes mesmo da pandemia, estava claro que 2021 seria, muito provavelmente, o último ano de Wiegman como técnica da seleção - no cenário anterior, a renovação de contrato fizera prever exatamente isso: o trabalho seria feito nos Jogos Olímpicos, seguiria até a Euro, e aí sim Sarina seguiria seu rumo. Quis o destino que a pandemia alterasse tudo. E que Sarina fosse o nome escolhido pela federação inglesa para, a partir de 2021, comandar outras Leoas - as Lionesses, que irão com toda a força na Euro que sediarão, em busca do título que ainda não têm.

De certa forma, exatamente por essa previsibilidade é que a saída vindoura da treinadora foi bem recebida pela federação - o diretor Nico-Jan Hoogma foi compreensivo: "Eu entendo este passo, e o momento dele, mesmo que seja ruim para nós. E temos todo o tempo para nos focarmos na sucessão, fazendo isso com cuidado". E a própria Sarina Wiegman repetiu nesta semana a mesma coisa que citou no anúncio de sua saída: "Seria lindo terminar bem. E temos duas metas: o torneio olímpico e a vaga na Euro. E é claro que eu espero que realizemos nosso último sonho: ter sucesso nos Jogos Olímpicos".

Para esse sucesso, está cada vez mais claro que as Leoas Laranjas terão poucas alterações contra a Rússia. Quase nenhuma, a bem da verdade: nas 24 convocadas, estão ainda todos os destaques do vice-campeonato mundial em 2019, que jogaram juntas pela última vez num torneio amistoso em março, contra Brasil, Canadá e França. A única estreia é no gol, com a arqueira reserva Daphne van Domselaar, do Twente - sem contar o retorno da atacante Sisca Folkertsma às convocações. E a única mudança foi forçada pela pandemia: jogando no Valerenga norueguês, a meio-campista Sherida Spitse teve de ficar no país em que atua - já que a viagem seria para a Rússia, país considerado na "zona laranja" da pandemia, com alto risco de infecção pelo novo coronavírus, o Valerenga quis impedir que Spitse tivesse de ficar em quarentena preventiva após a viagem pela seleção.

As dores no dedo do pé já foram solucionadas. A saudade do país natal foi matada durante a quarentena. Então, Lieke Martens está pronta a retomar seu ritmo (BSR Agency)

Sem problemas: ainda estarão nas Leoas Laranjas Sari van Veenendaal, Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk, Vivianne Miedema, Jill Roord (provável titular com a ausência de Spitse)... e Lieke Martens. Enfim livre das dores num dedo do pé que a perturbaram em 2019, a atacante do Barcelona se mostrou altamente motivada em entrevista ao diário Algemeen Dagblad, para ganhar ritmo de jogo e retomar o nível técnico que a levou a ser a melhor do mundo segundo a FIFA, em 2017: "A montanha-russa acabou. Estou completamente recuperada (...) Durou o bastante. Já tive bons momentos, mas ainda tenho fome e motivação para arrebentar".

De quebra, Martens evocou em suas palavras um fenômeno notável: o retorno de algumas importantes jogadoras à Vrouwen Eredivisie, como Mandy van den Berg (ex-colega de seleção) e a supracitada Van Veenendaal. E se mostrou disposta a pensar no caso de também retornar ao país natal, daqui a algum tempo: "Às vezes, sinto falta de equilíbrio em minha vida (...). Tenho 27 anos, e mais dois anos de contrato, então posso voltar depois disso. Só vejo pontos positivos, e tenho alguma inveja das minhas colegas de time que moram em Barcelona, que jogam em alto nível com a família e os amigos por perto. Espero que se viva uma situação assim na Eredivisie, e acho que estamos bem envolvidas nisso".

De fato, se a base da seleção feminina neerlandesa está inalterada - e assim seguirá até Tóquio, provavelmente -, aqui e ali já se começa a mencionar a chance de retorno dos grandes símbolos do título europeu de 2017 e do vice na Copa do Mundo passada. Até porque, aqui e ali, algumas novatas são chamadas: Aniek Nouwen, Lynn Wilms, Fenna Kalma, a estreante Van Domselaar. Além do mais, a favorita a suceder Sarina Wiegman também já está acostumada ao trabalho com jogadoras mais novas: Jessica Torny, atual comandante da seleção sub-20. 

Podem ser elas os nomes que simbolizem um novo ciclo da seleção feminina nos próximos anos. Porque mesmo que as principais jogadoras continuem nas Leoas Laranjas por uns bons anos, é inegável que a saída de Sarina Wiegman é o primeiro sinal de que algo está acabando. E os últimos dias antes do fim disso começam agora, na volta da seleção feminina.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Um jogo, um parágrafo, um vídeo: a 1ª rodada da Eredivisie

Heerenveen 2x0 Willem II (sábado, 12 de setembro)

Pelo menos na pré-temporada, o Heerenveen deu muitos motivos para que sua torcida se preocupasse: afinal, não ganhou nenhuma partida de preparação. E pelo menos no começo do primeiro jogo do Campeonato Holandês 2020/21, o Willem II até começou pressionando mais - por exemplo, com Ché Nunnely. Mas logo o time da casa se refez, ainda no meio do primeiro tempo, e começou a criar chances. Coube a Lucas Woudenberg premiar a ousadia do Fean: aos 22', o lateral esquerdo tabelou com Arjen van der Heide (boa estreia), chegou à área e tocou na saída do goleiro Robbin Ruiter para marcar o primeiro gol da Eredivisie. Aí, o jogo entrou num agradável equilíbrio. Já no segundo tempo, o Willem II se frustrou - aos 55', Vangelis Pavlidis até balançou as redes, mas o VAR anulou o gol, por impedimento do grego. Foi a deixa para o Heerenveen crescer ainda mais. O atacante Henk Veerman perdeu duas boas chances. Na primeira oportunidade que teve, o zagueiro polonês Pawel Bochniewicz também errou. Já na segunda, aos 75', o estreante Bochniewicz aproveitou: cabeceio, bola na rede, 2 a 0. Uma vitória para mostrar aos torcedores do Heerenveen que não há mal que nunca se acabe.


Zwolle 0x2 Feyenoord (sábado, 12 de setembro)

O jogo no estádio MAC³Park (agora com grama real, ao invés da sintética) nem bem começara, o Zwolle nem bem pressionara, e o Feyenoord já ficava na frente do placar. Por obra e graça de seu destaque: após receber passe de Mark Diemers, logo aos 5', Steven Berghuis arriscou o chute de fora, e mandou a esférica no canto direito do goleiro do Zwolle, Michael Zetterer. Vantagem precoce e valiosa para o Stadionclub. Até porque o time da casa buscou mais o empate na etapa inicial: em dois chutes de Mike van Duinen para fora (aos 10' e aos 20'), num arremate cruzado de Sai van Wermeskerken aos 23', num cruzamento de Kenneth Paal rebatido pelo goleiro Justin Bijlow aos 39'. O Feyenoord só deu novo sinal de vida aos 43': Diemers passou a Nicolai Jorgensen, e o dinamarquês bateu para Zetterer espalmar. A etapa final começou, e os "Dedos Azuis" mandantes continuaram rondando mais a área. Só que o Feyenoord, nos contragolpes, começou a trazer perigo. Aos 65', o estreante Bryan Linssen só foi impedido pela chegada exata de Thomas Lam. Dois minutos depois, Lam não foi tão certo no desarme: puxou Linssen, o juiz Bas Nijhuis apitou pênalti, e Berghuis cobrou para o 2 a 0. Nem foi necessário o Feyenoord ser brilhante: bastou ser competitivo.


Twente 2x0 Fortuna Sittard (sábado, 12 de setembro)

Até que o gol do Twente demorou: já depois de alguns minutos de jogo no estádio Grolsch Veste, o volante Wout Brama quase acertou o gol, após rebote mal dado do goleiro Alexei Koselev. Aos 10', porém, os Tukkers enfim comemoraram: Jayden Oosterwolde (estreia promissora na lateral esquerda) passou a bola a Queensy Menig, que trouxe para o meio, arrematou e abriu o placar. Bastou para que se visse um equilíbrio maior, mesmo sem tanta qualidade nas finalizações: de um lado, Emil Hansson perdeu a chance do empate para o Fortuna Sittard, e do outro, Danilo mandou para fora, com o gol vazio, após Jesse Bosch recuperar outro rebote de Koselev. Pelo menos, o atacante brasileiro emprestado pelo Ajax pôde consertar, no segundo tempo, do melhor jeito possível: após pênalti de Branislav Ninaj em Bosch, Danilo cobrou sem problemas e garantiu a vitória do Twente.


Emmen 3x5 VVV-Venlo (domingo, 13 de setembro)

O Emmen ficou conhecido por ser um time que, mesmo pequeno, se mantém na Eredivisie graças aos ótimos resultados em casa - e eles pareciam continuar nesta estreia, quando, logo aos 4', Robbert de Vos aproveitou rebote de chute de Caner Cavlan para fazer 1 a 0, no gol mais precoce dos Emmenaren em sua história na primeira divisão. Mais do que isso: já no segundo tempo, aos 49', quando Marko Kolar ampliou a vantagem dos mandantes (chute após Cavlan ajeitar), parecia que era o fim para o VVV-Venlo. Que nada: era apenas o começo de um tremendo dia para Georgios Giakoumakis, estreante nos Venlonaren. Aos 51', o atacante grego completou cruzamento para diminuir; aos 65', após o VAR alertar um pênalti (bola na mão de Michael Chacón), Giakoumakis empatou; e aos 71', ele virou para o VVV-Venlo. Estava acabado? Nada disso, porque aos 76', Nikolai Laursen empatou para o Emmen. Só que os visitantes de Venlo conseguiram o alívio no fim: aos 90', Tobias Pachonik fez 4 a 3, e Jafar Arias ainda marcou nos acréscimos. Um placar cheio de gols: de fato, o Campeonato Holandês está de volta.


Heracles Almelo 2x0 ADO Den Haag (domingo, 13 de setembro)

Nem mesmo a profunda reformulação por que o ADO Den Haag passou na longa pausa fez com que o time de Haia mostrasse algo melhor na estreia: o Heracles dominou o jogo desde o começo. No primeiro tempo, tentativas de Tim Breukers (aos 38') e Silvester van der Water (aos 40') mostraram o comando dos Heraclieden em Almelo. Tão logo o segundo tempo começou, veio o gol que já tardava: aos 49', Van der Water cobrou escanteio, e Rai Vloet cabeceou para o 1 a 0. Já o Den Haag se viu tão azarado que, justamente no seu único momento perigoso na etapa complementar, deu o espaço para o contra-ataque decisivo dos Almelöers: Michiel Kramer perdeu chance do empate para os visitantes, o time da casa partiu em rápido contragolpe, e Van der Water concluiu para as redes: 2 a 0.


Sparta Rotterdam 0x1 Ajax (domingo, 13 de setembro)

Até que o Ajax tentou se insinuar cedo no ataque - aos 6', Dusan Tadic cabeceou para a defesa do goleiro Benjamin van Leer, e aos 20', Ryan Gravenberch mandou a bola perto do gol. Porém, as coisas se dificultaram para os Ajacieden aos 26', de modo polêmico: um lançamento longo foi interceptado por Nicolás Tagliafico antes que a bola chegasse a Mohamed Rayhi. O argentino desviou com a mão na bola, mesmo acidentalmente - e isso bastou para o juiz Jochem Kamphuis expulsá-lo diretamente (julgando que a interceptação de Tagliafico fora faltosa). Com um homem a mais, o Sparta se animou. Até tentou algo, num chute de Deroy Duarte, aos 37'. Mas justamente nesse momento de dificuldade, o Ajax abriu o placar: aos 38', Antony arriscou de fora da área, a bola desviou no gramado, e Van Leer se deixou enganar, falhando no 1 a 0 dos visitantes - primeiro gol do atacante brasileiro em jogos oficiais pelo seu novo clube. Houve até chance para ampliar, aos 44' (Sergiño Dest passou a Tadic, mas o sérvio finalizou em cima de Van Leer). Mas, vantagem garantida, os Ajacieden passaram o segundo tempo se preservando. E os Spartanen começaram buscando o ataque no segundo tempo: o goleiro André Onana evitou o empate em chutes de Abdou Harroui, aos 48', e Danzell Gravenberch - irmão mais velho de Ryan -, aos 64'. Depois, o time da casa só teve chance de empate aos 68', quando Bart Vriends desviou cruzamento por cima do gol. E o Ajax, mesmo sem brilhar, garantiu a vitória sem maiores problemas.


Groningen 1x3 PSV  (domingo, 13 de setembro)

O grande destaque pré-jogo era a escalação de Arjen Robben como titular, em sua primeira partida oficial após reativar sua carreira. Só que foi o PSV que começou atacando: já aos 6', Sam Lammers deixou a Donyell Malen, que completou para grande defesa de Sergio Padt - na sequência, o zagueiro Bart van Hintum impediu o gol de Mauro Júnior. O Groningen até atacou aos 19' (um chute de Damill Dankerlui, para fora), mas teve um grande golpe aos 29': ao começar uma arrancada, Robben sentiu uma dor muscular. E saiu, irritado pela decepção, que se espalhou pela torcida. E piorou, por mérito do PSV: aos 34', Cody Gakpo recebeu de Pablo Rosario, driblou dois e chutou baixo para o 1 a 0. O time da casa só se refez do baque da saída de Robben no fim da primeira etapa - num chute de Ramon-Pascal Lundqvist que o goleiro Yvon Mvogo espalmou aos 44'. No começo da etapa final, um grave erro do próprio Mvogo "entregou" o empate ao Groningen, aos 54': o suíço repôs a bola nos pés de Jörgen Strand Larsen, que passou a Tomas Suslov (substituto de Robben no jogo), autor do 1 a 1. A animação dos mandantes cresceu. Mas esfriou logo aos 58', numa triangulação que recolocou o PSV na frente: de Jordan Teze para Noni Madueke, e deste para Malen entrar na área, tocar por baixo de Padt e fazer 2 a 1. O triunfo estava encaminhado, e o PSV teve mais chances: Malen acertou a trave aos 74' e perdeu um pênalti aos 83', mas aos 87', num contragolpe, Gakpo fechou o placar de uma merecida vitória.


RKC Waalwijk 0x1 Vitesse (domingo, 13 de setembro)

O RKC Waalwijk só ficou na primeira divisão holandesa pela interrupção precoce; já o Vitesse tinha boas perspectivas de disputar a repescagem por vaga na Liga Europa, antes da pandemia. E o primeiro tempo da estreia de ambos deixou bem clara a diferença de nível. Os visitantes de Arnhem tiveram três chances só com Loïs Openda; já os Católicos só chegaram perto do gol em duas cobranças de falta, de James Efmorfidis - Vurnon Anita até iria chutar perigosamente, mas na hora H, os hidrantes do estádio Mandemakers foram acionados acidentalmente e o jogo teve de parar. Gol, só nos acréscimos: aos 45' + 3, Oussama Darfalou recebeu passe de Matus Bero e tocou na saída do goleiro Kostas Lamprou para o 1 a 0 do Vites. Na etapa complementar, até que o RKC tentou mais o empate, com Finn Stokkers e até numa trapalhada do lateral esquerdo adversário, Jacob Rasmussen. Mas o Vitesse manteve a vantagem.


Utrecht 2x2 AZ (domingo, 27 de dezembro)

O jogo adiado da primeira rodada mostrou um AZ bastante ofensivo, com posse de bola e pressão. O chute de Jesper Karlsson, aos 7', foi uma mostra razoável disso. Recolhido, o Utrecht só esperava o espaço para o contragolpe, confiando na rapidez de Gyrano Kerk. Pois justamente Kerk lançou para Eljero Elia fazer 1 a 0, aos 31' - o VAR ainda apurou impedimento, mas validou o lance. De quebra, Kerk quase ampliou, aos 35', em chute cruzado. Só restou ao AZ tentar mais eficiência. Karlsson quase fez aos 48', Myron Boadu perdeu aos 57'... e o VAR que decidira contra decidiu a favor dos Alkmaarders, aos 64': julgou pênalti de Simon Gustafson (mão na bola), e Teun Koopmeiners converteu para o 1 a 1. De quebra, aos 83', Koopmeiners passou para Calvin Stengs chutar de fora da área, virando o jogo. O jogo animado terminou com o Utrecht numa pressão irrespirável em busca do empate - que veio, aos 90 + 3, com Adrián Dalmau. Alívio maior para os Utregs, decepção nos Alkmaarders.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Guia da Eredivisie 2020/21: certas coisas nunca mudam

Ninguém foi o dono desta salva de prata dada ao campeão holandês: a pandemia impediu o fim da Eredivisie 2019/20. Impedirá de novo? (Divulgação/KNVB)

O Campeonato Holandês da temporada 2019/20 estava atraente. Certo, como quase sempre ocorre, o Ajax era um dos times a disputar o título. Só que o AZ aparentava ter consertado os problemas de constância do seu desempenho. Ganhara os dois jogos dos Ajacieden, no turno e no returno - com destaque para a atuação categórica nos 2 a 0 em Amsterdã, na 26ª rodada, empatando em pontos com o Ajax na liderança e buscando seu primeiro título desde 2009, fazendo crer num final eletrizante de Eredivisie. Até porque, seis pontos atrás dos dois, estava o Feyenoord: uma sequência longa de invencibilidade (incluindo dez vitórias) levara o Stadionclub a poder sonhar levemente com o segundo título holandês em quatro anos. 

De quebra, a equipe de Roterdã ainda estava na final da Copa da Holanda, na qual enfrentaria o Utrecht - que também fazia bonito na Eredivisie, sendo presença regular na zona de repescagem por um lugar na Liga Europa. Até acima do Utrecht, estava o Willem II, considerado até então a surpresa mais agradável da temporada, se impondo até diante dos grandes (vencera PSV e Ajax) com um time veloz e ofensivo. Mesmo na disputa para fugir da zona de repescagem/rebaixamento, ainda que RKC Waalwijk e ADO Den Haag parecessem condenados, a vaga na repescagem de acesso/descenso prometia outro drama. Fortuna Sittard, Zwolle, Twente, VVV-Venlo: vários clubes sofreriam até a salvação, ou não.

Mas no meio do caminho tinha (e tem) uma pandemia, tinha (e tem) uma pandemia no meio do caminho. E nunca nos esqueceremos dela e de seus efeitos, na vista de nossas retinas tão fatigadas. 

Para o futebol da Holanda (Países Baixos), os efeitos começaram no dia 12 de março, quando o Campeonato Holandês foi interrompido - poucos dias depois do primeiro caso de COVID-19 ser descoberto no país, na cidade de Groningen. Então, ainda se sonhava com o retorno da Eredivisie antes do fim da temporada 2019/20, dentro das restrições que se fizeram necessárias. Mas o governo neerlandês (leia-se o premiê Mark Rutte e o ministro da Saúde, Hugo de Jonge) puseram fim a essas perspectivas, decretando que eventos públicos de grande porte estavam proibidos no país, até 1º de setembro. Para piorar, a resolução do que seria da temporada 2019/20 foi mal feita. A federação empurrou a decisão para os clubes, que estavam obviamente constrangidos em definirem os destinos dos "pares", fizeram uma votação confusa... e o que começou errado terminou errado: à revelia da votação, a federação definiu encerrar a temporada sem campeões, nem rebaixados. Claro, a decepção foi grande. Mas havia coisas mais importantes do que os rumos de um torneio de futebol. 

E elas ainda estão aí, seis meses depois, quando o Campeonato Holandês 2020/21 vai enfim começar, neste sábado. Clubes como Feyenoord e Ajax já abrirão espaço, com restrições, para alguns torcedores irem aos estádios (o Ajax, por exemplo, pretende ter 15 mil pessoas na Johan Cruyff Arena). E não é só: diretor da Eredivisie CV, entidade que comanda a liga, Jan-Paul de Jong anunciou para outubro a ampliação da capacidade dos estádios, até prevendo que os torcedores possam ficar a menos de 1,5m de distância - o habitual, nestes tempos de distanciamento social. De Jong justificou drasticamente: "Mais um ano de estádios sem público, e seria o fim do futebol profissional na Holanda (Países Baixos)". 

Algo que colide com um fato puro e simples: o fantasma da COVID-19 ainda está vivo e forte naquele país. Tão forte que, nesta semana, após alguns meses, o número de infectados pelo novo coronavírus nos Países Baixos voltou a passar de mil (nesta quinta, dia 10, foram 1270 infectados). Ou seja: dependendo da progressão da "segunda onda", logo a Eredivisie 2020/21 pode ser interrompida, como a passada foi. E Hugo de Jonge, ministro da Saúde, já se opôs à ideia de aumentar o público: "Conversamos com a federação, temos uma linha, e dela não nos podemos afastar".

O Feyenoord liberou uma pequena quantidade de público para jogos em seu estádio. Pelo menos, enquanto a pandemia deixar (ANP)

Pelo menos, agora a federação já está mais preparada para casos extremos como o atual. Em reunião com os clubes profissionais (ou seja, primeira e segunda divisões), a KNVB decidiu os rumos a serem tomados. Caso a Eredivisie seja interrompida antes de todos os 18 clubes terem jogado a metade das 34 partidas da temporada regular, o campeonato será encerrado sem campeões nem rebaixados/promovidos, e a resolução das vagas nas competições europeias será feita em função do ranking holandês na UEFA. Caso a interrupção venha com todos os clubes tendo passado da metade dos jogos, campeões, rebaixados e promovidos serão definidos só em caso de posição inquestionável (por exemplo: se um clube estiver muito à frente na primeira posição, será campeão, mas se a disputa pelo rebaixamento ainda estiver indefinida, ninguém cai e ninguém sobe), com vagas nos torneios continentais disputadas em função das posições na tabela, naquele momento. Finalmente, se a liga for interrompida com 85% das rodadas já disputadas, aí sim, campeões, rebaixados e promovidos serão definidos em função das colocações naquele momento, bem como os classificados aos torneios europeus. 

E agora, são três as perspectivas para um clube neerlandês jogar competições continentais. Há a Liga dos Campeões (o campeão da Eredivisie já terá lugar direto na fase de grupos; o vice-campeão irá para a segunda fase preliminar). Haverá a Liga Europa, para a qual só irá o campeão da Copa da Holanda. E haverá... a Liga das Conferências da Europa, torneio criado pela UEFA para começar em 2021/22: o terceiro colocado de 2020/21 irá para a terceira fase preliminar da Conference League, e para a segunda fase preliminar vai o vencedor da "repescagem" (play-offs) entre o 4º e o 7º colocados da Eredivisie. Pois é: a "repescagem" para definir uma vaga em torneio europeu continua. Assim como as regras do rebaixamento: último e penúltimo colocado caem direto, antepenúltimo terá a "segunda chance" na repescagem com os times da segunda divisão. 

Entre os times que sonham com o título, o PSV, remodelado sob o comando de Roger Schmidt, sonha ser mais ofensivo para voltar a disputar a sério a Eredivisieschaal. O Feyenoord está regular, mas melhor estruturado do que estava em 2019/20. A pré-temporada do AZ foi preocupante (somente uma vitória), mas bem ou mal, as revelações devem seguir em Alkmaar por mais uma temporada. O Willem II e o ambicioso Utrecht são, novamente, candidatos a surpresas.  Sem contar o Groningen, que atrai uma pergunta: o que fará Arjen Robben em seu retorno aos gramados? Mas é fato: o Ajax desponta como o mais forte. Contratou melhor, tem mais dinheiro, e fez uma pré-temporada de respeito, como único dos 18 clubes da primeira divisão da Holanda (Países Baixos) que não perdeu nenhum amistoso de preparação. 

Certas coisas nunca mudam. Nem mesmo com a pandemia. 

Bem, pelo menos a exibição dos jogos na televisão brasileira mudará um pouco: nesta última temporada do contrato atual de direitos de transmissão, há a novidade da FOX Sports, que passará a dividir as transmissões com os canais ESPN, parceiros de Grupo Disney que agora são.

Mas também não muda o guia da Eredivisie feito por este blog(ueiro) a cada temporada. Fica o convite para a leitura das perspectivas do Campeonato Holandês 2020/21, em cada clube.

Guia da Eredivisie 2020/21: Zwolle

Com a saída de outros atacantes, Reza Ghoochannejhad terá de justificar no Zwolle o papel de "homem-gol" que ganhou em outros clubes holandeses. Se o fizer, diminuem-se os perigos de outra temporada sofrida dos "Dedos Azuis" (Divulgação/peczwolle.nl)

Prins Hendrik Ende Desespereert Nimmer Combinatie - PEC Zwolle

Cidade: Zwolle
Estádio: Mac³Park (capacidade para 13.250 torcedores)
Apelidos: Zwollenaren, Dedos Azuis (em holandês, "Blauwvingers")
Títulos: nenhum, no Campeonato Holandês (uma Copa da Holanda e uma Supercopa da Holanda)
Patrocínio: Molecaten (empresa organizadora de acampamentos)
Técnico: John Stegeman
Destaque: Reza Ghoochannejhad (atacante)
Fique de olho: Slobodan Tedic (atacante)
Brasileiros no grupo de jogadores: nenhum
Quando a temporada passada foi interrompida, estava na... 15ª colocação
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: escapar do rebaixamento
Amistosos de pré-temporada:
1º de agosto - Cambuur 2x0 Zwolle
5 de agosto - AZ 0x1 Zwolle
9 de agosto - Heracles Almelo 0x1 Zwolle
14 de agosto - Groningen 0x2 Zwolle
21 de agosto - Team VVCS 1x0 Zwolle
24 de agosto - Emmen 0x1 Zwolle
29 de agosto - Zwolle 0x2 Utrecht
5 de setembro - Heerenveen 0x1 Zwolle
Principais chegadas: Rico Strieder (M, Utrecht), [Clint Leemans (M, RKC Waalwijk)], Immanuel Pherai (M, Borussia Dortmund-ALE), Jesper Drost (M, Heracles Almelo) e Slobodan Tedic (A, Manchester City-ING)
Principais saídas: Etiënne Reijnen (D, encerrou a carreira), Gustavo Hamer (D/M, Coventry City-ING), Zian Flemming (M, Fortuna Sittard), Lennart Thy (M/A, Sparta Rotterdam), Stanley Elbers (A, dispensado), [Dennis Johnsen (A, Ajax)] e Vito van Crooij (A, VVV-Venlo)
Grupo de jogadores
Valor de mercado: 13,15 milhões de euros (via Transfermarkt)

Legenda
Jogador (posição, clube)
Transferência definitiva
[Transferência definitiva após empréstimo]
Empréstimo
[retorno de empréstimo]

Desde que retornou à primeira divisão na Holanda (Países Baixos), o Zwolle vive uma "queda gradual". Viveu o auge de sua história nos primeiros anos - como esquecer o histórico 2013/14, com título na Copa da Holanda tendo um 5 a 1 no Ajax (no Ajax!) na final?! -, mas vem caindo ano após ano, voltando a sofrer a ameaça da volta à segunda divisão. Às vezes com mais dificuldades, às vezes menos. Na temporada passada, era "mais": quando o Campeonato Holandês foi interrompido, os "Dedos Azuis" estavam em 15º lugar - a primeira posição fora da zona de repescagem/rebaixamento -, empatados em pontos com o Fortuna Sittard (16º), só se safando pelo melhor saldo de gols.

De lá para cá, algumas coisas melhoraram, e outras pioraram. Por um lado, a defesa se manteve relativamente intacta na janela de transferências, o começo dos amistosos de pré-temporada foi promissor, o iraniano Reza "Gucci" Ghoochannejhad é um "homem-gol" dos mais confiáveis a jogar no Campeonato Holandês. Por outro lado, Reza ficou "isolado" com a saída progressiva de vários nomes que o acompanhavam no ataque dos Zwollenaren (Lennart Thy, Dennis Johnsen, Vito van Crooij), Gustavo Hamer é saída sentida (o volante holandês nascido na cidade catarinense de Itajaí protegia bem a zaga) e os últimos resultados na reta final da preparação não são dos mais promissores. Enfim, só o transcorrer da temporada revelará se esta Eredivisie será de mais ou de menos dificuldades no projeto do presidente Adriaan Visser para tornar o Zwolle um time regular na primeira divisão. Até aqui, com dificuldades, tudo bem.

Guia da Eredivisie 2020/21: Willem II

Com um time agradável de se ver jogar, o Willem II teve a vaga na Liga Europa "jogada" em seu colo pela pandemia. Caberá a nomes como Pavlidis manter os Tricolores em alta (BSR Agency)

 Willem II Tilburg

Cidade: Tilburg 
Estádio: Koning Willem II (capacidade para 14.500 torcedores)
Apelidos: Tilburgers, Tricolores
Títulos: 3 Campeonatos Holandeses
Patrocínio: Destil (loja de equipamentos para empresas)
Técnico: Adrie Koster
Destaque: Vangelis Pavlidis (atacante)
Fique de olho: Kwasi Wriedt (atacante)
Brasileiros no grupo de jogadores: nenhum
Quando a temporada passada foi interrompida, estava na... 6ª colocação
Copas europeias: Liga Europa (enfrentará o Progrès Niederkorn-LUX, na segunda fase preliminar)
Objetivo: meio da tabela/vaga nos play-offs pela Liga das Conferências
Amistosos de pré-temporada:
8 de agosto - Willem II x Ijsselmeervogels - CANCELADO
14 de agosto - Willem II 2x1 VVV-Venlo
21 de agosto - Willem II 1x1 PSV
25 de agosto - Willem II 1x1 Gent-BEL
29 de agosto - Willem II 2x2 Team VVCS
4 de setembro - Racing Genk-BEL x Willem II - CANCELADO
Principais chegadas: Robbin Ruiter (G, PSV), Jorn Brondeel (G, Twente), Jan-Arie van der Heijden (D, Feyenoord), Leeroy Owusu (D, De Graafschap), Derrick Kohn (D, Bayern de Munique II-ALE) e Kwasi Wriedt (A, Bayern de Munique II -ALE)
Principais saídas: Timon Wellenreuther (G, Anderlecht-BEL), Michael Woud (G, Almere City), Damil Dankerlui (D, Groningen), [Bart Nieuwkoop (D, Feyenoord)], Fernando Lewis (D, Quick Boys) e [Marios Vrousai (A, Olympiacos-GRE)]
Grupo de jogadores
Valor de mercado:
19,75 milhões de euros (via Transfermarkt)

Legenda
Jogador (posição, clube)
Transferência definitiva
[Transferência definitiva após empréstimo]
Empréstimo
[retorno de empréstimo]

Muitos clubes do Campeonato Holandês foram "salvos pelo gongo" com a pandemia: faziam temporadas terríveis, corriam sérios riscos de rebaixamento, mas acabaram ficando na Eredivisie pela polêmica decisão da federação em encerrar a temporada 2019/20. Outros clubes - bem, na verdade só um, o Utrecht - faziam ótima temporada, tinham chances de alcançarem vagas em competições continentais, mas o encerramento da liga acabou abruptamente com o sonho. E o Willem II, por sua vez, mostrava um ótimo desempenho no torneio, ganhara de PSV e Ajax (aqui, em plena Johan Cruyff Arena), estava na zona da repescagem por uma vaga na Liga Europa... e esta acabou caindo no colo dos Tricolores, com o fim da temporada.

De certa forma, um prêmio merecido para um time veloz e ofensivo: fosse pelas laterais ou com as triangulações de Ché Nunnely, Vangelis Pavlidis e Mats Köhlert no ataque, os Tilburgers foram uma surpresa positiva na Eredivisie passada, num bom trabalho do experiente Adrie Koster como técnico. Pois bem, todos os citados seguem na cidade de Tilburg. Mais: as raras contratações necessárias foram feitas. O gol é um bom exemplo disso: se Timon Wellenreuther se foi para o Anderlecht, o experiente Robbin Ruiter foi uma vinda que manteve a qualidade na posição. Atrair dois nomes do time B do Bayern de Munique também é um sinal de como a consistência do Willem II ainda continua lhe trazendo dividendos, entre uma temporada e outra. Para continuar nessa boa fase, só depende do time. Ou da pandemia...

Guia da Eredivisie 2020/21: VVV-Venlo

O VVV-Venlo trouxe nomes como Jafar Arias (foto) para tentar seguir sendo osso duro de roer, com alguma capacidade ofensiva e defesa bem fechada (Divulgação/vvv-venlo.nl)

Venlose Voetbal Vereniging

Cidade: Venlo
Estádio: De Koel (capacidade para 8.000 torcedores) - também chamado "Seacon Stadion", pelo patrocínio do clube
Apelido: Venlonaren
Títulos: nenhum Campeonato Holandês (1 Copa da Holanda, em 1958/59)
Patrocínio: Seacon (empresa de logística)
Técnico: Hans de Koning
Destaque: Peter van Ooijen (meio-campista)
Fique de olho: Jafar Arias (atacante)
Brasileiros no grupo de jogadores: nenhum
Quando a temporada passada foi interrompida, estava na... 13º colocação
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: escapar do rebaixamento
Amistosos de pré-temporada:
21 de julho - Sporting ST 0x19 VVV-Venlo
26 de julho - EVV Echt 0x2 VVV-Venlo
14 de agosto - Willem II 2x1 VVV-Venlo
18 de agosto - Jong PSV x Fortuna Sittard - CANCELADO
22 de agosto - Team VVCS 2x2 VVV-Venlo
26 de agosto - Fortuna Sittard 2x1 VVV-Venlo
29 de agosto - VVV-Venlo 0x1 SV Straelen-ALE
4 de setembro - VVV-Venlo 0x4 Borussia Mönchengladbach-ALE
Principais chegadas: [Roy Gelmi (D, Thun-SUI)], Arjan Swinkels (D, Mechelen-BEL), Ante Coric (M/A, Roma-ITA), Guus Hupperts (A, Lokeren-BEL), Jafar Arias (A, Emmen), Joshua John (A, sem clube) e Vito van Crooij (A, Zwolle)
Principais saídas: Nils Röseler (D, SV Sandhausen-ALE), Roel Janssen (D, Fortuna Sittard), Lee Cattermole (M, encerrou a carreira), [Thomas Bruns (M, Vitesse)], [Oussama Darfalou (A, Vitesse)], Haji Wright (A, Sonderjyske-DIN), [John Yeboah (A, Wolfsburg-ALE)], [Jerome Sinclair (A, Watford-ING)] e Johnatan Opoku (A, De Graafschap)
Valor de mercado: 8,1 milhões de euros (via Transfermarkt)

No decorrer da temporada passada, 
Legenda
Jogador (posição, clube) 
Transferência definitiva
[Transferência definitiva após empréstimo]
Empréstimo
[retorno de empréstimo]

Desde antes da temporada ser interrompida pela pandemia, o time aurinegro de Venlo já sofria (de novo...) com a ameaça do rebaixamento. Até por isso, já passara por uma troca de técnicos - Robert Maaskant dera lugar a Hans de Koning -, já trouxera uma barca de reforços em janeiro para tentar salvar o que poderia nos meses finais de temporada. O destino acabou livrando os Venlonaren das últimas posições e garantiu mais um ano na primeira divisão. Todavia, isso não significa que a temporada a se iniciar será de respiro para o VVV. Até porque vários dos nomes que causavam algum raro perigo ao adversário deixaram Venlo: uns por retorno de empréstimo - Haji Wright, John Yeboah, Jerome Sinclair -, outro por venda (Johnatan Opoku, talvez o melhor). 

Para piorar, os dois laterais titulares numa defesa entrosada, Nils Röseler e Roel Janssen, também são defecções sentidas. Pelo menos, Hans de Koning ficou, e isso tem alguma importância, técnico acostumado a trabalhar com clubes pequenos no futebol holandês como ele é. Assim como raros nomes que ajudam no estilo habitualmente fechado que o VVV-Venlo mostra em campo: bons exemplos são o goleiro Thorsten Kirschbaum e o zagueiro Christian Kum. Outros reforços podem ter alguma utilidade, como o zagueiro Arjan Swinkels (com muitos anos de Willem II antes da passagem pela Bélgica) e os atacantes Jafar Arias (um bom nome no Emmen) e Vito van Crooij (de volta). Mas o fato é que as perspectivas são negativas. Não negativas como as de outros clubes, mas fazem imaginar outra temporada de dificuldades. Só o transcorrer dela revelará se o VVV-Venlo está preparado para se salvar.

Guia da Eredivisie 2020/21: Vitesse

O atacante Armando Broja é o empréstimo da vez que o "parceiro oficioso" Chelsea fez para o Vitesse - que tentará superar problemas internos para, enfim, decolar (Divulgação/Pro Shots/vitesse.nl)

Stichting Betaald Voetbal Vitesse

Cidade: Arnhem
Estádio: GelreDome (capacidade para 21.248 torcedores)
Apelidos: Vites, Arnhemmers 
Títulos: nenhum Campeonato Holandês (1 Copa da Holanda) 
Patrocínio: Openlucht Museum (propaganda de museu em Arnhem - apenas na camisa titular), Burger Zoo (propaganda de zoológico em Arnhem - apenas na camisa reserva) e Prins (fabricante de comida para animais - apenas nas costas da camisa)
Técnico: Thomas Letsch
Destaques: Remko Pasveer (goleiro) e Oussama Tannane (meio-campista/atacante)
Fique de olho: Thomas Buitink (atacante) 
Quando a temporada passada foi interrompida, estava na... 7ª colocação
Brasileiros no grupo de jogadores: nenhum
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: vaga nos play-offs pela Liga das Conferências/vaga direta na Liga das Conferências
Amistosos de pré-temporada:
18 de julho - Vitesse 3x3 Jong Utrecht
26 de julho - Volendam 0x5 Vitesse
31 de julho - Vitesse 4x2 Westerlo-BEL
7 de agosto - Heerenveen 1x2 Vitesse
15 de agosto - PSV 1x1 Vitesse
22 de agosto - ADO Den Haag 2x2 Vitesse
28 de agosto - Vitesse 2x2 Fortuna Düsseldorf-ALE
5 de setembro - Vitesse 2x2 Darmstadt-ALE
Principais chegadas: Jacob Rasmussen (D, Fiorentina-ITA), Maximilian Wittek (D, Greuther Fürth-ALE), [Thomas Bruns (M, VVV-Venlo)], [Oussama Tannane (M, Saint Etienne-FRA)], Loïs Openda (A, Club Brugge-BEL) e Armando Broja (A, Chelsea-ING)
Principais saídas: Kostas Lamprou (G, RKC Waalwijk), Julian Lelieveld (D, De Graafschap), [Armando Obispo (D, PSV)], Bryan Linssen (A, Feyenoord), Tim Matavz (A, Al Wahda-EAU) e [Charly Musonda (A, Chelsea-ING)]
Grupo de jogadores
Valor de mercado: 20,15 milhões de euros (via Transfermarkt)

Legenda
Jogador (posição, clube)
Transferência definitiva
[Transferência definitiva após empréstimo]
Empréstimo
[retorno de empréstimo]

Há pelo menos duas temporadas que o Vitesse tem tudo para dar certo, tudo para ser outro clube a chegar esperançosamente perto do topo do Campeonato Holandês... mas se perde. Por vários fatores: a própria timidez quando enfrenta os grandes clubes, problemas internos (por sinal, fator que encurtou a permanência do russo Leonid Slutsky à frente do time), a inconstância dos destaques. E nesta temporada, por sinal, as perspectivas não são de destaque imediato. Até porque o Vites perdeu, talvez, os dois mais representativos nomes de seu ataque com as saídas de Tim Matavz e Bryan Linssen.

No entanto, a maior parte da base do time de Arnhem segue lá. Na defesa, o goleiro Remko Pasveer (experiente, dos melhores do campeonato) e o zagueiro Danilho Doekhi; no meio-campo, Matus Bero, Riechedly Bazoer - novamente, mais uma chance ao volante de inconstante temperamento - e Oussama Tannane, agora em definitivo. No ataque, o novato Thomas Buitink, centroavante promissor, deve se tornar o titular, ao lado dos emprestados Loïs Openda e Armando Broja (este, o empréstimo "de sempre" do Chelsea). Com todos esses nomes, o alemão Thomas Letsch chegou, para tentar manter a ofensividade típica do clube aurinegro, ano após ano. A ver se o Vitesse consegue viver uma melhor temporada.