quarta-feira, 4 de junho de 2025

Futuro do passado

Malen, Frimpong, Noa Lang, Xavi Simons (da esquerda para a direita): a nova geração parece pedir passagem na Holanda, e é isso que muitos querem (KNVB Media/Divulgação)

A seleção masculina da Holanda (Países Baixos) terminou as datas FIFA de março deixando ótima impressão na torcida. Certo, perdeu as quartas de final da Liga das Nações para a Espanha. Ainda assim, jamais se rendeu: levou as duas partidas a empates, teve momentos de superioridade sobre os espanhóis, mostrou espírito ofensivo e promissor como poucas vezes se viu nesta segunda passagem de Ronald Koeman no comando da Laranja. E é assim que torcida e imprensa locais esperam ver a equipe neerlandesa no caminho das eliminatórias da Copa de 2026, que começa nestas datas FIFA, contra Finlândia (sábado, 7, às 15h45 de Brasília, em Helsinque) e Malta (terça, 10, também às 15h45 do horário brasileiro, em Groningen - que volta a receber uma partida da seleção masculina, após 42 anos). Porém, já há a desconfiança de que não será assim.

A convocação de Ronald Koeman já foi criticada antes mesmo da bola rolar, por algumas opções consideradas conservadoras demais. No gol, trouxe algum burburinho a chamada de Kjell Scherpen, que há algum tempo perdeu a aura de "revelação" que tinha anos atrás, quando titular da seleção holandesa sub-21 (e jogando aqui e ali pelo Ajax). Mas foi um burburinho menor, até porque Scherpen será o terceiro goleiro: com o titular usual Bart Verbruggen poupado, por lesão leve, terá chances Mark Flekken, como o coroamento de uma boa fase, com a confirmação da transferência para o Bayer Leverkusen e a inclusão entre os 10 melhores goleiros do mundo em lista da IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol) - lista que incluiu o brasileiro João Ricardo, do Fortaleza.

O alarido ficou maior nas opções de linha feitas por Koeman. Na lateral esquerda, nada de Ian Maatsen; no meio, nada de Kenneth Taylor ou mesmo o jovem Sem Steijn, jamais convocado, goleador do Campeonato Holandês (24 gols pelo Twente - desde Jari Litmanen pelo Ajax, em 1993/94, um meio-campista não fazia tantos gols pela Eredivisie), rumando agora para o Feyenoord. E no ataque, nada de chances a nomes como Mexx Meerdink (AZ), Joël Piroe ou Zian Flemming, destaques em dois clubes que acabam de subir à primeira divisão inglesa - Piroe no Leeds United, Flemming no Burnley. Por mais que mereçam - e até merecem, pois têm experiência que não pode ser descartada -, Memphis Depay ou Wout Weghorst não encantam mais a torcida.

Ainda assim, Koeman defende a continuidade já estabelecida em seu time, a partir da coletiva de imprensa da terça passada, se referindo especialmente ao caso de Steijn: "Não depende só de quantos gols se faz, mas também é importante que o pessoal saiba que temos um grupo fixo. Se eu convocasse novos nomes, como ficariam os convocados contra a Espanha [na Liga das Nações]? O desafio para Steijn é mostrar na próxima temporada o que mostrou nesta". A postura causa polêmicas. Ainda mais porque a seleção sub-21 da Holanda (Países Baixos) se prepara para a Euro da categoria, na Eslováquia, a partir do dia 11, com uma geração considerada muito promissora - tendo até nomes como os citados Maatsen e Taylor -, e vinda de 100% nas eliminatórias (10 jogos, 10 vitórias), sob o comando do técnico Michael Reiziger. Sim, a Laranja Jovem pode não ter jovens badalados como França ou Portugal, mas tem tudo para boa campanha nesta Eurocopa juvenil.

Mas as polêmicas ainda são controladas. Bem ou mal, Koeman deixou claro que quer o que todos quantos acompanhem a Laranja querem: a repetição do padrão visto nos jogos de março contra a Espanha ("Se conseguimos jogar assim contra uma das melhores seleções do mundo, isso dá muita confiança"). E sabe que isso é possível, tendo em vista que se a Holanda perdeu na Liga das Nações, ganhou ao cair num grupo dos mais acessíveis nas eliminatórias europeias da Copa - o G, com Polônia, Finlândia, Lituânia e Malta ("É obrigatório terminarmos o grupo [das eliminatórias] em primeiro lugar. Mas primeiro, não devemos subestimar ninguém. Agora, que jogamos bem contra a Espanha, parece fácil, mas precisamos mostrar o que mostramos nos últimos jogos").

Todos "amam" Tijjani Reijnders. O Manchester City, ainda mais: contratação próxima para o meio-campista, tão titular da Laranja quanto Frenkie de Jong (KNVB Media/Divulgação)

E a Holanda é capaz disso, de fato. Se antes a fartura de opções se via mais na defesa - e ela continua assim: Denzel Dumfries, Virgil van Dijk (estes dois, absolutos em suas posições), Nathan Aké (voltando de lesão), o veterano Stefan de Vrij, Micky van de Ven, Jan Paul van Hecke -, agora a Laranja também não reclama de meio-campo. Se antes o setor parecia depender demais de Frenkie de Jong (que sofria com lesões), agora ele não só se mostrou redivivo em boa temporada europeia do Barcelona, como tem mais nomes de boa qualidade a seu lado. Como Ryan Gravenberch, também recuperado no Liverpool - a ponto de ter sido eleito o melhor jovem da temporada na Inglaterra (mesmo já tendo sete anos desde sua aparição no Ajax, em 2018/19). Ou como o badalado Tijjani Reijnders, cada vez mais titular holandês, cada vez mais perto de uma transferência para o Manchester City ("Eles ainda estão conversando com o Milan, nem me importo muito, quem cuida disso é meu pai. Mas claro que jogar na Premier League seria um sonho de criança").

A impressão é de que só falta um atacante de alto nível, como os de tempos idos, para a Holanda subir de prateleira definitivamente entre as seleções europeias. E o pedido é de que Ronald Koeman passe cada vez mais a notar que pode ousar mais, para que a Laranja não tenha somente o futuro do passado entre seus jogadores

Os 23 convocados da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA

Goleiros: Mark Flekken (Bayer Leverkusen-ALE), Nick Olij (Sparta Rotterdam) e Kjell Scherpen (Sturm Graz-AUT)

Defensores: Denzel Dumfries (Internazionale-ITA), Jeremie Frimpong (Liverpool-ING), Lutsharel Geertruida (RB Leipzig-ALE), Virgil van Dijk (Liverpool-ING), Jan Paul van Hecke (Brighton-ING), Stefan de Vrij (Internazionale-ITA), Micky van de Ven (Tottenham Hotspur-ING), Nathan Aké (Manchester City-ING) e Jorrel Hato (Ajax)

Meio-campistas: Frenkie de Jong (Barcelona-ESP), Tijjani Reijnders (Milan-ITA), Xavi Simons (RB Leipzig-ALE), Ryan Gravenberch (Liverpool-ING), Mats Wieffer (Brighton-ING) e Justin Kluivert (Bournemouth-ING)

Atacantes: Memphis Depay (Corinthians), Cody Gakpo (Liverpool-ING), Wout Weghorst (Ajax), Noa Lang (PSV) e Donyell Malen (Aston Villa-ING)

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