sexta-feira, 30 de julho de 2021

Ainda não dá

No futebol feminino olímpico, a Holanda mostrou mais valor diante dos Estados Unidos. Superou as falhas da defesa, com um ataque personificado na fenomenal Miedema. Mas errou na hora decisiva, e foi eliminada pelas experientíssimas americanas (Pim Ras)


A boa participação na fase de grupos do torneio olímpico de futebol feminino animou a Holanda (Países Baixos). A ponto do sonho de poder superar os Estados Unidos nas quartas de final ter motivado até palavras mais otimistas - Lieke Martens dizia que "tinha chegado a hora de tirá-las do torneio". E as Leoas Laranjas até que se esforçaram: se a defesa continuou falhando, o ataque (mais precisamente, Vivianne Miedema) deu problemas ao Team USA. Só que os momentos decisivos do jogo mostraram: as neerlandesas ainda têm o que aprender na hora da pressão. Por isso, estão eliminadas.

Poderiam ter sido eliminadas até durante o tempo normal, a bem da verdade. O que se esperava - até se temia - aconteceu: as norte-americanas começaram mostrando a força e a intensidade habitual em campo, pressionando uma zaga reconhecidamente frágil, deixando as atacantes da Holanda isoladas. Tanto que Tobin Heath até fez um gol anulado, aos 10', e quase marcou de cabeça, aos 14', sendo impedida por Sari van Veenendaal (e a trave). Porém, na primeira vez em que a Holanda escapou da pressão, aos 18', veio o gol. Com Miedema mostrando seu talento habitual: o domínio para cima de Abby Dahlkemper, o giro, o chute preciso no canto.

Seria notável manter uma vantagem no placar. Ainda mais diante do que os Estados Unidos seguiam mostrando no jogo, com os avanços de Samantha Mewis, a experiência de Tobin Heath, e principalmente, a habilidade de Lynn Williams, que renasceu no torneio olímpico. Titular pela primeira vez, coube a ela traduzir a superioridade ampla do Team USA ao fazer o cruzamento para que Mewis empatasse o jogo, aos 28', de cabeça, e marcar ela mesma o gol da virada, aos 31'. Diante de um miolo de zaga totalmente atarantado, com Stefanie van der Gragt dando muitos sustos e Dominique Janssen sendo superada por Williams na esquerda, era possível que houvessem mais gols estadunidenses.

A Holanda perdeu, mas Miedema ganhou: causou problemas à seleção norte-americana, com uma tremenda atuação, totalmente dominante no ataque (Pro Shots)

Não houve. Mais do que isso: houve a sequência da excepcional atuação que Miedema fazia no ataque. Mantinha a posse de bola, era marcada de perto (e superava a marcação), dava dores de cabeça às norte-americanas. Quase marcou antes do intervalo, aos 43', num cabeceio defendido por Alyssa Naeher. E logo no começo do segundo tempo, aos 54, num momento que parecia desanimado em Yokohama, o chute da camisa 9 entrou, após falha de Naeher. Era seu décimo gol em quatro jogos no torneio olímpico. Estava justificada a opinião da maioria holandesa que assistia ao jogo: "Miedema 2, Estados Unidos 2".

E o jogo ficou sério, muito sério. De um lado, Lineth Beerensteyn entrou no lugar de Van de Sanden, e foi enfim uma opção válida para fazer jogadas com Miedema. Do outro, as veteranas vieram a campo nos Estados Unidos, para resolver a parada: Christen Press, Alex Morgan, Megan Rapinoe... e vieram bem, atormentando a defesa laranja - tanto que Press fez mais um gol anulado, aos 63'. O jogo ficou muito igual. Poderia ter sido desempatado na bola do jogo, aos 81', quando Beerensteyn foi puxada por Dahlkemper. Lieke Martens bateu para aproximar os Países Baixos da consagração... mas bateu mal. Naeher pegou.

O drama até seguiu nos nove minutos restantes - e nos 30 minutos da prorrogação. De um lado, já no tempo extra, Miedema começou com duas chances nos dois primeiros minutos, e Martens chegou a um gol anulado. Do outro, mesmo com Aniek Nouwen melhorando na marcação, os espaços da Holanda na defesa eram um convite a ataques perigosos dos Estados Unidos: dois gols anulados no tempo extra (Press aos 109', Morgan aos 111'), e só Nouwen impediu um gol de Rapinoe no fim.

Porém, o pênalti perdido no tempo normal já dera um sinal: nos momentos agudos, a Holanda não teria frieza para fazer o que desejava diante dos Estados Unidos. E o time norte-americano, extremamente calejado em decisões, esperaria até o momento de resolver isso. Foi o que se viu na decisão por pênaltis: Naeher, contestada no gol, se transformou no destaque da partida, pegando as cobranças de Miedema (grande pena para a melhor holandesa em campo, incontestavelmente) e Nouwen. Cobranças perfeitas de Lavelle, Heath, Morgan e Rapinoe.

E Estados Unidos classificados às semifinais, encerrando os cinco anos de Sarina Wiegman no comando da seleção feminina, mergulhando holandesas como Martens, Miedema e Jackie Groenen em lágrimas. Porque a Holanda cresceu no futebol feminino, sim. Mas ainda não dá para superar as grandes seleções.

Jogos Olímpicos - futebol feminino - quartas de final

Holanda 2x2 Estados Unidos - Estados Unidos 4x2 nas cobranças de pênalti

Data: 30 de julho de 2021
Local: Estádio Internacional (Yokohama)
Árbitra: Kate Jacewicz (Austrália)
Gols: Vivianne Miedema aos 18' e 54', Samantha Mewis, aos 28', e Lynn Williams, aos 31'

Holanda
Sari van Veenendaal; Lynn Wilms, Stefanie van der Gragt, Aniek Nouwen e Dominique Janssen; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk e Jill Roord (Victoria Pelova); Shanice van de Sanden (Lineth Beerensteyn), Vivianne Miedema e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman

Estados Unidos
Alyssa Naeher; Kelley O'Hara, Abby Dahlkemper, Becky Sauerbrunn, e Crystal Dunn; Lindsey Horan, Julie Ertz e Samantha "Sam" Mewis (Christen Press); Lynn Williams (Rose Lavelle), Carli Lloyd (Alex Morgan) e Tobin Heath (Megan Rapinoe). Técnico: Vlatko Andonovski 

terça-feira, 27 de julho de 2021

Chegou a hora de se superar

A Holanda preferiu terminar a fase de grupos sem medo, mostrando mais uma vez a capacidade de fazer gols. Precisará manter isso, diminuindo as fragilidades para superar o desafio dos Estados Unidos (Pro Shots)

A seleção feminina da Holanda (Países Baixos) tinha mais condições de terminar como líder do grupo F do torneio olímpico de futebol feminino, mesmo antes da última rodada começar. Mas também tinha mais riscos de enfrentar os Estados Unidos, enfraquecidos, mas sempre respeitáveis e perigosos. Entre a liderança e um caminho mais suave no mata-mata dos Jogos Olímpicos, as Leoas preferiram a primeira opção. A goleada por 8 a 2 sobre a China foi mais uma confirmação do poderio ofensivo - e, bem, da fragilidade defensiva também. São dois pontos importantes, diante de uma constatação: chegou a hora da Holanda superar seus limites, para tentar chegar às semifinais olímpicas.

De certa forma, o jogo foi uma repetição do que se viu contra Zâmbia e Brasil, mesmo com duas alterações no time - Merel van Dongen na zaga, no lugar da "pendurada" Stefanie van der Gragt; Lineth Beerensteyn começando no lugar da poupada Vivianne Miedema. O começo foi de força ofensiva, com Shanice van de Sanden personificando isso, graças à sua velocidade e, principalmente, ao primeiro gol, aos 12', após lançamento em profundidade de Jackie Groenen. Os espaços sobravam. E a boa atuação de Groenen e Daniëlle van de Donk no meio-campo só aumentava a capacidade holandesa de construir outra vitória tranquila, diante de uma China que teve até mudança na defesa, ainda no primeiro tempo (Wang Ying), para tentar estancar a sangria.

Todavia, aos poucos, o relaxamento holandês foi tamanho que permitiu à China chegar um pouco mais ao ataque, pelo esforço de Wang Shuang e Wang Shanshan, as únicas duas que traziam mais criatividade a um time ofensivamente fraco. Tanto que o gol do empate, aos 28', veio após troca de passes que envolveu o miolo de zaga, de novo lento em excesso. De quebra, aos 35', Shanshan teve até chance de virar, num chute de média distância. Só que esse período de melhoria chinesa foi encerrado abruptamente pelo bom momento que Beerensteyn viveu no jogo. Se estava discreta no meio do ataque, a atacante consertou isso fazendo dois gols, ainda no primeiro tempo - o 3 a 1, aliás, foi muito bonito.

Miedema nem precisou jogar 90 minutos para fazer história de novo: nunca ninguém fez tantos gols numa só edição dos Jogos Olímpicos (Pim Ras)

A vantagem já permitiu que Sarina Wiegman colocasse mais jogadoras em campo, para poupar outras. Algumas delas foram bem úteis. Primeiro, Kika van Es: a lateral esquerda cruzou com precisão na cabeça de Lieke Martens para o 4 a 1, já no começo do segundo tempo. Depois, Victoria Pelova: novamente entrando bem em campo, novamente marcando um gol. Todavia, o destaque vindo do banco foi uma velha conhecida: Miedema. Nem mesmo vir do banco só aos 17 minutos da etapa complementar evitou que ela se destacasse, com mais dois gols, que a tornaram a recordista de gols numa só edição do torneio olímpico de futebol feminino. Martens também apareceu mais nos 45 minutos finais, fazendo até boas jogadas com a tradicional parceira de ataque. Houve, é verdade, uma falha no segundo gol chinês, de Wang Yanwen - outra troca de passes em meio às zagueiras holandesas.

21 gols na fase de grupos. Uma marca que até surpreendeu Sarina Wiegman ("Eu não esperava, esse tipo de resultado não acontece nos Jogos Olímpicos"). Mas que foi justificada, pelo volume ofensivo holandês - e, principalmente, pelas esplendorosas atuações de Vivianne Miedema. Porém, a defesa deixa preocupações: apenas as laterais têm saído mais contento, com Lynn Wilms e Dominique Janssen aparentemente mais firmes no setor. E o meio-campo sofre também com desarmes adversários. A treinadora também sabe disso: "Às vezes erramos na construção das jogadas, e abrimos espaços para contra-ataques".

Ainda assim, o ânimo para pegar as norte-americanas é visível. Nas palavras de Jackie Groenen ("Elas que venham"), nas de Van de Donk ("Elas não estão tão fortes"), até nas de Sarina Wiegman ("Acredito numa surpresa"). Pois bem, será necessário que esse ânimo signifique uma Holanda com as qualidades ofensivas, sem os defeitos defensivos, com concentração total para superar um Team USA que pode reagir da mediana fase de grupos num piscar de olhos, e que ainda chega como leve favorito, tantos são os talentos ali. Chegou a hora das Leoas Laranjas se superarem em campo, se querem mostrar mesmo que são candidatas a medalha.

Jogos Olímpicos - futebol feminino - fase de grupos

Holanda 8x2 China

Data: 27 de julho de 2021
Local: Estádio Internacional (Yokohama)
Árbitra: Salima Mukansanga (Ruanda)
Gols: Shanice van de Sanden, aos 12', Lineth Beerensteyn, aos 37' e 45' + 2, Lieke Martens, aos 47' e 70', Vivianne Miedema, aos 65' e 76', e Victoria Pelova, aos 72'; Wang Shanshan, aos 28', e Wang Yanyen, aos 68'

Holanda
Sari van Veenendaal; Lynn Wilms (Victoria Pelova), Merel van Dongen, Aniek Nouwen e Dominique Janssen; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Vivianne Miedema) e Jill Roord (Kika van Es); Shanice van de Sanden (Renate Jansen), Lineth Beerensteyn e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman

China
Peng Shimeng; Li Mengwen, Lin Yuping, Wang Xiaoxue e Guiping (Wang Ying); Yang Lina e Wang Yan (Wang Yanwen); Xiao Yuyi (Li Jing), Wang Shuang e Zhang Xin; Wang Shanshan. Técnico: Jia Xiuquan

sábado, 24 de julho de 2021

Fazendo e desfazendo

Contra o Brasil, a seleção feminina da Holanda provou que tem um ataque digno de respeito. E também uma defesa que sofreu ainda mais (Sam Robles/CBF)

No torneio olímpico de futebol feminino, a seleção da Holanda (Países Baixos) chegou para o esperado confronto contra o Brasil sabendo: tinha um cenário parecido com o da Seleção. Forças inquestionáveis no ataque, desconfianças pesadas na defesa. E o empolgante empate por 3 a 3 em Miyagi só reforçou essa impressão. Ainda mais em relação às Leoas Laranjas. Porque o que a parte da frente do time fez, a parte de trás desfez. E a parte da frente nem produziu tanto em relação às brasileiras, que impressionaram positivamente no segundo tempo - e até saíram de campo com uma melhor sensação.

Na parte da frente, sem surpresas: Vivianne Miedema continuou muito eficaz, esbanjando capacidade para ser o principal destaque neerlandês neste torneio olímpico. A começar pela belíssima jogada com que abriu o placar, logo aos três minutos: um drible direto em Érika, e a finalização precisa (Daniëlle van de Donk já levantou o braço antes mesmo da finalização: sabia que a bola entraria...). Ainda teve a "ajuda" da falha de Bárbara, no cabeceio que rendeu o segundo gol. Mas não só: com a bola nos pés, Miedema seguiu com movimentação constante, com toques técnicos, novamente sendo o nome do jogo vestindo laranja.

Porém, de certa forma, a camisa 9 foi a única atacante a aproveitar plenamente as fragilidades da defesa brasileira - principalmente nas laterais, com Bruna Benites ainda improvisada na direita e Tamires dando certos espaços na esquerda. Shanice van de Sanden foi apontada por quem acompanhou o jogo nos Países Baixos como a pior da equipe: apenas correu com a bola, sem criar jogadas, sem ser efetiva nos momentos de contra-ataque. Lieke Martens até fez o que pôde, teve pelo menos uma boa chance de gol (aos 23'), mas também não aproveitou os espaços que Bruna Benites deu. No meio-campo, só Van de Donk teve alguma preponderância: Jackie Groenen se preocupou mais em ditar o ritmo do jogo (e mesmo assim, com dificuldades pelas boas atuações de Andressinha e Angelina), e Jill Roord não teve espaço para ajudar.o ataque como fez contra Zâmbia.

Miedema segue sendo celebrada. Com toda a justiça: mais dois gols, e novamente a melhor das Leoas Laranjas em campo (ANP)

Se o meio-campo holandês foi bloqueado com sucesso pelas brasileiras - ainda mais após as boas alterações de Pia Sundhage no intervalo -, claro que a defesa sofreria. Sofreu: os únicos nomes a saírem a contento foram Sari van Veenendaal (fez o que pôde, e não teve culpa nos gols) e Lynn Wilms (escalada na direita, a jovem agradou: fez o passe para o primeiro gol, e até que trabalhou bem para conter Andressinha e Marta). Se as laterais foram a fonte das dores de cabeça contra Zâmbia, agora o miolo de zaga deu problemas com suas desatenções. Se Stefanie van der Gragt foi bem na etapa inicial, tirando muitos cruzamentos de cabeça, falhou logo após o segundo gol de Miedema, ao cometer a falta em Ludmila, que virou pênalti, convertido por Marta para o 2 a 2. E Aniek Nouwen também foi vítima da atacante: recuou curto demais para Van Veenendaal, sem se tocar da rapidez da brasileira, que foi esperta para o 3 a 2. Dominique Janssen também teve lá suas dificuldades, pela esquerda. Mas pelo menos, compensou na bela cobrança de falta com que empatou o jogo, 

Um ponto que deu algum alívio à Holanda. Mas que aumentou o alerta. Só restou a Sarina Wiegman esta frase, após o jogo: "Melhor que as falhas tenham ocorrido agora do que em fases posteriores". Agora, é enfrentar a China. Quem sabe poupando nomes como Miedema, que saiu com leves dores na virilha. Tentando vencer. Mais importante, tentando se fortalecer para o jogo dificílimo que se avizinha nas quartas de final, seja contra Suécia ou contra Estados Unidos. Porque, até agora, na Holanda, o que o ataque faz, a defesa desfaz.

Jogos Olímpicos - futebol feminino - fase de grupos

Holanda 3x3 Brasil

Data: 24 de julho de 2021
Local: Miyagi Stadium (Miyagi)
Árbitra: Kate Jacewicz (Austrália)
Gols: Vivianne Miedema, aos 3' e aos 60', e Dominique Janssen, aos 79'; Debinha, aos 17', Marta, aos 65', e Ludmila, aos 68'

Holanda
Sari van Veenendaal; Lynn Wilms, Stefanie van der Gragt, Aniek Nouwen e Dominique Janssen; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk e Jill Roord; Shanice van de Sanden (Lineth Beerensteyn), Vivianne Miedema (Victoria Pelova) e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman

Brasil
Bárbara; Bruna Benites, Érika, Rafaelle e Tamires; Duda (Ludmila), Formiga (Angelina), Andressinha e Marta (Geyse); Bia Zaneratto (Andressa Alves) e Debinha. Técnica: Pia Sundhage

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Um respiro

Miedema teve todo o espaço e aproveitou as muitas falhas da frágil Zâmbia para brilhar na goleada da Holanda - que, ainda assim, exibiu falhas (Pro Shots)


Toda a calma que a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) vinha tendo na sua preparação para o torneio olímpico de futebol de mulheres, nos Jogos de Tóquio, se esvaiu a pouco mais de 24 horas da estreia, nesta quarta. Não era para menos: afinal de contas, pesaria a ausência de Sherida Spitse, a mais experiente das Leoas Laranjas convocadas, cortada por lesão no joelho. Tudo de que a equipe neerlandesa precisava era uma primeira partida tranquila, um respiro no "drama", como bem definiu a técnica Sarina Wiegman. Foi o que aconteceu, no triunfo de placar extravagante contra a seleção de Zâmbia - pelo menos, quase, tendo em vista alguns problemas que ficaram claros na partida em Miyagi.

Mas os pontos fracos da seleção holandesa só vieram à tona quando a vitória já estava praticamente garantida. E isso ocorreu rapidamente, diante da fragílima defesa que Zâmbia mostrou. As quatro defensoras jogavam em linha, adiantadas demais, enquanto a goleira Hazel Nali tinha saídas de gol péssimas. Diante de um ataque badalado como o das batavas, era quase pedir para sofrer gol. Vieram falhas adicionais, e o serviço ficou facilitado. Aos 9', um longo lançamento e uma saída estranha de Nali abriu o caminho para Vivianne Miedema fazer 1 a 0. Dali a seis minutos, já estava 3 a 0 - Lieke Martens aproveitara rebote aos 14', as zambianas deram a saída para o jogo, a bola lhes foi roubada, e Miedema fez seu segundo na partida.

Porém, pouco depois, coube a um único destaque das "Rainhas de Cobre" comprovar que a Holanda passa longe de ser uma seleção acima de qualquer suspeita. Principalmente na defesa. Afinal, o primeiro gol de Barbara Banda, aos 19', saiu num lançamento alto, em que a goleira Sari van Veenendaal repetiu algo visto em outras partidas pela Holanda: falha no tempo de bola, ainda mais quando ela quica no gramado - foi o que aconteceu, deixando Banda livre para o 3 a 1. Além do mais, pela direita, Banda e Grace Chanda aproveitaram o espaço deixado nas laterais - principalmente na esquerda, com a má atuação de Merel van Dongen, e até trouxeram perigo, quando chegaram ao ataque (basta lembrar a bola na trave de Chanda, aos 27'). No miolo de zaga, não raro, tanto Stefanie van der Gragt quanto Aniek Nouwen também tiveram pouca intensidade.

A Holanda goleou, mas Barbara Banda (de frente) foi a dona da bola em Miyagi (Pro Shots)

Pelo menos, as fragilidades defensivas holandesas foram plenamente compensadas pelo poder do ataque. Personificado nesta quarta em Miedema: mais um gol ainda no primeiro tempo. Auxiliado por Martens, que também ampliou. E adicionado com Shanice van de Sanden: titular até surpreendente, a camisa 7 justificou a opção com velocidade na direita, algumas boas chances (como aos 12') e o sexto gol holandês, aos 42'. O desfile continuou no segundo tempo: Miedema conseguiu o quarto gol na partida - algo só ocorrido uma vez na história do futebol feminino olímpico -, Jill Roord marcou o mais belo tento da goleada, e era só o lançamento pegar uma neerlandesa livre na área que ela tocava na saída da goleira para marcar mais um. Foi assim com Lineth Beerensteyn, que colocou a bola na rede. Com Victoria Pelova, que fez o seu primeiro na seleção adulta. E poderia ter sido com mais nomes.

Todavia, nos últimos dez minutos, quando a Holanda já tivera algums mudanças na zaga, Barbara Banda lembrou as fragilidades defensivas do time europeu. Fez dois gols em um minuto, tendo facilidade impressionante para aproveitar os espaços, driblar as holandesas (o giro em Dominique Janssen, no terceiro gol de Zâmbia, exemplificou isso), mostrar valor técnico elogiável. Tomar três gols de uma seleção até simplória como a zambiana não só colocou pulgas atrás da orelha, como serviu para as Leoas Laranjas lembrarem: ainda têm muito o que melhorar. Certamente o Brasil, adversário do sábado, será mais forte na defesa, e ainda mais perigoso no ataque, aumentando o equilíbrio do jogo.

Mas diante do peso emocional do corte de Spitse, a Holanda aproveitou bem o encontro com o adversário mais fraco do grupo F do torneio olímpico. Conseguiu um respiro, antes dos testes que vão começar agora.

Jogos Olímpicos - futebol feminino - fase de grupos

Holanda 10x3 Zâmbia

Data: 21 de julho de 2021
Local: World Cup Stadium (Miyagi)
Árbitra: Laura Fortunato (Argentina)
Gols: Vivianne Miedema, aos 9', 15', 29' e 60', Lieke Martens, aos 14' e 38', Shanice van de Sanden, aos 42', Jill Roord, aos 64', Lineth Beerensteyn, aos 74', e Victoria Pelova, aos 80'; Barbara Banda, aos 19', 82' e 83'.

Holanda
Sari van Veenendaal; Dominique Janssen, Stefanie van der Gragt (Lynn Wilms), Aniek Nouwen e Merel van Dongen; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Victoria Pelova) e Jill Roord; Shanice van de Sanden (Renate Jansen), Vivianne Miedema (Lineth Beerensteyn) e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman

Zâmbia
Hazel Nali; Margaret Belemu (Esther Mukwasa), Lushomo Mweemba, Anita Mulenga (Agness Musase) e Esther Siamfuko; Ireen Lungu, Avell Chitungu, Mary Wilombe, Barbara Banda e Grace Chanda; Hellen Mubanga (Ochumba Lubandji). Técnico: Bruce Mwape

sábado, 10 de julho de 2021

Dúvidas na última dança

As Leoas Laranjas já treinam perto de Tóquio. Terão de superar a instabilidade dentro de campo, para se confirmarem como uma seleção capaz de medalha no futebol feminino (Pro Shots/onsoranje.nl)

A última dança já começou. A seleção feminina da Holanda (Países Baixos) já está há alguns dias na cidade de Kamogawa, para os treinos rumo ao torneio de futebol feminino, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, que estão por começar. Desde o ano passado se sabe: é a despedida de Sarina Wiegman do comando das Leoas Laranjas. A pandemia mudou um pouco o fim de ciclo para a técnica que foi personagem fundamental na ascensão da seleção neerlandesa no cenário mundial. Ela pretendia deixar o comando da equipe após a Euro, se ela ocorresse em 2021: os torneios foram adiados em um ano, como se sabe, e Sarina sai após Tóquio, quando rumará para a seleção da Inglaterra. Enquanto o caminho não está aberto para seu substituto (o inglês Mark Parsons, treinando o Portland Thorns-EUA, que chegará em setembro), a grande dúvida que cerca a Holanda no futebol feminino olímpico é: como será a última dança sob o comando de Sarina?  Pelo que se viu com as holandesas desde a respeitável campanha do vice-campeonato na Copa de 2019, as dúvidas são justificáveis. 

A seleção piorou? Na teoria, não. Longe disso: classificada para a Euro 2022 com uma campanha perfeita nas eliminatórias - dez vitórias em dez jogos -, os destaques ainda correspondem dentro de campo, a equipe ainda é uma das melhores da Europa. Porém, na prática, quase sempre que enfrentou seleções de capacidade igual ou melhor, a Holanda rateou. Basta lembrar o 0 a 0 contra o Brasil, no Torneio da França, competição amistosa em março de 2020: as neerlandesas criaram mais chances, mas não só pararam em Aline Reis e Natascha, as goleiras brasileiras naquele jogo, como Lieke Martens e Vivianne Miedema foram anuladas por Thaísa e Luana, que nem estarão em Tóquio. E tem mais: nos outros dois jogos daquele torneio, contra França e Canadá, a Holanda também não ganhou - dois empates. O problema das Leoas contra adversárias fortes foi mais visível no reencontro contra os Estados Unidos, num amistoso em novembro de 2020: por mais que ninguém encarasse aquilo como revanche da final da Copa, pegou mal sofrer 2 a 0 das norte-americanas, sem ameaçá-las, jogando até pior do que na decisão em 2019.

Sarina Wiegman está de saída. Sua despedida aumentará ainda mais seu status já antológico no futebol feminino holandês? (Pro Shots/Onsoranje.nl)

No entanto, se há como resumir o defeito mais ameaçador da seleção da Holanda numa só palavra, esta é inconstância. A equipe pode ter uma atuação terrível num jogo, e brilhar no seguinte. Poucos exemplos foram melhores do que os vistos nas datas FIFA deste 2021. Nem tanto nos amistosos em fevereiro: a Holanda venceu bem estes (6 a 1 na Bélgica, 2 a 1 na Alemanha). Mas sim nos jogos em abril. No dia 9, contra a Espanha, que não está no torneio olímpico, as neerlandesas perderam por 1 a 0, e foram totalmente encurraladas no campo de defesa - só não tomaram mais gols por boas defesas de Sari van Veenendaal. Quatro dias depois, contra a Austrália, que também estará em Tóquio... fácil goleada dos Países Baixos: 5 a 0. O fenômeno se repetiu nos jogos amigáveis do começo de junho. Contra a Itália, no dia 10, fora de casa, outra derrota por 1 a 0, com falhas ofensivas (só um chute a gol, erros de passe que matavam contra-ataques). Veio a Noruega, quatro dias depois... e a Holanda brilhou: 7 a 0, jogando ofensivamente, sem deixar as adversárias respirarem. O pior é que nem houve o último teste: um amistoso contra a África do Sul estava marcado para 3 de julho, mas um surto de infecções pelo novo coronavírus nas jogadoras sul-africanas inviabilizou a partida.

De certa forma, até mesmo nas vitórias a Holanda teve alguns pontos que causaram alerta. Durante a campanha nas eliminatórias da Euro, as atuações foram apenas protocolares, sem brilho, apenas como se a seleção cumprisse a obrigação de superar um grupo fraco (Eslovênia, Rússia, Turquia, Estônia e Kosovo). Quando enfrenta adversárias que sabem pressioná-la constantemente, a defesa sofre. E dentro dela, houve pelo menos um grande problema: a lateral direita. Desde que Desirée van Lunteren, titular na conquista da Euro 2017 e no vice-campeonato mundial de 2019, deixou a seleção, logo após a Copa, Sarina Wiegman tenta achar uma alternativa que resolva os problemas por ali. Não conseguiu plenamente. Reserva imediata na Euro e na Copa, Liza van der Most sofreu grave lesão no joelho; zagueiras foram improvisadas ali, como Dominique Janssen e Lynn Wilms, sem sucesso; Lineth Beerensteyn foi experimentada como ala direita, e nada. Sisca Folkertsma só garantiu a titularidade na direita - e a vaga em Tóquio - pela excelente atuação na goleada contra a Noruega.

Então a Holanda piorou? Não exatamente. Para nem falar em Martens e Miedema, que seguem absolutas como destaques das Leoas Laranjas, Jill Roord cresceu bastante da Copa até aqui. A atacante foi a melhor holandesa nas eliminatórias da Euro, e conseguiu cumprir o que já desejava: virou titular absoluta, superando Shanice van de Sanden (que caiu de produção) e a citada Beerensteyn. Além do mais, obviamente a Holanda ficou um time bastante experiente, com todas as situações por que passou desde 2017. E o crédito com torcida e imprensa ainda é considerável.

Ainda assim, é insuficiente para evitar as dúvidas sobre o desempenho. A Holanda é grande, sim. Tem capacidade para ir longe na disputa por medalha, sim. Mas não é duas: um mau dia das Leoas Laranjas pode torná-la vulnerável a Brasil e a China, adversárias mais mencionadas no grupo F. E Sarina Wiegman não quis garantir nada, em entrevista à revista Voetbal International: "Fizemos tudo que precisávamos fazer. Se será suficiente, nós veremos agora". 

A Holanda superará a sua instabilidade em campo para conseguir uma medalha e fechar lindamente um ciclo que a fez ser notada no futebol feminino mundial? Também veremos agora. Mais precisamente, a partir das 8h de Brasília, no dia 21, contra Zâmbia, na cidade de Miyagi.

Um rápido comentário para cada convocada

Goleiras

1 - Sari van Veenendaal (PSV)

Sari decidiu deixar o Atlético de Madrid para se converter numa das estrelas do Campeonato Holandês feminino, voltando ao PSV. No começo, a melhor goleira de 2019 (segundo a FIFA) preocupou, com algumas atuações ruins. Mas terminou a temporada 2020/21 recuperada, sendo importante no título do clube de Eindhoven na Copa da Holanda - pegou até pênalti na final. De mais a mais, na seleção holandesa, mostrou liderança, como capitã, e seguiu mostrando seus reflexos e sua imponência debaixo das traves. Em suma: Van Veenendaal continua uma das "absolutas" entre as titulares.

16 - Lize Kop (Ajax)

Por pouco Kop não perdeu sua vaga no torneio olímpico. Presente na seleção desde a Copa de 2019, evoluiu como titular absoluta do Ajax, e até atuou nas rodadas finais das eliminatórias da Euro 2021(+1). Aliás, esteve no gol até nos amistosos contra Bélgica e Alemanha, já neste 2021. Porém, um problema na cabeça a fez perder a reta final da temporada - e pôs dúvidas sobre sua forma física e técnica para os Jogos Olímpicos. Sarina Wiegman preferiu dar um voto de confiança, mesmo tendo chamado goleiras novatas como Moon Pondes e Daphne van Domselaar. E Kop vai a Tóquio.

22 - Loes Geurts (BK Häcken-SUE)

Há algum tempo, a veterana Geurts (desde 2005 na seleção, titular na Copa de 2015) ocupa mais o papel da reserva pronta para qualquer eventualidade. Quando sofreu uma concussão cerebral, no ano passado, e viu goleiras mais novas serem chamadas, além das habituais Van Veenendaal e Kop, parecia o fim de seu caminho na seleção. Também prejudicava o fim do time em que jogava, o Kopparbergs sueco. Mas Geurts achou espaço no BK Häcken, manteve seu lugar nas convocações das Leoas Laranjas, foi "promovida" na lista de espera, e segue como uma opção confiavel e experiente no gol.

Defensoras

2 - Lynn Wilms (Twente, indo para o Wolfsburg-ALE)

Eis aí uma das (raras) novidades das Leoas Laranjas no pós-Copa de 2019. Zagueira discreta mas segura, Wilms já progredia nas seleções de base dos Países Baixos - e ganhou a primeira convocação logo no começo das eliminatórias da Euro. De lá para cá, Wilms virou opção válida na seleção, mesmo com pouca idade (20 anos) e mesmo ficando mais na reserva: boa no jogo aéreo, pode ser escalada caso a Holanda precise de mais força na defesa. De mais a mais, a jovem foi um dos símbolos do Twente campeão holandês nesta temporada. Até por isso, sobe de nível: vai para o Wolfsburg após Tóquio.

3 - Stefanie van der Gragt (Ajax)

Voltar ao Ajax fez bem para a experiente zagueira. Se a passagem pelo Barcelona foi vitimada por lesões constantes no joelho, uma operação em 2019, logo após a Copa, resolveu isso. E em 2020, ao retornar ao clube de Amsterdã, a ex-empacotadora de mercado voltou a colocar suas qualidades em prática: a liderança no miolo de zaga e a capacidade nas bolas aéreas. Ainda assim, sua lentidão pode torná-la vulnerável a atacantes mais velozes. Seja como for, pela continuidade que retomou em campo e até pela falta de opção, Van der Gragt continua firme entre as titulares.

4 - Aniek Nouwen (PSV, indo para o Chelsea-ING)

Nouwen já poderia ter ido à Copa de 2019: ficou de fora nos últimos cortes daquela convocação (mas foi à França, como torcedora). Depois, no entanto, conseguiu se provar definitivamente dentro de campo: com versatilidade - pode jogar em todas as posições do miolo de zaga -, Nouwen foi titular absoluta na campanha das eliminatórias da Euro e nos amistosos. Também se destacou no PSV, como nome certo entre as titulares da equipe de Eindhoven - até por isso, está de partida para o Chelsea. Com 21 anos, a defensora já se mostra capaz de ser titular nos anos que virão.

5 - Merel van Dongen (Atlético de Madrid-ESP)

Van Dongen é daquelas jogadoras pouco conhecidas do público, mas de grande importância entre as convocadas da Holanda. Em campo, na lateral esquerda, oferece um pouco mais de mobilidade do que Dominique Janssen ou Aniek Nouwen. Além do mais, também ostenta experiência respeitável: já são três anos jogando na Espanha. Fora dos gramados, Van Dongen é considerada uma das líderes da seleção feminina - é uma das mais mobilizadas nos eventos internos e nas manifestações sobre temas extrafutebol. Mesmo se alternando entre o campo e a reserva, é quase uma "capitã sem braçadeira".

12 - Sisca Folkertsma (Twente, indo para o Bordeaux-FRA)

Folkertsma é uma velha conhecida das Leoas Laranjas: esteve no grupo campeão da Euro 2017. No entanto, após 2018, perdeu espaço nas convocações. Nada que não fosse resolvido pela regularidade mostrada no Twente, que a fez voltar a ser convocada no fim de 2020 - e pelos problemas da seleção na lateral direita: neste 2021, nas últimas datas FIFA, a atacante de origem foi experimentada na ala destra. Deu muito certo para a seleção, que teve uma ótima atuação num amistoso contra a Noruega. Deu mais certo ainda para Folkertsma: não só voltou à seleção, mas também conseguiu transferência.

15 - Kika van Es (Twente)

Até o último amistoso antes da Copa de 2019, Van Es era o nome habitual na lateral esquerda da seleção. Veio uma microfratura na mão que quase a tirou do Mundial, vieram estreias tímidas... e tudo isso bastou para que ela perdesse a posição para Merel van Dongen no time titular. E a passagem apagada pelo Everton inglês também prejudicou a jogadora na disputa pela vaga. Pelo menos, Van Es jogou o suficiente para seguir no radar das convocações. E deu um passo certo na carreira, retornando para ser titular no Twente campeão da Eredivisie feminina. Quem sabe a coisa não mude em Tóquio?

17 - Dominique Janssen (Wolfsburg-ALE)

Novamente usando o sobrenome de solteira na camisa, Janssen é muito conhecida por sua ótima preparação física - qualidade vista dentro e fora de campo (é nutricionista de formação). Por essa vitalidade, sempre que se precisa de um nome confiável na lateral, a opção recai sobre ela. Não bastasse isso, jogando pelo Wolfsburg, Janssen tem sido muito útil nas bolas paradas: assim fez alguns gols na campanha dos Lobos pela Liga dos Campeões femininas. Basicamente uma "cumpridora" defensiva, tem preferência sobre Van Dongen e Van Es na lateral esquerda.

21 - Anouk Dekker (Braga-POR)

Titular absoluta da defesa nas Copas de 2015 e 2019 (era a parceira habitual de Van der Gragt na zaga), Dekker foi dos nomes que mais perdeu na seleção neerlandesa desde o vice-campeonato mundial. A última partida pelas Leoas Laranjas foi em 2019, e a falta de tempo de jogo no Montpellier francês a tirou pouco a pouco da equipe titular. Tanto que Dekker fora incluída apenas na "lista de espera", quando a convocação olímpica estava restrita a 18 nomes. O aumento para 22 a garantiu em Tóquio, quando sua experiência pode ser útil. A ida para o Braga pode ser um recomeço.

Meio-campistas

8 - Sherida Spitse (Ajax)

Envelhecida, ela, aos 31 anos? Pelo menos por enquanto, ninguém liga para isso na Holanda. A liderança de Spitse na seleção é incontestável: trata-se, afinal, da jogadora com mais partidas na história das Leoas Laranjas (188 jogos!). No aspecto técnico, a precisão da meio-campista nas bolas paradas é valiosa como opção ofensiva - que o digam a artilharia nas eliminatórias da Euro (10 gols), e as várias cobranças que viram gols de cabeça. Aliviada por matar as saudades do país natal após a volta ao Ajax (no qual já chegou como líder), entre as titulares absolutas da seleção, Spitse é uma das principais.

10 - Daniëlle van de Donk (Arsenal-ING, indo para o Lyon-FRA)

A meio-campista simboliza um pouco a instabilidade das holandesas em campo. Nas más atuações, aparece pouco, geralmente fica sobrepujada pela marcação adversária. Mas as boas atuações fazem tudo valer a pena: "Daantje" (algo como "Danizinha") é uma criadora razoável de jogadas, e até chega constantemente ao ataque para ajudar as atacantes nas finalizações. Tais qualidades não só fazem de Van de Donk uma titular certa, como a catapultaram nesta temporada: não é por outra razão que ela fez parte do badalado pacote de transferências do Lyon para 2021/22.

13 - Victoria Pelova (Ajax)

Há pelo menos três anos, Pelova é vista como aposta do meio-campo das Leoas Laranjas para os próximos anos. Se na convocação para a Copa de 2019 ainda era uma novata - ainda estrearia no Ajax -, atualmente Pelova já é um nome importante na equipe de Amsterdã. Tanto que foi eleita pela torcida a melhor jogadora do clube na temporada 2020/21. Seu problema: com três titulares inquestionáveis no meio neerlandês, raramente tem chances de ganhar uma sequência de jogos na seleção. A não ser por acidente, nada indica que isso mude em Tóquio. Pelo menos ganhará mais experiência.

14 - Jackie Groenen (Manchester United-ING)

A última impressão de Groenen na Copa de 2019 fora a melhor possível, com o gol na semifinal contra a Suécia. Deixava até expectativas sobre o que ela poderia fazer no Manchester United. Não, Groenen não virou craque. Mas comprovou sua grande utilidade jogando pelos Diabos Vermelhos: ótima nos desarmes, veloz nos passes para iniciar o ataque. Essa capacidade é vista até mais fortemente nas Leoas Laranjas - na seleção, Jackie merece o apelido de "motorzinho" do time. As jogadas começam com ela. Como se não bastasse, mantém a fama nas torcidas de seleção e clube, com grande carisma.

20 - Inessa Kaagman (Brighton-ING)

Kaagman já está acostumada a ser reserva na seleção feminina da Holanda: nos últimos dois anos, só atuou em três jogos pelas Leoas Laranjas. Ainda assim, se for necessário fortalecer a marcação no meio-campo, ela segue como opção preferencial nas convocações de Sarina Wiegman. Será assim no torneio olímpico.

Atacantes

6 - Jill Roord (Arsenal-ING, indo para o Wolfsburg-ALE)

Desde antes da Copa de 2019, Roord sinalizava: podia até ser uma reserva constantemente utilizada, mas queria virar titular definitiva na seleção. Conseguiu plenamente: a atacante cresceu muito de produção em campo, de lá para cá. Mostrando velocidade nas pontas e mais precisão nas finalizações, ela tomou a posição de Van de Sanden para não largar mais. Assim, Roord possibilita até mesmo mais variações táticas: se for a atacante principal, Miedema poderia jogar mais recuada, como ponta-de-lança. Numa ou noutra tática, Roord deixou, literalmente, de ser a "camisa 12" da Holanda. Faz tempo.

7 - Shanice van de Sanden (Wolfsburg-ALE)

Se era considerada uma das principais opções de jogadas de ataque da Holanda até a Copa de 2019, com muita velocidade na ponta direita, Van de Sanden se viu em muitas adversidades de lá para cá. Em campo, perdeu importância tanto na seleção (rapidamente perdeu a posição para Jill Roord) quanto em clubes (reserva no Lyon campeão europeu em 2019/20, migrou para o Wolfsburg, mas também não chamou muito a atenção). Fora de campo, a atacante sofreu com problemas pessoais, como a morte do pai. Ainda assim, recebeu mais um voto de confiança. Seguirá como opção em Tóquio.

9 - Vivianne Miedema (Arsenal-ING)

Falar da capacidade que "Viv" tem para colocar a esférica no filó adversário é chover no molhado - afinal, trata-se da goleadora da seleção feminina em toda a sua história (já são 73 gols). Tal qualidade ficou mais notável ainda da Copa de 2019 até agora: goleadora da Liga dos Campeões e do Campeonato Inglês em 2019/20, considerada quase unanimemente uma das melhores atacantes do mundo, cada vez mais segura em campo, precisa nas finalizações... só falta a Miedema ser o destaque absoluto da Holanda num torneio importante. Tóquio oferece a ela grandes chances para isso.

11 - Lieke Martens (Barcelona-ESP)

A melhor jogadora do mundo em 2017 (segundo a FIFA) sofreu demais já durante a Copa de 2019: as dores nos pés faziam com que ela só pudesse se mexer de cadeira de rodas fora dos jogos. Para solucionar tais dores, uma cirurgia que a tirou de combate em 2019/20. Quando ela voltaria a campo, veio a pandemia, e as dificuldades de adaptação ao Barcelona. Martens se valeu da técnica para superar tudo isso: terminou a temporada passada brilhando, fundamental no título europeu do Barça - principalmente nas semifinais, ao fazer dois gols. O torneio olímpico pode comprovar a nova boa fase.

18 - Lineth Beerensteyn (Bayern de Munique-ALE)

Nesta convocação, Beerensteyn é o que já vem sendo há algum tempo na seleção neerlandesa: a opção mais versátil no ataque. Mesmo sendo mais acostumada a jogar nas pontas, ela também pode atuar na frente, caso Miedema ou Roord sejam escaladas mais atrás. Se for necessário, a velocidade possibilita que Beerensteyn jogue como ala, ajudando na marcação. Porém, sua aparição na seleção já foi maior: Van de Sanden é uma concorrente a mais no banco, e Roord aproveitou mais sua chance de ser titular. Pelo menos, teve grande colaboração no título alemão feminino do Bayern de Munique.

19 - Renate Jansen (Twente)

Numa opção até estranha de Sarina Wiegman, a veterana Renate ficou apenas na lista de espera. Talvez fizesse falta, se a convocação olímpica seguisse restrita a 18 nomes. A lista foi ampliada, e Jansen poderá oferecer opção ao ataque, como nome na área, que sabe reter bem a bola. Experiência não falta a ela, que esteve nas convocações das Copas de 2015 e 2019 e no título da Euro 2017. Mais do que isso: Jansen também tem lá sua liderança - é a capitã do Twente campeão holandês. Pode não aparecer muito para a torcida, mas justifica sua presença em mais um torneio pelas Leoas Laranjas.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Holanda na Euro 2020: a análise sobre quem jogou

A eliminação: a Holanda se perdeu totalmente quando a situação ficou diferente do que ela se acostumava a ter na Euro. E ninguém mudou muito sua situação (Getty Images)

No futuro, quem sabe a campanha da seleção masculina da Holanda (Países Baixos) na Euro 2020 poderá ser descrita de modo contraditório: uma decepção esperada. Decepção, porque a Laranja poderia ter ido mais longe do que as oitavas de final, pela qualidade de alguns jogadores e pelas três vitórias na fase de grupos. Esperada, porque uma análise mais calma já apontava que os adversários do grupo C da Euro eram mais frágeis - e porque o nível mostrado pela equipe neerlandesa, nas eliminatórias da Copa de 2022 e nos amistosos de preparação, não era nada empolgante.

Até pela eliminação precoce, é possível comentar que, na maioria das vezes,  o desempenho de boa parte dos 26 jogadores da Holanda que entraram em campo na Euro ficou na mesma em relação à expectativa que se tinha antes dos jogos começarem. Uns poucos saíram em alta - bem, na verdade se pode falar em um pouco. Outros causaram razões para críticas mais contundentes. Mas no geral, os atletas que defenderam os Países Baixos no torneio continental de seleções fizeram o que se esperava deles. Ainda que se possa dizer que eles não despontaram no momento em que a seleção mais precisava (e essa crítica foi feita após a eliminação), não é nada que os comprometa para o futuro imediato. Para o bem, porque podem se recuperar. Para o mal, porque não abre perspectivas de evolução para a seleção.

Sendo assim, é melhor partir para as justificativas de cada avaliação. Sem perda de tempo. Porque os acompanhantes da Laranja também não remoerão muito a esquecível aparição na Euro. Até porque as eliminatórias da Copa de 2022 já estão vindo aí - e um técnico precisa ser achado antes das rodadas.

Goleiros

1 - Maarten Stekelenburg (4 jogos, 4 gols sofridos): sai na mesma. A reação notável que o veterano de 38 anos viveu na temporada 2020/21 foi coroada com a vitória na disputa pela titularidade com Tim Krul. Justificada: nos amistosos, "Steek" mostrou mais segurança do que o reserva. E na Euro, o goleiro não comprometeu. Certo, cometeu um erro de peso contra a República Tcheca, saindo mal da meta no lance do gol de Tomas Holes. Mas, no todo dos quatro jogos, Stekelenburg justificou a razão de ter sido o titular holandês na Euro: foi seguro, bem posicionado e estava pronto a aparecer. Nem foi tão exigido na primeira fase, a bem da verdade. Com a idade, a mudança de técnico na seleção masculina e a volta de Jasper Cillessen, deve perder espaço nas convocações. Pelo menos, ganhou mais um torneio pela Oranje na conta.

13 - Tim Krul: não jogou

23 - Marco Bizot: não jogou

Laterais

22 - Denzel Dumfries (4 jogos, 2 gols): sai em alta. Talvez Dumfries seja o único jogador neerlandês que terá alguma razão para sorrir ao se lembrar desta Euro. Se era muito contestado antes dela, se jogara mal no amistoso contra a Escócia, Dumfries se recuperou plenamente. O novo esquema, com cinco na defesa, potencializou sua principal qualidade: os avanços para ajudar o ataque. Com isso, Dumfries foi até melhor do que normalmente é no PSV: fez dois gols, chegou bastante à frente para cruzamentos, finalizou constantemente. Teve falhas, sim: perdera gol notável contra a Ucrânia, na estreia, e abriu espaço no segundo gol sofrido da República Tcheca, na eliminação. Ainda assim, é inegável: Dumfries abriu vantagem para concorrentes pela posição, como Hans Hateboer. Hoje, virou titular indiscutível na lateral direita da Holanda. 

12 - Patrick van Aanholt (4 jogos): sai em baixa. Van Aanholt começou a Euro em alta: afinal de contas, tomara a titularidade de Wijndal na lateral esquerda, por mostrar um pouco mais de capacidade de adaptação ao esquema com três zagueiros na Laranja. Porém, bastou a competição começar para isso mudar de figura. O camisa 12 foi tímido no apoio, sua principal qualidade, mesmo contra os adversários medianos da fase de grupos. Na primeira partida da Euro em que sua capacidade de marcação foi posta à prova, contra a República Tcheca, o lateral esquerdo teve desempenho muito ruim, um dos piores na derrota e na eliminação holandesas. Van Aanholt teve chance, e falhou. Pode perder lugar nas próximas convocações

5 - Owen Wijndal (2 jogos): sai na mesma. Em toda a expectativa rumo à Euro, o jovem era previsto como o titular da Holanda na lateral canhota. Porém, desde que Frank de Boer optou pela alteração no esquema, passando a jogar com três no miolo de zaga, o desempenho do lateral do AZ caiu vertiginosamente. Tendo de se preocupar com a defesa, Wijndal não podia avançar, como gosta de fazer. E nem era tão seguro assim na marcação. Já perdeu a vaga de titular a partir dos amistosos. E quando entrou na estreia, contra a Ucrânia, seguiu atacando - e abriu espaços que os ucranianos aproveitaram para empatar aquela partida. De todo modo, pela sua idade, a queda serve mais como puxão de orelhas para melhorar do que para barrá-lo da Laranja. Wijndal seguirá opção considerável para o futuro da seleção, como já era antes da Euro.

2 - Joël Veltman (1 jogo): sai na mesma. Só jogou dois minutos, mais os acréscimos, contra a Ucrânia. Impossível de avaliar o que fez ou deixou de fazer.

Zagueiros

3 - Matthijs de Ligt (3 jogos): sai em baixa. Uma lesão na virilha, sofrida nos últimos treinos antes da estreia, já dificultou o caminho do zagueiro, que ficou fora da estreia. A partir do jogo contra a Áustria, De Ligt pôde voltar ao time. Na posição central da zaga, como líbero, saiu-se normalmente. Talvez com alguns sustos, mas nada que horrorizasse. Todavia, veio a República Tcheca, nas oitavas de final. E um dos lances da eliminação certamente será a mão de De Ligt na bola, que causou sua expulsão no começo do segundo tempo, dificultando bastante a situação da Laranja - o zagueiro foi empurrado, mas nada que o aliviasse. Antes da Euro, De Ligt era visto como um zagueiro reagindo na Juventus, perto de retomar as boas atuações do tempo de Ajax. Sai dela visto como um zagueiro afobado e trapalhão, apesar de talentoso. Terá de recuperar a imagem, um pouco chamuscada.

6 - Stefan de Vrij (4 jogos): sai na mesma. Já que não haveria Virgil van Dijk, De Vrij chegou à Euro como uma opção confiável para a defesa holandesa. De certa forma, provou isso na fase de grupos: nem mesmo ser escalado na direita da zaga (e não na zaga central) fez o camisa 6 ter dificuldades. Com bom tempo de bola, controlando bem a movimentação dos zagueiros para evitar que os adversários pegassem a defesa desguarnecida, De Vrij se provou um líder da parte de trás da Laranja. Não só escapou relativamente ileso da eliminação, como se comprovou confiável - ainda mais após os problemas de De Ligt contra a República Tcheca. Virou favorito a ser parceiro de Van Dijk, quando este voltar à seleção.

17 - Daley Blind (4 jogos): sai na mesma. Havia desconfianças sobre as condições de Blind jogar a Euro 2020, após a lesão no tornozelo, sofrida em março. Ele voltou, se recuperando bem nos treinos pré-Euros, tanto na semana passada em Portugal quanto na reta final. Houve temores sobre como ficaria a parte emocional de Blind, após a parada cardiorrespiratória de Christian Eriksen, colega e amigo dos tempos de Ajax. De fato, o experiente zagueiro se comoveu com aquilo, mas se "superou mentalmente", nas próprias palavras, e estreou contra a Ucrânia. Estava aberta uma Euro na qual ele mostrou as qualidades conhecidas (os passes precisos pelo alto, vistos até contra a República Tcheca) e os defeitos também (lentidão). Nada mudou: enquanto quiser, Blind seguirá como opção nas convocações da Laranja.

4 - Nathan Aké (2 jogos): sai na mesma. Aké já era coadjuvante na equipe neerlandesa antes mesmo da Euro. Na zaga, Stefan de Vrij e Daley Blind recebiam a preferência na esquerda; na lateral propriamente dita, a opção era pela ofensividade de Patrick van Aanholt e Owen Wijndal. Aké continuou assim. Às vezes, indiretamente, justificou a reserva: na estreia contra a Ucrânia, entrou mal e permitiu a reação adversária. Às vezes, não entrar acabou sendo melhor para Aké: muitos torcedores preferiam que ele tivesse substituído Van Aanholt, protegendo mais a esquerda contra a República Tcheca. Não foi assim. De certa forma, o defensor sai da Euro como entrou: despercebido.

25 - Jurriën Timber (3 jogos): sai em alta. Em alta? Alguém tão jovem? Pois é: em alta. Afinal de contas, o zagueiro jamais tinha jogado pela Laranja antes da convocação para a Euro. Já impressionou Frank de Boer durante a semana de treinos em Portugal, pela calma e pela capacidade na direita da defesa. A ponto de sair como titular nos amistosos pré-Euro, contra Escócia e Geórgia. Foi o suficiente: na fogueira de uma estreia na Euro, Timber foi titular também contra a Ucrânia - e jogou 88 minutos, sem decepcionar. De quebra, ainda atuou no segundo tempo contra a Macedônia do Norte - e veio para poucos minutos contra a República Tcheca, quando a eliminação já parecia inescapável. De surpresa na convocação, Timber se uniu a nomes como Ryan Gravenberch e Cody Gakpo: o zagueiro agora é uma jovem opção muito plausível para as convocações. Se continuar bem no Ajax, essa possibilidade só aumentará.

Meio-campistas

15 - Marten de Roon (3 jogos): sai na mesma. De Roon poderia ser chamado de patinho feio nesta seleção holandesa. Muitos questionam o merecimento do volante para ser titular. E algumas características não o ajudaram na Euro - por exemplo, ter constantemente perdido bolas no meio-campo. Então De Roon foi mal? Nada disso. Se perdeu muitas bolas, também foi quem mais desarmes fez pela Holanda na Euro. Além do mais, os avanços de Frenkie de Jong e Georginio Wijnaldum naturalmente o deixam mais vulnerável. E quando ficou na reserva, contra a Macedônia do Norte, poupado para evitar suspensões pelo cartão amarelo, viu os norte-macedônios criarem as chances justamente no setor que era protegido por... ele. Ou seja: De Roon tem importância defensiva. Passou longe de ser o vilão da eliminação na Euro. Se esteve ruim com ele, poderia ser pior sem ele. Deve continuar tão membro da seleção após a Euro quanto era antes.

8 - Georginio Wijnaldum (4 jogos, 3 gols): sai na mesma. Se a Holanda tivesse avançado na Euro, Wijnaldum era forte candidato a sair em alta. Mais do que isso: foi um dos responsáveis pela campanha perfeita em resultados na fase de grupos. "Gini" mostrou capacidade de marcação, e repetiu o que já vem fazendo há tempos na Laranja: foi o homem-surpresa no ataque, chegando com eficiência para finalizar. Porém, com a braçadeira de capitão (e se manifestando em temas espinhosos), esperava-se que Wijnaldum liderasse a equipe em momentos difíceis. O momento difícil veio contra a República Tcheca... e o camisa 8 ficou perdido em meio à derrocada holandesa, sem aglutinar a equipe. Mesmo com o esforço, Wijnaldum não conseguiu catalisar a seleção em campo. Teve seus momentos de brilho técnico, mas se repita: esse lado já era conhecido. Por isso, saiu na mesma. Wijnaldum jogou bem, mas faltou o destaque na hora em que mais era necessário.

21 - Frenkie de Jong (4 jogos): sai na mesma. Antes da Euro, já se sabia a maioria das opiniões sobre Frenkie. Muitos apontavam os pontos fortes: um excelente meio-campista, capaz de ditar o jogo com seus passes e, principalmente, saídas de bola desde a defesa. Outros alertavam os pontos fracos: De Jong nunca foi decisivo, nunca foi o destaque em partidas importantes (talvez, a final da Copa do Rei passada seja a exceção que confirme a regra). Pois foi exatamente o que se viu na Euro. Na fase de grupos, mais acessível, o meio-campista teve momentos excelentes: domínio de bola primoroso, poucos adversários conseguiam desarmá-lo, capacidade de comandar a Holanda dentro de campo (viu-se isso, principalmente, contra a Macedônia do Norte). Contra a República Tcheca, porém, de novo De Jong se viu dentro de uma armadilha. E fracassou ao sair dela. Seu talento e seu defeito foram, pois, confirmados. Se serve de consolo, o talento grande haverá de mantê-lo na Laranja. E com destaque cada vez maior, nos próximos anos.

19 - Ryan Gravenberch (2 jogos): sai na mesma. Já se sabia: com Wijnaldum e De Jong como titulares absolutos, Gravenberch foi à Euro como um talento para o futuro, mesmo já sendo titular absoluto no Ajax. Pois bem: pelo menos, ele teve duas aparições - vindo do banco contra a Áustria, e jogando os 90 minutos no lugar de De Roon, contra a Macedônia do Norte. O camisa 19 mostrou alguns problemas defensivos, mas não comprometeu. Se continuar bem no Ajax, certamente continuará nas próximas convocações da seleção principal. Saiu da Euro sem nada a comprometer.

14 - Davy Klaassen: não jogou

24 - Teun Koopmeiners: não jogou

Atacantes

10 - Memphis Depay (4 jogos, 2 gols): sai na mesma. Inegável: Memphis encarava a Euro como a chance para vencer a barreira do bom jogador (que ele é) e se confirmar como, talvez, craque. Após superar a lesão no joelho e fazer ótima temporada no Lyon, Depay tinha um excelente palco para brilhar. Sim, teve alguns bons momentos: acelerou jogadas de ataque, driblou, fez gols, mostrou a chamada "liderança técnica". Porém, às vezes ainda exibiu um certo preciosismo, optando pelo bonito ao invés do simples. E na eliminação nas oitavas de final, jogou sem brilho durante os 90 minutos. Enfim, Memphis só conseguiu alguma validação ao seu talento com a confirmação da transferência para o Barcelona. Na seleção e na carreira, ainda lhe falta algo. E isso ficou claro na Euro: como tantos na seleção neerlandesa, ele foi bem na fase de grupos, mas sucumbiu diante da primeira dificuldade.

19 - Wout Weghorst (4 jogos, 1 gol): sai em alta. Nenhum dos 26 convocados da Holanda para a Euro tinha tanta vontade de estar nela quanto Weghorst. E nas oportunidades que teve, o atacante pelo menos provou isso. Prestigiado como titular com a mudança de esquema de De Boer, virou titular após jogar bem no amistoso contra a Geórgia, pré-Euro - e justificou essa escolha com boa atuação e gol, na estreia contra a Ucrânia. Mesmo sem finalizações, o camisa 19 participou das jogadas de ataque, buscou jogo, correu. Até mesmo contra a Macedônia do Norte, quando ficou claro que ele perderia a titularidade para Donyell Malen, ele veio do banco e acertou uma bola no travessão. Sintetizando: Weghorst fez o que pôde. E deixa a Euro com um provável consolo: superou Luuk de Jong na hierarquia de convocações da seleção. Se continuar bem no Wolfsburg, voltará à Laranja. Mais frequentemente do que ocorria pré-Euro.

18 - Donyell Malen (3 jogos): sai na mesma. Eis o grande símbolo do que foi a Holanda nesta Euro 2020(+1): um grande "o que poderia ter sido e não foi". Ao entrar contra a Áustria, Malen foi um dos grandes responsáveis por tirar a Laranja do sufoco, ao acelerar o contra-ataque do gol de Dumfries. Classificação garantida, o atacante entrou jogando contra a Macedônia do Norte - e se entendeu às mil maravilhas com Memphis Depay, tecnicamente falando. Já serviu para convencer Frank de Boer sobre sua titularidade contra a República Tcheca, nas oitavas de final. E além de ser o melhor do ataque na partida, o camisa 18 quase fez um gol que abriria caminhos. Quase... foi o que faltou para Malen: roubar a cena na hora em que ele era o protagonista. As boas impressões que atraía, cada vez mais, tiveram uma interrupção. Faltou pouco para sair em alta da Euro... 

7 - Steven Berghuis (2 jogos): saiu na mesma. Berghuis foi um dos nomes que perdeu na mudança de esquema. Nas primeiras rodadas das eliminatórias da Copa de 2022, com três atacantes, não só começou jogando, como fez dois gols. Na Euro, apareceu pouco: só veio a campo contra Macedônia do Norte e República Tcheca - nesta última, só nos últimos nove minutos, quando a Holanda já rumava para o calabouço. Teve até uma boa participação no segundo tempo contra os norte-macedônios, participando do primeiro gol de Wijnaldum. Nada que mudasse muito seu papel dentro da seleção.

11 - Quincy Promes (2 jogos): saiu na mesma. Pelos problemas dentro e fora de campo, Promes atraía desconfianças sobre o que poderia fazer na Euro. Não se saiu tão mal. Ainda assim, esteve envolvido num dos vários desastres contra a República Tcheca: entrou no lugar de Malen, para tentar ser um atacante que se movesse mais após a expulsão de De Ligt - até para ajudar a defesa. Não conseguiu fazer nada disso. Mas nem se esperava muito de Promes.

9 - Luuk de Jong (2 jogos): sai em baixa. Mesmo com camisa de titular, Luuk já estava em maus lençóis durante a Euro. Perdeu espaço para Weghorst e Malen como opção de ataque, só vindo a campo nos minutos finais contra Ucrânia e Áustria. Passou sem chamar a atenção. E a situação que já estava difícil teve o impacto final num treino, entre a fase de grupos e as oitavas de final: com uma lesão no joelho, foi cortado. Se não melhorar da má fase pré-Euro em que estava no Sevilla, Luuk corre riscos nas convocações posteriores.

26 - Cody Gakpo (1 jogo): sai na mesma. Há pouquíssimo a se falar do que Gakpo fez na Euro 2020. Até porque o atacante estreou pela seleção dos Países Baixos justamente contra a Macedônia do Norte. Fez coisas boas nos 12 minutos em que jogou, é verdade - quase marcou gol. Mas foi pouco tempo: qualquer avaliação mais profunda seria precipitada.

Frank de Boer (técnico)

Sai em baixa. A polêmica foi grande, num país tão acostumado (e tão apegado) ao 4-3-3. Era uma aposta polêmica, num técnico que viveu sob desconfiança enquanto comandou a seleção. Mas a opção de Frank de Boer em jogar com três zagueiros fazia sentido: pensava proteger mais a defesa - e nela, aproveitar todos os nomes melhores (Stefan de Vrij, Matthijs de Ligt, Daley Blind). Na fase de grupos, deu certo. Com boas atuações de Wijnaldum, Frenkie de Jong e Memphis Depay, ensaiou-se um embalo. Frank ganhava a briga. Mas os azares do destino contra a República Tcheca (o gol perdido por Malen, a expulsão de De Ligt) foram aumentados por um erro de Frank na alteração: colocar Promes no lugar de Malen, alteração pouco entendida. Em situação adversa, o técnico fracassou ao tentar arrumar as coisas. Ficou visível a sua incapacidade em achar jeitos de jogar fora daquele ao qual a Holanda já se acostumava. E a derrota foi o golpe final das desconfianças: mais um trabalho de Frank de Boer terminou em demissão. O começo promissor terminou tristemente.