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sexta-feira, 30 de junho de 2023

A Holanda na Copa feminina - as 23 convocadas: Janssen


Seja no miolo de zaga (como prefere) ou na lateral esquerda, Dominique Janssen chega à Copa do Mundo mais titular do que nunca na Holanda (KNVB Media)

Ficha técnica
Nome: Dominique Johanna Anna Janssen
Posição: Zagueira/lateral
Data e local de nascimento: 17 de janeiro de 1995, em Horst aan de Maas (Holanda)
Clubes na carreira: Essen-ALE (2013 a 2015), Arsenal-ING (2015 a 2019) e Wolfsburg-ALE (desde 2019)
Desempenho na seleção: 96 jogos e 6 gols, desde 2014
Torneios pela seleção: Copa de 2015 (1 jogo, nenhum gol), Euro 2017 (1 jogo, nenhum gol), Copa de 2019 (7 jogos, 1 gol), torneio olímpico de 2020+1 (4 jogos, 1 gol) e Euro 2022 (4 jogos, nenhum gol)

(Versão revista e ampliada do texto de apresentação para o guia deste blog na Copa de 2019)

Dominique Janssen sempre foi Dominique Janssen, passou um tempo com "Bloodworth" como o nome na camisa, e voltou a ser Dominique Janssen. Seja com o "nome público" que for, a defensora acumulou experiência notável nos últimos anos, para contrabalançar os erros que comete vez por outra no miolo de zaga (mais) e na lateral esquerda (menos). Mostra talento técnico até para ajudar em bolas paradas. E por tudo isso, garantiu-se pouco a pouco como nome certo na defesa da seleção feminina da Holanda. Chegará à segunda Copa do Mundo como titular absoluta. Mais do que isso: com o fim da carreira de Stefanie van der Gragt e as colegas mais novas que já estão aí, a bacharel em Nutrição (carreira escolhida fora dos campos por Janssen, que gosta de dar dicas de alimentos naturais em seu perfil no Instagram) deverá virar um pilar ainda mais importante para os tempos que virão.

Antes mesmo de começar a jogar em clubes, a zagueira de 1,74m já estava recrutada pela federação holandesa: desde 2010, já jogava nas seleções de base - no caso, a seleção sub-15 da Holanda. E assim, a nativa da cidade de Horst aan de Maas foi crescendo. A partir de 2012, já era capitã da seleção sub-17; no ano seguinte, Janssen também era a dona da braçadeira na equipe sub-19 das Leeuwinnen (em holandês, "Leoas"). Curiosamente, sequer tinha iniciado a carreira profissional.

Antes mesmo de começar a jogar por clubes, Janssen já jogava nas seleções de base da Holanda (Christof Koepsel/Bongarts/Getty Images)

Isso só aconteceu na segunda metade de 2012, quando Dominique entrou para a equipe de juniores do RKSW Wittenhorst, clube amador perto de sua cidade. Todavia, na hora de entrar para um time adulto, a zagueira ficou sem lugar na Holanda. E só começou de vez a carreira num país vizinho: a Alemanha. Janssen começou a jogar no SGS Essen, da Bundesliga feminina, em 2013. Com lugar entre as titulares, a zagueira se deu ao luxo até de recusar ofertas tanto de Ajax quanto da fusão entre PSV e FC Eindhoven (no futebol feminino, os dois clubes de Eindhoven tinham uma equipe em conjunto).

Mas seria 2014 o ano do despontar da então Janssen. Pela seleção holandesa sub-19, ela fez parte do time campeão da Euro da categoria. E já serviu para ser convocada pela primeira vez para a equipe adulta da Holanda: o técnico Roger Reijners a incluiu na lista de convocadas para a Copa do Chipre, torneio amistoso. E em 5 de março, contra a Austrália, na competição disputada em campos cipriotas, a zagueira estreou pela Holanda: saiu do banco, substituindo Stefanie van der Gragt, aos 65'.

Já valeu para Janssen causar boa impressão. E para estar entre as 23 convocadas para a Copa do Mundo feminina, em 2015. Já no Mundial do Canadá, a versatilidade de Janssen nas posições defensivas valeu num momento difícil: contra as donas da casa, após uma lesão precoce da lateral direita Van Lunteren, logo após as canadenses fazerem 1 a 0, a defensora entrou para cobrir a lacuna na direita. Deu certo, a Holanda fez 1 a 1, avançou às oitavas de final... e Janssen já se fortaleceu para o ciclo posterior, quando veteranas deixaram a seleção - casos de Dyanne Bito e Petra Hogewoning.

Fortalecimento tamanho, aliás, que Janssen deu outro salto na carreira logo após a Copa, em 2015: foi contratada pelo Arsenal, como uma das primeiras holandesas a irem para os Gunners. Já no primeiro ano na Inglaterra, fez parte da campanha do título da Copa da Liga feminina. Na temporada seguinte, outra copa ganha pelo Arsenal: a Copa feminina da Inglaterra. Paralelamente, Janssen se firmava nas convocações da seleção holandesa - principalmente na lateral direita. Assim, foi convocada para a Euro 2017. Ficou na reserva durante a maior parte da Euro, mas entrou justamente na partida mais importante da história da seleção feminina: a final contra a Dinamarca, substituindo Van Lunteren e terminando o jogo do título continental das Leoas.

Bloodworth consolidou seu amadurecimento após a transferência para o Arsenal (David Price/Arsenal/Getty Images)

De lá para cá, Janssen mudou. Certas alterações na seleção da Holanda - a saída de Mandy van den Berg, a prioridade de Anouk Dekker para a escalação no meio, as lesões de Van der Gragt - fizeram com que ela se tornasse titular na seleção, a partir de 2018. Mais do que mudar em campo, a defensora mudou fora dele: casada, adotou em 2017 o sobrenome do companheiro. Como Dominique Bloodworth, fez parte do Arsenal campeão de mais uma Copa da Inglaterra, em 2017/18, e finalmente campeão da Soccer League feminina, em 2018/19. Assim, ela fechou um ciclo em clubes: anunciou a saída do Arsenal após o título conquistado, já de contrato assinado com o Wolfsburg, para voltar à Alemanha. 

Mas havia uma Copa do Mundo no meio do caminho até as Lobas. E nela, a defensora teve papel preponderante na campanha do vice-campeonato da Holanda. Sem perder um minuto dos 760 minutos (mais acréscimos) das Leoas Laranjas no torneio jogado na França, levando o "Bloodworth" na camisa de número 20, a defensora se mostrou segura no meio da zaga, geralmente formando a dupla com Van der Gragt - ou, no caso da final contra os Estados Unidos, atuando na lateral esquerda. Avançando ao ataque, até cometeu erros em finalizações. Mas teve uma grande compensação: na vitória por 3 a 1 em Camarões, na fase de grupos, coube a ela aproveitar um rebote de escanteio para marcar o seu primeiro gol pela seleção.

Janssen (em 2019, Bloodworth) se firmou de vez na zaga da Holanda naquela Copa do Mundo: jogou todos os minutos na campanha do vice-campeonato - e até fez gol (Robert Cianflone/Getty Images) 

No Wolfsburg, então, Janssen se aprimorou ainda mais. Começou - e segue - no miolo de zaga, já como titular absoluta, mas sua capacidade com a bola nos pés a fez virar cobradora preferencial das bolas paradas do time alemão. Assim ela já colaborou ativamente, mesmo numa temporada interrompida à força pela pandemia de COVID-19. Primeiro, com a "dupla coroa" ganha pelo clube, na temporada 2019/20, levando a copa e o campeonato femininos da Alemanha. Depois, com a campanha na Liga dos Campeões, na qual o Wolfsburg parou na final, perdendo para o Lyon. Àquela altura, uma mudança pessoal já era notada nos campos: ainda em 2020, Janssen voltou a adotar o sobrenome de solteira no futebol, após terminar sua relação.

Desde a primeira temporada, Janssen se consolidou como um dos principais nomes na defesa do Wolfsburg (Martin Rose/Getty Images)

Foi apenas uma alteração pequena, porque nos campos, pouca coisa mudou. Em 2020/21, Janssen seguiu como titular no Wolfsburg. Os títulos vieram em menor quantidade, é verdade: apenas um, o bicampeonato da Copa da Alemanha. Entretanto, Janssen jogou em até mais partidas pelas Lobas (31, contra 29 na primeira temporada pela equipe). Fez gols - 6, muitos em cobranças de falta. E pela seleção, sua importância crescia cada vez mais. Convocada para o torneio olímpico, Janssen não só jogou novamente todos os minutos em que a Holanda esteve em campo, como teve mais um gol para sua conta - no 3 a 3 contra o Brasil, na fase de grupos, empatou a partida com cobrança de falta precisa.

Na temporada 2021/22, os rumos se separaram um pouco. No Wolfsburg, Janssen se consolidou como uma das líderes da defesa, ao lado de nomes como Felicitas Rauch e a goleira Merle Frohms. Comemorou novamente dois títulos no futebol alemão, colaborando ativamente neles. Na conquista da liga, foram 7 gols em 22 jogos; na Copa da Alemanha (em que o clube se sagrou tricampeão), 3 gols em quatro jogos. Porém, se sua posição nas Lobas era indiscutível, pela seleção a defensora passou por algumas turbulências em 2022. Na curta passagem de Mark Parsons pelo comando, Janssen costumeiramente foi escalada na lateral esquerda. E assim foi convocada para a Euro. Contudo, nunca chegou a aceitar totalmente a mudança de posição, como reconheceu ao site NU Sport: "Eu me irritei por não poder jogar como zagueira central, isso ficou na minha cabeça (...) Mas agora aceitei e sei que posso". Mesmo emplacando mais um grande torneio pela seleção com todos os minutos em campo, Janssen acabou vivendo um mau momento: errando na marcação, cometeu o pênalti que rendeu à França o gol da eliminação neerlandesa, no 1 a 0 das quartas de final.

Mark Parsons deixou a seleção após a Euro, veio Andries Jonker, e Janssen voltou a jogar onde melhor rende na seleção: como uma das três zagueiras, pela esquerda. Assim ela seguiu no Wolfsburg. Com mais um título em 2022/23: o tetracampeonato da Copa da Holanda - na final vencida sobre o Freiburg com goleada (4 a 1), a zagueira ainda deixou o seu nas redes, de pênalti. Mesmo com decepções na temporada (derrota no Campeonato Alemão, a queda na final da Liga dos Campeões), a zagueira recuperou sua força. Recuperou a confiança no trabalho na seleção - em abril, elogiou abertamente o técnico: "Com Andries, se sabe onde e como você joga. Olhamos para cada esquema e vemos o que mais combina com a gente, como as jogadoras podem render melhor. Aí treinamos. Espero que dê certo".

E Janssen chega à terceira Copa da carreira. A não ser por lesões, tem tudo para emplacar mais um torneio com todos os minutos em campo pela seleção. E isso deve ocorrer por muito tempo, pelo visto.

(Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images)

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Os holandeses na Copa: Janssen

Nenhuma outra história de reação entre os convocados da Holanda para a Copa é maior que a de Vincent Janssen. De ridicularizado, o atacante voltou à seleção, ganhou confiança, reavivou a carreira (Divulgação/KNVB Media)

Ficha técnica
Nome: Vincent Petrus Anna Sebastiaan Janssen
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 15 de junho de 1994, em Heesch
Clubes na carreira: Almere City (2013 a 2015), AZ (2015 a 2016), Tottenham-ING (2016 a 2019), Fenerbahçe-TUR (2017 a 2018, por empréstimo), Monterrey-MEX (2019 a 2022) e Royal Antwerp-BEL (desde 2022)
Desempenho na seleção: 20 jogos e 7 gols, desde 2016 
Torneios pela seleção: Liga das Nações (2022/23)

O clichê às vezes é exagerado, mas aqui cabe à perfeição: se no ano passado alguém sugerisse Vincent Janssen como um possível convocado da seleção da Holanda na Copa do Mundo, no mínimo, receberia olhares de forte estranhamento. Pois é: só a sugestão já parecia absurda. Que dirá a concretização da convocação. Pois o tempo passou. As circunstâncias se impuseram: a dificuldade de se achar um típico "atacante de referência" confiável para a Laranja, um voto de confiança de Van Gaal, o espírito de dedicação que Janssen traz em suas contestadas atuações... e ei-lo na primeira Copa do Mundo da carreira, coroando uma recuperação algo incrível, exatamente por ser tão pouco cogitada. 

Janssen teve inspiração esportiva em casa - mas vinda das águas: sua mãe é Annemarie Verstappen, nadadora de sucesso que a Holanda teve nos anos 1980 (para ficar apenas em poucos feitos, Annemarie levou uma prata e dois bronzes na natação feminina dos Jogos Olímpicos de 1984). Ainda na infância, começou no futebol via SV TOP, clube amador de Oss. Não tardou muito para que, em 2002, ele fosse para o clube mais conhecido da cidade: o profissional TOP Oss, atualmente na segunda divisão. Uma parceria ampliou suas possibilidades: as categorias de base do TOP Oss eram coordenadas em parceria com o NEC - tendo boas atuações no ataque, Janssen migrou na adolescência para os times inferiores do clube de Nijmegen. Mais um tempo, e começou a receber chances nas seleções de base da Holanda. E em 2009, a grande chance: o atacante chegou para os times juvenis do Feyenoord. 

Só que a chance passou em branco: após quatro anos treinando no centro de Varkenoord, junto aos juvenis do Stadionclub, Janssen foi dispensado - achavam-no leve demais para um atacante. Restou começar a carreira de modo mais humilde: indo para o Almere City, mais um clube da segunda divisão. Pelo menos, havia confiança do técnico Fred Grim. E o novato começou a compensar, mesmo numa equipe em dificuldades na Eerste Divisie dos Países Baixos: em 2013/14, foram dez gols em 35 jogos (com o Almere City em 18ª lugar, entre 20 times). Na temporada seguinte, Janssen já ajudou mais: 19 gols, de longe o goleador da equipe de Almere na segunda divisão, ajudando a equipe a, pelo menos, participar da repescagem de acesso à Eredivisie. De quebra, em 2014, ele apareceu de vez em termos de seleção: não só atuou na equipe sub-21, mas também participou do Torneio de Toulon, tradicional competição de base na cidade homônima francesa.

A passagem esplendorosa que fez pelo AZ em 2015/16 fez muitos acreditarem que Janssen seria o novo grande atacante holandês (ANP/Pro Shots)

Foi o suficiente para o AZ decidir apostar em Janssen: em junho de 2015, ele foi a contratação principal para o ataque do time de Alkmaar. Pois a aposta se pagou. Ali o atacante ensaiou ser a grande revelação da Holanda, numa posição que já começava a passar por entressafra com a decadência técnica de Robin van Persie e Klaas-Jan Huntelaar. Favorecido por ser ambidestro nas finalizações (foram 15 gols de pé direito e 10 de esquerdo, fora dois de cabeça), sabendo usar a altura para ser referência, mostrando alguma velocidade, Janssen foi o goleador do Campeonato Holandês em 2015/16, com 27 gols, além de ser eleito a revelação da temporada. Em março de 2016, teve sua primeira convocação para a seleção principal da Holanda, para amistosos contra França e Inglaterra. Contra esta, em Wembley, seu primeiro gol na Laranja, o da vitória (2 a 1). Jogando em outro amistoso - 1 a 1 contra a Irlanda, em maio -, Janssen foi visto por Mauricio Pochettino, então treinando o Tottenham. Nos dois amistosos seguintes, em junho, duas vitórias holandesas (2 a 1 na Polônia, 2 a 0 na Áustria), dois gols de Janssen. Foram as provas que faltavam.

Porque às vésperas da temporada 2016/17, o Tottenham decidiu trazer o holandês, por 20 milhões de euros - simplesmente o recorde de quantia de transferências da história do AZ. Diante de um clube que já tinha em Harry Kane um atacante dos mais confiáveis do mundo, era uma aposta de Janssen na própria carreira. Esta, todavia, fracassou. Janssen atuou até bastante: foram 27 jogos na Premier League, cinco pela Liga dos Campeões... mas apenas dois gols marcados. O atacante goleador na Eredivisie se mostrava fora de ritmo no futebol inglês, muito mais intenso. Ainda assim, sem grandes concorrentes, Janssen mantinha a titularidade na Holanda, começando a disputar as eliminatórias da Copa de 2018. 

Janssen chegou ao Tottenham cheio de expectativas. Elas foram dizimadas: sem nem se credenciar como opção no banco de reservas, seu tempo nos Spurs foi para se esquecer (Tottenham Hotspur)

Em clubes, só restou um empréstimo, para tentar recuperar a má impressão deixada no começo pelo Tottenham: Janssen passaria a temporada 2017/18 no Fenerbahçe. E nem lá imporia respeito: quatro gols em 16 jogos, ainda sofrendo lesão na reta final da temporada. Por sinal, àquela altura, seu espaço na seleção da Holanda também já se acabara: ao longo de 2017, seu esforço na área ainda justificava a titularidade na Laranja, chegando a marcar um gol nas eliminatórias da Copa. Contudo, a queda técnica abriu caminho para novas tentativas: Quincy Promes e Ryan Babel ganharam chances, e Janssen foi progressivamente sendo substituído. A última partida da Laranja na fracassada campanha das eliminatórias da Copa de 2018 (2 a 0 na Suécia) também foi sua última na seleção. Pelo menos, por um longo tempo.

Janssen começou promissor na seleção da Holanda, em 2016. No fim do ano seguinte, já estava no ostracismo - e demoraria bastante para sair dele (Dean Mouhtaropoulos/Getty Images)

Nada fazia crer que Janssen retomaria tal espaço. Em 2018, de volta ao Tottenham, sequer teve um número de camisa destinado para ele a princípio. Ter espaço apenas na equipe B, que disputava a Premier League de jovens, era o sinal definitivo de que uma transferência era necessária - ainda que a reta final da temporada 2018/19 tenha trazido três jogos pelo Campeonato Inglês. O curioso foi o destino que Janssen definiu para sua carreira: ele aceitou a proposta do Monterrey, indo para o México na metade de 2019.

Nos Rayados, Janssen se tornou um atacante menos fixo na área, ajudando até o meio-campo. E teve momentos um pouco melhores. Mesmo seguindo na reserva, colaborou com cinco gols no Apertura mexicano de 2019 - e participou mais ativamente do título do Monterrey, o primeiro de sua carreira, ganho nos pênaltis contra o América (e neles, convertendo a primeira cobrança). No outro título que viria, em 2020, o holandês apareceria bem mais: seria o goleador da Copa MX, com sete gols, e marcaria gol na final contra o Tijuana, que marcou mais um título para o clube alviazul.

Janssen também não foi protagonista no Monterrey. Ainda assim, a curiosa passagem pelo time mexicano lhe rendeu momentos um pouco melhores (Azael Rodriguez/Getty Images)

Ainda assim, era pouco. Janssen era apenas uma opção de ataque no Monterrey, vindo do banco mesmo em momentos importantes, como a conquista da Liga dos Campeões da CONCACAF em 2021, ou até a participação no Mundial de Clubes da FIFA de 2021 - ainda melhor do que não participar, como ocorreu no Mundial de 2020, ao se lesionar e nem ser relacionado. Voltar à seleção da Holanda parecia algo fora de cogitação. Ou mesmo voltar a um clube europeu.

Pelo menos, até o fim da temporada 2021/22. Já então treinando a Holanda, Louis van Gaal buscava outra opção para ser um atacante mais estático na área. Janssen marcou dois gols em sequência, na reta final da liga mexicana. Bastou para ser testado de novo na Laranja, após cinco anos: na convocação para os jogos de junho da Laranja na Liga das Nações, a simples menção a seu nome causou enorme surpresa. Até para o próprio: a descrença na convocação era tamanha que Janssen marcara casamento em 4 de junho, durante as datas FIFA - e não desmarcou, só viajando para se integrar após o matrimônio. Teve uma chance: começou como titular na vitória por 3 a 2 sobre o País de Gales.

Círculo vicioso: a partir do retorno à seleção da Holanda, Janssen teve a carreira reanimada. E decidiu começar de novo na Europa, pelo Royal Antwerp (Joris Verwijst/Orange Pictures/BSR Agency/Getty Images)

A convocação para a Holanda foi o sopro de ânimo na carreira de Janssen. Ouvindo de Van Gaal que jogar mais perto seria recomendável (não obrigatório, mas recomendável) para ter mais chances de se manter na seleção, o atacante decidiu aceitar a proposta do Royal Antwerp belga. Com o clube de Antuérpia disputando a liderança na liga do país, o atacante já fez oito gols em 16 jogos - nada espetacular, mas o suficiente para circular perto da disputa pela artilharia, o que não lhe ocorria há muito tempo. Nas datas FIFA de setembro, novamente convocado, Janssen jogou as duas partidas, contra Polônia e Bélgica.

Continua sendo contestado, diante das lembranças ruins ainda forte dos últimos anos. Contudo, agora Janssen tem como ignorar os detratores: está garantido na Copa, em algo que parecia inacreditável há um ano. Diante de tantas surpresas, como ousar imaginar que ele não terá importância na campanha da Holanda?

(Peter Lous/BSR Agency/Getty Images)


quinta-feira, 16 de maio de 2019

As 23 Leoas: Bloodworth

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 



Já novata, Bloodworth (antes, Janssen) mostrou versatilidade nas posições de defesa. Por isso, ganhou rapidamente importância na seleção feminina (onsoranje.nl)
Se o ataque da seleção feminina da Holanda é dos mais respeitáveis da Europa, a defesa da Laranja inspira certos cuidados. Para minorar as fragilidades, uma jogadora tem ganho cada vez mais importância entre as Leoas: jogando tanto nas laterais quanto no miolo de zaga, Dominique Bloodworth tem subido de importância dentro do esquema tático de Sarina Wiegman. E irá para sua segunda Copa do Mundo na carreira, como titular na escalação.

Antes mesmo de começar a jogar em clubes, a zagueira de 1,74m já estava recrutada pela federação holandesa: desde 2010, já jogava nas seleções de base - no caso, a seleção sub-15 da Holanda. Naquele tempo, a novata tinha outro sobrenome: Dominique Janssen. E assim, a nativa da cidade de Horst aan de Maas foi crescendo. A partir de 2012, já era capitã da seleção sub-17; no ano seguinte, Janssen também era a dona da braçadeira na equipe sub-19 das Leeuwinnen (em holandês, "Leoas"). Curiosamente, sequer tinha iniciado a carreira profissional.

Isso só aconteceu na segunda metade de 2012, quando Dominique entrou para a equipe de juniores do RKSW Wittenhorst, clube amador perto de sua cidade. Todavia, na hora de entrar para um time adulto, a zagueira ficou sem lugar na Holanda. E só começou de vez a carreira num país vizinho: a Alemanha. Janssen começou a jogar no SGS Essen, da Bundesliga feminina, em 2013. Com lugar entre as titulares, a zagueira se deu ao luxo até de recusar ofertas tanto de Ajax quanto da fusão entre PSV e FC Eindhoven (no futebol feminino, os dois clubes de Eindhoven tinham uma equipe em conjunto).

Mas seria 2014 o ano do despontar da então Janssen. Pela seleção holandesa sub-19, ela fez parte do time campeão da Euro da categoria. E já serviu para ser convocada pela primeira vez para a equipe adulta da Holanda: o técnico Roger Reijners a incluiu na lista de convocadas para a Copa do Chipre, torneio amistoso. E em 5 de março, contra a Austrália, na competição disputada em campos cipriotas, a zagueira estreou pela Holanda: saiu do banco, substituindo Stefanie van der Gragt, aos 65'.

Já valeu para Janssen causar boa impressão. E para estar entre as 23 convocadas para a Copa do Mundo feminina, em 2015. Já no Mundial do Canadá, a versatilidade de Janssen nas posições defensivas valeu num momento difícil: contra as donas da casa, após uma lesão precoce da lateral direita Van Lunteren, logo após as canadenses fazerem 1 a 0, a defensora entrou para cobrir a lacuna na direita. Deu certo, a Holanda fez 1 a 1, avançou às oitavas de final... e Janssen já se fortaleceu para o ciclo posterior, quando veteranas deixaram a seleção - casos de Dyanne Bito e Petra Hogewoning.

Fortalecimento tamanho, aliás, que Janssen deu outro salto na carreira logo após a Copa, em 2015: foi contratada pelo Arsenal, como uma das primeiras holandesas a irem para os Gunners. Já no primeiro ano na Inglaterra, fez parte da campanha do título da Copa da Liga feminina. Na temporada seguinte, outra copa ganha pelo Arsenal: a Copa feminina da Inglaterra. Paralelamente, Janssen se firmava nas convocações da seleção holandesa - principalmente na lateral direita. Assim, foi convocada para a Euro 2017. Ficou na reserva durante a maior parte da Euro, mas entrou justamente na partida mais importante da história da seleção feminina: a final contra a Dinamarca, substituindo Van Lunteren e terminando o jogo do título continental das Leoas.

Bloodworth consolidou seu amadurecimento após a transferência para o Arsenal (David Price/Arsenal/Getty Images)
De lá para cá, Janssen mudou. Certas alterações na seleção da Holanda - a saída de Mandy van den Berg, a prioridade de Anouk Dekker para a escalação no meio, as lesões de Van der Gragt - fizeram com que ela se tornasse titular na seleção, a partir de 2018. Mais do que mudar em campo, a defensora mudou fora dele: casada, a partir do ano passado adotou o sobrenome do companheiro. Como Dominique Bloodworth, fez parte do Arsenal campeão de mais uma Copa da Inglaterra, em 2017/18, e finalmente campeão da Soccer League feminina, em 2018/19.

Assim Bloodworth fechou um ciclo em clubes: anunciou a saída do Arsenal após a WSL, e já está de contrato assinado com o Wolfsburg, para voltar à Alemanha. Mas na seleção, a defensora de 24 anos ainda terá um longo tempo. Pode provar isso na Copa.

Ficha técnica
Nome: Dominique Bloodworth-Janssen
Posição: Zagueira/lateral
Data e local de nascimento: 17 de janeiro de 1995, em Horst aan de Maas (Holanda)
Clubes na carreira: Essen-ALE (2013 a 2015), Arsenal-ING (2015 a 2019) e Wolfsburg-ALE (estreará após a Copa, em 2019)
Desempenho na seleção: 46 jogos, desde 2014

sábado, 9 de abril de 2016

Goleadores aparecem (ainda mais) na Eredivisie

Janssen se destaca, na interessante disputa pela artilharia na Eredivisie (Tom Bode/VI Images)

Na edição de fevereiro da revista inglesa World Soccer, o jornalista Jonathan Wilson (talvez o grande especialista mundial da atualidade em análise tática, entre a imprensa dedicada ao futebol, em todo o mundo) citou em sua coluna um fenômeno da atual temporada europeia. Pode até parecer absurdo, mas é bem plausível: novamente, algumas equipes estão escalando mais atacantes “de ofício”, para que eles tenham um papel predominantemente finalizador. Não que eles possam ficar parados ali durante os 90 minutos, apenas esperando que a bola chegue à grande área. Mas precisam estar sempre à espreita para fazer o que deles se espera: colocar a esférica de couro na casinha adversária. 

Basta citar a coqueluche mundial, o Leicester City: de nada adiantaria a rapidez de N’Golo Kanté na saída de bola, nem a qualidade de Riyad Mahrez na criação de jogadas, não fosse a prontidão de Shinji Okazaki e, principalmente, de Jamie Vardy para transformar essas jogadas em gols. Há outros exemplos. Se ainda tem esperança (cada vez menor) de alcançar os Foxes na disputa do título inglês, o Tottenham deve grande parte dela à referência confiável que Harry Kane tem sido. Se o Barcelona não abre mão do 4-3-3, e isso abriu espaço para o entrosamento esbanjado pelo famoso trio de ataque, também é verdade que sempre se espera a presença de Luis Suárez na área, para marcar os gols. Há Robert Lewandowski e Thomas Müller no Bayern Munique, há Pierre-Emerick Aubameyang no Borussia Dortmund, há Gonzalo Higuaín no Napoli, há a frequência maior de times escalados no 4-4-2 ou até no 4-3-3 (e em suas variações)... enfim, os exemplos estão aí.

E o que diabos isso tem a ver com futebol holandês? Várias coisas. Para começo de conversa, sabe-se que o campeonato nacional da Holanda é um verdadeiro paraíso para quem tenha talento mediano em deixar a bola na rede “pelo lado de dentro”. A ponto de somente experiências em centros mais competitivos revelarem definitivamente se o goleador da vez na Eredivisie é um jogador que terá sucesso inegável no futebol (Johan Cruyff, Romário, Dennis Bergkamp, Ruud van Nistelrooy, Luis Suárez...) ou se viveu apenas uma temporada de sonho (Nikos Machlas, Mateja Kezman, Afonso Alves, Mounir El Hamdaoui, Bjorn Vleminckx, Alfred Finnbogason...).

E se a atual temporada vive essa revalorização dos atacantes de ofício, seja ela um fenômeno temporário ou algo destinado a se tornar novamente habitual, o Campeonato Holandês está testemunhando uma disputa das mais interessantes pelo posto de goleador. Basta dizer que entre o líder da tábua de artilheiros e o sétimo colocado, há cinco gols de distância. Mais do que isso: os cinco primeiros colocados da tabela da Eredivisie têm seus “homens-gol” em ótima forma nas rodadas recentes do torneio.

Claro, talvez o maior símbolo disso seja o ocupante momentâneo do posto de goleador da liga holandesa: Vincent Janssen. Desde que 2016 começou, o atacante do AZ é destaque na ascensão vertiginosa do clube de Alkmaar na temporada. Foram 14 jogos e 14 gols de Janssen no ano, pelos Alkmaarders. Somados aos seis que marcara em 2015, lhe renderam a artilharia da liga, com 20 gols. Sua convocação para a seleção holandesa que disputou os amistosos contra França e Inglaterra, no mês passado, não surpreendeu. O que impressionou é que o atacante também mostrasse segurança a ponto de ser escalado entre os titulares contra a Inglaterra – e que marcasse gol, em seu segundo jogo pela Oranje. Janssen deixou Wembley consolidando-se como a nova esperança holandesa de ataque.

Na 29ª rodada da Eredivisie, no fim de semana passado, Janssen tinha até a chance de abrir vantagem no posto de goleador. Afinal, o AZ enfrentava justamente o PSV onde joga seu principal adversário na disputa do galardão: Luuk de Jong. Claramente, ele é a referência ofensiva dos Boeren. Tanto para segurar a bola e passá-la a quem vem de trás (o que tem feito muito bem) quanto para finalizar (principalmente em seus cabeceios). O irmão de Siem vive na volta à Eredivisie um fenômeno semelhante ao de Klaas-Jan Huntelaar, quando este chegou à Alemanha: após fracasso em centros competitivos (no caso de Luuk, Alemanha e Inglaterra), ele voltou a um campeonato de nível técnico mais, digamos, “acessível”. Não só recuperou a confiança na volta à Holanda, mas também voltou a ser convocado para a seleção – e até marcou gol, contra a França, ainda que o tento tenha sido irregular.

Só que houve uma decepção: nem Janssen, nem Luuk de Jong marcaram em AZ x PSV. Sorte de Arkadiusz “Arek” Milik: nos 3 a 0 contra o Zwolle que mantiveram o Ajax na liderança, o polonês marcou dois gols, chegando definitivamente na disputa pela artilharia - agora, Milik tem 18 gols. Mais do que isso: ele marcou pela sexta rodada seguida, o que não acontecia com um jogador do Ajax pelo Holandês desde... Luis Suárez (o uruguaio marcou em seis rodadas entre março e abril de 2009). E é o primeiro Ajacied a passar dos 14 gols numa só temporada, desde Suárez e o sérvio Marko Pantelic, na Eredivisie 2009/10. Pode-se dizer: enfim, Milik diz a que veio em Amsterdã, desde sua chegada no meio de 2014, ainda emprestado pelo Bayer Leverkusen (só foi contratado em definitivo no ano passado).

Há mais exemplos. Mesmo escalado vez por outra no meio-campo, o velho e ainda bom Dirk Kuyt continua marcando pelo Feyenoord: como Milik, tem 18 gols (dois deles na rodada passada, no 3 a 0 sobre o Excelsior). No Twente, o ponta-de-lança Hakim Ziyech é a “exceção que confirma a regra”: vindo de trás, num time em fase mediana, já fez 17 gols. O Utrecht tem o francês Sébastien Haller, 16 gols. Finalmente, há no NEC o venezuelano Christian Santos, autor de 15 tentos.

Mais notável é ver que Janssen e Luuk de Jong (sem esquecer Bas Dost, jogando fora da Holanda) já ameaçam os atacantes veteranos na Oranje. A ponto de Huntelaar não ter jogado nenhum minuto nos amistosos, e de Robin van Persie sequer ser convocado. Aliás, a revista Voetbal International noticiou que "Hunter" se abateu com a ausência nos jogos recentes da seleção, e está pensando seriamente sobre sua continuidade com a camisa laranja. Esse crescimento de outras opções é um inegável sinal de renovação. Mas ela poderia ser mais representativa: por mais gols que estejam marcando, nenhum desses citados mostrou, ainda, nível técnico suficiente para ir além da finalização, criar jogadas, vir com a bola dominada desde o meio-campo. Se algum deles o fizesse, poderia se iniciar um novo projeto tático para a Laranja, usando bons armadores, como Davy Klaassen.

Seja como for, o futebol holandês tem comprovado como a temporada atual do futebol europeu está pródiga no prestígio aos “homens-gol”. Se isso vai durar, não se sabe. Resta continuar vendo quem será o goleador que levantará a Eredivisieschaal no final das 34 rodadas. Afinal, se bola na rede vale, troféu no clube vale muito mais.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 8 de abril de 2016)