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terça-feira, 23 de março de 2021

Jovens, envelheçam

Frank de Boer já comanda os treinos com os convocados da seleção holandesa masculina. Muita gente acha que ela deveria ser mais jovem... (ANP)

A seleção masculina da Holanda (Países Baixos, como queiram) deveria boicotar a Copa de 2022.

Pelo menos é a ideia defendida por alguns deputados e algumas organizações em defesa dos direitos humanos, em razão de matéria publicada pelo jornal inglês The Guardian, em fevereiro, sobre os maus tratos e as mortes que operários migrantes no Catar têm sofrido, durante as obras de preparação para os estádios, no país-sede do Mundial. Porém, a federação holandesa já afastou a possibilidade de pensar na ideia, com uma nota publicada no domingo passado. E a Laranja começará mesmo seu caminho nas eliminatórias da Copa, nesta quarta-feira, com uma tarefa difícil: enfrentar a Turquia, em Istambul, às 14 horas de Brasília, logo na primeira rodada. Na segunda rodada, no próximo sábado, a Letônia será a adversária na Johan Cruyff Arena (num estádio que estará aberto a 5 mil pessoas, em teste dos Países Baixos para ver se os jogos já podem voltar a receber um público diminuto); e na terça, dia 30, a Oranje enfrentará Gibraltar.

No mesmo dia da estreia nas eliminatórias da Copa adulta, porém, torcedores e imprensa de futebol deixarão o olhar atento também para um jogo que ocorrerá na mesma quarta, às 17h de Brasília, em Budapeste, a capital da Hungria. Lá, a seleção sub-21 da Holanda marcará seu retorno a uma Euro de jovens, enfrentando a Romênia, no primeiro jogo da fase de grupos, reservada para estas datas FIFA de março - se avançar ao mata-mata da Euro sub-21, a "Laranja Jovem" só voltará a jogar em junho, na Eslovênia. E a "Jong Oranje" merece atenção: tanto pela ansiedade natural de um retorno ao principal torneio das seleções europeias para jovens (desde 2013 não estava nele), quanto pela impressão de que o técnico Erwin van de Looi tem à disposição uma geração muito promissora, na qual muitos nomes já poderiam estar - alguns até já estiveram - nas convocações de Frank de Boer.

Mas a Laranja dos adultos também merece sua atenção. Quando nada, porque a própria Euro que ela disputará já está batendo à porta. Além do mais, embora a relação de 24 convocados tenha sido relativamente semelhante às anteriores, ela trouxe algumas novidades - e algumas discussões. Problemas, mesmo, só um: na zaga. Ainda em recuperação do ligamento cruzado anterior rompido no joelho direito, Virgil van Dijk era ausência sabida - e deverá fazer falta na Euro também. Até aí, tudo bem: Stefan de Vrij faria parceria com Matthijs de Ligt. Porém, De Vrij testou positivo para o coronavírus na semana passada, e se tornou mais uma ausência na convocação de Frank de Boer. Restou apenas uma alternativa entre os titulares: repetir na seleção a zaga que se conhece do tempo do Ajax, com De Ligt reencontrando Daley Blind, recuperado de problemas musculares. Outro problema surgiu na lateral esquerda: com Nathan Aké lesionado, novamente ficará a dúvida entre Patrick van Aanholt e Owen Wijndal - nenhum dos dois, defensivamente forte. Como está melhor no AZ, Wijndal deverá ser titular, como já fora nas últimas rodadas na Liga das Nações.

Stekelenburg (à direita) voltara ao Ajax para ser reserva. Mas Onana foi suspenso, ele pegou ritmo no Ajax, agradou... e o veterano retornou à seleção (ANP)

Stekelenburg, a volta do que já parecia passado

E a defesa também trouxe a novidade mais debatida da convocação. Mais precisamente, no gol (houve outra, é verdade: Jeremiah St. Juste, zagueiro estreante na seleção, atuando pelo Mainz-ALE). Certo, Jasper Cillessen, enfim recuperando algum ritmo de jogo no Valencia, e Tim Krul eram nomes previsíveis, como devem ser na Euro. Porém, o terceiro goleiro relacionado chamou atenção. Habitual escolhido, Marco Bizot continua bem no AZ, recuperando-se de um começo inconstante de temporada e tendo atuações que justificam o apelido de "Muro" que a torcida do clube de Alkmaar lhe dá. Porém, no Ajax, a suspensão de André Onana - um ano, por doping - fez com que Maarten Stekelenburg, 38 anos (faz 39 em setembro), tivesse de cumprir o papel pelo qual voltara a Amsterdã: se comprovar uma opção experiente e segura no gol. Stekelenburg comprovou isso, nas partidas que já fez. 

A ponto de Frank de Boer decidir deixar Bizot de lado, na reta final rumo à Euro, e trazer o veterano de volta, quatro anos depois de sua última convocação para a Laranja. A Bizot, restou a preocupação de se ver fora da Euro, após três anos de frequentes chamadas à seleção - e até uma atuação, no amistoso contra a Espanha, no ano passado. Preocupação que ele expressou após a vitória do AZ no fim de semana passado, à emissora NOS, informando que já tinha sido avisado: "O próprio Frank [de Boer] me ligou. Ele me disse que gostaria de chamar Stekelenburg. Lógico que é chato, mas tenho de aceitar e fazer meu trabalho". E o convocado da vez, embora chegue atrás de Cillessen e Krul na hierarquia, tem a seu favor a experiência de duas Copas e duas Euros pela seleção - uma de cada, como titular. Até por isso, o reabilitado Stekelenburg falou esperançoso em voltar a ser o titular, após a convocação: "Não estou voltando à seleção para tirar férias".

Weghorst, a ausência que traz alguma pressão

Se a defesa trouxe uma novidade, o ataque trouxe um problema para Frank de Boer, na convocação. Não, não é Ryan Babel: nem adiantam as reclamações de torcedores e as críticas da imprensa, porque o atacante de 34 anos vai à Euro. Babel agrada os técnicos pela experiência, pela disposição em jogar onde lhe pedem, pela imagem que tem no grupo (Frank de Boer falou no ano passado: "Numa convocação, você precisa de 16 jogadores que podem ser titulares e seis que aceitem seu papel e se esforcem para manter o resto ligado. Babel é um desses jogadores"). O problema foi Frank ter escolhido Luuk de Jong como um dos atacantes reservas, em detrimento de Wout Weghorst. 

Após ter "acordado" e ser decisivo na reta final da Liga Europa passada, que terminou com mais um título do Sevilla em que joga (e pelo qual fez gol na final, inclusive), Luuk voltou a perder espaço no time espanhol, ficando no banco por jogos a fio. Já Weghorst só não é o melhor atacante do Campeonato Alemão porque tem um nome chamado Erling Haaland e outro chamado Robert Lewandowski à sua frente. De resto, o jogador do Wolfsburg tem 16 gols, é a principal referência ofensiva dos Lobos, colocou mais vezes a bola na casinha do que qualquer outro convocado da seleção - Donyell Malen, quem mais fez gols, fica nos 15 marcados pelo PSV no Holandês.

O próprio Weghorst já nem disfarça mais sua insatisfação: na rodada passada da Bundesliga, após marcar na vitória do Wolfsburg, lamentou ("Estou decepcionado e não tenho vontade de falar sobre isso"). Por outro lado, se Luuk de Jong não é lá dos mais técnicos, Weghorst também é mais um "homem-gol" para as horas em que for necessário. Além do mais, é justo dizer que o atacante do Wolfsburg tem sido deixado de lado desde os tempos de Ronald Koeman - ao contrário de De Jong, convocado regularmente há muito tempo. A coerência que talvez esteja faltando a De Boer no gol, onde trocou Bizot por Stekelenburg, está presente na continuação de Luuk de Jong como opção a Memphis Depay e Donyell Malen, os outros titulares.

Os 23 convocados da seleção sub-21 para a Euro da categoria: nomes como Stengs e Gravenberch já fizeram a transição. Outros poderiam tê-la feito... (KNVB Media)


Qual Euro? Sub-21 ou adulta?

Todavia, é outro atacante, Calvin Stengs, o símbolo de mais um tema que tem sido discutido nessas datas FIFA: jogadores que disputarão a Euro sub-21, mas que poderiam ser convocados para a seleção adulta - e os critérios para tanto. Nomes como Stengs, o supracitado Wijndal e Ryan Gravenberch foram nomes frequentes na Laranja Jovem durante as eliminatórias da Euro, mas já receberam chances de Frank de Boer, já agradaram, e já parecem destinados à Euro adulta.

Mais nomes poderiam ser parte dessa lista, segundo quem acompanha as seleções holandesas. Como Teun Koopmeiners e Myron Boadu, que ficaram na Euro sub-21 desta vez. Na apresentação para o torneio continental, Koopmeiners (destaque do AZ nesta temporada) reconheceu, à revista Voetbal International: "Eu gostaria de estar na seleção adulta. Mas tivemos uma conversa com Frank de Boer, ela foi muito boa, e entendemos bem as razões".

Ainda assim, a seleção sub-21 da Holanda merecerá tanto destaque quanto a principal terá, em seu caminho para tentar voltar a uma Copa do Mundo. Com muita gente esperando que os jovens da Jong Oranje envelheçam rapidamente, para poderem ajudar a adulta a conseguir essa meta.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Talento, há. Falta atualização

A badalação sobre Justin Kluivert mostra: há uma base sobre a qual a seleção holandesa pode recomeçar (Getty Images)
A crise atual da seleção holandesa – e do futebol holandês como um todo, aliás - dá a impressão (justificada) de que a revelação de talentos do país, antes considerada das mais aceleradas e prósperas do futebol europeu, secou. Que se acabaram as promessas batavos, que a Holanda perdeu o jeito, que nunca mais se verá um holandês ombreando outros portentos na lista de grandes nomes do futebol mundial. Será? Não, pelo que se viu em duas listas importantes de jogadores jovens, exibidas nesta semana.

Menos acadêmica, a Gazzetta dello Sport estampou na capa de sua edição da terça passada uma lista dos “98 melhores jogadores nascidos em 1998”. Além das presenças óbvias e esperadas – Kylian Mbappé (que encabeça a relação), Christian Pulisic, Gianluigi Donnarumma -, estavam cinco jogadores holandeses. Um deles, numa posição nada desprezível: sexto lugar, que ficou para Justin Kluivert. Pouco abaixo, em 11º, estava Matthijs de Ligt. E ao longo da lista estiveram Timothy Fosu-Mensah (39ª posição), Teun Koopmeiners (meio-campista do AZ, em 96º lugar) e Leandro Fernandes (atacante de ascendência angolana, recém-chegado à Juventus, vindo do PSV, em 97º).

No mesmo dia, esta Trivela comentou sobre o estudo feito pelo Observatório do Futebol do Centro Internacional de Estudos do Esporte (CIES), que concluiu sobre os 50 jovens europeus mais promissores no futebol. Aí, o número de holandeses até aumentou: fora os supracitados De Ligt (8º), Kluivert (16º) e Fosu-Mensah (32º), havia Giovanni Troupée (lateral direito do Utrecht, em 15º), Rick van Drongelen (lateral esquerdo do Hamburgo, em 22º), Justin Hoogma (zagueiro do Hoffenheim, em 23º), Carel Eiting (meio-campista do Ajax, em 35º) e Sherel Floranus (lateral direito do Sparta Rotterdam, em 37º). Oito nomes – bem acima de países como a Itália, de tradição maior, que só teve na relação Donnarumma, o primeiro colocado, e Manuel Locatelli.

É possível que nenhum dos nomes citados alcance qualquer relevância na carreira adulta. Foi o que aconteceu, por exemplo, com os destaques da Jong Oranje bicampeã europeia sub-21 em 2006 e 2007: desses dois anos, unindo todos os 43 jogadores convocados nesses torneios (alguns deles estiveram em ambos os títulos, como Kenneth Vermeer e Ron Vlaar), o único cuja carreira pode ser considerada relativamente notável é Klaas-Jan Huntelaar – e ainda assim, há gigantes controvérsias. De resto, aquela geração se debateu ora entre jogadores que fizeram carreira apenas razoável e discreta (Stijn Schaars, Demy de Zeeuw, o próprio Vlaar), ora entre gigantescas decepções (Royston Drenthe, Maceo Rigters, Hedwiges Maduro, Ryan Babel).

Ainda assim, as presenças holandesas nas listas supracitadas indicam que há perspectivas para os novatos. E a nova fase de trabalho com as seleções indica que, enfim, haverá uma saudável sinergia entre as Laranjas jovem e madura – coisa rara, muito rara, nos trabalhos recentes. Basta dizer que, nesta semana, o técnico da seleção sub-21, Art Langeler, chamou os 18 jogadores habitualmente convocados para dois dias de treinos, de modo a não perderem entrosamento. E quem esteve acompanhando os trabalhos a par e passo, junto de Langeler? Ronald Koeman, em seus primeiros dias de trabalho – o técnico da seleção principal foi enfático na justificativa: “Já que a seleção sub-21 é a mais próxima da adulta, era muito importante que eu estivesse presente”.

Nesses treinos da Laranja Jovem, estiveram nomes já redigidos aqui neste texto, como Kluivert e Van Drongelen - além de outros que merecem alguma atenção, como o lateral direito Denzel Dumfries, 21 anos e um dos destaques do Heerenveen na temporada, com muita velocidade e força física nos avanços. Falando nisso, a fase atual do Campeonato Holandês mostra alguns desses jovens se destacando em suas equipes. O principal exemplo disso é Justin Kluivert: após um começo ruim de temporada, o ponta-esquerda aproveitou a lesão (e a saída frustrada) de Amin Younes para retomar a titularidade, não a largar mais e se tornar o grande destaque do Ajax, até agora, em 2018. Nas últimas rodadas, Kluivert tem sido habitualmente o melhor em campo dos Ajacieden, sempre aparecendo como opção de jogadas, tanto na troca de passes quanto na finalização. E na rodada passada, além de Kluivert, mais um lembrado das listas atuou pela equipe adulta: Carel Eiting jogou todo o segundo tempo da vitória sobre o Zwolle (1 a 0).

Mas o grande símbolo dessa força jovem nascente está no AZ. A equipe de Alkmaar faz uma primorosa campanha, para seus padrões, com o terceiro lugar seguro (dependendo do momento, até sonhando com a vice-liderança). E dois dos principais símbolos da temporada auspiciosa são jovens, criados no próprio clube alvirrubro, titulares absolutos no meio-campo. Tanto Guus Til – 20 anos, holandês nascido em Zâmbia – quanto o mencionado Teun Koopmeiners – 19 anos, a completar 20 na próxima quarta – mostram talento para todas as funções de um meio-campista: marcam bem, avançam bem, têm bom passe. E até sabem finalizar: Til já marcou sete gols na Eredivisie, só abaixo dos dois destaques do ataque do AZ, Alireza Jahanbakhsh e Wout Weghorst.

Todavia... como todos sabem, o Campeonato Holandês tem um nível técnico muito abaixo do necessário para que um jogador possa evoluir – e provas disso são as transições traumáticas de Memphis Depay e Vincent Janssen, nas temporadas anteriores. Esse “choque de realidade” entre a Eredivisie e as ligas maiores também foi exposto duramente nas palavras de Jürgen Locadia, recém-chegado à Inglaterra e ao Brighton. O atacante reconheceu à revista “Voetbal International”: “Foi difícil para mim no começo, porque aqui se treina muito mais do que na Holanda. E os treinos são mais duros e mais longos. Mas estou começando a me acostumar”.

Locadia, Koopmeiners, Til, Kluivert, De Ligt, Floranus, Eiting... a nova geração holandesa já começa a aparecer - e nem se falou aqui de nomes como Frenkie de Jong e Donny van de Beek. Porém, já se sabe: no caminho da juventude à maturidade futebolística, o entorno precisará ajudá-los, em forma de aumento na competitividade e atualização tática – mesmo que, para isso, seja necessário (e provavelmente será) deixar a Holanda. Técnica, todos esses jovens têm. Um cenário melhor, com um trabalho mais atento e menos frouxo, já será suficiente para fazer com que esta geração consiga se firmar de verdade – e a partir disso, se estabeleça de vez na seleção adulta.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 23 de fevereiro de 2018)

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Poucas esperanças


A seleção holandesa sub-21 atual tem a pesada função de dar alguma esperança de renovação. E começou mal (Pro Shots)

Que a seleção principal da Holanda vive uma crise, isso o leitor já sabe há muito tempo. E ela teve nova prova incontestável na semana passada, com as rodadas das Eliminatórias da Copa de 2018. Se a seleção da França ainda tem muito o que provar, também (algo indicado pelo empate relativamente vexatório com Luxemburgo – que teve um destaque em Gerson Rodrigues, que atua no Telstar, da segunda divisão holandesa), foi incontestável o 4 a 0 dos Bleus na Oranje, quinta-feira retrasada. E ninguém, torcida ou imprensa, se deixou levar excessivamente pelos 3 a 1 sobre a Bulgária, que manteve as esperanças remotas de ir à repescagem da qualificação europeia. Com o cenário desalentador na equipe adulta, a equipe laranja sub-21 vira esperança de dias melhores. Mas mesmo essa esperança também caiu, com o mau começo holandês nas eliminatórias da Euro sub-21.

Pois é: na equipe adulta, o que se vê são más atuações de um time que se divide entre veteranos e novatos. Os de mais idade ora se esforçam e mostram que têm algo a dar (Arjen Robben), ora têm dificuldades para encontrar ritmo (Wesley Sneijder foi tão lento contra a França que tornou inevitável sua ida para o banco contra a Bulgária; Robin van Persie entrou para jogar contra os franceses, lesionou o joelho e foi cortado). Já os novatos têm desempenhos altamente irregulares, entre o promissor – Davy Pröpper, contra a Bulgária – e o preocupante – Wesley Hoedt, contra a França. E assim, à beira de ficar fora da Copa, já começa o discurso: “Daqui a pouco a Holanda reage, daqui a pouco os garotos crescem e ganham experiência”.

Por isso, merecia alguma atenção a seleção sub-21 que também atuou nas datas Fifa. Tanto por alguns jogadores que até já estiveram na equipe principal (caso do meio-campista Bart Ramselaar), como pelo fato dela começar a disputar a qualificação para a Euro da categoria. E tendo um desafio respeitável no grupo 4, com apenas uma vaga direta para a edição de 2019, na Itália: a seleção da Inglaterra, semifinalista da Euro sub-21 realizada há dois meses - e reforçada por muita gente campeã mundial sub-20, como bem apontou Art Langeler, técnico da Jong Oranje (a “Laranja Jovem”).

Estreando na sexta passada, em Doetinchem, justamente contra a Inglaterra, a equipe treinada por Langeler teve desempenho até elogiável. Foi ofensiva e veloz no primeiro tempo contra os Young Lions – e também insegura defensivamente, como mostrou o contragolpe sofrido que levou ao gol de Dominic Calvert-Lewin para os ingleses, aos 20 minutos do primeiro tempo. Pelo menos, a velocidade continuou, e a troca de passes levou ao gol de Ramselaar para o empate, ainda aos 32 minutos, na etapa inicial. Continuando com uma atuação promissora, não faltou quem visse um consolo para as mazelas da equipe de cima no 1 a 1 dos jovens. Sensação fortalecida pelas palavras de Art Langeler: “Mostramos que a Holanda realmente tem muitos talentos, e que podemos disputar seriamente [a vaga]”.

Pois se a Holanda principal recuperou-se ligeiramente no domingo passado, foi a vez da Jong Oranje dar motivos para preocupação, na terça. Contra a Escócia, fora de casa, foi insegura defensivamente, sem conseguir a rapidez ofensiva da estreia. Segurou-se quanto foi possível, mas terminou sofrendo o 2 a 0 – para piorar, com o segundo gol escocês, de Stevie Mallan, mostrando falha do zagueiro Pablo Rosario, do PSV. Resultado: queda para a penúltima posição na chave, com apenas um ponto.

Derrota da Jong Oranje na semifinal da Euro sub-21 de 2013 já foi dura. Mas diante do que se vê agora, é honrosa (ANP)
Obviamente, há muito tempo para a seleção sub-21 se recuperar. Mas caso isso não ocorra, será mais um sinal preocupante para o futebol holandês. Não que apenas títulos sejam importantes para equipes jovens, mas participar do Europeu da categoria sempre é um sinal de que a reposição de veteranos será feita. E das Euros sub-21 da atual década, a Holanda participou da fase final apenas em 2013. Pior: dos titulares daquela campanha elogiável (queda para a Itália, nas semifinais), apenas Kevin Strootman e Stefan de Vrij são titulares absolutos na equipe adulta – Jeroen Zoet e Bruno Martins Indi até aparecem nas convocações, mas não conseguem uma sequência de atuações entre os titulares.

A preocupação só aumenta ao lembrar de eliminações anteriores da seleção holandesa, nas eliminatórias da Euro sub-21 – com regulamento diferente e apenas oito equipes na fase final, a Jong Oranje terminava liderando seus grupos, mas decepcionava na repescagem que definia os classificados. Para 2011, com Tim Krul, Luuk de Jong e Bas Dost titulares, queda para a Ucrânia onde jogava Yevhen Konoplyanka (derrota por 3 a 1 na ida, em casa, e vitória insuficiente por 2 a 0 na volta). Na edição retrasada, de 2015, mesmo com jogadores experientes (Terence Kongolo, Jetro Willems, Wout Weghorst), as atuações péssimas da defesa colocaram tudo a perder na repescagem de qualificação contra Portugal, futuro vice-campeão da categoria, contando com gente como Renato Sanches e Bernardo Silva (2 a 0 sofridos na ida, incrível derrota por 5 a 4 na volta).

E agora, este mau começo nas eliminatórias. Que ainda pode ser consertado. Há apostas: Ramselaar, Justin Kluivert, Steven Bergwijn, o atacante Gervane Kastaneer, até mesmo gente que pode se alternar entre seleção principal e sub-21 - como Timothy Fosu-Mensah, até chamado por Art Langeler antes da “promoção” às pressas na convocação de Dick Advocaat. Mas um novo fracasso diminuirá ainda mais as esperanças, mostrando que não bastará a confiança de que a nova geração um dia explodirá para o biênio 2020/2022. E só ampliará o desalento que vive o futebol holandês, em relação às suas seleções.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 8 de setembro de 2017)