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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Menos otimismo

Desde a temporada 2008/09, a Holanda (Países Baixos) não tinha tantos clubes em fases introdutórias (então, fase de grupos; agora, fase de liga) de competições europeias. Agora, são seis. Além do mais, são boas as chances do país se manter à frente de Portugal e Bélgica no ranking de coeficientes da UEFA, tendo em vista que o português Santa Clara e o belga Charleroi já foram eliminados nos play-offs por lugar na fase de liga da Conference League. Caso algum clube neerlandês consiga uma boa campanha em Liga dos Campeões, Liga Europa ou Conference, já serviria para talvez, até, perturbar a França no ranking. Contudo, está aí o problema: algum holandês fazer uma campanha notável, ir longe.

É impossível? Claro que não. Afinal de contas, PSV e Feyenoord alcançaram as oitavas de final da Champions em 2024/25. Entretanto, também não puderam sonhar muito em passar delas - assim como Ajax e AZ, ambos despachados também nas oitavas da Liga Europa passada. E pelo modo como esta temporada começou, por incrível que possa parecer, só Utrecht e AZ mostram alguma consistência em campo. O Go Ahead Eagles tem um "caldeirão" em seu estádio, tem alguns jogadores, mas ficam fortes dúvidas sobre o que poderá fazer com a concorrência mais forte da Liga Europa. E os três grandes do país ainda oscilam demais dentro de campo, o que lhes pode prejudicar nas competições continentais. Se é bom ver tantos holandeses chegando a elas, melhor ainda seria voltar a ver um deles indo longe - o último foi o AZ, semifinalista da Conference em 2022/23. A ver quais são as perspectivas.

Liga dos Campeões

O PSV pode até avançar na Liga dos Campeões, mas terá adversários mais difíceis (Getty Images)

PSV (lista de inscritos e tabela de jogos)

O atual bicampeão da Eredivisie terá agora desafios maiores do que teve na fase de liga da Champions passada. Nela, inclusive, oscilou: se conseguiu algumas vitórias notáveis - como a virada sobre o Shakhtar Donetsk, na fase de liga (de 2 a 0 contra para 3 a 2, com o terceiro gol nos acréscimos do 2º tempo), ou a eliminação sobre a Juventus, na segunda fase, num Philips Stadion que carregou a equipe para a classificação -, amargou a maior derrota de sua história em torneios europeus, na ida das oitavas de final, com os marcantes 7 a 1 do Arsenal. 

Contudo, agora, os adversários na fase inicial parecem um pouco mais exigentes para os Boeren do que em 2024/25: nada menos do que cinco campeões nacionais - Bayern de Munique, Liverpool, Napoli, Olympiacos e Union Saint-Gilloise (estes últimos, mais acessíveis, verdade) -, equipes exigentes em Newcastle e Bayer Leverkusen (este, mesmo com a turbulência da demissão de Erik ten Hag)... além disso, o time de Eindhoven teve perdas sensíveis: Olivier Boscagli, Johan Bakayoko, Malik Tillman, Luuk de Jong. E seu início de Eredivisie mostra algumas fragilidades, ainda. Pelo menos, há alguns destaques remanescentes: Sergiño Dest, Joey Veerman, Guus Til, Ismael Saibari, Ricardo Pepi. Eles precisarão aparecer, para que o PSV possa sonhar em entrar no "bolo" da segunda fase. Talvez, aparecer até mais do que na temporada passada.

O Ajax começa a temporada oscilante, terá adversários difíceis no começo da fase de Liga dos Campeões... mas pode reagir para ir à segunda fase (Patrick Goosen/BSR Agency/Getty Images)

Ajax (lista de inscritos e tabela de jogos)

Até que o Ajax teve bom desempenho na Liga Europa passada. Num certo momento, teve até chances de ir diretamente para as oitavas de final. Entretanto, o fim traumático da temporada passada no Campeonato Holandês - perder um título muito próximo para o PSV, após ter vantagem de nove pontos na frente, a cinco rodadas do fim - foi a gota d'água para o técnico Francesco Farioli sair, já em meio a muitas discordâncias com a direção de futebol do clube. Ainda assim, pelo menos, restava um minúsculo prêmio de consolação: voltar à fase de liga da Champions, após três anos. Já era um primeiro passo para sair do mau momento vivido pelo clube. 

Mas só um primeiro passo, porque o técnico John Heitinga voltou ao clube que tão bem conhece, para treinar um time de volta à estaca zero: muitos jogadores saindo (Jorrel Hato, Jordan Henderson, Bertrand Traoré, Brian Brobbey), a pressão por um Ajax mais ofensivo em campo, as inconstâncias que o time ainda mostra em campo (já são dois empates em cinco rodadas na Eredivisie), um começo complicado de fase de liga. Internazionale e Chelsea são adversários exigentes; Galatasaray e Benfica até trazem mais equilíbrio, mas entram por cima atualmente. Mas o fim de fase de liga oferece mais possibilidades: Qarabag-AZE, Villarreal-ESP... quem sabe, a essas alturas, o Ajax já esteja mais estabilizado em campo, para poder avançar ao mata-mata.

Liga Europa

O Feyenoord sonhou em estar na Champions. Estará na Liga Europa. Não é de todo ruim, o time tem condições, mas precisa de alguma melhoria (Joris Verwijst/BSR Agency/Getty Images)

Feyenoord (lista de inscritos e tabela de jogos)

O Feyenoord sonhou com a Liga dos Campeões, na qual entrou na terceira fase preliminar. Mas este sonho já acabou contra o Fenerbahçe-TUR: mesmo vencendo o jogo de ida (2 a 1, com gol da vitória no último minuto), mesmo abrindo o placar na volta em Istambul, a má atuação defensiva foi prato cheio para o Fener aproveitar, virar, golear (5 a 2) e ir aos play-offs. Frustração? Mais ou menos: ir à Champions seria melhor, mas o Stadionclub já tinha uma vaga assegurada na Liga Europa - e logo na fase de liga. Certo, já não haverá Igor Paixão, o dínamo ofensivo do clube nos últimos anos. Nem Dávid Hancko, o principal nome da defesa. Nem mesmo revelações que poderiam ajudar, como Antoni Milambo. 

Ainda assim, a impressão que ficou é de que a janela de transferências poderia trazer mais perdas do que trouxe - tanto que Quinten Timber, cotado para sair até o fim, ficou no Stadionclub. E vindas como as de Sem Steijn e Luciano Valente, que já ajudam num começo 100% no Campeonato Holandês, podem ajudar o time a passar pela maioria dos adversários na fase de liga (incluindo aí, contra o Celtic-ESC, um reencontro numa tradicional rivalidade). Há coisas a corrigir, sim, como a falta de um atacante confiável. Mas a impressão que a equipe treinada por Robin van Persie passa é que, dos três grandes neerlandeses, é a que começou mais sólida a temporada. Isso pode ajudar a seguir na Liga Europa.

O Utrecht voltou a onde queria estar, após 15 anos: uma competição europeia. Se os adversários mais fortes vêm quentes, os Utregs estão fervendo (Joris Verwijst/BSR Agency/Getty Images)

Utrecht (lista de inscritos e tabela de jogos)

Enfim, o Utrecht está onde queria estar havia muito tempo. Mais precisamente, há 15 anos: a última participação dos Utregs num torneio europeu fora na temporada 2010/11, ainda num formato antigo da Liga Europa, com fase de grupos. Desde então, o clube virou habitué da repescagem da Holanda (Países Baixos) por lugar no torneio - depois, na Conference League. Às vezes, até vencia esta repescagem. Mas nunca chegava ao espaço mais visto, a fase de grupos/fase de liga: sempre ficava nas preliminares. Pois bem: a ótima campanha na liga holandesa em 2024/25, com a quarta posição, enfim levava o clube à Liga Europa sem precisar de repescagem. 

Ah, seria nas fases preliminares? Sem problemas: dois jogos na segunda fase preliminares, duas vitórias (sobre o Sheriff Tiraspol moldavo). Na terceira fase preliminar, mais dois triunfos, diante do Servette-SUI. E nos play-offs que levavam à fase de liga, uma revanche: despachar com mais duas vitórias o Zrinjski Mostar, da Bósnia, justamente o algoz do Utrecht numa dessas fases preliminares (a segunda fase da Liga Europa, em 2018/19). Chegando 100% à fase de liga, agora a pergunta é outra: ah, a tabela dos Utregs não é difícil demais, contra clubes contra Porto, Betis e Nottingham Forest? Pode até ser. Mas o time tem uma mescla interessante de juventude (vale ver o lateral esquerdo Souffian El Karouani) e experiência (na zaga, com Mike van der Hoorn e Nick Viergever - este, ex-AZ, PSV e Ajax, pode virar o jogador holandês com mais partidas por torneios europeus na história; no ataque, com Sébastien Haller, de volta). Tem em Ron Jans um técnico holandês que sabe jogar pelo resultado. Se o Utrecht, enfim, está num torneio europeu a sério, sonhar não custa nada...

    Tabela difícil? O Go Ahead Eagles não se importa: já curte a experiência europeia na Liga Europa, inédita em sua história (Gerrit van Keulen/ANP/Getty Images)

Go Ahead Eagles (lista de inscritos e tabela de jogos)

As estatísticas dizem: ao lado do SK Brann (Noruega), o Go Ahead Eagles é o clube mais frágil desta fase de liga da Liga Europa. Francamente, a torcida das Águias não está se importando muito com o que as estatísticas apontam. Sim, é verdade que o "Kowet" talvez seja o mais frágil representante dos Países Baixos nos torneios continentais. Mas para um clube que, há cinco anos, estava na segunda divisão, figurar numa competição europeia pela primeira vez em sua história é prova inequívoca de uma grande evolução. Dentro e fora de campo. Dentro de campo, isso já se via desde 2023/24, quando o clube da cidade de Deventer já conquistou a repescagem que leva a um lugar na Conference League. Falhou nela: já caiu para o supracitado SK Brann, na segunda fase preliminar. 

Mas o temor de que aquilo fosse sorte de principiante foi superado com um 2024/25 brilhante, que seguiu com boa campanha na Eredivisie e terminou com o título da Copa da Holanda, inédito na história do clube. Por mais que alguns responsáveis pela façanha já tenham deixado o clube, como o técnico Paul Simonis (agora no Wolfsburg) e o meio-campo finlandês Oliver Antman (agora no Rangers-ESC), a lua-de-mel com a torcida segue. E mesmo que as perspectivas sejam pequenas, vale esperar para ver o que podem fazer nomes como o goleiro Jari de Busser, o lateral direito Mats Deijl e o meio-campo Jakob Breum, todos de nível técnico digno. Valerá esperar para ver clubes como o Aston Villa e o Stuttgart irem jogar no "caldeirão" tão acanhado quanto empolgado que é o estádio De Adelaarshorst. E os torcedores já devem estar ansiosos para viagens aventureiras fora de casa, contra Lyon, Panathinaikos, Red Bull Salzburg-AUT... pode até ser clichê, mas mesmo caindo na fase de liga, o Go Ahead Eagles já comemora a presença na Liga Europa. Um ponto alto em sua história.

Conference League

Com um time bem entrosado e talentos como Kees Smit, o AZ pode sonhar na Conference (IconSport)

AZ (lista de inscritos e tabela de jogos)

Pois é: se a fama da Champions League é justificável, se a Liga Europa oferece mais tradição, é o AZ, representante holandês na fase de liga da Conference League (novamente tendo um time dos Países Baixos, aliás), que está mais otimista sobre sua sequência na temporada 2025/26. Nem era para ser tão otimista assim: afinal de contas, chegar à Conference foi duro. Primeiro, um desempenho algo decepcionante na Eredivisie 2024/25, causando a necessidade de disputar os play-offs pela vaga europeia. Neles, conquistar a vaga foi difícil: na decisão, contra o Twente, o time de Alkmaar tomava 2 a 0 em casa, e só virou no segundo tempo, com o 3 a 2 da vitória marcado nos acréscimos do 2º tempo. 

Sossego, então? Que nada: a estreia na segunda fase preliminar já teve uma surpresa ruim, com os 4 a 3 sofridos para o Ilves Tampere (Finlândia), no jogo de ida, fora de casa. Só assim o AZ tomou jeito: reverteu a vantagem do Ilves na volta (5 a 0); passou facilmente pelo FC Vaduz (Liechtenstein) na terceira fase preliminar, com duas vitórias; e despachou o Levski Sofia (Bulgária) nos play-offs. Na fase de liga, o sorteio só trouxe algumas dificuldades nas perspectivas sobre o jogo contra o Crystal Palace inglês. No mais, não só são boas as chances de ir às oitavas de final, diretamente, como o clube parece ter capacidade para isso em seu time. Principalmente, pelo crescimento dos jovens jogadores: Rome-Jayden Owusu-Oduro no gol, Kees Smit e Zico Buurmeester no meio-campo, Ibrahim Sadiq e Mexx Meerdink no ataque (onde também está o irlandês Troy Parrott e o recém-chegado brasileiro Weslley Patati). Se o time for mais constante, pode ser uma boa chance do AZ repetir a chegada à semifinal, como fez em 2022/23.



segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Procurando o caminho do meio

Depois de uma sequência de temporadas com resultados promissores - semifinal de Liga dos Campeões com o Ajax (e lá se vão cinco anos, já), final de Conference League com o Feyenoord, semifinal de Conference com o AZ -, parece que os clubes da Holanda (Países Baixos) amainaram um pouco o ritmo em 2023/24. Quando as quartas de final dos três principais torneios europeus de clubes chegaram, já não havia mais representantes neerlandeses neles: o último a cair foi o PSV, frente ao Borussia Dortmund, nas oitavas de final da Champions. Entretanto, diante da mudança de regulamento por que as competições passaram, até que eles podem sonhar com avanços ao mata-mata. Basta se focar no "caminho do meio".

Afinal de contas, com Champions, Europa League e Conference League ampliados para 36 clubes cada um (numa "fase de liga", não mais de grupos), basta lembrar que os colocados entre 9º e 24º lugares terão alguma chance de figurarem no mata-mata, já que se enfrentarão numa "segunda fase" antes das oitavas de final, para decidirem os oito classificados a enfrentarem os ocupantes das oito primeiras posições da fase de liga. E neste "caminho do meio" entre melhores e eliminados (entre 25º e 36º lugares), os clubes holandeses certamente têm nível para disputar. É bem certo que eles já têm uma desvantagem na velha disputa na tabela de coeficientes, que dá direito a mais vagas: afinal de contas, o Go Ahead Eagles, vencedor da repescagem da Eredivisie, já caiu eliminado na segunda fase preliminar da Conference League, para o SK Brann norueguês. Ainda assim, pensando que o foco dos clubes neerlandeses será mais adequado no "meio de tabela" das fases de liga, até que eles têm condições de ficarem nesse caminho e estarem no mata-mata. Vejamos as condições deles para a temporada na Europa.

Liga dos Campeões

O PSV treina para estrear na Liga dos Campeões, procurando mostrar bom nível (Photo Prestige/Soccrates/Getty Images)


Sim, o PSV ficou num "grupo" em que pegou três fortes candidatos a irem diretamente para as oitavas de final: Liverpool, Paris Saint-Germain e Juventus. E isso pesa. Ainda assim, o atual campeão holandês tem pontos positivos do seu lado também. Quase todos os destaques da temporada passada seguem em Eindhoven: Joey Veerman, Jerdy Schouten, Guus Til, Malik Tillman, Johan Bakayoko, Luuk de Jong... além disso, um nome importante parece ter se recuperado de sério problema muscular: Noa Lang, que virá para os jogos. Na zaga, embora o time ainda precise de alguma recuperação no miolo, que perdeu André Ramalho, o monegasco Olivier Boscagli traz segurança, o argentino Walter Benítez cresce de nível no gol, e Rick Karsdorp é boa contratação para a lateral direita. É um time bom o suficiente para poder superar Shakhtar Donetsk-UCR, Girona-ESP, Sporting-POR, Brest-FRA e Estrela Vermelha-SER, em busca de lugar na segunda fase. A estreia contra a Juventus, nesta terça, mostrará o que o técnico Peter Bosz pediu: que o time tenha "nível de Liga dos Campeões". Pode ter.

Igor Paixão tem se destacado no Feyenoord. Terá de se destacar até mais, para ajudar a minorar as desconfianças que crescem sobre o Stadionclub (Lukas Schulze/UEFA/Getty Images)


O Stadionclub, vice-campeão da Eredivisie, tem mais com que se preocupar com seu quinhão na fase de liga. Primeiramente, pelos adversários: além de três clubes que entram como favoritos a serem ponteiros e irem direto às oitavas (Manchester City, Bayer Leverkusen e Bayern de Munique), Benfica, Girona e Lille-FRA são clubes muito capacitados a tirarem pontos da agremiação de Roterdã. Em segundo lugar, o time tem razões próprias para se preocupar. Perdeu pelo menos um nome importante na defesa, com a saída do versátil Lutsharel Geertruida para o RB Leipzig. E nas rodadas do Campeonato Holandês até agora - foram quatro, já que o clássico contra o Ajax (4ª rodada) foi adiado -, a equipe ainda não passa muita confiança à torcida. Só mostrou nível técnico adequado na goleada por 5 a 1 sobre o Zwolle, na 2ª rodada. No mais, foram três empates até agora, com um estilo de jogo ainda indefinido sob o comando do dinamarquês Brian Priske, técnico sucessor de Arne Slot. Pior: um nome que poderia ajudar, o meio-campo Calvin Stengs, ficará fora dos campos por algum tempo, em razão de um joelho machucado. O que só aumenta a responsabilidade dos nomes capazes de fazer a torcida confiar em De Kuip: Dávid Hancko na defesa, Quinten Timber no meio-campo, Igor Paixão e Santiago Giménez na frente.

Liga Europa

O Twente de Sayf Ltaief já mostrou alguns problemas na fugaz aparição preliminar na Liga dos Campeões. Os problemas continuam e preocupam para a Liga Europa (Marcel ter Bals/DeFodi Images/Getty Images)


O sonho dos Tukkers de estar na Liga dos Campeões acabou na terceira fase preliminar, frustrado pelo Red Bull Salzburg austríaco. Mais do que isso: legou ao time de Enschede uma preocupação, ao ver que o ataque muito capacitado não tem conseguido mitigar a fragilidade maior da defesa, vitimada pelas perdas de dois laterais direitos (Alfons Sampsted, ido para a Inglaterra, e Joshua Brenet, sem contrato após muitos problemas disciplinares) e do zagueiro e capitão Robin Pröpper (foi para o Rangers-ESC). Até mesmo no Campeonato Holandês, em que o Twente costuma até desafiar os três grandes - quando nada, por ter sido 3º colocado em 2023/24 -, a fragilidade ficou notória, em empates com Sparta Rotterdam e Zwolle, e numa derrota para o Utrecht. Só resta esperar que nomes bons tecnicamente - o meio-campo Michel Vlap, o ponta Sem Steijn, o atacante Sam Lammers (bom reforço do Twente) - ajudem, porque o time vai precisar contra Manchester United, Lazio, Olympiacos, Nice-FRA, Besiktas-TUR... todas equipes tão ou até mais capacitadas do que a holandesa para seguirem na Liga Europa.

O Ajax ainda atrai olhares de soslaio, após tantos problemas em 2023/24. A Liga Europa pode ser um voto de confiança (Gene Medi/NurPhoto/Getty Images)


Houve até quem dissesse que seria melhor para o Ajax cair na Conference League - onde seria até um eventual cabeça-de-chave na fase de liga - do que ficar na Liga Europa, em que terá dificuldades para ir muito além da temporada passada, quando chegou às oitavas de final, em meio a um dos momentos mais turbulentos da história recente do clube de Amsterdã. Se serve para ganhar um crédito de confiança, os Ajacieden passaram pelas fases preliminares quase sem muitos problemas: em que pese a disputa de pênaltis até histórica contra o Panathinaikos-GRE na terceira fase preliminar - 1 a 0 Ajax em Atenas, 1 a 0 Panathinaikos em Amsterdã, e 13 a 12 para o time holandês nas cobranças -, os Amsterdammers tinham passado tranquilamente pelo Vojvodina sérvio na segunda fase, e passariam tranquilamente pelo Jagiellonia Bialystok polonês para terem lugar nos grupos. Todavia, a despeito de facilidade maior, o time ainda não inspira confiança. Sem muito dinheiro, nem se esforçou muito para manter Steven Bergwijn, por exemplo. E algumas decisões do técnico italiano Francesco Farioli causam surpresa, como escalar Remko Pasveer, a caminho dos 41 anos, como goleiro titular. Ainda assim, há nomes experientes (como Steven Berghuis), talentosos (Branco van den Boomen e Brian Brobbey) e promissores (Christian Rasmussen). Sair-se bem contra adversários respeitáveis - Lazio, Galatasaray, Besiktas, Real Sociedad - fará a torcida confiar um pouco mais. O Ajax anda precisando. 

Poku, Zeefuik, Addai e Meerdink: a nova geração é a esperança do AZ tentar surpreender na Liga Europa (Ed van de Pol/BSR Agency/Getty Images)


Poucas listas de inscritos causam tanta surpresa quanto a do time de Alkmaar para a Liga Europa. São nada menos do que 64 jogadores relacionados para o torneio - só de goleiros, são dez! Falta de confiança? Pode até ser, ainda mais tendo em vista que só de clubes turcos capazes de chegarem à segunda fase, o AZ enfrentará dois (Fenerbahçe e Galatasaray), além de ter Roma, Tottenham e Athletic Bilbao no seu caminho da fase de liga. Mas há motivos para, pelo menos, sonhar em Alkmaar. Em primeiro lugar, porque a geração campeã europeia na Youth League 2022/23 - a "Liga dos Campeões" da base - começa enfim a ter espaço no time treinado pelo belga Maarten Martens. A começar pelo goleiro titular, Rome-Jayden Owusu-Oduro, muito promissor. Continuando na zaga, em que Wouter Goes já é titular, ainda jovem. No meio-campo, estão Enoch Mastoras, Kees Smit, Dave Kwakman. E no ataque, Jayden Addai, Ernest Poku e Mexx Meerdink. Todos, com alguns nomes experientes a ladeá-los, como Jordy Clasie e Bruno Martins Indi. Mais nomes promissores também já têm espaço, como Peer Koopmeiners e Ruben van Bommel. E o AZ tentará surpreender, como já fez em outros momentos.


segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Estabilidade para crescer

Pois é: a Holanda cresceu dentro dos torneios europeus. Mas seus representantes neles precisam continuar bem para consolidar esse crescimento (Bert Kassies/Reprodução)

Já era previsto. As campanhas de clubes holandeses em torneios europeus ajudavam: foi o Ajax semifinalista da Liga dos Campeões em 2018/19, foi o Feyenoord indo à final da Conference League em 2021/22 - de quebra, então, o PSV alcançou as quartas de final, e o Vitesse dificultou as coisas para a futura campeã Roma na segunda fase -, foi o AZ semifinalista da Conference na temporada passada. E a Holanda/Países Baixos, enfim, aparece um pouco mais nas competições europeias: superando Portugal, à frente da França atualmente no ranqueamento de coeficientes da UEFA (índice que determina o número de vagas de cada país em torneios europeus de clubes). Depois de cinco anos, o país voltou a ter dois times na fase de grupos da Liga dos Campeões. E são consideráveis as chances de clubes neerlandeses terem três vagas na fase de grupos ampliada que a Champions League apresentará a partir de 2024/25. Nada mal para um país cujos times cometiam alguns vexames em fases preliminares, de vez em quando - houve eliminações para times de Croácia (PSV, para o Osijek, na 3ª fase preliminar da Liga Europa 2016/17), Noruega (Ajax, para o Rosenborg, nos play-offs da Liga Europa, também em 2016/17), Chipre (ADO Den Haag, para o Omonia Nicosia, na terceira fase preliminar da Liga Europa 2011/12), Luxemburgo (Utrecht, para o Differdange, na segunda fase preliminar da Liga Europa 2012/13), Romênia (Vitesse, para o Petrolul Ploiesti, na terceira fase preliminar da Liga Europa 2013/14)...

Mas essa melhora não quer dizer que a Holanda já esteja pronta para ser considerada "a melhor liga do resto", abaixo dos quatro mais célebres campeonatos nacionais da Europa. A vantagem para Portugal pode até ser estável, mas a França ainda pode voltar à frente nos coeficientes - até porque o Twente já caiu, eliminado pelo Fenerbahçe-TUR nos play-offs da Conference League. De mais a mais, Feyenoord e PSV estão numa corda bamba: caíram em grupos acessíveis na Liga dos Campeões, mas precisarão de esforço pela vaga nas oitavas de final. Na Liga Europa, o Ajax corre sérios riscos de cair para a Conference League, tão árduo será o grupo. Já na Conference, o AZ já teve um aviso de que não será tão fácil repetir o desempenho de 2022/23. Pelo menos, a situação é de estabilidade, indicando a sequência do crescimento. A federação holandesa dá a força que já costuma dar há algumas temporadas, remanejando as partidas dessas quatro equipes no Campeonato Holandês para lhes dar mais tempo de recuperação. E é possível, sim, pensar na classificação de algum dos quatro representantes que irão às fases de grupos dos respectivos torneios. Quem sabe de mais de um clube. É ver, abaixo, as perspectivas de cada um.

Liga dos Campeões

O Feyenoord se lembra da decisão contra a Lazio, na Conference League passada, para ter otimismo: sim, é possível superar o grupo E e avançar às oitavas de final da Liga dos Campeões (Geert van Erven/Orange Pictures/BSR Agency/Getty Images)

Feyenoord (lista de inscritos)

Antes do sorteio dos grupos da Champions, o Stadionclub era considerado o "cabeça-de-chave" dos sonhos. Afinal de contas, não ofereceria a mesma resistência de um Manchester City ou de um Real Madrid em sua chave. Tanto que o Atlético de Madrid ganha, até obviamente, mais protagonismo nos guias. Além do mais, o começo da temporada, com derrota na Supercopa da Holanda e um empate na primeira rodada, trouxe a indagação sobre a falta que Orkun Kökcü, destaque no título holandês de 2022/23, fazia para a equipe de Arne Slot (cuja permanência foi comemorada como um troféu). A indagação, porém, já começa a diminuir. Em primeiro lugar, porque o Feyenoord já parte para a ponta do Campeonato Holandês, com goleadas em sequência. Em segundo lugar, porque há entrosamento entre boa parte do grupo - principalmente na defesa, com os quatro nomes (Lutsharel Geertruida, Gernot Trauner, Dávid Hancko e Quilindschy Hartman) acostumados a jogar juntos. 

Em terceiro lugar, porque as contratações começam a embalar - que o digam Calvin Stengs, crescendo ao jogar no meio-campo, e Luka Ivanusec, um gol e um passe para gol nos dois jogos que fez pela Eredivisie. O atacante japonês Ayase Ueda poderia ajudar, mas ficará fora da estreia no grupo E, contra o Celtic-ESC, na terça-feira, por lesão - assim como Santiago "Bebote" Giménez, o goleador da equipe, também estará ausente, suspenso pela expulsão na eliminação contra a Roma, na volta das quartas de final da Liga Europa de 2022/23. Mas ambos poderão ajudar quando voltarem. Porque o Feyenoord seguramente pode disputar a segunda vaga do grupo, com Celtic-ESC e, principalmente, a Lazio-ITA. A qual, aliás, o Stadionclub já venceu e eliminou, na fase de grupos da Liga Europa passada. Num De Kuip lotado, que traz outro fator que sempre poderá ajudar o Feyenoord: sua torcida.

O PSV retornou à fase de grupos da Liga dos Campeões. E começa a evoluir suficientemente para disputar a sério a classificação, no grupo B (NESimages/Marcel ter Bals/DeFodi Images/Getty Images)


Enfim, o PSV voltou. Tentou em 2021/22: o Benfica-POR impediu, segurando empate sem gols no Philips Stadion, com um a menos. Tentou em 2022/23, e o Rangers-ESC frustrou isso com uma vitória também em Eindhoven. Mas agora, veio a revanche perfeita: o Rangers foi superado com uma goleada na volta (5 a 1, após 2 a 2 em Glasgow), e o time de Eindhoven está de volta à fase de grupos da Liga dos Campeões, depois de cinco anos. Tal volta animou os Boeren, não só pelo dinheiro que rende, mas pelo que possibilitou em campo. Estar nos grupos, por exemplo, justifica as várias contratações feitas - Armel Bella-Kotchap para a zaga, Jerdy Schouten para o meio-campo, Noa Lang e Hirving Lozano (o ídolo "Chucky" voltou, até a pedidos da família - que mesmo adaptada à Itália, sentia saudades de Eindhoven) para o ataque. Justifica até mesmo que Johan Bakayoko, promissor na ponta-direita, tenha minimizado sondagens de Paris Saint-Germain (menos concreta) e Brentford-ING (mais concreta) para contratá-lo, preferindo ficar em Eindhoven. 

É certo que a defesa ainda inspira dúvidas: para muitos, dúvidas personificadas no brasileiro André Ramalho. E dúvidas potencializadas pela saída de Ibrahim Sangaré, volante que protegia bem a zaga. Ainda assim, talvez seja algo até natural, tendo em vista que Peter Bosz, o técnico, habitualmente gosta de times ofensivos (talvez até demais). E os resultados promissores no Campeonato Holandês indicam que o PSV começa a encontrar o seu jeito de jogar. Terá dificuldades já na estreia no grupo B, é verdade: afinal, pegará o Arsenal, cabeça-de-chave e grande favorito da chave, fora de casa. E o Sevilla-ESP, à primeira vista, parece mais cotado para ser o segundo classificado às oitavas de final da Champions. Só que o Sevilla foi justamente o algoz do PSV na segunda fase da Liga Europa passada - Liga Europa, na qual os Rojiblancos têm um status tão campeoníssimo que a crendice popular lhes atribui até "preferência" em jogá-la. Aí, quem sabe, entre a capacidade que o PSV já começa a mostrar em seu lado ofensivo, com Joey Veerman, Ismael Saibari, os citados Bakayoko e Noa Lang, o ídolo Luuk de Jong, para tentar voltar às oitavas de final da Champions, após sete anos...

Liga Europa

Mesmo se classificando para a fase de grupos da Liga Europa, o Ajax já era alvo de desconfianças e vaias da torcida. À beira da estreia, isso só piora (Laurens Lindhout/Soccrates/Getty Images)


Mesmo com classificação, a vaia. O time de Amsterdã notou isso nos play-offs: mesmo garantindo vaga nos grupos da Liga Europa, a atuação na derrota do jogo de volta contra o Ludogorets-BUL (1 a 0, em plena Johan Cruyff Arena) foi tão lenta, tão monótona, que os apupos foram até óbvios. E o responsável pela goleada na ida - 4 a 1 - que justificava a situação tranquila dos Ajacieden nos play-offs já nem estava mais no clube: a vitória na Bulgária foi a despedida de Mohammed Kudus, que confirmou nas entrevistas pós-jogo sua saída do Ajax, rumo ao West Ham. Era mais um capítulo do começo preocupante de temporada que se vive no clube da estação Bijlmer Arena. O diretor de futebol, Sven Mislintat, começa a ser questionado pela qualidade técnica de algumas contratações; Maurice Steijn, o treinador, acaba sendo o "pararraio" das críticas ao que se vê em campo; e finalmente, o time do Ajax obviamente sofre com tantas saídas (o citado Kudus, Jurriën Timber, Edson Álvarez, Davy Klaassen, o ídolo Dusan Tadic...). Diante do aziago sorteio do grupo B, com um Olympique de Marselha que começa razoável na França e um Brighton embalado na Inglaterra, mais um AEK que sempre inspira cuidados, as desconfianças sobre os Amsterdammers são mais do que justificadas. Ainda mais se considerando que o time vive seu pior início de temporada no Campeonato Holandês, após 59 anos, sem vitórias após cinco rodadas (mesmo com um jogo a menos). Na estreia da próxima quinta, contra o Marseille, mesmo em casa, o Ajax terá de vencer essa crise nascente. Dentre todos os quatro holandeses em competições europeias, começa a temporada como coadjuvante. Quem diria?!

Conference League

O AZ escapou de fases preliminares mais difíceis do que se esperava, na Conference League. E nos grupos, parece ter estofo para avançar (Ed van de Pol/ANP/Getty Images)


A dureza relativamente inesperada que o AZ teve para chegar à fase de grupos da Conference League foi um aviso valioso. Na terceira fase preliminar, contra o Santa Coloma andorrano, apenas a vitória na volta (2 a 0) teve algum brilho, após o 1 a 0 na ida. E nos play-offs para decidir lugar nos grupos, contra o SK Brann (Noruega), a equipe de Alkmaar já teve dificuldades na ida: mesmo no seu AFAS Stadion, precisou correr atrás do empate em 1 a 1. Na volta, aparentemente controlava tudo ao fazer 2 a 0 fora de casa, mas sofreu com a bola aérea, tomou o empate (3 a 3, após ter vantagem por 3 a 1)... e suou na disputa de chutes da marca do pênalti, antes da vitória por 6 a 5 que levou os Alkmaarders aos grupos. Era um sinal: por mais que o time se refaça relativamente bem das sucessivas saídas, elas começam a impactar o rendimento em campo, até inevitavelmente. Jesper Karlsson, de saída já definida para o Bologna-ITA, fez falta - para nem falar em Tijjani Reijnders, que já se fora para o Milan bem antes das fases preliminares começarem. E bastou a classificação para a fase de grupos para Pantelis Hatzidiakos, capitão e titular na zaga, também confirmar que estava saindo (e também para um clube italiano, o Cagliari). 

Repetindo: foi um aviso. E para a sorte do AZ, o aviso parece assimilado. Os substitutos pouco a pouco se adaptam ao estilo do time: o português Alexandre Penetra já começa a ter algum entrosamento na zaga, ao lado de Riechedly Bazoer, enquanto tanto Ruben van Bommel quanto Ernest Poku - um jovem trazido, o outro da base do AZ - se mostram opções já confiáveis na ponta esquerda do ataque. De quebra, alguns nomes muito úteis, continuam no time de Pascal Jansen e continuam em boa fase. Yukinari Sugawara na lateral direita, o trio Sven Mijnans-Dani de Wit-Jordy Clasie no meio-campo, Vangelis Pavlidis como principal esperança de gols no ataque. Em suma: mesmo com as perdas impactando cada vez mais, mesmo que repetir a campanha de semifinalista em 2022/23 seja exigência mais difícil, o time holandês de Alkmaar parece capacitado para passar do grupo E. Nem tanto contra o Aston Villa, acostumado ao nível alto da Premier League inglesa. Mas sim contra o Zrinjski Mostar (Bósnia), o adversário da estreia da próxima quinta, e contra o Legia Varsóvia-POL.

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Para ser a sexta força

A federação da Holanda (Países Baixos) sabe, torcedores sabem, talvez até os jogadores saibam: o Campeonato Holandês perderia tempo, se sonhasse em igualar seu nível técnico e seu interesse ao da Premier League. Talvez, mesmo alcançar o campeonato espanhol ou o alemão seja irreal. No entanto, parece que a KNVB, enfim, compreendeu: é possível que o futebol holandês seja o sexto melhor da Europa, superando ligas mais próximas (Portugal, Escócia, Turquia etc.) e ficando mais próxima da França, mais visível. E isso pode ser comprovado ao se olhar a Holanda como o país com o sexto melhor coeficiente da UEFA. E confirmado com uma campanha em torneios europeus que repita o que se viu na temporada passada - não só em desempenho, exemplificado no Feyenoord finalista da Conference League, mas em quantidade de clubes fazendo boas campanhas.

É o que os Países Baixos querem. É o que os quatro representantes do país nos torneios continentais (o Twente caiu nos play-offs da Conference League, para a Fiorentina-ITA) tentarão fazer. A ver o que conseguem - as perspectivas estão aí.

Liga dos Campeões

Ajax

Talvez o time de Amsterdã seja a maior incógnita entre os representantes neerlandeses nas competições europeias. Pelo bom desempenho na fase de grupos da Liga dos Campeões passada - seis jogos, seis vitórias -, é possível pensar que os Ajacieden estão em ótima condição para passar do grupo A, em que apenas o Liverpool parte como favorito destacado a uma das vagas nas oitavas de final. Por outro lado, a decepção da eliminação nas oitavas de final e as várias perdas que o time de Amsterdã teve (no banco, Erik ten Hag; em campo, de Noussair Mazraoui a Antony, passando por Lisandro Martínez e Ryan Gravenberch) oferecem fragilidades que podem ser aproveitadas pelo Napoli, também técnico, e pelo esforçado Rangers, os outros dois times do grupo. Mas trazer nomes como Steven Bergwijn, ter um time estabilizado a ponto de já começar bem no Campeonato Holandês, tudo isso mantém em alta as perspectivas do Ajax na Champions League. Só quando a bola rolar, será possível ver para qual lado a situação irá.

Liga Europa

Feyenoord

Em outros tempos, o Feyenoord temeria o grupo F em que caiu. Não só pela Lazio-ITA, forte concorrente, Midtjylland-DIN e Sturm Graz-AUT.  Agora, não. Ser vice-campeão da Conference League turbinou a autoconfiança do Stadionclub, com justiça. Mesmo perder muitos nomes na janela de transferências foi algo contornado. Tanto pelo dinheiro que chegou - fazia tempo que o clube de Roterdã não obtinha rendas tão vultosas - quanto pelos nomes que vieram para substituir Marcos Senesi, Tyrell Malacia, Fredrik Aursnes, Guus Til, Bryan Linssen, Luis Sinisterra. Dávid Hancko, Jacob Rasmussen, Sebastian Szymanski, Javairô Dilrosun, Danilo, Igor Paixão: todos eles já mostram um ótimo começo no Campeonato Holandês. Se o Feyenoord começar bem, tem tudo para avançar na Europa League. E por quê pensar pequeno?

PSV

Para um time com tantas contratações (Walter Benítez, Guus Til, Xavi Simons, Luuk de Jong, Anwar El Ghazi), ter sido eliminado da Liga dos Campeões, nos play-offs antes da fase de grupos, foi um golpe decepcionante. Que deixou certas lições, muito importantes para o grupo A da Europa League, equilibrado a princípio, com o Arsenal como favorito e o Bodo/Glimt capaz de surpreender, além do FC Zürich. A maior delas: evitar fragilidades defensivas, que foram altamente prejudiciais na queda pela Champions League. Para isso, será muito útil ver o que pode fazer a dupla de volantes Ibrahim Sangaré-Joey Veerman, ambos muito bem neste momento. Além do mais, o time de Eindhoven tem muita força ofensiva, com o ótimo começo de Xavi Simons e a permanência de Cody Gakpo, cada vez mais sendo o destaque técnico da equipe. Enfim, há pontos positivos. Cabe aos jogadores - e ao técnico Ruud van Nistelrooy - trabalharem pela neutralização dos pontos negativos. Coisa que não conseguiram fazer na Liga dos Campeões.

Conference League

AZ

A temporada passada foi uma relativa decepção em Alkmaar. Tanto pelo desempenho no Campeonato Holandês, quanto pelo visto na Conference League passada: cair nas oitavas de final, para o Bodo/Glimt, deixou um certo gosto de que era possível fazer diferente, por melhor que o time norueguês tenha sido (e mereceu a classificação, pela competência maior). Pelo menos no começo, os Alkmaarders tiveram bons sinais. Em primeiro lugar, um bom começo na Eredivisie, com a defesa mais protegida - agora são cinco no setor -, um meio-campo altamente entrosado, e até boas promessas surgindo, como o ala Myron van Brederode. Em segundo lugar, um grupo que não impõe muitas preocupações - o grupo E, com o Apollon Limassol cipriota, o Dnipro-1 ucraniano e o Vaduz, primeiro clube de Liechtenstein a jogar a fase de grupos de um torneio europeu. Enfim, o AZ tem plenas condições de fazer melhor do que fez na temporada passada.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Mais presenças. Mais chegadas?

Antes mesmo de qualquer competição europeia começar nesta temporada 2021/22, os Países Baixos já podem ter boas perspectivas. Para começo de conversa, a boa campanha do Ajax na Liga Europa da temporada passada fez com que o país chegasse um pouco mais perto de Portugal, na classificação dos coeficientes europeus - a Holanda está na sétima posição dessa lista. E também porque desde a temporada 2007/08 a nação não tinha tantos clubes em fases de grupos de torneios europeus: todos os cinco neerlandeses disputando competições continentais chegaram às chaves (ainda que sendo eliminados em fases preliminares). Pelo menos no início, é inegável que a presença holandesa aumentou - até pelo início da Conference League, a Liga de Conferências, terceiro torneio de clubes no continente, criado especialmente para satisfazer nações sem tanta frequência nas fases decisivas de Liga dos Campeões, ou mesmo de Liga Europa. 

A partir disso é que vem uma espécie de obrigação. Certo, a Holanda melhorou na lista de coeficientes - até mesmo por agora serem descartados os resultados da temporada 2017/18, quando os clubes do país tiveram péssimos resultados (Ajax eliminado nas fases preliminares de Champions e Europa League, e o PSV também eliminado antes mesmo dos grupos nesta última). Mas se quiser continuar mais perto das cinco ligas mais visíveis da Europa - e mesmo superior a ligas de seu tamanho, como Portugal, Bélgica ou Rússia -, a Holanda não pode contar só com o Ajax, responsável por 87% dos pontos ganhos no coeficiente, nos últimos quatro anos. Até porque os Ajacieden já ficam na fase de grupos da Liga dos Campeões, a joia da coroa, há duas temporadas. A campanha marcante em 2018/19 fica mais e mais para trás, e é preciso que outros clubes façam boas campanhas, além do de Amsterdã.

Pelo menos a princípio, nos grupos que couberam aos times holandeses, parece possível. É ver como eles chegam - para Champions League, Europa League ou Conference League.

Liga dos Campeões

Já são duas temporadas de eliminações na fase de grupos da Liga dos Campeões. O Ajax caiu num grupo em que pode sonhar com a ida às oitavas de final - e será muito cobrado para isso (Reuters)

Ajax (lista de inscritos)

Embora ainda haja ecos saudosos da campanha em que o Ajax impressionou o mundo, indo às semifinais em 2018/19 (e só sendo eliminado praticamente no último lance do jogo de volta), o fato é que os Amsterdammers já têm um time quase totalmente diferente. Já há duas temporadas, são eliminados na fase de grupos - e isso até rendia perigos, com o clube caindo no pote 3 do sorteio dos grupos. Quis a sorte que os Ajacieden caíssem numa chave em que têm chances de classificação: mesmo com o Borussia Dortmund como franco favorito à liderança, há chances de disputa pela segunda vaga nas oitavas de final, com Sporting-POR e Besiktas-TUR. E o Ajax sabe: diante dessas boas possibilidades, a pressão pela classificação será grande. 

Há jogadores remanescentes da campanha de dois anos atrás: Noussair Mazraoui, Daley Blind, Dusan Tadic (mesmo perdendo espaço, Nicolás Tagliafico e David Neres também podem ajudar). Outros nomes experientes voltaram de lá para cá, como Maarten Stekelenburg e Davy Klaassen. O ataque continua forte, com nomes como Steven Berghuis, Sébastien Haller e Antony - tanta variedade que causa até dificuldades ao técnico Erik ten Hag na escalação. Sem contar os nomes vindos da base: Ryan Gravenberch puxa a fila, mas há Devyne Rensch, Jurriën Timber, Kenneth Taylor... ainda assim, o ritmo lento com que o Ajax voltou à temporada (mesmo quando vence no Campeonato Holandês, parece apenas jogar para o gasto) deixa a torcida desconfiada. Não há melhor chance para os Amsterdammers apresentarem suas capacidades do que vencerem o Sporting, fora de casa, logo na estreia, quarta-feira.

Liga Europa

A incompetência (e algumas fragilidades no grupo) impediram o PSV de chegar à fase de grupos na Liga dos Campeões. Será necessária toda a atenção para cumprir expectativas na Liga Europa, num grupo equilibrado (Getty Images)

PSV (lista de inscritos)

Passar facilmente por Galatasaray-TUR e Nordsjaelland-DIN, na segunda e terceira fases preliminares da Liga dos Campeões, ampliou na torcida dos Boeren a esperança de que era possível alcançar os grupos da Champions League. Na decisão da vaga, contra o Benfica, houve qualidades vistas, mesmo na derrota por 2 a 1 no jogo de ida, em Lisboa. Em Eindhoven, com estádio lotado (algo valioso, em tempos de pandemia), a expulsão de Lucas Veríssimo, ainda no primeiro tempo, ampliou a esperança de que era possível. Mas faltou atacante. Faltou aproveitar as chances. E o empate que deu a vaga aos benfiquistas decepcionou um pouco.

Decepção superada. Afinal de contas, o PSV provara que tinha um time capacitado: o bom começo de André Ramalho na zaga, a experiência de Marco van Ginkel e Davy Pröpper, a velocidade de Noni Madueke e Cody Gakpo, a habilidade de Mario Götze. Se faltavam opções de ataque, elas vieram na reta final da janela de transferências, com o empréstimo do brasileiro Carlos Vinícius. Além do mais, nomes que pareciam destinados a vendas, como Bruma ou Ritsu Doan, foram reabilitados no grupo do técnico Roger Schmidt. E há as revelações - Fodé Fofana, atacante, à frente. Como único time a ter quatro vitórias em quatro jogos no Campeonato Holandês, o PSV chega dando a impressão de que pode ir bem na Liga Europa. Precisará comprovar, no equilibrado grupo B em que está: Monaco-FRA e Real Sociedad-ESP têm times de nível parecido. A disputa será dura.

Conference League

O AZ perdeu jogadores importantes. Fracassou ao tentar chegar à Liga Europa. Mas tem boas chances em seu grupo na Conference League (Getty Images)

AZ (lista de inscritos)

Pode um time fragilizado se dizer com sorte? Tendo em vista a situação do AZ, sim. O clube de Alkmaar vive situação de reformulação. Os grandes destaques dos últimos anos se foram: Marco Bizot, Teun Koopmeiners, Myron Boadu, Calvin Stengs. Nos play-offs da Liga Europa, ficou claro que algo faltava à equipe: houve chance de reverter a vantagem do Celtic no jogo de ida, mas mesmo com todo o esforço, os Alkmaarders viram o time escocês levar a vaga na LE em pleno AFAS Stadion. E o início inconstante no Campeonato Holandês indica que o técnico Marcel Jansen terá de gastar algum tempo à procura de uma equipe confiável, que volte a sonhar em desafiar os times grandes na Holanda como andou desafiando, antes e durante a pandemia. Só que o grupo D em que os Alkmaarders caíram na Conference traz adversários acessíveis, que podem ser superados: Cluj-ROM, Randers-DIN, Jablonec-TCH.

Dos destaques, ficaram o lateral esquerdo Owen Wijndal e o atacante Jesper Karlsson. Há nomes conhecidos que também formam uma base já relativamente entrosada: os zagueiros Timo Letschert e Bruno Martins Indi (agora, ficando em definitivo), os meio-campistas Fredrik Midtsjo e Dani de Wit. E o grego Vangelis Pavlidis é um reforço razoável para o ataque. Certo, ainda será necessário algum tempo até que o AZ atinja o seu pleno potencial. Mas tendo capacidade e melhorando em pontos fracos na temporada passada (a falta de pontaria, por exemplo), o time alvirrubro pode buscar a vaga na segunda fase. Mesmo enfraquecido.

Após um rápido susto, o Feyenoord se aprumou para chegar aos grupos da Conference League. Se continuar atento e intenso, pode ir às oitavas de final, num grupo equilibrado (ANP)

Feyenoord (lista de inscritos)

Bastaram as fases preliminares da Conference League acontecerem para a má impressão deixada pelo time de Roterdã na temporada passada se dissipar. Certo, o susto contra o Drita-KOS, enfrentado na segunda fase preliminar, foi grande: empate sem gols na ida, virada para 3 a 2 na volta (com o gol da vitória feito aos 89'). Mas dali para frente, só segurança: o Stadionclub passou com facilidade por Luzern-SUI (terceira fase preliminar) e Elfsborg-SUE (play-offs). Contra o time sueco, inclusive, a superioridade no jogo de ida foi tanta - 5 a 0 em De Kuip - que nem mesmo ser derrotado por 3 a 1 na volta assustou tanto.

O Feyenoord reanimou a torcida não só pelas classificações, mas também pelo estilo veloz no ataque, como se esperava do técnico Arne Slot: a perda de Steven Berghuis foi compensada pela chegada de Alireza Jahanbakhsh, pelo bom começo de Luis Sinisterra na ponta-esquerda, até pela ajuda que Guus Til tem dado nas chegadas vindas do meio-campo. Porém, a derrota recente para o Utrecht (Holandês) lembrou a torcida: o Feyenoord até melhorou, mas seu grupo ainda parece curto demais para as exigências da temporada. Correu-se para resolver isso na janela de transferências, com os empréstimos de Reiss Nelson e Cyriel Dessers para o ataque. Terão de provar seu valor num grupo equilibrado, o E: tanto Union Berlin-ALE quanto Slavia Praga-TCH são equipes capazes de se classificar. Não se pode descartar nem mesmo o Maccabi Haifa-ISR. Se o Feyenoord quer manter a confiança da torcida, superar essa chave será um bom augúrio.

O Vitesse já comemorou só por chegar à fase de grupos da Conference League (Pro Shots)

Vitesse (lista de inscritos)

Se o AZ deu sorte, o Vitesse deu azar. Nem tanto, é claro: só ter chegado aos grupos na Conference League já rende um dinheiro valioso para o clube de Arnhem. O que justificou em partes a comemoração grande do Vites pela vaga. O outro motivo de tanta celebração vista foi a dificuldade encarada desde a terceira fase preliminar. O Dundalk irlandês exigiu bastante, arrancando empate por 2 a 2 em Arnhem - só fora de casa o time aurinegro neerlandês se aliviou, fazendo 2 a 1 e indo decidir vaga na fase de grupos. O adversário era o Anderlecht-BEL, bem mais tradicional. Outra vez, classificação com fortes emoções: na ida, fora de casa, o Vitesse arrancava 3 a 2, mas tomou o empate nos acréscimos. Já na volta, em Arnhem, com a torcida apoiando, um grande dia de Maximilian Wittek (dois gols do ala esquerdo), vitória por 2 a 1 surpreendendo os Mauves, e a ida aos grupos.

Tudo para descobrir que a situação será bem mais difícil do que se pensava. Porque, no grupo G em que caiu, há um favorito destacado: o Tottenham. Mesmo na disputa por outra vaga nas oitavas de final, o Rennes francês parece mais confiável do que o Vitesse. Ainda assim, há jogadores em quem a torcida pode apostar. Ainda que quisessem sair do clube na janela de transferências, tanto Riechedly Bazoer quanto Oussama Tannane ficaram em Arnhem. Nomes como o meio-campo Matus Bero e o atacante Loïs Openda podem ajudar. E alguns reforços já provaram valor, como o goleiro Markus Schubert, substituto de Remko Pasveer, agora no Ajax. Além do mais, na temporada passada, o Vitesse foi elogiado exatamente pela solidez que lhe rendeu ótimos resultados em campo: quarta colocação na Eredivisie, vice-campeonato na Copa da Holanda. Será necessário mais, para tentar outra surpresa e ir além. Menos por demérito do Vitesse do que por causa da sorte...

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Não adianta chorar

Eliminado da Liga Europa, o Ajax sabe muito bem o motivo da lamentação - que Erik ten Hag expressou durante o jogo: as tantas chances que ele mesmo perdeu (Pro Shots)

"Os italianos não podem lhe vencer, mas você pode perder para eles" - eis uma das frases mais conhecidas da "filosofia" de Johan Cruyff. De certa forma, o Ajax viveu a tradução visível deste ditado contra a Roma, nas quartas de final da Liga Europa. Na ida, foi o que se sabe: placar aberto, chances a granel perdidas para ampliar a vantagem contra o time italiano, a falha do goleiro Kjell Scherpen no empate romanista, e a virada punitiva dos visitantes - 2 a 1 em Amsterdã. E na volta, nesta quinta, não adiantou o esforço maior dos Ajacieden no segundo tempo, em busca da classificação: o 1 a 1 representou a eliminação do Ajax na competição europeia, com a Roma, mais competente, avançando às semifinais.

Aliás, a bem da verdade, o Ajax nem fez muito por merecer isso, no primeiro tempo jogado no Estádio Olímpico. Mesmo com mais posse de bola, como de costume, as trocas de passes eram lentas demais para envolver a defesa da Roma, muito bem fechada e firme - não bastassem os três zagueiros, os recuos dos laterais (Rick Karsdorp na direita, Riccardo Calafiori na esquerda) voltavam para formar uma linha quase impenetrável à frente da área. Além do mais, se algum time aparentava mais competitividade no ataque, era o romanista. Tanto que, aos 5', Lorenzo Pellegrini quase aproveitou um contragolpe - driblou Sean Klaiber, mas seu chute foi fraco demais. E aos 8', Jordan Veretout chegou a completar uma bola para as redes - o gol foi anulado por impedimento.

O Ajax? Só chegou mais perto num erro de Pau López, aos 13', quando a bola ficou com Davy Klaassen, e ele cruzou - mas Amadou Diawara bloqueou a finalização de Antony. De resto, simplesmente não havia espaço para finalizações. Muito menos para Antony e David Neres avançarem pelas pontas. Resultado: só cruzamentos faziam o time holandês dar trabalho à Roma. Como aos 10', num cabeceio de Nicolás Tagliafico. Ou aos 22', quando Dusan Tadic completou cruzamento de Sean Klaiber. A própria saída do lateral direito, logo depois, por lesão muscular na coxa, foi um fator que atrapalhou mais ainda a própria incapacidade Ajacied de perturbar a vantagem do time da casa. Depois, só mais uma finalização, de Tadic, aos 36'.

Brobbey faz 1 a 0 - e dá alguma esperança ao Ajax. Ainda assim, a pressão após o gol veio mais na vontade do que na capacidade de vencer a firme defesa romanista (Maurice van Steen)

Restavam 45 minutos para o Ajax tentar dois gols (desde que não tomasse nenhum). Era isso, ou a eliminação. Erik ten Hag pôs em campo Brian Brobbey, e bastaram quatro minutos para o atacante dar mais uma mostra do que poderia ser em Amsterdã - e não será. Afinal, ele completou para o 1 a 0, aos 49', após um chutão-que-virou-lançamento de Perr Schuurs. Era o melhor momento possível: ainda havia tempo para o segundo gol. Que quase veio, aos 56': Tadic chegou a aproveitar rebote para as redes, mas seu gol foi anulado (corretamente), por falta de Tagliafico em Henrikh Mkhitaryan na origem da jogada. No entanto, a pressão ainda era muito mais na vontade do que na organização. Trabalhar, mesmo, Pau López trabalhava pouco.

Além do mais, pouco a pouco, a Roma ganhava espaço para contragolpes, enfim. Começava a trazer algum perigo. E finalmente, aos 72', veio o gol: uma boa jogada de Calafiori rendeu o cruzamento, a bola desviou em Ryan Gravenberch, e sobrou para Edin Dzeko conferir na pequena área o 1 a 1. Foi praticamente o decreto da desclassificação. Por mais que os nomes viessem levar o Ajax mais à frente - Mohammed Kudus, Oussama Idrissi, Lassina Traoré -, a pressão era infrutífera. 

E a Roma se classificou. De certa forma, o Ajax ficou numa decepção controlada. Decepção, porque sabia que, com mais eficiência, quem sabe poderia estar nas semifinais da Liga Europa. Controlada, porque há a final da Copa da Holanda no próximo domingo, há um título muito bem encaminhado na Eredivisie... a coisa não está tão ruim assim. 

Além do mais, o time caiu por seus próprios deméritos. Não adianta chorar as chances desperdiçadas.

Liga Europa - Quartas de final - jogo de volta

Roma 1x1 Ajax
Data: 15 de abril de 2021
Local: Estádio Olímpico (Roma)
Juiz: Anthony Taylor (Inglaterra)
Gols: Brian Brobbey, aos 50', e Edin Dzeko, aos 72'

Roma
Pau López; Giacomo Mancini, Bryan Cristante e Roger Ibañez; Rick Karsdorp, Jordan Veretout, Amadou Diawara e Riccardo Calafiori (Gonzalo Villar); Henrikh Mkhitaryan (Pedro) e Lorenzo Pellegrini; Edin Dzeko (Borja Mayoral). Técnico: Paulo Fonseca

Ajax
Maarten Stekelenburg; Sean Klaiber (Perr Schuurs) (Oussama Idrissi), Jurriën Timber, Lisandro Martínez e Nicolás Tagliafico; Edson Álvarez (Mohammed Kudus), Davy Klaassen e Ryan Gravenberch; Antony (Brian Brobbey), Dusan Tadic e David Neres (Lassina Traoré). Técnico: Erik ten Hag

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Palavras repetidas

O Ajax dominou a Roma até o pênalti perdido por Tadic. No lance da foto, Scherpen falhou, e os visitantes empataram. E o time de Amsterdã viu a velha história (Stanley Gontha/Pro Shots)


O Ajax criou chances e mais chances no jogo. Teve mais a bola, teve muita oportunidade de fazer gols, exerceu domínio, cercou a defesa adversária... mas fez poucos gols. O adversário, mais defensivo, arriscava-se apenas em poucos contragolpes, ou em bolas paradas. Mas teve bem mais eficiência nas finalizações. E por isso, saiu de Amsterdã com a vitória. Histórias semelhantes já foram escritas aqui sobre os Godenzonen, em várias outras partidas. Nesta quinta-feira, foi a vez da Roma sair sorrindo da Johan Cruyff Arena, com o 2 a 1 que lhe deixa à frente, nas quartas de final da Liga Europa.

A bem da verdade, mesmo no primeiro tempo - moroso, na maioria do tempo - a equipe aurirrubra da capital da Itália já deixava claro que podia causar problemas. O Ajax ia mais à frente, mas dois nomes traziam perigo: Leonardo Spinazzola nos avanços pela esquerda, Edin Dzeko nas finalizações. Tanto que o atacante bósnio quase marcou, aos 11', além de fazer Kjell Scherpen trabalhar, aos 23'. De quebra, mesmo em poucos ataques, até Bryan Cristante, escalado na zaga nesta quinta, também arriscou chute aos 16', espalmado pelo goleiro do Ajax.

Só que a lesão muscular que tirou Spinazzola do jogo, ainda no primeiro tempo, enfraqueceu de vez o ataque da Roma. Se até então o Ajax só trouxera perigo real num chute de Ryan Gravenberch, aos 4', a partir da metade da etapa inicial os espaços na defesa romanista começaram a aparecer. Da primeira vez, Dusan Tadic errou, aos 32'. Da segunda, quem errou foi Gianluca Mancini, zagueiro da Roma, lento demais para dominar a bola. Aí, Davy Klaassen aproveitou. Passou a Tadic, que lhe devolveu para que ele, livre, fizesse 1 a 0 aos 39'. De quebra, Antony quase ampliou aos 41'.

O gol de Klaassen parecia abrir caminho para uma dominação. Parecia... (AP)

Parecia que o Ajax conseguiria envolver a Roma, como fizera com Lille, na segunda fase, e Young Boys, nas oitavas de final. Já começou o segundo tempo como terminara o primeiro: ativo no ataque, sem deixar a Roma respirar. Num erro,, Roger Ibañez cometeu pênalti sobre Tadic. Parecia o caminho aberto para uma vantagem valiosa, com o segundo gol. Mas Pau López, que já assustara algumas vezes com erro nas reposições de bola, consertou tudo da melhor maneira possível: tendo paciência para pegar o pênalti de Tadic, aos 52'. Do outro lado, Scherpen, pouquíssimo acionado até ali, vindo de uma boa participação na Holanda que jogou a fase de grupos da Euro sub-21 (e com uma ótima defesa contra o Heerenveen, na rodada passada do Holandês) cometeu, aos 57', um daqueles "frangos" que dão razão para crescimento de desconfianças: Edson Álvarez cometeu falta sobre Pedro, nas proximidades da área, e Lorenzo Pellegrini apareceu na infelicidade de Scherpen para fazer 1 a 1.

Em cinco minutos, o domínio se perdera. E aí, foi a velha história tristemente conhecida dos Ajacieden. Incompetência nas várias chances, fazendo Pau López brilhar: o goleiro espanhol da Roma espalmou o chute de Nicolás Tagliafico aos 68', bloqueou a finalização de Brian Brobbey (substituindo um David Neres que apareceu pouco no jogo) aos 69' e o toque de letra de Antony aos 73', espalmou um voleio também de Antony aos 79'... e a Roma, só tendo paciência, só esperando a chance - apenas Dzeko tentara, num cabeceio aos 55', antes ainda do empate. A chance veio num escanteio, aos 87'. Klaassen rebateu fraco, e Ibañez apareceu brilhantemente, num voleio que estufou as redes.

Era outro capítulo de uma história conhecida. Que dispensa palavras repetidas para descrevê-la. Só resta tentar repetir, no Estádio Olímpico de Roma, na próxima quinta, outro cenário: a classificação, fora de casa.

Liga Europa - Quartas de final - jogo de ida

Ajax 1x2 Roma
Data: 8 de abril de 2021
Local: Johan Cruyff Arena (Amsterdã)
Juiz: Sergey Karasev (Rússia)
Gols: Davy Klaassen, aos 39'; Lorenzo Pellegrini, aos 57', e Roger Ibáñez, aos 87'

Ajax
Kjell Scherpen; Devyne Rensch (Sean Klaiber), Jurriën Timber, Lisandro Martínez e Nicolás Tagliafico; Edson Álvarez, Davy Klaassen e Ryan Gravenberch; Antony (Oussama Idrissi), Dusan Tadic e David Neres (Brian Brobbey). Técnico: Erik ten Hag

Roma
Pau López; Gianluca Mancini, Bryan Cristante e Roger Ibáñez; Bruno Peres, Amadou Diawara, Jordan Veretout (Gonzalo Villar) e Leonardo Spinazzola (Riccardo Calafiori); Lorenzo Pellegrini e Pedro (Carles Pérez); Edin Dzeko (Borja Mayoral). Técnico: Paulo Fonseca

quinta-feira, 18 de março de 2021

Conforto esperado

O Ajax jogou já curtindo a superioridade diante do Young Boys: outra vitória tranquila para alimentar o nascente otimismo com as possibilidades na Liga Europa (Pro Shots)

Este tem sido um momento tranquilo para o Ajax na atual temporada. No Campeonato Holandês, a vantagem na liderança cresceu - já são oito pontos à frente do PSV -, e mais um título começa a se avizinhar. O que, de certa forma, é inesperado é a tranquilidade vista também na Liga Europa. Exemplificada pelos jogos dos Ajacieden nas oitavas de final, contra o Young Boys, da Suíça. Já na partida de ida, o 3 a 0 na Johan Cruyff Arena deixou o lugar nas quartas de final bem encaminhado. E ele foi assegurado com outra tranquila vitória vista nesta quinta-feira, com os 2 a 0 em Berna.

É justo dizer que o Young Boys bem que tentou causar algum tormento ao Ajax - como até esperou o técnico Erik ten Hag, na entrevista coletiva pré-jogo ("Certamente o Young Boys fará melhor"). Avançando pelos lados, com os atacantes Maschack Elia e Jean-Pierre Nsame trazendo velocidade, contando com alguma ajuda dos meio-campistas, o time aurinegro suíço deu algum trabalho - como aos 13', quando Elia só não chegou ao gol porque Edson Álvarez o desarmou na hora exata do chute, ou no minuto seguinte, quando Nsame ficou com a bola na área, chutou forte, e ela só não entrou porque Lisandro Martínez bloqueou na pequena área.

Ao Ajax, só restava a paciência, para tentar aproveitar os espaços que viriam. Pois os visitantes já começaram a aproveitar aos 16', numa sequência em que Daley Blind (titular de novo, recuperado de dores musculares) chutou, a defesa bloqueou, Antony aproveitou a sobra e fez o goleiro Guillaume Faivre espalmar para escanteio - e na cobrança subsequente, Nicolás Tagliafico desviou de cabeça, para outra defesa de Faivre. Porém, aos 20', Ryan Gravenberch (outra boa atuação) foi rápido para roubar a bola de Elia no meio-campo - "Ele bobeou, e aí...", riu o meio-campista à ESPN holandesa, após o jogo -, passou a Dusan Tadic, e o sérvio deixou David Neres livre para fazer o 1 a 0. A classificação já estava praticamente garantida.

Antony e David Neres, a comemoração conhecida: o gol do brasileiro da direita jogou água na fervura do Young Boys (Pro Shots)

Até porque, depois do gol, o Ajax voltou ao domínio que já tivera no jogo de ida. O próprio Tadic quase fez - chutou na rede pelo lado de fora, aos 32', após contra-ataque. Tanto Gravenberch quanto Davy Klaassen voltavam a imperar no meio-campo, evitando que o Young Boys tentasse acelerar o jogo de novo. Se não bastasse, duas decisões do juiz escocês Bobby Madden após ouvir o VAR, no começo do segundo tempo, confirmaram o que já era previsível. Aos 48', um chute de Tadic bateu na mão do zagueiro Ali Camara, e após o VAR alertar, Madden reviu o lance e marcou o pênalti com que o sérvio fez 2 a 0 (já é seu 17º gol pelo Ajax em competições europeias). Aos 54', de cabeça, Nsame chegou a colocar a bola nas redes para o time suíço - só para o gol ser anulado, por impedimento de Elia notado pelo árbitro no vídeo. Dali por diante, só alguns chutes infrutíferos do time da casa em Berna (Fassnacht aos 60', Miralem Sulejmani aos 64'), pegos com facilidade por Maarten Stekelenburg.

Enfim, a classificação do Ajax às quartas de final veio com o conforto esperado. Tanto que alguns jogadores até comentaram abertamente sobre o adversário esperado no sorteio do jogo das quartas de final, nesta sexta-feira - evocando a final da própria Liga Europa em 2016/17, Daley Blind (que estava no lado vencedor daquela vez) citou: "Seria legal reencontrar o Manchester United, mas só na final". Pois é: tal otimismo já começa a se disseminar entre a torcida, porque tranquilidade também pode rimar com felicidade. Para um time que parecia afetado para a Liga Europa, após a suspensão de André Onana e o erro com Sébastien Haller, ter a sensação agradável de que as boas notícias estão apenas começando não é nada mal.