segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

810 minuten: como foi a 24ª rodada da Eredivisie

ADO Den Haag empatou e segue em dificuldades, mas mostrou perspectivas de reação (Jeroen Putmans/VI Images)

ADO Den Haag 1x1 Twente (sexta-feira, 24 de fevereiro)

Iniciando esta rodada, com a partida no Kyocera Stadion de Haia, o ADO Den Haag podia olhar para o Twente e pensar: "Eu sou você, hoje". Afinal de contas, não só os mandantes auriverdes sofrem com os problemas deixados por um mecenas (no caso dos Tukkers, foi Joop Munsterman; no caso do Den Haag, o chinês Hui Wang), mas também pelejam na zona de repescagem/rebaixamento - ocupando a última posição, atualmente. Pelo menos, o time da casa também começa a tentar seguir um caminho de recuperação: nesta semana, a federação holandesa colocou-o na "categoria 2" de situação financeira. Ou seja, um clube ainda sob perigo, mas dando sinais de recuperação. Que também foram vistos em campo.

O ADO Den Haag quase começou com sorte, logo aos cinco minutos: Stefan Thesker tentou recuar de cabeça para o goleiro Nick Marsman, mas Danny Bakker tomou-lhe a frente, dominou a bola, mas chutou para fora. Sem problemas: aos 12', Guyon Fernandez finalizou, Marsman rebateu, e Ruben Schaken aproveitou a sobra para fazer 1 a 0. Todavia, a vantagem dos anfitriões não durou muito: aos 26', em chute forte, Enes Ünal empatou para o Twente, em chute forte, quase desviado pelo goleiro Robert Zwinkels. Ainda no primeiro tempo, Dion Malone arriscou chute para fora. Já na etapa final, aos 52', Dylan Seys quase virou o jogo para o Twente, arrematando para fora. E as chances ficaram nisso, num segundo tempo insípido. Que terminou
com o 1 a 1, rendendo o primeiro ponto ao ADO Den Haag no returno - mas mantendo-o na última colocação. 

Groningen 2x3 Utrecht (sábado, 25 de fevereiro)

No primeiro turno, aproveitando um momento em que o Utrecht ainda patinava em busca da melhor forma, o Groningen pespegou uma goleada no adversário: 5 a 1. E pelo modo como começou a partida, deu a impressão de que faria a mesma coisa no estádio Noordlease. Já aos quatro minutos, Yassin Ayoub perdeu a bola facilmente para Tom Hiariej, e o lateral cruzou para Bryan Linssen finalizar e abrir o placar. O Utrecht só chegou ao ataque aos 21', num cabeceio de Gyrano Kerk (titular outra vez), que mandou a bola na trave. De resto, o mau desempenho da defesa dos Utregs era um convite aos Groningers. Convite aproveitado aos 45': Jason Davidson fez lançamento em profundidade, Willem Janssen não se antecipou, e Linssen ficou livre para fazer 2 a 0.

No minuto inicial do segundo tempo, Linssen quase marcou seu terceiro no jogo: Oussama Idrissi passou, e o atacante bateu para fora, livre, só com o goleiro David Jensen à sua frente. E de repente, não mais que de repente, o Utrecht reagiu. Começou com Sébastien Haller: havia dois meses e 14 dias sem marcar pela Eredivisie, o atacante francês marcou o primeiro dos visitantes, de cabeça, aos 54'. O Utrecht seguiu tentando conter os mandantes, apostando nos contra-ataques. E em dois deles, veio a virada. Aos 79', o lateral Giovanni Troupée bateu forte, no ângulo, para o 2 a 2. Três minutos mais tarde, Kerk cruzou, e Ayoub escorou para o 3 a 2. O Utrecht estivera perto de viver um dia para esquecer, mas o transformou num dia para provar que é o "melhor do resto" na Holanda. Bela reação.

Falkenburg (à esquerda) fez o gol da confirmação da vitória do Willem II (Den Breejen/VI Images)

Excelsior 0x2 Willem II (sábado, 25 de fevereiro)

Se estava correndo riscos de entrar na zona de repescagem/rebaixamento para não sair mais, o Willem II preveniu-se: neste returno, com três partidas sem perder, já avançou para o meio da tabela. Ainda assim, a atuação no primeiro tempo foi mediana (de um lado e de outro, a bem da verdade). Houve muitas faltas e poucas chances - uma para cada lado, aliás. O Excelsior quase fez com Khalid Karami, que mandou a bola na trave, enquanto Fran Sol quase abriu o placar para o Willem II, de cabeça.

Ficava a impressão de que a vitória seria da equipe mais eficiente, que transformasse suas chances em gols. Coube aos visitantes de Tilburg fazer isso, em dois minutos. Aos 62', Dico Koppers (que tem obtido certo êxito, escalado na meia-esquerda) driblou o goleiro Warner Hahn para o 1 a 0 dos visitantes de Tilburg. No minuto seguinte, Fran Sol cruzou na cabeça de Erik Falkenburg, que fez o segundo. E o Excelsior estava irremediavelmente vencido - de quebra, terminaria o jogo com um homem a menos, após Danilo Pantic ser expulso nos acréscimos (90' + 1), por colocar o pé alto no joelho de Darryl Lachman. Os Tilburgers seguem firmes em busca da salvação.


O NEC não aproveitou as suas chances; o Sparta, na única que teve, garantiu sua vitória, após 11 jogos (ANP/Pro Shots)

NEC 0x1 Sparta Rotterdam (sábado, 25 de fevereiro)

O jogo em Nijmegen colocou frente a frente duas equipes que vinham de incômodas sequências. O anfitrião NEC tinha quatro derrotas consecutivas; o visitante Sparta tinha um rendimento ainda pior, com onze jogos sem triunfar (dois empates, nove derrotas). No começo do jogo, os mandantes de Nijmegen falaram mais grosso. Primeiro, num chute de Kévin Mayi, defendido por Roy Kortsmit. Que apareceria mais definitivamente aos 16': o volante Julian von Haacke foi derrubado na área por Mart Dijkstra, o juiz Martin van der Kerkhof marcou o pênalti, Gregor Breinburg bateu... e Kortsmit mergulhou no canto direito para espalmar.

Se o NEC não aproveitava as chances que tinha, o Sparta fez isso. Aos 33', Denzel Dumfries alçou a bola na área, da direita, e Paco van Moorsel entrou para concluir e fazer 1 a 0. A partir de então, os Nijmegenaren correram atrás do empate. Mas a única oportunidade que apareceu foi desorganizada: um chute de Taiwo Awoniyi, bloqueado pela defesa. No fim do jogo, com o zagueiro Dario Dumic indo frequentemente ao ataque, o NEC tentou evitar a quinta derrota seguida. Mas não conseguiu: alívio definitivo para o Sparta, que voltava a vencer, minorando um pouco a sua queda no returno.


O primeiro gol de Schmidt pelo Heerenveen abriu o caminho para a vitória; fim da má sequência (Maurice van Steen/VI Images)
Heerenveen 3x0 Roda JC (sábado, 25 de fevereiro)

Se era o clube mais cotado a ser o "melhor do resto" quando o turno terminou, o Heerenveen perdeu tal status com o fim da pausa de inverno. Com a lesão de Stijn Schaars, o meio-campo se enfraqueceu - e nas cinco partidas até esta rodada, o time só conquistou um ponto. E pelo modo como o time da Frísia iniciou a partida contra o Roda JC, a torcida temeu que a má sequência pudesse continuar: quase nenhuma chance de gol foi vista no estádio Abe Lenstra, e o primeiro tempo terminou sem gols.

Na etapa complementar, a situação mudou rapidamente: aos 54', Mohamed El Makrini cometeu falta duríssima em Martin Odegaard, e levou imediatamente o cartão vermelho. Com a superioridade numérica, o Heerenveen achou mais espaços. E fez o gol do alívio aos 60', numa bola parada: Odegaard cobrou falta para a área, e o zagueiro Doke Schmidt desviou com o ombro para marcar seu primeiro gol pela equipe adulta do clube que defende desde a base. A vitória foi assegurada nos minutos finais: aos 89', Arber Zeneli passou a Henk Veerman, que bateu para o 2 a 0. E aos 90' + 2, após pênalti sofrido por Sam Larsson, Reza "Gucci" Ghoochannejhad converteu a cobrança para o 3 a 0 que deu mais segurança ao Heerenveen, ainda na zona de classificação para os play-offs.


Um gol e uma assistência: Van Wolfswinkel (à esquerda) foi protagonista na vitória do Vitesse (Pro Shots)

Go Ahead Eagles 1x3 Vitesse (domingo, 26 de fevereiro)

Após a derrota sofrida para o Roda JC, adversário direto na disputa para sair da zona de repescagem/rebaixamento, o Go Ahead Eagles tentaria reagir contra o Vitesse. Porém, se já não conseguira vencer os Koempels, mais difícil ainda seria sobrepujar um adversário melhor tecnicamente, como o Vites. Foi o que se viu no primeiro tempo. O GAE até criou possibilidades - como aos 14', num cabeceio de Sam Hendriks. Mas na primeira vez em que chegou perto do gol, o Vitesse deixou o 1 a 0 no placar: aos 29', Kelvin Leerdam cruzou novamente a bola, após escanteio rebatido, e Ricky van Wolfswinkel concluiu para as redes, marcando seu 11º gol na Eredivisie.

No segundo tempo, a dinâmica do jogo se repetiu. O Go Ahead Eagles criava jogadas - principalmente, com o inglês Daniel Crowley. Mas o Vitesse fazia aos gols. Continuou aos 52', quando Milot Rashica cruzou da direita, Van Wolfswinkel escorou, e Navarone Foor completou para o segundo gol dos visitantes de Arnhem. Finalmente, aos 80', Rashica fez o gol mais bonito do jogo: driblou Marcel Ritzmaier e bateu no ângulo. Ao Go Ahead Eagles, restou o tento de honra, feito por Crowley, aos 88'. Mas o time aurirrubro segue com a ameaça de voltar à segunda divisão, bafejando no cangote. O Vitesse, por sua vez, continua à espreita dos adversários na zona dos play-offs por Liga Europa.


O AZ já temia nova derrota, após a dura goleada na Liga Europa. Fred Friday não deixou (Henry Dijkman/VI Images)

AZ 1x1 Zwolle (domingo, 26 de fevereiro)

O AZ tinha que reagir. Não que estivesse ruim no campeonato, quinto colocado que é. Mas devia satisfações à torcida, depois do vexame contra o Lyon na Liga Europa - esperava-se a eliminação, mas jamais que ela fosse após ser goleado por 7 a 1. E os Alkmaarders até conseguiram reagir: foram melhores no primeiro tempo. As melhores chances vieram dos donos da casa: aos 19', numa cobrança de falta em que Derrick Luckassen mandou a bola perto do ângulo, e aos 30', quando Wout Weghorst chutou em cima do goleiro Mickey van der Hart. Aos 41', Luckassen cobrou falta até mais perigosa, forçando Van der Hart a espalmar por cima do gol.

Ainda assim, os visitantes de Zwolle deram um preciso golpe tão logo o segundo tempo começou. Aos 47', Nicolai Brock-Madsen driblou Tim Krul e finalizou, mas Luckassen conseguiu evitar o gol, travando pela linha de fundo. No córner que se seguiu, a sobra ficou com Ryan Thomas, e o neozelandês arrematou no canto esquerdo de Krul para o 1 a 0. A desvantagem impactou o AZ por um longo tempo, e os Zwollenaren até tiveram chances para marcarem o segundo gol. Porém, os anfitriões seguiam mantendo a posse de bola, e as entradas de Alireza Jahanbakhsh e Fred Friday reanimaram o ataque. E coube a Friday, afinal, o empate salvador: aos 82', o atacante nigeriano recebeu lançamento de Levi Garcia e finalizou para o 1 a 1, que manteve o AZ na quinta posição. Diante do problema por que o AZ passou na Liga Europa, podia ter sido pior. E há a Copa da Holanda como possível prêmio de consolação (a equipe joga as semifinais na próxima quinta).

Van der Heijden (1º, da esquerda para a direita) saiu comemorando. Mas foi o erro de Zoet que deu a vitória dramática ao Feyenoord (ANP/Pro Shots)

Feyenoord 2x1 PSV (domingo, 26 de fevereiro)

Diante de um clássico tão importante, Giovanni van Bronckhorst já começaria tomando uma díficil decisão: Dirk Kuyt seria titular ou reserva? Preferir a intensidade e a velocidade de Jens Toornstra no apoio ou a experiência do capitão? "Gio" ficou com a primeira opção, e Toornstra começou jogando a partida num De Kuip absolutamente lotado, e esperançoso na vitória. E o que se viu nos primeiros dez minutos de jogo pagou totalmente a aposta de GvB: um Feyenoord velocíssimo, ofensivo, contra um PSV "irreconhecível" no início, conforme lamentou o técnico Phillip Cocu à FOX Sports holandesa, depois do jogo.

Já aos 2', Terence Kongolo deixou com Eljero Elia, e o atacante bateu de fora da área. A bola rasteira saiu, mas passou perto do gol de Jeroen Zoet. Da direita, aos 6', Steven Berghuis cruzou, e Andrés Guardado tirou da área. Pouco antes, Toornstra já lançara a bola para a área, mas Héctor Moreno cortara. Aos 7', a primeira defesa salvadora de Zoet:  Berghuis tabelou com Toornstra, recebeu a bola de volta e desviou-a levemente a Nicolai Jorgensen. Na pequena área, o dinamarquês goleador deste Campeonato Holandês chutou em cima do goleiro. Mais um minuto, cobrança de falta, e Jorgensen desviou de cabeça, mandando para fora, rente à trave direita de Zoet. Já era caso de dizer que o gol estava demorando. E ele chegou aos nove minutos: Kongolo chegou livre pela esquerda, cruzou e Toornstra, na área, de primeira, bateu no ângulo esquerdo de Zoet. O 1 a 0 era o melhor e mais justo resultado para o "abafa" irrespirável do Feyenoord.

Só aos 12' o PSV arriscou algo: Gastón Pereiro cruzou da esquerda, mas Kongolo tirou da área, de cabeça. Mais dois minutos, e enfim o time de Eindhoven forçou a primeira defesa de Brad Jones no clássico:  Luuk de Jong chegou pela esquerda, cruzou, Pereiro dominou, mas bateu fraco, fácil para a defesa do goleiro australiano. De resto, o Feyenoord continuou soberano em campo - aproveitando principalmente a esquerda, onde Kongolo e Elia tinham ótima atuação, aproveitando o mau dia de Santiago Arias em campo, pela lateral direita.

O segundo gol quase veio aos 19': em cobrança de escanteio, foi justamente Arias quem salvou o PSV, tirando em cima da linha o cabeceio de Eric Botteghin. No minuto seguinte, Berghuis recebeu a bola na entrada da área, e bateu rasteiro, para fora. O camisa 19 do Feyenoord ainda prejudicaria indiretamente os visitantes aos 25': cometeu falta dura em Marco van Ginkel, e escapou sem que o juiz Bas Nijhuis lhe desse cartão. Van Ginkel seguiu com dores, mas ainda apareceu aos 30': Jetro Willems cruzou, Kongolo tirou de cabeça, o camisa 28 chutou, a defesa tirou, e Bart Ramselaar arriscou de novo, sem perigo. Contudo, aos 36', as dores venceram Van Ginkel, que precisou dar lugar a Steven Bergwijn. Com uma atuação apagada de Andrés Guardado, era outro revés no primeiro tempo amargo para os Eindhovenaren.

Num ritmo menos veloz, as duas equipes passaram até a trocar ataques no fim do primeiro tempo. Aos 37', Berghuis cobrou escanteio, Zoet subiu na pequena área e agarrou a bola. O PSV trouxe perigo aos 43', quando Arias apareceu pela direita, cruzou, e a bola passou pela área sem ninguém para finalizar. Nos acréscimos, aos 45' + 1, Pereiro entrou na área seguido por Kongolo, dividiu a bola com Jones e caiu pedindo pênalti (inexistente). Não foi nada - e o primeiro tempo acabou com o PSV só tendo dado dois chutes a gol, e Luuk de Jong ainda levando cartão amarelo depois do apito final, por reclamar com o juiz. Para o Feyenoord, os primeiros 45 minutos só não haviam sido perfeitos porque não vieram mais gols.

Toornstra comemora o primeiro gol - merecido, pelo começo irresistível do Stadionclub no clássico (Jeroen Putmans/VI Images)
A etapa final começou com o Feyenoord pressionando novamente, em busca do gol que lhe desafogaria. Logo aos 47', Elia driblou Arias - aliás, que belo elástico do camisa 11 do Stadionclub... - cruzou, Toornstra dominou e arrematou, mas Willems evitou o gol. No minuto seguinte, Elia chegou livre à área, e caiu após a chegada de Zoet. Pediu pênalti (inexistente). A busca continuou aos 52': Rick Karsdorp cruzou da direita, e justamente antes da bola chegar a Jorgensen, Héctor Moreno desviou pelo fundo, salvando o PSV. No córner resultante, Arias repetiu o que fizera no primeiro tempo: aos 54', Eric Botteghin cabeceou de novo, e o lateral colombiano tirou de novo em cima da linha.

Aos poucos, todavia, o PSV foi reagindo. Aos 56', pela direita, Bergwijn se aproximou, cruzou, e Jan-Arie van der Heijden afastou da área. Três minutos depois, o ataque dos Rotterdammers sofreu duro golpe: com dores na perna, Elia deu lugar a Bilal Basaçikoglu. Os visitantes de Eindhoven se engraçaram mais: aos 61', Willems cruzou da esquerda, mas Botteghin estava atento e tirou de cabeça. Todavia, logo o curto período de retração dos mandantes foi duramente punido: aos 62', Bergwijn passou a Davy Pröpper, que deu belíssimo passe de calcanhar a Gastón Pereiro, que bateu no canto direito de Jones. Após 602 minutos, o arqueiro australiano sofria seu primeiro gol por jogos oficiais em 2017.

Ficava a pergunta sobre como reagiria o Feyenoord após golpe tão duro. A resposta era indefinida, e restava apenas voltar a atacar incessantemente em busca da vitória. Foi o que o Stadionclub fez. Logo aos 64', Toornstra recebeu a bola dominada na grande área, e arrematou na rede pelo lado de fora. A chance aos 69' foi ainda mais valiosa: livre na área após receber a bola de Jorgensen, Berghuis bateu com a perna ruim (a esquerda), e chutou torto, na trave. Era uma oportunidade daquelas de não se perder, num clássico.

Mas o Feyenoord continuou. Aos 74', Toornstra apareceu bem, mas mandou por cima do gol. Karsdorp voltou a se mostrar como opção aos 76', ao cruzar da direita, mas Zoet saiu do gol para socar a bola, espantando o perigo. Na sequência, Berghuis cruzou, e Basaçikoglu cabeceou para fora. Com tantos ataques, obviamente o time da casa deixava espaços na defesa. Numa única vez, aos 78', quase o PSV calou De Kuip de vez: Luuk de Jong desviou, e Bergwijn ficou livre com a bola, perto da pequena área, mas Karsdorp salvou, ao colocar o pé na frente, na hora exata do chute. Reação unânime na imprensa holandesa: o desarme de Karsdorp valeu como um gol. Até por ter sido a última coisa que o lateral direito fez em campo (com cãibras, cedeu lugar a Bart Nieuwkoop).

O tempo ia ficando curto. Até que veio o lance para fazer De Kuip explodir outra vez. Aos 82', Basaçikoglu chutou, a bola desviou em Nicolas Isimat-Mirin e quase enganou Zoet, que espalmou para escanteio. Na cobrança da bola parada, veio o alívio: Basaçikoglu cobrou, Van der Heijden cabeceou, e Zoet defendeu. Inicialmente, o goleiro do PSV segurou com a bola em cima da linha. Todavia, cometeu o erro de abraçar a bola, com o tronco atrás da linha do gol. Bastou para a tecnologia "olho-de-gavião" funcionar: Bas Nijhuis recebeu sinal sonoro de que a bola entrara, e marcou o gol (confirmado como gol contra de Zoet). A sorte sorria para o Feyenoord: 2 a 1, no momento mais desejado.

O momento da rodada: Zoet até pega a bola em cima da linha, mas a agarra atrás do gol (ANP)

De novo em desvantagem, o PSV foi para o tudo ou nada: aos 84', Jürgen Locadia, recuperado de lesão, entrou no lugar de Guardado. O Feyenoord contrabalançou com a vinda de Miquel Nelom para a direita, no lugar de Berghuis, aos 86'. Os visitantes iam todos para a área - nas bolas paradas, até com Zoet. Nos contra-ataques, os mandantes tiveram duas chances de matar o jogo: aos 88', Jorgensen passou a Vilhena, em contragolpe, o meia demorou a chutar, e perdeu a bola. E aos 90' + 1, o goleador da Eredivisie recebeu em boas condições para o chute, mas bateu para fora!

Não demorou muito, e Bas Nijhuis apitou o fim de um clássico enlouquecedor. Van Bronckhorst fora premiado, e saiu de campo louvando o "espírito de luta" do Feyenoord, à FOX Sports holandesa. Para Zoet, restou lamentar o azar de De Kuip ter a tecnologia "olho-de-gavião" - e o amargor do erro: "Azar meu, sorte do Feyenoord. Eu só queria tirar a bola do gol". Mas talvez, Toornstra acertou melhor a descrição do sentimento da torcida: "Pelo jeito, está parecendo ano de campeão". Como há 18 anos não parece, para o Feyenoord. Que passou da sua "primeira fase", 11 pontos à frente de um PSV que provavelmente perdeu as chances de tricampeonato. Nunca esteve tão perto o fim do tabu. Enfim, o primeiro clube holandês campeão europeu pode bater no peito e vociferar: é, sim, o grande favorito ao título da Eredivisie.

De Ligt (à direita) comemora seu primeiro gol pelo time adulto do Ajax; a partir daí, time controlou jogo (Pro Shots)

Ajax 4x1 Heracles Almelo (domingo, 26 de fevereiro)

Se o Feyenoord afirmou-se como o grande favorito ao título da Eredivisie, cabia ao Ajax uma única coisa: jogar ofensivamente, como quase sempre faz, para vencer a partida que fechava a 24ª rodada. Foi exatamente o que os Ajacieden começaram a fazer. Já aos quatro minutos do primeiro tempo, Bertrand Traoré tentou repetir o gol marcado contra o Sparta Rotterdam, em jogada semelhante: pegou a bola pela direita, cortou para o meio e driblou dois jogadores. A única diferença foi o destino do chute: para fora.

Melhor oportunidade de gol para os anfitriões viria aos 8': após dividida, a bola escapou de Lasse Schöne e ficou com Davy Klaassen. O camisa 10 lançou Kasper Dolberg em profundidade, e o atacante dinamarquês entrou na área, batendo em cima do goleiro Bram Castro e perdendo grande chance. Mais um minuto, Amin Younes cruzou, e Klaassen bateu rasteiro para fora, perto da trave direita de Castro. Aos 11', Traoré tabelou com Schöne e bateu colocado, para boa defesa de Castro, que espalmou para escanteio. Assim, o goleiro belga começava a se sobressair como destaque dos visitantes de Almelo na partida.

Todavia, após um começo prensado na defesa, o Heracles se encorajou. E aproveitou o previsível ponto fraco do Ajax: os espaços deixados para contra-ataque. Foi o que começou a acontecer, a partir dos 13'. Em rápido contragolpe, Samuel Armenteros deixou a bola com Kristoffer Peterson. Este driblou André Onana, que saiu cedo demais do gol. O sueco ficou em condições de chutar, mas perdeu o ângulo. Peterson voltou para o meio da área, bateu, mas a esférica ricocheteou em Jaïro Riedewald e saiu.

O susto levado pelo Ajax serviu para equilibrar o jogo. As chances começaram a se alternar. Aos 15', o Ajax atacou: Traoré arrematou colocado, e a bola passou por cima do gol. O Heracles Almelo assustava de volta: aos 17', Armenteros chegou a marcar gol anulado. Depois, aos 19', Younes fez jogada individual, cruzou, e Dolberg escorou na primeira trave, para fora. E aos 21', Brandley Kuwas cobrou escanteio sinuosamente, mas Onana defende.

Nada mais lógico que os gols viessem em sequência, também. Aos 23', os mandantes abriram o placar. Klaassen pegou a bola perto da meia-lua, e chutou rasteiro. Castro rebateu, e quando ia se levantar, Dolberg já estava na pequena área a postos. O dinamarquês tocou a bola para as redes, e era 1 a 0 para o Ajax. Mas os Heraclieden assimilaram rapidamente o gol - tão rapidamente, que empataram aos 25'.Wout Droste cruzou da direita, e Armenteros (quem mais?) apareceu no meio da área. Desviou de cabeça, no canto direito de Onana, e a bola ainda bateu na trave antes de entrar, no 11º gol do sueco nesta Eredivisie.

O equilíbrio continuou no resto do primeiro tempo. Aos 30', novamente Kuwas cobrou escanteio, e Justin Hoogma cabeceou, para defesa de Onana. O Ajax voltou, então, para terminar melhor o primeiro tempo. Aos 37', Schöne arriscou perto da área, e Castro espalmou com dificuldades pela linha de fundo, quase sendo traído pela bola. Aos 44', Ziyech cobrou falta, bem defendida por Castro. Na sequência do lance, Traoré de novo tentou jogada individual, e bateu para Castro encaixar e defender com segurança.

O segundo tempo começou com o Ajax precisando fazer mudanças: lesionado, Nick Viergever deu lugar ao jovem zagueiro Matthijs de Ligt, 17 anos. E foi justamente De Ligt que trouxe perigo ao gol pela primeira vez, aos 48', arriscando de fora da área, e exigindo que Castro espalmasse por cima. Traoré, por sua vez, seguia com as jogadas individuais (chutou para fora, aos 51'). E Klaassen tanto chutava (aos 53', para fora) quanto passava: aos 55', o camisa 10 serviu a bola a Ziyech, e o meio-campista invadiu a grande área adversária pela esquerda, mas chutou em cima de Castro, que fechou bem o ângulo e espalmou para escanteio.

E neste córner, saiu o gol do Ajax. Se estava difícil para os meio-campistas e/ou atacantes resolverem a partida, os zagueiros foram à frente para resolverem a parada. Aos 56', Ziyech cobrou o córner, e De Ligt subiu de cabeça, sozinho no meio da área, para marcar o seu primeiro gol pela equipe de cima (idade mais baixa do que Johan Cruyff ou Marco van Basten tinham ao marcar seus primeiros gols com a camisa Ajacied). Aos 60', o outro zagueiro do time de Peter Bosz fez gol ainda mais bonito. Sánchez recebeu bola recuada no meio-campo, para recomeçar a jogada. O zagueiro colombiano foi avançando, avançando, ninguém o marcou, e ele chutou. De fora da área, cruzado, no canto direito de Castro, fazendo 3 a 1. Golaço de um dos melhores zagueiros desta Eredivisie.

O Heracles até tentou correr atrás e continuar contra-atacando, mesmo com dois gols de desvantagem. Aos 62', Armenteros cabeceou após cruzamento, para defesa fácil de Onana; aos 64', Joël Veltman recuou errado, e Jaroslav Navrátil dominou para chegar à área com a bola, pronto para o chute, mas Sánchez salvou de novo o Ajax, com corte preciso. Finalmente, aos 67', Peterson puxou jogada pela direita, e tocou para Navratil. Livre na área, o atacante bateu, mas Onana saiu muito bem do gol e defendeu.

Peter Bosz instrui David Neres antes da entrada; brasileiro foi discreto nos 18 minutos em campo (Louis van de Vuurst/Ajax.nl)

A partir daí, o Ajax passou a trabalhar para manter o resultado. Nem mesmo a estreia do brasileiro David Neres (aos 72', substituindo Dolberg) acelerou tanto assim o ritmo. Claro, haviam chances dos Godenzonen. Aos 73', mais um chute de Traoré para fora; aos 75', Younes arrematou, e a esférica foi para fora após desvio em Mike te Wierik. Ziyech também mandou na linha de fundo sua cobrança de falta, aos 81'. E aos 83', Younes cruzou da esquerda, mas antes que Traoré chegasse para a finalização, Castro defendeu.

Ainda assim, mantendo a posse de bola no campo ofensivo, o Ajax foi premiado no minuto final do tempo regulamentar. Ziyech cobrou escanteio da esquerda, e Traoré apareceu na primeira trave para desviar levemente e consolidar uma goleada até acima do que o Ajax mereceu no jogo. Mas, ora bolas, uma goleada que serviu para fazer o que o Ajax precisa fazer: manter a ainda acessível desvantagem de cinco pontos para o líder Feyenoord. Os Amsterdammers também se afirmaram: são o principal antagonista do arquirrival na disputa da Eredivisieschaal.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

A "primeira fase" do "vestibular"


Confiança do Feyenoord vai crescendo, mas terá seu grande teste contra PSV (Jeroen Putmans/VI Images)

Na semana passada, mencionou-se aqui o começo incontestável dos três grandes clubes holandeses no segundo turno do Campeonato Holandês: em cinco rodadas até ali, haviam sido cinco vitórias. Pois bem: continuou sendo assim após a 23ª rodada. O trio venceu seus respectivos compromissos (Ajax 1x0 Vitesse; PSV 3x1 NEC; ADO Den Haag 0x1 Feyenoord), e continuou invicto no returno da Eredivisie desta temporada.

E aí, obviamente, a atenção maior vai para o Feyenoord. O clube de Roterdã conseguiu a nona vitória seguida no campeonato, somando os resultados do primeiro turno – simplesmente a segunda vez em que o Stadionclub engatou nove triunfos consecutivos na edição atual da liga. Mais: aproxima-se cada vez mais o recorde histórico de sequência de vitórias dos Feyenoorders (12, na temporada 2002/03). 

Enfim, não resta dúvidas: se o principal temor da torcida – e principal desconfiança da imprensa – era a capacidade da equipe de manter no returno o ritmo elogiável visto nas 17 primeiras rodadas, ele vai sendo pulverizado rodada após rodada. Em certos momentos, com até mais segurança do que no primeiro turno. Basta dizer que o goleiro Brad Jones não sofreu gols nos jogos do returno – ou seja, já são 540 minutos sem a meta do australiano ser vazada.

Aliás, cabe repetir algo que já se disse aqui: o Feyenoord parece naquele estágio em que a segurança e a autoconfiança são tamanhas que até o adversário mais difícil, uma hora, é superado. A vitória sobre o Groningen, há duas rodadas, já mostrara isso; e o 1 a 0 em cima do lanterna ADO Den Haag, domingo passado, foi ainda mais alentador. Tratava-se de mais um daqueles jogos em que o Feyenoord correria o risco de se descontrolar, em tempos idos. Afinal de contas, mesmo em situação cada vez mais difícil na liga, o time de Haia oferecia pouco espaço em sua defesa, trazia certos perigos no contra-ataque, segurou o 0 a 0 no primeiro tempo... até que, aos 17 minutos do segundo tempo, Eljero Elia conseguiu fazer uma jogada pela esquerda, cruzou, e Karim El Ahmadi entrou pela área para chutar e garantir o gol da vitória. Calmamente, sem desesperos, sem desproteger a defesa.

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas o fato é que, se o Feyenoord tem essa sequência altamente positiva, também não encarara nenhum adversário “do seu tamanho” no returno. Até esta 24ª rodada: no domingo, a equipe receberá o PSV, em clássico a ser realizado num De Kuip com ingressos já esgotados. Se a vitória em plena Eindhoven no primeiro turno (1 a 0, na 8ª rodada) foi o primeiro sinal de que a equipe falaria realmente grosso na Holanda nesta temporada, um novo triunfo não só deixará os Boeren definitivamente fora da disputa pelo título, mas também realçará a esperança que toma conta de Het Legioen, a sofrida e fanática torcida, ainda que de modo cauteloso.

E após muito tempo, dá para dizer: há razões reais para o Feyenoord olhar o PSV de igual para igual, ou até numa posição superior. Na defesa, além do supracitado Brad Jones, Eric Botteghin pode ser considerado o melhor zagueiro desta Eredivisie – o brasileiro não chega a encher os olhos com suas atuações, mas tem sido o exemplo perfeito da concentração do time na temporada (não perdeu um só minuto de jogo na Eredivisie, e está sempre atento nas sobras de bola e nos desarmes). Seu parceiro de zaga, Jan-Arie van der Heijden, cresceu de produção no returno. E os laterais, Rick Karsdorp e Terence Kongolo, seguem exibindo equilíbrio entre marcação e apoio.

Mas sem dúvida, é no meio-campo que está o pulo do gato do Feyenoord nesta temporada. Não é exagero dizer que o supracitado El Ahmadi e Tonny Vilhena disputarão o posto de “melhor do campeonato” ao final da temporada: mostram velocidade impressionante para apoiarem e marcarem, e não raro avançam para surpreender nas chegadas ao ataque, como provou o gol de El Ahmadi contra o ADO Den Haag – foi o sétimo tento do marroquino na Eredivisie. Aliás, não raro, há quem diga que o Feyenoord melhorou ainda mais com o retorno de El Ahmadi, titular magrebino na Copa Africana de Nações.

Paralelamente, começando a receber chances frequentes na armação das jogadas, Jens Toornstra vai se destacando nas assistências – já são 7. Mesmo número de passes para gol que fez Eljero Elia, outro destaque no ataque, sempre criativo na ponta esquerda. Assim como Steven Berghuis, enfim entrosado pela direita. No meio, não é novidade citar Nicolai Jorgensen, goleador (15 gols) e quem mais assistências deu (8) no campeonato. O atacante dinamarquês não só disputa com El Ahmadi e Vilhena o posto de jogador da Eredivisie, mas também deverá ser cobiçado na próxima janela de transferências.

Todavia, há alguns furos no casco do seguro barco do Feyenoord. O leitor mais atento há de notar que não foi citado o nome de Dirk Kuyt. Pois é: o capitão Feyenoorder está deixando de ser tão importante. Não que tenha sido esquecido, longe disso. Mas Kuyt já não é fundamental no time. Prova disso é que tem iniciado algumas partidas no banco de reservas – principalmente quando essas partidas exigem mais intensidade, como contra o Groningen. Afinal de contas, por mais que o esforço e a aplicação tática sejam fatores constantes e elogiáveis na carreira de Kuyt, os 36-quase-37 anos já começam a lhe pesar, e a velocidade já não é tanta. 

Obviamente, Kuyt chateou-se. Ao ser colocado na reserva contra o Groningen, reclamou à FOX Sports holandesa: “Eu fiquei surpreso e triste por não ter jogado. Achava que, por ser o capitão, estava livre dessas coisas”. Pelo menos, tendo voltado ao time titular, o próprio colocou panos quentes em qualquer problema com o técnico Giovanni van Bronckhorst, após a vitória contra o ADO Den Haag: “Coloquei um risco enorme sobre isso”. Enfim, pensou em não criar problemas. Coisa que, talvez, Michiel Kramer devesse ter feito: esquecido no banco de reservas com a ascensão vertiginosa de Jorgensen, o atacante faltou a um treino, há duas semanas. Bastou para ser barrado do grupo por alguns dias, além de levar uma multa – ambas as punições já cumpridas, aliás.

Tudo isso leva a crer que o Feyenoord está se esforçando para evitar toda e qualquer escaramuça que tire o foco daquilo que interessa: a manutenção da liderança e o sonho do desfile na avenida Coolsingel, com a taça na mão. Faz bem. Até porque, se há um time que pode atrapalhar isso, é o PSV. Se o Feyenoord tem seis vitórias nos seis jogos do returno, o time de Eindhoven também tem (além do Ajax, bom lembrar). E os Boeren têm conseguido seus triunfos na base da calma e da eficiência, sem se preocupar em jogar bem. Na semana passada, a coluna citava vitórias dos Eindhovenaren contra Heerenveen e Heracles Almelo, conseguidas tardiamente. E o PSV seguiu sendo mais eficiente contra o NEC, na rodada passada: saiu na frente, sofreu o empate, mas teve cabeça fria para aproveitar as chances no segundo tempo e garantir a vitória por 3 a 1. É o que resta, para manter as remotas chances de tricampeonato – que praticamente acabarão, em caso de vitória do Feyenoord no clássico.

Ou seja: se há um time matreiro o suficiente para conter a vontade do Feyenoord, que atua em casa, e vencer com eficiência, este time é o PSV. E o líder do campeonato sabe disso. Eis a razão da partida deste domingo ser tão importante para o Stadionclub. No returno, ele tem sido um estudante aplicado: cumpre suas tarefas de modo elogiável, e vai muito bem nos “simulados”, até “gabaritando” algumas provas. Contra o PSV, o Feyenoord passará pela “primeira fase” de seu “vestibular” rumo ao sonhado título. E precisa ir bem nela.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 24 de fevereiro de 2017)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

810 minuten: como foi a 23ª rodada da Eredivisie

O Roda JC sofreu mais contra o Go Ahead Eagles. Teve apenas uma chance de gol. E a aproveitou para a vitória (Pro Shots)

Roda JC 1x0 Go Ahead Eagles (sexta-feira, 17 de fevereiro)

A 23ª rodada do Campeonato Holandês já começou com um duelo decisivo - pelo menos, na parte de baixo da tabela. Afinal de contas, tanto Roda JC quanto Go Ahead Eagles são dois dos times que sofrem desde o início com a ameaça do rebaixamento, ou mesmo da repescagem. Assim, não impressiona que a partida em Kerkrade tenha sido nervosa. Todavia, os visitantes foram exibindo a capacidade ofensiva que os levou a duas vitórias consecutivas. Aos 6', Elvis Manu recebeu a bola na área, e chutou na rede pelo lado de fora; depois, aos 25', após escanteio, a bola aérea sobrou com o zagueiro Xandro Schenk, que chutou forçando o goleiro Benjamin van Leer a fazer difícil defesa.

Mas absolutamente nenhuma chance seria mais impressionante - e mais lamentada - pelos visitantes do que a ocorrida aos 61'. Pela esquerda, Daniel Crowley fez jogada individual, e cruzou para a pequena área, onde estava livre Sam Hendriks. Era dominar e chutar para o gol vazio. Porém, justo na hora de dominar, a bola escapou do domínio de Hendriks, que escorregou. Ela saiu pela linha de fundo, consumando uma daquelas chances perdidas que atormentam a cabeça de um atacante por muito tempo, como Hendriks reconheceu após o jogo, à FOX Sports holandesa: "Estou envergonhado, nem quero ver a chance".

Logo veio um motivo definitivo para lamentá-la: aos 70', Mitchel Paulissen cobrou falta, e Christian Kum desviou de cabeça para marcar o gol que garantiu a terceira vitória do Roda JC na temporada. Os Koempels tiveram a precisão que o GAE não teve. E por isso, é hora deles ganharem um respiro no esforço para saírem da zona de rebaixamento. Até a próxima rodada...

Mais um lance complicado na rodada: Ünal cai, o juiz dá pênalti, e o Twente vence (ANP/Pro Shots)

Twente 1x0 Heerenveen (sábado, 18 de fevereiro)

O que se viu no estádio Grolsch Veste foi um daqueles jogos malucos, em que cada equipe cria muitas chances de gol. Aliás, isso começou cedo. Já aos seis minutos da etapa inicial, o goleiro Erwin Mulder, do Heerenveen, já brilhou. Bersant Celina cruzou a bola da esquerda, e Dylan Seys cabeceou para ótima defesa de Mulder. Na sobra, Fredrik Jensen chutou duas vezes seguidas, e nas duas o arqueiro fez ótimas intervenções. Coube ao Heerenveen aparecer pela primeira vez aos 12': Sam Larsson lançou em profundidade para Pelle van Amersfoort. Substituto de Martin Odegaard (o norueguês ficou no banco), o atacante apareceu em ótimas condições para o chute, mas bateu por cima do gol. O Twente voltou aos 17', quando Seys finalizou, e Mulder fez de novo boa defesa.

Tentando atacar e superar seus problemas defensivos, o Heerenveen tinha um destaque: Arber Zeneli. O ponta-de-lança kosovar apareceu pela primeira vez aos 25', ao fazer jogada individual e chegar livre à grande área para chutar. Desta vez, Nick Marsman foi o goleiro a se destacar, fazendo boa defesa. Aos 34', Zeneli arriscou de fora da área, e a bola passou rente à trave direita de Marsman, saindo pela linha de fundo. E já no segundo tempo, aos 52', após tabelar com Stefano Marzo, Zeneli recebeu a bola de volta do lateral direito. Todavia, na hora de arrematar a jogada, Van Amersfoort apareceu na frente de Zeneli, que, desequilibrado, chutou para fora - e reclamou com o colega de clube.

Se os visitantes da Frísia tentaram mais, sem conseguir o gol, o Twente foi mais eficiente - e contou com um erro do árbitro, aliás, para abrir o placar. Aos 54', Enes Ünal saiu da marcação de Doke Schmidt, tentou driblar Mulder, e caiu após o contato com o goleiro do Fean. O juiz Serdar Gözübüyük acreditou em Ünal e marcou o pênalti altamente duvidoso, que Mateusz Klich bateu com segurança para o 1 a 0. Deu reclamação a ponto do próprio Enes Ünal que sofreu a infração reconhecer: "No campo, durante a jogada, eu não tive certeza se ele tinha me tocado. Vendo as imagens, acho que não houve contato".

Em desvantagem até injusta, só restou ao Heerenveen pressionar pelo resto do jogo, em busca do empate. Aos 62', num lançamento em profundidade, Joachim Andersen escorregou ao tentar cortar, e Reza Ghoochannejhad ficou livre com a bola para tentar o empate. Todavia, o atacante iraniano bateu em cima de Marsman, perdendo a oportunidade. Aos 76', uma grande chance: Larsson passou pelo lateral esquerdo Dejan Trajkovski, ficou em boas chances para o chute, e arrematou. Todavia, mandou a bola na trave. Ainda houve oportunidade aos 80': em outra jogada individual, Zeneli passou por dois marcadores, mas sua finalização foi impedida por um terceiro, o lateral Jeroen van der Lely. E aos 84', Larsson cruzou sob medida para Henk Veerman, mas o atacante vindo do banco de reservas cabeceou para fora. E o Twente comemorou a vitória que o fez superar na tabela exatamente o Heerenveen, agora amargando seis jogos sem vencer na Eredivisie.

O Excelsior viu o mesmo filme ruim para ele: Mattheij expulso, goleada sofrida (Peter Lous/VI Images)

Heracles Almelo 4x0 Excelsior (sábado, 18 de fevereiro)

Nas duas rodadas mais recentes, o Heracles sofreu até conseguir bons resultados: na 21ª, ficou com dez jogadores antes de virar o jogo para cima do Willem II, e só empatou contra o Roda JC nos últimos 12 minutos de partida, na rodada passada. Do jeito que a contenda em Almelo começou neste sábado, parecia que os mandantes sofreriam de novo, já que o Excelsior até criou mais chances (com Terell Ondaan e Nigel Hasselbaink). Isso durou até os 34': ao puxar Samuel Armenteros, o zagueiro Jürgen Mattheij recebeu o segundo cartão amarelo, e foi expulso, deixando os visitantes de Roterdã com um a menos. Mattheij já fora expulso contra o Roda JC, há três rodadas. E assim como naquela oportunidade, o Excelsior sucumbiu à superioridade numérica e foi goleado por 4 a 0.

Aos 42', oito minutos após a expulsão, coube a um ex-jogador do Excelsior abrir o placar: Peter van Ooijen completou jogada na trave, e Brandley Kuwas aproveitou o rebote para conferir o 1 a 0. No segundo tempo, os Heraclieden deslancharam. Aos 58', Thomas Bruns tabelou com Van Ooijen, recebeu a pelota de volta e chegou à área para marcar o segundo. Mais oito minutos, e o placar estampava 3 a 0 para os Almelöers; Bruns lançou, e o zagueiro Mike te Wierik mandou de voleio para as redes defendidas pelo goleiro Warner Hahn. Finalmente, aos 84', Armenteros cruzou e Kristoffer Peterson completou de cabeça para consolidar a goleada, que tirou definitivamente o risco de rebaixamento para o Heracles, já há três jogos invicto no campeonato.

Ramselaar marcou o gol do alívio: PSV sofreu menos para vencer e manter as pequenas chances que ainda tem (Broer van den Boom/VI Images)

PSV 3x1 NEC (sábado, 18 de fevereiro)

Novamente, o PSV teria a mesma tarefa de sempre: não só continuar vencendo para manter as poucas esperanças que ainda tem para o tricampeonato holandês (até porque pega o líder Feyenoord na próxima rodada), mas tentar ser mais convincente, fazer a torcida sofrer menos. No começo, pareceu que isso não aconteceria: já na primeira volta do ponteiro, em reposição errada de bola de Jeroen Zoet, Gregor Breinburg bateu para fora, na primeira chance do NEC - que, por sua vez, também sofria com alguma pressão (afinal, o time de Nijmegen não vencia havia três rodadas).

Aos poucos, porém, o PSV foi controlando a posse de bola. E também o jogo em Eindhoven. Aos 15', a primeira chance: Santiago Arias tabelou com Bart Ramselaar e cruzou da direita. Na área, Luuk de Jong cabeceou torto, perdendo o que poderia ser boa chance. No minuto seguinte, Arias apareceu novamente: em bola lançada por Andrés Guardado, o lateral colombiano dominou, cruzou para a área, e Steven Bergwijn  (ganhando a vaga nos titulares de Gastón Pereiro) dominou, mas chutou em cima de um zagueiro. Depois, aos 18', Luuk de Jong ganhou bola vinda de disputa de área de Pröpper, chegou com ela à área e cruzou, mas Bart Ramselaar não conseguiu dominar.

Mesmo com posse de bola, troca de passes e criação de jogadas, o gol dos Boeren veio enfim foi numa bola parada, mesmo. Aos 20', Bergwijn dominou a bola na entrada da área, pela direita, mas foi acossado por Janio Bikel e caiu. Jochem Kamphuis apitou na hora o pênalti, e Marco van Ginkel não fez o que a maioria de seus colegas tem feito na temporada. No caso, sorte da torcida do PSV: o meio-campista cobrou a penalidade máxima com categoria, mesmo com o goleiro Joris Delle pulando no canto certo, e abriu o placar, sem entrar para a longa lista de pênaltis perdidos dos Boeren na temporada

Todavia, por mais que os mandantes de Eindhoven dominassem o jogo, o NEC começou a achar espaços para os contra-ataques que desejava, já que jogava num 5-3-2 com defesa e meio-campo bem compactados atrás. Aos 26', Mohamed Rayhi apareceu pela direita, cruzou, mas Zoet segurou sem dar o rebote. E aos 30', em rápido contra-ataque, os visitantes de Nijmegen chegaram ao empate. Em longa bola, André Fomitschow dominou pela esquerda,  chegou à linha de fundo, e de lá cruzou. No meio da grande área, Ali Messaoud apareceu como "elemento-surpresa" e bateu de primeira, no ângulo esquerdo de Zoet.

Novamente em dificuldades, o PSV teria novamente de transformar sua posse de bola massiva em criação ofensiva. Tentou fazer isso aos 33': Bergwijn ficou com a bola, e tentou chegar à pequena área, mas foi impedido pelo zagueiro Dario Dumic, que mandou a esférica para escanteio. Na cobrança da sequência, Luuk de Jong cabeceou fracamente, para fora. As bolas paradas também foram uma opção a ser considerada, pelo que se viu aos 37': Andrés Guardado cobrou falta por cima do gol, trazendo grande perigo. Aos 40', em cruzamento, a bola passou por Bergwijn, e a defesa do NEC tirou da área. A sobra ficou com Guardado, que bateu rasteiro, mandando a pelota pela linha de fundo.

Messaoud (azul) chuta para o gol de empate que deixou o PSV temendo (ANP/Pro Shots)

Na etapa complementar, tentando evitar as estocadas adversárias, o PSV apelou para o "fogo contra fogo": também saía rápido para o ataque. Aos 53', Van Ginkel veio com a bola pela direita, e Ramselaar pediu o cruzamento. Mas o camisa 28 perdeu a chance: alçou a bola diretamente nas mãos do goleiro Joris Delle. Aos 55', no entanto, Ramselaar teve a bola que desejava, e fez o que queria: o gol. Em novo ataque, Bergwijn deixou a bola com Pröpper. Da direita, o camisa 6 cruzou para a pequena área, e Van Ginkel (que pedira o cruzamento) tentou escorar na primeira trave. Um zagueiro ainda conseguiu prensar a finalização, mas a bola ficou sobrando, e Delle deixou o gol aberto. O que tornou fácil para Ramselaar dominar a sobra, manter a posse de bola mesmo sendo travado por Dumic, e finalmente fazer 2 a 1.

A partir de então, o jogo caiu de ritmo. Cuidadoso para manter a vantagem, o PSV só chegava a partir de cobranças de falta - como aos 61', quando Pröpper mandou a bola para a área, e Héctor Moreno cabeceou por cima do gol. Ao NEC, ficava a alternativa única de tentar o que pudesse. Fosse em bolas paradas, como aos 57' (cobrança de falta de Dario Dumic, defendida por Zoet) ou aos 64' (em córner, Wojciech Golla cabeceou na pequena área, forçando Guardado a tirar a bola perto da meta). Fosse em trocas de passes, como aos 70', quando Kévin Mayi lançou a bola a Janio Bikel, que entrava pela área, e o volante bateu para fora. Fosse até em erros do PSV: aos 75', Nicolas Isimat-Mirin cortara um passe para a área, mas foi desarmado surpreendentemente por Rayhi, que cruzou para a área. Só Héctor Moreno tirou de vez o perigo. Houve até um gol anulado de Mayi, aos 85' (o atacante entrou impedido para cabecear). E aos 87', um chute de Rayhi, de fora da área, exigiu atenção de Zoet, que o espalmou para rebater.

O PSV, na sua, ficava nos contragolpes. Aos 76', Oleksandr Zinchenko puxou um deles, tendo Guardado à sua esquerda. O ucraniano passou a bola ao mexicano, que entrou livre pela área, mas chutou em cima de Delle, perdendo boa chance de resolver o placar. Aos 84', em cobrança de falta ensaiada, Jorrit Hendrix (de volta após lesão, substituindo Ramselaar) bateu rasteiro, para boa defesa de Delle - como Pröpper fez, agora com bola rolando, aos 84'. Já nos acréscimos, aos 90' + 3, uma inacreditável chance perdida por Moreno: Zinchenko passou ao zagueiro mexicano, que estava completamente livre na área e tocou na saída de Delle. Todavia, o toque foi alto a ponto de mandar a bola no travessão, e Luuk de Jong chutou o rebote em cima de Dumic.

Pelo menos, no acréscimo seguinte, veio o terceiro gol: Arias carregou a bola pela direita, foi a vez de De Jong receber livre no meio da área, e foi a vez dele arrematar, no canto direito de Delle, que ainda tocou na bola, mas não pôde evitar o 3 a 1 que confirmou a sexta vitória seguida do PSV no returno. Se a esperança de título ainda parece pequena, pelo menos a sua parte o atual bicampeão da Eredivisie está fazendo. E nem sofreu tanto nesta rodada. Agora, todo o foco irá para o clássico contra o Feyenoord, que pode recolocá-lo (ou tirá-lo) de vez da disputa do título.

Kerk (abraçado por Haller, no meio) aproveitou sua chance: participou dos três gols na vitória do Utrecht (Gertjan Kooij/Beeldboot)

Utrecht 3x1 Zwolle (sábado, 18 de fevereiro)

Para o jogo em casa, o Utrecht teria algumas novidades no ataque: gripado, Nacer Barazite deu lugar a Patrick Joosten na ponta de lança, enquanto Gyrano Kerk substituiu Richairo Zivkovic na dupla de ataque. E foi justamente Kerk o destaque da partida. Quando já se pensava que o primeiro tempo terminaria sem gols no estádio Galgenwaard, o camisa 27 tabelou com Sébastien Haller, que lhe devolveu cruzando a bola. Kerk completou, a bola bateu no zagueiro Bram van Polen e foi para as redes, aos 44 minutos - o gol foi considerado contra, de Van Polen

No início da etapa complementar, o Zwolle ainda teve boa chance de empatar nos primeiros minutos, quando Younes Mokhtar chegou com a bola à área, mas finalizou em cima do goleiro David Jensen. Sorte do Utrecht, que logo aos 48' fez 2 a 0 com Kerk, completando com um voleio o cruzamento de Sean Klaiber. A vitória estava bem encaminhada, e foi confirmada aos 80': Kerk lançou, Haller fez o corta-luz, e Barazite (que entrou no segundo tempo) chutou forte para as redes. Nem mesmo o gol de honra do Zwolle - mais um de Nicolai Brock-Madsen, aos 86' - colocou em risco a vitória dos Utregs, que seguem firmes na zona dos play-offs por vaga na Liga Europa.

O lance polêmico do gol do AZ: Weghorst obstrui Lamprou antes de Luckassen fazer 1 a 0 (ANP/Pro Shots)

Willem II 1x1 AZ (domingo, 19 de fevereiro)

Não foi só a dura goleada sofrida para o Lyon que o AZ sofreu na Liga Europa, quinta passada: foi também a perda de seu melhor atacante, Alireza Jahanbakhsh, lesionado. Ainda assim, mesmo fora de casa, os visitantes de Alkmaar foram melhores no primeiro tempo. Coube a eles a primeira chance do jogo: aos 18', Iliass Bel Hassani recebeu bola de Muamer Tankovic e arrematou - foi para fora, mas passou perto do gol de Kostas Lamprou. Aos 38', Thom Haye perdeu a posse de bola no meio, e Wout Weghorst chegou livre à grande área, mas chutou fraco, deixando fácil a defesa de Lamprou. O Willem II só chegou perto do gol aos 25' (finalização de Haye após escanteio, para fora). Ainda assim, a partida na cidade de Tilburg não empolgava muito.

E nem no segundo tempo as duas equipes contentaram bastante as torcidas. O jogo só cresceu em emoção a partir dos 61', com a primeira grande chance de gol: Jordy Croux cruzou, e Fran Sol quase abriu o placar para os Tilburgers mandantes, mas parou em grande defesa de Tim Krul. Porém, a emoção do jogo veio mesmo com os gols. Um deles, polêmico. Aos 71', Bel Hassani cobrou escanteio, e o zagueiro Derrick Luckassen concluiu para o 1 a 0 do AZ - mas durante o caminho da bola, Weghorst obstruiu Lamprou, que foi reclamar acidamente com o juiz Dennis Higler e levou o amarelo. Assim os Alkmaarders pareciam levar a vitória, mas tomaram o castigo com requintes de crueldade: nos acréscimos, aos 90' + 2, Krul falhou ao sair do gol em bola alta, e Erik Falkenburg marcou o gol do empate justo.

Van Moorsel marcou primeiro, e Sparta começou melhor. Mas Groningen empatou num jogo acelerado (ANP/Pro Shots)

Sparta Rotterdam 2x2 Groningen  (domingo, 19 de fevereiro)

Se as partidas de futebol tivessem apenas 45 minutos, o que se viu no Noordlease Stadion seria facilmente considerado o melhor jogo desta temporada da Eredivisie. Com três mudanças em relação ao time que caiu para o Ajax na rodada passada, o Sparta foi um rolo compressor ofensivo no início. Já aos 8', fazia 1 a 0: escanteio cobrado, Bart Vriends completou, o goleiro Sergio Padt rebateu, e Paco van Moorsel apareceu para aproveitar a sobra e colocar os Spartanen na frente. Aos 17', o 2 a 0 dos Kasteelheren foi ainda mais bonito: Van Moorsel passou a Martin Pusic, que tocou de calcanhar para Iván Calero completar. Poderia ser o começo de uma vitória, mas... Ruben Yttegaard Jenssen mudou tudo: o meio-campista norueguês recolocou o Groningen no jogo aos 21', aproveitando rebote de chute de Simon Tibbling (impedido) para diminuir. Ainda antes do intervalo, aos 44', veio o empate: após bate-rebate, a bola sobrou com Mimoun Mahi, que bateu para as redes.

Na volta do intervalo, o Groningen começou criando muitas chances. Aos 49', Mahi arrematou na rede pelo lado de fora; aos 51', foi Bryan Linssen o atacante que quase marcou, mas aí veio a defesa do goleiro Roy Kortsmit. O jogo novamente mudou de rumo no minuto seguinte: na semana seguinte à sua expulsão contra o Feyenoord (cuja suspensão foi revogada - acredite!), o volante Juninho Bacuna voltou a deixar os Groningers com 10 em campo, graças a novo carrinho, que lhe rendeu a terceira expulsão na temporada. Aí, voltou a pressão do Sparta: as enradas de Thomas Verhaar e Mathias Pogba fortaleceram o ataque. No fim do jogo, quase veio o gol: aos 81', Pogba cabeceou para a defesa de Padt, e aos 89', Padt interveio de maneira ainda mais decisiva, em chute de Van Moorsel à queima-roupa. E o Groningen conseguiu segurar a igualdade no placar.

No meio dos jovens, o capitão Davy Klaassen (10) chamou a responsabilidade para fazer o Ajax vencer (Matty van Wijnbergen/De Telegraaf)

Vitesse 0x1 Ajax (domingo, 19 de fevereiro)

Bastou a partida no estádio GelreDome começar para se notar que seria um jogo de semelhantes. Assim como o Ajax normalmente faz, o Vitesse começou querendo jogar no ataque. Logo aos dois minutos do primeiro tempo, Adnane Tighadouini tabelou com Nathan, recebeu a esférica de volta e arriscou chute de longe - e para longe. O Ajax tentou com mais precisão aos 6': Hakim Ziyech dominou a bola, e bateu mesmo de fora da área. Desta vez, a bola foi mais perto do gol, e o guarda-metas Eloy Room precisou agarrá-la.

Todavia, a pressão do Vites forçava alguns erros da defesa do Ajax na saída de bola, rendendo contragolpes ao time mandante. Por exemplo, com Joël Veltman, que fez dois lançamentos errados. No primeiro, aos 9', Nathan dominou e trocou passes com Marvelous Nakamba, mas este deu o último passe esticado demais. Aos 14', com o segundo erro de Veltman, o lançamento de Lewis Baker para a área é que foi demasiado longo. O Ajax só achou espaço para atacar de novo aos 18', quando, em rápido contragolpe, Amin Younes recebeu a bola pelo lado esquerdo. Tentou novamente a jogada individual, e cruzou para o meio da área, mas Matt Miazga estava lá, e tirou.

Até que surgiu a primeira oportunidade realmente perigosa de gol. Aos 25', Tighadouini dominou a bola pela esquerda na área, tirou Veltman da jogada no corte e bateu cruzado, para boa defesa de André Onana, com os pés. Entusiasmado, o Vitesse continuou avançando. E aos 26', Milot Rashica caiu após aproximação de Ziyech, e o juiz Kevin Blom não deu. Na sequência da jogada, o contra-ataque foi armado, e veio o gol do Ajax. Nick Viergever (na lateral, substituindo o lesionado Daley Sinkgraven) correu com a bola pela esquerda, chegou à área, passou a Amin Younes, e o camisa 11 deixou a bola para Davy Klaassen bater com precisão, no canto esquerdo de Room, fazendo 1 a 0 - 11º gol do camisa 10 Ajacied na temporada.

Foi o ponto de virada. A partir dali, os Ajacieden passaram a dominar as ações ofensivas, criando mais chances. Aos 31', em cobrança de falta, Lasse Schöne trouxe o perigo conhecido: um chute forte, que passou perto do gol de Room. Mais dois minutos, e quase a sorte rendeu o 2 a 0: um cruzamento despretensioso de Viergever ganhou efeito, e a bola bateu de leve no travessão. Aos 38', Bertrand Traoré aproveitou passe errado de Nakamba no meio-campo, chegou ao ataque e passou a Kasper Dolberg. O atacante dinamarquês bateu cruzado, e Room defendeu com os pés. Só aí o Vitesse assimilou o golpe do gol, reagindo no minuto seguinte (chute rasteiro de Milot Rashica, que Onana encaixou no meio do gol), e principalmente aos 43': em tiro livre cobrado por Lewis Baker, a bola foi para a área, e Matt Miazga entrou de carrinho, mandando-a por cima do gol. Mas o Ajax terminou dando a última palavra: aos 44', Traoré chegou perto da área e arriscou, mas pegou fraco na bola, que saiu sem direção.

Klaassen bate para fazer 1 a 0; num jogo com chances e posturas semelhantes, o Ajax foi mais eficiente (ANP/Pro Shots)

No início do segundo tempo, os Godenzonen deram até a impressão de que continuariam mandando: aos 47', Dolberg deixou a bola com Traoré, que bateu rasteiro, sem dificuldades para Room. Mas depois, as chances ficaram mais para os Arnhemmers aurinegros. O que não quer dizer que a pressão contra o Ajax foi irrespirável; deveu-se mais a bolas aéreas. Na primeira delas, aos 48', a maior chance: em escanteio, Rashica bateu, e Ricky van Wolfswinkel cabeceou na primeira trave. Justamente onde estava Klaassen, que salvou em cima da linha. Aos 53', novo córner da direita, e a bola foi direto para Miazga, que dominou, finalizou rasteiro. A bola só não entrou porque Jaïro Riedewald estava no lugar certo, travando na pequena área. Mais alguns minutos, e aos 65', um cruzamento de Tighadouini, que passou direto pela área, sem que Van Wolfswinkel conseguisse finalizar. Aos 74', em outro pontapé de canto, a bola foi escorada, e Nathan pegou a sobra fora da área. O brasileiro arrematou dali mesmo, e mandou perto da meta defendida por Onana.

Na verdade, a grande chance da etapa complementar ficou mesmo com o Ajax. E veio aos 77'. Schöne cobrou falta rapidamente, rolando a bola para Ziyech, e Navarone Foor (entrara havia poucos minutos) empurrou o marroquino na linha de entrada da grande área. Devagar, mas o suficiente para Kevin Blom marcar pênalti. Que Klaassen cobrou, para ótima defesa de Room, que espalmou no canto esquerdo, à meia altura.

Mesmo com o pênalti perdido, o Ajax seguiu controlando o jogo. Teve nova chance aos 78', num chute de Justin Kluivert, rasteiro e cruzado, para fora. O Vitesse apareceu aqui e ali - como aos 82, quando Baker arrematou de fora da área, sem problemas para Onana. Ou até aos 90': em outra bola mandada para a área, Onana saiu mal do gol, e Navarone Foor ficou com a chance para o chute. Todavia, Veltman impediu o arremate na pequena área, praticamente assegurando a vitória do Ajax, que segue o Feyenoord. Na saída do campo, o assunto era um só: num dia de destaques apagados no Ajax, quem chamou a responsabilidade foi o sempre confiável Davy Klaassen, autor do gol e sempre ativo no meio-campo. Bem falou o técnico Peter Bosz à FOX Sports holandesa: "Se você joga tão bem como Klaassen hoje, pode até perder um pênalti".

O Feyenoord sofreu muito. Mas buscou o gol sem parar. E El Ahmadi conseguiu: mais um triunfo (Olaf Kraak/ANP)

ADO Den Haag 0x1 Feyenoord (domingo, 19 de fevereiro)

Poucas vezes este blog teve tantas facilidades para escrever um relato quanto no primeiro tempo do jogo que fechou a rodada, em Haia. Afinal de contas, a estratégia do ADO Den Haag, lanterna da Eredivisie, ficou bem clara: jogando muito fechado, num 4-2-3-1, o time auriverde apostava nos contra-ataques e dava a posse de bola ao Feyenoord. E o líder do Campeonato Holandês sofria com a falta de espaço para a troca de passes que é sua marca. A aposta ficava na maior cadência, com Dirk Kuyt escalado no meio - pendurado, Tonny Vilhena ficou no banco de reservas, para que um cartão amarelo não o tirasse do fundamental jogo contra o PSV, no próximo domingo.

Porém, o Stadionclub parava na barreira de seis homens (quatro defensores e dois volantes) que o Den Haag postava em frente da área. Restavam como alternativa os cruzamentos. Começaram aos 13': Eljero Elia cruzou a bola da esquerda, e ela passou por toda a área. Depois, aos 22', Jens Toornstra lançou na área, Dirk Kuyt subiu e cabeceou. Porém, o arremate saiu fraco, fácil para a defesa de Robert Zwinkels (substituto do suspenso Ernestas Setkus). Aos 27', Steven Berghuis jogou a bola para Kuyt, que vinha pela direita. O capitão do Stadionclub cruzou, e Rick Karsdorp escorou para fora.

Ao mesmo tempo que avançavam, os Rotterdammers foram deixando perigosos espaços para o contra-ataque adversário. E o ADO Den Haag começou a aproveitá-los. Aos 30' , um lançamento em profundidade encontrou Aaron Meijers vindo pela esquerda, para tentar o cruzamento. Todavia, o meio-campista chegou tarde demais, e a bola já ia pela linha de fundo. E aos 33', veio a melhor chance de gol do primeiro tempo. A esférica estava perdida no meio-campo, e Tyronne Ebuehi foi mais rápido do que Miquel Nelom, avançando velozmente pela direita com a bola. Ebuehi cruzou, mas Guyon Fernandez não conseguiu o cabeceio. Restou a Ruben Schaken finalizar, e o ponta esquerda chutou cruzado. O gol só não saiu porque Eric Botteghin salvou em cima da linha.

Depois, aos 34', os donos da casa voltaram com boa chance: Édouard Duplan dominou nas proximidades da meia-lua, e bateu colocado, forçando Brad Jones a espalmar para o lado. Aos 37', o Feyenoord ainda tentou algo, mas Kuyt e Berghuis perderam bolas na grande área. Terminado o primeiro tempo, as estatísticas eram a marca de como o ADO Den Haag tivera êxito na estratégia defensiva: os Feyenoorders sequer deram um chute a gol nos primeiros 45 minutos. Pior: já começavam a sentir o nervosismo, como ficou claro no cartão amarelo levado por Berghuis logo após o juiz Bjorn Kuipers apitar o intervalo - o ponta direita do Feyenoord reclamou e levou o cartão.

Marcado por Beugelsdijk e Malone, Kuyt não teve facilidades. Assim como o Feyenoord, no primeiro tempo (Jeroen Putmans/VI Images)
No segundo tempo, repetiu-se a história do primeiro: cruzamentos e mais cruzamentos. Já aos 47', chance do ADO Den Haag: Fernandez cruzou da direita, e Botteghin tirou de cabeça, na área. Mas a pressão voltou a ser do Feyenoord: aos 56', Eljero Elia alçou a bola na área, mas Kuyt chegou atrasado, e ela foi direto para as mãos de Zwinkels. Mais dois minutos, outra bola longa, e Jan-Arie van der Heijden cabeceou, mas a zaga do Den Haag tirou na pequena área. Depois, o time anfitrião ainda tentou, aos 60', num chute de Dion Malone, para fora

Quando já trazia preocupação a ideia de que justamente o Feyenoord fosse o primeiro clube dos três grandes holandeses a tropeçar no returno, repetiu-se a história: de tanto a água mole bater na pedra dura, enfim o time de Roterdã "furou" a defesa adversária. Num cruzamento, como sói acontecer: aos 62', Elia, enfim, conseguiu superar a marcação de Ebuehi, e deu a bola a Nelom, que vinha chegando pela linha de fundo. O lateral cruzou para o meio da área, esperando que alguém cabeceasse. Não cabecearam. Mas o final foi feliz assim mesmo: Karim El Ahmadi apareceu pelo meio da área, livre, dominou e chutou no canto esquerdo de Zwinkels, enfim fazendo o gol que o Feyenoord tinha tanta dificuldade de encontrar.

O gol motivou o Feyenoord. Mais importante, abriu os espaços, já que o Den Haag obviamente tinha de atacar. E as tentativas do Stadionclub ficaram mais perigosas. Aos 64', Toornstra cruzou, e Nicolai Jorgensen cabeceou na pequena área para a defesa de Zwinkels. No minuto seguinte, Berghuis fez o pivô, e Karsdorp bateu colocado, para fora. Aos 70', Kuyt cruzou a bola a Elia, que finalizou para Zwinkels espalmar pela linha de fundo. Mais uma volta do ponteiro, Berghuis inverteu o jogo com Kuyt, e o camisa 7 mandou um voleio - longe do gol. Mas talvez, a maior chance do Feyenoord para sacramentar a vitória veio aos 75': após cruzamento, Jorgensen escorou de cabeça para Elia. O ponta esquerda controlou, mas, sem espaço para o chute, devolveu ao goleador máximo da Eredivisie, que chutou para boa defesa de Zwinkels.

Porém, também avançando, o Feyenoord também deixou seus espaços. E o ADO Den Haag voltou a se engraçar (até pelas entradas de Mike Havenaar e Sheraldo Becker, turbinando o ataque). Aos 74', reclamação de pênalti: Schaken tabelou com Mike Havenaar, entrou pela área, e caiu após se aproximar de Nelom, sem nada ser marcado - e nem devia. Aos 78', Schaken mandou a bola para a área, e Brad Jones saiu do gol, socando a bola e espantando o perigo. Finalmente, aos 80', a grande chance dos mandantes auriverdes para o empate: da esquerda, Wilfried Kanon fez o cruzamento para a área, e Havenaar concluiu para grande defesa de Jones, que tirou com os pés pela linha de fundo.

No último minuto, Toornstra cruzou da direita, e Bilal Basaçikoglu concluiu de cabeça, com a bola saindo lentamente, rente à trave esquerda de Zwinkels. Depois, ainda houve um chute de Jorgensen, para fora. Num escanteio aos 90' + 2, tendo até Zwinkels indo para a área, o ADO Den Haag ainda tentou o empate. Mas o Feyenoord controlou os minutos finais e chegou a mais uma vitória conseguida num jogo difícil, mantendo o time de Haia na última posição. Nos "simulados", o Feyenoord "gabaritou" o returno: seis jogos, seis vitórias. Agora, fará a "primeira fase" do "vestibular": o clássico contra o PSV.


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Mudar para mudar?


Diretor do PSV, Marcel Brands se entusiasma com a ideia de mudança no formato de disputa para a Eredivisie (Pro Shots)

Já se passaram cinco rodadas desde o início do returno do Campeonato Holandês. E o que se vê é um cenário inesperadamente previsível. Previsível, porque os três grandes do país, novamente, tornam o pensamento no título nacional um assunto restrito apenas a eles. O “inesperadamente” vem por causa da facilidade com que isso tem acontecido. Por mais que o título fique constantemente com um dos gigantes holandeses (e por mais que os três ocupem o “pódio” da tabela desde a temporada 2011/12), sempre um deles fraquejava na volta da pausa de inverno – o que sempre abria espaço para que um clube “médio” do país sonhasse com coisa acima da quarta posição da tabela. Pois bem: por caminhos diferentes, o triunvirato mais tradicional do futebol holandês tem chegado ao mesmo fim – ou seja, a cinco vitórias nos cinco jogos do returno da Eredivisie. Raras vezes essa invencibilidade aconteceu simultaneamente com Feyenoord, Ajax e PSV.

Líder, o Feyenoord está num estágio em que esbanja entrosamento e confiança até diante de partidas em que poderia ter sérias dificuldades. Na rodada passada, o Groningen chegou a atuar com até nove jogadores atrás da linha da bola, num 4-5-1 muito defensivo, mas a velocidade do Stadionclub na troca de passes venceu esse projeto de retranca, levando à vitória por 2 a 0. Com isso, segue a opinião unânime: mesmo que a torcida esteja compreensível e extremamente cautelosa, a esperança de encerrar o jejum de 18 anos sem títulos nunca esteve tão grande em Roterdã. Bem citou a manchete do diário “Algemeen Dagblad” na notícia do jogo contra o Groningen: quem quiser superar este Feyenoord atual, terá de estar num dia ainda melhor.

Vice-líder, cinco pontos atrás, o Ajax vive de alternâncias. A equipe de Amsterdã parte de um traço frequente: quase sempre, tem mais posse de bola e é mais ofensiva do que o adversário, em casa ou fora dela. O que não quer dizer que os Ajacieden sejam dominadores inquestionáveis neste returno: ora têm atuações elogiáveis (como nos 3 a 0 sobre o ADO Den Haag – a vitória sobre o time de Haia ficou até barata, tal o domínio), ora sofrem bastante para enfim fazerem o gol (foi assim no 1 a 0 contra o Utrecht, fora de casa, quando só belíssimo gol de Lasse Schöne venceu os Utregs, time muito bem armado taticamente), ora jogam até com certa displicência (foi assim na rodada passada: contra o Sparta Rotterdam, o Ajax teve incríveis 77 por cento da posse de bola, mas só atacou o suficiente para insípidos 2 a 0).

O PSV, por sua vez, sofre mais. Não é à toa que é o terceiro colocado, oito pontos atrás do Feyenoord, e que as esperanças de título são remotas: é o time grande que mais precisa se esforçar para conseguir o aproveitamento total. Já foi assim contra o Heerenveen, na 19ª rodada, quando os Boeren perdiam por 3 a 2 em pleno Philips Stadion até os 43 minutos do segundo tempo, quando a pressão desesperada conseguiu a virada para 4 a 3. Foi assim também na rodada seguinte, quando o time tropeçava contra o Heracles Almelo, fora de casa, empatando por 1 a 1, até Davy Pröpper ser o herói do dia, com um chute de fora da área aos 42 minutos do segundo tempo, que ainda resvalou em defensor adversário, resultando em mais uma vitória tardia. E na rodada passada, contra o Utrecht, o primeiro tempo ficou sem gols, antes dos 3 a 0 encaminhados na etapa final.

Enfim, de modos mais ou menos tranquilos, os três grandes clubes holandeses venceram em todas as rodadas do returno – algo que nenhum outro participante do Campeonato Holandês desta temporada conseguiu. Mais uma mostra da velha queixa: a Eredivisie é das ligas europeias com menor variação entre seus campeões. Bastou para reacender um desejo expresso da KNVB, a federação holandesa: alterar o regulamento do campeonato, a partir da temporada 2018/19. Inspirada no relativo sucesso do Campeonato Belga – e até no crescimento do desempenho dos clubes da vizinha nas competições europeias -, a KNVB pensa em fazer o mesmo: ao invés do formato em pontos corridos com 18 clubes, a ideia seria diminuir a quantidade de contendentes da Eredivisie para 16, fazendo dois hexagonais (um pelo título, com os seis primeiros ao final da temporada regular; outro pelas vagas nas competições europeias), excluindo apenas um clube do limbo e os três da zona de repescagem/rebaixamento.

A adoção nem seria nada inédito na história do campeonato. Basta lembrar o que ocorreu entre 2006 e 2008: para ampliar o equilíbrio e a alternância de times classificados às competições europeias, foi implantado um mata-mata, após as 34 rodadas regulamentares, para decidir os donos dos lugares na terceira fase preliminar da Liga dos Campeões, na então Copa da UEFA (três das quatro vagas) e na ainda existente Copa Intertoto. Entre o vice-campeão da Eredivisie e o quinto lugar, disputava-se o play-off pela Champions League (2º contra 5º, 3º contra 4º); os vencedores decidiam a vaga, os perdedores disputavam para ver quem enfrentaria o vencedor de outro play-off (entre 6º e 9º colocado), por lugar na Copa da UEFA. E os classificados entre 10º e 13º lugar disputavam a vaga na Copa Intertoto.

Tais play-offs tinham compreensão complicada a ponto de terem durado apenas dois anos. Talvez por essa dificuldade desnecessária, pelo menos por enquanto, a ideia dos novos play-offs é rechaçada. Por vários torcedores, que se disseram contrários em pesquisas via internet. E também pelo técnico do atual líder da Eredivisie. Giovanni van Bronckhorst citou, ao diário Algemeen Dagblad, o velho argumento em favor dos pontos corridos: “É uma definição clara: o primeiro lugar é o campeão, e assim por diante. Sinto que é o mais justo, o mais desportivo”.

Por outro lado, Marcel Brands, diretor esportivo do PSV e membro do conselho técnico da federação, usa o exemplo da Jupiler Pro League belga para defender mudanças no formato de disputa: “O que se vê na Bélgica é que os grandes clubes, de fato, usam a fase de classificação [para o hexagonal] como um treinamento. A única pergunta é se isso é um problema. Olhe para os jogos por competições europeias antes da pausa de inverno, ou para os jogos entre seleções: você também pode ter vantagens com isso [regulamento com play-offs]. Os clubes grandes da Bélgica podem se focar com muito mais precisão nas competições continentais, sem que isso tenha consequências desastrosas na liga nacional”.

Brands comentou isso também ao Algemeen Dagblad, para reagir a outro forte opositor da ideia de alterar o formato de disputa da Eredivisie. E este opositor está influente, no momento, quando o assunto é alterar regras: Marco van Basten. O atual diretor de desenvolvimento técnico da Fifa havia advertido: “A gente não pode ficar olhando só para a história da Bélgica, porque neste momento, nós simplesmente temos uma geração pior tecnicamente, e eles não. Além do mais, a lei belga torna muito mais fácil para contratar jogadores baratos que não pertencem à União Europeia. O ganho esportivo que você tem com os play-offs é mínimo. É verdade que você consegue mais clássicos assim, mas a fase de classificação fica menos importante. Vira uma espécie de aquecimento para os clubes grandes”. A solução, para Van Basten? “A única coisa que mudaria algo substancialmente é se os melhores clubes holandeses se unissem aos da Bélgica, na BeneLiga. Claro que não vai acontecer – seguramente, não a curto prazo -, mas só assim você poderá formar a sétima ou sexta melhor liga da Europa. Ou você ouve conversas de mudança do formato de disputa na Alemanha, na Itália ou na Inglaterra? Nesses lugares isso não se discute”.

Em meio às polêmicas propostas que faz na FIFA, Van Basten só vê um caminho para a Eredivisie; fusão com a liga belga (FIFA)

Enquanto isso, Feyenoord, Ajax e PSV seguem para a disputa do título. A discussão mais séria ficará para o encontro de clubes holandeses, em junho, após a temporada. Ali, quem sabe, já tenha sido encontrada a resposta para as perguntas deixadas no ar por Marcel Brands: “Acima de tudo, o que será levado mais em conta: a emoção na competição? Fazer a Holanda voltar ao topo? Nossa posição internacional? Talvez as rendas?”.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 17 de fevereiro de 2017)