quarta-feira, 22 de julho de 2020

Grandes laranjas: Kuyt

No Feyenoord, no Liverpool, no Fenerbahçe, na seleção: Dirk Kuyt se dedicou como poucos. E ganhou o respeito de todos (Getty Images)

Nos 19 anos de carreira que Dirk Kuyt (Kuijt, na grafia holandesa) teve em campo, ele não teve a técnica que o contemporâneo Wesley Sneijder exibiu. Nem o poder de decisão que Arjen Robben mostrou em momentos decisivos, na sua carreira. Nem mesmo marcou tantos gols quanto Robin van Persie, embora fosse atacante. No entanto, o esforço que ele despendeu em campo foi inegável. Por isso, Kuyt mereceu o respeito das torcidas em todos os clubes por que passou - e a idolatria, em alguns casos. E por isso, tem seus 40 anos celebrados com a consideração que se destina a alguém tido como valoroso e decente. No popular, um "ponta-firme".

O embalo só veio no fim do começo

Nascido em Katwijk, cidade marítima ao sudoeste da Holanda (Países Baixos), Kuyt logo achou um clube municipal onde pudesse bater sua bola: já aos cinco anos, figurava no Quick Boys, agremiação amadora da cidade. A princípio, sem a intenção de seguir carreira - Kuyt pensava mesmo era em seguir a trajetória do pai, também Dirk, um pescador que trabalhava nessa área em Katwijk. Tal intenção só foi aparecendo no decorrer da adolescência. Ainda assim, o novato ainda alternava o futebol com o aprendizado da pescaria junto ao pai. 

Kuyt seguiu assim até 1998, quando chegou ao time principal do Quick Boys, que jogava na Hoofdklasse, a quarta divisão holandesa, só com times amadores. Até março daquele ano, tinha ótimo desempenho: seis jogos, três gols. Bastou para que o Utrecht se interessasse por alguns nomes do quinto colocado na Hoofdklasse daquela temporada 1997/98. Entre eles, Kuyt: em agosto de 1998, ele começaria sua carreira profissional, contratado pelo Utrecht, junto a outro atacante, Hendrik van Beelen.

Nos Utregs, Kuyt virou titular logo que chegou, e passou os primeiros anos sendo alternado entre posições do ataque. Ora jogava na ponta, com o sérvio Igor Gluscevic mais concentrado nos gols - foi assim em temporadas como 1999/2000 (só seis gols no Campeonato Holandês) e 2001/02 (sete gols). Ora recebia a chance de jogar na frente, como o principal atacante - e aí, Kuyt também marcava mais (em 2000/01, foram 13 gols dele na Eredivisie).

Em 2002/03, Kuyt foi escalado de vez como atacante no Utrecht. E embalou de vez (Pics United)

Isso começou a mudar de vez na temporada 2002/03, quando o técnico Foeke Booy efetivou Kuyt como "homem-gol" do Utrecht - às vezes como ponta-de-lança, vindo do meio, às vezes como atacante puro e simples. Resultado: quando o seu começo de carreira terminava, Kuyt embalou de vez no futebol do país. Em 2002/03, foram 20 gols pelo Holandês, fazendo todas as partidas do Utrecht na campanha. Melhor ainda: o clube chegou à final da Copa da Holanda, contra o Feyenoord. E Kuyt participou como já sabia, na goleada por 4 a 1 que deu o título aos Utregs - colocando a bola na rede. Serviu para o Feyenoord entender o que via e contratá-lo: pouco tempo após aquela final, o atacante chegava ao Stadionclub, para também ser o "homem-gol", no lugar de um Pierre van Hooijdonk já veterano então, que se fora para o Fenerbahçe.

Nunca tão goleador

O milhão de euro (no singular mesmo) que o Feyenoord gastou para trazer Kuyt ficou barato, diante da idolatria que começou a nascer. Já na temporada 2003/04, sua primeira em De Kuip, ele igualou o que conseguira pelo Utrecht: pelo Campeonato Holandês, foram 20 gols em 34 jogos (começando pelos dois marcados no empate em 2 a 2 com o AZ, na quarta rodada). Além dos gols, o esforço e a movimentação que apresentara na área foram suficientes para lhe dar a primeira chance na seleção holandesa: Kuyt apareceu na primeira convocação de Marco van Basten como técnico da Laranja, em agosto de 2004, para não sair mais do radar.

Kuyt chegou para virar ídolo no Feyenoord - e para ficar de vez na seleção (European Press Agency)


A coisa ficou melhor ainda na temporada 2004/05. Ninguém menos do que Ruud Gullit chegou ao Feyenoord para ser treinador. E nunca um técnico apostou tão pesado no nativo de Katwijk: Gullit fez de Kuyt o seu "homem-gol" absoluto no Stadionclub, colocando Salomon Kalou como parceiro de ataque, se responsabilizando pela velocidade. E na dupla "K2" que mobilizou a torcida Feyenoorder durante aquela temporada, Kuyt consolidou seu destaque: com 29 gols em 34 jogos, ele foi o goleador da Eredivisie na temporada. E ganhou seu primeiro prêmio de Jogador do Ano nos Países Baixos. De quebra, já se tornara titular absoluto na seleção: sua aplicação lhe rendera a vaga, durante a campanha da Holanda nas Eliminatórias da Copa de 2006.

Em 2005/06, já sob o comando de Erwin Koeman, o Feyenoord voltou a fazer um papel digno de nota no Campeonato Holandês, chegando ao vice-campeonato. E Kuyt seguiu se destacando: fez 22 gols. Consolidou sua idolatria para a torcida do Stadionclub num momento de decepção: nos play-offs então disputados após a temporada, por vaga na Liga dos Campeões, o Feyenoord caiu num Klassieker contra o Ajax (3 a 0 na ida, em Amsterdã; 4 a 2 Ajax na volta, em Roterdã). Já com a saída do clube em mente, Kuyt deixou o gramado chorando após o jogo de volta em De Kuip: não conseguiria retribuir com feitos o amor que lhe era destinado. 

Se havia consolo, ele viria com a segunda escolha seguida de seu nome como o Jogador do Ano nos Países Baixos - na cerimônia de entrega do prêmio, Kuyt até cantou, junto a Jan Smit, cantor popular no país. Na mesma cerimônia, um momento lhe trouxe lágrimas aos olhos: o troféu entregue pelo pai, já então sofrendo com as complicações de um câncer (Dirk pai faleceu em 2007). Aliás, vale citar que ali começou o respeito que Kuyt ganhou fora de campo na Holanda: não só por aparecer como um sujeito de imagem familiar, pelo casamento estável com Gertrude - casados até 2017, ambos tiveram dois filhos, e Gertrude atraiu simpatia popular por continuar trabalhando como enfermeira em Katwijk, mesmo após a carreira do então companheiro decolar -, mas principalmente pela fundação beneficente mantida por ele.

Outro consolo seria a convocação para a Copa do Mundo: nela, o atacante fez três partidas pela Holanda. E finalmente, seu esforço lhe renderia um lugar num campeonato competitivo: em agosto de 2006, o Liverpool o levou. E Kuyt deixava a Eredivisie com um fato como prova do respeito que granjeara: entre 2001 e 2006, somados todos os jogos de Utrecht e Feyenoord, ele só ficou fora de cinco partidas - foram 179 jogos seguidos pela liga neerlandesa.

Kuyt podia não ser o mais técnico dos nomes do Liverpool. Mas ganhou a torcida dos Reds com dedicação e esforço (Getty Images)

No Liverpool e no Fenerbahçe, o respeito bastou

Kuyt chegou a um Liverpool de fama considerável, ainda vivendo o alarido do título europeu ganho em 2004/05. E logo achou seu espaço em Anfield: podia não ser icônico como Steven Gerrard, nascido e crescido naquele ambiente, podia não ter a técnica de Xabi Alonso, podia nem mesmo ser tão fundamental para os Reds. Mas o atacante ganhou a torcida (e o respeito dos técnicos que teve) pelo esforço: mesmo sem tantos gols - o máximo foram 13, na temporada 2010/11 -, a velocidade e a dedicação, atacando e marcando, fosse no ataque ou na meia-direita, o tornaram titular do Liverpool. Mais do que isso: tornaram-no um nome querido da exigente e fiel torcida vermelha. Se não bastassem a dedicação e o respeito (por medidas como aplaudir a torcida após cada jogo em Anfield), Kuyt até marcava gols em momentos importantes: mesmo com a derrota para o Milan na final da Liga dos Campeões 2006/07, fez o gol de honra dos Reds.

Paralelamente, ele também seguiu como nome certo na seleção holandesa. Robben, Van Persie e Sneijder podiam até brilhar mais, só que Kuyt, mais resistente a lesões e mais maleável no aspecto tático, seguiu como titular sob Marco van Basten. Foi à Euro 2008 - nela participou de todos os jogos, indo ou vindo do banco, e até marcou gol, abrindo o caminho da goleada contra a França, na fase de grupos. Van Basten deixou a Laranja, Bert van Marwijk chegou, e Kuyt continuou nome certo na equipe nacional, participando da campanha de aproveitamento total nas Eliminatórias da Copa de 2010. Veio o Mundial, Kuyt foi à África do Sul, e discretamente cumpriu o seu papel como sempre: não só era o nome inquestionável na ponta esquerda da Laranja em campos sul-africanos, como fez o primeiro gol da seleção na Copa, abrindo o placar dos 2 a 0 contra a Dinamarca, na estreia. Veio o vice-campeonato mundial. Mesmo sem ser tão comentado, o atacante granjeava cada vez mais respeito entre torcida e imprensa: era, talvez, o mais regular dos nomes daquela geração.

Na Copa de 2010, Kuyt já acumulava seis anos na seleção da Holanda. E aquele vice-campeonato mundial o consolidou como um dos mais regulares nomes naquela geração da Oranje (Getty Images)

Assim era também no Liverpool. Nomes iam (Xabi Alonso, John Arne Riise, Fábio Aurélio, Craig Bellamy), nomes vinham (Luis Suárez, por exemplo), mas Kuyt se credenciava como alguém com quem a torcida dos Reds podia contar. Nos últimos tempos no clube inglês, já nem se preocupava tanto com os gols: mais importante era tê-lo no vai-e-vem pela direita, apoiando e marcando, com velocidade e vigor físico notável para alguém que passava dos 30 anos. Mesmo em sua última temporada no Liverpool, participou de 33 dos 38 jogos pelo Campeonato Inglês. E é possível se dizer: só saiu do clube pelas reformulações típicas entre uma temporada e outra: aos 32 anos, o tempo já passava. Por isso, tão logo a Euro 2012 terminou, se sabia que Kuyt tomaria o caminho do Fenerbahçe. Pelo menos, despediu-se do Liverpool com um título, a Copa da Liga Inglesa.


Mesmo já chegando ao Fenerbahçe com a fase final da carreira se aproximando, Kuyt mostrou a dedicação de sempre. E numa liga menos intensa como a turca, seguiu tendo uma frequência admirável de aparições: foram 31 jogos pelos Canários Amarelos em 2012/13, e 32 jogos nas duas temporadas seguintes em que ficou pelo clube de Istambul. De quebra, até voltou a marcar gols, mesmo sem ser o "homem-gol" do Fener: foram 8 em 2012/13, 10 em 2013/14, mais 8 em 2014/15. De quebra, num time experiente, ainda figurou em conquistas: o título da Copa Turca em 2012/13, o próprio título turco em 2013/14, a Supercopa nacional em 2014. Diante de um povo tão idólatra aos que lhe cativam futebolisticamente como o turco, a dedicação de Kuyt teve retribuição calorosa, tempos depois. Em 2017, já de volta ao Feyenoord, Kuyt participou da inauguração de filial da Fenerium (rede de lojas do Fenerbahçe) em Roterdã. Eis que adeptos do clube turco lotaram a rua Zwart Jan, onde se localizava a Fenerium, durante a inauguração. Tudo para saudarem o velho ídolo.

Kuyt podia receber ainda menos atenção no Fenerbahçe. Mas ganhou títulos. E de novo, ganhou o coração de uma torcida (Getty Images)

O fim sonhado. Na seleção e no clube

Na seleção holandesa, Kuyt vivia fase semelhante ao que vivera em clubes: nomes iam, nomes vinham, e ele seguia se valendo da aplicação tática (e da pouca propensão a brigas) para manter o respeito dos técnicos que passavam pela Laranja. Por isso, saiu relativamente ileso da participação vexaminosa na Euro 2012. Por isso também, foi mantido titular por Louis van Gaal, figurando em sete dos dez jogos nas Eliminatórias da Copa de 2014. E a prova decisiva de como Kuyt construiu uma trajetória elogiável pela Oranje viria naquele torneio: mesmo já aos 33 anos, sem a titularidade absoluta de tempos idos, o atacante foi convocado por Van Gaal para o Mundial. 

No Brasil, Kuyt passou os dois primeiros jogos na reserva. Mas com Daryl Janmaat atuando temerariamente na lateral direita, recebeu a incumbência de jogar naquela posição a partir do jogo contra o Chile, ainda na fase de grupos. Dedicou-se, cuidou da marcação, e agradou a ponto de não sair mais do time. Nas oitavas de final, a voluntariedade de Kuyt, atuando pelos 90 minutos de um dificílimo jogo contra o México, debaixo do calor do meio-dia, numa Fortaleza ensolarada, foi um dos fatores mais celebrados na vitória. Nas quartas de final contra a Costa Rica, quando a decisão por pênaltis veio, Kuyt se apresentou como um dos cobradores - e converteu sua batida com perfeição. Até mesmo na derrota da semifinal contra a Argentina, também se saiu com honra, também acertando o seu chute em mais uma disputa de pênaltis. Sintetizando: se a campanha da Laranja em 2014 rendeu aplausos pelo terceiro lugar honroso, Kuyt era um dos principais símbolos disso - nem tanto pela técnica (esta ficou mais a cargo de Robben, ou mesmo Van Persie), mas principalmente pela garra que fez a Laranja chegar bem mais longe do que se pensava naquela Copa.

Dedicação na lateral direita, esforço, experiência em horas decisivas: de certa forma, Kuyt simbolizou a campanha elogiável da Holanda na Copa de 2014, seu capítulo final nos dez anos de seleção (Getty Images)

Copa encerrada, Guus Hiddink ainda chamou Kuyt para o amistoso de sua (re)estreia no comando da seleção, contra a Itália, em setembro de 2014. Mas sabendo que não teria vaga garantida nas convocações, preferiu ele mesmo declarar logo após aquela partida retardatária o fim de sua trajetória na Laranja, após 104 jogos e 24 gols. Na seleção, estava tudo acabado. E nos clubes? Só começaria a acabar em 2015. De um jeito cativante: após nove anos, Kuyt acertou a volta ao Feyenoord. Para o anúncio público, entregou a Noëlle, a filha mais velha, um pacote. Nele, havia uma camisa do Stadionclub, querido da família. Noëlle se alegrou. Tanto quanto a torcida Feyenoorder ao saber da volta do ídolo.

Kuyt podia já não ter tanta velocidade ao voltar a Roterdã, mas nem era esse o objetivo. Era tê-lo como o esteio do time, um nome calejado de velhos tempos, que pudesse guiar o time de volta ao caminho dos títulos. De certa forma, isso até aconteceu em 2015/16, com o Feyenoord conquistando a Copa da Holanda. Mas ficou pouco, diante da apoteose vista em 2016/17. Havia destaques mais técnicos, como Nicolai Jorgensen ou Jens Toornstra. Mas para a torcida, não importava: Kuyt era o grande símbolo daquela campanha, que ia rodada a rodada rumo ao título do Campeonato Holandês, para lavar a alma após 18 anos de jejum. A conquista demorou. Temeu-se pelo pior, com a derrota para o Excelsior na penúltima rodada (3 a 0), permitindo que o Ajax encurtasse a distância para três pontos. De quebra, Kuyt cada vez menos conseguia disfarçar a insatisfação por ser deixado no banco pelo técnico Giovanni van Bronckhorst (outro ídolo Feyenoorder), na reta final da campanha.

Mas Kuyt nada falou. Decidiu provar que era ele a cara daquele título redentor. Do melhor jeito possível: na rodada final da Eredivisie 2016/17, contra o Heracles Almelo, diante de um De Kuip lotado e carregando a angústia de 18 anos, o veterano provou que aquele seria o dia do desafogo. Titular de novo, precisou apenas de 40 segundos para fazer os adeptos que tanto o idolatravam explodirem, ao fazer 1 a 0. Não ficou só nisso: fez todos os gols na vitória por 3 a 1 que tornou o Feyenoord, de novo, campeão holandês. E pôde erguer a salva de prata do título, sorrindo abertamente. Era um fim irretocável, o fim que ele e a torcida haviam sonhado. Tão irretocável que Kuyt anunciou, três dias depois: aquele havia sido o último jogo de sua carreira profissional.


Em tese, Kuyt já nem precisaria fazer mais nada pelo Feyenoord. Se precisava fazer pelo Quick Boys em que começou sua trajetória no futebol, fez em 2018, jogando três partidas apenas para matar as saudades. Foi homenageado pela federação holandesa. Teve até um jogo de despedida a lotar De Kuip, com colegas de seleção, Liverpool, Fenerbahçe e Feyenoord a lhe prestigiarem em campo. E para a história seguir, a ligação com o Feyenoord foi do campo para o banco: já fazendo o curso para treinador, em 2018, Kuyt recebeu ali a chance para se desenvolver. É o que está fazendo, comandando o time sub-19 do Stadionclub desde então. E se fala, aqui e ali: a partir de 2021, quando Dick Advocaat deixar o comando da equipe principal, será ele o novo técnico. Talvez lhe valha de algo o respeito merecidamente ganho pela dedicação como jogador.

Dirk Kuyt
Data de nascimento: 22 de julho de 1980, em Katwijk
Clubes: Utrecht (1998 a 2003), Feyenoord (2003 a 2006), Liverpool-ING (2006 a 2012), Fenerbahçe-TUR (2012 a 2015) e Feyenoord (2015 a 2017)
Seleção: 104 jogos e 24 gols, entre 2004 e 2014

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Para conhecer o clube: Heerenveen, 100 jier (ou melhor, 100 anos)

Falar em Heerenveen é ter imediatamente na memória esta imagem: a bandeira da Frísia denota bem como o clube centenário está ligado à sua província
Dentre as 12 províncias que formam os Países Baixos (ou Holanda, se você estiver acostumado), a Frísia, situada ao norte do país, é uma das províncias mais ciosas de si: já teve sua independência, mantém ativo seu dialeto - o frísio, tão presente nas cidades quanto o holandês -, valoriza os itens que a tornam conhecida. Pois um desses itens, no esporte, vindo da cidade de Heerenveen, completa 100 anos neste 20 de julho. E por mais que seja um clube médio no cenário do futebol holandês, o Sportclub Heerenveen já teve seus momentos que o tornaram inconfundível para os acompanhantes.

A começar pelo uniforme, que traz nele a bandeira da Frísia: não só as cores azul e branca, mas também as folhas de lírio (as pomperbladen, como são chamadas na região), flor comum na Frísia, costumeiramente confundidas com corações. É para curiosidades como essas que o Heerenveen é o merecedor do primeiro texto de uma seção deste Espreme a Laranja, para apresentar rapidamente os pontos mais importantes da história do Fean, no dia de celebração dos 100 jier - 100 anos, em frísio - do "Ûs Hearrenfean", o "nosso Heerenveen". No dialeto frísio, como a torcida gosta.

A torcida do Heerenveen enche a boca para dizer: Abe Lenstra, um dos melhores jogadores holandeses pré-Cruyff, era só do Heerenveen (Reprodução)

Um craque

Poderiam ser nomes como Klaas-Jan Huntelaar, Ruud van Nistelrooy ou Hakim Ziyech, que despontaram na Frísia antes de viverem as grandes fases de suas carreiras em outros clubes. Poderia ser Afonso Alves, que viveu o melhor momento de sua trajetória nos campos vestindo a camisa alviazul com as folhas de lírio, indo até à Seleção Brasileira campeã da Copa América em 2007. Poderiam ser o goleiro Hans Vonk ou o atacante Jeffrey Talan, símbolos do momento mais marcante desses 100 anos (a ida à Liga dos Campeões, em 2000/01). No entanto, diante de um clube tão apegado à sua província quanto o Heerenveen, é até previsível imaginar que o mais importante jogador de sua história tenha nascido e crescido ali, futebolística e geograficamente: o atacante Abe Lenstra (1920-1985).

Justiça seja feita: não é só por ter saído de e do Heerenveen que Lenstra é o mais notável jogador a ter vestido aquele alviazul. É por seu talento: atacante veloz, habilidoso pelas pontas, ele foi um dos melhores jogadores que a Holanda revelou, antes de Johan Cruyff. E só não teve reconhecimento maior na Europa (como teve um contemporâneo e amigo, Faas Wilkes) porque raramente quis deixar seu Heerenveen. O Ajax o quis; reza a lenda que a Internazionale até lhe estendeu um cheque em branco para comprá-lo; mas Abe Lenstra sempre se manteve apegado ao clube. Prova disso foram os 18 anos passados ali, entre 1936 e 1954, tendo sido até "jogador-treinador" entre 1946 e 1947 - e destaque nos títulos regionais do norte da Holanda, entre 1941/42 e 1949/50, num futebol ainda amador. Ou então, por ser um dos raros destaques da seleção holandesa de então: foram 47 jogos e 33 gols, entre 1940 e 1959.

Na reta final da carreira, Lenstra até se mudou de cidade, indo para Enschede. Entre 1954 e 1960, jogando pelo SC Enschede, um dos originadores do Twente atual; entre 1960 e 1963, parou no Enschedese Boys, justamente o outro. Depois de parar, morou em Almelo, vizinha a Enschede. Mas quando sofreu um AVC, em 1977, Lenstra voltou à sua Heerenveen. Lá foi homenageado antes e após sua morte, em 1985, aos 64 anos. E continua sendo. Por fatos como o estádio do Heerenveen, que leva seu nome. E pelo apelido carinhoso como a torcida sempre o chama: "Ûs Abe". Nosso Abe.

Na foto, Foppe de Haan treinava o Heerenveen numa rápida volta, no resto da temporada 2015/16. Mas ele já ajudara o clube definitivamente, nos 12 anos em que o ajudou a se transformar de pequeno em "médio" na Holanda (sc-heerenveen.nl)

Um técnico

Aqui, não há muito questionamento. Quando Foppe de Haan chegou ao Heerenveen, o clube até tivera uma participação na primeira divisão, em 1990/91, mas estava novamente na divisão de acesso, querendo subir para ficar. E De Haan recebeu respaldo para comandar o time, sem muita pressão, a partir de 1992. De parte a parte, não houve razões para arrependimento. Do lado do Heerenveen, a sonhada promoção para a Eredivisie veio em 1992/93 - desde então, o clube nem passou perto de cair. Foppe de Haan teve importância decisiva na construção dos "alicerces" que fizeram o Fean deixar de ser um clube pequeno para virar médio na Holanda.

Nos 12 anos em que treinou o clube da Frísia, ele se notabilizou por ser um técnico que conseguia manter pulso firme sem autoritarismos. Se não era taticamente inventivo, conseguia cativar grupos, manter bons ambientes. Até por isso, levou o Heerenveen além, treinando o time no vice-campeonato holandês em 1999/2000 - e na Liga dos Campeões que se seguiu. Também por isso, De Haan só saiu do clube em 2004 porque fora contratado para treinar a seleção sub-21 da Holanda - na qual também teve êxito, treinando a Jong Oranje bicampeã europeia da categoria (2006 e 2007) e quadrifinalista no torneio olímpico de futebol masculino, em Pequim-2008.

Depois, já às vésperas dos 70 anos, Foppe diminuiu o ritmo da carreira. Ainda assim, de um modo ou de outro, o futebol holandês sempre buscou seus respeitosos serviços quando necessário. Inclusive no futebol feminino: quando Sarina Wiegman foi promovida à treinadora da seleção, em 2017, ele foi chamado para ser auxiliar de Sarina - e discretamente, foi considerado pela própria como fundamental no trabalho que levou ao histórico título da Euro 2017 pelas Leoas Laranjas. No masculino, quando o Heerenveen passava por algumas dificuldades em 2015, Foppe aceitou voltar só para conduzir o time mais calmamente até o fim da temporada 2015/16. Conseguiu, aumentando ainda mais a gratidão da torcida. Que até hoje, se alegra ao ver Foppe de Haan, frequentemente, nas tribunas do Abe Lenstra, assistindo aos jogos do Heerenveen que ajudou a erguer no futebol do país.

Riemer van der Velde foi decisivo na estruturação do Fean - e mesmo após passar 23 anos presidindo o clube, ainda teve a ajuda pedida pela torcida (Pics United)

Um dirigente

Desde 1970, quando foi promovido à segunda divisão, o Heerenveen seguiu regular, apenas à espera de uma estrutura maior que o permitisse sonhar em dar o salto definitivo. O nome fundamental para isso acontecer se tornou presidente do clube em 1983, vindo da direção de uma empresa de atacados: Riemer van der Velde. Em seu período (23 anos!) à frente do clube, o Heerenveen deu o salto decisivo em sua história.Sob a presidência de Riemer, o Fean subiu pela primeira vez para a primeira divisão, em 1989/90.

Ainda sob sua presidência, subiu de novo (para não cair mais desde então, vale lembrar), em 1992/93. Com ele no comando segurando as pontas fora de campo para Foppe de Haan formar o time dentro - sem contar os bons jogadores -, o Heerenveen chegou à Liga dos Campeões, em 2000/01. E mesmo após deixar a presidência, Van der Velde ainda tem o respaldo da torcida. A tal ponto que, quando os adeptos exigiram mudanças na gestão de Robert Veenstra, em 2013, ele foi o condutor escolhido por eles para monitorar o balanço de uma auditoria, que deu a medida da crise interna vivida então.

Sim, você não está vendo errado: o Heerenveen jogou a Liga dos Campeões - e foi a fase de grupos, em 2000/01 (Reprodução)

Um momento

Seria até óbvio citar o único título da história do Heerenveen: a Copa da Holanda, na temporada 2008/09, ganha de modo dramático: na decisão por pênaltis contra o Twente, após 2 a 2 em 120 minutos de jogo, o goleiro sul-africano Hans Vonk se consolidou como o grande nome da posição na história do clube, ao pegar uma cobrança e ajudar na vitória por 5 a 4. Todavia, se ainda hoje imaginar o Heerenveen disputando a fase de grupos da Liga dos Campeões é algo muito difícil, no começo do milênio era ainda mais. E no entanto, o clube conseguiu: em 2000/01, esteve na Champions League, sua primeira - e única, até agora - experiência no mais importante torneio continental.

Em 1999/2000, Foppe de Haan tinha um time seguro atrás, com nomes como o citado Hans Vonk e o zagueiro e capitão Johan Hansma. Mais à frente, o finlandês Mika Nurmela ajudava na criação das jogadas, para que Anthony Lurling fosse ao ataque, onde já estava Jeffrey Talan. Na Eredivisie, com uma equipe simples, mas embalada, vieram resultados como uma vitória por 1 a 0 sobre o PSV, futuro campeão holandês daquela temporada, em plena Eindhoven. Ou então, um 3 a 0 categórico no Feyenoord, campeão de 1998/99. Sim, o time terminou longe do PSV na tabela, 16 pontos atrás. Mas se valendo de um Feyenoord inconstante, de um Ajax sem muito rumo e de uma ótima reta final (nas últimas sete rodadas, cinco vitórias e dois empates), o Fean conseguiu o vice-campeonato neerlandês.

Claro, seria difícil pensar em classificação no grupo C: além do Valencia, vice-campeão da Champions na temporada anterior (e seria novamente em 2000/01), os adversários do Heerenveen seriam um Olympiacos mais experiente e um Lyon também no caminho para dominar o futebol francês naquela década. Previsivelmente, o clube holandês terminou na lanterna, com quatro pontos. Ainda assim, teve boas memórias daquela experiência única. Como a vitória sobre o Olympiacos, por 1 a 0. Ou o empate com o Valencia, já classificado para a segunda fase, fora de casa: 1 a 1. Valeu.

Um rival

Se o Heerenveen ainda tem apego à Frísia onde está, nada mais esperado de seu rival também estar próximo: o Cambuur, de Leeuwarden, cidade próxima a Heerenveen. Está certo que, há algum tempo, o clube alviazul está em posição superior aos Leeuwarders, que já não jogam a primeira divisão desde 2015/16. Ainda assim, quando ele ocorre, o "dérbi da Frísia" é garantia de casa cheia, em Leeuwarden e Heerenveen.

E mesmo com toda a rivalidade, o Cambuur fez questão de dar os seus parabéns ao rival pelo centenário. Mas deixou o alerta: "Até o próximo dérbi da Frísia". Quando será? Poderia ser em 2020/21, já que o clube auriazul liderava a segunda divisão. Mas a pandemia não deixou.

domingo, 12 de julho de 2020

Suurbier: jogando bola (e curtindo a vida) adoidado

Suurbier: um lateral direito marcante na Holanda, dentro e fora de campo (Getty Images)

No Reino Unido (mais precisamente, na Irlanda do Norte), George Best. No Brasil, tantos: de Paulo Cezar Caju a Neymar, passando por Renato Gaúcho e Vampeta. Na Alemanha, Bernd Schuster. Enfim, sobram exemplos no futebol de jogadores que mostraram grande talento em campo, ao mesmo tempo em que aproveitaram o lado intenso da vida: fizeram piadas, conheceram pessoas, beberam e comeram do bom e do melhor (e do ruim e do pior também), viveram. Na célebre geração da Holanda que jogou a Copa de 1974 e colocou o país no mapa do futebol mundial, no início daquela década, havia muita gente irreverente. Mas o maior deles nesse lado não era Johan Cruyff: era o lateral direito Wim Suurbier, falecido neste domingo, aos 75 anos, pelas complicações de um acidente vascular cerebral sofrido em abril - que o mantinha internado em Amsterdã, desde então.

O abre-alas da geração

Como tantos jogadores holandeses, antes e depois, Wilhelmus Lourens Johannes Suurbier começou a bater sua bola nas ruas de Amsterdã - mais precisamente, no bairro de Oosterpark, e também na escola, em que tinha como constante colega de bate-bola um futuro colega de Ajax, Piet Keizer. Porém, o mais velho de dois filhos teve de começar a aliar trabalho e lazer logo, já que os pais Willem e Nelly faleceram precocemente. 

Pelo menos, houve como aliar rapidamente os dois: após uma passagem rápida pelo DWS, clube então profissional de Amsterdã, Suurbier estava atuando por um time de jovens nascidos na capital dos Países Baixos, por volta de 1961. Até que... bem, o próprio descreveu à revista Voetbal International, em 1985,: "Depois de um jogo em que eu marquei três gols, um enviado do Ajax veio até mim. E eu fui para lá. Por um par de chuteiras, uma camisa, um calção e algumas meias".

Suurbier entrou no time do Ajax em 1964, caiu nas graças de Rinus Michels... e ficou como símbolo do momento em que o clube ganhou o conhecimento do mundo (VI Images)

Três anos depois, Suurbier estreava pelo time principal dos Amsterdammers - em 5 de janeiro de 1964, substituiu Kees Ruiter contra o ADO Den Haag, pelo Campeonato Holandês. Demorou pouco para entrar na lateral direita e não sair mais. Demorou menos ainda para que, em 1965, quando um ex-atacante do Ajax chamado Rinus Michels assumiu o comando técnico da equipe, visse naquele novato de 20 anos capacidade técnica para ser um sustentáculo do estilo tático que tomou conta da equipe Ajacied nos anos que vieram.

Forte fisicamente, sem medo de divididas e ainda veloz, Suurbier se convertia num protótipo do lateral direito desejado pelo que seria o Futebol Total: capaz de defender, capaz de atacar. Por isso, virou um dos nomes certos na escalação do time de Amsterdã, por anos e anos. E também se tornou um abre-alas da geração que apareceria pela Europa no fim dos anos 1960, tendo o ápice em 1974: em 1966, Suurbier estreou pela seleção holandesa, num amistoso contra a Tchecoslováquia, em 6 de novembro, tendo os colegas Johan Cruyff e Keizer ao lado.

Já nos primeiros tempos de seleção holandesa, Suurbier tinha o ar de quem estava pronto para as piadas (G. V.d.Werff/Arquivo ANP)

Bem com todos, dentro e fora de campo

No fim da década de 1960, o Ajax foi evoluindo, chegou à final da então Copa dos Campeões da Europa em 1968/69, foi goleado pelo Milan, Rinus Michels ia mudando a escalação e dispensando jogadores. Mas Suurbier já seguia como dono da lateral direita nos Amsterdammers. Mais importante: a partir das Eliminatórias da Copa de 1970, já era o titular da posição também na seleção, sendo um dos símbolos da transição entre a geração anterior e a que chegava.

Paralelamente, na juventude, também tinha de prestar o serviço militar no país, como sargento, mesmo já com a carreira no Ajax correndo. E ali dava vazão ao lado piadista, até pelo descontentamento: "Como sargento, você tem de cumprir obrigações. Eu não queria isso, queria era ser jogador. Aí, fiz as coisas mais malucas: por exemplo, entrei pelado no pelotão com minha arma no ombro. (...) Fui mandado para Huis ter Heide [reserva natural holandesa, protegida pelo exército], e eu tinha meu quarto na igreja onde se faziam os atos religiosos ali. E sempre que o padre dava um sinal, eu ia procurar a música que o organista ia tocar, mas às vezes trocava por uma música do meu gosto: aí, o cidadão ia tocar o 'Salmo 95' e tocava Rolling Stones...".

Livre das obrigações cívico-militares, o lateral direito acabou simbolizando tudo o que o Ajax e a seleção holandesa simbolizaram no futebol, entre 1971 e 1974. Em campo, veloz, era capaz de defender e atacar, sendo constante desafogo nos ataques, um precursor do que seria conhecido como ala - portanto, nome útil e certo no tricampeonato europeu dos Ajacieden entre 1971 e 1973, e também em toda a trajetória da Laranja até a Copa de 1974, da qualificação às partidas na Alemanha. E mesmo jogando bem, se necessário fosse, não fugia de uma boa briga no Mundial. Contra o Brasil, quando o equilíbrio se deu na bola e também no pau, Suurbier dava e devolvia os golpes que recebia. Marinho Chagas que o diga...

Veloz na lateral direita, Suurbier foi dono da posição na seleção da Holanda (Países Baixos) por 12 anos, sabendo jogar - e sabendo bater também (Cor Mulder/Arquivo ANP)

E se Suurbier exemplificava as qualidades e controvérsias do time dentro de campo - velocidade, capacidade de alterar posições, inteligência tática -, também exemplificava como a geração era irreverente fora de campo. Tratava-se daquele tipo de jogador que perdia o amigo mas não perdia a piada. Na entrevista à Voetbal International em 1988, ele se lembrou de uma ocasião em que deixou sem graça o treinador da Laranja nas Eliminatórias para 1974, o tcheco Frantisek Fadrhonc: "Fadrhonc adorava camisas e calças. Assim que teve a chance, ele rapidamente colocava uma camisa ou um calção em sua bolsa, coisa assim. Ele deve ter recolhido roupa suficiente para encher um armário. Ruud Krol e eu ficamos de olho nele, então ele correu pelo vestiário e quando ninguém estava olhando, ele rapidamente pegou as calças e pôs na mala. Foi então que Krol e eu começamos a aplaudir e a gritar 'pega ladrão, lá vai ele'". Não à toa, a dupla de gozadores ganhou até um apelido: "Snabbel & Babbel".

Sim, havia o lado do aborrecimento. Ficou clássica a história: Suurbier havia aprontado durante uma noite, e chegara ao Ajax no exato momento em que Rinus Michels dava a preleção antes de uma partida. Michels nada falou: apenas pegou um apagador e tirou da lousa o nome do lateral, que estava entre os titulares, colocando-o fora dos relacionados para a partida. No entanto, Suurbier acabava sendo perdoado. Afinal, ausências de treinamentos como essa eram raras, segundo ele: "Na manhã seguinte, eu estava no treino. O futebol sempre foi uma profissão para mim. Era o meu trabalho, e eu tinha de levar a sério. Não importava jogar pelo Ajax ou pela Oranje, eu sempre cumpria minha parte". E mesmo com os dois treinadores mais famosos da era de ouro do Ajax, o lateral direito se deu bem: "Trabalhei normalmente com Rinus Michels, e Stefan Kovacs era um homem bem esperto".

Treinado por Rinus Michels, jogando com Cruyff (último sentado, da esquerda para a direita), Suurbier (segundo sentado, da esquerda para a direita) começou sua experiência norte-americana badalado, no Los Angeles Aztecs (Arthur Bastiaanse/Arquivo ANP)

A carreira acaba, a vida continua - e continua intensa

Na seleção, mantendo-se a uma distância segura dos problemas sérios de relacionamento que havia naquela geração, Suurbier seguia nome titular habitual: foi à Euro 1976, torneio em que o clima do grupo estava péssimo, e foi um dos raros titulares absolutos na Iugoslávia, jogando as duas partidas e saindo relativamente ileso. Porém, àquela altura, já entrado nos 30 anos, era bem provável que aconteceria com ele o que ocorrera com vários colegas do "Gloria Ajax". Ruud Krol, Johan Neeskens, Johan Cruyff, Arie Haan, Johnny Rep... todos eles haviam saído de Amsterdã nos anos anteriores. Em 1977, foi a vez de Suurbier começar a correr mundo, se transferindo para o Schalke 04.

Nada que influísse na seleção. Nela, seguiu absoluto na lateral direita, durante a campanha de qualificação para a Copa de 1978. Como um dos nomes mais experientes da Oranje, foi convocado por Ernst Happel, e começou o torneio como titular. Porém, nas atuações inconstantes e preocupantes da seleção no Mundial da Argentina, Suurbier foi uma das vítimas: já um pouco mais lento, apenas se valendo da força física, acabou perdendo a posição para Jan Poortvliet logo que a segunda fase começou na Copa. Pelo menos, fez o último de seus 60 jogos pela Laranja em um grande cenário: na tensa final daquela Copa de 1978, substituiu Wim Jansen aos 75', ficando até o fim da prorrogação, mais fixo na zaga, mas sempre ajudando à frente - e batendo, se necessário (chegou a dar uma cotovelada em Daniel Bertoni).

Copa encerrada, carreira na seleção também - parou como o segundo nome com mais partidas pela Oranje na época -, Suurbier foi atrás de mais experiências. No futebol e na vida. Depois do Mundial, ainda passou um ano no Metz, da França. Porém, já em 1979, de novo seguiu o exemplo de vários contemporâneos: transferiu-se para a NASL, a liga de então nos Estados Unidos. Suurbier começou acompanhando o colega Cruyff no Los Angeles Aztecs. Dali partiu para experiências intensas, no futebol e na vida - sem contar saídas temporárias (como um retorno à Holanda, emprestado para o Sparta Rotterdam, em 1981, e até passagem pelo futebol de Hong Kong, em 1982).

Mas foi nos Estados Unidos que Suurbier terminou a carreira e curtiu o sobe-desce da vida. Não só na NASL (pela qual ainda defendeu o San Jose Earthquakes, em 1982), mas também em times de futebol indoor, que lhe valeram vivências fortes. Vale transcrever suas palavras à Voetbal International sobre uma delas - em 1984, quando foi treinar o Tulsa Roughnecks: "Eu fui treinar o time, após jogar e treinar no San Jose Earthquakes. (...) O Tulsa Roughnecks me ofereceu contrato de três anos, ótimo, mais uma casa e um carro de graça. E o dono me disse que ia tentar uma vaga no torneio de futebol indoor, porque o clube não podia ser só futebol de campo. Isso foi negado: as emissoras de televisao só queriam negócio com as grandes cidades, Nova Iorque, Dallas, Los Angeles e Chicago. Foi o fim para o Tulsa Roughnecks. Do nada, eu estava na rua: num dia, tinha um ótimo contrato, no outro, estava sem fonte de renda alguma, e tinha problemas em casa - minha esposa na época estava na Califórnia, eu ainda gostava dela, queria salvar o casamento e dei todo o dinheiro que eu tinha, mas ela seguiu gastando, então as dívidas cresceram".

O fim da carreira de Suurbier teve lances nada próximos da Calçada da Fama (VI Images)

A roda-viva norte-americana de Suurbier seguiu, entre aquele ano e 1985: "Nos Estados Unidos, quando se está sem dinheiro, você precisa se virar. Voltei a San Jose, conheci um alemão que importava cerveja e champanhe, e ele me aconselhou a voltar a jogar em San Francisco, como semiprofissional, e aí eu podia trabalhar para ele também, como homem de relações públicas. Só que o campeonato semiprofissional só durava três meses. Precisei procurar emprego de novo, e por um conhecido, achei emprego em jardinagem. Era trabalho muito duro, mas eu precisava sobreviver. Toda manhã, levantava às 4h30, para às 5h sair com o caminhão. Às vezes eu tinha sorte e só precisava aparar um gramado, às vezes eu tinha azar e precisava cortar árvores. Só parava às duas da tarde. Eu chegava à minha casa quebrado (...) Às vezes até me perguntava como, depois de uma ótima carreira no futebol, precisava ralar para trabalhar por 50 dólares por dia. Pouco depois, a empresa faliu, e voltei à rua, sem um centavo no bolso".

Nas idas e vindas entre o futebol e outras profissões, como jogador-treinador, Suurbier ainda jogou/treinou o Houston Dynamos, em 1985, e o Tampa Bay Rowdies, entre 1986 e 1987, quando enfim encerrou a carreira que ainda tinha nos campos. Fora deles, a coisa só se estabilizou um pouco quando o ex-jogador norte-americano Bobby McLinden, ex-colega dos tempos de Los Angeles Aztecs, indicou a Suurbier um curso para trabalhar como garçom. A então namorada o pagou, ele conseguiu bons resultados, um emprego... e aí ele começou a recolocar a vida em ordem. 

Pouco depois, voltou à Holanda. Ainda teve algumas passagens em comissões técnicas, principalmente em equipes amadoras dos Estados Unidos. Mas no retorno ao país natal, pôde ficar mais sossegado, sendo sempre consultado pela imprensa e convidado para eventos no Ajax que tanto defendeu. Seguiu aberto a experiências curiosas - como ser auxiliar técnico do Kerala Blasters, da Índia, em 2017. E seguiu rememorando a vida intensa que teve, até este domingo. E uma frase dita em 1985 à Voetbal International simboliza bem a postura que Wim Suurbier teve: "Pelo senso de humor que tenho, não ligo por ter problemas. A vida pode estar uma porcaria, mas eu posso olhar nos olhos de qualquer um, de cabeça erguida". Pelo que jogou em campo e viveu fora dele, sem dúvida.

Wilhelmus "Wim" Lourens Johannes Suurbier
Data de nascimento: 16 de janeiro de 1945, em Eindhoven
Data de morte: 12 de julho de 2020, em Amsterdã
Clubes: Ajax (1964 a 1977), Schalke 04-ALE  (1977 e 1978), Metz-FRA (1978 e 1979), Los Angeles Aztecs-EUA (1979 a 1981), Sparta Rotterdam (1981), Tung Sing-HKG (1982), San Jose Earthquakes-EUA (1982), Golden Bay Earthquakes-EUA (1982 e 1983), Tulsa Roughnecks (1984), Houston Dynamos-EUA (1985), Tampa Bay Rowdies-EUA (1986-1987)
Seleção: 60 jogos e 3 gols, entre 1966 e 1978

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Kluivert e Van Nistelrooy: unidos pela data e pelo gol

Juntos ou separados, Van Nistelrooy e Kluivert sempre foram sinônimos de gol na seleção da Holanda (Getty Images)


Todo dia nascem pessoas (que descoberta!) - então, é até comum encontrar aqui e ali alguém nascido na mesma data. No entanto, quando o "companheiro de data natalícia" escolhe a mesma profissão, a coincidência começa a aumentar. Quando a função nessa profissão é parecida para ambos, ela já fica mais notável. E quando eles se tornam notáveis e contemporâneos em tal função, a coincidência se torna até engraçada. Pois bem, é o que ocorre com dois dos melhores atacantes que a Holanda (e sua seleção masculina) teve nos anos 1990 e 2000. Afinal, Patrick Kluivert e Ruud van Nistelrooy vieram ao mundo em 1º de julho de 1976. E enquanto foram titulares da Laranja, foram sinônimos de gol. Por isso, é compreensível um só texto sobre a carreira dos dois atacantes aniversariantes. Que só não nasceram na mesma cidade, nem no mesmo hospital, porque aí, seria demais.

Kluivert apareceu antes

O 1º de julho de 1976 viu Patrick Stephan Kluivert nascer em Amsterdã, de um pai do Suriname (Kenneth Kluivert, que tivera uma carreira de jogador no país natal) e uma mãe de Curaçao (Lidwina Kluivert). E o jovem Patrick começou a jogar bola na rua - de preferência, no campinho da rua Naardermeer, em Amsterdã, onde entre seus amiguinhos de futebol estava um tal de Edgar Davids. Demorou pouco para Patrick mostrar talento e passar a um clube - o amador Schellingwoude, em 1982. Apenas um ano depois, o observador Tonnie Bruins Slot, que exercia funções internas no Ajax, olhou aquela criança. Bastou: em 1984, Kluivert já foi para De Toekomst, a famosa escola de base dos Amsterdammers. E lá, nos seus dez anos de formação, jogou em várias posições - até mesmo na zaga. Tal alternância fez com que o filho de Kenneth e Lidwina ganhasse técnica suficiente para se tornar um atacante técnico e completo, cheio de sutilezas no seu estilo de jogo. A tal ponto que Kluivert não jogasse somente como "centroavante", mas também mais atrás, como ponta-de-lança, saindo para pegar a bola fora da área.

Assim ele já teve trajetória nas seleções de base dos Países Baixos, desde 1990. E em 1994, quando Louis van Gaal precisava de um atacante veloz e habilidoso para a titularidade no Ajax (tendo buscado antes um certo Ronaldo, que parou no rival PSV), decidiu promover Kluivert, diretamente para os onze que começavam o jogo. Ele estreou em 21 de agosto de 1994, contra o Feyenoord, na Supercopa da Holanda - e já marcou gol no título Ajacied (3 a 0). Começava ali uma temporada inesquecível para Patrick Kluivert: mesmo sem ser titular absoluto no desempenho espantoso do Ajax (campeão europeu e campeão holandês invicto), o jovem de 18 anos já mostrou seu talento para balançar as redes. 

Já em 16 de novembro de 1994, veio sua estreia pela seleção, substituindo Youri Mulder e jogando 20 minutos contra a República Tcheca, pelas Eliminatórias da Euro 1996. No segundo jogo pela seleção, já o primeiro gol: em 29 de março de 1995, também na qualificação da Euro, contra Malta. No Ajax, foram 18 gols de Kluivert em 25 jogos, sendo o goleador do clube na Eredivisie - e só não foi goleador do campeonato porque Ronaldo, no PSV, foi outro jovem de talento ainda mais fulgurante, sendo o artilheiro da Eredivisie, com 30 gols. Pelo menos, Kluivert teve uma compensação notável: na final da Liga dos Campeões 1994/95, saiu do banco para entrar na história do Ajax, fazendo o gol do quarto título europeu, na final contra o Milan. 


Enquanto o caminho de Kluivert já estava precocemente aberto, começava sua carreira no Den Bosch o jovem Rutgerus Johannes Martinius van Nistelrooy - cujo nome enorme foi encurtado para "Ruud".
Nascido em Geffen, Van Nistelrooy também começou em clubes amadores da região da cidade natal: já aos cinco anos de idade, o infante Ruud ia para o VV Nooit Gedacht. Em 1990, já adolescente, foi para o RKSV Margriet. E lá ficou apenas um ano: bastou para o Den Bosch perceber seu talento. Após dois anos encerrando sua formação futebolística no clube da cidade de 's-Hertogenbosch, o novato já foi incluído no grupo relacionado para a temporada 1993/94. E antes mesmo de Kluivert estrear, Van Nistelrooy foi a campo: em 3 de maio de 1994, fez seu primeiro jogo na equipe principal do Den Bosch. Porém, demorou mais alguns anos para explodir em campo: jogando como meio-campo no clube, Van Nistelrooy fez poucos gols nos primeiros anos de carreira.

Ruud aparece, Kluivert permanece - após leve queda

Enquanto Van Nistelrooy ainda procurava a melhor posição - Anthony Lurling era o principal finalizador do Den Bosch -, Kluivert já era estrela. Para o bem: foi destaque na repescagem das eliminatórias da Euro 1996, marcando os dois gols na vitória contra a Irlanda, que pôs a Holanda no torneio continental. E para o mal. Dentro de campo, Kluivert até foi à Euro, até marcou um gol salvador (ao fazer o gol de honra no 4 a 1 para a Inglaterra, ajudou a Laranja a ir às quartas de final, por maior saldo de gols do que a Escócia), até jogou as quatro partidas holandesas na Inglaterra - mas em três delas, saiu do banco, preterido por Gaston Taument e Jordi Cruyff. 

Em Amsterdã, Kluivert brilhava no Ajax (de novo campeão holandês, de novo goleador do clube, com 15 gols em 28 jogos), mas tinha problemas: ainda em setembro de 1995, se envolveu num acidente grave de carro, com um morto e um ferido. Como motorista, até escapou da cadeia, mas teve de prestar serviços comunitários. Viria coisa pior: em 1996, Kluivert também foi acusado de estupro. Em suma: parecia repetir a história do "bad boy talentoso". Os dois problemas jurídicos pioraram sua imagem perante a torcida Ajacied, que o vaiava. Uma lesão no joelho, na reta final da temporada 1996/97, o tirou dos campos. O ambiente negativo o fez recusar a oferta do clube por renovação. E já com a Lei Bosman vigente, o atacante preferiu rumar para o Milan, no meio de 1997, juntando-se aos colegas de geração e ascendência surinamesa Edgar Davids e Winston Bogarde, que lá já estavam.  

No clube rubro-negro de Milão, Kluivert até começou bem: também marcou em sua primeira partida, no troféu amistoso Luigi Berlusconi, contra a Juventus. Só que a péssima temporada 1997/98 feita pelos milanistas (10º lugar no Campeonato Italiano) respingou nele. Seu desempenho nem foi tão ruim - no Campeonato Italiano, fez 6 gols, só abaixo de George Weah no clube. Mas só a Copa de 1998 começou a tirar as últimas dúvidas que havia a seu respeito O começo foi preocupante: logo na estreia da Holanda no torneio, contra a Bélgica, Kluivert brigou com o lateral Lorenzo Staelens, deu-lhe com o cotovelo, e foi expulso. Três jogos de suspensão depois, o atacante voltou nas quartas de final, contra a Argentina. Compensou a insensatez e a ausência da melhor maneira possível: abriu o placar na empolgante classificação holandesa para as semifinais da Copa. Nela, contra o Brasil, fez um gol... e perdeu outros tantos, na emocionante partida. Tudo bem: mesmo com a recaída no início do Mundial, mesmo com a eliminação dramática, a qualidade das atuações reabilitara Kluivert aos olhos da Holanda.

Só no Heerenveen Van Nistelrooy foi colocado na posição onde rendia mais: o ataque, para fazer gols (Pics United)

Enquanto isso, àquela altura, de um meio-campista incerto, Van Nistelrooy já se transformara num atacante respeitável nos Países Baixos. Em sua última temporada no Den Bosch, já jogando mais perto da área, Ruud já colocou mais a esférica na casinha: 12 gols em 31 jogos. Foi o suficiente para chamar a atenção do Heerenveen, clube mais estruturado e estável do que o Den Bosch: em 1997, ele desembarcava no clube da Frísia. E no Fean, apenas uma temporada: 1997/98. O que mostrou nela também foi o bastante. Nem tanto pelos 13 gols em 31 jogos, mas principalmente pelo seu esforço talentoso na área. Os gols que Kluivert parecia fazer naturalmente, para Ruud vinham carregados de uma enorme determinação, como se sua vida dependesse do desempenho na grande área. Então era um grosso que fazia gols? Longe disso: além do esforço, Ruud mostrava enorme poder de finalização. Com os dois pés, com a cabeça, aproveitando todas as chances possíveis.

Por isso, já na metade de 1998, Ruud era considerado um candidato a convocações para a seleção holandesa. Também por isso, o PSV apostou nele: por 12 milhões de florins (5,4 milhões de euros), a transferência interna mais cara da história do futebol do país até ali, Van Nistelrooy chegou a Eindhoven. E chegou para marcar época. A estreia previsível pela Laranja veio num amistoso contra a Alemanha, em 18 de novembro de 1998. E naquela temporada 1998/99, foi o artilheiro do Campeonato Holandês, com 31 gols em 34 gols, segundo melhor desempenho de um jogador dos Eindhovenaren numa só temporada da Eredivisie - rendendo a ele, claro, o prêmio de "Jogador Holandês do Ano". Em 1999/2000, a consagração: PSV campeão holandês, e Van Nistelrooy como o principal destaque daquele título, com 29 gols em 23 jogos. Claro, com duas artilharias seguidas na Eredivisie, era óbvio também conseguir pela segunda vez o título de "Jogador Holandês do Ano". Pela seleção, já era um "reserva frequente" em 1999. Incluindo amistosos contra o Brasil: no 2 a 2 em Salvador, chegou até a perder um gol de forma bisonha.

O drama de um, o auge de outro

E Van Nistelrooy só não fez mais gols naquela temporada por causa do drama que seu joelho lhe causou, em 2000. Mais precisamente, a partir de 7 de março daquele ano: num amistoso contra o Silkeborg, da Dinamarca, o atacante sofreu uma lesão no local, ao tentar uma bicicleta entre dois zagueiros. Houve suspeita de rompimento de ligamentos, mas o médico do PSV (Cees-Rein van den Hoogenband, pai do nadador Pieter) tratou de Ruud por um mês, e julgou que ele estava apto para voltar. E em 16 de abril, ele voltou aos treinos pelos Boeren, que se sagraram campeões holandeses dias depois.

Àquela altura, não só Ruud era nome certo para a convocação da Holanda que disputaria a Euro 2000 em casa (assim como o titular Patrick Kluivert), como também já atraía atenções de certos gigantes. O mais interessado era o Manchester United - reza a lenda, por conselho de Darren Ferguson ao pai Alex. A tal ponto que, em 22 de abril de 2000, se falou que o United já tinha oferecido 29,5 milhões de euros ao PSV para levar o atacante, num contrato de cinco anos. Prontamente o clube de Eindhoven desmentiu, assim como Van Nistelrooy, que seguia treinando. Seis dias depois, a virtual transferência para os Red Devils, a virtual convocação para a Euro 2000, o destaque no PSV: todas essas perspectivas acabavam. Numa jogada aérea durante um treino, Van Nistelrooy caiu de mau jeito e torceu o joelho direito. Ligamento cruzado anterior rompido, fim de temporada, oito meses fora.

Enquanto Van Nistelrooy era operado e começava a reabilitação, Kluivert brilhava. Na verdade, seu auge já começara em 1998: logo após a Copa, com o Milan em reformulação após a chegada do técnico Alberto Zaccheroni, muitos clubes estavam interessados no atacante. Mas coube a Louis van Gaal, o técnico que lhe dera a primeira chance no Ajax, dar a cartada final: em agosto de 1998, o treinador do Barcelona viajou da Catalunha a Milão, para convencer pessoalmente Kluivert a jogar no Barcelona. Conseguiu: por 15 milhões de euros, o atacante tomou o caminho de Les Corts.

E ali, se não foi artilheiro do Campeonato Espanhol ou da Liga dos Campeões, Kluivert viveu a melhor fase da carreira. Foi um dos expoentes da fase "BarçAjax", quando o clube tinha vários compatriotas, no banco (Van Gaal) e no campo. E merecia: se Rivaldo era o grande nome do time, se Luis Enrique ajudava bastante nas jogadas, Kluivert também marcava gols em quantidade considerável: 15 em 1998/99, mais 15 em 1999/2000.

Na Euro 2000, Kluivert viveu seu grande momento pela seleção holandesa (Getty Images)

Depois, viria a Euro 2000. E formando uma dupla notável com Dennis Bergkamp no ataque da Holanda que buscava o título holandês em casa, Kluivert viveu os principais dias de sua carreira. Na fase de grupos, dois gols, contra Dinamarca e França. E nas quartas de final daquela Euro, contra a Iugoslávia, Kluivert simbolizou uma das grandes atuações daquela geração da Laranja: 6 a 1 em De Kuip, três gols dele, tornando-o artilheiro daquela Euro, junto ao iugoslavo Savo Milosevic. Só a última memória daquela Euro foi ruim: na eliminação para a Itália, na semifinal, Kluivert perdeu um pênalti no tempo normal, mandando a cobrança na trave, no segundo tempo.

Pelo menos, no Barcelona, Kluivert seguiu como títular indiscutível, mesmo com as turbulências fortes que o clube vivia no cenário interno: 18 gols na temporada 2000/01 do Campeonato Espanhol, 18 em La Liga 2001/02, mais 16 em 2002/03 (no ano solar de 2002, o holandês foi quem mais marcou gols na Espanha - e em 2001/02, só perdeu o "Troféu Pichichi" de artilheiro de La Liga para Diego Tristán).

Na seleção, as turbulências também existiam. Pelo menos, Kluivert já tinha alguém para dividir o protagonismo no ataque.

O Manchester United esperou Van Nistelrooy se recuperar de sua lesão no joelho. Teve a compensação: gols e mais gols (Getty Images)

Kluivert se apaga, Van Nistelrooy se acende cada vez mais

Operado nos Estados Unidos, Van Nistelrooy ficou em recuperação até janeiro de 2001, quando voltou aos treinos no PSV. Paralelamente, mesmo com o fracasso da primeira negociação, o Manchester United o mantinha em seu radar de contratações - em grande parte, por esforço pessoal de Alex Ferguson. A ponto de haver indisfarçável raiva de Harry van Raaij, presidente do PSV, com o interesse (e, talvez, o aliciamento) do clube vermelho de Manchester no atacante.

Enfim, sua carreira voltou a andar. Em 3 de abril de 2001, sob aplausos de todo o Philips Stadion, Van Nistelrooy voltou a jogar para valer, contra o Roda JC, pelo Campeonato Holandês. Mais 22 dias, e, convocado de novo para a seleção da Holanda, Ruud entrou em campo para os últimos 19 minutos contra o Chipre, pelas Eliminatórias da Copa de 2002 - e já deixou o dele nas redes. E, de certa forma, a despedida do PSV foi honrosa para ele: 10 jogos na reta final da Eredivisie 2000/01, dois gols, e mais um título holandês. 

E finalmente, o Manchester United conseguiu quem queria, depois da via-crúcis: em 28 de abril, por 30,4 milhões de euros, era anunciada a contratação de Van Nistelrooy pelo clube inglês, por um contrato de cinco anos. Chegava a Old Trafford o nome que se tornaria sinônimo de gols para os torcedores Mancunians. Para eles e para sempre, Van Nistelrooy se tornaria "Van the Man". E sua primeira temporada já daria razões para amor eterno: na campanha que levou o clube às semifinais da Liga dos Campeões, 10 gols em 14 jogos, tornando-o artilheiro daquela Champions 2001/02. Os primeiros prêmios individuais vieram: Ruud foi eleito o jogador do ano tanto pelos outros atletas da Premier League quanto pelos torcedores do United.

Mais ainda viria em 2002/03: mais do que David Beckham, Paul Scholes ou Ryan Giggs, Van Nistelrooy simbolizou o Manchester United campeão inglês daquela temporada. Até por ter sido artilheiro da Premier League, com 25 gols. Mais do que isso: por ser o goleador máximo da Liga dos Campeões pela segunda vez seguida, com 14 gols em 11 jogos. Até mesmo artilheiro da Copa da Inglaterra Van Nistelrooy foi. De novo, mais reconhecimentos: pela segunda vez seguida, foi eleito pelos adeptos do Manchester United o jogador da temporada pelo clube, além de ser considerado o melhor de 2002/03 no Campeonato Inglês.


Na seleção, já em 2001 Ruud foi se tornando paulatinamente titular, ao lado de... Patrick Kluivert. Até por opção tática de Louis van Gaal, o técnico da vez, que escalava Kluivert como "ponta-de-lança", vindo do meio-campo com a bola, enquanto Van Nistelrooy ficava na área (onde foi bem: sete jogos, sete gols). Mas com o fracasso da Holanda nas Eliminatórias da Copa de 2002, a formação foi abandonada. Pior para Ruud: após o vexame de ficar fora do Mundial, Van Gaal deixou a seleção, Dick Advocaat chegou para a segunda passagem pelo comando da Laranja, e Kluivert voltou a ser o homem preferencial no ataque - voltando a ser titular, enquanto o contemporâneo ia e vinha do banco.

Mas 2003 começou a mudar as coisas. Consagrado no Manchester United, Ruud voltou a ser titular da Holanda, ao lado de Kluivert. Paralelamente, no Barcelona, Kluivert sofreu séria lesão no joelho, ficando alguns meses fora dos campos em 2003 - justamente quando Ronaldinho chegou ao Camp Nou, junto a Frank Rijkaard, que treinara Kluivert na Euro 2000, seu melhor momento pela seleção. Quando Kluivert voltou, seu espaço no Barcelona havia diminuído. E isso influenciou na Oranje.

Talvez, um jogo tenha simbolizado essa mudança de cetro no posto de "homem-gol holandês": no jogo de volta da repescagem das eliminatórias da Euro 2004, a Holanda precisava vencer a Escócia, após levar 1 a 0 na ida. Pois bem: Van Nistelrooy começou como titular em Amsterdã. Fez três gols, a Holanda goleou (6 a 0) e garantiu a vaga na Euro. Kluivert? Só entrou para os 12 minutos finais. A partir desse ponto, o principal "camisa 9" laranja passava a ser Ruud van Nistelrooy.

O fim discreto de Kluivert...

Na preparação para a Euro 2004, já estava claro: Van Nistelrooy tomara de Kluivert a titularidade no ataque da Holanda. Nem mesmo uma temporada menos inspirada pelo Manchester United (e ainda assim, com mais um título e mais uma marca de goleador na carreira, pela Copa da Inglaterra) fez com que "Van the Man" perdesse o posto. Até porque Kluivert já não jogava tanto: pelo Barcelona, foram apenas oito gols em 21 jogos pelo Campeonato Espanhol, na temporada 2003/04. E com um salário alto demais para a reestruturação financeira barcelonista, ele estava prestes a deixar o clube.


A Euro deixou isso claro. Kluivert só jogou quatro amistosos pré-Euro em 2004. Com a fase de Van Nistelrooy e a aparição fulgurante de Arjen Robben, acabou indo para o banco no torneio continental. Foi convocado, mas não saiu da reserva em nenhum momento da Euro. Era seu ato final na seleção holandesa pela qual fizera tanta história: com 40 gols em 79 jogos, superara Faas Wilkes, Johan Cruyff, Abe Lenstra, Dennis Bergkamp, todos - após dez anos, Kluivert deixava a Laranja como seu maior goleador em todos os tempos, até então (hoje, é o terceiro maior goleador).

E Van Nistelrooy, por sua vez, justificou a confiança. Chegou à Euro 2004 como titular absoluto do ataque. Fez gols importantes, como no empate do clássico de estreia contra a Alemanha (1 a 1). Estava a postos em momentos decisivos - na decisão por pênaltis contra a Suécia, nas quartas de final, Ruud converteu a primeira cobrança, na série que levou a Laranja às semifinais. Numa campanha inconstante e questionada, foi uma das únicas unanimidades positivas da Holanda. A ponto de ser incluído na seleção da Euro pela própria UEFA.


Para Kluivert, o fim começara. Rumando para o Newcastle no meio de 2004, logo após a Euro, ele chegou como titular absoluto para o técnico Bobby Robson. Mas ele logo foi demitido, Graeme Souness o substituiu e preferiu deixar Kluivert na reserva. De fato, sua forma piorava: pelo Campeonato Inglês 2004/05, foram só oito gols em 25 jogos (em muitos deles, entrando só no últimos minutos). Considerado um fracasso em St. James' Park, o atacante voltou à Espanha, para o Valencia. Mas na temporada 2005/06, vitimado por lesões cada vez mais frequentes no joelho, Kluivert viu David Villa e Mista tomarem o espaço no ataque. Outro fracasso: só dez jogos pelos Ches no Campeonato Espanhol, só um gol, apenas entradas esporádicas no final das partidas.

Mesmo com a carreira em queda, Kluivert seguiu tendo chances. Antes da temporada 2006/07, chegou a negociar com o Hamburgo, mas logo surpreendeu: nos últimos dias da janela de transferências, aceitou a proposta do PSV, para substituir Jan Vennegoor of Hesselink, que se fora para o Celtic. Em Eindhoven, Kluivert estreou num jogo contra o Feyenoord... mas uma semana após ele, se lesionou no joelho, novamente. Mais alguns meses em recuperação. Quando voltou, em dezembro de 2006, Arouna Koné já se estabilizara como atacante nos Eindhovenaren.

Mas Kluivert teria espaço no PSV: jogando como "ponta-de-lança" novamente, teve espaço na reta final da campanha do tricampeonato holandês dos Boeren. Em 16 jogos, fez três gols naquela Eredivisie 2006/07 - um deles, até, contra o Ajax em que surgira (gol de honra, numa marcante goleada Ajacied: 5 a 1). Na campanha do PSV na Liga dos Campeões, até marcou três gols. Mas foi insuficiente para mantê-lo em Eindhoven ao fim daquela temporada, quando seu contrato acabou. Mantendo a forma no Ajax, Kluivert até se interessou por uma volta, mas o clube não fez proposta.

As lesões frequentes encurtaram a carreira de Kluivert: já aos 32 anos, o Lille era o capítulo final (Getty Images)

Quem fez foi o Lille: em outro contrato por uma temporada, já com 31 anos, Kluivert chegou sabendo que seu espaço no clube francês seria menor, até pela preferência do técnico Claude Puel em trabalhar com atacantes mais rápidos. Além do mais, a forma física já piorava a olhos vistos, até pelas lesões frequentes. E Kluivert foi um "reserva de luxo" no Lille. Teve sua utilidade, sim - Claude Puel o elogiou por sua postura, como um "professor" para os jogadores mais jovens. Utilidade que, de certa forma, antecipou o fim: em 2008, aos 32 anos, Kluivert encerrou a carreira discretamente. Sem anúncios ou festas. Apenas iniciou imediatamente um curso de treinador na federação holandesa.

... e a continuação turbulenta de Van Nistelrooy. Até parar

Van Nistelrooy já não era nenhuma criança na temporada 2004/05, com seus 28-para-29 anos. Na seleção, Marco van Basten chegara como técnico com a função de rejuvenescer a Laranja - e o fez, aproveitando vários surgimentos promissores (Arjen Robben e Wesley Sneijder já vinham da Euro, e Van Basten deu a primeira convocação a Dirk Kuyt e Robin van Persie). Ainda assim, não havia como prescindir de "Van the Man".

Até porque, em 2004/05, ele voltou a ser sinônimo de gols no Manchester United. Basta dizer que, pela terceira vez, Van Nistelrooy foi artilheiro da Liga dos Campeões (8 gols em sete jogos), já se consagrando como um dos maiores goleadores da história do principal torneio da Europa. Em 2005/06, seu começo também foi promissor: pelo Campeonato Inglês, marcou gols nos quatro primeiros jogos da competição. Todavia, o United mergulhara em turbulências: fez campanha péssima na Liga dos Campeões - eliminado na fase de grupos -, e só ganhou a Copa da Liga Inglesa. 

Pior: Van Nistelrooy já começara a mostrar algumas ações que pioravam sua imagem a Alex Ferguson, sempre tão cioso da condução das coisas nos Diabos Vermelhos. O fim da temporada 2005/06 chegou, e com ele as gotas d'água. Reserva na final da Copa da Liga Inglesa, em fevereiro de 2006, quando viu que não entraria em campo, o atacante deixou o banco e ofendeu Sir Alex. Em maio do mesmo ano, num treino, brigou com Cristiano Ronaldo - a ponto de fazer o português chorar ao dizer para que ele "fosse chorar ao papai" (a referência era ao português Carlos Queiroz, auxiliar de Alex Ferguson, mas Cristiano se lembrou do pai falecido havia alguns meses). Foi o suficiente para que Sir Alex colocasse Van Nistelrooy na lista de transferências do Manchester United.

E se na seleção holandesa as coisas andavam mais calmas para Van Nistelrooy, também ficariam difíceis em 2006. O jogador chegou à Copa como titular absoluto, mas justamente no torneio a nova geração explodiu: Robben foi o destaque na estreia da Laranja contra Sérvia e Montenegro, enquanto Van Persie roubou a cena contra a Costa do Marfim. Nem mesmo o gol marcado contra os marfinenses tirou de Van Nistelrooy o incômodo por perder espaço. Incômodo que ficou maior, bem maior, quando Van Basten o deixou no banco pelos 90 minutos das oitavas de final, na eliminação daquela Copa, para Portugal. Segundo o jogador, sem nunca justificar a ele o porquê da atitude.

Pelo menos naquele momento, foi outra gota d'água: semanas depois da queda holandesa, Van Nistelrooy anunciou que parava ali de jogar pela seleção. Em clubes, sua história no Manchester United também estava terminada: cinco anos, 219 jogos e 150 gols depois, ele partiu para o Real Madrid, que viveria durante aquela temporada 2006/07 uma reformulação meio atabalhoada - que só tomou rumo após a chegada do técnico Fabio Capello.

Entre tantas mudanças que encerravam a era dos "Galácticos", Capello fez de Van Nistelrooy uma de suas únicas certezas. Titular absoluto do ataque, o holandês viveu uma das temporadas que melhor exemplificavam seu estilo de jogo, valendo-se da velha garra e da eficácia impressionantes para ser o artilheiro do Campeonato Espanhol em 2006/07 (25 gols) e um dos símbolos da redentora conquista madridista em La Liga, ganha nas última rodadas. De quebra, ainda naquela temporada, foi vice-artilheiro da Liga dos Campeões, com mais seis gols. E ainda teve papel importante, embora não fundamental, no bicampeonato espanhol, em 2007/08: 24 jogos, 16 gols. Se tinha sido "Van the Man" no Manchester United, Van Nistelrooy virara "Van Gol" para a torcida madridista.

Pacificado nos clubes, Van Nistelrooy também se pacificou na seleção. Em meados de 2007, refez a paz com Van Basten (com Edwin van der Sar, então capitão da Oranje e amigo pessoal de Ruud, como mediador), e voltou à Laranja já fazendo dois gols decisivos, contra Bulgária e Albânia - este, no último lance da partida -, nas Eliminatórias da Euro 2008. De novo, mesmo com a geração "Robben-Van Persie-Sneijder" já estabelecida, Van Nistelrooy foi titular absoluto naquela Euro. Por mais que ele já fosse veterano, aos 31 anos, marcou gols importantes. Como o polêmico gol que abriu a contagem dos 3 a 0 na estreia contra a Itália: fora de campo, à frente de todos os jogadores, Ruud voltou rápido, a tempo de desviar a bola e mandá-la às redes, sem que fosse apitado o impedimento. Ou, então, como o gol aos 86', que empatou o jogo contra a Rússia, nas quartas de final, devolvendo à Laranja um pouco das esperanças de classificação que se acabariam na prorrogação, quando os russos fizeram 3 a 1.

Euro 2008: um último momento honroso de Van Nistelrooy pela Laranja (Getty Images)

Logo depois da Euro 2008, Van Nistelrooy anunciou novamente o fim da carreira na seleção - daquela vez, não por briga, mas por preferência em se dedicar aos clubes. Porém, sua dedicação ao Real Madrid foi forçosamente menor em 2008/09: uma lesão no menisco do joelho direito encurtou sua participação naquela temporada. O tempo passou, Cristiano Ronaldo e Karim Benzema chegaram ao Real... e Van Nistelrooy entendeu que seu tempo no Santiago Bernabéu estava acabado. Em comum acordo com o clube, pediu para ser transferido ainda durante a temporada 2009/10. 

Conseguiu: em janeiro de 2010, chegou ao Hamburgo. Primeiramente, emprestado - e manteve média de gols razoável, com cinco em 11 partidas pelos hanseáticos no Campeonato Alemão. A partir de 2010/11, já contratado em definitivo pelo Hamburgo, Van Nistelrooy jogou mais (25 partidas pela Bundesliga), mas marcou menos gols (sete). Porém, ainda houve disposição para uma volta dele à seleção holandesa: após a Copa de 2010,  Ruud retornou à Laranja, já ficando mais no banco de reservas. Mas sem esquecer o caminho das redes: pelas Eliminatórias da Euro 2012, marcou um gol naquele ano, contra San Marino. E em março de 2011, entrou contra a Hungria, na última de suas 70 partidas pela seleção, para fazer o último de seus 35 gols por ela, que o tem como sétimo maior goleador.

Van Nistelrooy fez gols até mesmo no Málaga, ponto final da carreira (Getty Images)


O fim também se aproximava. E veio de maneira honrosa: em 2011, após o fim do contrato com o Hamburgo, Van Nistelrooy chegou ao Málaga, que o contratara a pedido do técnico chileno Manuel Pellegrini, que o treinara nos tempos de Real Madrid. Van Nistelrooy ajudou jogando muito (28 partidas pelo Campeonato Espanhol 2011/12), mas marcando pouco (4 gols), já na reserva do venezuelano Salomón Rondón. E em maio de 2012, ele também anunciou o fim da carreira.

Mais semelhanças

E os caminhos que Van Nistelrooy e Kluivert seguiram após encerrarem as carreiras em campo apresentaram mais semelhanças do que a posição (e a data de aniversário). Após cursos de treinador, ambos ganharam o "estágio" na comissão técnica da seleção holandesa masculina que tão bem defenderam. Kluivert foi auxiliar de Louis van Gaal entre 2012 e 2014, incluindo a Copa do Mundo. E Ruud não só foi braço-direito da comissão entre 2015 e 2016 (trabalhando tanto com Guus Hiddink quanto com Danny Blind), como a ela voltou no ano passado - sim, Ruud é auxiliar de Ronald Koeman, além de comandar a equipe sub-19 do PSV desde 2018.

Kluivert já deu mais alguns passos: além de ter comandado a equipe de Curaçao entre 2015 e 2016, também auxiliou um colega de geração, Clarence Seedorf, quando este treinou Camarões. Só então, tomou um rumo diferente do contemporâneo, indo para fora do campo: após passar pela diretoria de futebol do Paris Saint-Germain, Kluivert é hoje diretor das categorias de base do Ajax. De quebra, ainda vê descendentes levando o nome da família à frente. O mais velho, Justin, já trilha seu caminho na Roma, após começar no Ajax, ao passo que o ainda criança Shane já pensa na carreira.

Mas o fato é que a grande semelhança que une Kluivert a Van Nistelrooy é mesmo a data de aniversário exatamente igual. E a mais importante semelhança que os une é que foram, em dupla ou separados, sinônimos de gol na seleção holandesa enquanto jogaram por ela.

Patrick Stephan Kluivert
Data de nascimento:  1º de julho de 1976, em Amsterdã
Clubes: Ajax (1994 a 1997), Milan (1997 e 1998), Barcelona (1998 a 2004), Newcastle-ING (2004 e 2005), Valencia-ESP (2005 e 2006), PSV (2006 e 2007) e Lille-FRA (2007 e 2008)
Seleção: 79 jogos e 40 gols, entre 1994 e 2004

Rutgerus Johannes Martinius "Ruud" van Nistelrooy
Data de nascimento: 1º de julho de 1976, em Geffen
Clubes: Den Bosch (1993 a 1997), Heerenveen (1997 e 1998), PSV (1998 a 2001), Manchester United-ING (2001 a 2006), Real Madrid-ESP (2006 a 2010), Hamburgo-ALE (2010 e 2011) e Málaga-ESP (2011 e 2012)
Seleção: 70 jogos e 35 gols, entre 1998 e 2011