segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

810 minuten: como foi a 20ª rodada da Eredivisie

Thom Haye entrou, a torcida vaiou, e ele calou os apupos do melhor jeito: dando a vitória ao Willem II (ANP/Pro Shots)

Willem II 3x2 Sparta Rotterdam (sexta-feira, 27 de janeiro)

Ambas as equipes vieram com mudanças notáveis para o jogo que abriu a 20ª rodada do Campeonato Holandês. No Sparta Rotterdam, havia uma estreia no campo (o lateral direito finlandês Janne Saksela) e outra no banco (o ex-lateral Michael Reiziger, auxiliar de Alex Pastoor, comandava a equipe, com a suspensão de Pastoor). O Willem II foi a campo com uma alteração tática: lateral esquerdo de origem, Dico Koppers foi jogar no ataque, pela ponta. E justamente assim participou do gol que abriu o placar em Tilburg, aos 18': Koppers cruzou, e Fran Sol cabeceou para fazer 1 a 0. Todavia, a vantagem dos Tricolores, durou pouco: aos 21', Saksela deu a bola a Zakaria El Azzouzi, que mandou a bola na rede com um chute colocado, no ângulo esquerdo, empatando. Restou aos mandantes pressionarem, fosse num arremate de Jordy Croux na trave, fosse numa bola mal dominada por Fran Sol.

Antes ainda do intervalo, enfim, os Tilburgers passaram à frente de novo: no minuto final do primeiro tempo, Koppers cobrou escanteio, e o goleiro Roy Kortsmit (herói da classificação do Sparta à semifinal da Copa da Holanda, no meio da semana) falhou, abrindo espaço para o zagueiro Darryl Lachman dominar e fazer 2 a 1. Na etapa final, os Spartanen nem buscavam tanto o empate, mas afinal igualaram o placar: numa cobrança de falta, Thomas Verhaar deixou tudo na mesma. Buscando novamente a vitória, o técnico Erwin van de Looi surpreendeu: tirou da equipe os dois atacantes mais ativos, Croux e Fran Sol, colocando Thom Haye e Asumah Abubakar. A torcida da casa vaiou tão logo Haye entrou em campo, aos 87', no lugar de Sol. Pois bem: Haye respondeu do melhor jeito possível. Nos acréscimos, aos 90' + 3, Erik Falkenburg fez o pivô, e o meio-campista entrou batendo para dar a primeira vitória do Willem II em 2017 - e frustrar o Sparta, que se preocupa: já não vence na Eredivisie há oito jogos.

Kerk comemorou o gol que nem precisou marcar: Xandro Schenk já tinha desviado por acidente para as redes (Pro Shots)

Go Ahead Eagles 0x1 Utrecht (sábado, 28 de janeiro)

O Utrecht foi ao estádio de Deventer ainda sob certa ressaca, após ser eliminado da Copa da Holanda nos pênaltis, pelo Cambuur. Teve no Go Ahead Eagles um adversário "perfeito": os aurirrubros mandantes sequer criaram uma chance de gol digna do nome no primeiro tempo. E ainda "ajudaram" os Utregs a chegarem ao gol, aos 32': Andreas Ludwig cruzou, e antes mesmo que Gyrano Kerk chegasse na segunda trave para concluir, o zagueiro Xandro Schenk cortou acidentalmente para a própria meta - foi o quarto gol contra para o Utrecht na temporada.

Nos 45 minutos finais, o Go Ahead Eagles até prometeu mais ataques, com a entrada de Darren Maatsen, de mais mobilidade. Porém, Maatsen durou apenas 16 minutos em campo: um empurrão em Mark van der Maarel rendeu ao atacante o cartão vermelho. E aí a coisa se dificultou definitivamente para o Kowet. Jarchinio Antonia até teve chances, num chute pouco depois da expulsão, e Sébastien Locigno mandou a bola no travessão, nos acréscimos, mas nada disso perturbou muito o Utrecht, que obteve sua quarta vitória seguida fora de casa - e trouxe o GAE de volta à lanterna do campeonato.

Pröpper se ajoelhou, após o gol. E os colegas de PSV comemoraram: vitória dramática, outra vez (Pieter Stam de Jonge/VI Images)

Heracles Almelo 1x2 PSV (sábado, 28 de janeiro)

Mesmo como visitante, o PSV deu a impressão de que, enfim, mostraria uma atuação ofensiva. Tão logo se passaram dois minutos, os Boeren tiveram a primeira chance: Gastón Pereiro dominou a bola, tabelou com Davy Pröpper, entrou na área e chutou de pé esquerdo. O goleiro Bram Castro defendeu com os pés. Todavia, aos poucos, foram os Heraclieden que mostraram mais aceleração na troca de passes, chegando mais à defesa do time de Eindhoven.

Não demorou para que isso se convertesse num momento importante do jogo. Aos 10', Samuel Armenteros recebeu a bola na área, num passe em profundidade, deu um corte seco em Santiago Arias, e foi acossado por Daniel Schwaab. Caiu, e o árbitro Kevin Blom marcou o pênalti. O próprio Armenteros foi cobrar... e o chute no canto direito foi espalmado por Jeroen Zoet, que salvou o PSV. Tantas vezes atormentado pelas cobranças da marca penal, desta vez os Eindhovenaren fizeram outra equipe provar do próprio veneno.

Mais animado, o PSV voltou a chegar com perigo. Principalmente nos chutes: aos 13', Andrés Guardado cobrou falta para fora, e aos 15', Guardado deixou a pelota com Pröpper. Da entrada da área, o meio-campista arriscou, e mandou a bola pouco acima do gol de Castro. O Heracles só reapareceu aos 23', também batendo de fora da área: após cruzamento rebatido por Luuk de Jong, Thomas Bruns dominou a sobra, e chutou por cima do gol. No minuto seguinte, os visitantes já reapareceram: Jetro Willems alçou a bola na área, e Luuk de Jong falhou no domínio,

Assim seguiu o resto da primeira etapa: com o PSV chegando mais. Aos 33', Arias carregou a bola pela direita e cruzou rasteiro. Ninguém chegou a tempo para concluir. Mais três minutos, e outra chance: Luuk de Jong retomou a posse, passou por dois zagueiros e arrematou, mandando a esférica de couro na rede, pelo lado de fora. Depois, aos 42', em escanteio, a cabeça de Nicolas Isimat-Mirin (substituto do suspenso Héctor Moreno) foi atingida pela bola, que subiu, Aí, outro zagueiro, Daniel Schwaab, cabeceou, mas ela saiu fraca, fácil para Castro. O arqueiro dos Heraclieden teve outro problema no minuto seguinte: Willems veio pela direita, e passou rasteira a Pröpper, que chutou no canto, exigindo que o goleiro mergulhasse ali para pegar. O Heracles só tentou algo aos 38': de contrato renovado (até 2020), Brahim Darri dominou e mandou de fora da área: a pelota passou perto do gol de Zoet.

Na etapa complementar, não demorou para que a maior eficácia na criação de jogadas ofensivas levasse o PSV. ao gol. Ele veio aos 50'. Após roubar a bola, Luuk de Jong iniciou rápido ataque dos PSV'ers. Deixou a bola com Pröpper, que por sua vez passou rapidamente a Willems, rápido pela esquerda. O lateral cruzou rasteiro, e a zaga do Heracles falhou: três jogadores foram cercar Pröpper, que vinha pela área. Caminho livre para Bart Ramselaar se colocar no meio da grande área e completar o cruzamento com o pé direito. Castro ainda desviou na bola, mas ela entrou lentamente nas redes, decretando o placar aberto no estádio Polman.

Se já dominava a partida antes de fazer 1 a 0, o PSV consolidou isso com o placar aberto. Em dois minutos, chegou a ter dois gols anulados por impedimento (de Pröpper, aos 55', e de Luuk de Jong, de cabeça, aos 57'). Depois, aos 65', uma jogada válida resultou em outra grande chance: em escanteio cobrado por Arias, Marco van Ginkel cabeceou rápido, exigindo boa defesa de Castro, em cima da linha. Outra boa possibilidade surgiu aos 72': aproveitando sobra de escanteio, Ramselaar deixou a bola a Schwaab, na grande área. Da direita, o camisa 5 cruzou, e Luuk de Jong entrou de carrinho na pequena área, desviando para fora e perdendo grande chance.

Mas justamente quando mais os visitantes se impunham em campo, o Heracles conseguiu fazer 1 a 1. Isso, enquanto um jogador se lesionava: instantes antes do gol, Thomas Bruns tivera o tornozelo atingido por Van Ginkel, e caiu no gramado, com a dor. O jogo seguiu, a bola ficou sob a posse do Heracles, e veio o empate inesperado, aos 74': Kristoffer Petterson (recém-contratado junto ao Utrecht) deixou com Brandley Kuwas, pela direita, e este cruzou para Armenteros conferir num belo voleio, na segunda trave, fazendo 1 a 1 - nono gol do sueco de ascendência cubana nesta temporada.

Só restou ao PSV correr atrás, num abafa desesperado, como na rodada passada, contra o Heerenveen. Aos 79' - Joshua Brenet recebeu de Steven Bergwijn, mas chutou muito longe do gol. E aos 81', Arias novamente cruzou da direita, e ao tentar afastar a bola, o zagueiro Mike te Wierik apenas resvalou nela, mandando-a perigosamente perto do gol, pela linha de fundo. 

Quando parecia que o empate ficaria no placar, virtualmente acabando com as esperanças de título para os de Eindhoven (afinal, uma vitória do Feyenoord levaria a diferença para 11 pontos), veio a salvação, assim como viera na semana passada. Aos 87', Brenet cruzou, Luuk de Jong ajeitou a esférica para o irmão Siem, mas este não dominou bem para o chute. Pelo menos, a bola sobrou com Van Ginkel, que recuou para o chute de Pröpper. O arremate desviou caprichosamente no zagueiro Justin Hoogma, tirando as chances de defesa de Castro. 2 a 1: de novo, o PSV era salvo pelo gongo. E igualando um recorde histórico seu - 23 partidas de invencibilidade fora de casa, mesma marca obtida em 2004/05. Ainda há esperança.

Paulissen comandou a vitória do Roda JC, com dois gols. E comandou a festa após o jogo, também: vitória depois de longe tempo (Den Breejen Fotografie/VI Images)

Roda JC 4x0 Excelsior (sábado, 28 de janeiro)

Sem vencer havia dez jogos - ou três meses e 13 dias, como queiram. Sem marcar um gol sequer pelo Campeonato Holandês havia dois meses e dois dias. Enfim, poucas situações poderiam ser mais desesperadoras para o Roda JC. Se havia um único bom sinal antes do jogo começar, era o de que a única vitória conseguida na temporada até agora fora justamente contra o Excelsior (1 a 0, em Roterdã). Contudo, um outro sinal de que as coisas seriam diferentes no sábado veio aos 17': Jürgen Mattheij, zagueiro dos visitantes, falhou na saída de bola, e permitiu que Mitchel Paulissen saísse rumo ao gol. Só restou a Mattheij agarrar Paulissen - e ser expulso pelo juiz Serdar Gözübüyük. Na cobrança de falta subsequente, Dani Schahin bateu, e fez 1 a 0.

A esperança cresceu. E só fez aumentar dali até o fim do jogo. Até porque nos acréscimos do primeiro tempo, Mikhail Rosheuvel cruzou para Paulissen cabecear e fazer 2 a 0. Plenamente superior ao adversário em campo, o Roda conseguiu a goleada esperada no segundo tempo. Aos 62', Abdul Ajagun cruzou, e Athanasios Papazoglou escorou para o terceiro gol dos Koempels. E três minutos depois, veio o quarto gol, quando jogada semelhante teve protagonistas diferentes: Rosheuvel cruzou, Paulissen finalizou. Diante da situação ainda dificílima do time de Kerkrade na temporada, uma goleada assim foi de lavar a alma. Até por ter aberto três pontos de vantagem para o Go Ahead Eagles, de novo o último colocado.

"Gucci" cabeceou, e Padt defendeu: Heerenveen e Groningen fizeram jogo até animado, mas faltou o gol (Pro Shots)

Heerenveen 0x0 Groningen (domingo, 29 de janeiro)

No clássico do norte holandês, o Groningen até começou atacando mais. Todavia, aos poucos o Heerenveen foi ganhando mais força ofensiva em campo. A partir dela, o time da Frísia criou suas primeiras chances. Aos 13', Sam Larsson bateu forte de longe, mandando a bola perto do gol. Mais cinco minutos, e a vez de tentar ficou com Arber Zeneli: Stefano Marzo cruzou, e o kosovar tentou de bicicleta, para fora. Finalmente, aos 31', Reza "Gucci" Ghoochannejhad quase fez seu quarto gol em dois jogos: em outro córner, o atacante iraniano cabeceou livre, e o goleiro Sergio Padt fez ótima defesa, espalmando em cima da linha.

O segundo tempo ficou mais ou menos no mesmo esquema. Os Groningers começaram indo para cima: logo aos 47', Kasper Larsen cabeceou perto do gol. Depois, o Fean retomou o domínio do jogo, mas não criou tantas chances. Aos poucos, fora uma ou outra jogada de efeito (como um "rolinho" de Zeneli, ou uma jogada individual de Larsson), somente chutes de fora traziam algum perigo ao gol. Como com Lucas Bijker, aos 75', ou Bryan Linssen, no minuto seguinte. A última oportunidade veio nos acréscimos: Bijker cruzou da esquerda, mas nem Ghoochannejhad, nem Luciano Slagveer chegaram a tempo para a finalização. E o clássico do norte ficou no 0 a 0 - o primeiro entre Heerenveen e Groningen no Campeonato Holandês desde 2001.


De novo, aplausos para Schöne, que marcou outro belo gol; Ajax venceu com facilidade (Louis van de Vuurst/Ajax.nl)

Ajax 3x0 ADO Den Haag (domingo, 29 de janeiro)

Com Anwar El Ghazi liberado (está em negociação longa com o Lille, desde que a janela começou), Justin Kluivert já começou como titular em seu terceiro jogo pelo time adulto do Ajax. E o filho de Patrick já mostrou serviço desde o começo. Aos dois minutos, fez uma jogada individual, caiu na área, e o pênalti não ocorreu. Na segunda, aos 3', trouxe mais perigo: Kluivert veio pela direita, fez o cruzamento, e Kasper Dolberg escorou. A bola bateu no goleiro Ernestas Setkus, ricocheteou em Tom Beugelsdijk e saiu pela linha de fundo.

Estava claro que os Ajacieden iriam tentar impor a marcação por pressão contra o Den Haag. Claro, deixariam espaços. E todo cuidado era pouco. Cuidado que inexistiu aos 5', quando os visitantes de Haia tiveram sua primeira (e única) chance na etapa inicial: em jogada mal cortada por Davinson Sánchez, Édouard Duplan retomou a posse de bola e passou a Ruben Schaken. Pela esquerda, o atacante entrou livre e em condição legal na grande área, mas chutou por cima.

De resto, o Ajax voltou a se impor contra os fragilizados auriverdes. Para não deixar vacilos perturbarem, precisava fazer o gol logo. E fez. Aos 11', Sánchez saiu jogando e, do meio-campo, passou a Dolberg. O dinamarquês ajeitou e imediatamente deixou Hakim Ziyech na cara do gol. O armador fez o que se espera numa situação assim: tirou do alcance de Setkus com um chute colocado, fazendo 1 a 0.

Doravante, o domínio dos Amsterdammers foi massivo em casa. Aos 13', Joël Veltman deixou Davy Klaassen em boas condições para o chute, mas o camisa 10 preferiu ajeitar a bola para Dolberg. Sem problemas: ao recebê-la, o camisa 25 arrematou cruzado, na trave. E na sequência da jogada, mais uma chance: Ziyech passou a Amin Younes, que entrou na área pela esquerda, driblou Tyronne Ebuehi na pequena área, mas finalizou por cima. Do outro lado, o goleiro André Onana era "espectador privilegiado". E o Ajax até deu-se ao luxo de desacelerar a partida, apenas controlando as ações no meio-campo.

Quando foi preciso criar novas chances, o time da capital também acelerou o jogo quando quis. Isso ocorreu a partir dos 30': Ziyech mandou passe rasteiro para Younes, sozinho no meio da área, mas o alemão de ascendência libanesa bateu pela linha de fundo, perdendo boa chance. Pouco depois, em escanteio aos 33', Nick Viergever cabeceou no travessão de Setkus. Todavia, o segundo gol veio de alguém que já brilhara na rodada passada: Lasse Schöne. Aos 34', após falta cometida sobre Kluivert, Schöne partiu para a cobrança. E o dinamarquês fez o que está acostumado: bateu com maestria, no ângulo direito de Setkus. Um 2 a 0 sem questionamentos - até porque o Den Haag só dera um chute a gol em todos os primeiros 45 minutos de jogo.

No segundo tempo, o ADO Den Haag até tentou voltar com mais movimentação: logo aos 50', houve um chute de Schaken, cruzado, defendido por Onana. Todavia, o Ajax mostrou definitivamente quem mandava, no minuto seguinte. E quase foi daquelas provas para ninguém questionar: Veltman cruzou da direita, Ziyech ajeitou na trave e deixou com Dolberg. O dinamarquês, então, quase fez o gol da rodada: matou no peito e deu uma puxeta. A bola foi no travessão. Depois, os Godenzonen foram apenas mantendo o ritmo, com uma chance aqui e outra ali. Como aos 60', quando Ziyech bateu falta, e Setkus agarrou sem dar rebote. Ou aos 62', em chute de Daley Sinkgraven, que o goleiro lituano também defendeu firmemente. O Den Haag só apareceu de novo aos 74': Duplan carregou a bola pela esquerda, entrou na área, mas bateu na rede por fora.

Todavia, quem merecia mesmo o gol era Kasper Dolberg - ainda mais depois da puxeta que quase rendeu pintura na Amsterdam Arena. De mais a mais, já eram 641 minutos sem o atacante balançar a roseira adversária (homenagem a Carlos Valadares). Jejum que acabou aos 76': Ziyech cobrou escanteio, e Klaassen escorou para Dolberg desviar, posicionado na segunda trave, estampando o 3 a 0 definitivo no placar. E foi pouco, pelo tamanho do domínio do Ajax.

Acima, o golaço do estreante Assaidi: Twente superou desvantagem numérica para superar Zwolle (FOX Sports holandesa/reprodução via @DutchGoalsAMore) 

Zwolle 1x2 Twente (domingo, 29 de janeiro)

Jogando em casa, o Zwolle precisava desgrudar das últimas posições da tabela. Pelas atuações promissoras nas duas primeiras rodadas do returno, poderia fazer isso. Só que teria um adversário respeitável no Twente. E foram os Tukkers que saíram à frente: aos 8', um chute de Dylan Seys, que desviou acidentalmente num defensor do Zwolle, foi para as redes. Todavia, aos poucos os Zwollenaren foram melhorando. E coroaram isso com o empate, aos 31'. Num rápido contragolpe, Kingsley Ehizibue carregou a bola pela direita, e cruzou rasteiro. E Queensy Menig completou com beleza: de primeira, finalizando no ângulo direito do goleiro Nick Marsman. Ainda houve tempo até para Marsman evitar a virada, fazendo grande defesa em arremate de Ehizibue, nos acréscimos.

A coisa prometia ficar melhor ainda para os "Dedos Azuis" aos 49', quando o meio-campista Bersant Celina recebeu cartão vermelho, por chutar um adversário. Todavia, um lance de rara felicidade surpreendeu e pôs os visitantes de Enschede na frente. Aos 55', o goleiro Mickey van der Hart saiu do gol para cortar, mas repôs mal a bola: deu a posse a Oussama Assaidi (estreando pelo Twente), que marcou o 2 a 1 com estilo: pouco depois do meio-campo, arriscou e mandou a bola de lá para as redes, recolocando os visitantes na frente com um golaço. Em desvantagem numérica e vantagem no placar, a única coisa que o time vermelho poderia fazer era conter a pressão certa do Zwolle. Ela veio aos 65', quando Danny Holla desviou longe do gol. Veio aos 88', quando Ehizibue cabeceou na trave. E principalmente, aos 90', quando Bram van Polen só precisava chutar para dentro, livre na área após um cruzamento, mas pegou errado na bola. Sorte do Twente, que venceu as adversidades - e o jogo.

Vitesse x AZ era jogo equilibrado. Mas o gol de Baker (pulando no centro) facilitou o caminho do Vitesse (Pro Shots)

Vitesse 2x1 AZ (domingo, 29 de janeiro)

Um jogo entre dois semifinalistas da Copa da Holanda prometia um ritmo interessante. E até cumpriu a promessa. Já aos seis minutos de jogo no GelreDome, em Arnhem, veio a primeira chance de gol. E foi dos visitantes de Alkmaar: um chute de Ben Rienstra, na trave. Todavia, o Vites é que foi mais eficiente: na primeira possibilidade que teve, aos 10', deixou a bola na rede. Adnane Tighadouini deixou a bola com Lewis Baker, que aproveitou sua melhor qualidade: o chute de longe. Num arremate colocado, o meio-campista inglês mandou para as redes e deixou os Arnhemmers na frente. A partir dali, os aurinegros foram melhores - até tiveram novo gol, de Ricky van Wolfswinkel, anulado por impedimento.

Na etapa complementar, o AZ começou indo com tudo pelo empate. Logo aos 49', Ridgeciano Haps arriscou o chute, mas um desvio num jogador do Vitesse fez a bola ir pela linha de fundo. Mas novamente, repetiu-se a história: os Alkmaarders tiveram uma chance, e o Vitesse aproveitou a sua para o gol. Dois minutos após o chute de Haps, em longo e alto lançamento de Guram Kashia para a área, o brasileiro Nathan dominou a bola e teve calma exemplar: aproveitou a saída atabalhoada do goleiro Sergio Rochet, cortou Haps e chutou com o gol vazio para o 2 a 0. Ainda assim, aos 64', o AZ enfim conseguiu o gol. O trinitário Levi Garcia, substituto de Dabney dos Santos, cabeceou, e Eloy Room defendeu duas vezes, quase caindo. Porém, o rebote bateu acidentalmente em Guram Kashia e foi para as redes - azar supremo de Kashia, que cometeu seu terceiro gol contra nesta temporada da Eredivisie. O final foi mais animado (aos 85', quase os visitantes empataram, em chute de Rienstra), mas quem saiu com a vitória foram mesmo os mandantes, que tinham conseguido feito maior na Copa da Holanda - eliminando o campeão Feyenoord.

Elia e Berghuis brincam ao comemorar o primeiro gol: a vitória do Feyenoord foi até maior do que se previa (ANP/Pro Shots)

Feyenoord 4x0 NEC (domingo, 29 de janeiro)

Para o jogo contra o NEC, o Feyenoord fez uma mudança até surpreendente: Terence Kongolo ficou na reserva, e a lateral esquerda foi ocupada por Miquel Nelom. Antes do jogo, o técnico Giovanni van Bronckhorst explicou que a alteração tinha como meta tornar a equipe mais ofensiva. Porém, o adversário tratava-se de um time contra o qual o Stadionclub cortou um dobrado no turno, vencendo por 2 a 1, de virada, nos acréscimos. E foi justamente pela direita, onde marcava o ofensivo Nelom, que o NEC criou a primeira chance de gol: aos 4', Jay-Roy Grot cruzou da direita, e Mohamed Rayhi completou com um voleio à queima-roupa na grande área. Brad Jones, como quase sempre, estava a postos: no reflexo, espalmou e salvou o Feyenoord.

Depois disso, os visitantes de Nijmegen nem criaram tanto. Porém, estavam bem armados defensivamente: o 4-3-3 se transmutava num 4-1-4-1, com meio e defesa muito compactados, perto da área. Só restava ao Feyenoord tentar bolas aéreas. A primeira mais perigosa só ocorreu aos 19', quando Eljero Elia cruzou da esquerda, a bola ganhou efeito, e Joris Delle teve de espalmar por cima do gol. Depois, aos 21', em cruzamento, Dirk Kuyt tentou ajeitar para Nicolai Jorgensen, mas o goleador do campeonato não dominou bem.

Eliminado da Copa da Holanda no meio da semana, e sem mostrar grandes atuações nas rodadas anteriores, o Feyenoord seguia com dificuldades. Aos 24', foi a vez de Jens Toornstra criar uma jogada: o camisa 28 lançou a bola a Elia, que entrou pela esquerda na grande área, mas chutou para fora. Aos 27', o próprio Toornstra arriscou de fora da área, mas a bola resvalou num defensor do NEC, e saiu pela linha de fundo.

O time da casa precisava de pelo menos um espaço - e, claro, precisava aproveitar a oportunidade. Para sua sorte, aconteceu. Foi aos 30', graças ao melhor jogador da etapa inicial: Elia. Ele cobrou lateral a Dirk Kuyt, que devolveu-lhe a bola. O camisa 11 recebeu, fez belo giro para cima de Mikael Dyrestam e cruzou rasteiro para a área. Lá estava Steven Berghuis, que não fez rodeios: bateu de primeira, rasteiro e veloz, no canto direito, sem defesas para Delle. Enfim, o Feyenoord conseguia o gol de que precisava.

Mesmo com o NEC ainda firme na defesa, os Rotterdammers ficaram mais tranquilos. Tanto que, aos 34', uma bola aérea quase rendeu golaço: em escanteio, Jorgensen tentou o voleio, mas a bola apenas bateu nele. De todo modo, os temores de uma virada dos Nijmegenaren diminuíram ainda mais com o segundo gol, aos 45'. Kuyt tabelou com Jorgensen, recebeu de volta e imediatamente deixou a esférica com Elia. Mesmo com algumas dores musculares (tanto que saiu do jogo no intervalo, dando lugar a Bilal Basaçikoglu), o ponta-esquerda dominou, virou-se na área e bateu no canto direito de Delle.

Na etapa final, o ritmo do jogo caiu bastante. Sem grande poder ofensivo no dia, o NEC foi pouquíssimas vezes ao ataque. A primeira delas, aos 53', quando Rayhi chutou, e Jones defendeu. Depois, só aos  68': Dario Dumic foi ao ataque e arriscou de longe, para fora. No resto do tempo, com uma vantagem já segura no placar, o Feyenoord apenas tocava a bola pelo meio, sem atacar tanto. Porém, nas vezes que atacou, foi bem mais perigoso. Como aos 62'. Num contragolpe veloz, Berghuis apareceu pela direita, livre, com a opção de cruzar para Kuyt ou Jorgensen, ambos ainda mais livres. Preferiu chutar. E finalizou em cima de Delle, perdendo chance valiosa de gol. Dez minutos mais tarde, quase Toornstra fez outro gol de cabeça, como fizera contra o Willem II: Basaçikoglu levantou a bola na área, e o camisa 28 correu, livrando-se da marcação e cabeceando forte, no travessão de Delle. Jens apareceu de novo aos 76': chegou à grande área, driblou um zagueiro, e seu arremate desviou em Kuyt, mas Delle conseguiu a defesa.

Todavia, no final do jogo é que o Feyenoord tranquilizou de vez sua torcida. Aos 87', Bart Nieuwkoop, que acabara de substituir Berghuis, veio pelo lado direito, cruzou a bola, e Jorgensen entrou pelo meio para tocar e garantir seu 13º gol no campeonato. Estava acabado. Ou melhor, não estava. Porque Toornstra lançou Basaçikoglu aos 90', o atacante turco dividiu pelo alto com o goleiro, e a bola ficou solta na área, sozinha para Jorgensen deixar logo seu 14º no filó, transformando a vitória em goleada até exagerada. O Feyenoord segue sua toada: joga para o gasto, mas vence. Melhor: não sofre gols. Melhor ainda: já tem 51 pontos após 20 rodadas, mais do que os seis últimos campeões holandeses tinham a essa altura do campeonato. Eliminado na Copa da Holanda? E daí?

sábado, 28 de janeiro de 2017

O único grande herói


Robben merece cada vez mais aplausos; aos 33 anos, ainda é capaz de atuar em alto nível (PRO Shots)
Na segunda-feira passada, Arjen Robben completou 33 anos de idade. Claro, houve lembranças aqui e ali, mas nada de incomum – acontece a mesma coisa em todo dia 5 de fevereiro (aniversário de Cristiano Ronaldo e Neymar), em todo 24 de junho (aniversário de Lionel Messi), para nem falar de outubro, com os aniversários de Pelé (23), Mané Garrincha (28) e Diego Maradona (30). Enfim, são efemérides. Que até merecem alguma atenção, mas nada profundo. Porém, se uma data natalícia oferece oportunidade para reflexões esporádicas, nada mais compreensível do que pensar sobre a carreira de Robben. 

E há uma conclusão bastante plausível sobre a trajetória profissional do atacante. Mesmo já a caminho do fim da carreira, mesmo que as lesões continuem vitimando-o vez por outra, já é possível comentar que o calvo precoce nascido em Bedum é o grande jogador holandês de sua geração. Mais do que isso: é o único holandês da atualidade a merecer ser chamado de “craque”, apesar de todos os pesares (que não foram poucos).

Prova disso é o estágio atual da carreira do camisa 10 do Bayern Munique. Por mais que já não seja titular absoluto nos bávaros, é útil para o grupo de Carlo Ancelotti a ponto de ter renovado o contrato por mais um ano, até 2018. Quando entra no time vermelho de Munique, tem seu valor técnico, comprovado pelos números razoáveis na atual temporada. No Campeonato Alemão, foram 11 jogos e cinco gols; na Liga dos Campeões, quatro jogos e mais um tento marcado. Tudo isso fica mais respeitável quando Robben é comparado com os seus maiores competidores pela posição de “símbolo de uma época” no futebol holandês. 

Certo, Wesley Sneijder também é destaque em sua equipe: esteve em 15 dos 18 jogos do Galatasaray pelo Campeonato Turco. Todavia, trata-se do Galatasaray, de um centro mais afastado do futebol europeu – e um clube que não está disputando torneios continentais em 2016/17. Além do mais, mesmo que não se pense os aurirrubros de Istambul sem Sneijder controlando o meio-campo, o armador não parece ter mais a rapidez que um dia teve. Trocando em miúdos: Sneijder parece não ser tão fundamental. A mesma coisa ocorre com Robin van Persie, que nem titular é mais no Fenerbahçe, embora tenha mais gols na temporada (9, contra os cinco de Robben e dois de Sneijder) e até apareça no cenário europeu, com o Fener na Liga Europa. Ainda é possível mencionar Rafael van der Vaart (até porque ele foi o primeiro da geração a estrear, em 2001, num amistoso contra Andorra), mas este já perdeu seu espaço há muito tempo, atuando num campeonato ainda mais discreto - o Dinamarquês, onde o meio-campista defende o Midtjylland.

E se ainda for possível duvidar do destaque maior de Robben em relação a Sneijder e Van Persie, é melhor usar a importância de ambos na seleção holandesa como um termo definitivo de comparação. Mesmo sendo o grande goleador da história da Laranja (e tendo até sua volta pedida aqui e ali), Van Persie parece ter caído de posição na escala de preferências de Danny Blind, nas convocações. Sneijder, por sua vez, continua sendo convocado (vale lembrar: está prestes a se tornar o jogador com mais partidas na história da Oranje), mas há muito também não exerce papel preponderante com a camisa laranja. E Van der Vaart dificilmente voltará a ser opção: o corte às vésperas da Copa de 2014 foi duro golpe nas suas possibilidades de voltar a defender a Oranje algum dia, bem como as atuações medianas nos clubes por que passou ultimamente - fosse no Hamburgo, fosse no Betis.

Eis a diferença de todos eles para Robben. O camisa 11 pode estar perturbado por lesões, pode ter dificuldades de jogo, mas quase sempre faz a diferença quando joga pela seleção holandesa. Basta lembrar de como se esperou até o último momento pela possibilidade (não concretizada) de sua presença no grupo de jogadores convocado para enfrentar Belarus e França, pelas eliminatórias da Copa de 2018. Como Robben foi poupado cuidadosamente para o jogo contra Luxemburgo, também pela qualificação para a Copa, em novembro passado. E finalmente, como ele justificou tamanho cuidado, marcando um dos gols da vitória por 3 a 1.

O que faz pensar também em outro fator pelo qual Robben vai se isolando como o grande jogador holandês de sua época, no “crepúsculo” de sua carreira (obrigado, Fiori Gigliotti!). Curiosamente, quanto mais o tempo passa, mais o marido de Bernadien parece determinado a pulverizar o status de “amarelão” que ameaçou colar nele definitivamente. Não conseguirá fazer isso completamente, é verdade: sempre haverá quem lembre (com justiça, diga-se de passagem) do gol perdido na final da Copa de 2010, do pênalti perdido na final da Liga dos Campeões de 2011/12, até de uma chance perdida no último minuto do tempo normal na semifinal da Copa de 2014.

Ainda assim, com todas essas falhas em momentos cruciais, Robben mostra uma determinação e um espírito de liderança como não se vê em nenhum outro jogador holandês da atualidade. Tome-se por exemplo a Copa de 2014: Van Persie era o dono da braçadeira de capitão, mas o calvo precoce era o verdadeiro galvanizador, o verdadeiro animador, aquele jogador que ficava no meio da roda orientando e comandando a conversa do time, antes de uma prorrogação. Não à toa, com Danny Blind, enfim Robben virou de direito o que já era de fato. E vale citar novamente suas atuações em Copas para mostrar como Robben ainda parece ter uma centelha de motivação que o faz se destacar. 

Em 2010, sofreu lesão muscular no último amistoso antes da viagem à África do Sul. Não fraquejou: passou uma semana em recuperação intensiva, viajou e conseguiu ser um dos destaques na campanha do vice-campeonato mundial. Daquela vez, Sneijder foi quem se sobressaiu na Laranja – mas seu auge foi curto, já tendo passado em 2011 (e não voltaria mais). Van Persie sofreu com a irregularidade: por melhor que jogasse em Arsenal e Manchester United, por mais gols que marcasse pela seleção holandesa, algo sempre parece ter faltado a ele, ao envergar a camisa laranja. E Van der Vaart nunca chegou a ser um protagonista por muito tempo na Oranje. Robben, ao contrário, passou pela via-crúcis de 2012, decepcionando em clube e seleção. Reagiu, fez o gol do título europeu em 2012/13... e subiu ainda mais em 2014, sendo para sempre um dos nomes que virão à cabeça quando se lembra daquele mês no Brasil. Coisa que não aconteceu com Sneijder, de atuações medianas no Brasil. E mesmo Van Persie, para sempre lembrado pelo gol feito contra a Espanha, começou bem e terminou mal a Copa.

É possível admirar, também, o nível de competitividade que Robben ainda parece manter, em palavras como as que disse quando renovou contrato com o Bayern: “Tive propostas da China, e elas são quatro, cinco, seis vezes maiores do que se ganha num grande europeu. Mas em toda a minha carreira, dinheiro nunca foi o fator principal. Por isso construí uma carreira fantástica, e estive em grandes clubes. Escolho sempre pelo futebol”. 

Talvez por isso, também, Robben possa ser reconhecido como o único grande herói do futebol holandês na atualidade. E consiga ser visto, aos 33 anos, como merece: com o respeito devido aos grandes craques. E no caso dos holandeses, com aquela nostalgia antecipada de pensar que o tempo está acabando – e a preocupação em pensar se há alguém com a liderança e a imposição técnica que conseguiu paulatinamente granjear em sua carreira.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 27 de janeiro de 2016. Revista e atualizada)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

810 minuten: como foi a 19ª rodada da Eredivisie

A comemoração fervilhante do gol de Joachim Andersen mostra: grande reação do Twente ao vencer clássico contra Heracles (Pro Shots)

Twente 1x0 Heracles Almelo (sexta-feira, 20 de janeiro)

Após serem derrotados na rodada passada, a primeira do Campeonato Holandês em 2016/17, os dois rivais regionais precisavam reagir. Todavia, apenas o Twente parecia ter entendido a necessidade: goleado na rodada passada, pelo Groningen (o que motivou até aquele desenho... bem... pitoresco, feito no gramado do estádio Polman), o Heracles Almelo foi presa fácil para o adversário no "Dérbi do Leste". Já aos dez minutos, veio o gol: Mateusz Klich cobrou falta, Bersant Celina dominou a bola, e cruzou para o zagueiro Joachim Andersen cabecear e fazer 1 a 0 para os Tukkers. Com Celina criando boas jogadas e os atacantes ativos pelas pontas (Dylan Seys e Yaw Yeboah), o Twente teve boas chances para ampliar - aos 32', aliás, Enes Ünal até marcou de fato, mas o juiz Danny Makkelie apitou impedimento. O Heracles só teve chances na etapa inicial com Samuel Armenteros, que arriscou uma vez ou outra, sem grande perigo.

Situação que mudou na etapa final. Com as entradas de Jaroslav Navrátil (esta, já após o intervalo) e Vincent Vermeij (aos 65'), os Heraclieden fortaleceram a presença na área ofensiva, para tentarem trazer um ou três pontos a Almelo. Quase conseguiram aos 73': Brandley Kuwas deixou a bola com Vermeij, em boa posição para o chute, mas o atacante bateu errado. A partir daí, o Twente voltou a ostentar seu domínio na partida, e criou chances para ampliar a vantagem - a maior delas, aos 83', quando Ünal finalizou na trave, e Fredrik Jensen mandou o rebote por cima do gol. Mesmo assim, a equipe da casa confirmou sua primeira vitória em 2017 sem grandes sofrimentos.

Mathias, um dos Pogbas menos famosos, espera para o cabeceio que salvou o Sparta e surpreendeu o AZ (Gerrit van Keulen/VI Images)

AZ 1x1 Sparta Rotterdam (sábado, 21 de janeiro)

Foi até surpreendente. Com uma vitória categórica sobre o Go Ahead Eagles, na semana passada, pelo primeiro jogo do returno na Eredivisie 2016/17, o AZ poderia muito bem impor seu melhor entrosamento sobre o Sparta Rotterdam. Não foi o que se viu em Alkmaar, no primeiro tempo: os Spartanen trouxeram mais perigo. Thomas Verhaar teve chances ali, Stijn Spierings teve possibilidades aqui... e a chance maior foi do atacante Paco van Moorsel, que bateu perto do gol. Porém, nada de bola na casinha para os visitantes do Roterdã.

E o AZ castigou a ineficiência aos 54': em falta cobrada para a área, Muamer Tankovic alçou a bola na cabeça de Derrick Luckassen, que mandou para as redes o 1 a 0 dos Alkmaarders. Então, em vantagem, de novo os mandantes viram maior volume ofensivo dos visitantes. Até que, aos 80', o técnico Alex Pastoor arriscou: colocou em campo o atacante Mathias Pogba, irmão mais velho de Paul, com apenas três jogos pelo Sparta na temporada. Bastou: aos 86', um cruzamento encontrou a cabeça de Pogba na área, pronta para se antecipar ao goleiro Sergio Rochet e fazer 1 a 1. Quem disse que só o Manchester United pode confiar em seu Pogba?

ADO Den Haag 1x2 Zwolle (sábado, 21 de janeiro)

A situação aqui era entre dois times em sérias dificuldades na Eredivisie - no caso do Den Haag, dificuldades dentro e fora de campo (só após entrar na Justiça o clube está conseguindo que o mecenas chinês Hui Wang pague o que prometeu). Pior: ambos perderam na rodada passada. Vencer era uma necessidade fundamental para tentar se remontar no returno. E os mandantes se iludiram cruelmente em Haia. Até porque começaram ganhando: aos 10', um cruzamento de Achraf El Mahdioui mandou a bola na cabeça de Gervane Kastaneer. E o atacante (que andou cobiçado pelo Mainz) cabeceou para as redes.

Aí começou a crueldade: em onze minutos, Kastaneer já não estava mais em campo - vitimado por uma bolada no rosto, sem ver direito com o olho esquerdo, teve de dar lugar a Dennis van der Heijden. E desde a substituição, o Zwolle cresceu no jogo. Empatou aos 38', quando Ryan Thomas deixou Kingsley Ehizibue livre na área para fazer o gol. E virou aos 56', quando Ehizibue é que fez a assistência para Nicolai Brock-Madsen finalizar. Já nem tendo jogado tão mal na derrota para o Ajax, o Zwolle conseguiu uma vitória que aumenta a boa sensação. Ao ADO Den Haag, com apenas duas vitórias nas últimas 16 partidas pela liga, só resta descrever a situação com três palavras: o caos aumenta.

Feyenoord poderia ter aproveitado mais chances. Pelo menos, Toornstra colocou uma delas no gol; vitória e liderança garantidas (Pro Shots)

Feyenoord 1x0 Willem II (sábado, 21 de janeiro)

Tão logo a partida em De Kuip começou, ficou claro: o Willem II tentaria jogar nos contragolpes, ficando em sua própria área de defesa para conter o líder da Eredivisie. Que começou a atacar cedo. Aos dois minutos, um chute de Steven Berghuis, para fora, foi inofensivo. Aos 9', a coisa começou a ficar mais perigosa: um passe de Nicolai Jorgensen deixou a bola com Eljero Elia, que bateu forte, mandando a bola na trave direita defendida por Kostas Lamprou. Porém, o lance já estava parado, por impedimento. E veio mais: aos 13', Dirk Kuyt lançou em profundidade, e Jorgensen recebeu, chutando imediatamente depois, na saída de Lamprou. A bola foi na rede - pelo lado de fora.

Em pelo menos um lance, porém, a estratégia dos visitantes de Tilburg quase deu certo. Aos 15', Jari Schuurman dominou a bola e arriscou o chute, de média distância. A bola rasteira passou perto do gol de Brad Jones. A partir daí, seguiu o recital do Feyenoord. Aos 21', quase um gol: Elia cruzou da esquerda, e Kuyt cabeceou na pequena área. Mas sua finalização foi perturbada pela marcação, e saiu fraca, diretamente para as mãos de Lamprou. A chance foi ainda maior aos 26': então, foi a vez de Kuyt cruzar. Jens Toornstra falhou no domínio de bola pela grande área, a bola quicou, mas Elia chegou rapidamente e chutou. Lamprou fez boa defesa, no reflexo. Mais três minutos, Elia chegou até a linha de fundo e cruzou. A bola passou entre Jorgensen e um zagueiro, mas Berghuis cabeceou sem direção.

Com tantas jogadas pela ponta esquerda, não impressiona que o gol tenha saído de uma delas. E saiu, enfim, aos 32'. Elia dominou a bola, se desvencilhou da marcação de Pele van Anholt e cruzou. Na grande área, sozinho, Toornstra só precisou subir e cabecear no ângulo direito, sem chances, para Lamprou.

O Feyenoord poderia ter ido até além, ao criar mais chances. Aos 37', Jorgensen virou-se na grande área, e bateu colocado. Lamprou rebateu, e a bola bateu em Elia antes que ele pudesse controlá-la, indo para a linha de fundo. Aos 43', Elia arriscou de fora da área, e Lamprou defendeu em dois tempos. O primeiro tempo terminou só em 1 a 0, mas um dado mostrava o tamanho e a clareza do domínio Feyenoorder: o chute a gol supracitado de Schuurman foi o único do Willem II nos primeiros 45 minutos.

A etapa complementar começou desanimada. Só despertou aos 55', com nova chance dos visitantes tricolores: cruzamento para a área, e Brad Jones saiu do gol para defender. Fran Sol ainda tentou aproveitar a sobra para chutar, mas o goleiro australiano do Feyenoord impediu com o corpo. Aí o Feyenoord acordou: aos 63', Rick Karsdorp carregou a bola da direita para o meio, perto da área, e passou em profundidade. Elia entrou e tocou para as redes, mas o juiz Ed Janssen anulou o gol, apontando impedimento - de fato, existente, por um braço.

Na resposta, aos 65', a grande chance que o Willem II teve para empatar em todo o jogo: Dico Koppers veio pela esquerda, cruzou, e o meio-campista Elmo Lieftink cabeceou sem marcação. Só não empatou porque o cabeceio foi fraco, e Jones conseguiu defender sem rebote. No minuto seguinte, domínio restabelecido: Kuyt recebeu de Jorgensen, pela direita, e mandou a bola na área. De primeira, Toornstra entrou batendo com força, e Lamprou rebateu no reflexo, em grande defesa para evitar o segundo gol.

E o resto do jogo seguiu assim. Perigos periódicos do Willem II: aos 71', em lançamento pelo alto, desviado de leve por Fran Sol, Erik Falkenburg entrou livre na grande área com a bola. Só não empatou porque Terence Kongolo o desarmou na hora exata - e mesmo que tivesse balançado as redes, estava impedido. E domínio claro (embora estéril) do Feyenoord. Aos 78', Berghuis bateu de longe, mandando a bola à direita de Lamprou, com perigo. Aos 85', Jorgensen veio do meio-campo com a bola dominada, driblou Darryl Lachman e chegou à grande área, mas seu chute fraco não ofereceu problemas a Lamprou.

A chance derradeira para ampliar veio aos 90' + 3: Bilal Basaçikoglu veio livre para a área, driblou Lamprou, mas foi obstruído por Jordens Peters. Conseguiu chegar à bola, mas, desequilibrado, bateu para fora, com o gol vazio. Pediu pênalti, mas Ed Janssen já dera a lei da vantagem. Jogo terminado, liderança da Eredivisie garantida por mais uma semana para o Feyenoord. Que poderia estar jogando melhor no returno, é verdade. Mas que pode ostentar duas vitórias com três gols marcados, e nenhum sofrido. Noutros tempos, atuações insípidas poderiam resultar em derrota. Mas agora é diferente. Há confiança.

Groningen 1x1 Vitesse (sábado, 21 de janeiro)

Numa partida entre dois clubes que disputam vaga na zona dos play-offs para a Liga Europa, a vitória seria extremamente importante. Deste modo, os dois clubes começaram atacando. Mas a sorte sorriu somente para o Groningen, logo aos seis minutos da etapa inicial: Ruben Yttegaard Jenssen arriscou chute de fora da área, a bola resvalou no peito do lateral direito Kelvin Leerdam e deixou o goleiro Eloy Room sem ação, indo para as redes. O time da casa estava na frente, e quase fez 2 a 0, mas o lateral direito Hans Hateboer perdeu a chance, ao cabecear para fora, livre na grande área.

Aí, foi a vez do Vitesse reagir para tentar a virada. Ainda no primeiro tempo, aos 33', Adnane Tighadouini quase empatou, mandando a bola na trave. Mas o empate só veio no segundo tempo, aos 49': Milot Rashica fez jogada individual e deixou com o meio-campista Navarone Foor, que concluiu bonito (chute colocado, no ângulo oposto) para o 1 a 1. Com a igualdade, as equipes foram saindo para o jogo. E o Vites até criou mais para a virada. Só que quaisquer aspirações ofensivas tiveram de ser contidas no final, aos 86', com a expulsão de Foor (carrinho com as duas pernas em Juninho Bacuna). E o empate no Noordlease Stadion deixou a situação de ambas as equipes inalterada.

Abraçado por Sinkgraven, Lasse Schöne pôde olhar com autoridade a torcida do Utrecht: depois do pênalti perdido, golaço para dar a vitória ao Ajax (ANP/Pro Shots)

Utrecht 0x1 Ajax (domingo, 22 de janeiro)

O Utrecht era um adversário relativamente temível para o Ajax. Não só pela invencibilidade de dez jogos nesta temporada da Eredivisie, mas principalmente pela sequência dos Utregs contra os próprios Ajacieden: desde 2008 o time de Amsterdã caía no estádio Galgenwaard, que teve de visitar novamente no domingo. Para tentar pôr fim à má sequência, o vice-líder da liga tentou fazer o que sempre faz: impor seu estilo de jogo, pressionando o adversário contra a própria área, além de manter a posse de bola para tentar acelerar o ritmo.

Em Utrecht, o Ajax mostrou algo a mais para tentar o gol: apostou muito nas jogadas pelas pontas. Com um atacante pelos lados, aliás, veio a primeira chance: aos 17', Anwar El Ghazi recebeu lançamento na grande área, chutou para fora. Depois, veio outra alternativa para que os Godenzonen transformassem a posse de bola muito maior em gols: os chutes de fora da área. Foi assim que Hakim Ziyech tentou, aos 21', mandando a bola por cima das traves defendidas por David Jensen.

Todavia, se o Ajax atacava, não conseguia nada contra o Utrecht. Primeiro, porque o miolo de zaga do time da casa se mantinha compacto, impedindo ações efetivas de Davy Klaassen e Lasse Schöne - e, atento, impedia o avanço pelas pontas. Depois, porque os Utregs foram aproveitando os espaços deixados pelos visitantes para também darem suas estocadas. A primeira, aliás, foi a mais perigosa de todas: aos 29', Nacer Barazite veio livre pela esquerda, cruzou rasteiro, e Richairo Zivkovic escorou no travessão.

A chance perdida por Zivkovic (emprestado pelo Ajax, aliás) abriu o período mais empolgante do jogo, com ataques de parte a parte. Começou com o Ajax: aos 38', novo chute de longe de Ziyech, por cima. E no minuto posterior, Amin Younes dominou a bola pela esquerda e fez o que é comum dele: carregou, passou pelos zagueiros, e arrematou - para fora. Aí, foi a vez do Utrecht contragolpear perigosamente. Na primeira, um jogador Ajacied até "ajudou": aos 40', em má saída de bola, Klaassen foi desarmado, e a pelota sobrou com Barazite, que perdeu grande oportunidade: livre na meia-lua, chutou por cima, com desvio em Nick Viergever. E aos 42', Ayoub cruzou, e Sébastien Haller completou próximo à primeira trave, para fora. Todavia, a etapa inicial terminou com o Ajax quase recebendo um empurrão da sorte: Ziyech mandou novamente de longe, Jensen defendeu com dificuldades, a bola espirrou e bateu no travessão.

O segundo tempo começou mais lento, com algumas escaramuças ofensivas do Utrecht, mas sem nada de emocionar. Isso só aconteceu aos 60'. E foi para o Ajax: Younes recebeu pela esquerda, começou sua jogada típica à la Robben, tentou o chute na grande área, e a bola bateu na mão de Barazite. Mesmo que o lance tenha sido involuntário (o chute foi veloz demais), o juiz Bjorn Kuipers não pestanejou: pênalti. Oportunidade de ouro para o Ajax. Que foi desperdiçada por Schöne: o meio-campista dinamarquês cobrou a bola alta, no meio do gol, e ela saiu por cima do travessão.

O impacto do pênalti perdido foi claro para os visitantes. Não só porque a torcida do Utrecht começou a zombar, gritando "obrigado, Schöne", mas também porque o poderio ofensivo diminuiu bastante. Apenas tentativas aqui e ali. Aos 64', foi Ziyech, para fora. Aos 71', Younes fez o de sempre: veio da esquerda, cortou para o meio nas imediações da grande área, e bateu: de novo, para fora. Justin Kluivert voltou a sair do banco, mas também não se destacou. Com a aparente desmotivação, quase o Utrecht abriu o placar, aos 81': em jogada insistente (ganhou a bola dos defensores por duas vezes), Ayoub conseguiu avançar. Deu a bola a Barazite, na meia-lua, e o camisa 10 dos Utregs deixou à feição para que o lateral Giovanni Troupée batesse com força, sobre o gol de André Onana.

Parecia que o jogo ficaria no empate, deixando o Ajax longínquos sete pontos atrás do líder Feyenoord. Mas aos 83', o destino deu uma segunda chance a quem perdera a primeira - e esta foi aproveitada. Ziyech cobrou falta rente à linha de fundo, da direita, Haller tirou de cabeça na pequena área. E Schöne aproveitou para calar a torcida do Utrecht e consertar o pênalti perdido da melhor maneira possível: com um gol. E que gol! O camisa 20 aproveitou a sobra deixada por Haller e, de bate-pronto, mandou uma bola indefensável no ângulo esquerdo de Jensen. Golaço, que justificou plenamente o gesto de Schöne, "querendo ouvir" os gritos da torcida do Utrecht, agora que tinha feito o gol sofrido, mas salvador, do Ajax. Após o apito final do 1 a 0, o técnico Peter Bosz descreveu bem a partida: "Foi difícil, mas foi justo [o resultado]".

Excelsior 1x1 Go Ahead Eagles (domingo, 22 de janeiro)

Mesmo jogando fora de casa, o GAE não se acanhou. Abriu o placar logo aos nove minutos do primeiro tempo. Jarchinio Antonia veio pela direita, cruzou, e o espanhol Pedro Chirivella (vindo nesta janela de transferências, por empréstimo do Liverpool) cabeceou para as redes. Só aí o Excelsior despertou. Aos 12', o estreante Jordy de Wijs (zagueiro cedido ao Excelsior pelo PSV, por empréstimo) cruzou, e Fredy cabeceou perigosamente. Aos 15', Terell Ondaan deixou a bola com Fredy, e este tentou o passe para Nigel Hasselbaink. Havia muita gente na área, mas a bola afinal chegou a Hasselbaink. E o atacante chutou: com desvio num zagueiro do Roda, a bola foi para fora. A jogada foi quase repetida aos 23': Fredy lançou Hasselbaink em profundidade, e o atacante tocou por cima do gol. Enfim, aos 26', o camisa 7 dos Kralingers pôs a bola na rede: Kevin Vermeulen cruzou, e Hasselbaink só precisou desviar para o 1 a 1.

Na etapa complementar, com a entrada de Darren Maatsen, o Go Ahead Eagles foi mais ofensivo no começo. O que culminou com uma das grandes chances do jogo. Aos 63', Elvis Manu recebeu a bola, e ficou livre diante do goleiro Warner Hahn para a finalização. Porém, Manu tocou para fora, perdendo grande chance. Novamente, o Excelsior precisou sofrer para começar a criar suas chances. Elas vieram, no fim do jogo: aos 79', Hasselbaink recebeu a bola de Anouar Hadouir, chegou à grande área sem marcação, mas concluiu para fora. E aos 88', após bate-rebate, Ryan Koolwijk dominou a sobra, mas bateu fraco. E o jogo ficou no 1 a 1 - pelo menos, o Go Ahead Eagles tem o consolo de sair da última posição, com o ponto ganho.

NEC 2x0 Roda JC (domingo, 22 de janeiro)

Bem mais ativo no ataque, desde o começo o NEC foi superior em campo. E a recompensa por isso veio rapidamente. Aos sete minutos, Mohamed Rayhi foi derrubado na área por Daryl Werker, e o juiz Edwin van de Graaf marcou o pênalti. Gregor Breinburg bateu sem problemas, e fez o 1 a 0 para os mandantes. Depois dos mandantes abrirem o placar, o Roda até teve uma chance: em sua segunda partida como titular dos Koempels visitantes, Athanasios Papazoglou recebeu cruzamento de Mikhail Rosheuvel, mas finalizou errado.

A partir disso, os mandantes monopolizaram o jogo em Nijmegen, com chances de Ferdi Kadioglu, Sebastian Larsson e, finalmente, de Jay-Roy Grot, que quase fez aos 25', ao estar livre e cara a cara com o goleiro Benjamin van Leer. O Roda JC teve apenas uma chance em cobrança de falta de Adil Auassar, que foi na barreira. No segundo tempo, também não demorou muito para o NEC ampliar sua vantagem em campo. Isso aconteceu aos 56', de modo muito semelhante ao primeiro gol. Kadioglu foi derrubado na área por Frédéric Ananou, e tudo se repetiu: novo pênalti marcado pelo juiz, nova cobrança de Breinburg, novamente a bola tomou o caminho das redes. E os Nijmegenaren conseguiram manter a vantagem sem problemas, empurrando os visitantes de Kerkrade para a última posição da tabela.

O lance que aliviou o PSV no jogo maluco contra Heerenveen: Moreno desvia para a virada de 4 a 3, aos 90' (Maurice van Steen/VI Images)
PSV 4x3 Heerenveen (domingo, 22 de janeiro)

Uma partida entre o mais fragilizado dos três grandes holandeses na temporada e o "melhor do resto" tinha grandes chances de resultar no que resultou: grandes emoções no Philips Stadion. Aproveitando a vantagem de jogar em seus domínios, o PSV foi à frente rapidamente. Logo aos três minutos, Bart Ramselaar (jogando mais avançado, pela esquerda, no 4-3-3) cruzou para a área, Marco van Ginkel escorou, e Gastón Pereiro bateu forte. Contudo, o goleiro Erwin Mulder estava atento, e agarrou sem dar rebote.


Não demorou muito para o contragolpe dos visitantes da Frísia. Aos cinco minutos, a eficiência do Heerenveen rendeu o 1 a 0, já no primeiro ataque que fizeram. Sam Larsson fez uma jogada para justificar por que é um dos destaques do Fean na temporada: passou por Davy Pröpper como quis, no meio, e deu um toque sutil pelo alto. Reza "Gucci" Ghoochannejhad invadiu a área livre e sem impedimento para tocar na saída de Jeroen Zoet, colocando os visitantes na frente.

Só restava aos Eindhovenaren fazer o que fizeram: voltar a atacar incessantemente. Quase deram sorte aos 8': após saída errada de bola, Santiago Arias cruzou da direita, Luuk de Jong escorou, e Pereiro chutou forte; todavia, Doke Schmidt estava a postos em cima da linha para evitar. As bolas altas passaram a ser uma opção: aos 26', Héctor Moreno fez longo lançamento para a área, Pereiro ajeitou de cabeça para Luuk de Jong arrematar com força. Mulder rebateu para evitar o empate, e a defesa do Heerenveen afastou. No minuto seguinte, duas jogadas em sequência: Jetro Willems cobrou escanteio da esquerda, e Daniel Schwaab cabeceou no travessão. O jogo seguiu, e Van Ginkel recebeu a bola na grande área, batendo por cima do gol.

Aos 31', outro erro dos visitantes alviazuis. Mulder cobrou tiro de meta com descuido: arremessou a bola diretamente para Van Ginkel, e este deixou com Pröpper, que bateu forte e rasteiro para a defesa do arqueiro. E de tanto bater na pedra dura da defesa do Heerenveen, o PSV conseguiu o empate, aos 32': Héctor Moreno lançou a bola do meio-campo, Pröpper entrou em profundidade e tocou de cabeça, encobrindo Mulder e mandando para as redes.

Ainda assim, o volume ofensivo dos Boeren continuou altíssimo em Eindhoven. Aos 37', Willems fez um passe em profundidade a Luuk de Jong, que entrou na grande área pela esquerda, mas bateu na rede pelo lado de fora. Com tanta pressão, não demorou para a virada dos donos da casa, que veio em duas bolas cruzadas, aos 40'. Na primeira, Luuk de Jong cabeceou, e Mulder espalmou para o meio; na sequência, outra vez a bola foi alçada por Willems na área, Luuk de novo testou, mas antes de Mulder chegar, Pereiro se antecipou na pequena área e também cabeceou para virar o jogo.

Mais relaxado, o PSV começou a segurar-se na defesa. Foi o erro fatal no segundo tempo: o talentoso setor ofensivo do Heerenveen foi para cima. E conseguiu o empate com rapidez, aos 54'. Após algumas chegadas, com chutes rebatidos pelos defensores do PSV, Arber Zeneli superou a marcação de Willems pela esquerda e deixou a bola com "Gucci". Na área, o iraniano dominou e chutou cruzado, no canto esquerdo de Zoet, fazendo 2 a 2.

Aí, sim, o jogo em Eindhoven esquentou. As duas equipes começaram a criar perigo. Aos 68', o PSV atacou: Ramselaar lançou a bola para a área, e Pröpper saiu livre da marcação, chegando à área. Mas o meio-campista perdeu chance inigualável para o gol, chutando pela linha de fundo. Do outro lado, o Heerenveen ousou aos 70'. Zeneli cobrou córner da direita, a bola foi escorada de cabeça, e Schmidt entrou cabeceando, mandando rente à trave, em grande oportunidade para a virada do Heerenveen. Para os anfitriões, surgiu nova chance aos 74', mas num cabeceio fraco de Pereiro, Mulder defendeu.

Todavia, aos 76', uma grande chance apareceu para recolocar o PSV na frente. De Jong foi derrubado quase na pequena área por Schmidt, e o juiz Bas Nijhuis apitou o pênalti. Porém, o mau histórico dos Boeren nas cobranças da marca fatal reapareceu: Pereiro cobrou no canto direito, e Mulder mergulhou para defender e consumar o 13º (!) pênalti perdido do PSV, dos últimos 21 que teve em todas as competições.

Podia ficar pior para o time de Eindhoven? Podia. Aos 80', em mais um córner, Zeneli mandou novamente a bola para a área, Héctor Moreno ficou parado, e Ghoochannejhad se deslocou para cabecear forte, no ângulo esquerdo de Zoet, marcando seu terceiro gol no jogo. Desde 1978 um mesmo atacante não marcava três gols contra o PSV pelo Campeonato Holandês. E o feito de "Gucci" ia representando o virtual fim das esperanças de título para os mandantes, que ficariam onze pontos atrás do líder Feyenoord (e seis atrás do vice-líder Ajax) na tabela. Ou seja: aos donos da casa, a única opção era atacar e atacar, deixando esquemas táticos para trás.

O PSV venceu, mas "Gucci" roubou a cena: três gols em Eindhoven (Maurice van Steen/VI Images)

Podia ter dado errado. Mas era dia do "abafa" dar certo, muito certo. Aos 89', veio um empate que já seria comemorado: Schwaab chegou pela direita, lançou a bola para a área, Luuk de Jong ajeitou na meia-lua, e Van Ginkel ficou livre para entrar chutando e empatar o jogo. Mas não era o bastante. Aos 90', outra bola parada: Guardado cobrou falta da direita, e Héctor Moreno desviou levemente de cabeça. A bola foi direto para o canto direito de Mulder, fazendo explodir a torcida no Philips Stadion: 4 a 3. Uma vitória injusta, de certa forma. Mas que manteve as esperanças (remotas, mas existentes) do PSV na Eredivisie. Ao Heerenveen, fica o consolo de ter sido, novamente, osso duríssimo de roer para um grande holandês.

sábado, 21 de janeiro de 2017

A faca de dois gumes


Esta foto de 1995 simboliza bem o que é/foi a carreira de Van Gaal: marcou época, mas com excessiva seriedade e rudeza (VI Images)

A partir da noite de segunda-feira (horário de Brasília), começaram a pulular as notícias, que repercutiam as declarações dadas por Louis van Gaal na cidade holandesa de Scheveningen, quando recebia um prêmio pelo conjunto de sua carreira. Vários lugares noticiaram por todo o mundo: após 26 anos de carreira, Van Gaal anunciava que dificilmente voltaria a comandar uma equipe. Aliás, reconfirmou o que já dissera, segundo ele mesmo, após o título do Manchester United na FA Cup da temporada passada: “Eu já tinha dito que iria parar. Depois, mudei espertamente para um ‘período sabático’, mas agora não acho que voltarei a ser treinador”. Trocando em miúdos: era o fim da carreira de um dos mais marcantes técnicos de futebol do mundo nas últimas duas décadas

Louis ia além, citando a necessidade de estar mais perto da família como o principal motivo para o virtual fim da carreira: “Aconteceu muita coisa na minha família [Van Gaal citou até a morte de um genro]. A partir disso, novamente você reconhece, como homem, os fatos esfregados na sua cara”. E dava a prova definitiva de como sua mente não estava mais no futebol: a recusa a ofertas previsivelmente generosas vindas de clubes da China e da Arábia Saudita – dos chineses, então, as ofertas circulariam na ordem de 50 milhões de dólares. “Na Arábia não me pagam essa quantia, mas na China, sim. Eu poderia ter ido, também, mas ainda estou aqui”.

Claro, a revelação do provável fim de carreira deu início a avaliações várias da carreira do treinador de 65 anos. Avaliações que ficaram bem mais cautelosas a partir do momento em que Van Gaal disse que era melhor irem com calma ao cravarem o ponto final de sua trajetória no futebol, numa entrevista à rádio espanhola Cadena Ser: “Se vou continuar ou não, depende das ofertas que eu receber”.

Ainda assim, os comentários sobre os rumos de LvG fazem com que ele mereça uma avaliação de seu papel e seu jeito de treinar. Algo semelhante aconteceu com Guus Hiddink: quando ele deixou o Anzhi-RUS, tudo indicava que aquele fora seu último trabalho no futebol (quem poderia imaginar que ainda viria uma segunda passagem desastrosa pela seleção holandesa?). Nada mais justo, então, que comentar sobre um técnico que, pare quando parar, deixará memórias e marcas ainda mais indeléveis no futebol holandês.

Sim, Van Gaal é muito importante na Holanda. Pode-se dizer que talvez seja o único técnico vencedor a ter constituído um estilo tático que desafiava a hegemonia do ideário pregado por Johan Cruyff, seu desafeto eterno. Se o Futebol Total prezava a marcação por pressão, a velocidade, o espírito ofensivo acima de tudo, Van Gaal colocou cadência nos seus times, valorizou sobremaneira a troca de passes, trazia times extremamente bem estruturados no esquema tático. Isso representou um claro rompimento e uma clara diferença em relação ao Ajax campeoníssimo da década de 1970.

E também ampliou a rixa existente entre Cruyff e Van Gaal. Aliás, antipatia existente desde os tempos em que o primeiro era o destaque supremo no Ajax, e o segundo era apenas um atacante da base procurando espaço. Sem o conseguir, Van Gaal deixou o Ajax em 1973, após um ano sem ter jogado pela equipe principal. E seguiu sua carreira: jogou no Antuérpia, no Telstar, no Sparta Rotterdam e no AZ... até parar de jogar, em 1986. A partir daí, começando a treinar nos times de base do Ajax (onde Cruyff era o técnico), Louis foi iniciando sua nova fase no futebol. E em 1989, foi convidado por Cruyff para um estágio no Barcelona, onde ele já era treinador. Sem companhia na noite de Natal, também foi chamado a passar a virada de 24 para 25 de dezembro com JC e família (além de Ronald Koeman, àquela altura já nos Blaugranas, também com a família). Aí veio o ponto de rompimento particular: naquela mesma noite, Van Gaal recebeu um telefonema, no qual foi informado de que uma irmã tinha falecido. Deixou a residência dos Cruyff na mesma hora, intempestiva e justificadamente. Porém, sem saber da justificativa, Johan achou aquilo falta de consideração. E para sempre os dois ficaram rompidos - embora o mais novo tenha elegantemente dito que a morte de Cruyff tornara o 24 de março de 2016 "um dia triste para o futebol".

O modo de jogar que o Ajax mostrou entre 1994 e 1996 também representou a formação de uma equipe que mostrou qual é a principal qualidade e o principal defeito de Van Gaal em sua carreira de técnico. Desde 1991, quando sucedeu Leo Beenhakker (a quem auxiliava) no comando do Ajax, o marido de Truus formou uma equipe à sua imagem e semelhança. Teve paciência para aproveitar os jogadores que tinha – tanto da base do Ajax (os irmãos De Boer, Van der Sar, Davids, Seedorf, Kluivert), quanto vindos de outros clubes (Litmanen, Kanu, Finidi, Overmars). Teve frieza admirável para dispensar quem não se encaixava em seus planos – o que incluiu gente que já era admirada pela torcida, como o goleiro Stanley Menzo e o atacante Bryan Roy. O resultado: três anos impressionantes dos Godenzonen, com títulos invictos na temporada 1994/95 (Liga dos Campeões e Campeonato Holandês) e feitos até inesperados (como chegar novamente à final da Champions, em 1995/96). Essa obsessão com o trabalho, esse esmero com a formação de um time, levou Van Gaal a ser campeão por onde passou. Barcelona, AZ, Bayern de Munique, Manchester United: em nenhum desses clubes o técnico esteve sem levantar taças, mais ou menos importantes. Além de ter influenciado pupilos: muito de sua vontade de controle está em José Mourinho, por exemplo.

Todavia, esse controle tático era apenas uma das facetas do metodismo de Van Gaal – que, quando não controlado, quase sempre o levou a atitudes intempestivas, até antipáticas. A partir daí, dá para discutir a velha questão sobre a eventual raiva do técnico com brasileiros. Cuja resposta mais razoável é que a antipatia de Van Gaal com brasileiros não ocorre meramente pela nacionalidade: se fosse assim, não teria sido ele a dar a primeira oportunidade a Luiz Gustavo no Bayern Munique, muito menos teria aceitado passar um mês no Brasil, na Copa de 2014. A verdadeira razão deve-se à completa oposição no estilo de jogo. Se Van Gaal prega o apego ao esquema, os brasileiros sempre apostam mais na capacidade individual, no talento que destrói qualquer esquema adversário. Eis aí o grande erro de Louis van Gaal, por exemplo, na histórica discussão com Rivaldo, no Barcelona: francamente, prescindir da qualidade inquestionável do pernambucano como ponta-de-lança para fazê-lo jogar pela esquerda, como o técnico holandês queria, era de uma insensibilidade gigantesca. A partir dessa diferença crônica, que fazia Van Gaal ver os brasileiros como “taticamente indisciplinados”, as coisas não poderiam mesmo dar certo.

Outro erro do técnico deve-se, talvez, a seu histórico antes do futebol, como professor numa escola infantil. A partir disso, Van Gaal sempre teve uma postura até autoritária, como se precisasse sempre de um domínio com mão de ferro para ter o respeito do elenco – e aí, poder implantar suas ideias. Às vezes, a tensão no vestiário fica irrespirável a partir disso. Um exemplo disso veio em história contada recentemente por Mark van Bommel, lembrando a passagem de ambos pelo Bayern, no programa Made in the Eredivisie, da FOX Sports holandesa: “Eu era capitão dele, mas eu também protegia o vestiário. Se ele falasse algo inadequado a alguém, eu reclamava. Louis podia tudo, se ninguém chegasse perto dele. No inverno de 2010, isso levou a uma discussão muito séria entre mim e ele. Eu disse tudo o que tinha para dizer, até o xinguei. Normalmente, ele sempre falava, mas daquela vez eu falei por uns dois, três minutos. Disse tudo o que estava entalado. Aí fui embora. Cheguei ao fisioterapeuta e disse: ‘Acabou’. Estava até chorando”. Mais um ano, e Van Bommel deixava o Bayern rumo ao Milan, dias depois. Veja: não se fala aqui de um jogador considerado "mimado", mas de Mark van Bommel, tido e havido como um dos mais duros futebolistas dos últimos anos. E, no entanto, Van Gaal o fez chorar. Por aí se tem uma ideia da tensão que é conviver com ele.

Enfim, Van Gaal é metódico, mas é dominador. É arrogante, mas é inteligente. E é exatamente essa faca de dois gumes que o faz ser reconhecido como, talvez, o terceiro maior técnico holandês de todos os tempos (ganhou tudo em clubes, superando até Rinus Michels, que fracassou em Los Angeles Aztecs e Bayer Leverkusen). Mas que impossibilitará o reconhecimento pleno do tamanho do treinador que é. Talvez o melhor resumo desta dualidade venha de Wesley Sneijder: “Eu tive momentos ótimos com ele, dentro de campo, como técnico, pois seus treinamentos eram bem divertidos. Mas como ser humano, só tive problemas”.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 20 de janeiro de 2017. Revista e ampliada)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

810 minuten: como foi a 18ª rodada da Eredivisie

Há vezes em que não podemos falar. Melhor ver, então: como faltou tempo ao blogueiro neste fim de semana que passou, para poder fazer os relatos escritos, eis os vídeos dos jogos da 18ª rodada, que reabriu o Campeonato Holandês.

Go Ahead Eagles 1x3 AZ (sexta-feira, 13 de janeiro)

Heerenveen 2x0 ADO Den Haag (sábado, 14 de janeiro)


Heracles Almelo 1x4 Groningen (sábado, 14 de janeiro)


PSV 2x0 Excelsior (sábado, 14 de janeiro)

Sparta Rotterdam 1x2 Utrecht (sábado, 14 de janeiro)

Roda JC 0x2 Feyenoord (domingo, 15 de janeiro)

Zwolle 1x3 Ajax (domingo, 15 de janeiro)

Vitesse 3x1 Twente (domingo, 15 de janeiro)

Willem II 0x1 NEC (domingo, 15 de janeiro)    
 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Sonho em meio a desconfianças

Feyenoord segue bem e animado. Mas Van Bronckhorst sabe: toda calma é pouca (ANP/Pro Shots)

Várias cidades holandesas têm o seu local público por excelência, um local receptivo a manifestações populares, como grandes comemorações. No caso de Roterdã, não há dúvidas sobre qual é esse local: é a Coolsingel, a principal avenida da cidade. Com várias lojas e órgãos públicos ladeando as duas pistas, a via leva também à sede da prefeitura municipal de Roterdã. Exatamente por esse simbolismo, Coolsingel é o cenário do principal sonho de qualquer torcedor do Feyenoord neste ano – bem, em outros também, desde 1998/99.

Qual o sonho? Bem, ele pode ser descrito deste modo: Coolsingel completamente lotada, sem espaço para mais nenhum ser vivo. A camiseta do Feyenoord é item básico de vestuário nesse formigueiro humano, que canta e comemora, em frente à prefeitura. A comemoração atinge seu ponto máximo quando chega o ônibus aberto, com todos os jogadores do Feyenoord em cima dele. Jogador mais querido da torcida, o capitão Dirk Kuyt carrega a Eredivisieschaal, a taça do Campeonato Holandês, para mais perto da torcida. E aí...

Aí, a torcida do Stadionclub acorda. Pelo menos, por enquanto. Afinal de contas, o primeiro turno comprovou: desde que retomou alguma grandeza na Holanda, poucas vezes o Feyenoord esteve tão focado num objetivo só, como agora parece focado em quebrar o tabu de quase 18 anos sem títulos holandeses. O que será muito importante a partir deste fim de semana, com a volta do Campeonato Holandês, após a pausa de fim de ano, começando com a 18ª rodada, primeira do returno.

Não falta vontade de seguir com a boa fase. Goleador da Eredivisie (12 gols), Nicolai Jorgensen provou isso em suas palavras à NOS, emissora pública de tevê: “O campeonato é tudo: para o clube,  para a torcida, para todo o resto. Sabemos que, muito provavelmente, não venceremos uma Champions League. Mas ser campeão com o Feyenoord seria fantástico. E é para isso que estamos trabalhando duro”.

Além do mais, a atual temporada mostra algo ainda adicional a essa vontade: o talento. Talento que coloca vários jogadores do Feyenoord entre os melhores da Eredivisie, até agora, seja na defesa (Brad Jones, Rick Karsdorp e Eric Botteghin), no meio-campo (Karim El Ahmadi e Tonny Vilhena) ou no ataque (o citado Jorgensen, Jens Toornstra). E que rendeu aos Rotterdammers um bom resultado para encerrar os treinamentos de intertemporada, sábado passado, no balneário espanhol de Marbella: vitória por 2 a 0 sobre o Mainz, em amistoso, com atuação satisfatória o bastante para fazer o técnico Giovanni van Bronckhorst se dizer “profundamente feliz”.

Está tudo muito bom, está tudo muito bem, mas real e obviamente, o Feyenoord ainda não ganhou nada. E a partir desta 18ª rodada, na qual enfrenta o Roda JC, a equipe de Roterdã estará entrando no trecho mais difícil do caminho que hipoteticamente a levará à Coolsingel. Se sua fama de refugar nos momentos decisivos já traz uma natural desconfiança, a boa campanha só faz aumentar a sensação de que todos confiam na equipe, desconfiando dela.

Tanta desconfiança chega até a ser injusta. Mas não é de todo imerecida. Vale lembrar um dado: nas últimas onze temporadas da primeira divisão holandesa, considerando os jogos ocorridos no mês de janeiro, o Feyenoord teve cinco vitórias, oito empates e 17 derrotas. Dado que foi turbinado pela derrocada fragorosa vista no final do turno/início de returno em 2015/16: nada menos do que nove partidas sem vitória (oito derrotas, um empate), a pior sequência do clube em sua história na Eredivisie.

Em termos mais práticos, as dúvidas são motivadas por uma forçosa ausência. Fundamental no meio-campo, ao ser capaz de chegar ao ataque para finalizar sem descuidar da defesa, Karim El Ahmadi estará com a seleção de Marrocos entre janeiro e fevereiro, para a Copa Africana de Nações. E isso já leva Van Bronckhorst a pensar quem substituirá o marroquino para ajudar Vilhena na importantíssima tarefa de manter velocidade no meio-campo. No amistoso contra o Mainz, foram testados no setor Dirk Kuyt e Toornstra, enquanto Steven Berghuis foi para a ponta direita do ataque, formado com Jorgensen e Eljero Elia. Até saiu a contento. Mas caso seja necessária mais força defensiva, pensa-se no peruano Renato Tapia. E há ainda as opções de Marko Vejinovic e Simon Gustafson. Várias opções, e Van Bronckhorst parece não ter se decidido.

Coisa que os rivais já parecem ter feito, por bem ou por mal. O Ajax teve uma intertemporada de clima semelhante ao do arquirrival: bons treinamentos na cidade litorânea de Albufeira, em Portugal, coroados com uma vitória até mais categórica (5 a 1 no Red Bull Salzburg). Sem contar que Peter Bosz, enfim, parece ter um elenco mais ajustado com o que pensa em termos táticos. Os descontentes já estão saindo: Riechedly Bazoer já tomou o caminho do Wolfsburg, Nemanja Gudelj se transferiu para a China (Tianjin Teda)... e quem já era destaque continuou sendo. Casos de Amin Younes, autor de três gols contra o Red Bull Salzburg – Kasper Dolberg marcou outro. Entrosado, o Ajax só faz os ajustes finais antes do jogo do próximo domingo, contra o Zwolle.


No PSV, o pessimismo aumentou após a pálida atuação nos 4 a 1 inapeláveis sofridos para o Borussia Dortmund, em amistoso no sábado passado. Até porque o time não só foi o titular, mas também deverá sofrer importante perda, com a virtual transferência de Luciano Narsingh para o Swansea. Se alguém se vai no ataque, todavia, outro alguém vem para o meio-campo. E alguém muito útil e esperado: Marco van Ginkel, novamente emprestado pelo Chelsea, é uma referência para ajudar no meio-campo. Como, aliás, já fez no returno da temporada passada. E fez na vitória por 2 a 1 sobre o Freiburg, em amistoso, ao abrir o placar. Pode muito bem ser titular contra o Excelsior, para tentar ajudar os Boeren a cumprirem o que Luuk de Jong preconizou após o empate contra o Ajax: "Não acho que o Feyenoord ganhará tudo no returno, então nós vamos com tudo atrás deles".


Ainda assim, PSV e Ajax seguem a uma relativa distância do Feyenoord. Que está motivado, e parece tecnicamente capaz de superar as desconfianças e transformar o sonho descrito no começo deste texto em realidade. 

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 13 de janeiro de 2017)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Parada obrigatória: avaliação do 1º turno – os de cima

Nada mudou muito no ritmo desta intertemporada que vive o futebol holandês. Em regra, os clubes têm seguido o padrão: treinamentos em balneários (Portugal, Espanha ou Turquia) de climas mais amenos, para fugir do rigor do inverno na Holanda, um amistoso aqui e outro ali, enfim, nenhuma grande novidade nos trabalhos de “recauchutagem” antes do início do returno, na semana que vem. Ainda assim, a intertemporada mostra alguma animação no tocante às transferências. Animação notável principalmente na parte de cima da tabela.

Tome-se como exemplo o PSV, que conseguiu concretizar no último dia de 2016 um negócio desejado desde a temporada passada: um novo empréstimo de Marco van Ginkel, figura que jogou pouco e ajudou muito no returno da temporada passada. Ou então, o Twente, que conseguiu uma promissora contratação em Oussama Assaidi, meio-campista que já teve seu sucesso numa passagem pelo Heerenveen (que chegou a render transferência para o Liverpool). 

O frenesi também toma conta do Ajax: não bastasse a saída de Riechedly Bazoer, agora foi a vez de Nemanja Gudelj ser vendido – no ostracismo desde que protestou contra a ida para a reserva, o sérvio foi para o Tianjin Teda, da China. Sem contar a possibilidade de venda de Anwar El Ghazi (o interesse da Lazio é oficial). Por outro lado, volta e meia cogita-se a possibilidade da volta de Klaas-Jan Huntelaar a Amsterdã. No Feyenoord, o único temor é de que o Watford decida antecipar o fim do empréstimo de Steven Berghuis – afinal, os Hornets viram um jogador da posição de Berghuis ir para a Copa Africana de Nações (Adlène Guedioura - Nordin Amrabat também estava convocado, mas foi cortado).

Essa empolgação adicional nem era necessária. Afinal, o fato do Feyenoord liderar com autoridade já aumenta naturalmente a expectativa pelo que o time pode fazer no returno – ou mesmo se superará o trauma de quase sempre perder força na volta da temporada, para seguir firme rumo ao esperado título holandês. Enquanto isso, o Ajax cresce, o PSV tenta juntar alguns cacos para seguir em frente, e AZ e Heerenveen fazem bonito, com o Twente surpreendendo. Hora da última parte da análise de intertemporada da Eredivisie.

Se o Feyenoord tem raça para subir cada vez mais na Eredivisie, Vilhena simboliza isso: com velocidade, raça e técnica, é o nome do campeonato até agora (ANP/Pro Shots)

Feyenoord

Posição: 1ª colocação, com 42 pontos
Técnico: Giovanni van Bronckhorst
Time-base: Jones; Karsdorp, Eric Botteghin, Van der Heijden e Kongolo; Kuyt, Vilhena e El Ahmadi; Toornstra (Berghuis), Jorgensen e Elia
Artilheiro: Nicolai Jorgensen (atacante), com 12 gols
Destaque: Tonny Vilhena (meio-campista)
Objetivo do início: Título/vaga nas competições europeias
Avaliação: Admiravelmente focado, o Stadionclub fez um tremendo começo de temporada. Até caiu de produção, mas segue líder. Há muito a torcida não confia tanto

O Feyenoord abriu a temporada 2016/17 do Campeonato Holandês goleando o Groningen, fora de casa, por 5 a 0. “Ah, e daí? De nada adianta um bom começo se o Feyenoord sempre entrega o ouro no fim”, muitos pensaram. Vitórias sobre Twente, Heracles Almelo, Excelsior e ADO Den Haag nas rodadas seguintes, mas continuou a desconfiança do tipo “com o nível técnico da Eredivisie, até time de várzea”. O olhar de lado, meio desdenhoso, não se aliviou nem mesmo quando a equipe de Roterdã emplacou 1 a 0 no PSV, em pleno Philips Stadion, na sexta rodada. Nem mesmo na nona, quando o Stadionclub revelou um comovente espírito de luta para virar o jogo contra o NEC aos 47 minutos do segundo tempo (2 a 1, fora de casa). Em parte, era injusto, muito injusto. Porque cada vitória que o Feyenoord conseguia revelava tanta raça que parecia querer enfiar goela abaixo dos detratores que o time era, sim, favorito. 

Era difícil criticar uma equipe que tivera agradável surpresa no gol: com a séria lesão do titular Kenneth Vermeer, Brad Jones foi contratado às pressas, e mostrou muita segurança. Era ser ranheta demais colocar desconfianças sobre a segurança de Eric Botteghin, o único jogador da Eredivisie a ter sido titular em todos os minutos do primeiro turno. Era rigidez demais duvidar da melhora na marcação pelas laterais, com Rick Karsdorp e Terence Kongolo. Duro questionar um meio-campo com dois azougues como Karim El Ahmadi e Tonny Vilhena (este, talvez, o melhor jogador do campeonato até agora) – fora a liderança de sempre de Dirk Kuyt, o símbolo desta equipe. E no ataque, por que desconfiar dos gols de Nicolai Jorgensen, outra aposta certeira e técnica? E como ainda duvidar de Jens Toornstra, Eljero Elia e Steven Berghuis, que deram inegavelmente certo? Em suma: por que não acreditar no Feyenoord? 

Eis o problema: periodicamente, o próprio Stadionclub dá motivo aos que acham que o time vai fraquejar a qualquer momento. Basta dizer que foram duas rodadas seguidas empatando em casa – uma delas, no clássico contra o Ajax (1 a 1, 10ª rodada), fazendo crer que o rival de Amsterdã ainda é a “kryptonita” do Feyenoord. Sem contar a primeira derrota, sofrida justamente para o lanterna Go Ahead Eagles, dali a duas rodadas. E para um time que começou a fase de grupos da Liga Europa vencendo em casa o Manchester United, cair sem muita resistência contra o Fenerbahçe não depõe a favor.

Ainda assim, o Feyenoord seguiu. E se recompôs para fazer um final de primeiro turno exemplar, voltando a exibir trocas rápidas de passe na frente e segurança atrás. O que foi suficiente para voltar a ganhar com frequência – e tendo algumas atuações de gala, como nos 6 a 1 sobre o Sparta Rotterdam e nos 4 a 0 sobre o AZ. Os tropeços de Ajax e PSV ajudaram a equipe a retomar certa vantagem na liderança. Mesmo assim, agora, quando o returno começar, os olhares de desconfiança certamente continuarão pairando sobre De Kuip. A sorte do Feyenoord é que o time parece confiar que é capaz de lavar a alma da torcida e quebrar o tabu de 18 anos sem títulos holandeses. E a própria torcida confia nisso. Aliás, havia muito tempo que não confiava tanto.

Ziyech (de costas) e Dolberg apareceram. E o Ajax reagiu para recuperar as esperanças na temporada (Maurice van Steen/VI Images)

Ajax

Posição: 2ª colocação, com 37 pontos
Técnico: Peter Bosz
Time-base: Onana; Veltman, Sánchez, Viergever e Sinkgraven (Dijks); Schöne, Ziyech e Klaassen; Traoré (El Ghazi), Dolberg e Younes
Artilheiro: Davy Klaassen (meio-campista), com 9 gols
Destaques: Hakim Ziyech (meio-campista) e Kasper Dolberg (atacante)
Objetivo do início: Título
Avaliação: O começo foi tão preocupante que o Ajax dava a impressão de não ter se refeito da perda do título em 2015/16. Mas a equipe se refez, e atua bem. Quem sabe...

Durante muito tempo, permaneceu viva para o Ajax a triste lembrança daquele 8 de maio de 2016. A liderança estava na mão, naquela última rodada de Campeonato Holandês: era só ganhar do De Graafschap, já condenado à repescagem (seria rebaixado nela), e comemorar o 34º título nacional em sua história. Mas o time levou o inesperado 1 a 1, morreu psicologicamente em campo, apelou para um “abafa” desesperado e infrutífero, viu o PSV faturar o bicampeonato... e por muito tempo os traumas só se avolumaram. Até mesmo com a temporada atual já iniciada, tendo Peter Bosz no comando.

Tanto que até o novo técnico se assenhorar do que podia fazer com o grupo, alguns vexames já tinham sido dados. Por mais que fosse começo de temporada, difícil esquecer a eliminação para o Rostov nos play-offs da Liga dos Campeões, com direito a goleada sofrida na Rússia. As perdas de Arkadiusz Milik e Jasper Cillessen, dois jogadores fundamentais, só aprofundavam a impressão de que o trauma continuava. E em nada ajudou o começo preocupante no Holandês: um empate sofrido no último minuto contra o Roda JC (2 a 2, na 2ª rodada), e uma derrota para o Willem II, em plena Amsterdam Arena (2 a 1). Enquanto isso, agosto terminava, e nada de contratações. Conformar-se-ia o Ajax com aquele estado de coisas? Logo a torcida se aliviaria ao ver que não. 

Para princípio de conversa, enfim a diretoria resolveu gastar num reforço útil: Hakim Ziyech. E aos poucos, Peter Bosz foi colocando o Ajax num estilo tático bem mais variável, acelerado e ofensivo. Ziyech chegou a Amsterdã impondo respeito: virou mais um protagonista no meio-campo, com sete assistências e três gols, sendo tão destaque como era no Twente. Na defesa, o goleiro camaronês André Onana entrou no lugar de Cillessen e agradou a ponto de fazer prever uma disputa interessante pela posição com o reforço Tim Krul, enquanto Davinson Sánchez virou soberano no miolo de zaga.

No ataque, o novato Kasper Dolberg logo se revelou um finalizador confiável o suficiente para marcar nove gols, ganhando a confiança da torcida. Bertrand Traoré chegou do Chelsea, e se revelou rápido pela direita – assim como Amin Younes é rápido na esquerda. E Davy Klaassen é a segurança de sempre no meio-campo. Com essas melhoras gradativas, o Ajax cresceu, garantiu uma classificação elogiável na Liga Europa, e ganhou o direito de ainda sonhar com o título holandês. O arquirrival Feyenoord ainda tem vantagem segura na ponta, mas os Ajacieden sabem que têm um time capaz de reagir. A autoconfiança voltou à Amsterdam Arena.


Ramselaar é o único jogador do PSV com algo a comemorar na temporada. Mas sozinho ele não consegue acabar com as preocupações (Joep Leenen/ANP)
PSV

Posição: 3ª colocação, com 34 pontos
Técnico: Phillip Cocu
Time-base: Zoet; Brenet (Arias), Isimat-Mirin (Schwaab), Moreno e Willems; Pröpper, Ramselaar e Guardado; Pereiro, Luuk de Jong e Narsingh (Bergwijn)
Artilheiro: Gastón Pereiro (atacante), com 6 gols
Destaque: Bart Ramselaar (meio-campista)
Objetivo do início: Título
Avaliação: Lesões, más atuações e um estilo de jogo “manjado” dificultam demais a vida do PSV na temporada. Um bom recomeço é necessário

Quando a Eredivisie recomeçou, o fato de ter sofrido pouquíssimas mudanças na base que lhe deu o bicampeonato (apenas Jeffrey Bruma saiu) passava a impressão de que o PSV podia sonhar muito concretamente com o tricampeonato nacional. Por incrível que pareça, pode ter sido justamente uma das razões que fez os Boeren caírem de produção na temporada. Por enquanto, Phillip Cocu ainda não conseguiu dar variações táticas à equipe: mesmo tentando até experiências no 5-3-2, o time de Eindhoven ainda se dá melhor com o 4-3-3. O que torna o estilo de jogo da equipe “manjado”, fácil de ser neutralizado. Isso é parte da explicação por uma melancólica primeira parte de temporada: time sofrendo na liga, eliminado da Liga dos Campeões sem vencer um jogo sequer, eliminado até da Copa da Holanda. Mas é isso: apenas uma parte. 

Outra parte se deve única e exclusivamente aos jogadores: muitos deles também não exibem atuações satisfatórias como na temporada passada. Basta olhar para o ataque: várias vezes o PSV saiu de campo sem gols no turno do Holandês (como nos 0 a 0 contra Groningen, Willem II e Roda JC). E várias vezes perdeu pênaltis (foram 12, dos últimos 18). Esquema tático nenhum justifica tais dados. O que justifica é a ineficiência de alguns jogadores que antes faziam isso sem problemas – como, principalmente, Luuk de Jong, que está devendo nas finalizações. No meio-campo, Davy Pröpper há muito já não é satisfatório no papel de elemento-surpresa. Luciano Narsingh e Gastón Pereiro até tentam alguma coisa (assim como o reserva Steven Bergwijn), mas não dão a impressão de protagonismo.

Para piorar, os reforços ainda não saíram a contento: Siem de Jong passou longe de justificar o seu empréstimo, ficando mais no banco do que em campo, enquanto o zagueiro alemão Daniel Schwaab ainda não se revelou alternativa considerável o suficiente para possibilitar variações táticas. Sem contar as lesões que vitimaram dois jogadores de destaque na equipe: o meio-campo perdeu muita força com os problemas de Andrés Guardado e Jorrit Hendrix, e Jürgen Locadia faz alguma falta no ataque. Com tudo isso, não impressiona a temporada mais difícil do PSV. Se serve de consolo, uma contratação já deu certo: Bart Ramselaar oferece velocidade na marcação e na armação, sendo titular absoluto (e ganhando chances na seleção). Para o returno, fica a esperança no retorno de Marco van Ginkel, figura importante em 2015/16. E também a esperança de que o recomeço de campeonato traga resultados que mantenham vivo o sonho do tri.

Na ótima temporada que faz o Heerenveen, Sam Larsson é um dos donos da bola (Jeroen Putmans/VI Images)

Heerenveen

Posição: 4ª colocação, com 29 pontos
Técnico: Jürgen Streppel
Time-base: Mulder; Marzo, St. Juste, Van Aken e Bijker; Van Amersfoort, Schaars e Kobayashi; Zeneli (Slagveer), Ghoochannejhad e Larsson
Artilheiros: Reza Ghoochannejhad (atacante) e Sam Larsson (atacante), ambos com 7 gols
Destaques: Arber Zeneli (atacante), Erwin Mulder (goleiro) e Stijn Schaars (meio-campo)
Objetivo do início: vaga nos play-offs pela Liga Europa
Avaliação: Demorou um pouco, mas o Heerenveen engrenou. Tem um time sólido a ponto de poder até aspirar à vaga direta na Liga Europa

O Heerenveen já agradeceria aos céus só de ter uma temporada com menos turbulências do que se viu em 2015/16, dentro e fora de campo. Para isso, tratou de fazer por onde nas quatro linhas, contratando tanto um técnico notável por fazer times mais sólidos e protegidos (Jurgen Streppel) quanto jogadores que realmente pudessem ser úteis no time titular (Stijn Schaars e Reza “Gucci” Ghoochannejhad), além de manter jogadores técnicos, como Luciano Slagveer e Sam Larsson. Com toda a diretoria trocada fora de campo, o ambiente tinha tudo para ser mais calmo. Mas não foi – não imediatamente: o começo da campanha no turno foi preocupante, com dois empates e uma derrota. Ficou o temor de que a demora na criação do entrosamento pudesse levar a equipe da Frísia de volta a tempos confusos. Mas esse temor não duraria muito: na 4ª rodada, o Fean conseguiu vencer pela primeira vez nesta temporada da Eredivisie (2 a 1 no Zwolle). 

Estava iniciada uma sequência que consolidou o time na parte de cima – e como o “melhor do resto”, abaixo do campeonato particular que os três gigantes holandeses sempre disputam. Foram oito jogos de invencibilidade, com seis vitórias e dois empates – sendo que os empates foram arrancados de dois dos grandes (1 a 1 com o PSV, e 2 a 2 com o Feyenoord). Os destaques foram aparecendo. No gol, Erwin Mulder enfim recuperou a confiança que lhe faltava nos tempos de Feyenoord; como esperado, Schaars converteu-se num volante confiável no meio-campo; no ataque, o iraniano “Gucci” Ghoochannejhad se encarregou dos gols, e a dupla Zeneli-Larsson, da técnica. Sem contar boas surpresas, como o japonês Yuki Kobayashi. Assim se viu um Heerenveen renovado, que superou até o bom AZ para liderar a disputa pela vaga direta na Liga Europa. Alívio maior, impossível.


Janssen foi embora? Sem problemas: AZ apostou em Weghorst, e está se dando bem (Pro Shots)

AZ

Posição: 5ª colocação, com 28 pontos
Técnico: John van den Brom
Time-base: Rochet; Johansson, Vlaar, Wuytens (Luckassen) e Haps; Rienstra, Van Overeem e Bel Hassani; Jahanbakhsh, Weghorst e Dabney dos Santos
Artilheiro: Wout Weghorst (atacante), com 9 gols
Destaques: Ridgeciano Haps (lateral esquerdo) e Wout Weghorst (atacante)
Objetivo do início: vaga nos play-offs pela Liga Europa/vaga direta na Liga Europa
Avaliação: Eis um time que aprendeu a lição. Se pelejaram no primeiro turno antes de decolar em 2015/16, agora Alkmaarders são regulares desde o começo

Na temporada passada, o AZ terminou o primeiro turno como a grande decepção do Campeonato Holandês. Com um time de nível técnico aceitável, capaz de dificultar constantemente as coisas para os três grandes, concluir as 17 primeiras rodadas em 12º era sinal forte de que algo estava errado – e precisava melhorar. A intertemporada veio, e sabe-se o que aconteceu: com Ron Vlaar chegando para liderar a zaga (e o time), mais um Vincent Janssen que se tornou goleador imparável, os Alkmaarders foram direto para a quarta posição no returno. Mais do que isso: mostrando um jogo técnico. Veio a janela de transferências. Alguns membros fundamentais da base da equipe, como o próprio Janssen ou Markus Henriksen, deixaram o AZ. Os reforços sairiam a contento? O time sofreria para manter seu estilo tático? 

Para a alegria da torcida, as respectivas respostas são “sim” e “não”. No meio-campo, por exemplo, Iliass Bel Hassani foi aposta certeira: contratado com a Eredivisie já em andamento, o meio-campista virou titular absoluto – e Van Overeem minorou as saudades potenciais de Henriksen. Assim como também fez Weghorst: o oriundo do Heracles Almelo ocupa satisfatoriamente a tarefa de “homem-gol” antes pertencente a Janssen. Na defesa, além de Vlaar seguir sendo a referência da equipe, Ridgeciano Haps cresceu de produção na temporada, mostrando-se um lateral ofensivo. E o time vai até melhor fora de casa do que dentro. Resultado: o AZ não só seguiu como um time perigoso, mas fez bonito na Liga Europa, avançando à segunda fase. Há alguns anos sendo conduzido com critério nas contratações (teria o consultor Billy Beane, cuja história nos Oakland Athletics inspirou Moneyball, algo a ver?), o AZ mostra que aprendeu a lição. Merece muito respeito.


Haller, o destaque de sempre; Zivkovic, de novo uma esperança. E o Utrecht se mantém em boas condições (Hollandse Hoogte)
Utrecht

Posição: 6ª colocação, com 25 pontos
Técnico: Erik ten Hag
Time-base: Ruiter; Troupée, Leeuwin, Willem Janssen e Van der Meer; Strieder, Amrabat, Ayoub e Barazite; Haller e Zivkovic 
Artilheiro: Sébastien Haller (atacante), com 7 gols
Destaques: Nacer Barazite (meio-campista), Sébastien Haller (atacante) e Richairo Zivkovic (atacante)
Objetivo do início: vaga nos play-offs pela Liga Europa/vaga direta na Liga Europa
Avaliação: Os Utregs foram mais um time que demorou para se estabilizar. E mais um time que, quando fez isso, cresceu bastante de produção, cumprindo as expectativas

Mesmo causando alguma decepção ao final da última temporada (nos play-offs por lugar na Liga Europa, perdeu a vaga para o Heracles Almelo em casa), o Utrecht continuava sendo um time que causava boa impressão na Holanda. Afinal, não só tinha jogadores técnicos na frente, mas parecia um clube que tinha uma ideia do que desejava fazer em campo – e por isso, respaldava a qualquer custo o técnico Erik ten Hag. Contudo, tão logo começou a Eredivisie 2016/17, a impressão foi a pior possível: a derrota para o PSV na primeira rodada (2 a 1) começou uma sequência negativa, sem vitórias nas seis primeiras rodadas – três empates e três derrotas, incluindo aí um 5 a 1 sofrido em casa, para o Groningen. Sem dúvida, era um teste considerável para o respaldo que os Utregs tinham com diretoria e torcida.

O respaldo foi mantido. O time voltou a vencer na sétima rodada, fazendo 2 a 0 no Sparta Rotterdam. A partir daí, as coisas retornaram a um estado mais positivo: o Utrecht voltou a ser regular, sem mais derrotas após a 8ª rodada. No meio-campo, Nacer Barazite voltou a ser um ponta-de-lança perigoso, criando jogadas ou mesmo finalizando. Chegando sob intensa desconfiança, após problemas de comportamento em Groningen, Ajax e Willem II, Richairo Zivkovic enfim agradou, sendo bom atacante. E já se esgotam os adjetivos para descrever a confiança que a torcida tem em Sébastien Haller, constante garantia de gols. Para melhorar, na defesa, Giovanni Troupée ocupou bem a lateral direita, e Willem Janssen, enfim recuperado de renitentes lesões, usou da experiência para atuar bem na zaga. Assim, o Utrecht cresceu de produção. Pode até melhorar, mas já está numa posição mais condizente com o que se esperava dele. E as expectativas seguem boas, com as novas contratações – como o volante Wout Brama.


O sorriso de Enes Ünal é o sorriso do Twente, que faz campanha acima das expectativas baixas (SportPhoto Agency/VI Images) 

Twente

Posição: 7ª colocação, com 24 pontos
Técnico: René Hake
Time-base: Marsman; Ter Avest, Bijen, Thesker e Van der Lely; Mokotjo, Celina e Klich; Yeboah, Ünal e Ede
Artilheiro: Enes Ünal (atacante), com 10 gols
Destaque: Enes Ünal (atacante)
Objetivo do início: vaga nos play-offs pela Liga Europa/escapar do rebaixamento
Avaliação: Quem diria que daria certo?! Com empréstimos certeiros, time esforçado e bom desempenho em casa, os Tukkers conseguem acelerar a reconstrução do clube

Diante do que era o Twente antes da liga começar, quem diria que o final do turno revelaria uma situação diferente da esperada?! Cabe lembrar: o clube de Enschede até garantira a permanência na Eredivisie em campo, mas pela situação de penúria financeira, sofrera a sanção máxima do rebaixamento à segunda divisão – mas para não perturbar o resultado de um campeonato que já terminara, a federação holandesa decidiu dar uma surpreendente colher de chá, mantendo os Tukkers na divisão de elite. O que minorava os problemas, mas nem tanto. 

Afinal de contas, o Twente não só se mantivera na primeira divisão de uma maneira altamente confusa, como as dívidas continuavam. Era necessário vender quem pudesse render dinheiro - só faltaram os rojões estourando quando Hakim Ziyech, enfim, foi vendido (o marroquino chegou a começar a temporada no Grolsch Veste). Restava ao técnico René Hake apostar nos jovens emprestados pelo Manchester City, parceiro do Twente, uni-los aos novatos que ficaram para contar a história e esperar o que aquele time mostraria em campo. O objetivo era um só: a manutenção na primeira divisão. 

Eis que o time está conseguindo fazer isso de uma maneira mais tranquila do que se esperava. Com mais experiência, os defensores estão mais regulares do que na temporada passada, sem tantos erros, acalmando mais a torcida. No meio-campo, Kamohelo Mokotjo se mostra incansável na marcação, e nota-se o primeiro emprestado útil: o polonês Mateusz Klich, que estava emprestado no Wolfsburg. Mas é no ataque que jogam os símbolos da temporada surpreendente, ambos cedidos pelo “parceiro oficioso” Manchester City. O kosovar Bersant Celina mostra capacidade até para armar jogadas, enquanto o turco Enes Ünal cumpre as expectativas: é o vice-artilheiro do campeonato. De quebra, o Twente voltou a falar grosso em casa: é o terceiro melhor da Eredivisie nos jogos em seu estádio. E de clube que apenas pensava em afastar-se das últimas posições, sonha com os play-offs pela Liga Europa. Cabe repetir a pergunta: quem diria?!

Lewis Baker (de frente) vinha bem no Vitesse. Ganhou um grande parceiro com Van Wolfswinkel (vitesse.nl)

Vitesse

Posição: 8ª colocação, com 23 pontos
Técnico: Henk Fräser
Time-base: Room; Leerdam, Kashia, Van der Werff e Ota; Nakamba, Baker e Foor; Rashica, Van Wolfswinkel e Tighadouini
Artilheiro: Ricky van Wolfswinkel (atacante), com 8 gols
Destaques: Lewis Baker (meio-campista) e Ricky van Wolfswinkel (atacante)
Objetivo do início: vaga nos play-offs pela Liga Europa/vaga direta na Liga Europa
Avaliação: Se o objetivo das contratações era tornar o Vites mais regular, ele foi alcançado. A equipe voltou a ser confiável para a torcida, e tem margem para melhora

O segundo turno da Eredivisie passada foi extremamente traumático para o Vitesse. Uma equipe que parecia medrosa, em casa e fora, degringolando técnica e taticamente após a saída repentina de Peter Bosz; uma torcida impaciente; um técnico que não conseguiu controlar a queda brusca (Rob Maas). Resultado: de favorito à quarta posição, a equipe de Arnhem ficou fora até da zona dos play-offs pela Liga Europa. Urgia dar uma satisfação à torcida. Ela veio de dois modos. O primeiro, contratando Henk Fräser, que vinha de um trabalho em que dera ao ADO Den Haag justamente o que faltava ao Vitesse: solidez. O segundo, com outra contratação, desta vez para massagear o ego ferido: trazer de volta alguém que despontara em Arnhem, Ricky van Wolfswinkel. Que, aliás, como o Vitesse, também tinha o que reagir na carreira.

Não se pode dizer que essa reação foi imediata: o mesmo time que estreou no campeonato fazendo 4 a 1 no Willem II fora de casa continua periclitante em seu próprio estádio (é apenas o 12º colocado, considerando só os desempenhos de cada time em casa na Eredivisie). Mas ela está acontecendo. Fräser rapidamente impôs comando ao Vitesse. O que deu confiança aos jogadores. Para começo de conversa, Van Wolfswinkel assumiu o protagonismo que o Vitesse queria dele: é a referência no ataque. A seu lado, o albanês Milot Rashica voltou a mostrar boa produção, bem como outro reforço, Adnane Tighadouini – e o brasileiro Nathan tem aproveitado melhor as chances dadas. No meio-campo, enquanto Marvelous Nakamba cuida da marcação, o inglês Lewis Baker cresceu de importância: muito bem na armação e nas bolas paradas, Baker já mostra nível técnico para voltar ao Chelsea e ser aproveitado lá. Na defesa, Eloy Room segue como um dos melhores goleiros da Eredivisie, enquanto o ídolo da torcida Guram Kashia mostra segurança. Enfim, ainda falta algo, mas o Vitesse parece mais confiável.

Na segunda passagem pelo Heracles, Armenteros faz o que sabe: ser a esperança de gols (Pro Shots)

Heracles Almelo

Posição: 9ª colocação, com 21 pontos
Técnico: John Stegeman
Time-base: Castro; Te Wierik, Hoogma, Pröpper e Breukers; Gosens, Bruns e Pelupessy; Darri (Navratil), Armenteros e Kuwas
Artilheiro: Samuel Armenteros (atacante), com 8 gols
Destaque: Samuel Armenteros (atacante)
Objetivo do início: vaga nos play-offs pela Liga Europa/vaga direta na Liga Europa
Avaliação: Por mais que pareça distante de repetir o ótimo desempenho da temporada passada, o Heracles está crescendo. Por enquanto, se mantém confortável na tabela

Era demais esperar que o Heracles Almelo igualasse a campanha até histórica de 2015/16, quando ganhou a chance de atuar num torneio continental pela primeira vez em sua história. Até porque, quando jogou, o time da cidade de Almelo fez o esperado bate-e-volta: caiu para o Arouca-POR, na terceira fase preliminar da Liga Europa. Sem contar as perdas que vieram entre a temporada passada e esta: só para citar dois nomes fundamentais no ano passado, Iliass Bel Hassani e Wout Weghorst deixaram os Heraclieden. Houve solavancos (o clube chegou a frequentar a 15ª posição, primeira acima da zona de repescagem/rebaixamento), e isso era esperado.

Porém, aos poucos, o técnico John Stegeman começou a refazer algo próximo de um time-base. Aproveitando os destaques em quem a torcida já confia há muito tempo (Bram Castro, Thomas Bruns), aos poucos os reforços foram se entrosando e mostrando valor. Brandley Kuwas começa a justificar sua contratação junto ao Excelsior, enquanto o sueco de ascendência cubana Samuel Armenteros repete no Heracles o que já fizera no Willem II: corpulento e goleador, é a referência perfeita no ataque. Na defesa, após alguns ajustes, a zaga com o jovem Justin Hoogma (18 anos) e Robin Pröpper já começa a se entender. Serviu para um final de primeiro turno mais tranquilo, terminando na nona colocação. Para a torcida, por enquanto, tudo bem.