Mostrando postagens com marcador Liga das Nações da UEFA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Liga das Nações da UEFA. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 3 de junho de 2025

Sinal fechado

A cabeça baixa de Romée Leuchter indica: as últimas rodadas da Liga das Nações deixaram muita preocupação sobre a seleção feminina da Holanda, com vistas à Euro (Stan Oosterhof/Soccrates/Getty Images)

Desde que saiu o sorteio dos grupos da Eurocopa feminina, as perspectivas sobre a seleção da Holanda (Países Baixos) são mistas. Ao mesmo tempo em que enfrentar Inglaterra (atual campeã) e França já será certeza de grandes desafios desde a fase de grupos, ficavam as esperanças de que as Leoas Laranjas teriam, sim, condições de vencerem o equilíbrio e irem às quartas de final, por terem um time entrosado, com boas jogadoras - a começar do gol, com Daphne van Domselaar em ótima forma, e seguindo até a esperança de que Vivianne Miedema se livre das lesões. Pois é: as esperanças diminuíram bastante, com as últimas rodadas da fase de grupos da Liga das Nações. Já teriam diminuído só com os 4 a 0 sofridos para a Alemanha, na sexta-feira passada. O empate em 1 a 1 com a Escócia - lanterna do grupo 1 da Liga A, sem pontos até esta terça-feira - apenas deixou mais dúvidas sobre as capacidades neerlandesas. Dúvidas despertadas desde o primeiro minuto de bola rolando contra as alemãs.

Nem demorou tanto assim para a Alemanha começar a acelerar a troca de passes, começar a envolver a defesa holandesa, começar a chegar perto do gol. Foi assim já aos 8', quando Giulia Gwinn recebeu passe de calcanhar de Klara Bühl e chutou. Daquela vez, Dominique Janssen bloqueou. No minuto seguinte, após rebote parcial de escanteio, não houve jeito: Bühl cruzou, Janina Minge ajeitou, e Linda Dallmann completou com precisão, no ângulo esquerdo de Lize Kop, para fazer 1 a 0. Era só o começo: as alemãs acuavam as holandesas na defesa, tentavam cruzamentos pelos dois lados, não davam espaço para a Holanda tentar a troca de passes (e nem a Holanda tentava, a bem da verdade). Jeroen Elshoff, narrador da emissora NOS, lamentava: "Het is bijna niet te stoppen" - em holandês, "quase não dá para parar".

A única menção leve de ataque holandês foi aos 21': em escanteio cobrado por Jill Roord, a zagueira Buurman cabeceou, mas a goleira Ann-Katrin Berger pegou. Nada que a Alemanha não restabelecesse rapidamente. Primeiro, aos 23', quando Lea Schüller cabeceou para fora. Depois, com o segundo gol, aos 25': Kerstin Casparij (atuação muito frágil na marcação) perdeu a bola, Sjoeke Nüsken passou para Jule Brand, esta cruzou, e Lea Schüller desviou rasteiro. E foram mais jogadas alemãs, diante de uma Holanda frágil na defesa - principalmente nas laterais, com Casparij e Esmee Brugts sem conseguirem conter nem Minge, nem Gwinn, nem Bühl (talvez o nome do jogo). Com a fragilidade, vieram os espaços que normalmente vêm quando as Leoas Laranjas jogam mal. E foram aproveitados no último minuto do primeiro tempo, quando Minge lançou e Sarai Linder veio da lateral esquerda para, livre, correr com a bola até a área, tocar na saída de Kop e fazer 3 a 0.

Vieram alterações ao final do intervalo. Sherida Spitse para, quem sabe, fortalecer a saída de bola da defesa; Lynn Wilms para fortalecer a marcação na direita, no lugar de Casparij; e Victoria Pelova tentando manter a bola no meio-campo, nas poucas vezes em que a Holanda a tivesse. Mudanças? Antes mesmo que elas talvez tivessem efeito, Dallmann deu passe de calcanhar que deixou Gwinn livre para cruzar a bola na cabeça de Schüller, superando Spitse na marcação para transformar a vitória por 3 a 0 em goleada (4 a 0). Goleada que poderia ter ficado maior ainda aos 56', quando Bühl, onipresente, cobrou escanteio, e Roord tirou em cima da linha para evitar o gol olímpico. Ou mesmo aos 65', quando Kop rebateu chute da meio-campista alemã. Chances, para a Holanda, somente nos minutos finais - mais precisamente, nos acréscimos, quando Wilms cruzou e Daniëlle van de Donk (substituta de Roord) completou para fora. Notas de rodapé numa goleada que fez das alemãs semifinalistas antecipadas da Liga das Nações.

A goleada fez mais: mostrou como a seleção feminina neerlandesa seguia com alguns pontos frágeis rumo à Eurocopa. Claro, haveria mudanças na escalação contra a Escócia, dentro de um cenário em que a preparação para a Eurocopa era mais importante. Tão importante que Vivianne Miedema foi desligada da delegação, nesta segunda, com o técnico Andries Jonker antecipando: a atacante já entrará em preparação, combinada e preparada com o fisiologista da delegação, para chegar ao dia 19, data da apresentação das convocadas para a Euro, em condições de participar do torneio continental. Andries Jonker até evocou uma lembrança masculina: Arjen Robben, machucado no último amistoso holandês antes da Copa de 2010, que só jogou aquele torneio ao se preparar, dia e noite, na semana anterior. "Vivianne é do mesmo tipo dele, e vai fazer de tudo para estar lá no dia 19. Acho que vai dar certo. Ela quer muito estar na Euro, e isso mostra a jogadora de alto nível que é".

Jill Roord foi quem mais apareceu nos (poucos) bons momentos das Leoas Laranjas contra a Escócia (Alex Bierens de Haan/Getty Images)

O alto nível até começou sendo visto no time holandês que enfrentou a Escócia, em Tilburg. Curiosamente, duas conhecidas apareciam mais nas jogadas de ataque: Van de Donk (agora titular) e, principalmente, Jill Roord. Que, desta vez, abriu o placar, aos 10', após tentar uma primeira vez - a goleira Lee Alexander Gibson rebatera a primeira, mas Van de Donk cruzou na sobra. Tendo em vista os espaços que a Holanda tinha para avançar e chutar da entrada da área - Esmee Brugts fez isso aos 16', e Roord, aos 21' e aos 26', com Gibson pegando as duas tentativas -, era de se prever vitória tranquila das Leoas Laranjas. 

Previsão que se acabou aos 27', num erro da defesa: Caitlin Dijkstra mandou a bola nos pés de Emma Lawton, que cruzou com precisão para Kathleen Mary McGovern cabecear e fazer 1 a 1 (de volta ao gol, Daphne van Domselaar tentou rebater, mas a bola entrou). A partir dali, a Escócia começou a avançar mais, como se notou no chute cruzado de Mia McAuley, aos 38', para fora, em jogada originada de mais um erro de passe. Pelo menos, a Holanda ainda teve chances na reta final da etapa inicial: novo chute de Roord aos 34', um desvio de Romée Leuchter completando escanteio aos 38', um cabeceio de Victoria Pelova (aniversariante do dia) aos 39', todos rebatidos pela goleira escocesa.

Ficaria pior, para a Holanda. Porque se a Escócia atacou mais nos contragolpes durante os primeiros 45 minutos, no segundo tempo ela dominou. A começar aos 49', quando McAuley forçou Van Domselaar a defender seu chute. Aos 63', Erin Cuthbert arrematou, e com um desvio, a bola passou perto da trave esquerda. E Van Domselaar mostrou a boa fase que vive no gol, na reta final: aos 83', defendeu o arremate de Kirsty Howat, e aos 88', após Brugts errar mais um passe, gerando contra-ataque escocês, Martha Thomas bateu para a camisa 1 holandesa evitar à queima-roupa. A Holanda? Só teve chance digna de nome aos 80', num chute de Roord rente à trave.

Nada que evitasse a incômoda impressão de que a esperança de uma boa Eurocopa ficou menor para a Holanda, após estas datas FIFA. E que o sinal está praticamente vermelho. Só se espera que, após alguns dias de férias, a preparação a partir do dia 19 volte a abri-lo.

Liga das Nações da UEFA - Liga A - Grupo 1

Alemanha 4x0 Holanda
Data: 30 de maio de 2025
Local: Weserstadion (Bremen)
Árbitra: Alina Pesu (Romênia)
Gols: Linda Dahlmann, aos 9', Lea Schüller, aos 25' e aos 48', e Sarai Linder, aos 45'

ALEMANHA
Ann-Katrin Berger; Giulia Gwinn (Carlotta Wamser, aos 81'), Janina Minge (Kathrin Hendrich, aos 56'), Rebecca Knaak e Sarai Linder; Elisa Senss (Sara Däbritz, aos 68') e Sjoeke Nüsken; Jule Brand, Linda Dallmann e Klara Bühl (Selina Cerci, aos 68'); Lea Schüller (Giovanna Hoffmann, aos 57'). Técnico: Christian Wück

HOLANDA
Lize Kop; Kerstin Casparij (Lynn Wilms, aos 46'), Dominique Janssen, Veerle Buurman e Esmee Brugts (Sherida Spitse, aos 46'); Jackie Groenen, Wieke Kaptein e Damaris Egurrola Wienke (Victoria Pelova, aos 46'); Chasity Grant, Jill Roord (Daniëlle van de Donk, aos 69') e Romée Leuchter (Katja Snoeijs, aos 84'). Técnico: Andries Jonker


Holanda 1x1 Escócia
Data: 3 de junho de 2025
Local: Koning Willem II Stadion (Tilburg)
Árbitra: Silvia Gasperotti (Itália)
Gols: Jill Roord, aos 10', e Kathleen Mary McGovern, aos 27'

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Kerstin Casparij (Lynn Wilms, aos 74'), Sherida Spitse (Dominique Janssen, aos 68'), Caitlin Dijkstra e Esmee Brugts; Victoria Pelova (Katja Snoeijs, aos 85'), Wieke Kaptein e Jackie Groenen; Daniëlle van de Donk (Chasity Grant, aos 68'); Jill Roord (Damaris Egurrola, aos 85') e Romée Leuchter. Técnico: Andries Jonker

ESCÓCIA
Lee Alexander Gibson; Emma Louise Lawton, Sophie Howard (Rachel MacLauchlan, aos 46'), Jenna Clark e Amy Muir; Kirsty MacLean (Emma Watson, aos 90' + 4), Erin Cuthbert e Caroline Weir; Mia McAuley (Kirsty Howat, aos 56'), Kathleen Mary McGovern (Martha Thomas, aos 56') e Freya Gregory (Kirsty Smith, aos 46'). Técnico: Melissa Andreatta


quarta-feira, 28 de maio de 2025

O que importa é a Euro, mas...

A seleção feminina da Holanda (Países Baixos) até terá seu interesse em avançar às semifinais da Liga das Nações, mas encara as datas FIFA pensando na preparação para a Eurocopa (Reprodução)

"Só uma coisa importa. Usaremos este período para nos prepararmos rumo à Eurocopa." Por estas frases do técnico Andries Jonker, na entrevista coletiva de apresentação, já fica claro: a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) estará nas duas últimas rodadas da fase de grupos da Liga das Nações, tem até chance de ainda avançar às semifinais... mas pensará principalmente nos últimos ajustes para a convocação e a reta final da preparação para a Euro feminina, na Suíça, em julho. É com esse espírito, pensando (um pouco) menos em vencer e mais em se aprumar, que as Leoas Laranjas enfrentarão a Alemanha - nesta sexta, 30 de maio, às 15h30 de Brasília, na cidade alemã de Bremen - e a Escócia, fechando o grupo 1 da liga A - na próxima terça, 3 de junho, em Tilburg, também às 15h30 de Brasília.

De certa forma, a convocação para as duas partidas já indicou: ao contrário do que pareceu em 2024, Andries Jonker ainda apostará em boa parte da "geração Euro-2017" para a próxima edição do torneio europeu de seleções de mulheres. Um indício quase gritante disso está no retorno de mais uma veterana às convocações: após um ano e três meses, a atacante Shanice van de Sanden foi novamente relacionada. À primeira vista, pode parecer (e até é) apego excessivo ao passado. Nem tanto, ao se reparar que Van de Sanden marcou sete gols nos últimos quatro jogos que fez pelo Toluca, clube em que atua no México desde janeiro. E como a Liga MX Femenil já tem uma outra representante veterana entre as holandesas (Merel van Dongen, nas Rayadas de Monterrey), fica relativamente justificada a presença da veterana, que avaliou à emissora NOS a roda-viva por que passou nos últimos anos: "Eu me tornei mãe, tive algumas lesões no tornozelo, no tendão de Aquiles (...) Agora está tudo certo: me sinto em forma e posso entregar o que sou capaz de entregar em campo". E foi além: "Fiz isso [jogar no México] também para tentar ir à Euro".


Talvez também tenha sido a vontade de deixar "tudo certo" o motivo para uma mudança que foi tema na coletiva de imprensa de Andries Jonker: a atacante Jill Roord voltando (inesperadamente) ao Twente em que começou a jogar, oito anos depois de deixar os Países Baixos. Roord voltara de séria lesão - ligamento cruzado anterior do joelho - mostrando boas atuações no Manchester City, teria espaço nas Citizens... mas preferiu voltar. O motivo foi até compreensível, explicado no vídeo em que comentou seu retorno ao recém-coroado bicampeão holandês entre as mulheres: "Joguei por clubes fantásticos no exterior, dei tudo de mim por oito anos... mas nos últimos anos, perdi mais o meu prazer de jogar futebol, a minha felicidade. E já acho que vou recuperá-la aqui [no Twente]". Mesmo assim, o técnico até brincou com a surpresa que Roord causou, ao deixar a mais competitiva liga europeia da atualidade para voltar à sua "casa": "Eu quase caí da cadeira, por essa eu não esperava".

Jonker foi mais sério ao criticar o calendário das datas FIFA femininas - com alfinetada especial à própria Liga das Nações ("Essas mulheres sempre precisam continuar jogando. Sempre. As pessoas pensam que elas nunca precisam descansar. Uma hora o gás acaba"). Criticou até mesmo a antecipação da revelação de que Arvid Smit e Janneke Bijl, seus atuais auxiliares técnicos, deixarão a Holanda após a Eurocopa feminina ("Tenho minhas opiniões, mas acho melhor nem falar nada"), rumando para trabalharem ao lado de Sarina Wiegman na comissão técnica da Inglaterra, adversária na fase de grupos da Euro. Em sentido contrário, aliás, virá... Arjan Veurink, atual auxiliar de Sarina (não só nas Lionesses, mas desde os tempos em que ela era a treinadora holandesa), para comandar as Leoas Laranjas após a Eurocopa.

Jonker ressaltou que a Euro é o foco: "Claro, se pudermos vencer na Nations League, pode ser legal, mas tudo gira em torno da Euro". Até por isso, não pestanejará em poupar contra a Alemanha Vivianne Miedema, ainda voltando da lesão muscular sofrida justamente nas últimas datas FIFA ("Espero poder jogar alguns minutos contra a Escócia", desejou a atacante à ESPN holandesa), nem Lineth Beerensteyn, atual goleadora da Liga das Nações, também machucada. Jonker também deixará de fora outra titular absoluta - e muito motivada: a goleira Daphne van Domselaar, celebrada no Arsenal campeão europeu de mulheres. Vinda da festa da vitória em Londres direto para a concentração no centro da federação, na cidade de Zeist, Van Domselaar era só alegria na apresentação ("É fantástico, ainda parece mentira"). Mas até por ainda vir de lesão no tornozelo - para jogar as fases decisivas da Champions, foi poupada nas últimas rodadas da Super League inglesa -, a goleira verá Lize Kop titular contra as alemãs. Entre a dupla holandesa do Arsenal campeão, talvez só jogue Victoria Pelova, também com as memórias da festa na cabeça ("O que vou dizer mais? Foi incrível, foi inesquecível").

Pelova (centro) demorou mais para voltar da festa do título do Arsenal campeão europeu de mulheres, mas vai jogar. Ao contrário de Van Domselaar, que voltou antes, mas está fora contra a Alemanha (KNVB Media/Soccrates Images/Divulgação)

No entanto, mesmo que a Eurocopa importe mais... jogo competitivo é jogo competitivo. E o próprio Andries Jonker lembrou isso, na entrevista coletiva: "Nesta semana, o que importa é a Euro. Mas claro que queremos ganhar". Até porque, na Liga das Nações, nem o empate bastará: com dez pontos no grupo 1 da Liga A, como a Alemanha, a Holanda está atrás no saldo de gols. Então, para tentar ir às semifinais, não há jeito: é necessário ganhar em Bremen para passar à liderança e depender só de si. Ou seja: o que importa é a Eurocopa. Mas se a Holanda avançar na Liga das Nações, ninguém vai chorar. Nem mesmo com um calendário cada vez mais lotado...

As 23 convocadas da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA

Goleiras: Daphne van Domselaar (Arsenal-ING), Lize Kop (Tottenham Hotspur-ING) e Daniëlle de Jong (Twente) - Regina van Eijk (Ajax) estará no grupo contra a Alemanha, substituindo Van Domselaar, que não será relacionada

Defensoras: Kerstin Casparij (Manchester City-ING), Lynn Wilms (Wolfsburg-ALE), Sherida Spitse (Ajax), Dominique Janssen (Manchester United-ING), Caitlin Dijkstra (Wolfsburg-ALE), Veerle Buurman (PSV), Ilse van der Zanden (Utrecht) e Merel van Dongen (Rayadas de Monterrey-MEX)

Meio-campistas: Daniëlle van de Donk (Lyon-FRA), Jackie Groenen (Paris Saint Germain-FRA), Damaris Egurrola Wienke (Lyon-FRA), Wieke Kaptein (Chelsea-ING), Jill Baijings (Aston Villa-ING) e Victoria Pelova (Arsenal-ING)

Atacantes: Lineth Beerensteyn (Wolfsburg-ALE), Jill Roord (Manchester City-ING), Vivianne Miedema (Manchester City-ING), Esmee Brugts (Barcelona-ESP), Renate Jansen (PSV), Katja Snoeijs (Everton-ING), Chasity Grant (Aston Villa-ING), Romée Leuchter (Paris Saint Germain-FRA) e Shanice van de Sanden (Toluca-MEX).

terça-feira, 8 de abril de 2025

(In)satisfação

Seria bom se a Holanda/Países Baixos só comemorasse as vitórias contra a Áustria na Liga das Nações feminina, ou mesmo o recorde de Spitse (como na foto). Mas as machucadas amenizaram um pouco a satisfação (KNVB Media/Divulgação)

"Estou feliz pelas vitórias, mas estou triste pelas lesões". Em uma só frase, Andries Jonker, técnico da seleção feminina da Holanda/Países Baixos, resumiu as impressões sobre as duas partidas feitas contra a Áustria, pelas terceira e quarta rodadas da Liga das Nações. As atuações nas vitórias por 3 a 1, em casa (sexta-feira passada) e fora (nesta terça), mostraram até bom nível, em que pesem algumas desatenções. Entretanto, algumas machucadas saíram dos jogos causando preocupação para a sequência da preparação rumo à Eurocopa de mulheres.

Nos primeiros minutos da primeira partida, em Almelo, o cenário pareceu preocupante para as Leoas Laranjas: a Áustria pressionava muito o trio de zagueiras, que se atrapalhava com os recuos de bola. Lances como um cabeceio da zagueira Virginia Kirchberger, aos 5', para fora, e um chute da meio-campista Annabel Schasching, bloqueado por Dominique Janssen, faziam crer que a mudança para um esquema com três zagueiras e três atacantes poderia dar errado. Começou a dar certo aos 12': no primeiro ataque holandês, o primeiro gol - após jogada individual de Lineth Beerensteyn mal afastada pela defesa austríaca, a bola ficou para Jackie Groenen voltar a marcar, de fora da área, num chute no canto esquerdo da goleira Manuela Zinsberger.

A partir daí, a Holanda estabeleceu domínio no jogo. Pela próxima chance que teve (chute de Beerensteyn rebatido por Zinsberger, aos 19'), poderia parecer que as Leoas Laranjas seguiam apostando nas bolas longas para a atacante do Wolfsburg. Que nada: Groenen apareceu muito e bem no meio, assim como Wieke Kaptein e Damaris Egurrola Wienke. E as chances se sucederam: Damaris de cabeça, aos 20', mais um chute de Groenen, aos 23', ambos pegos por Zinsberger. De vez em quando, porém, nos recuos para se proteger, a Holanda errava na defesa. Só aí a Áustria tinha chances. Nem tanto aos 24', quando Daphne van Domselaar tocou tão forte na bola que Veerle Buurman sequer conseguiu dominar, cedendo escanteio "de graça". Mas sim aos 30', quando Jill Roord inverteu errado a bola, esta foi interceptada e passada a Sarah Zadrazil, que chutou na trave. 

De certa forma, foram falhas que deram plena razão à reclamação exigente do técnico Andries Jonker, após o jogo, à emissora NOS: "Não jogamos bem, perdemos muitas bolas. Não havia foco, nem concentração (...) Precisamos aumentar nosso nível. A régua é alta, quando se quer ser campeão europeu". Talvez seja algo exagerado, tendo em vista que a Holanda fez o segundo gol logo no início da etapa final (Damaris, aos 48', desviando de cabeça o escanteio de Brugts), e até marcou o terceiro, com Sherida Spitse convertendo pênalti - Beerensteyn foi agarrada por Kirchberger -, três minutos após substituir Caitlin Dijkstra. Mas talvez a queixa de Jonker tenha lá seu fundo de verdade ao se ver que a Áustria cresceu na reta final do jogo, com Van Domselaar precisando fazer duas boas defesas (aos 69', em chute de Maria Höbinger, e aos 81', cara a cara com Carina Brunold, que acabara de entrar em campo). E principalmente, com o gol de honra até merecido das austríacas, já nos acréscimos, quando Maria Plattner completou contra-ataque com campo livre.

Volta a campo no primeiro jogo, participação em dois gols no segundo: Victoria Pelova teve motivos para sorrir (KNVB Media/Divulgação)

Aliás, tal gol rendeu a primeira insatisfação à Holanda/Países Baixos: ao sair do gol para tentar impedir que Plattner marcasse, Van Domselaar torceu o tornozelo, se machucou - e terminaria por ser desligada da delegação, no domingo, até por preservação. Viagem feita à Áustria, Andries Jonker fez nada menos do que cinco alterações na escalação para o jogo desta terça, na cidade de Altach. Uma delas, claro, obrigatória: a entrada de Lize Kop no gol. Outras, até previstas, como Sherida Spitse e Dominique Janssen começando o jogo. Algumas, ainda, surpreendentes, como Victoria Pelova indo para a frente, ao lado de Lineth Beerensteyn. Só que as insatisfações aumentaram, porque a Áustria não só começou pressionando de novo, como desta vez abriu o placar, aos 9': Viktoria Pinther aproveitou erro de Esmee Brugts, veio à área pela direita, cruzou, e Julia Hickelsberger desviou para o 1 a 0 das donas da casa.

A insatisfação só não aumentou porque, assim que o jogo recomeçou, Pelova veio pela esquerda, tocou, e Wieke Kaptein bateu (com desvio na zagueira Virginia Kirchberger) para o 1 a 1. Mas só no decorrer do primeiro tempo é que as Leoas Laranjas se estabeleceram. Na base do toque de bola e de algumas boas atuações - Pelova, Van de Donk -, saiu-se da repetitiva estratégia "bola-alta-para-Beerensteyn-ganhar-na-corrida", e as chances neerlandesas começaram a aparecer: um cabeceio de Van de Donk aos 19' (bloqueado pela zagueira Wenger), chutes de Pelova (20'), Beerensteyn (31'), Spitse (33') e Van de Donk (38'), todos defendidos por Manuela Zinsberger. Com mais rapidez, a defesa também parou de dar sustos - em que pese bola que Kerstin Casparij afastou aos 30', após má saída de gol de Kop, em falta cobrada por Maria Höbinger.

No segundo tempo, a superioridade holandesa continuou. Mas faltava um gol para confirmá-la. Ele veio aos 57', em jogada até involuntariamente coletiva (de Brugts para Beerensteyn, desta para rebote parcial da defesa, Pelova chutou, a bola bateu na trave, e Van de Donk só precisou desviar para o gol vazio). Mais tranquila, a equipe dos Países Baixos até trouxe a campo titulares como Damaris Egurrola Wienke e Vivianne Miedema. Esta brilhou como às vezes faz, no belíssimo terceiro gol, aos 69' (após lançamento em profundidade de Brugts, "Viv" deu drible curto em Sarah Puntigam antes do chute forte no ângulo esquerdo de Zinsberger). Mas voltou a assustar, apenas 14 minutos após entrar em campo, ao voltar a sentir dores e ter de ser substituída - fala-se em lesão no músculo posterior da coxa ou, até, novo rompimento de ligamento cruzado anterior. De quebra, Wieke Kaptein terminou o jogo mancando, mesmo sem sair de campo, com dores claras nos pés.

Mais uma insatisfação. Que amenizou um pouco a satisfação que a Holanda pode sentir com a sua recordista, Sherida Spitse, a pessoa da Europa com mais jogos por uma seleção de futebol, entre homens e mulheres - 241 partidas, superando o recorde feminino da sueca Caroline Seger, já à frente da maior marca masculina (as 219 partidas de Cristiano Ronaldo por Portugal). Pelo menos, no geral, o saldo das Leoas Laranjas foi bom nestas datas FIFA. A ver se as alternâncias de escalação serão menores nas duas últimas rodadas da Liga das Nações, em maio/junho, contra Alemanha (fora) e Escócia (casa). E a ver se as machucadas de agora estarão lá...

Liga das Nações da UEFA - Liga A - Grupo 1

Holanda 3x1 Áustria
Data: 4 de abril de 2024
Local: Polman/Asito Stadion (Almelo)
Árbitra: Désirée Grundbacher (Suíça)
Gols: Jackie Groenen, aos 12', Damaris Egurrola, aos 48', Sherida Spitse, aos 76', e Maria Plattner, aos 90' + 4

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Caitlin Dijkstra (Sherida Spitse, aos 72'), Dominique Janssen e Veerle Buurman; Jackie Groenen, Wieke Kaptein (Chasity Grant, aos 62'), Jill Roord (Victoria Pelova, aos 62') e Damaris Egurrola Wienke; Lineth Beerensteyn, Vivianne Miedema (Daniëlle van de Donk, aos 72') e Esmee Brugts (Lynn Wilms, aos 83'). Técnico: Andries Jonker

ÁUSTRIA
Manuela Zinsberger; Laura Wienroither, Claudia Wenger, Virginia Kirchberger e Verena Hanshaw (Chiara D'Angelo, aos 80'); Sarah Zadrazil, Annabel Schasching, Sarah Puntigam (Maria Plattner, aos 63') e Marie Höbinger (Sophie Hillebrand, aos 87'); Viktoria Pinther (Carina Brunold, aos 80') e Lilli Purtscheller (Julia Hickelsberger, aos 62'). Técnico: Alexander Schriebl


Áustria 1x3 Holanda
Data: 8 de abril de 2024
Local: Cashpoint Arena/Schnabelholz (Altach)
Árbitra: Ewa Augustyn (Polônia)
Gols: Julia Hickelsberger, aos 9', Wieke Kaptein, aos 10', Daniëlle van de Donk, aos 57', e Vivianne Miedema, aos 69'

ÁUSTRIA
Manuela Zinsberger; Laura Wienroither, Claudia Wenger, Virginia Kirchberger (Marina Georgieva, aos 85') e Verena Hanshaw; Sarah Zadrazil (Laura Feiersinger, aos 62'), Annabel Schasching, Sarah Puntigam (Maria Plattner, aos 73') e Marie Höbinger (Carina Brunold, aos 85'); Viktoria Pinther (Lilli Purtscheller, aos 62') e Julia Hickelsberger. Técnico: Alexander Schriebl

HOLANDA
Lize Kop; Chasity Grant (Lynn Wilms, aos 74'), Sherida Spitse, Ilse van der Zanden e Kerstin Casparij (Dominique Janssen, aos 46'); Wieke Kaptein, Daniëlle van de Donk (Vivianne Miedema, aos 62') (Renate Jansen, aos 76') e Jackie Groenen; Victoria Pelova (Damaris Egurrola Wienke, aos 62'), Lineth Beerensteyn e Esmee Brugts. Técnico: Andries Jonker

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Para definir as coisas

O técnico Andries Jonker voltou a ter os destaques da seleção feminina da Holanda (Países Baixos) à disposição. Agora, é definir as coisas contra a Áustria - e para a Euro (KNVB Media/Divulgação)

Nas duas primeiras rodadas da Liga das Nações feminina, ainda se podia cogitar que a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) hesitava sobre qual caminho seguir - não só na escalação em si, mas na preparação para a Eurocopa de mulheres que vem aí. Pois bem: nestas datas FIFA de abril, com dois encontros contra a Áustria pela Nations League (a ida, na cidade holandesa de Almelo, nesta sexta, 4, às 15h de Brasília; a volta, na austríaca Altach, na terça, 8, às 13h55 de Brasília), o clima é de definição nas Leoas Laranjas. A começar pelo comportamento do técnico Andries Jonker.

Se começou os trabalhos de fevereiro lamentando o anúncio da sua saída após a Euro, com o fim de seu contrato, agora Jonker até cita, de leve, os pensamentos para a sequência de sua carreira ("Precisa ser algo que tenha significado, que me faça sentir algo. (...) Se é treinar um clube ou uma seleção? Isso está completamente em aberto. Em todo caso, não penso em ir trabalhar do outro lado do mundo. Já recusei algumas oportunidades"). Principalmente, Jonker prefere se focar num fator muito importante para a reta final de seu trabalho com a seleção de mulheres: "No fim de semana passado, eu pensei 'quando poderemos ter todas à disposição?'. Conforme o momento [da apresentação] foi chegando, comecei a acreditar cada vez mais. E por fim, aconteceu. É a primeira vez [que tenho todas à disposição] desde a Copa de 2023. Passei 2024 inteiro pensando 'quem é que eu vou escalar?'. Agora, estão todas em forma. E às vésperas da Eurocopa".

De fato. Vivianne Miedema, por exemplo, está aí de novo, deixando cada vez mais as lesões decorrentes da recuperação do rompimento de seu ligamento cruzado anterior para fora. Damaris Egurrola Wienke, ausente das primeiras rodadas da Liga das Nações, está de volta. Assim como o principal destaque da convocação: Victoria Pelova. É bem certo que o retorno da meio-campista à seleção, quase um ano depois de também romper ligamento cruzado anterior, tem algo de precipitação: quando nada, porque Pelova voltou a campo pelo Arsenal há somente duas semanas. 

Após dez meses, Victoria Pelova está de volta às Leoas Laranjas. Por mais precipitado que possa parecer, ela queria isso (BSR Agency)

Entretanto, a própria deixou clara sua vontade com o retorno: "Sempre quero jogar pela seleção". Pelova foi além, comentando a dificuldade comum na recuperação de contusões longas como a que teve ("Os últimos meses foram os mais difíceis, porque você já voltou [a treinar], mas ainda não está de volta, ainda precisa jogar") e a gratidão por duas colegas de seleção que viveram o mesmo drama ("Convivi muito com Jill [Roord] e Viv [Miedema]. Elas me ajudaram demais (...) Jill e eu tivemos o mesmo problema, até o mesmo cirurgião nos operou. E 'Viv' até viajou de avião para me visitar".

Só que, mesmo com todas as principais jogadoras à disposição, Jonker ainda tem coisas a resolver na equipe que vai a campo. Principalmente no miolo de zaga. Na estreia pela Liga das Nações, contra a Alemanha, jogaram juntas Caitlin Dijkstra e Veerle Buurman; nos 2 a 1 contra a Escócia, a defesa foi formada por Sherida Spitse e Dominique Janssen. Tais escalações geraram algumas questões: Buurman, jovem promissora, chegará à Euro como titular? E Spitse, de tanta experiência, começará o torneio continental no banco? O treinador desconversou: "O miolo de zaga que vocês verão na sexta-feira não será necessariamente o miolo de zaga titular na Euro. Nestas datas FIFA, veremos também se as jogadoras estão cansadas. Mas concordo que é um quebra-cabeça".

Outras dúvidas estão na tática: "Se pode ser um 3-5-2, para termos mais gente no meio? Pode ser. Mas também precisamos de jogadoras que façam o serviço sujo. Devemos ter equilíbrio". Nisso, Esmee Brugts causa dúvidas: será ponta ou ala, na esquerda ("Claro que sou mais uma atacante, mas está tudo bem [se eu jogar] como lateral esquerda. Ainda sou muito jovem e tenho muito a aprender")? E a convocação final para a Eurocopa feminina, terá veteranas como Merel van Dongen ("Nunca direi não para a seleção", prometeu a lateral esquerda à NOS) ou voltará a lembrar jovens como a meia Nina Nijstad ("Ainda sou levada em conta", comentou Nijstad ao diário Leeuwarder Courant)? Os jogos contra a Áustria devem ser vencidos, por se tratar de competição. Mas também devem ser usados para definir as coisas.

As 24 convocadas da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA

Goleiras: Daphne van Domselaar (Arsenal-ING), Lize Kop (Tottenham Hotspur-ING) e Daniëlle de Jong (Twente)

Defensoras: Kerstin Casparij (Manchester City-ING), Lynn Wilms (Wolfsburg-ALE), Sherida Spitse (Ajax), Dominique Janssen (Manchester United-ING), Caitlin Dijkstra (Wolfsburg-ALE), Veerle Buurman (PSV), Ilse van der Zanden (Utrecht) e Merel van Dongen (Rayadas de Monterrey-MEX)

Meio-campistas: Daniëlle van de Donk (Lyon-FRA), Jackie Groenen (Paris Saint Germain-FRA), Damaris Egurrola Wienke (Lyon-FRA), Wieke Kaptein (Chelsea-ING), Jill Roord (Manchester City-ING) e Victoria Pelova (Arsenal-ING)

Atacantes: Lineth Beerensteyn (Wolfsburg-ALE), Vivianne Miedema (Manchester City-ING), Esmee Brugts (Barcelona-ESP), Renate Jansen (PSV), Katja Snoeijs (Everton-ING), Chasity Grant (Aston Villa-ING) e Romée Leuchter (Paris Saint Germain-FRA).

domingo, 23 de março de 2025

O lado ruim e o lado bom

A Holanda (Países Baixos) perdeu de novo, caindo nas quartas da Liga das Nações. Só que deixou uma impressão das mais promissoras para as eliminatórias. Não só pela técnica, mas principalmente pela vontade (Roy Lazet/Soccrates/Getty Images)

Poderia ter dado muito errado. Quase deu certo. A seleção masculina da Holanda (Países Baixos) amarga mais uma eliminação, contra a Espanha, nas quartas de final da Liga das Nações, e este é um lado sempre ruim. Entretanto, no 3 a 3 do empolgante jogo de volta, só decidido nos 5 a 4 espanhóis nas cobranças da marca do pênalti, a Laranja mostrou algo que havia muito tempo não mostrava: vontade de vencer, esforço, intensidade. E mesmo no momento ruim de mais uma eliminação, sem dúvida nenhuma esse ponto fez com que torcida e imprensa relativizassem o mau resultado. Mais do que isso: esse "lado bom" deu uma indicação das mais promissoras para o que vem por aí.

Não parecia que seria assim, porque o recuo perigoso de Frenkie de Jong, que colocou o goleiro Bart Verbruggen sob risco logo no primeiro minuto de jogo (Verbruggen precisou dar chute às pressas na pequena área), já indicou qual seria o nível de pressão da Espanha logo no começo do jogo. Com lentidão na zaga, a Holanda começava a ficar perigosamente acuada. Não deu outra: logo aos 8', após rápida troca de passes, Mikel Oyarzábal caiu após ser acossado por Jan Paul van Hecke na área, o pênalti foi marcado, e o próprio Oyarzábal bateu para o 1 a 0 espanhol no estádio Mestalla.

Se fosse só isso, já seria difícil. Ficava pior ainda com a falta de intensidade holandesa na marcação no meio (a toda hora, Frenkie de Jong precisava voltar para um "trio de zagueiros", com Van Hecke e Virgil van Dijk), e com a dificuldade de Lutsharel Geertruida na marcação a Nico Williams. Tanto que as chances holandesas se avolumavam: Nico Williams quase fez o segundo aos 12' (grande defesa de Verbruggen, raro ponto positivo laranja), Robin Le Normand tentou de cabeça no minuto seguinte... mesmo lances irregulares mostravam a pressão da Fúria/Roja (Verbruggen fez outra grande defesa em tentativa de Nico Williams aos 24', mas Oyarzábal estava impedido ao passar). Aos poucos, até que a Laranja conseguiu avançar. Conseguiu até algumas chances. Mas só em chutes de fora da área: Tijjani Reijnders na entrada dela aos 15', Justin Kluivert aos 23', Geertruida aos 35'. Nada que perturbasse de fato os donos da casa.

Que poderiam até perturbar mais, logo no começo do segundo tempo, quando Nico Williams cruzou, Dani Olmo completou e só Frenkie de Jong cortou. Mas o começo preocupante começou a ser neutralizado aos 47', numa tentativa até perigosa de Justin Kluivert (Unai Simón saiu do gol e rebateu). E foi definitivamente neutralizado aos 54', quando Memphis Depay foi puxado por Le Normand, o pênalti foi marcado, e o camisa 10 holandês abrilhantou seu 100º jogo pela Laranja fazendo seu 47º gol por ela, cobrando no meio do gol para empatar. O empate animou de vez os neerlandeses, que voltaram a atacar, vivendo o melhor momento no jogo: foi Jeremie Frimpong batendo por cima do gol aos 56', Unai Simón rebatendo nova tentativa de Memphis aos 57'... a Holanda estava empolgada.

Maatsen roubou a cena na lateral esquerda, em sua estreia na Laranja: errou no lance do segundo gol espanhol, mas jogou bem, e foi coroado com o gol do empate no tempo normal. Deixou claro que pode ser titular (Roy Lazet/Soccrates/Getty Images)

Tão empolgada que deixou espaços atrás. Que a Espanha ensaiou aproveitar (chute de Lamine Yamal na entrada da área aos 60', arremate de Nico Williams afastado por Verbruggen aos 61'), até que aproveitou, aos 68'. Um rápido contra-ataque originado de perda de bola de Maatsen deixou Nico Williams livre, o atacante chegou à área e passou para Oyarzábal. Na primeira tentativa, Verbruggen ainda rebateu; na segunda, ele fez o segundo da Espanha. Estava acabado? Não. Porque a Holanda seguiu tentando, duas vezes com Reijnders (a primeira num toque fraco de calcanhar, aos 74', a segunda num chute mais forte, aos 76'; nas duas, defesa de Unai Simón). A vontade de atacar era tanta que vieram Donyell Malen, Noa Lang e Xavi Simons, dois pontas e um ponta-de-lança, a campo. Coube a um deles, Xavi Simons, a jogada do empate, aos 79': após perda de bola de Le Normand, Xavi deixou Maatsen livre, para ele abrilhantar sua estreia na Laranja com chute que estufou a rede para o 2 a 2, aos 79'.

E a partida no Mestalla ficou como se gostava. De um lado, a Espanha ofensiva e atenta, como numa jogada de Yamal que De Jong bloqueou aos 83', ou mesmo na tentativa colocada de Nico Williams (talvez o melhor dos 120 minutos), que Verbruggen defendeu; do outro, uma seleção da Holanda que mostrava espírito de luta como não se via, talvez, desde a Copa de 2014, se defendendo e ainda tentando coisas como um chute perigoso de Reijnders, aos 87'. A prorrogação foi inevitável. E nela, as alternâncias seguiram.

Porque, quando Lamine Yamal fez 3 a 2, aos 104' (14 minutos do primeiro tempo da prorrogação), no seu melhor estilo - recebendo passe de Huijsen, driblando Maatsen e chutando de pé esquerdo, colocado, no canto direito de Verbruggen -, pareceu que a Espanha enfim se veria livre. Não se viu. Porque bastou a segunda parte do tempo extra começar para, numa rápida jogada, Xavi Simons receber de Malen, e ser derrubado pelo goleiro Unai Simón - na sequência, outro pênalti poderia ser marcado (Malen finalizou, e a bola bateu na mão de Pedro Porro), mas foi marcado pela falta de Unai Simón. Fosse como fosse, Xavi bateu e empatou a partida, na primeira vez em que a Holanda corria três vezes atrás do empate num jogo de seleções no futebol masculino desde 1951. O que mostrava o tamanho da vontade laranja, jogando de azul. Que teve a chance da virada, praticamente no último lance do jogo, quando Malen arriscou, mas bateu fraco demais, e Unai Simón perdeu.

Xavi Simons (de costas) empatou na prorrogação e mostrou: o poder de reação da Holanda não tinha acabado. Desde 1951 ela não buscava três vezes o empate (Marcel ter Bals/DeFodi Images/DeFodi via Getty Images)

Nas cobranças da marca do pênalti, os dois goleiros, Unai Simón e Verbruggen, iam bem, mas os cobradores foram ainda melhores. Até Noa Lang perder o quarto chute neerlandês, batendo no travessão. Perda neutralizada por Lamine Yamal também desperdiçar seu chute, batendo fraco para Verbruggen pegar. E as cobranças seguiram, até Malen acrescentar seu capítulo ao rosário de decepções da Laranja, vendo Unai Simón defender a sexta cobrança e, logo depois, Pedri fazer o 5 a 4 que eliminou os neerlandeses.

Mais uma derrota. Mais uma chance de título perdida. Só que o consolo está aí. Mostrando esta intensidade, com os bons jogadores que tem, a Holanda tem plena chance de passar bem pelo grupo E das eliminatórias da Copa de 2026, contra Polônia, Finlândia, Lituânia e Malta. Mais do que isso: tem plena chance de garantir vaga direta, reservada apenas ao líder do grupo. Basta seguir o exemplo que estas datas FIFA deixaram. E, claro, se cuidar para que o final seja diferente.

Liga das Nações da UEFA - Quartas de final - jogo de volta

Espanha 3x3 Holanda - Espanha 5x4 nos pênaltis

Data: 23 de março de 2025
Local: Mestalla (Valência)
Árbitro: Clément Turpin (França)
Gols: Mikel Oyarzábal, aos 8' e aos 67', Memphis Depay, aos 54', Ian Maatsen, aos 79', Lamine Yamal, aos 104', Xavi Simons, aos 109'
Ordem dos pênaltis: Van Dijk (1 a 0), Merino (1 a 1), Koopmeiners (2 a 1), Ferran Torres (2 a 2), Xavi Simons (3 a 2), Áleix García (3 a 3), Noa Lang (3 a 3, chutou no travessão), Lamine Yamal (3 a 3, Verbruggen pegou), Taylor (4 a 3), Áleix Baena (4 a 4), Malen (4 a 4, Unai Simón pegou) e Pedri (5 a 4)

ESPANHA
Unai Simón; Oscar Mingueza (Pedro Porro, aos 94'), Robin Le Normand, Dean Huijsen e Marc Cucurella; Dani Olmo (Pedri, aos 84'), Martín Zubimendi (Áleix García, aos 106') e Fabián Ruiz (Mikel Merino, aos 84'); Lamine Yamal, Mikel Oyarzábal (Ferran Torres, aos 69') e Nico Williams (Álex Baena, aos 117'). Técnico: Luis de la Fuente

HOLANDA
Bart Verbruggen; Lutsharel Geertruida (Donyell Malen, aos 78'), Virgil van Dijk, Jan Paul van Hecke e Ian Maatsen; Tijjani Reijnders (Teun Koopmeiners, aos 110') e Frenkie de Jong (Kenneth Taylor, aos 106'); Jeremie Frimpong, Justin Kluivert (Xavi Simons, aos 78') e Cody Gakpo (Noa Lang, aos 77'); Memphis Depay (Brian Brobbey, aos 101'). Técnico: Ronald Koeman


quinta-feira, 20 de março de 2025

É possível acreditar

O começo preocupou, mas a seleção da Holanda (Países Baixos) cresceu contra a Espanha, na Liga das Nações. O empate abateu um pouco, mas a impressão do 2 a 2 foi positiva (KNVB Media/Divulgação)

Terminada a ida das quartas de final da Liga das Nações, na transmissão da emissora holandesa NOS, o ex-jogador e comentarista Pierre van Hooijdonk exultou: "A atuação da Holanda foi fantástica". Não é para tanto: afinal, a partida contra a Espanha terminou com empate em 2 a 2, em De Kuip. Ainda assim, de fato, a impressão passada pela Laranja foi melhor do que se esperava, ainda mais saindo atrás no placar. Conseguindo reverter o melhor começo da adversária, cresceu em campo, teve jogadores aparecendo em momentos importantes, e trouxe a competitividade que às vezes lhe falta. Só faltou a atenção máxima em momentos decisivos, como mostrou o gol de empate espanhol.

Quando a partida começou, a Espanha tentou rapidamente impor seu estilo de velocidade e eficiência, além da troca de passes. Já tentou o gol aos 2', quando Fabián Ruiz passou, Pedri chutou e Bart Verbruggen teve de defender. Até que a Holanda tentou avançar no lance seguinte, quando Tijjani Reijnders invrteu o jogo, e Cody Gakpo dominou e chutou, para fora. Só que uma infelicidade de Jorrel Hato, tendo a responsabilidade de marcar Lamine Yamal, rendeu o gol que poderia desestabilizar a Laranja. Aos 9', Hato errou, Yamal lhe roubou a bola, passou a Pedri, e este deixou Nico Williams livre na entrada da pequena área para fazer 1 a 0. Começava aí o pior momento da seleção neerlandesa: lenta, permitia a troca de passes, dava espaços aos espanhóis. Que o dissesse Álvaro Morata, que cabeceou para fora aos 19'.

Só que havia quem se esforçasse na Holanda. Tijjani Reijnders e Frenkie de Jong, por exemplo, começavam a ter a bola no meio-campo. Se seu anúncio como titular atraía dúvidas sobre seu posicionamento (lateral direito? Ponta?), Jeremie Frimpong aos poucos deixou claro que iria mais à frente. Foi assim que participou do gol de empate que reabriu os caminhos: aos 28', ele cruzou, a bola foi parcialmente rebatida, e sobrou para Justin Kluivert deixar Gakpo livre para chutar rasteiro e empatar. Começava aí um domínio crescente dos holandeses em De Kuip. Além dos citados, Justin Kluivert também apareceu (como em cruzamento que passou direto pela área, aos 31'). Mesmo sem aparecer tanto, Memphis Depay também teve sua chance na volta à seleção, arriscando aos 36' e forçando o goleiro Unai Simón a rebater. E aos 42', Reijnders teve a grande chance da virada: após cruzamento de Frimpong, bateu da entrada da área, alto, mandando a bola desviar o travessão.

Se Reijnders e De Jong dominaram o meio-campo, Frimpong foi sempre confiável na direita, acelerando os ataques da Laranja (Joris Verwijst/BSR Agency/Getty Images)

Sem problemas. Porque, quando o segundo tempo começou, bastaram cerca de 45 segundos para a jogada se repetir, com final feliz em laranja: Frimpong cruzou da direita, Reijnders bateu da entrada da área (agora, rasteiro, no canto direito), 2 a 1. Com velocidade, a Laranja dominava os espanhóis. Ensaiava fazer o terceiro gol, em momentos como o chute de Justin Kluivert (aos 51', por cima do gol) e um arremate de Gakpo (aos 59', após inversão de jogo de Memphis Depay). E ainda se protegia bem contra o ataque espanhol, com atuação atenta da dupla formada por Virgil van Dijk e Jan Paul van Hecke.

Só a partir das entradas de Ayoze Pérez, Mikel Oyarzábal e, principalmente, Dani Olmo, a Espanha voltou a pressionar mais seriamente. A começar em lances como o chute de Dani Olmo bloqueado por Van Dijk, aos 70'. Já na reta final, um novo erro de Hato fez a pressão espanhola aumentar: num lance com a bola solta no meio, o lateral esquerdo foi tentar dividir com Robin Le Normand, acertou o tornozelo do zagueiro e foi corretamente expulso (para muitos, como o zagueiro Dean Huijsen - nascido na neerlandesa Amsterdã - deveria ter sido ao obstruir Kluivert). Exigido, o goleiro Bart Verbruggen apareceu aos 86' (pegando firme chute de Nico Williams) e aos 89' (um arremate menos perigoso de Huijsen). Porém, já nos acréscimos, uma desatenção tirou a vitória: Nico Williams tentou de novo da entrada da área, Verbruggen rebateu - um pouco atrapalhado por tanta gente na frente -, e Merino empatou na pequena área. Um claro anticlímax em Roterdã.

Anticlímax amenizado pela atuação boa, até inesperadamente boa, da seleção dos Países Baixos. Se nomes como De Jong, Reijnders e Frimpong repetirem o bom nível na volta do próximo domingo, na espanhola Valência, a Holanda pode acreditar. Aliás, pode acreditar até além, nas eliminatórias da Copa de 2026.

Liga das Nações da UEFA - Quartas de final - jogo de ida

Holanda 2x2 Espanha

Data: 20 de março de 2025
Local: De Kuip (Roterdã)
Árbitro: Glenn Nyberg (Suécia)
Gols: Nico Williams, aos 9', Cody Gakpo, aos 28', Tijjani Reijnders, aos 46', e Mikel Merino, aos 90' + 3

HOLANDA
Bart Verbruggen; Lutsharel Geertruida, Virgil van Dijk, Jan Paul van Hecke e Jorrel Hato; Tijjani Reijnders (Mats Wieffer, aos 90' + 1) e Frenkie de Jong (Teun Koopmeiners, aos 74'); Jeremie Frimpong, Justin Kluivert (Xavi Simons, aos 74') e Cody Gakpo; Memphis Depay (Matthijs de Ligt, aos 84'). Técnico: Ronald Koeman

ESPANHA
Unai Simón; Pedro Porro, Robin Le Normand, Pau Cubarsí (Dean Huijsen, aos 40') e Marc Cucurella; Pedri (Dani Olmo, aos 66'), Martín Zubimendi e Fabián Ruiz (Mikel Merino, aos 84'); Lamine Yamal (Mikel Oyarzábal, aos 66'), Álvaro Morata (Ayoze Pérez, aos 66') e Nico Williams. Técnico: Luis de la Fuente

terça-feira, 18 de março de 2025

A paciência está acabando

A seleção da Holanda (Países Baixos) teve treinos tranquilos. Mas precisa deixar o excesso de tranquilidade e ser mais intensa nas quartas da Liga das Nações, para convencer a torcida (Koen van Weel/ANP/Getty Images)

Virgil van Dijk? Está lá. Tijjani Reijnders? Também. Memphis Depay? Está de volta (e daqui a pouco se fala mais sobre ele). Frenkie de Jong? Sua presença teve alguma dúvida, mas está confirmada. Xavi Simons e Cody Gakpo? Presentes. Pois bem: está certo que Denzel Dumfries, Stefan de Vrij e Nathan Aké estão ausentes por lesão, mas o grupo da seleção masculina da Holanda (Países Baixos) tem qualidade. O trabalho de Ronald Koeman já tem dois anos. Há um certo nível técnico, notável pelos resultados: semifinal de Eurocopa em 2024, e, enfim, as quartas de final da Liga das Nações com que a Laranja iniciará este 2025. Por tudo isso, apesar da Nations League não ter a grandeza de uma Eurocopa, muito menos a de uma Copa do Mundo, a Oranje estará sob certa pressão nos dois jogos das quartas, contra a Espanha - a ida, nesta quinta (20), às 16h45 de Brasília, em Roterdã; a volta, no domingo (23), também às 16h45, em Valência. Jogos que, aliás, definem o rumo da equipe nas eliminatórias da Copa de 2026. Indo às semifinais, a Holanda irá para o grupo E da qualificação, contra Turquia, Geórgia e Bulgária; derrotada, encara o grupo G, contra Polônia, Finlândia, Lituânia e Malta.

A pressão é compreensível. Afinal de contas, mesmo podendo ser considerada a melhor seleção europeia da "segunda prateleira" na atualidade, os resultados da Holanda têm sido inconstantes. Basta dizer que, dos 16 jogos da equipe em 2024, só 8 vitórias (de resto, 4 empates e 4 derrotas). O que mais preocupa é que a Laranja sempre tem fraquejado ao pegar seleções da "primeira prateleira", nesta segunda passagem de Koeman. França? Duas derrotas (em 2023, nas eliminatórias da Eurocopa) e um empate (na fase de grupos da própria Euro, em 2024). Alemanha? Um empate e duas derrotas, todos em 2024, num amistoso e nos dois encontros pela fase de grupos da Liga das Nações. Inglaterra? Os 2 a 1 sofridos na semifinal da Euro. Itália? Pouco se lembra, mas houve um 3 a 2 sofrido para a Azzurra, na decisão de 3º e 4º lugares da Liga das Nações passada, em junho de 2023. E se a Croácia também pertence à "segunda prateleira", terceira colocada da Copa do Mundo que foi em 2022 (sem contar o vice na Copa de 2018), a Laranja tomou 4 a 2 dos croatas na semifinal da Nations League 2022/23. 

Ronald Koeman já tem certo tempo de trabalho. Quer seguir. Mas se continuar negando fogo na hora decisiva... (Koen van Weel/ANP/Getty Images)

A falta de intensidade contra grandes adversários irrita a torcida e causa desconfianças da imprensa. Em entrevista à mesa-redonda Studio Voetbal, do canal NOS, Ronald Koeman reconheceu: "Não tenho explicação para isso". Para piorar, houve desempenhos medianos até contra seleções claramente piores, como nos empates contra Hungria e Bósnia (1 a 1, ambos), na fase de grupos desta Liga das Nações. Até mesmo marcos respeitáveis, como alcançar as semifinais da Euro, são creditados muito mais à sorte que a Laranja teve no chaveamento do que propriamente à sua qualidade. O próprio treinador alertou sobre momentos ruins da Holanda na Nations League, em sua entrevista coletiva: "Não podemos ter momentos fracos, como tivemos contra a Alemanha, fora de casa. Ou mesmo contra a Hungria, em casa - foi um milagre não termos saído atrás no placar [a Holanda goleou por 4 a 0]". E mesmo que insinue pensar até em prolongar seu contrato, que vai até a Copa de 2026 ("Não estou certo se a Copa será meu último torneio na seleção"), Koeman sabe que a federação pode pensar diferente ("Ela também decide o que quer"). Uma eliminação para a Espanha, no mínimo, aumentará a pressão.

Se Koeman é o alvo das desconfianças fora de campo, dentro dele o alvo é... Memphis Depay. De volta à Laranja após pouco mais de oito meses de ausência, muito se suspeita do que o atacante do Corinthians (quem imaginaria isso, na época da Eurocopa?!) possa fazer. Alguns têm reservas a Memphis por um motivo, no mínimo, desinformado, e no máximo, preconceituoso, mesmo: o hábito eurocentrista de estranhar que o atacante tenha migrado para o Brasil, destino ainda pouco frequente para jogadores europeus. Ronald Koeman minimizou isto, em sua coletiva: "Eu falei com ele quando ele decidiu [vir para o Corinthians]. Aí acompanho. Tenho uma impressão inicial, e só tenho certeza dela quando o vejo jogar. Quando vi, me convenci de que ele ainda pode ser muito útil para o grupo".  

Preconceitos à parte, algumas desconfianças têm lá suas razões de ser. Para alguns, Koeman foi conservador demais na convocação, e poderia ousar testando nomes como Emanuel Emegha, que desponta na seleção sub-21 dos Países Baixos e tem tido seu destaque no Campeonato Francês (11 gols pelo Strasbourg). Para outros, a última impressão de Memphis vestindo laranja - ou azul - foi ruim: sua participação na Euro 2024 foi negativa, com somente um gol, dificuldades com lesões e críticas à sua falta de intensidade em campo - críticas que já se insinuam em parte da torcida corintiana, aliás. O próprio Memphis foi compreensivo, à emissora NOS, sobre sua longa ausência: "Passei um tempo inativo depois da Euro". 

De volta à Laranja após mais de oito meses, Memphis Depay corre para recuperar o tempo e o espaço perdidos (KNVB Media/Divulgação)

Contudo, é inegável que a nova experiência no Brasil anda remoçando o atacante, elogioso em suas palavras sobre o país de trabalho: "É especial jogar lá. Completamente diferente, as pessoas vivem o futebol de um jeito diferente. Eu já tinha visto um pouco na Copa de 2014, mas agora vejo todo dia". Além disso, faltam opções de ataque para a Holanda: Wout Weghorst se recupera de fratura num dedo do pé, Brian Brobbey faz temporada deficiente pelo Ajax (apenas 7 gols em 38 jogos pelo Ajax nesta temporada 2024/25, em todas as competições), e as desconfianças seguem sobre Joshua Zirkzee (o próprio Ronald Koeman disse à supracitada Studio Voetbal: "Quando estive no Brasil, liguei para ele e comentei que não o tenho achado bem. Em jogos que vi, ele tem errado em algumas opções de jogo"). 

Há ainda a experiência de Depay pela seleção: além de estar perto de se tornar o maior goleador histórico da Oranje, ele está à beira dos 100 jogos pela seleção de seu país natal (os completará se jogar as duas partidas contra a Espanha). Diante de todos esses fatores, Ronald Koeman voltou a apostar em Memphis: "Ele se sente bem e está em forma. Já jogou muitas partidas, pelo campeonato [Paulista] e pela copa [Libertadores]. Está pronto para se juntar aos treinos e jogar. Pode ser já na quinta. Por quê não? Eu também voltei do Brasil, um dia de cansaço e pronto. Fuso horário não é problema".

Além de Memphis ainda poder ser importante, deve-se lembrar: sim, a Holanda tem bons jogadores. Como Tijjani Reijnders, um dos únicos destaques numa apagada temporada do Milan. Como Cody Gakpo, enfim ganhando sequência de jogo e atraindo mais confiança no Liverpool (em que pesem as recentes eliminações). Tem até revelações, como o zagueiro Youri Baas, do Ajax, estreando pela seleção logo na semana de seu aniversário ("Eu não imaginava", reconheceu Baas à NOS). De mais a mais, é o que Ronald Koeman alegou na entrevista coletiva: "A Espanha é a melhor seleção europeia dos últimos anos. Ganhou Liga das Nações, ganhou Eurocopa, então precisamos trabalhar. Mas é um desafio, vejo assim. Podemos ganhar, nem sempre o favorito vence". Então, que vença. A paciência está acabando, e as desculpas para maus desempenhos também. De mais a mais, que modo melhor existe para convencer torcida e imprensa do que superar a atual campeã da Europa?

Os 23 convocados da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA

Goleiros: Bart Verbruggen (Brighton-ING), Mark Flekken (Brentford-ING) e Nick Olij (Sparta Rotterdam)

Defensores: Jeremie Frimpong (Bayer Leverkusen-ALE), Lutsharel Geertruida (RB Leipzig-ALE), Virgil van Dijk (Liverpool-ING), Jan Paul van Hecke (Brighton-ING), Matthijs de Ligt (Manchester United-ING), Youri Baas (Ajax) e Ian Maatsen (Aston Villa-ING)

Meio-campistas: Frenkie de Jong (Barcelona-ESP), Teun Koopmeiners (Juventus-ITA), Tijjani Reijnders (Milan-ITA), Kenneth Taylor (Ajax), Mats Wieffer (Brighton-ING) e Justin Kluivert (Bournemouth-ING)

Atacantes: Brian Brobbey (Ajax), Memphis Depay (Corinthians), Xavi Simons (RB Leipzig-ALE), Cody Gakpo (Liverpool-ING), Noa Lang (PSV) e Donyell Malen (Aston Villa-ING)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

A humilhada está sendo exaltada

Beerensteyn já vinha em boa fase na seleção feminina da Holanda (Países Baixos) em 2024. Começou este ano do mesmo jeito, na Liga das Nações (Hans van der Valk/BSR Agency/Getty Images)

Ah, Lineth Beerensteyn. A atacante já está há muito tempo na seleção feminina da Holanda (Países Baixos). Acompanhou seus altos - o título europeu em 2017, o vice mundial em 2019 - e seus baixos - a campanha apagada na Euro passada, em 2022-valendo-por-2021. Algumas vezes, foi titular. Na maioria, porém, não só era reserva, como quase sempre era contestada: não tinha o talento para finalização que Vivianne Miedema mostra, não tinha a técnica de Lieke Martens, para muitos é apenas uma "operária", uma esforçada - e mesmo assim, dispensável. Pois é: a humilhada está sendo exaltada. Pois Beerensteyn começou 2025 sendo o principal destaque neerlandês nas duas rodadas iniciais da Liga das Nações - tanto no empate em 2 a 2 com a Alemanha, quanto na vitória por 2 a 1 sobre a Escócia.

No primeiro jogo, até que a Alemanha começou melhor, com suas saídas em bloco para o ataque, carregadas principamente por Jule Brand, no meio-campo. Entretanto, a defesa holandesa não só estava atenta, com bons começos de Caitlin Dijkstra e Veerle Buurman, como as Leoas Laranjas fizeram o primeiro gol logo na primeira chance: aos 13', Buurman lançou em profundidade, Lineth Beerensteyn ganhou a disputa na corrida, chegou à área com a bola e tocou na saída da goleira Ann-Katrin Berger. Começava aí o melhor momento da Holanda no jogo, com o segundo gol quase vindo já aos 16', quando Dijkstra desviou a bola para fora, após Jill Roord cobrar falta. Mesmo assim, convinha prestar atenção na Alemanha. Que continuava atacando, em tentativas de Laura Freigang - aos 30', em chute por cima do gol, e aos 41', cabeceando para fora após Giulia Gwinn cobrar falta. Sjoeke Nüsken também tinha sua tentativa, aos 39'. Até que nos acréscimos, veio enfim o empate, em boa troca de passes: Klara Bühl (ativa na esquerda) cruzou, Lea Schüller superou Esmee Brugts (sem muita capacidade defensiva) e cabeceou para o 1 a 1.

Era visível: a Alemanha já tinha envolvido a Holanda, por ter rapidíssimas trocas de passe, além dos supracitados avanços com muitas jogadoras. Numa dessas, já no começo da etapa final, saiu o 2 a 1 alemão: Brand fez a jogada pela direita, passou a bola e Nüsken ficou livre para marcar. No minuto seguinte, Daphne van Domselaar fez excelente defesa, voando para espalmar cabeceio de Schüller - e a goleira apareceria de novo aos 55', agarrando firme chute de Bühl. Só depois de todos esses sustos o time dos Países Baixos se recompôs. Com Chasity Grant (substituta de Daniëlle van de Donk, machucada ainda no 1º tempo) aparecendo bem na direita, os ataques voltaram a fluir. E logo veio o gol de empate, novamente com Beerensteyn, de cabeça. Aberto o caminho para chances de parte a parte, o segundo tempo terminou com chances de um lado (chute de Bühl para fora, aos 70', cabeceio da zagueira Rebecca Knaak para fora aos 77') e de outro (Grant cruzou, e a bola passou pouco à frente de Renate Jansen, que poderia ter virado aos 86'). E a impressão geral foi positiva em Breda.

E seguiu positiva no começo do jogo contra a Escócia. Bem mais ofensiva do que contra as alemãs, a Holanda criou muitas chances. Começou num cabeceio de Jill Roord para fora, aos 6'. Depois, aos 11', o cabeceio foi de Miedema, e a goleira Lee Alexander Gibson precisou espalmar. Chegaram a ser duas chances em um minuto: aos 21', Chasity Grant chutou após Esmee Brugts cruzar, e Gibson pegou, enquanto Beerensteyn recebeu a bola em profundidade no minuto seguinte,e chutou cruzado. As Leoas Laranjas tinham mais a bola, encurralavam a Escócia, que só teria chance numa jogada de bola parada. Bem, ela apareceu. E as escocesas aproveitaram: aos 34', um escanteio rebatido parcialmente, Rachel MacLauchlan bateu, a bola ricocheteou na defesa e sobrou para Emma Louise Lawton fazer o 1 a 0 surpreendente. As escocesas se animaram tanto que quase fizeram o segundo gol, nos acréscimos, quando Lauren Davidson cruzou, Kirsty Hanson completou à queima-roupa na área, e Daphne van Domselaar evitou. Estava claro: a seleção dos Países Baixos não tivera intensidade nem no ataque (tinha a bola, mas perdia as chances), nem na defesa (dava espaços crescentes). Precisava melhorar no segundo tempo, se não quisesse ser vítima de uma zebra.

A Holanda conseguiu ganhar o jogo, mas a Escócia bem que assustou ao sair na frente (Ian MacNicol/Getty Images)

As Leoas Laranjas começaram a mostrar isso no segundo tempo. Azar de Lee Gibson: a goleira escocesa trabalhou duas vezes em seis minutos (evitando gol olímpico de Roord aos 48' e chute de Miedema aos 53'). Miedema - ainda algo sem ritmo nestas datas FIFA - teve chance ainda aos 51', desviando para fora cruzamento de Brugts. Mas coube a quem tirar a Holanda do desafogo? Quem? Isso mesmo: Beerensteyn. Que fez seu segundo gol nesta Liga das Nações - o nono, no total de edições, fazendo dela goleadora histórica do torneio até o momento -, em boa jogada individual aos 54', driblando três defensoras pela esquerda antes do chute. A Escócia bem que tentou assustar (Lauren Davidson tentou aos 61'), Miedema perdeu boa chance aos 63' (chutou por cima a bola, após saída errada de Gibson), mas o gol da virada e da vitória veio ao 64', em triangulação. Que contou com Beerensteyn, claro: ela passou, Miedema cruzou, Grant completou na pequena área para seu primeiro gol pela seleção feminina holandesa. De quebra, Beerensteyn ainda mandou o terceiro gol na trave, aos 67' - Roord teve mais chances por sua vez, aos 71' e aos 75'.

Mas se a seleção da Holanda teve resultados até previsíveis nestas primeiras rodadas, ela tem um destaque esperado por poucos. Enfim, depois de muitas críticas, Lineth Beerensteyn tem seu valor reconhecido. Já não era sem tempo.

Liga das Nações da UEFA - Liga A - Grupo 1

Holanda 2x2 Alemanha
Data: 21 de fevereiro de 2025
Local: Rat Verlegh (Breda)
Árbitra: Maria Caputi (Itália)
Gols: Lineth Beerensteyn, aos 13' e aos 66', Lea Schüller, aos 45' + 1, e Sjoeke Nüsken, aos 50'

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Kerstin Casparij, Caitlin Dijkstra (Sherida Spitse, aos 71'), Veerle Buurman (Dominique Janssen, aos 71') e Esmee Brugts; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Chasity Grant, aos 43') e Wieke Kaptein (Renate Jansen, aos 83'); Lineth Beerensteyn, Vivianne Miedema (Katja Snoeijs, aos 71') e Jill Roord. Técnico: Andries Jonker

ALEMANHA
Ann-Katrin Berger; Giulia Gwinn, Elisa Senss, Rebecca Knaak e Sarai Linder (Felicitas Rauch, aos 88'); Janina Minge e Sjoeke Nüsken; Jule Brand (Vivien Endemann, aos 77'), Laura Freigang (Linda Dallmann, aos 64') e Klara Bühl (Selina Cerci, aos 77'); Lea Schüller. Técnico: Christian Wück


Escócia 1x2 Holanda
Data: 25 de fevereiro de 2025
Local: Hampden Park (Glasgow)
Árbitra: Stéphanie Frappart (França)
Gols: Emma Louise Lawton, aos 34', Lineth Beerensteyn, aos 54', e Chasity Grant, aos 64'

ESCÓCIA
Lee Alexander Gibson; Rachel McLauchlan, Sophie Howard, Jenna Clark (Samantha Kerr, aos 75') e Emma Louise Lawton (Kirsty Smith, aos 86'); Leah Eddie, Caroline Weir e Kirsty MacLean; Lauren Davidson (Claire Emslie, aos 69'), Eilidh Adams (Martha Thomas, aos 69') e Kirsty Hanson (Freya Gregory, aos 69'). Técnico: Michael McArdle

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Kerstin Casparij, Sherida Spitse, Dominique Janssen e Esmee Brugts; Wieke Kaptein, Jackie Groenen e Jill Roord; Chasity Grant (Romée Leuchter, aos 65'), Vivianne Miedema (Katja Snoeijs, aos 72') e Lineth Beerensteyn. Técnico: Andries Jonker

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Precisa perder o medo

Na abertura dos trabalhos da seleção feminina da Holanda (Países Baixos) em 2025, Andries Jonker é um técnico demissionário - que reclamou do isolamento na notícia (Stan Oosterhof/Soccrates/Getty Images)

Várias convocadas novatas, atuações promissoras nos amistosos que fecharam 2024 (até mesmo na derrota para os Estados Unidos)... a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) tinha tudo para ter um começo de ano impondo respeito nas datas FIFA que vêm aí, abrindo a fase de grupos da Liga das Nações, contra Alemanha - nesta sexta, dia 21, em Almelo, às 16h45 de Brasília - e Escócia - em Glasgow, na terça, 25, às 16h30 de Brasília. Até porque impor respeito é necessário, em ano de Eurocopa feminina, na qual as Leoas Laranjas terão um grupo dificílimo, encarando Inglaterra e França. Só que a convocação feita pelo técnico Andries Jonker ignorou, em grande parte, toda essa renovação promissora. E talvez isso seja indicativo de mais problemas.

Problemas resumidos num fato, confirmado no mês passado pela federação holandesa: a saída de Jonker, cujo contrato iria até o fim da Euro, sem ter a renovação. Diretor de "futebol de alto nível" (as aspas não são irônicas), o ex-jogador Nigel de Jong justificou a decisão da dispensa de Jonker pelo desejo da federação de colocar a equipe de mulheres "numa nova fase". Compreensível, até: o trabalho de quase três anos do treinador pode ser considerado razoável (quartas de final na Copa de 2023, semifinalista na Liga das Nações passada, vaga na Eurocopa assegurada), mas diante do crescimento da nova geração e do fim gradual da "geração 2017-2019" - Lieke Martens parou com a seleção, Sherida Spitse e Daniëlle van de Donk deverão parar após a Euro -, era desejável abrir espaço para mais novatas, junto às veteranas que ficarão para tentar levar a equipe à Copa de 2027.

Saída em comum acordo, certo? Errado, conforme Andries Jonker deixou claro na entrevista coletiva de abertura dos trabalhos, no centro de treinamentos da federação, em Zeist: "Fiquei surpreso e triste. (...) Foi uma decisão da federação, e não cabe a mim explicá-la. Fui perguntado o que pensava do meu futuro, e após pensar bem, tinha dito que eu ainda queria seguir mais dois anos. Aí, a federação teria tempo para avaliar um novo substituto". Conflito aberto, nem assim Nigel de Jong quis deixar claras as razões da saida: "As razões não interessam agora, porque ainda estamos explicando. Tudo que se falar agora será uma carga extra para as jogadoras e a comissão técnica".

E as jogadoras também se afastaram de quaisquer comentários a respeito da saída vindoura de Jonker. A começar por Sherida Spitse, que falou ao lado do técnico na coletiva: "Geralmente temos contato com a direção, mas não soubemos de nada disso [demissão]. Pessoalmente, achei chato, pois tenho uma ótima relação com ele, adoraria passar mais dois anos sob seu comando". Mais amenas ainda foram, falando à emissora NOS, Daniëlle van de Donk ("Claro que é chato, mas assim são as coisas no futebol. Posso achar muitas coisas, mas não sou eu quem decide, não estamos envolvidas nisso") e Jackie Groenen ("Tenho uma opinião, mas não acho que preciso dizê-la. Posso deixar claro que tenho boa relação com Andries, mas essas são coisas que fogem do meu controle").

As jogadoras treinam normalmente, se eximindo dos debates sobre a saída de técnico que vem aí (KNVB Media/Divulgação)

Se suposta má relação com as comandadas é um motivo totalmente afastado para a troca de técnico, talvez a razão esteja numa postura meio temerosa demais de Jonker nas convocações. Se as novatas deram bom resultado, talvez fosse o caso de dar mais espaço a elas. Entretanto, o que se viu foram alguns retornos. Merel van Dongen, agora uma feliz mãe (até recebeu um uniforme das Leoas Laranjas para bebês, de presente da federação); Caitlin Dijkstra, recuperada de lesão, assim como... Vivianne Miedema, enfim ganhando algum ritmo de jogo no Manchester City, já com cinco gols na liga inglesa, expressando confiança ao site oficial da seleção neerlandesa: "'Estou bem. Estou aqui de novo, finalmente. Já faz um tempo, espero poder estar aqui com mais frequência. (...) Acho que estou razoavelmente em forma".

O otimismo segue em Esmee Brugts, que não só diz querer um título ("A Nations League é mais uma chance"), como também lembra que a Alemanha tirou das holandesas a chance de estar no torneio olímpico passado, em Paris: "Ficamos tão perto... foi duro". E será bom se esse otimismo significar um pouco mais de coragem da Holanda, em campo e nas convocações. Afinal de contas, é um caminho de se impor, rumo a uma Eurocopa em que imposição será necessária desde o começo.

As 24 convocadas da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA

Goleiras: Daphne van Domselaar (Arsenal-ING), Lize Kop (Tottenham-ING) e Daniëlle de Jong (Twente)

Defensoras: Kerstin Casparij (Manchester City-ING), Lynn Wilms (Wolfsburg-ALE), Sherida Spitse (Ajax), Dominique Janssen (Manchester United-ING), Caitlin Dijkstra (Wolfsburg-ALE), Veerle Buurman (PSV), Ilse van der Zanden (Utrecht) e Merel van Dongen (Rayadas de Monterrey-MEX)

Meio-campistas: Daniëlle van de Donk (Lyon-FRA), Jackie Groenen (Paris Saint Germain-FRA), Wieke Kaptein (Chelsea-ING), Jill Baijings (Aston Villa-ING) e Jill Roord (Manchester City-ING)

Atacantes: Lineth Beerensteyn (Wolfsburg-ALE), Vivianne Miedema (Manchester City-ING), Esmee Brugts (Barcelona-ESP), Renate Jansen (PSV), Chasity Grant (Aston Villa-ING), Chimera Ripa (PSV) e Chasity Grant (Aston Villa-ING) - Romée Leuchter (Paris Saint Germain-FRA). adoentada, foi cortada temporariamente entre sexta e domingo, dando lugar a Fenna Kalma (PSV)