terça-feira, 29 de novembro de 2022

Preguiça premiada

Só Gakpo salva - e se salva: o atacante da Holanda se tornou um dos goleadores da Copa com o gol contra o Catar, e novamente foi o lado bom de mais uma atuação em que a Laranja venceu e nada mais (Alberto Pizzoli/AFP/Getty Images)
 
Agora que a fase de grupos da Copa do Mundo terminou para a seleção masculina da Holanda (Países Baixos), já se pode falar sem medo: ela fica do lado das decepções do torneio, até aqui. E o jogo derradeiro do grupo A, contra o Catar, confirmou isso (se é que havia alguma dúvida): a Laranja continuou pouquíssimo criativa, lenta, até preguiçosa. Entretanto, diante de um anfitrião quase inofensivo, ela teve tranquilidade para conseguir a vitória esperada: 2 a 0, garantindo a liderança da chave e a vaga nas oitavas de final. Mas também deixando inalterada a impressão ruim que se tem dela, até agora.

Impressão quase piorada no primeiro lance de perigo do jogo no estádio Al-Bayt. Que foi... do Catar, graças a outra desatenção da Holanda na posse de bola: Frenkie de Jong permitiu o desarme aos 3', Hassan Al-Haydos dominou e chutou de fora da área, mas Andries Noppert defendeu. Logo depois, no entanto, a Laranja mostrou até alguma rapidez maior nas tabelas. E comprovou isso aos 12', quando Frenkie de Jong tabelou com Davy Klaassen, passou a Daley Blind, e o lateral (abaixo do que pode, mas nada tão ruim quanto dizem) cruzou - a defesa bloqueou, mas Denzel Dumfries enfim tentou algo no ataque - um chute pego por Meshaal Barsham. Pouco depois, aos 15', Memphis Depay quase marcou, de voleio, aproveitando o chute de Frenkie de Jong, desviado em Klaassen.

Dumfries sofreu novamente com a marcação, tomando alguns sustos de Akram Afif ou de Homam Ahmed (foto) (Catherine Ivill/Getty Images)

Só que o brilho, a vantagem, o gol surgiu daquele que já está se acostumando agradavelmente a virar destaque da Holanda na Copa: Cody Gakpo. De certa forma, num jeito parecido com seu gol contra o Equador: domínio de bola, tabela rápida com Klaassen, chute da entrada da área - agora, rasteiro, no canto esquerdo, tornando-o um dos goleadores da Copa (três gols, ao lado do equatoriano Enner Valencia e do francês Kylian Mbappé). Ainda assim, a Laranja continuava sofrendo. Menos na esquerda, onde Nathan Aké e Daley Blind não cumpriam o papel mas brilhavam; mais na direita, em que Denzel Dumfries seguia dando espaço demais a Akram Afif, ou a Homam Ahmed, ou a quem quer que aparecesse por ali. E a desatenção com a posse de bola prosseguia - como no chute de Ismail Mohammad, aos 29', após erro de Klaassen no domínio. Se não tomassem jeito, os neerlandeses poderiam sofrer de novo, como contra o Equador.

O Catar, contudo, não era o Equador. Tentava algo nas laterais, mas raramente fazia Noppert trabalhar. E muito mais ingênuo na defesa, logo permitiu o segundo gol holandês, em outra rara jogada rápida com muitas participações: Dumfries ajeitou, Klaassen cruzou da direita, Memphis Depay cabeceou, Barsham rebateu, mas Frenkie de Jong estava a postos para aproveitar e fazer o 2 a 0 - seu primeiro gol pela Holanda, após três anos. A partir dali, o jogo estava vencido. O Catar só reapareceu a sério aos 79', num cruzamento de Homam Ahmed, rebatido por Noppert.

A Holanda? Até teve um gol anulado - Steven Berghuis fez aos 68', poucos minutos após entrar em campo, mas a jogada foi revogada pelo VAR (Gakpo tocara a bola com a mão, na origem da jogada). Todavia, seguiu decepcionando. Até mesmo nas alterações, Louis van Gaal decepcionou. Ao invés de dar chances a novatos que poderiam ser úteis, no último (único, até) jogo mais tranquilo da campanha na Copa - pediam-se Xavi Simons, Noa Lang, ou até Jeremie Frimpong -, entraram em campo nomes já vistos na campanha: o supracitado Berghuis, Vincent Janssen, Teun Koopmeiners, Wout Weghorst. Só Kenneth Taylor, vindo a campo nos minutos finais, destoou um pouco.

E veio a classificação. Um prêmio à preguiça - ou à eficiência da Holanda, dependendo do ponto de vista. O que se sabe, agora, é o que Frenkie de Jong preconizou, na zona mista, após a partida, à emissora NOS: "Foi um pouquinho melhor, mas ainda há muito a melhorar". E o que Memphis Depay alertou: "Agora saímos dos grupos. O mata-mata é que é o negócio sério". Se quiser cumprir as expectativas e não ser vítima de uma zebra nas oitavas de final (e corre riscos), a Holanda terá de jogar bem mais às 12h do sábado que vem, contra os Estados Unidos, novamente no estádio Khalifa International. Não é sempre que a preguiça é premiada...

COPA DO MUNDO FIFA 2022 - GRUPO A

Catar 0x2 Holanda

Data: 29 de novembro de 2022
Local: Al-Bayt (Al-Khor)
Árbitro: Bakary Gassama (Gâmbia)
Gols: Cody Gakpo, aos 26', e Frenkie de Jong, aos 49'

CATAR
Meshaal Barsham; Ismaeel Mohammad (Musaab Khidir, aos 85'), Pedro Miguel "Ró-Ró", Boualem Khoukhi, Abdelkarim Hassan e Homam Ahmed; Abdulaziz Hatem (Ahmad Alaeldin, aos 85'), Hassan Al-Haydos (Ali Assadalla, aos 64') e Assim Madibo (Karim Boudiaf, aos 64'); Almoez Ali (Mohammed Muntari, aos 64') e Akram Afif. Técnico: Felix Sánchez

HOLANDA
Andries Noppert; Jurriën Timber, Virgil van Dijk e Nathan Aké; Denzel Dumfries, Marten de Roon (Teun Koopmeiners, aos 83'), Frenkie de Jong (Kenneth Taylor, aos 86') e Daley Blind; Davy Klaassen  (Steven Berghuis, aos 66'); Cody Gakpo (Wout Weghorst, aos 83') e Memphis Depay (Vincent Janssen, aos 66'). Técnico: Louis van Gaal

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

O Equador aprendeu direitinho

Não, o Equador não venceu a Holanda. Mas foi quase como se tivesse ganho, tamanha a superioridade de La Tri sobre a Laranja. O gol de Enner Valencia foi bem merecido (Jewel Samad/AFP/Getty Images)

Tendo em vista o modo como a seleção da Holanda (Países Baixos) atua nos últimos anos, é preciso dizer: apesar de seus pontos positivos, é muito fácil marcá-la. Basta que a seleção adversária seja intensa - para evitar um mal habitual dos jogadores holandeses (preferirem receber a bola nos pés, num jogo mais cadenciado). Basta bloquear Frenkie de Jong, o nome que inicia a maioria das saídas de bola. E basta simplesmente ser mais rápido para aproveitar os espaços nas laterais - no caso do jogo desta sexta, pela direita. Pois bem: a seleção do Equador aprendeu direito como neutralizar a Laranja e deixá-la fragilizada. Por isso, se algum time mereceu vencer no 1 a 1 da segunda rodada da fase de grupos da Copa do Mundo, foi La Tri.

Parecia que seria diferente, no começo do jogo. Porque a escalação foi promissora: com Davy Klaassen e Teun Koopmeiners, que haviam entrado bem contra Senegal, e Jurriën Timber na direita do trio de zagueiros, substituindo Matthijs de Ligt, de atuação temerária na estreia. O começo foi o melhor possível. Até porque houve esperteza para aproveitar um erro de Moisés Caicedo na saída de bola, logo no começo. Klaassen passou, Cody Gakpo chutou da entrada da área e fez o seu segundo gol em dois jogos nesta Copa, se consolidando como o grande - e único até aqui - destaque da Laranja no torneio. Não adiantou. O Equador parece ter entendido: tinha sido só um erro. Logo, a seleção sul-americana concretizou os principais temores da Holanda: causar problemas a ela nas laterais. Principalmente na direita: Denzel Dumfries teve sérias dificuldades (e Timber também) na marcação por aquele lado. 

Aos 25', Gonzalo Plata tentou o cruzamento - Virgil van Dijk tirou; aos 28', Pervis Estupiñán (quem mais problemas deu pela esquerda) cruzou, Michael Estrada até errou, e só Nathan Aké - rara boa atuação na defesa - impediu que Ángelo Preciado fizesse coisa mais séria. De quebra, no meio, Frenkie de Jong estava isolado demais, com a dupla Moisés Caicedo-Jhegson "Sebas" Méndez a dominar totalmente o "deserto" holandês no setor, impedindo que a seleção europeia passasse do meio-campo. E era obrigatório citar outra tremenda atuação de Enner Valencia, superando as dores no joelho ainda vitimado para ser presença a atormentar bastante a Holanda. O maior sinal de alerta possível veio pelo gol de Estupiñán nos acréscimos do primeiro tempo, anulado só porque a regra diz que o goleiro não pode ser bloqueado esteja em que posição estiver - Andries Noppert tinha Jackson Porozo à frente, mas via a bola perfeitamente.

A direita da defesa holandesa foi muito ruim, em má atuação de Dumfries e Timber. E na esquerda, apenas Aké trouxe alguma segurança (Robbie Jay Barratt/AMA - Getty Images)

Memphis Depay veio para os 45 minutos finais. Esperava-se uma melhora. Que nada: a Holanda seguia lenta, previsível. Aí o destino foi impiedoso: um erro de Timber, Michael Estrada dominou, chegou à área e chutou (talvez Van Dijk pudesse ter se aproximado mais...), Noppert rebateu, mas Valencia estava a postos para anotar o seu sexto gol seguido em Copas do Mundo, empatando o jogo. Era só o começo do momento mais perigoso para os Países Baixos nos 90 minutos: continuando a dominar o meio-campo, o Equador ampliou a pressão no ataque. Aos 59', quase concretizou sua superioridade em gols, numa bela jogada - completada no chute de Estrada que Van Dijk bloqueou e, principalmente, no arremate de Plata, na trave.

Aos poucos, porém, o Equador se cansou. Diminuiu a velocidade alucinante. O que não impediu a zaga de tornar inócua a entrada de Memphis Depay, mantendo-o sem a bola nos pés. No meio-campo, somente Frenkie de Jong tentava alguma coisa - e raramente conseguia. E na defesa, só Aké trazia alguma segurança: até mesmo Andries Noppert assustou, nos acréscimos, repondo a bola em cima de Kevin Rodríguez - ela encobriu a meta, sutil, saindo por cima do gol. E a seleção equatoriana, mesmo perdendo a velocidade, terminou o jogo no ataque.

Acuada, a Holanda só teve três fatos frios a celebrar: empatou, manteve a liderança do grupo A, está muito perto da classificação às oitavas de final, bastando vencer o Catar. Porque, de resto, o Equador deixou claro como se preparou bem para superá-la. E deixou claro como deter a Laranja é uma tarefa muito mais previsível do que parece.

COPA DO MUNDO FIFA 2022 - GRUPO A

Holanda 1x1 Equador

Data: 25 de novembro de 2022
Local: Khalifa International Stadium (Al Rayyan)
Árbitro: Mustapha Ghorbal (Argélia)
Gols: Cody Gakpo, aos 6', Enner Valencia, aos 49'

HOLANDA
Andries Noppert; Jurriën Timber, Virgil van Dijk, Nathan Aké; Denzel Dumfries, Teun Koopmeiners (Marten de Roon, aos 79'), Frenkie de Jong e Daley Blind; Davy Klaassen (Steven Berghuis, aos 70'); Steven Bergwijn (Memphis Depay, aos 46') e Cody Gakpo (Wout Weghorst, aos 79'). Técnico: Louis van Gaal

EQUADOR
Hernán Galíndez; Jackson Porozo, Piero Hincapié e Felix Torres; Ángelo Preciado, Moisés Caicedo, Jhegson "Sebas" Méndez e Pervis Estupiñán; Gonzalo Plata (Romario Ibarra, aos 90'), Michael Estrada (Jeremy Sarmiento, aos 74') e Enner Valencia (Kevin Rodríguez, aos 90'). Técnico: Gustavo Alfaro

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Pelo menos, a vitória

A vibração aliviada de Van Dijk mostra bem o que foi a estreia da Copa para a Holanda: cheia de coisas a resolver, mas terminando com o alívio da vitória (Matteo Ciambelli/DeFodi Images/Getty Images)



Jogo iniciado no estádio Al-Thumama, um passe para o lado direito da defesa da Holanda, Matthijs de Ligt tentou dominar... e falhou. Senegal aproveitou e trouxe algum perigo. Esse foi o clima da estreia da Laranja nesta Copa do Mundo em 2022: tensão, problemas, a sensação de que as coisas poderiam se perder a qualquer momento. E assim foi, por boa parte dos 90 minutos. Só que as alterações vieram, na hora certa. A Holanda aproveitou suas chances, na reta final. E se deixou impressão apagada em sua volta a um Mundial, após oito anos, pelo menos tem a vitória para ostentar: 2 a 0.

No lance do começo, De Ligt falhou, Ismaila Sarr (talvez o melhor senegalês em campo) passou a bola a Boulaye Dia, que só não acertou seu chute porque Frenkie de Jong bloqueou na hora exata. Contudo, a atuação da Holanda também teve seus bons momentos: quando Senegal dava espaço para ela vir do meio-campo ao ataque, ela vinha. E bem: com os avanços de Frenkie de Jong e Denzel Dumfries, com as aparições de Cody Gakpo, com as chances que decorriam disso tudo: um cruzamento de Dumfries não aproveitado por Steven Bergwijn aos 4', outro cruzamento de Gakpo afastado por Kalidou Koulibaly aos 16', e principalmente, no contragolpe que Bergwijn criou, Gakpo encaminhou e De Jong demorou demais para finalizar, perdendo a bola aos 19'.

Sem aproveitar as chances que surgiam dos pontos fortes, os pontos fracos holandeses traziam perigo. Principalmente na direita, onde Dumfries sofria bastante na marcação de Ismaila Sarr, que chutou com perigo algumas vezes (aos 9' e aos 25'). Ainda mais complicados eram os erros de passes, por pura e simples falta de atenção. Num deles, quase o gol senegalês, aos 29': De Jong tentou sair jogando, passou a um Van Dijk saindo de posição, e quase Krépin Diatta dominou a bola com a área vazia. Os problemas seguiam com a atuação algo insegura de De Ligt na zaga e com Vincent Janssen apenas sendo um "pivô" sem muito espaço nem muita aparição em campo, dentro do ataque.

Estreando na Laranja justamente no primeiro jogo dela no Mundial, Noppert demorou a entrar em ação no gol - mas quando entrou, mostrou segurança (Odd Anderson/AFP/Getty Images)

E Senegal, por sua vez, assustava sem assustar - tinha boas atuações em Sarr, em Diatta, em Cheikhou Kouyaté, mas não fazia Andries Noppert (defendendo a seleção dos Países Baixos pela primeira vez, logo numa estreia em Copas) trabalhar de fato. Do jeito como o segundo tempo começou, parecia até que os neerlandeses iriam melhorar, no cabeceio de Van Dijk que quase acertou a meta aos 53'. Só que a equipe alaranjada - mais para "acenourada", pelo tom da cor do uniforme - seguia desatenta no meio. Alguns erros de passe abriam o caminho - para as chances de Senegal e para as boas aparições de Noppert. Foi assim aos 65', quando ele teve agilidade para espalmar o chute rasteiro de Boulaye Dia. E até aos 73', quando Gana Gueye arrematou da entrada da área e o goleiro da camisa 23 impediu o gol dos Leões de Teranga.

Se a Holanda tinha interesse em ganhar o jogo, era preciso mudar. Já houvera uma mudança, é verdade, com a vinda de Memphis Depay a campo, para a meia hora final de jogo. Mas estava pouco para evitar os problemas de meio-campo. Estes só começaram a ser resolvidos com as entradas de Davy Klaassen e Teun Koopmeiners, a doze minutos do fim, estabilizando o setor. Frenkie de Jong, de (muito) altos e (muito) baixos, teve uma aparição decisiva aos 84', com o grande lançamento que fez. Édouard Mendy, tranquilo até então, falhou na saída de gol. E Cody Gakpo marcou um gol para justificar o grande alarido que causa como um dos candidatos a revelação da Copa. 

Mais importante: o gol tranquilizou a Holanda, que foi calma nos minutos finais. Foi precisa para aproveitar o espaço de contra-ataque, no minuto final dos acréscimos, e ter Klaassen fazendo o 2 a 0. Enfim: a Holanda não foi brilhante. Mas pelo menos, foi a vencedora. E soube controlar os danos que terá de consertar para pegar o Equador, na sexta-feira.

COPA DO MUNDO FIFA 2022 - GRUPO A

Senegal 0x2 Holanda

Data: 21 de novembro de 2022
Local: Al-Thumama (Doha)
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (Brasil)
Gols: Cody Gakpo, aos 84', e Davy Klaassen, aos 90' + 8

SENEGAL
Édouard Mendy; Youssouf Sabaly, Pape Abou Cissé, Kalidou Koulibaly e Abdou Diallo (Ismail Jakobs, aos 62'); Cheikhou Kouyaté (Pape Gueye, aos 74'), Nampalys Mendy e Idrissa Gana Gueye; Krépin Diatta (Nicolas Jackson, aos 74'), Boulaye Dia (Bamba Dieng, aos 69') e Ismaila Sarr. Técnico: Aliou Cissé

HOLANDA
Andries Noppert; Matthijs de Ligt, Virgil van Dijk e Nathan Aké; Denzel Dumfries, Steven Berghuis (Teun Koopmeiners, aos 79'), Frenkie de Jong e Daley Blind; Cody Gakpo (Marten de Roon, aos 90' + 4); Steven Bergwijn (Davy Klaassen, aos 79') e Vincent Janssen (Memphis Depay, aos 62'). Técnico: Louis van Gaal


segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Fichário: os jogos e os vídeos da 14ª rodada da Eredivisie 2022/23

Sparta Rotterdam 1x1 Twente (sexta-feira, 11 de novembro de 2022)

Local: Het Kasteel (Roterdã)
Árbitro: Henk Bos
Gols: Sem Steijn, aos 63', e Arno Verschueren, aos 71'
Jogo resumido: As chances de gol em Roterdã foram poucas, principalmente no primeiro tempo. Ainda assim, o empate manteve inalteradas as boas campanhas - e o gol do Twente virou motivo de atenção, já que o filho Sem Steijn abriu o placar contra o time treinado pelo pai Maurice

SPARTA ROTTERDAM
Nick Olij; Shurandy Sambo, Bart Vriends, Adil Auassar (Mike Eerdhuijzen, aos 69') e Mica Pinto; Jeremy van Mullem (Koki Saito, aos 68') e Arno Verschueren (Dirk Abels, aos 90' + 1); Sven Mijnans, Joshua Kitolano e Vito van Crooij; Tobias Lauritsen. Técnico: Maurice Steijn

TWENTE
Lars Unnerstall; Julio Pleguezuelo, Mees Hilgers, Robin Pröpper e Gijs Smal; Ramiz Zerrouki, Michel Vlap e Anass Salah-Eddine; Vaclav Cerny (Daan Rots, aos 64'), Ricky van Wolfswinkel (Manfred Ugalde, aos 81') e Virgil Misidjan (Denilho Cleonise, aos 64'). Técnico: Ron Jans


Volendam 0x4 Utrecht (sábado, 12 de novembro de 2022)

Local: KRAS Stadion (Volendam)
Árbitro: Sander van der Eijk
Gols: Taylor Booth, aos 14', Bas Dost, aos 73', Sander van de Streek, aos 84', e Can Bozdogan, aos 90' + 2
Jogo resumido: Diante de um Volendam que foi presa fácil, principalmente na etapa final, o Utrecht até foi menos dinâmico no 1º tempo, mas deslanchou nos minutos finais para conseguir a quarta vitória seguida, se fixando cada vez mais na zona de repescagem pela Conference League

VOLENDAM
Filip Stankovic; Brian Plat (Benaissa Benamar, aos 65'), Xavier Mbuyamba, Damon Mirani e Derry John Murkin; Oskar Buur (Walid Ould-Chikh, aos 46'), Gaetano Oristanio e Carel Eiting; Bilal Ould-Chikh, Lequincio Zeefuik (Henk Veerman, aos 64') e Ibrahim El Kadiri. Técnico: Wim Jonk

UTRECHT
Vassilis Barkas; Sean Klaiber, Mark van der Maarel, Mike van der Hoorn e Modibo Sagnan;  Taylor Booth (Othman Boussaid, aos 56'), Jens Toornstra (Can Bozdogan, aos 90' + 1) e Luuk Brouwers; Sander van de Streek (Naoki Maeda, aos 90' + 1);  Daishawn Redan (Amin Younes, aos 64') e Bas Dost. Técnico: Henk Fräser


Emmen 3x3 Ajax (sábado, 12 de novembro de 2022)

Local: De Oude Meerdijk (Emmen)
Árbitro: Jochem Kamphuis
Gols: Jeroen Veldmate, aos 6', Kenneth Taylor, aos 8' e aos 21', Steven Bergwijn, aos 25', Richairo Zivkovic, aos 58', e Mohamed Bouchouari, aos 84'
Jogo resumido: Mesmo com o gol precoce sofrido, o Ajax virou rapidamente, e se tranquilizou na partida. Tranquilizou-se tanto que teve alterações e diminuiu o ritmo, até demais. E tomou o castigo: o motivado Emmen buscou o empate, jogando mais sal na "ferida" de uma péssima semana Ajacied

EMMEN
Mickey van der Hart; Mohamed Bouchouari, Miguel Araujo, Jeroen Veldmate e Lorenzo Burnet; Lucas Bernadou e Keziah Veendorp; Mark Diemers, Jasin-Amin Assehnoun (Ahmed El Messaoudi, aos 75') e Rui Mendes; Richairo Zivkovic. Técnico: Dick Lukkien

AJAX
Remko Pasveer; Devyne Rensch, Jurriën Timber, Calvin Bassey (Daley Blind, aos 46') e Owen Wijndal (Lorenzo Lucca, aos 86'); Edson Álvarez, Steven Berghuis (Florian Grillitsch, aos 82') e Kenneth Taylor (Davy Klaassen, aos 58'); Steven Bergwijn, Brian Brobbey (Mohammed Kudus, aos 46') e Dusan Tadic. Técnico: Alfred Schreuder


PSV 0x1 AZ (sábado, 12 de novembro de 2022)

Local: Philips Stadion (Eindhoven)
Árbitro: Serdar Gözübüyük
Gol: Vangelis Pavlidis, aos 17'
Jogo resumido: O PSV chegava motivado para manter a liderança, após o tropeço do Ajax. Só que o AZ surpreendeu: aproveitou uma falha do time da casa para abrir o placar, se aguentou na defesa (tendo a sorte de um gol anulado de Cody Gakpo), e saiu de Eindhoven com a vitória

PSV
Walter Benítez; Philipp Mwene, André Ramalho (Jarrad Branthwaite, aos 46'), Armando Obispo e Philipp Max; Erick Gutiérrez (Anwar El Ghazi, aos 46') e Ibrahim Sangaré; Joey Veerman, Xavi Simons (Noni Madueke, aos 66') e Cody Gakpo; Luuk de Jong. Técnico: Ruud van Nistelrooy

AZ
Hobie Verhulst; Yukinari Sugawara, Pantelis Hatzidiakos, Sam Beukema e Milos Kerkez (Riechedly Bazoer); Tijjani Reijnders, Dani de Wit e Jordy Clasie; Jens Odgaard, Vangelis Pavlidis (Mayckel Lahdo, aos 87') e Jesper Karlsson (Mees de Wit, aos 81'). Técnico: Pascal Jansen


NEC 6x1 RKC Waalwijk (domingo, 13 de novembro de 2022)

Local: De Goffert (Nijmegen)
Árbitro: Martin Pérez
Gols: Dario van den Buijs, aos 4', Landry "Nany" Dimata, aos 38', Souffian El Karouani, aos 50', Magnus Mattson, aos 73', Pedro Marques, aos 78' e aos 90' + 2, e Elayis Tavsan, aos 88'
Jogo resumido: O NEC ficou rapidamente atrás no placar, mas a expulsão também precoce de Bel Hassani pavimentou o caminho para uma virada que veio entre o fim do 1º tempo e o começo do 2º, e se transformou em goleada no fim, com a torcida reanimando Jasper Cillessen, fora da Copa

NEC
Jasper Cillessen; Bart van Rooij, Iván Márquez, Philippe Sandler (Joris Kramer, aos 76') e Souffian El Karouani (Elayis Tavsan, aos 67'); Lasse Schøne, Dirk Proper e Oussama Tannane; Magnus Mattson (Jordy Bruijn, aos 83'), Landry "Nany" Dimata (Pedro Marques, aos 76') e Ibrahim Cissoko (Calvin Verdonk, aos 67'). Técnico: Rogier Meijer

RKC WAALWIJK
Joel Pereira; Juriën Gaari, Julian Lelieveld, Dario van den Buijs (Saïd Bakari, aos 68'), Shawn Adewoye e Thierry Lutonda; Yassin Oukili (Zakaria Bakkali, aos 68'), Iliass Bel Hassani, Vurnon Anita e Pelle Clement (Patrick Vroegh, aos 77'); Florian Jozefzoon (Roy Kuijpers, aos 46'). Técnico: Joseph Oosting


Heerenveen 2x1 Cambuur (domingo, 13 de novembro de 2022)

Local: Abe Lenstra (Heerenveen)
Árbitro: Allard Lindhout
Gols: Jamie Jacobs, aos 10', Amin Sarr, aos 36', e Anas Tahiri, aos 81'
Jogo resumido: No "Dérbi da Frísia", o Heerenveen começou tomando susto, com a vantagem precoce do Cambuur. Porém, se recompôs para o empate. E mesmo sem brilhar, conseguiu a virada na reta final do jogo

HEERENVEEN
Andries Noppert; Milan van Ewijk, Sven van Beek, Pawel Bochniewicz e Mats Köhlert (Joost van Aken, aos 90' + 1); Thom Haye, Anas Tahiri e Simon Olsson (Antoine Colassin, aos 90' + 4); Rami Al-Hajj (Rami Kaib, aos 79'), Sydney van Hooijdonk e Amin Sarr. Técnico: Kees van Wonderen

CAMBUUR
João Virgínia; Sai van Wermeskerken, Léon Bergsma (David Sambissa, aos 88'), Calvin Mac-Intosch (Roberts Uldrikis, aos 83'), Marco Tol e Alex Bangura; Jamie Jacobs (Michael Breij, aos 83'), Mees Hoedemakers e Mitchel Paulissen; Silvester van der Water (Remco Balk, aos 68') e Tom Boere. Técnico: Pascal Bosschaart (interino)


Groningen 2x3 Fortuna Sittard (domingo, 13 de novembro de 2022)

Local: Euroborg (Groningen)
Árbitro: Marc Nagtegaal
Gols: Ricardo Pepi, aos 45' + 1, Paul Gladon, aos 78' e aos 84', Florian Krüger, aos 90' + 1, e Tijjani Noslin, aos 90' + 5
Jogo resumido: Só o fim do 1º tempo compensou 45 minutos de poucas emoções, com o gol do Groningen nos acréscimos. Mas na etapa final, o Fortuna Sittard se valeu dos gols de Paul Gladon, vindo do banco, e da resiliência para, tomando gol já nos acréscimos, ainda buscar a vitória

GRONINGEN
Peter Leeuwenburgh; Neraysho Kasanwirjo (Damil Dankerlui, aos 88'), Mike te Wierik, Radinio Balker e Isak Määttä; Laros Duarte, Luciano Valente (Joey Pelupessy, aos 68') e Florian Krüger; Daleho Irandust (Tomas Suslov, aos 62'), Ricardo Pepi e Ragnar Oratmangoen (Cyril Ngonge, aos 62'). Técnico: Frank Wormuth
 
FORTUNA SITTARD
Ivor Pandur; Ivo Pinto, Rodrigo Guth, Ximo Navarro e George Cox; Arijanet Ferati (Deroy Duarte, aos 90' + 3) e Dogan Erdogan; Rémy Vita (Tijjani Noslin, aos 48'), Cole Bassett (Paul Gladon, aos 58') e Iñigo Córdoba (Úmaro Embaló, aos 58'); Burak Yilmaz. Técnico: Julio Velázquez


Feyenoord 5x1 Excelsior (domingo, 13 de novembro de 2022)

Local: De Kuip (Roterdã)
Árbitro: Joey Kooij
Gols: Marouan Azarkan, aos 4', Sebastian Szymanski, aos 11' e aos 50', Orkun Kökcü, aos 20' e aos 66', e Patrik Walemark, aos 78'
Jogo resumido: Nem mesmo o gol precoce sofrido para o Excelsior perturbou o Feyenoord. O talento de Szymanski e Kökcü nos chutes apareceu, as jogadas pelas pontas foram rápidas, e o Stadionclub chegou à merecida goleada que o fará terminar o ano liderando o campeonato

FEYENOORD
Justin Bijlow; Lutsharel Geertruida, Gernot Trauner, Dávid Hancko e Quilindschy Hartman (Marcos López, aos 61'); Quinten Timber (Mats Wieffer, aos 68'), Orkun Kökcü e Sebastian Szymanski (Alireza Jahanbakhsh, aos 69'); Javairô Dilrosun, Santiago Giménez (Danilo, aos 61') e Igor Paixão (Patrik Walemark, aos 28'). Técnico: Arne Slot

EXCELSIOR
Stijn van Gassel; Siebe Horemans, Serano Seymor, Redouan El Yaakoubi e Nathan Tjoe-A-On; Marouan Azarkan (Jacky Donkor, aos 76'), Julian Baas, Joshua Eijgenraam (Adrian Fein, aos 69') e Kenzo Goudmijn (Reda Kharchouch, aos 76'); Couhaib Driouech e Mike van Duinen (Lazaros Lamprou, aos 69'). Técnico: Marinus Dijkhuizen 


Go Ahead Eagles 2x2 Vitesse (domingo, 13 de novembro de 2022)

Local: De Adelaarshorst (Deventer)
Árbitro: Ingmar Oostrom 
Gols: Philippe Rommens, aos 6' e aos 20', Matus Bero, aos 49', e Simon van Duivenbooden, aos 90' + 2
Jogo resumido: O Go Ahead Eagles se valeu de um começo irresistível (com Philippe Rommens como destaque) para alcançar a vantagem. Só que o Vitesse diminuiu tão logo o segundo tempo começou, melhorou, e conseguiu obter o empate nos acréscimos

GO AHEAD EAGLES
Jeffrey de Lange; Mats Deijl, Jamal Amofa, Jay Idzes e Bas Kuipers; Willum Willumsson, Philippe Rommens, Evert Linthorst (Enric Llansana, aos 70') e Oliver Edvardsen (Sylla Sow, aos 89'); Bobby Adekanye (Finn Stokkers, aos 70') e Isac Lidberg (Gerrit Nauber, aos 81'). Técnico: René Hake

VITESSE
Daan Reiziger; Carlens Arcus (Miliano Jonathans, aos 85'), Ryan Flamingo, Enzo Cornelisse e Maximilian Wittek; Sondre Tronstad e Kacper Kozlowski; Romaric Yapi (Simon van Duivenbooden, aos 67'), Matus Bero e Million Manhoef (Tomas Hajek, aos 67'); Gabriel Vidovic (Nikolai Baden Frederiksen, aos 67'). Técnico: Phillip Cocu

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

O guia da Holanda na Copa: onde terminará a gangorra?

Tantos treinos, tantos jogos, tanta turbulência nos anos recentes... para este momento chegar: a Holanda de volta à Copa do Mundo (Jeroen Meuwsen/Orange Pictures/BSR Agency/Getty Images)

Há alguns motivos para acreditar que a seleção masculina da Holanda (Países Baixos) fará uma boa campanha na Copa do Mundo: os bons jogadores que possui, o aspecto competitivo que ganhou desde a chegada de Louis van Gaal, o caminho relativamente acessível que possui até as quartas de final. Entretanto, também há alguns motivos para acreditar que a seleção masculina da Holanda (Países Baixos) corre risco de decepcionar: o grupo A em que está tem adversários "chatos" em Senegal e Equador - e um pouco menos, no Catar -, jogadores fundamentais chegam em fase inconstante ou mesmo vindos de lesão, e o histórico da Laranja em Mundiais tem decepções de sobra para justificar a cautela. Trata-se de uma "gangorra". Aliás, foi assim que o time holandês/neerlandês seguiu seu caminho no ciclo que terá a reta final a partir do próximo dia 21, às 13h de Brasília, quando a Oranje reestreia numa Copa, contra Senegal, no estádio Al-Thumama.

Basta lembrar como este ciclo começou: com Ronald Koeman começando a comandar uma seleção que andava macambúzia, pessimista (até por vir de ausências na Euro 2016 e na Copa de 2018), a Laranja se reanimou já em 2018. Num grupo difícil na Liga das Nações - França e Alemanha -, conseguiu passar e ir às semifinais. Mais do que isso: em 2019, foi finalista da primeira edição do torneio, caindo para Portugal na decisão. Só que nem esta derrota em finais - mais uma... - abalou a Laranja. A geração de Matthijs de Ligt e Frenkie de Jong começava a passar ótima impressão. Tinha a ajudá-la gente mais velha, como os veteranos Jasper Cillessen, Daley Blind, Memphis Depay e Georginio Wijnaldum - mais Virgil van Dijk, então vivendo o esplendor de sua carreira. E garantia a vaga na Euro em grande estilo, indo bem em seu grupo nas eliminatórias da competição continental. A gangorra estava em alta.

A pandemia trouxe os pontos de interrogação de volta, ao adiar a Euro. Só que o grande fato a fazer a Holanda duvidar de si novamente veio com um vexame do Barcelona, naqueles 8 a 2 levados do Bayern de Munique nas quartas de final da Liga dos Campeões 2019/20. O clube catalão voltou a sondar Ronald Koeman, o técnico decidiu ceder à tentação de realizar seu sonho de carreira (treinar o clube em que marcou época como jogador)... e a Holanda perdeu seu técnico. Pior: fez uma opção de sucessor contestada desde o início em Frank de Boer, vindo de vários trabalhos ruins. E os dez meses de trabalho do ex-zagueiro no comando confirmaram os temores. Na Liga das Nações 2020/21, uma campanha sem brilho. O começo das eliminatórias da Copa foi preocupante, com derrota para a Turquia. 

Na Euro, foi pior ainda. As três vitórias em três jogos na fase de grupos ainda trouxeram alguma esperança, mas a cautela era maior: tudo "começaria de novo" nas oitavas de final. E os fatos adversos - gol perdido por Donyell Malen, expulsão de Matthijs de Ligt - deixaram claro que a Holanda só tinha um "plano A" com De Boer. Sem ele, a República Tcheca (Tchéquia) a dominou, se classificando numa surpresa nem tão surpreendente. E Frank de Boer virou uma demissão esperando para acontecer - ela veio só dois dias depois da eliminação. A gangorra atingia seu ponto mais baixo. Mesmo com bons jogadores, quem os comandaria? Os técnicos holandeses não atraíam confiança - e os que atraíam, Erik ten Hag à frente, estavam empregados; um estrangeiro já chegaria sob pressão.

O trabalho de Ronald Koeman era bom, mas ele preferiu interrompê-lo pelo sonho de treinar o Barcelona; o trabalho de Frank de Boer deu razão a quem o criticava; só Louis van Gaal acalmou um pouco a situação (Jeroen Meuwsen/Orange Pictures/BSR Agency/Getty Images)

Diante disso, não houve mais como a federação escapar de Louis van Gaal. Descartado após a demissão de Ronald Koeman, ele foi novamente convidado. A tentação de fazer da Holanda campeã mundial (o grande sonho de sua carreira) foi demais, e ele aceitou voltar, mesmo precisando fazer testes e achar um time no meio do caminho. Teria pela frente três rodadas decisivas nas eliminatórias da Copa, contra Noruega, Montenegro e Turquia. Foi o suficiente: depois delas, torcida e imprensa já sabiam que o rumo tinha sido encontrado. Uma boa geração tinha um técnico - mais ameno no trato, ao contrário de vezes passadas. E a Holanda, de fato, garantiu a vaga no Mundial, mesmo com sustos aqui e ali.

De lá para cá, Van Gaal cumpriu plenamente o que desejava. Mesmo com somente dois amistosos (contra Dinamarca e Alemanha - e se desejaram adversários sul-americanos, como o Brasil), mesmo tendo um torneio para disputar na Liga das Nações, o treinador conseguiu experimentar vários jogadores sem descaracterizar a base que a Holanda já tinha. Por isso, até, a falta que Georginio Wijnaldum fará na Copa é amenizada - afinal, Teun Koopmeiners e Marten de Roon já se demonstraram prontos. É certo que há coisas preocupantes com dois nomes fundamentais: Virgil van Dijk teve um começo de temporada com falhas incomuns, e Memphis Depay chega à Copa se recuperando de lesão no músculo posterior da coxa. Ainda assim, a impressão é de que o time laranja tem competitividade suficiente para fazer uma boa Copa. Não é exatamente um favorito a título, mas é plenamente capaz de uma campanha decente.

Em suma: se a Holanda viveu uma gangorra entre 2018 e 2022, agora ela está no alto. Cairá na Copa? Resposta a partir do dia 21.

Os 26 convocados da Holanda para a Copa (clique nos nomes e saiba mais sobre eles)

GOLEIROS

LATERAIS

ZAGUEIROS

Os holandeses na Copa: a comissão técnica

AUXILIARES

(Divulgação/KNVB Media)

Danny Blind
O ex-zagueiro tem larga experiência, dentro e fora de campo. Dentro, teve carreira de êxito: ídolo de Sparta Rotterdam e Ajax, foi um dos únicos holandeses a vencer todos os torneios europeus de clubes como jogador. Entretanto, fora, sua faceta como treinador nunca embalou: mais pelo respaldo interno do que pela capacidade, o pai de Daley só comandou Ajax, entre 2005 e 2006, e a própria seleção, entre 2015 e 2017, sem conseguir mudar muito uma péssima fase que a Laranja vivia. Ainda assim, Blind é homem de confiança de Louis van Gaal, desde os tempos de jogador. Em campo, era o capitão do Ajax campeoníssimo dos anos 1990 que o técnico comandou. No banco, foi o auxiliar dele na Copa de 2014. E tão logo se confirmou o retorno de Louis, ele foi nome confirmado de primeira hora na comissão técnica. Também deixará a seleção após a Copa - muito provavelmente, para voltar a ser diretor de futebol do Ajax, clube ao qual sempre esteve vinculado, de um jeito ou de outro.

(Divulgação/KNVB Media)

Edgar Davids
Como jogador, o "Pitbull" dispensa maiores comentários. Foi dos melhores volantes de sua geração (anos 1990/2000), combativo na marcação e capacitado na saída de bola, com bons serviços prestados a muitos grandes clubes - o Ajax em que surgiu, Juventus, Barcelona, Internazionale (nem tanto no Milan, outro gigante em que jogou). Aliás, sua experiência como técnico se iniciou ainda jogando: em 2012, após um período de inatividade, Davids retornou aos campos como "jogador-treinador" do Barnet, da terceira divisão inglesa. Jogando com o número 1 na camisa, lá ficou até 2014. E sua carreira incipiente entrou em hibernação... até 2020, quando ele voltou a uma comissão técnica, trabalhando no Telstar, da segunda divisão da Holanda (Países Baixos). No ano seguinte, a primeira experiência para valer: foram seis meses no Olhanense, de Portugal. Depois, estava à disposição. E a seleção masculina da Holanda precisava de um auxiliar, após Henk Fräser decidir comandar o Utrecht. Quem poderia ser melhor do que um jogador tão referencial para o grupo de hoje? E Davids estará ao lado de Van Gaal no banco de reservas. Com um óculos mais social do que o modelo esportivo que o tornou famoso como jogador, usado para minimizar efeitos de um glaucoma.

TREINADOR DE GOLEIROS

(Divulgação/KNVB Media)

Frans Hoek
Mais do que Louis van Gaal, foi Frans Hoek o responsável pela célebre alteração de Jasper Cillessen por Tim Krul nas quartas de final da Copa de 2018. Goleiro que passou toda a carreira (1973 a 1985) no Volendam, Hoek começou a treinar arqueiros em 1986, convidado por Johan Cruyff para entrar na comissão técnica do Ajax. A partir dali, começou a desenvolver o que ficou conhecido como "Método Hoek", buscando integrar a posição ao jeito de jogar do clube em que ele estava. O trabalho feito na comissão de Van Gaal dentro do Ajax, ajudando Edwin van der Sar a se desenvolver no gol (com as mãos e os pés), começou a catapultar Hoek rumo ao posto de um dos mais prestigiados treinadores de goleiros do mundo, até hoje prestando clínicas e palestras sobre a posição, além de aconselhar outros treinadores da posição. Além disso, Van Gaal ganhou em Hoek mais um "homem de confiança": trabalharam juntos em Ajax, Barcelona (Hoek também foi decisivo na evolução de Victor Valdés), Bayern de Munique, nas duas passagens de Louis pela seleção holandesa. Quando ele foi convidado pela terceira vez para comandar a Laranja, já sabia de antemão qual seria seu treinador de goleiros. 

DEMAIS INTEGRANTES

Jan Kluitenberg e Martin Cruijff - preparadores físicos
Fernando Arrabal - diretor de organização da delegação
David van Maurik - cientista do esporte
Ricardo de Sanders, Gert-Jan Goudswaard e Luc van Agt - fisioterapeutas
Edwin Goedhart e Rien Heijboer - médicos
Rob Koster - massagista
Cees Lok, Gert Aandewiel e Dennis Demmers - analistas de desempenho

Os holandeses na Copa: Louis van Gaal, o técnico

 

Van Gaal nem precisava ter retornado à Holanda para ser considerado personagem marcante do futebol. As circunstâncias tornaram sua despedida ainda mais merecedora de atenção (Divulgação/KNVB Media)

Ficha técnica
Nome: Alloysius "Louis" Paulus Maria van Gaal
Data e local de nascimento: 8 de agosto de 1951, em Amsterdã
Carreira como treinador: Ajax (1991 a 1997), Barcelona-ESP (1997 a 2000 e 2002 a 2003), seleção masculina da Holanda (Países Baixos) (2000 e 2001, 2012 a 2014 e desde 2021), AZ (2005 a 2009), Bayern de Munique-ALE (2009 a 2011) e Manchester United-ING (2014 a 2016)  

"É o Hitler dos brasileiros", chegou a vociferar o ex-jogador Giovanni sobre ele, ao jornal Folha de S. Paulo, após tantos problemas nos tempos de Barcelona. Já Patrick Kluivert, seu auxiliar na Copa de 2014, sempre dirá que a carreira no futebol seria outra sem as primeiras chances dadas por ele no Ajax. Rivaldo nunca se esquecerá das ásperas discussões que tiveram e das mágoas, também no Barcelona. Memphis Depay, entre marchas e contramarchas, sempre levará no coração o que conversaram, na primeira conversa entre ambos (será citada). Ele foi o técnico de momentos turbulentos no citado Barcelona, e o fracasso na primeira passagem pela seleção masculina da Holanda (Países Baixos), nas eliminatórias da Copa de 2002, ainda ecoa. Mas ele ganhou títulos em todos os clubes por que passou, conseguiu a façanha de fazer do AZ campeão holandês, é considerado dono de ideias avançadas (ainda que estranhas, à primeira vista). Enfim, quase tudo já foi dito sobre Louis van Gaal. Inclusive a frase passada. Será igual nesta Copa do Mundo, em que uma carreira tão marcante no futebol terá o seu ponto final, com Van Gaal comandando a Holanda pela terceira vez, em busca do sonho mais profundo que tem enquanto técnico - e cercado de circunstâncias que tornam este momento ainda mais especial.

Talvez a seriedade dura que Van Gaal sempre apresentou em sua carreira tenha vindo do ambiente familiar. Em primeiro lugar, pelos próprios tratamentos: o pai, por exemplo, obrigava que ele o chamasse de "senhor". Em segundo lugar, pelas dificuldades que vieram na vida: o pai era um cardiopata, faleceu quando ele tinha onze anos de idade, e coube à mãe cuidar sozinha de nove filhos - dos quais Louis era o mais novo, sendo obrigado a manter disciplina. Ela seguiria com Louis quando chegou a hora de cuidar da vida: formado em Educação Física, ele começou a ser professor infantil - e acumularia a profissão durante toda a sua carreira de jogador de futebol.

Esta começou na base pelo RKSV De Meer, clube amador de Amsterdã. Ali Van Gaal ficou até 1967, quando tomou o caminho do Ajax. No entanto, mesmo sendo contemporâneo de nomes como Johnny Rep e Johan Neeskens (para nem falar de Johan Cruyff, alguns anos mais velho), sequer chegou a disputar alguma partida oficial pelos Ajacieden. Só teve alguma sequência quando se transferiu para o Royal Antwerp belga, em 1973, onde ficou quatro anos. Na volta aos Países Baixos, mais uma temporada (1977/78) no Telstar, até ele chegar ao clube a que mais se vinculou, na carreira: o Sparta Rotterdam. No clube de Roterdã, Van Gaal ficou oito anos, sendo um titular apenas correto no meio-campo. Opinando sobre a própria carreira nos campos, no começo do ano, em vídeo no perfil oficial da seleção, Van Gaal se autoavaliou: "Dizem que eu era volante, mas eu não era. Eu era um armador, com uma boa visão de jogo. Se eu fosse me comparar com alguém atual, diria que me pareço com Teun Koopmeiners".

Quando jogador, Van Gaal até começou no Ajax. Mas foi no Sparta Rotterdam que criou mais raízes (VI Images)

Contudo, Van Gaal só começaria a marcar época no futebol após parar de jogar, em 1987, no AZ, em que passou uma temporada. No clube de Alkmaar, ele se tornou auxiliar técnico. E no mesmo cargo, em 1989, foi ser o braço-direito de Leo Beenhakker, que chegava para comandar o Ajax. Ao mesmo tempo em que auxiliava o treinador do time principal, dirigia as categorias de base do clube, além de treinar alguns times inferiores dentro dos Amsterdammers. Acompanhando o surgimento de nomes como Frank de Boer, Edwin van der Sar (trazido por ele para o Ajax), Edgar Davids e Clarence Seedorf, foi natural que Van Gaal fosse promovido a técnico do Ajax em 1991, quando Leo Beenhakker rumou para o Real Madrid.

Era só o começo de sua aparição. Abrindo caminho para uma geração fulgurante dentro do Ajax, Van Gaal já teve sucesso em sua primeira temporada, treinando a equipe campeã da Copa da UEFA em 1991/92. Aos poucos, alternou mais novatos (além dos supracitados, Michael Reiziger, Patrick Kluivert, Marc Overmars), trouxe gente talentosa de lugares menos conhecidos (Jari Litmanen, Nwankwo Kanu, Finidi George), buscou a experiência de Frank Rijkaard (jogando junto a outro veterano, Danny Blind). E o Ajax mostrou uma outra face para assombrar o mundo, no meio da década de 1990. Onde houvera o Futebol Total da década de 1970, havia uma equipe mais cadenciada, sem deixar de ser ofensiva nas horas necessárias. Podia desagradar os Ajacieden mais antigos, mas foi com Van Gaal que o clube de Amsterdã voltou a ditar moda no futebol europeu e mundial. 

O trabalho paciente na montagem de um Ajax histórico teve dividendos: além dos vários títulos, ali Van Gaal começou a ser conhecido no mundo ( Christian Liewig/TempSport/Corbis/Getty Images)

O tricampeonato holandês (1993, 1994, 1995); um título da Copa da Holanda, em 1992/93; e principalmente, os títulos europeu e mundial, em 1994/95; tudo isso colocou Van Gaal aos olhos do mundo. Depois dessas glórias, conseguir manter o Ajax em ótima posição já num cenário de Lei Bosman (finalista da Champions League em 1995/96, semifinalista em 1996/97) deixou claro: pacientemente, Van Gaal montara um time histórico. Tudo isso, encarando um drama pessoal no meio do caminho: a morte da primeira esposa, Fernanda, em 1994, vítima de câncer de fígado - os sofrimentos de Fernanda abalaram Van Gaal profundamente.

Sua chegada ao Barcelona, em 1997, a peso de ouro, representava uma oportunidade para provar sua capacidade de montar um time vencedor num centro mais visto do futebol mundial. Bem: vencedor, o Barça até foi com Van Gaal - ele já chegou treinando o time na conquista da Supercopa Europeia, abrindo a temporada 1997/98. Depois, veio o bicampeonato espanhol (1997/98 e 1998/99). Porém, o que o time catalão mais queria - o título europeu - não veio: no máximo, as semifinais em 1999/2000, perdidas para o Valencia. Além do mais, ali começou a se notar os grandes defeitos de Van Gaal na época. Começando com uma incapacidade de renegar seu estilo tático, segundo o qual o aspecto individual nunca poderia sobrepujar o coletivo. 

Para manter isso, valia trazer muitos dos que foram seus comandados no Ajax (de Michael Reiziger a Patrick Kluivert, passando pelos De Boer, Winston Bogarde e Jari Litmanen), dando origem ao pejorativo apelido de "BarçAjax". Depois, com esse mesmo excesso de apego à sua filosofia começando a render as brigas com Rivaldo - para Van Gaal, ou o brasileiro jogava na ponta-esquerda, ou era melhor nem jogar, mesmo que Rivaldo fosse o ponta-de-lança por excelência. E no Barcelona, principalmente, Van Gaal travou relação quase bélica com jornalistas. Resumida numa frase que vociferou, durante uma coletiva, criticando o comportamento da imprensa em espanhol: "Siempre negativa! Nunca positiva!".

Conversas tranquilas se tornaram raridade entre Van Gaal e Rivaldo: o brasileiro foi vítima da inflexibilidade tática do holandês no Barcelona (Jan Nienheysen/picture alliance/Getty Images)

Diante de tantos problemas, perder o título espanhol em 1999/2000 foi a gota d'água: Van Gaal deixou o clube, em solidariedade a Josep Lluis Núñez, presidente que deixava o cargo. Pelo menos, viria uma chance sonhada: quase imediatamente, ele foi escolhido como novo técnico da seleção da Holanda. Mais: ele chegava com carta branca da federação, quase como se fosse um diretor, para planejar os rumos que o futebol dos Países Baixos tomaria nos anos seguintes - e para realizar o sonho que tinha: fazer da Holanda campeã do mundo, enfim. Seu controla ia a ponto de acumular o comando da seleção principal com o da sub-20, que treinou no Mundial da modalidade, em 2001 (com nomes como John Heitinga, Rafael van der Vaart e Arjen Robben entre os juniores holandeses). Tudo isso, tendo uma geração ainda respeitável de jogadores. Tinha tudo para dar certo. Deu erradíssimo. 

Nas eliminatórias da Copa de 2002, a inflexibilidade de Van Gaal se chocou com a maior experiência do grupo de convocados costumeiros - muitos deles, seus comandados nos tempos de Ajax -, que já não precisavam ser tutelados como haviam sido anos antes. Resultado: várias turbulências, e a perda do lugar no Mundial para Portugal e Irlanda. O projeto ambicioso naufragara como vexame. Louis se demitiu no fim de 2001, cheio de críticas aos jogadores e à imprensa, numa magoada entrevista coletiva. Ainda hoje, considera aquele momento "a maior tristeza da carreira".

Van Gaal chegou pela primeira vez à seleção da Holanda sonhando em fazer da Laranja campeã mundial, além de determinar os rumos do futebol do país. Tudo ruiu com a ausência na Copa de 2002, seu pior momento (Reprodução/NOS)

Pior do que fracassar na ambição tão grande que tinha com a seleção da Holanda, foi seguir isolado nas experiências posteriores. Na volta ao Barcelona, a temporada 2002/03 teve bons resultados na Liga dos Campeões (quartas de final), contrabalançados por péssimas aparições no Campeonato Espanhol e decepções de jogadores indicados por Van Gaal - sem contar outra briga com Rivaldo. Bastaram seis meses para a demissão, em janeiro de 2003. No ano seguinte, uma experiência como diretor técnico do Ajax - e outro fracasso, em razão de discordâncias com Ronald Koeman, técnico Ajacied então. Àquela altura, Van Gaal se viu isolado. Só então entendeu: precisava aprender com as experiências anteriores, precisava ser um pouco mais flexível, precisava ter autoridade sem ser autoritário. Pouco depois, teve uma chance para comprovar essas mudanças: em julho de 2005, Van Gaal "recomeçou", contratado pelo AZ - clube de tradição na Holanda, mas bem longe da pressão dos locais anteriores de trabalho.

No clube de Alkmaar, Van Gaal teve espaço para fazer o que melhor faz: ser um "processcoach", um "técnico de processo" - ou seja, um treinador que gosta de trabalhar pacientemente na formação de uma equipe, controlando pressões, até chegar a hora de obter resultados. Sob seu comando, o AZ foi se aproximando paulatinamente deles: chegou ao vice-campeonato na Eredivisie (2005/06) e na Copa da Holanda (2006/07). Nesta última temporada, um drama: o AZ chegou à última rodada liderando o Campeonato Holandês, mas perdeu a chance do título. O solavanco foi aprofundado em 2007/08, quando os Alkmaarders chegaram a ficar ameaçados de rebaixamento. Van Gaal pensou em pedir demissão; os jogadores pediram sua permanência. Ele aceitou, mas disse: eles teriam de justificar a ele o porquê da decisão. Fizeram isso em 2008/09. Da melhor maneira possível: um time altamente regular, um dos recordistas de invencibilidade sem gols sofridos no futebol holandês, um dos melhores ataques da história do Campeonato Holandês, AZ campeão da Eredivisie após 28 anos, quebrando a sequência do trio Ajax-PSV-Feyenoord. Mais do que um título, foi a volta de Louis van Gaal ao destaque, num dos grandes trabalhos de sua carreira.

Van Gaal estava isolado, numa encruzilhada na carreira. O AZ lhe deu a chance de que precisava. E fazer de um time médio campeão holandês foi a ressurreição na trajetória (ANP)

Após aquela apoteose, Van Gaal soube: era hora de voltar aos grandes centros. E aceitou a proposta do Bayern de Munique, pouco antes da temporada 2009/10. No clube alemão, de novo, uma discordância do estilo brasileiro de jogar, tão diferente de suas ideias: Lucio, zagueiro sempre afeito aos avanços ao ataque, foi um dos dispensados antes da bola rolar - novamente, em meio a turbulências entre os dois. Pelo menos, o técnico holandês teve bons resultados na temporada: fez com que Bastian Schweinsteiger se estabelecesse definitivamente como volante, ajudou Franck Ribéry e Arjen Robben a serem atacantes perigosos, treinou um Bayern campeão alemão, campeão da Copa da Alemanha, que só não levou a Tríplice Coroa por cair na final da Liga dos Campeões para a Internazionale. Só que o "pacote Van Gaal" tinha prazo de validade: os problemas de ambiente o levariam a ser demitido, ao final da temporada 2010/11 - e a demissão foi antecipada em algumas rodadas.

Van Gaal começou bem e terminou mal no Bayern de Munique (Alexander Hassenstein/Bongarts/Getty Images)

Depois de outra frustração no Ajax - chegou a ser contratado como diretor geral, em 2011, mas discordâncias com o desafeto Johan Cruyff e com o Conselho Deliberativo levaram à sua demissão no mesmo ano -, Van Gaal precisava de outro bom momento. E a seleção da Holanda precisava de um bom técnico, após a demissão de Bert van Marwijk com o vexame da Euro 2012. Era a chance de apagar o vexame das eliminatórias da Copa de 2002. Van Gaal aceitou: chegou para conduzir o trabalho rumo à Copa de 2014, desde a qualificação. Começou fazendo o que melhor sabe: dando chance a novatos. Mais uma chance para colocar outro princípio de seu trabalho: o "totalemensprincipe" ("princípio do homem total", em holandês), preocupar-se com o jogador dentro e fora de campo. Hora de citar a história com Memphis Depay, no começo deste texto já longo. Em sua primeira convocação para a seleção, o atacante se sentia inseguro. Além do mais, sofria com um problema de saúde da irmã. Chamado pelo técnico para uma apresentação, ouviu de Van Gaal a primeira pergunta: "Como vai a sua irmã?". Para sempre Memphis sentiria gratidão pelo técnico.

Vaga na Copa de 2014 garantida, afastando os traumas da primeira passagem pela Laranja, Van Gaal daria no Mundial outra grande exibição de capacidade. Com Kevin Strootman (fundamental nas eliminatórias) fora da Copa, por lesão, o técnico decidiu renegar o jeito como gostava de treinar suas equipes. Decidiu que a Holanda iria à Copa com a defesa fortalecida, para que o trio Wesley Sneijder-Robin van Persie-Arjen Robben pudesse decidir no ataque. Algumas semanas de treino bastaram. E a Holanda conseguiu um terceiro lugar surpreendente e respeitável naquele torneio, minorando cada vez mais os detratores de Van Gaal no país. Antes mesmo da Copa, contudo, Van Gaal já anunciara a saída da seleção quando ela terminasse: saudoso do trabalho diário em clubes, partiria para o Manchester United. Diante do trabalho altamente consistente feito na competição, chegou ao clube inglês atraindo expectativas.

Van Gaal apagou na Copa de 2014 os traumas da primeira passagem pela seleção da Holanda: sendo maleável sem perder o comando do grupo, conduziu a Laranja ao terceiro lugar (Ibrahim Yakut/Anadolu Agency/Getty Images)

Expectativas frustradas. Sob Van Gaal, o United nunca embalou. Seguia logo abaixo dos ponteiros no Campeonato Inglês, mas nunca disputou o título a sério. De quebra, chegou até a ser eliminado na fase de grupos da Liga dos Campeões, em 2015/16. A mostra de como o trabalho ficou abaixo do esperado foi o fato de ser campeão da Copa da Liga Inglesa, na mesma temporada... e ser demitido, três dias depois, com a maioria das atuações criticadas pela torcida. Ficar mais conhecido por uma imagem de meme do que pelo trabalho com os Diabos Vermelhos dá a mostra de como a passagem por Old Trafford decepcionou.
E em 2016, o caminho parecia ter se encerrado. Van Gaal atendeu o pedido de Truus van Gaal, sua esposa desde 2008: passou a se dedicar mais à vida familiar, curtindo a tranquilidade da casa de veraneio em que o casal vive, no Algarve, em Portugal. Aqui e ali, indicava ter encerrado a carreira de técnico, sem nunca afirmar definitivamente. De longe, acompanhava os descaminhos da seleção da Holanda, fora da Copa de 2018, oscilando aqui e ali. Quando Ronald Koeman decidiu trocá-la pelo Barcelona, chegou-se a cogitar sua volta, ele chegou a sondar nomes para uma hipotética comissão técnica... mas a federação, sabendo os efeitos colaterais, preferiu optar por Frank de Boer.

Contudo, se ainda houve como evitar a volta de Van Gaal antes da Euro passada, a eliminação decepcionante (e a consequente demissão de Frank de Boer) deixaram claro: se a intenção era ter um técnico holandês, nenhum suportaria o tamanho da pressão de ter de levar a Holanda de volta à Copa do Mundo como ele. No fundo, Van Gaal sabia disso. Até porque, tanto tempo passado, sua vontade de fazer da Laranja campeã mundial continuou intacta. Por isso, ele não pestanejou em ceder à tentação: dias antes de completar 70 anos de idade, aceitou retornar para um último trabalho na seleção. Na entrevista coletiva de reapresentação, um sinal de que sua relação com a imprensa seguiria cheia de alfinetadas, mas agora seriam mais amenas. O técnico chegou à sala de entrevistas fulminando sorridente: "É um prazer reencontrar os meus velhos amigos da imprensa".

Um Van Gaal diferente na terceira passagem pela Holanda: mais sorridente, mais ameno, até mais aberto aos jogadores (Broer van den Boom/BSR Agency/Getty Images)

Era só o começo de uma passagem, até aqui, na qual Van Gaal tem o domínio do grupo, sem querer impor sua visão como em outros tempos. Talvez por isso, esteja sendo melhor visto. Algumas histórias demonstram isso. A primeira: logo em sua chegada, em meio às eliminatórias da Copa, o técnico queria escalar a Holanda com três zagueiros, como faz neste 2022. Perguntou ao grupo o que achava, e os três líderes - Virgil van Dijk, Georginio Wijnaldum e Memphis Depay - disseram que era melhor manter a Laranja no 4-3-3 com que ela é acostumada. Van Gaal aceitou. A segunda: pouco antes da rodada decisiva das eliminatórias, contra a Noruega, o técnico fraturou um osso lombar numa queda de bicicleta. Cogitou nem ir a De Kuip, local do jogo, por sentir muitas dores. Ouviu do capitão Van Dijk: os jogadores desejavam Van Gaal na partida, para festejarem com ele a vaga que viria. Em entrevista à emissora NOS, o técnico se mostrou comovido com o gesto, com lágrimas nos olhos - incomuns, em se tratando dele. Mas talvez esta fase mais tranquila seja resumida num comentário que Van Gaal fez, no ano passado: "Minha esposa me falou que eu preciso rir mais". Ou, então, numa resposta dada no vídeo com perguntas de torcedores: "Minha visão é até a mesma de 2014, ou dos anos 1990. É de onde parto. Mas você vai ajustando sua visão com o tempo. A geração de agora é diferente da geração de 2012, que já era diferente da geração de 2000. Como técnico, você tem de se ajustar a isso".

E se ainda havia alguma reserva ao técnico da seleção nos Países Baixos, atualmente, ela se acabou no começo de abril. Foi quando Van Gaal revelou, na divulgação de um documentário sobre sua vida ("Louis", do diretor Gertjan Lassche): desde o fim de 2020, lidava com o tratamento contra um agressivo câncer de próstata. Durante a volta à seleção, chegou a se submeter a sessões de radioterapia, sem comentar com os jogadores. A notícia fez aumentar o respeito pelo técnico. Pelo menos, tempos depois veio a notícia auspiciosa: a primeira fase do tratamento do câncer teve resultado excelente. Voltando ao trabalho, Van Gaal mostrou que mantinha a capacidade: sob seu comando, a Holanda não perdeu - desde setembro de 2021, são quinze jogos, onze vitórias e quatro empates.

Por toda a carreira, Van Gaal já viveria momentos especiais ao fazer desta Copa do Mundo o último trabalho dela. Pelas revelações deste ano, causa ainda mais ansiedade na Holanda ver qual será a última impressão de um homem que, já há 30 anos, é uma figura inescapável no futebol dos Países Baixos. Talvez, no futebol mundial. Arrogante? Compreensivo? Inflexível? Inteligente? Teimoso? Obstinado? Van Gaal já deixou claro: é tudo isso, e muito mais.

Os holandeses na Copa: Noa Lang

Convocado para a Copa, Noa Lang tem a chance de mostrar que sua técnica é mais importante do que o temperamento limítrofe dentro do campo (Divulgação/KNVB Media)

Ficha técnica
Nome: Noa Noell Lang
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 17 de junho de 1999, em Capelle aan den Ijssel
Clubes na carreira: Ajax (2017 a 2021), Twente (2019 a 2020, por empréstimo) e Club Brugge-BEL (2020 a 2021, por empréstimo, e desde 2021, em definitivo
Desempenho na seleção: 5 jogos e um gol, desde 2021
Torneios pela seleção: Liga das Nações (2022/23)

O talento de Noa Lang é considerado indiscutível em campo: ponta-direita driblador e cada vez melhor na finalização, ele é o protagonista de uma boa fase do Club Brugge na atualidade. Além do mais, mesmo jovem, o jogador exibe personalidade indiscutível, daquelas que não se amedronta quando recebe responsabilidades. Valeu para ter chances (e aproveitá-las) na seleção da Holanda, para causar boa impressão em Louis van Gaal, para ter uma vaga entre os convocados holandeses na Copa do Mundo. Sua principal tarefa - além de jogar bem, claro - será controlar o temperamento, que já lhe colocou em algumas enrascadas vez por outra.

Por sinal, a ousadia de Lang começou antes mesmo da carreira engrenar. Iniciado no futebol pelo RSV HION, clube amador de Roterdã, o talento já o fez chegar ao Feyenoord, aos seis anos de idade. No Stadionclub ele faria sua formação como jogador, junto a companheiros de geração como Tyrell Malacia - e teria até experiências por clubes de fora dos Países Baixos (o Nantes francês, entre 2006 e 2007, e o Besiktas turco, em 2010). Porém, partiria do rapaz, na adolescência, uma decisão arriscada: trocar Feyenoord pelo Ajax (clube do seu coração na infância), sem escalas, ainda nas categorias de base, em 2013. Foi o suficiente: Noa Lang já teve de aguentar críticas - e até ameaças - da torcida do Stadionclub. Mas conseguiu o que desejava: se desenvolver ainda mais. A ponto de chegar à primeira seleção de base da Holanda: a sub-16, em 2014.

Alguns anos depois, Lang teve jornada "dupla" na hora de chegar à fase adulta da carreira. Na temporada 2016/17, ao mesmo tempo em que ainda seguia no time sub-19 do Ajax (que disputava a Liga Jovem da UEFA), o jovem teve sua primeira aparição no time B, estreando na reta final da segunda divisão - 32ª rodada, fazendo os nove minutos finais da vitória contra outro time B, o do Utrecht. De quebra, ainda subiu de nível nas equipes de base dos Países Baixos, tendo partidas pela seleção sub-19 em 2017. Na temporada seguinte, a "jornada dupla" seguiria a mesma, mas os times seriam diferentes: o atacante foi efetivado no Jong Ajax (14 jogos e dois gols na campanha do título da equipe B Ajacied pela segunda divisão), e na reta final do Campeonato Holandês, começaria a ficar no banco de reservas da equipe principal.

Lang mostrou talento aqui e ali no Ajax, mas nunca recebeu no time a chance que partes da torcida julgavam que ele merecia (Eric Verhoeven/Soccrates/Getty Images)

Na temporada 2018/19, mesmo mais ligado ao Jong Ajax (com um bom desempenho: 21 jogos e cinco gols), Noa Lang estreou pelo time principal, jogando o segundo tempo da goleada contra o amador Te Werve, pela segunda fase da Copa da Holanda. Além do mais, alcançou as primeiras partidas pela seleção sub-21 da Holanda, último estágio antes da seleção adulta. Finalmente, em 2019/20, o técnico Erik ten Hag atendeu o que já era um desejo de parte da torcida do Ajax: efetivou o jovem no grupo principal do time de Amsterdã.

E Noa Lang teve alguns momentos agradáveis. Estreou pelo Campeonato Holandês principal (atuou nos 12 minutos finais contra o Sparta Rotterdam, pela 5ª rodada), teve suas atuações na Liga dos Campeões (três jogos na fase de grupos)... e pelo menos um jogo para colocar a torcida do Ajax em polvorosa. Na 15ª rodada da Eredivisie, contra o Twente, o Ajax chegou a ficar com desvantagem de 2 a 0 fora de casa. Coube a Noa Lang, 20 anos então, chamar a responsabilidade: como titular na Eredivisie pela primeira vez, ele acelerou ainda mais as jogadas pela esquerda. Driblou, finalizou, fez o primeiro gol Ajacied ainda na etapa inicial, empatou o jogo, e ainda marcaria um terceiro gol na virada para a goleada por 5 a 2. Por mais que Erik ten Hag colocasse ponderações sobre necessidades de Noa Lang - melhorar na marcação, por exemplo -, a torcida estava empolgada.

A atuação contra o Twente, no Campeonato Holandês 2019/20, foi um momento em que Noa Lang deixou um "gosto de quero mais" não concretizado no Ajax (ANP Sport/Getty Images)

Empolgação que mudou de lado no returno daquela temporada: com o Ajax preferindo apostar no empréstimo de Ryan Babel, Lang também foi cedido ao Twente - justamente ao Twente -, até o fim da temporada. E foi titular dos Tukkers, enquanto a temporada 2019/20 durou. Entretanto, ela durou pouco: de janeiro a março, quando a pandemia de COVID-19 se impôs. Só lhe restou voltar ao Ajax. Mas a continuação de sua carreira não seria em Amsterdã: numa opção questionada na época (nunca se entendeu muito a falta de confiança de Erik ten Hag no atacante), Lang foi emprestado ao Club Brugge da Bélgica, com a temporada 2020/21 já em andamento - houve ainda uma atuação pelo Ajax no Campeonato Holandês.

No Club Brugge, enfim Noa Lang teve a sequência que buscava. E virou o destaque do bom momento que o clube bicampeão belga vive na atualidade (Joris Verwijst/BSR Agency/Getty Images)

Na equipe belga negra e azul, enfim, Lang teve a sequência de jogos que buscava. Seu desempenho cresceu tanto que ele não se restringia mais à ponta-direita, sabendo jogar mais recuado e até criando jogadas. Resultado: 16 gols e sete passes para gol, ao longo da temporada 2020/21 que terminou com o título nacional do Club Brugge. 2021/22 seria melhor ainda para ele: no bicampeonato belga do Club Brugge, atuação menos goleadora (7 gols), porém mais constante (37 partidas) e mais hábil no meio (foram 12 passes para gol). No meio de um clube com muitos holandeses - de Ruud Vormer a Bas Dost -, Noa Lang era o mais badalado de todos. Para o bem e para o mal: flagrado cantando coros antissemitas em maio de 2021, ao lado de torcedores do Club Brugge - para ofender o arquirrival Anderlecht, vinculado à comunidade judaica -, o atacante precisou pedir desculpas publicamente para aliviar sua situação.

E sua impetuosidade foi notada em termos de seleção. Com a equipe sub-21 da Holanda classificada para a Euro, o atacante começou como titular absoluto, mas foi forçado a ser cortado ainda na fase de grupos, em razão de uma lesão muscular. Recuperado, enfim, veio a convocação para a Laranja principal: Lang estreou substituindo Steven Berghuis, aos 62' do 1 a 0 sobre a Letônia pelas eliminatórias da Copa, e já foi titular na rodada seguinte, nos 6 a 0 sobre Gibraltar. Viria mais uma partida na qualificação para o Mundial, e em 2022, na Liga das Nações, Lang não só começou jogando as duas partidas contra o País de Gales, como também marcou seu primeiro gol, no triunfo holandês sobre os galeses em Roterdã (3 a 2). E recebeu um conselho afetuoso mas sério de Van Gaal: "Eu tive uma conversa boa com ele. Eu fiz um alerta para que ele não fizesse provocações". 

Na época, Noa Lang piscou: "Faz parte, um pouco, de quem eu sou. Seria chato se todo mundo fosse igual. Só preciso levar para o lado positivo". Até agora, está conseguindo fazer isso. E por isso, vai à Copa.

(Maurice van Steen/ANP/Getty Images)