sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Grandes laranjas: Rijkaard

A versatilidade que mostrou, ao jogar na defesa, tornou Frank Rijkaard um dos mais marcantes e vitoriosos jogadores de sua geração (Bongarts/Getty Images)

Quando ele jogou, foi um sinônimo de versatilidade em posições defensivas: poderia ser líbero, zagueiro, volante, sendo muito técnico e seguro em todas essas funções, ousando constantemente avançar ao ataque. Como técnico, sua experiência foi até pequena (15 anos de carreira, entre 1998 e 2013), mas teve pelo menos dois grandes momentos. O brilho em campo e a sabedoria na condução de grupos experientes, como técnico, fizeram Frank Rijkaard ser um personagem definitivo de sua geração no futebol da Holanda (Países Baixos), mesmo sendo uma figura discreta. Por tudo isso, o ex-defensor será certa e justamente relembrado nesta sexta-feira em que completa 60 anos de idade.

Origem parecida, decisões diferentes

Franklin Edmundo Rijkaard era filho de um surinamês com uma holandesa. Nasceu e cresceu no Jordaan, bairro operário de Amsterdã. Começou a conhecer (e a jogar) futebol na Balboaplein, praça das redondezas. Tudo isso, semelhante a um amigo que ele fez nessas peladas infantis, chamado Ruud Gullit. E como Gullit, na passagem para a adolescência, Rijkaard foi dos bate-bolas na Balboaplein para clubes amadores: desde 1972, passou por SC Buitenveldert, Blauw-Wit, DWS... tudo isso, junto ao amigo que conheceu desde a infância, como se pode ler no texto do começo deste mês, celebrando os 60 anos de Gullit.

Os bate-bolas na Balboaplein foram o começo da amizade de Gullit e Rijkaard, dentro e fora de campo. E a amizade segue - na foto, em 2020, ambos abriam uma quadra na Balboaplein (Remko de Waal/ANP/AFP via Getty Images)

Porém, em 1979, os caminhos dos dois se separaram, pelo menos momentaneamente. Se Gullit preferiu iniciar a carreira profissional em outro clube, o Haarlem, Rijkaard foi visto antes por um olheiro do Ajax, Rob Been. Chegou também a avaliar se seria melhor começar jogando no clube onde o amigo estava, após desconfianças internas de que seu nível técnico seria insuficiente para os Ajacieden. Mesmo tendo tantas semelhanças com Gullit, dentro e fora de campo, Frank decidiu arriscar: ficou no Ajax. Sua trajetória no futebol começaria para valer em Amsterdã.

A rápida evolução de um pioneiro

A estreia demorou um pouco: Rijkaard teve seu primeiro jogo pelo Ajax em 23 de agosto de 1980, substituindo o volante dinamarquês Soren Lerby no intervalo da vitória por 4 a 2 sobre o Go Ahead Eagles, pelo Campeonato Holandês 1980/81 - de quebra, o jovem já marcou o seu primeiro gol na estreia. Foi só o começo: a evolução de Rijkaard foi tão rápida que, com apenas um ano no time principal do Ajax, ele já recebeu a primeira chance na seleção masculina da Holanda (Países Baixos). Em 1º de setembro de 1981, ele jogou o primeiro tempo do amistoso da Laranja contra a Suíça - que venceu, por 2 a 1. Por sinal, na mesma partida, Rijkaard se "reencontrou" com o amigo de infância: o mesmo amistoso marcava a estreia de Ruud Gullit vestindo laranja.

Rijkaard começou a jogar pelo Ajax na temporada 1980/81. Na seguinte, já era titular absoluto - e já começava a ter espaço na seleção masculina (Marcel Antonisse/Anefo/Arquivo)

Treinador Ajacied na época, Leo Beenhakker abriu caminho para Frank virar titular rapidamente. E já mostrar versatilidade. Na primeira temporada, ele foi escalado como meio-campo, pela direita; a partir de 1981/82, Rijkaard já era zagueiro na campanha do título holandês do Ajax naquela temporada. Outros novatos começavam a aparecer em Amsterdã: Gerald Vanenburg, Wim Kieft, Marco van Basten... mas Rijkaard era, talvez, o pioneiro daquela geração. Até por isso, mesmo chegando aos 20 anos, já tinha certa ascendência dentro do Ajax. O que justificava a maior visibilidade de seu talento: nas premiações da revista Voetbal International aos melhores da temporada 1981/82, o jogador teve a quarta melhor média. E também justificava mais aparições dentro da seleção: foram cinco partidas pela Oranje, em 1982. 

Um racha adiado - e concretizado por Cruyff

Ao longo daqueles anos de início no Ajax, Rijkaard ganhou destaque. Mesmo sem aparições notáveis dos Amsterdammers em torneios continentais, foram mais dois títulos na Eredivisie (1982/83 e 1984/85) e uma conquista da Copa da Holanda (1982/83). Até vir um ponto de virada no Ajax, no meio daquela década: após uma volta fugaz e marcante ao clube em que começou, em 1981, entrecortada pela polêmica passagem no Feyenoord, Johan Cruyff começou sua carreira de treinador no clube de Amsterdã, em 1985. E fez de Rijkaard o grande nome da zaga, numa fase em que o Ajax ficou em segundo plano na Eredivisie, mas conquistou o bicampeonato na Copa da Holanda (1985/86, 1986/87), ganhando a chance para voltar a levar o clube a um título europeu - no caso, a Recopa Europeia (1986/87). A preponderância no Ajax, enfim, impulsionou sua carreira na seleção: a partir de 1985, na reta final das eliminatórias da Copa de 1986, Rijkaard começou a ter sequência definitiva na Laranja - e também começou a formação da dupla de zaga que seria tão marcante com Ronald Koeman.

Todavia, aquela mesma temporada vitoriosa trouxe o começo de um racha na relação entre Rijkaard e o Ajax. Procurando enfraquecer os rivais para consolidar o domínio que tinha no Campeonato Holandês, o PSV se interessou em trazer o zagueiro/volante para Eindhoven, em março de 1986. E tinha um "pombo-correio" bem conhecido do jogador: seu amigo Ruud Gullit, também chegando então a Eindhoven. Gullit trouxe a oferta do presidente do PSV, Jacques Rits: se aceitasse, Rijkaard levaria antecipadamente 30 mil florins (moeda dos Países Baixos na época), e ainda garantiria um equipamento de som completo - afinal, tratava-se do clube da Philips, empresa conhecida no setor. E ele fechou negócio para a transferência, no fim daquela temporada, a princípio.

Na metade da década de 1980, Rijkaard pelo Ajax, Gullit pelo PSV: os dois amigos quase se reencontraram em Eindhoven, mas a pressão do Ajax impediu o negócio (Pro Shots/Arquivo)

Só a princípio: o Ajax pressionou durante toda a temporada 1986/87 para que Rijkaard desfizesse o negócio com o PSV. As dúvidas aumentaram na cabeça do jogador, e sua produção em campo caiu. Até a decisão algo traumática, em fevereiro de 1987: os clubes entraram em acordo, com o Ajax concordando em pagar uma compensação de 1,5 milhão de florins ao PSV, que, em troca, rescindiu o contrato de Rijkaard antes mesmo dele valer.

Mesmo ficando no Ajax, porém, a confusa negociação iniciou seu fim no clube. Precipitado a partir do começo da temporada 1987/88: discordâncias quanto à posição em que jogaria no time levaram a uma briga com Johan Cruyff, nunca mais pacificada. Ali Rijkaard teve o fim de sua primeira passagem pelo clube em que surgiu. E o começo de uma fase difícil na carreira. Que demoraria um pouco a passar.

A apoteose na seleção reabre o caminho nos clubes

Barrado no Ajax, Rijkaard tentou acertar a transferência para o Sporting português, às pressas. De nada adiantou: com a temporada 1987/88 iniciada, a janela de negociações já estava fechada em Portugal. Mesmo cedido ao clube leonino luso, o holandês não poderia jogar por ele - sua passagem-relâmpago se resumiu a treinos no clube de Lisboa, e só é lembrada por isso. O jeito foi um rápido empréstimo ao Zaragoza-ESP, ainda em 1987. No clube espanhol, Rijkaard ganhou o ritmo de jogo necessário para participar da reta final das eliminatórias da Euro 1988. Mais do que isso: foi convocado para o torneio, que marcava a volta da Laranja às grandes competições. E começava aí, relativamente de baixo, a apoteose na carreira do jogador.

Rijkaard ficou pouco no Zaragoza, mas conseguiu ter no time espanhol um impulso para brilhar na Euro 1988

Porque, até curiosamente, foi numa derrota que Rijkaard começou a chamar a atenção. A Holanda estreou na Euro 1988 perdendo para a União Soviética (1 a 0), mas o camisa 17 foi comandante absoluto na defesa: ditava o posicionamento, organizava a saída de bola, liderava os colegas, formava uma dupla de zaga das mais vistosas com Ronald Koeman. Atuação tão impressionante que encantou nomes presentes ao estádio, como o técnico argentino Cesar Luis Menotti... e Arrigo Sacchi, que voltará a ser citado neste parágrafo. Se o começo já foi auspicioso assim, o final daquela Euro foi apoteótico: com a Holanda campeã, Rijkaard terminou consagrado como o melhor zagueiro do torneio. De seus pés saíram jogadas importantes, como a do gol da vitória na semifinal contra a Alemanha. A partir das atuações nos campos alemães, ele começou a simbolizar a polivalência que o deixou tão conhecido: fosse na zaga ou no meio-campo, Rijkaard esbanjava classe. O prêmio por tudo? Arrigo Sacchi trouxe: antes que a temporada 1988/89 começasse, o treinador do Milan correu para contratá-lo e juntá-lo à dupla Ruud Gullit-Marco van Basten. 

Encantado pelas atuações de Rijkaard na Euro 1988, Arrigo Sacchi foi fundamental para trazê-lo ao Milan tão logo o torneio acabou (Alessandro Sabattini/Getty Images)

Estava formado um trio que marcaria o futebol mundial nos anos seguintes. Van Basten era a classe nas finalizações; Gullit tinha a liderança e a força no ataque; e várias jogadas finalizadas pelos dois começavam nas saídas de bola de Frank Rijkaard. Principalmente entre 1989 e 1990: o Milan terminou a temporada 1988/89 consagrado como campeão da Copa dos Campeões, bisaria o feito em 1989/90, e também se consagraria bicampeão mundial interclubes nesses dois anos. Aliás, foi no bicampeonato europeu, na jogada do único gol da final contra o Benfica, que Rijkaard simbolizou toda uma carreira. Naquele 23 de maio de 1990, no então Praterstadion (atualmente estádio Ernst Happel) de Viena (Áustria), Rijkaard começou a se adiantar da zaga para o meio-campo, fora do lance. Acelerou a passada... e quando Van Basten desviou a bola no círculo central, já estava correndo para dominar, chegar à área, tocar na saída do goleiro Silvino e fazer do Milan bicampeão europeu. Da marcação à finalização, na mesma jogada.


Só que o ápice teve uma queda traumática. Às vésperas da Copa de 1990, Rijkaard chegava obviamente como um dos símbolos da Holanda campeã europeia, atraía atenções, era alvo de expectativas para ser um dos jogadores-base do que poderia ser uma histórica campanha dos Países Baixos naquele torneio. A realidade foi totalmente diferente: numa campanha decepcionante, cheia de péssimas atuações em campo e brigas internas fora dele, a Laranja caiu nas oitavas de final do Mundial. E se a versatilidade no gol do bicampeonato europeu do Milan simbolizou o apogeu de uma carreira, foi de Rijkaard também a imagem representativa do tamanho da decepção holandesa.

Naquele 24 de junho de 1990, no clássico feito contra a Alemanha, a Laranja até começou melhor o jogo em Milão, no Giuseppe Meazza que os três do Milan (e os três alemães da Internazionale) conheciam tão bem. Porém, por volta dos 20 minutos do primeiro tempo, Rijkaard cometeu uma falta em Rudi Völler, atacante alemão - e o estranhamento entre os dois foi além da falta: os dois começaram a brigar, e o juiz argentino Juan Carlos Loustau precisou afastá-los. Falta cobrada, o goleiro holandês Van Breukelen pegou a bola, Völler obstruiu a defesa dele... e Rijkaard voltou à carga, brigando de novo com o camisa 9 alemão. Foi o suficiente para Loustau: o argentino expulsou Völler e Rijkaard, aos 22'. Enquanto ambos saíam de campo, a cena: Rijkaard cuspiu no adversário. Só piorou sua situação: enquanto a Alemanha venceu e rumou para o título mundial, o volante ganhou o apelido de "Lhama". Fora de campo, enfrentava problemas pessoais, como uma separação conjugal. Tantos traumas renderam uma decisão, logo após aquela Copa malograda: Rijkaard abandonou a seleção masculina da Holanda. Só as pazes feitas com Völler, pouco depois, traziam algum consolo.

Rijkaard vinha em excelente fase antes da Copa de 1990. Mas sua cusparada em Völler, no jogo da eliminação, simbolizou a pesada decepção da Holanda naquele torneio (David Cannon/Allsport/Getty Images/Hulton Archive)

Reação, retorno e fim glorioso

Logo as coisas se pacificaram, pelo menos. No Milan, Rijkaard seguiu estável, como destaque de um time que ainda tinha muito a dar - e deu, na temporada 1991/92, com o título italiano ganho de forma invicta. Os traumas com a seleção também passaram, e ainda em 1991 ele reconsiderou sua decisão: voltou a jogar pela Holanda, a tempo de figurar na reta final das eliminatórias da Euro 1992 (foram duas partidas).

Eis que, em 1992, nem parecia que as crises tinham passado por sua carreira. No Milan, continuou absoluto, ajudando Franco Baresi a coordenar a defesa rubro-negra. E a Euro marcou sua reaparição definitiva: a habitual versatilidade, a consciência nas saídas para o jogo se alternando com Ronald Koeman, o auxílio ao novato Frank de Boer, dois gols (contra Alemanha, na fase de grupos, e Dinamarca, nas semifinais). A Laranja caiu nas semis, mas Rijkaard marcava ali sua reação rumo a um fim glorioso.

Rijkaard se levantou após os traumas da Copa de 1990, sacudiu a poeira e deu a volta por cima: outra Euro admirável em 1992 (Alain Gadoffre/Onze/Icon Sport/Getty Images)

Que se daria num retorno: em 1993, após cinco anos vitoriosos em Milão, era hora de voltar e consertar o fim abrupto no Ajax. Uma nova geração surgia em Amsterdã - de Edwin van der Sar a Patrick Kluivert, passando por Michael Reiziger, Frank de Boer, Edgar Davids, Clarence Seedorf, Marc Overmars... -, e o técnico Louis van Gaal viu em Rijkaard, de volta, o nome calejado e apropriado para guiar aqueles novatos rumo ao que vinha por aí na carreira e em campo. Bem pensado e melhor feito. Fora de campo, de fato, o zagueiro/volante foi o "espelho" no qual muitos dos jovens Ajacieden (em especial, os descendentes de surinameses) se viram e se inspiraram para melhorar. Dentro das quatro linhas, com o Ajax tendo preferencialmente três zagueiros, Rijkaard foi um líbero na acepção da palavra: começava de trás para criar jogadas, avançar ao meio-campo, até ajudar no ataque. Era simplesmente indispensável àquela equipe tão jovem.

Tudo isso bastou para conquistar o Campeonato Holandês, em 1993/94. E ajudou Rijkaard a seguir como um raro veterano constante na seleção neerlandesa daqueles tempos, titular absoluto nas eliminatórias da Copa de 1994, premiado com a convocação para o segundo Mundial de sua carreira. Nos Estados Unidos, Rijkaard teve utilidade, ajudou com sua calma, foi seguro na defesa, mas sofreu um pouco com as altas temperaturas e a velocidade dos jogos - ficou de fora contra Marrocos, na fase de grupos, sob calor escaldante em Dallas, e foi substituído durante as quartas de final contra o Brasil. A eliminação, aliás, foi seu último jogo pela Laranja, após 13 anos, 73 partidas e dez gols.  E 1994/95 seria o fim glorioso que Rijkaard tanto esperava. Na última temporada de sua carreira nos campos, ele não só foi outro destaque no bicampeonato nacional, como também conduziu o Ajax, acalmou o Ajax, foi o sinônimo de experiência de que a equipe precisou no caminho até a final da Liga dos Campeões, em 24 de maio de 1995, contra o Milan que ele conhecia tão bem. 

Conquistar a Liga dos Campeões 1994/95, sendo o líder num jovem time do Ajax, no penúltimo jogo de sua carreira: poucos fins de trajetória poderiam ser mais celebrados como o que Rijkaard teve (Christian Liewig/TempSport/Corbis via Getty Images)

Após um primeiro tempo sem gols e com pressão do time italiano naquela final, Rijkaard reanimou os colegas com o discurso no intervalo: aquela era uma das últimas partidas de sua carreira, e ele não concebia a ideia de sair do gramado do Ernst Happel sem o título europeu. Dito e feito: o Ajax foi se aprumando, teve nomes entrando bem na partida... até Rijkaard, num dos avanços, passar a bola para Kluivert fazer o 1 a 0 da vitória. Quando o juiz romeno Ion Craciunescu apitou o final da decisão daquela Champions que o Ajax conquistara, Rijkaard foi imediatamente comemorado: gritou a sua consagração pessoal, soterrado por abraços dos mais jovens, no penúltimo jogo de sua carreira. O último, quatro dias depois, com o Ajax já campeão holandês, foi a vitória por 2 a 1 sobre o Twente, na rodada derradeira da Eredivisie - vencida de modo invicto pelo clube. Poucos fins de carreira poderiam ser mais respeitáveis que o de Rijkaard.

O técnico Rijkaard: os feitos em campo ajudaram o respeito no banco

A migração para o banco de reservas foi até rápida: afinal, Rijkaard foi um dos primeiros nomes em quem Guus Hiddink, então técnico da seleção masculina da Holanda (Países Baixos), pensou para lhe ajudar durante a Copa de 1998, após as traumáticas brigas internas na Euro 1996. Também deu certo: integrando um trio de "auxiliares de luxo" com Johan Neeskens e Ronald Koeman, o agora ex-jogador conseguiu o respeito dos convocados, mantendo o bom clima vivido pelos neerlandeses naquela Copa. Resultado: quando o Mundial acabou e Guus Hiddink deixou a seleção rumo ao Real Madrid, Rijkaard foi a aposta inesperada da federação para sucedê-lo. Seu primeiro trabalho como técnico seria comandar a Laranja. Era o primeiro passo de uma trajetória marcante.

No princípio, foi marcante no mau sentido: mesmo em situação tranquila, só disputando amistosos em 1999 (afinal, os Países Baixos já estavam garantidos na Euro seguinte, países-sedes que eram), a Laranja ficou sem vitórias naquele ano - sete empates e duas derrotas, incluindo uma queda e dois empates contra o Brasil. Tal retrospecto parecia indicar uma campanha decepcionante na Euro. Aí a situação melhorou: quando a Euro 2000 chegou, o que se via era uma Oranje ofensiva, irresistível, com vários nomes em ótima fase - Frank de Boer, Phillip Cocu, Marc Overmars, Dennis Bergkamp, Patrick Kluivert... a eliminação para a Itália, nas semifinais, num cenário quase inacreditável (derrota nos pênaltis, após 0 a 0 em 120 minutos, com Holanda tendo um homem a mais desde os 33', e duas penalidades perdidas no tempo normal), foi um dos grandes traumas da história da seleção. Tão grande que Rijkaard, mesmo com a reação no ano 2000, mesmo com a Holanda tendo ótimas atuações na Euro... decidiu se demitir da seleção. Afinal, o grande objetivo era conquistar o torneio continental. E ele fracassara nisso.

Rijkaard começou a ser técnico logo na seleção masculina da Holanda. Após um começo ruim, a Euro 2000 marcou uma reação - e a eliminação foi tão traumática que levou à demissão (Eric Renard/Onze/Icon Sport/Getty Images)

Todavia, pior ainda seria o passo seguinte de Rijkaard como técnico. Em meados de 2001, ele iniciou sua trajetória em clubes, começando mais modestamente: treinaria o Sparta Rotterdam, na temporada 2001/02. Pelo menos no começo, estava prestigiado: a pedido dele, nomes como Aron Winter foram para os Spartanen. Só que o fim foi o pior e mais constrangedor possível: o Campeonato Holandês acabou com o Sparta em penúltimo lugar, tendo a pior defesa daquela Eredivisie, sendo rebaixado pela primeira vez em sua história que já tinha então 114 anos. Parecia um péssimo indício para a carreira de Rijkaard nas casamatas, por mais que ele tenha elogiado, em 2005, o tempo passado em Het Kasteel: "Sofríamos com o dinheiro, e os resultados não foram muito melhores, mas era um clube muito bacana. As pessoas eram bastante humildes, e não se tinha a pretensão de um clube grande".

Pretensão que Rijkaard conheceria muito bem, a partir de 2003. Foi quando Joan Laporta, recém-eleito então presidente do Barcelona, apostou na inesperada vinda do holandês para comandar o clube espanhol/catalão, vindo de uma grande crise. Em que pesasse a chegada de Ronaldinho Gaúcho, quase simultaneamente, o começo foi preocupante, com o Barcelona chegando a ser ameaçado de rebaixamento nas rodadas iniciais do Campeonato Espanhol da temporada 2003/04. Mas a virada foi marcante: logo que 2004 começou, o Barça também começou uma reação com várias partidas de invencibilidade, alcançando o vice-campeonato em La Liga. Era só o começo.

A partir de 2004/05, Rijkaard deu espaço definitivo a muitos novatos - Victor Valdés, Andrés Iniesta, Lionel Messi, todos viraram titulares gradualmente sob seu comando. Algumas chegadas qualificaram o time: Deco, Ludovic Giuly, Mark van Bommel, Samuel Eto'o. E finalmente, o holandês soube fazer de Ronaldinho Gaúcho o destaque absoluto, o símbolo daquele Barcelona - seu método com o brasileiro foi descrito assim: "Ele não precisa de instruções táticas, é só deixar que ele siga seu rumo". E o rumo do Barcelona foi para lavar a alma: campeão espanhol em 2004/05, bicampeão em 2005/06, alguns jogos marcantes (como esquecer o 3 a 0 no Real Madrid, em pleno Santiago Bernabéu, em novembro de 2005, na 12ª rodada do Espanhol, com aplausos adversários a Ronaldinho?) e, finalmente, o segundo título europeu da história barcelonista, em 2005/06. Valendo-se da experiência como jogador para conduzir o grupo e controlar vaidades, mesmo sem grandes invenções táticas, Rijkaard conseguia um trabalho marcante. Reconhecido pela UEFA, que o elegeu o melhor técnico da temporada.

Rijkaard (camisa azul) numa visita à NASA, com Xavi, Ronaldinho Gaúcho e Puyol: o Barcelona voltou a dominar a Europa com o holandês no comando, hábil na condução do grupo (NASA)

Um período tão vitorioso acabou em marasmo. Já em 2006/07, o Barcelona caiu nas oitavas de final da Liga dos Campeões, e perdeu o título espanhol para o Real Madrid na reta final. Após cerca de dois anos dignos de todo o aplauso possível, Ronaldinho, o grande símbolo dos tempos de glória, também decaía. Na temporada seguinte, em que pesasse a campanha melhor na Champions League (semifinais), estava claro que os Culés já haviam alcançado o possível sob Rijkaard. Que foi demitido ainda antes do fim do Campeonato Espanhol, abrindo espaço para que Josep "Pep" Guardiola conseguisse ainda mais.

A partir dali, a própria carreira de Rijkaard como técnico entraria na reta final. O Galatasaray foi sua parada seguinte, no meio de 2009. Mesmo tendo o velho conhecido Johan Neeskens como auxiliar técnico, o treinador fez um trabalho frustrante: após somente uma temporada, foi demitido do clube aurirrubro turco, já em outubro de 2010. A última tentativa no comando de uma equipe foi treinando a seleção da Arábia Saudita: Rijkaard chegou a ela em junho de 2011, com a intenção de levá-la de volta a uma Copa do Mundo. Fracassou nas eliminatórias, e a péssima campanha na Copa do Golfo em 2013 (eliminação na fase de grupos) foi o ponto final de seu trabalho na seleção saudita.

Foi também o ponto final de sua carreira como técnico. Enfim, Rijkaard decidiu deixar os holofotes, como sempre preferiu. Perguntado sobre o que faria após a saída da Arábia Saudita, foi curto e grosso: "Viver". É o que está fazendo: inaugurando quadras aqui, viajando ali, representando patrocinadores acolá, o ex-jogador curte uma vida sem pressões. Sempre que é perguntado sobre os boatos que surgem de vez em quando - uma volta ao Barcelona, outra volta ao Milan, quem sabe até retorno à seleção masculina -, Rijkaard recusa.

Justo. Afinal, sua vida privada está em paz. Um grande prêmio. Como se não bastassem os tantos que ganhou em campo...

(Robin van Lonkhuijsen/ANP/AFP via Getty Images)

Franklin "Frank" Edmundo Rijkaard
Data de nascimento: 30 de setembro de 1962, em Amsterdã
Clubes: Ajax (1980 a 1987 e 1993 a 1995), Sporting-POR (1987), Zaragoza-ESP (1987 e 1988) e Milan-ITA (1988 a 1993)
Seleção: 73 jogos e 10 gols, entre 1981 e 1994

domingo, 25 de setembro de 2022

Suficiente e bom

Num jogo sem muitas emoções, a Holanda aproveitou uma chance, para fazer o suficiente, ir às semifinais da Liga das Nações, e manter o clima otimista rumo à Copa (UEFA/Getty Images)


Era previsível que a seleção da Bélgica, tecnicamente melhor que a da Polônia, causasse mais problemas à equipe masculina da Holanda (Países Baixos). Até porque precisava muito mais da vitória na última rodada do grupo da Liga das Nações - e ainda assim, os Diabos Vermelhos só iriam às semifinais se vencessem por três gols de diferença, acima de 4 a 1, placar da goleada holandesa da estreia. Pois bem: a Laranja jogou mal, mas os belgas também atacaram pouco demais para um time mais necessitado do triunfo. Bastou o time da casa ser mais eficiente, e um pouco mais ousado, na Johan Cruyff Arena para conseguir a vitória, a manutenção da invencibilidade sob Louis van Gaal e a garantia da vaga na semifinal da Nations League - da qual será país-sede.

Para chegar à 10ª vitória em 15 jogos, porém, os holandeses tiveram algumas dificuldades. No começo, bem que a Bélgica tentou ser mais rápida, aproveitar os erros que a Holanda cometesse na defesa. Por isso teve mais chances: aos 4', quando Amadou Onana (bem na ala esquerda belga) cruzou para Eden Hazard finalizar mal, e aos 11', quando um erro de passe de Steven Berghuis deixou a bola nos pés de Kevin de Bruyne - que deu um lançamento preciso, como habitual, para Michy Batshuayi finalizar e Remko Pasveer (titular de novo no gol holandês) defender. Parecia o começo de uma ofensiva visitante no 129º encontro entre as duas seleções rivais e vizinhas.

Mas foi só, da parte da Bélgica. Logo as duas seleções entraram num ritmo que tornou a partida previsível. Até chata, dependendo do ponto de vista. Era um time avançar com a bola, tentando aumentar a velocidade do jogo, para o outro se fechar na defesa, tirar o espaço para passes, roubar a bola e recuá-la entre os zagueiros e os goleiros. Com isso, chances da Holanda, no duro, só foram duas: um chute de Vincent Janssen aos 17', de fora e para fora, e uma finalização de Denzel Dumfries aos 32', saindo à direita do gol de Thibaut Courtois. Por mais que nomes como Nathan Aké (outra boa atuação) e Davy Klaassen se esforçassem, se movimentassem, pouca coisa acontecia. A Bélgica até rondou mais o gol, mas só mesmo em chutes - Timothy Castagne, para fora, aos 34' - ou até num lançamento não dominado - aos 32', De Bruyne passou por cima, Axel Witsel falhou ao tentar ajeitar, e Pasveer pegou.

A entrada de Taylor ajudou a Laranja a melhorar, depois do intervalo (Pro Shots/IconSport/Getty Images)

Era preciso algo mudar. Na Holanda, mudou levemente já no primeiro tempo, quando Cody Gakpo entrou no lugar de Steven Berghuis, que voltou a sentir as dores nas costas já sentidas contra a Polônia. No segundo tempo, ainda mais: Kenneth Taylor veio para o lugar de Janssen, e aumentou o toque de bola no meio enquanto Gakpo e Bergwijn iam para o ataque, ao passo que Tyrell Malacia foi experimentado no miolo de zaga, tentando fazer a Holanda melhorar no passe e no toque de bola. Melhorou, de fato: já aos 49', Dumfries teve espaço para avançar e quase marcar, em chute cruzado, enquanto Taylor tentou num voleio aos 52', bloqueado por Castagne - no escanteio da sequência, Timber (cada vez mais elogiado na zaga). 

Aí, sim, o jogo ganhou alguma atratividade. De um lado, a Bélgica reagiu, principalmente num chute cruzado de Onana aos 66', bem defendido por Pasveer. Do outro, a velocidade da Holanda aumentou nos contragolpes, e a bola começou a aparecer para Steven Bergwijn, que tentou aos 72', impedido por Courtois. De todo modo, pouco depois, Gakpo cobrou escanteio e Virgil van Dijk cabeceou para fazer 1 a 0. Definitivamente tranquila em termos de classificação às semifinais, a Laranja teve muitas chances para o segundo gol: Bergwijn aos 77', Klaassen aos 87', Bergwijn de novo aos 90'... além do mais, com o trio de zaga totalmente entrosado (e ajudado por Marten de Roon), a Bélgica só assustou aos 78', num arremate diagonal de Castagne. E, principalmente, no que seria um tremendo golaço de Dodi Lukebakio, no último lance do jogo - bicicleta que mandou a bola na trave.

E a Holanda ganhou seu último compromisso antes da estreia na Copa, contra Senegal, em 21 de novembro. Num jogo que valeu pouco, mas valeu. Sendo suficiente para garantir a vaga nos "Quatro Finalistas", ano que vem, como país-sede. Suficiente para manter a invencibilidade desta seleção sob Van Gaal - 15 jogos, 11 vitórias, quatro empates. Suficiente para manter a impressão cada vez mais consistente e promissora que os Países Baixos passam. E por tudo isso, não só suficiente, mas também bom.

Liga das Nações da UEFA - Liga A - Grupo 4

Holanda 1x0 Bélgica

Data: 25 de setembro de 2022
Local: Johan Cruyff Arena (Amsterdã)
Árbitro: Anthony Taylor (Inglaterra)
Gol: Virgil van Dijk, aos 74'

HOLANDA
Remko Pasveer; Jurriën Timber (Stefan de Vrij, aos 65'), Virgil van Dijk e Nathan Aké (Tyrell Malacia, aos 46'); Denzel Dumfries, Steven Berghuis (Cody Gakpo, aos 31'), Marten de Roon e Daley Blind; Davy Klaassen (Ryan Gravenberch, aos 90' + 2); Steven Bergwijn e Vincent Janssen (Kenneth Taylor, aos 46'). Técnico: Louis van Gaal

BÉLGICA
Thibaut Courtois; Zeno Debast, Toby Alderweireld e Jan Vertonghen; Thomas Meunier (Yannick Ferreira-Carrasco, aos 46'), Amadou Onana (Youri Tielemans, aos 75'), Axel Witsel e Timothy Castagne (Dodi Lukebakio, aos 82'); Eden Hazard (Leandro Trossard, aos 64'), Michy Batshuayi (Charles de Ketelaere, aos 46') e Kevin de Bruyne. Técnico: Thierry Henry (auxiliar - Roberto Martínez estava suspenso)

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Sob controle

A seleção da Holanda (Países Baixos) tinha desafio respeitável contra a Polônia. Passou por ele com autoridade (ProShots/Icon Sport via Getty Images)

Era um jogo arriscado: em Varsóvia, contra a Polônia, pela Liga das Nações. Precisando da vitória para, no mínimo, se aproximar da vaga entre os semifinalistas. Com um estreante no gol: Remko Pasveer, que recebeu a chance do técnico Louis van Gaal. Com algumas mudanças arriscadas, como escalar Cody Gakpo mais recuado, atrás da dupla Memphis Depay-Bergwijn. Pois a seleção masculina da Holanda (Países Baixos) respondeu bem a tudo isso. Fez 2 a 0, manteve o jogo sob controle, está com a vaga na semifinal ao alcance das mãos - classifica-se em caso (óbvio) de vitória, empate ou até derrota para a Bélgica, desde que abaixo dos três gols de diferença. 

A confiança da Laranja foi testada até precocemente: já aos cinco minutos, Teun Koopmeiners teve de sair, após ser atingido no rosto durante a dividida aérea com Karol Linetty. Eis que Steven Berghuis entrou bem, sendo até mais ofensivo. E a Holanda superou o solavanco inicial para manter o controle atrás, com o trio Jurriën Timber-Virgil van Dijk-Nathan Aké bloqueando com facilidade as chances polonesas - logo, impedindo pressão sobre Pasveer.

Tendo mais a bola no ataque, a Holanda ensaiou perigo num lançamento de Aké (já mostrando a ótima atuação que teria), que Daley Blind só não completou para o gol por passar do ponto na finalização. No lance seguinte, o 1 a 0 teve o que o ataque neerlandês pode oferecer de melhor: velocidade, rapidez, entrosamento, de Memphis Depay para Denzel Dumfries, e o cruzamento deste para Gakpo completar na pequena área. Era só o começo. Gakpo tentou aos 20’ (chute pelo alto), Berghuis tentou dois arremates colocados (aos 31’ e aos 43’, ambos para fora), até Aké se arriscou ao ataque. Esperado, diante de uma Polônia temerária na defesa e inapetente no ataque - teve só uma chance, e não foi com Robert Lewandowski, mas com Nicola Zalewski, aos 38’.

Porém, a Holanda estava tão tranquila que desacelerou até demais. Perdia oportunidades de finalização na frente, relaxava perigosamente atrás. A Polônia tentou aproveitar isso tão logo o segundo tempo começou, com a entrada de Arkadiusz Milik, que já teve uma chance aos 53’. As saídas de Frenkie de Jong (no intervalo, por precaução) e Memphis Depay (ao sentir dores musculares na parte posterior da coxa) poderiam ajudar a fragilizar a Holanda... mas não fragilizaram.


Janssen foi mais um reserva a entrar bem: voltou a dar  à Holanda o domínio da bola no ataque, comprovando isso com o segundo gol (Rafal Oleksiewicz/PressFocus/MB Media/Getty Images)

Porque como já ocorrera com Berghuis, Vincent Janssen entrou muito bem, fazendo exatamente o que era a intenção: segurar a bola no ataque. Numa dessas vezes, ele fez a tabela com Bergwijn, que entrou na área e fez o 2 a 0 da tranquilidade definitiva. Dali por diante, a Holanda teve mais chances para ampliar: num chute do mesmo Bergwijn aos 74’, num toque de Wout Weghorst aos 77’, em arremates de Cody Gakpo (80’) e Vincent Janssen (81’). 

Acima de tudo, a Holanda manteve o jogo sob controle, durante os 90 minutos. E mesmo com pontos de atenção (como a lentidão excessiva, em alguns momentos), se mostra cada vez mais promissora. A vaga na semifinal pode ser uma prova inequívoca disso. Se é que a vitória de agora já não o foi.

Liga das Nações da UEFA - Liga A - Grupo 4

Polônia 0x2 Holanda

Data: 22 de setembro de 2022
Local: PGE Narodowy (Varsóvia)
Árbitro: Alejandro Hernández (Espanha)
Gols: Cody Gakpo, aos 14’, e Steven Bergwijn, aos 60’

POLÔNIA
Wojciech Szczesny; Jan Bednarek, Kamil Glik e Jakub Kiwior; Przemyslaw Frankowski (Bartosz Bereszynski, aos 77’), Grzegorz Krychowiak, Karol Linetty (Arkadiusz Milik, aos 46’) e Nicola Zalewski (Michal Skoras, aos 77’); Sebastian Szymanski (Mateusz Klich, aos 70’) e Piotr Zielinski (Mateusz Legowski, aos 86’); Robert Lewandowski. Técnico: Czeslaw Michniewicz

HOLANDA
Remko Pasveer; Jurriën Timber, Virgil van Dijk e Nathan Aké; Denzel Dumfries, Frenkie de Jong (Marten de Roon, aos 46’), Teun Koopmeiners (Steven Berghuis, aos 5’) (Kenneth Taylor, aos 75’) e Daley Blind; Cody Gakpo; Memphis Depay (Vincent Janssen, aos 52’) e Steven Bergwijn (Wout Weghorst, aos 75’). Técnico: Louis van Gaal

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

É hora de decisão

Risos só na folga: Van Dijk está praticamente garantido na Copa, mas terá muito o que jogar - e Van Gaal, muito o que treinar e pensar a partir dos jogos decisivos na Liga das Nações, último estágio antes da Copa (KNVB Media/Divulgação)

Se fosse só pela Liga das Nações, as datas FIFA atuais já seriam decisivas para a seleção masculina da Holanda (Países Baixos). Afinal de contas, líder em seu grupo na Liga A, a Laranja terá pela frente as duas principais adversárias a tentarem impedir que ela volte às semifinais, como fez em 2019: a Polônia - nesta quinta, às 15h45 de Brasília, em Varsóvia - e a Bélgica - no próximo domingo, também às 15h45 do horário brasileiro, em Amsterdã. Mas essas partidas são até o de menos. Afinal de contas, há uma Copa do Mundo já batendo à porta. E esta será praticamente a última semana para muita coisa (testar os novos convocados, treinar esquemas táticos, avaliar os titulares habituais) antes da integração definitiva dos holandeses, dia 14 de novembro, só uma semana antes da estreia na Copa, contra Senegal.

Na entrevista coletiva da apresentação da delegação, na segunda-feira, o técnico Louis van Gaal repetiu isso, como já disse em diversas outras ocasiões: "Não podemos fazer diferente. Não temos tempo de preparação. Temos de resolver tudo nesta semana". E não se trata somente de trabalhos no centro de treinamentos da federação, na cidade de Zeist: "Os jogadores precisarão fazer de tudo. Experimentar roupas, passar por testes neurológicos, gravarem propagandas [por exemplo, para a rede de supermercados Albert Heijn]... tudo tem de ser feito nesta semana, porque durante a Copa do Mundo não se poderá fazer isso".

Se serve de consolo para Van Gaal, vários dos convocados já estão lá e estarão, salvo acidente, no Catar. E todos estão se comportando bem, segundo o técnico (“Acho esse grupo melhor que o de 2014. São mais velhos, jogam em grandes ligas (...) Eles têm compromissos além do futebol, mas fazem tudo no seu tempo”). Contudo,  a ausência de Georginio Wijnaldum, fora da Copa pela fratura na tíbia que sofreu, incomoda um bocado - trata-se de um dos jogadores mais importantes da Laranja nos anos recentes. Além disso, alguns jogadores importantes, como Virgil van Dijk e Matthijs de Ligt, viveram momentos preocupantes neste começo de temporada. E Van Gaal se lembrou de um momento que causou turbulências: a janela de transferências. Ao ser indagado sobre conversas que teve com jogadores que ficaram em seus clubes, como Cody Gakpo e Jurriën Timber (muito se disse que os teria aconselhado a ficar na Holanda), o técnico confirmou: “Falei com eles, é verdade, mas sempre terminei a conversa dizendo que era um conselho, e que eles deviam seguir seus instintos e tomarem a decisão sozinhos”.

É bem verdade, também, que Van Gaal viu dois dos destaques de sua equipe, Memphis Depay e Frenkie de Jong, ficarem em segundo plano no Barcelona ao lá permanecerem. Mas Van Gaal amenizou: “Os únicos [a terem problemas] são Memphis e Frenkie, mas eles também jogam regularmente, então é impossível dizer que a janela de transferências terminou mal. Eu ficaria mais feliz se eles jogassem com mais regularidade [no Barcelona], mas Frenkie já jogou 90 minutos em algumas partidas, então tudo bem”. Tudo bem também para o próprio Memphis Depay, que prometeu manter a disputa por titularidade: “Na temporada passada, fui artilheiro do time com Aubameyang, não é como se eu não tivesse mostrado nada. Eu não vou fugir porque a concorrência aumentou. Eu adoro concorrência”.

Noppert (pegando a bola) e Pasveer: dois goleiros convocados, dentro de um ambicioso teste para a posição, relacionado à chance de disputa de pênaltis para a Copa (Jeroen Meuwsen/Orange Pictures/BSR Agency/Getty Images)

Se é assim, então, os problemas da Laranja foram para temas secundários. Por exemplo, o que se fará com os goleiros. Sem nenhum titular absoluto na posição, Van Gaal chamou quatro nomes - incluindo dois estreantes, Remko Pasveer (38-para-39 anos, bem no Ajax) e Andries Noppert (começou a crescer no Go Ahead Eagles, segue bem no Heerenveen - Van Gaal até lembrou dos pedidos galhofeiros da torcida do Go Ahead Eagles pela convocação, agora real: “Eu achei que era piada, mas comecei a acompanhar melhor”).

Van Gaal justificou: “Queria ver Pasveer e Noppert, porque ser goleiro é uma posição específica é importante. Por isso foram convocados”. A partir disso, o técnico expôs sua intenção: preparar goleiros para disputas de pênaltis, sempre possíveis numa Copa do Mundo. Várias hipóteses são cogitadas, a partir de conversas de Van Gaal com o treinador de goleiros Frans Hoek. Por exemplo, levar mais um nome da posição entre os 26 convocados, além dos três obrigatórios: “Sempre quis isso, porque goleiro é uma posição especial”. 

Ou então, chamar Justin Bijlow (Feyenoord), ausência contestada aqui e ali na convocação, e Kjell Scherpen (Vitesse), somente para ambos se juntarem aos quatro goleiros convocados e testarem especificamente pênaltis (“Testa-se o tempo de reação, o caminho da bola e a relação entre essas duas coisas. Leva-se em conta o alcance, a altura do goleiro. Se você é mais alto, é mais difícil: a envergadura é maior mas o tempo de reação é menor”). Até mesmo um ex-técnico de vôlei - Peter Murphy, que comandou a seleção masculina da Holanda, ex-diretor da federação da modalidade no país, até incluído no Hall da Fama da FIVB neste ano - foi convidado por Van Gaal para preparar os atletas rumo aos pênaltis que já eliminaram a Holanda nas Copas de 1998 e 2014. Afinal, o treinador quer se cercar de todos os cuidados: “Sempre achei que você pode treinar pênaltis. Claro que o momento e a pressão são imprevisíveis, mas você pode automatizar as cobranças. Isso traz confiança”.

Há ainda as possibilidades que restam, numa convocação que deve ficar aberta até o último instante - por exemplo, mesmo com Kenneth Taylor convocado para sua posição, Ryan Gravenberch mantém as esperanças de ir à Copa (“Devo manter a cabeça erguida, que a chance virá”, falou com esperança à emissora NOS). Há o teste vindouro contra a Polônia - esperado por Van Gaal para seu esquema com três zagueiros (“Agora Lewandowski jogará, e acho que ele é o melhor atacante do mundo. É um teste para valer, porque em todos os jogos sob meu comando, acho que tomamos gols demais”).

Tudo para Van Gaal ter subsídios que o levem a fazer a escolha dos convocados, no mês que vem. Porque é hora de decisão. Literalmente.

Os convocados da Holanda

Goleiros: Jasper Cillessen (NEC), Mark Flekken (Freiburg-ALE), Andries Noppert (Heerenveen) e Remko Pasveer (Ajax)

Laterais: Denzel Dumfries (Internazionale-ITA), Devyne Rensch (Ajax), Daley Blind (Ajax) e Tyrell Malacia (Manchester United-ING)

Zagueiros: Virgil van Dijk (Liverpool-ING), Stefan de Vrij (Internazionale-ITA), Matthijs de Ligt (Bayern de Munique-ALE), Jurriën Timber (Ajax) e Nathan Aké (Manchester City-ING)

Meio-campistas: Frenkie de Jong (Barcelona-ESP), Teun Koopmeiners (Atalanta-ITA), Steven Berghuis (Ajax), Davy Klaassen (Ajax), Marten de Roon (Atalanta-ITA) e Kenneth Taylor (Ajax)

Atacantes: Memphis Depay (Barcelona-ESP), Steven Bergwijn (Ajax), Cody Gakpo (PSV), Wout Weghorst (Besiktas-TUR) e Vincent Janssen (Royal Antwerp-BEL)

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Fichário: os jogos e os vídeos da 7ª rodada da Eredivisie 2022/23

Utrecht 0x0 NEC (sexta-feira, 16 de setembro de 2022)

Local: De Galgenwaard (Utrecht)
Árbitro: Marc Nagtegaal
Jogo resumido: Até que as duas equipes tentaram marcar - o NEC mais no primeiro tempo, o Utrecht mais no segundo. Todavia, o bom trabalho dos dois goleiros manteve o placar inalterado

UTRECHT
Vassilis Barkas; Hidde ter Avest (Sean Klaiber, aos 74'), Mark van der Maarel, Modibo Sagnan e Djevencio van der Kust (Django Warmerdam, aos 46'); Moussa Sylla (Sander van de Streek, aos 63'), Jens Toornstra, Can Bozdogan (Luuk Brouwers, aos 90') e Othman Boussaid; Bas Dost e Anastasios Douvikas (Daishawn Redan, aos 63'). Técnico: Henk Fräser

NEC
Jasper Cillessen; Bart van Rooij, Iván Márquez, Calvin Verdonk e Souffian El Karouani; Dirk Proper (Andri Baldursson, aos 81'), Lasse Schöne e Magnus Mattsson (Terry Lartey Sanniez, aos 76'); Elayis Tavsan (Ibrahim Cissoko, aos 86'), Landry Dimata (Pedro Marques, aos 86') e Mikkel Duelund. Técnico: Rogier Meijer


Sparta Rotterdam 2x1 Groningen (sábado, 17 de setembro de 2022)

Local: Het Kasteel (Roterdã)
Árbitro: Danny Makkelie
Gols: Ricardo Pepi, aos 62', Sven Mijnans, aos 74', e Vito van Crooij, aos 90' + 1
Jogo resumido: Num segundo tempo movimentado, o Groningen saiu na frente graças a Ricardo Pepi - já jogando bem -, mas o Sparta teve poder de reação. E conseguiu triunfar de virada, mesmo com um pênalti controverso

SPARTA ROTTERDAM
Youri Schoonderwaldt; Shurandy Sambo, Bart Vriends, Adil Auassar e Mica Pinto; Jonathan de Guzmán (Jeremy van Mullem, aos 77'), Sven Mijnans (Arno Verschueren, aos 90') e Jonathan Kitolano; Koki Saito (Younes Namli, aos 77'), Tobias Lauritsen (Mario Engels, aos 90') e Vito van Crooij. Técnico: Maurice Steijn

GRONINGEN
Michael Verrips; Liam van Gelderen (Ramon-Pascal Lundqvist, aos 90' + 1), Mike te Wierik, Radinio Balker, Marin Sverko e Isak Määttä (Neraysho Kasanwirjo, aos 73'); Joey Pelupessy e Laros Duarte; Tomas Suslov, Ricardo Pepi (Florian Krüger, aos 65') e Paulos Abraham. Técnico: Frank Wormuth


Vitesse 1x1 Volendam (sábado, 17 de setembro de 2022)

Local: GelreDome (Arnhem)
Árbitro: Erwin Blank
Gols: Robert Mühren, aos 21', e Bartosz Bialek, aos 49'
Jogo resumido: Antes do intervalo, o goleiro Filip Stankovic fez ótimas defesas para o Volendam, que saiu na frente. Depois do intervalo, o Vitesse empatou, buscou a virada... mas seguiu tendo Stankovic, em ótima atuação, pela frente. Empate que mantém o mau começo de ambos na liga

VITESSE
Kjell Scherpen; Melle Meulensteen, Enzo Cornelisse (Romaric Yapi, aos 85') e Ryan Flamingo; Carlens Arcus, Matus Bero, Kacper Kozlowski (Million Manhoef, aos 72'), Sondre Tronstad e Maximilian Wittek; Gabriel Vidovic (Nikolai Baden Frederiksen, aos 76') e Bartosz Bialek (Thomas Buitink, aos 85'). Técnico: Thomas Letsch

VOLENDAM
Filip Stankovic; Brian Plat (Achraf Douiri, aos 37'), Xavier Mbuyamba, Benaissa Benamar e Derry John Murkin; Damon Mirani, Gaetano Oristanio e Carel Eiting; Daryl van Mieghem (Ibrahim El Kadiri, aos 64'), Robert Mühren (Oskar Buur, aos 86') e Bilal Ould-Chikh (Henk Veerman, aos 64'). Técnico: Wim Jonk


RKC Waalwijk 5x1 Cambuur (sábado, 17 de setembro de 2022)

Local: Mandemakers Stadion (Waalwijk)
Árbitro: Sander van der Eijk
Gols: Jamie Jacobs, aos 18', Michiel Kramer, aos 32' e aos 89', Marco Tol (contra), aos 77', Zakaria Bakkali, aos 82', e Iliass Bel Hassani, aos 87'
Jogo resumido: Mesmo com dois jogadores expulsos (sem contar o técnico), o Cambuur se aguentou notavelmente durante boa parte do jogo. Contudo, no fim, o RKC Waalwijk rumou para a goleada

RKC WAALWIJK 
Etiënne Vaessen; Juriën Gaari, Julian Lelieveld (Mika Biereth, aos 70'), Dario van den Buijs (Roy Kuijpers, aos 46'), Shawn Adewoye e Thierry Lutonda (Zakaria Bakkali, aos 60'); Pelle Clement (Patrick Vroegh, aos 84'), Vurnon Anita e Iliass Bel Hassani; Julen Lobete (Florian Jozefzoon, aos 46') e Michiel Kramer. Técnico: Joseph Oosting

CAMBUUR
João Virgínia; Sai van Wermeskerken, Marco Tol, Léon Bergsma (Calvin Mac-Intosch, aos 68') e Alex Bangura; Jamie Jacobs, Mees Hoedemakers e Mitchel Paulissen (Remco Balk, aos 83'); Silvester van der Water (David Sambissa, aos 46'), Tom Boere (Michael Breij, aos 46') e Felix Mambimbi (Daniël van Kaam, aos 12'). Técnico: Henk de Jong


Fortuna Sittard 1x0 Excelsior (sábado, 17 de setembro de 2022)

Local: Fortuna Sittard Stadion (Sittard)
Árbitro: Edwin van de Graaf
Gol: Rémy Vita, aos 87'
Jogo resumido: Durante muito tempo, o empate sem gols pareceu o resultado mais provável. Mas o Fortuna Sittard, mesmo com um a menos, conseguiu sua primeira vitória na temporada, saindo da última posição

FORTUNA SITTARD
Ivor Pandur; Ivo Pinto, Rodrigo Guth, Dimitris Siovas (Roel Janssen, aos 73') e George Cox; Arijanet Ferati e Deroy Duarte (Oguzhan Özyakup, aos 55'); Tijjani Noslin (Umaró Embaló, aos 55'), Mats Seuntjens e Iñigo Córdoba (Rémy Vita, aos 61'); Burak Yilmaz. Técnico: Julio Velásquez
 
EXCELSIOR
Stijn van Gassel; Siebe Horemans, Serano Seymor, Redouan El Yaakoubi e Nathan Tjoe-A-On; Adrian Fein (Lazaros Lamprou, aos 56'), Yassin Ayoub (Joshua Eijgenraam, aos 68'), Julian Baas e Kenzo Goudmijn; Couhaib Driouech (Nathangelo Markelo, aos 81') e Mike van Duinen (Reda Kharchouch, aos 81'). Técnico: Marinus Dijkhuizen


Go Ahead Eagles 2x0 Emmen (domingo, 18 de setembro de 2022)

Local: De Adelaarshorst (Deventer)
Árbitro: Serdar Gözübüyük
Gols: Oliver Edvardsen, aos 31' e aos 57'
Jogo resumido: O Go Ahead Eagles teve um diferencial em Edvardsen, autor dos dois gols. E se valeu deles para ostentar franca superioridade sobre o Emmen, que caiu para a lanterna

GO AHEAD EAGLES
Jeffrey de Lange; Jamal Amofa, Mats Deijl, Bas Kuipers e Jay Idzes; Bobby Adekanye (Martijn Berden, aos 70'), Philippe Rommens, Evert Linthorst e Oliver Edvardsen (Tesfaldet Tekie, aos 79'); Willum Willumson (Sylla Sow, aos 70') e Isac Lidberg. Técnico: René Hake

EMMEN
Eric Oelschlägel; Keziah Veendorp (Mohamed Bouchouari, aos 46'), Miguel Araújo, Jeroen Veldmate e Lorenzo Burnet (Julius Dirksen, aos 70'); Lucas Bernadou (Michael Heylen, aos 86') e Jari Vlak (Fernando Pacheco, aos 70'); Rui Mendes, Mark Diemers e Ole Romeny; Richairo Zivkovic (Jassin-Amin Assehnoun, aos 70'). Técnico: Dick Lukkien


PSV 4x3 Feyenoord (domingo, 18 de setembro de 2022)

Local: Philips Stadion (Eindhoven)
Árbitro: Allard Lindhout
Gols: Oussama Idrissi, aos 3', Jarrad Branthwaite, aos 16', Cody Gakpo, aos 25', Danilo, aos 42', Guus Til, aos 47', Orkun Kökcü, aos 73', e Armando Obispo, aos 83'
Jogo resumido: Por um lado, as defesas falharam constantemente. Por outro, foi um clássico como a maioria gosta: cheio de gols e de emoção. A participação de Gakpo, com um gol e passes para os outros três, desequilibrou a favor do PSV, o novo líder, vencendo o Feyenoord após quatro anos

PSV
Walter Benítez; Jordan Teze, Jarrad Branthwaite, Armando Obispo (André Ramalho, aos 85') e Philipp Max; Ibrahim Sangaré e Joey Veerman (Philipp Mwene, aos 90' + 3); Ismael Saibari, Guus Til (Erick Gutiérrez, aos 74') e Cody Gakpo; Xavi Simons (Johan Bakayoko, aos 74'). Técnico: Ruud van Nistelrooy

FEYENOORD
Justin Bijlow; Marcus Pedersen, Gernot Trauner, Dávid Hancko e Marcos López (Ezequiel Bullaude, aos 85'); Quinten Timber, Orkun Kökcü e Javairô Dilrosun (Sebastian Szymanski, aos 71'); Alireza Jahanbakhsh (Patrik Walemark, aos 56'), Danilo (Santiago Giménez, aos 56') e Oussama Idrissi (Igor Paixão, aos 56'). Técnico: Arne Slot


Heerenveen 2x1 Twente (domingo, 18 de setembro de 2022)

Local: Abe Lenstra (Heerenveen)
Árbitro: Jeroen Manschot
Gols: Virgil Misidjan, aos 2', Milan van Ewijk, aos 28', e Pawel Bochniewicz, aos 36'
Jogo resumido: O mau começo preconizava um desastre para o Heerenveen. Mas o time da casa virou o placar, num contra-ataque e numa bola parada (escanteio). E se aguentou no segundo tempo, contando com (mais uma) ótima atuação do goleiro Noppert para conseguir uma vitória inesperada e celebrada

HEERENVEEN
Andries Noppert; Milan van Ewijk, Joost van Aken, Sven van Beek, Pawel Bochniewicz e Rami Kaib (Hussein Ali, aos 84'); Anas Tahiri, Antoine Colassin (Rami Al-Hajj, aos 62') e Simon Olsson; Sydney van Hooijdonk (Syb van Ottele, aos 84') e Amin Sarr. Técnico: Kees van Wonderen

TWENTE
Lars Unnerstall; Joshua Brenet, Robin Pröpper (Julio Pleguezuelo, aos 75'), Mees Hilgers e Gijs Smal; Mathias Kjolo (Manfred Ugalde, aos 65'), Ramiz Zerrouki e Michel Vlap (Wout Brama, aos 89'); Vaclav Cerny (Denilho Cleonise, aos 89'), Ricky van Wolfswinkel e Virgil Misidjan (Daan Rots, aos 75'). Técnico: Ron Jans


AZ 2x1 Ajax (domingo, 18 de setembro de 2022)

Local: AFAS Stadion (Alkmaar)
Árbitro: Bas Nijhuis
Gols: Mohammed Kudus, aos 12', Mees de Wit, aos 40', e Jens Odgaard, aos 45' + 6
Jogo resumido: O Ajax até mostrou alguma eficiência no ataque, no primeiro tempo. No entanto, o AZ foi mais ofensivo durante o jogo, virou para 2 a 1, teve chances de marcar o terceiro gol e se segurou com dedicação (e alguma sorte), impondo a primeira derrota ao Ajax com qualidade

AZ
Hobie Verhulst; Pantelis Hatzidiakos, Sam Beukema, Bruno Martins Indi (Maxim Dekker, aos 45' + 2) e Milos Kerkez; Tijjani Reijnders, Dani de Wit e Jordy Clasie; Yukinari Sugawara, Jens Odgaard (Mayckel Lahdo, aos 84') e Mees de Wit (Riechedly Bazoer, aos 84'). Técnico: Pascal Jansen

AJAX
Remko Pasveer; Devyne Rensch (Brian Brobbey, aos 63'), Jurriën Timber, Calvin Bassey e Daley Blind; Kenneth Taylor  (Davy Klaassen, aos 46'), Steven Berghuis e Edson Álvarez; Steven Bergwijn (Lorenzo Lucca, aos 81'), Mohammed Kudus (Lucas Ocampos, aos 81') e Dusan Tadic. Técnico: Alfred Schreuder

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Guia da Eredivisie feminina 2022/23: troca de guarda

Em seu lento desenvolvimento, o Campeonato Holandês feminino começa a ter uma nova geração tomando conta - e Van Domselaar é um dos grandes símbolos dela (Marcel ter Bals/Orange Pictures/BSR Agency/Getty Images)

É engraçado notar: de certa forma, na rotina do futebol feminino da Europa, o Campeonato Holandês já se tornou algo semelhante ao que é entre os homens. A Azerion Vrouwen Eredivisie (nome mudado, pelo novo patrocinador - a Azerion, desenvolvedora de games e promotora de eventos de e-sports) é uma liga que dá espaço às jogadoras jovens e talentosas, holandesas ou não. Uma vez que se destaquem bastante, a liga dos Países Baixos fica "pequena demais" para elas, que normalmente migram para campeonatos nacionais mais competitivos. É o que deverá acontecer com uma geração altamente promissora, ganhando cada vez mais espaço na seleção. Essa troca de guarda deve ser comprovada pela temporada 2022/23, que começa nesta sexta-feira, com quatro partidas.

Nenhuma pessoa simboliza mais isso do que Sari van Veenendaal. Escolhida pela FIFA a melhor goleira do mundo em 2019, nome certo para iniciar a escalação da seleção feminina da Holanda (Países Baixos) nos últimos sete anos, capitã das Leoas Laranjas, Van Veenendaal era criticada nos últimos tempos, pela queda técnica. Na Euro feminina passada, lesionou-se no ombro com apenas 21 minutos jogados na estreia, contra a Suécia. Daphne van Domselaar entrou, e foi uma das melhores goleiras da Euro, mostrando que estava pronta para ocupar a titularidade no gol. O brilho de Van Domselaar, a perspectiva da recuperação de uma lesão aos 32 anos de idade (com toda a monotonia dos trabalhos), a vontade de encarar novas coisas fora do futebol... tudo isso influiu na decisão anunciada por Sari em julho: encerrar a carreira. Pareceu o pontapé inicial para uma gradual saída de cena de várias mulheres que foram decisivas na popularização do futebol feminino na Holanda. Mesmo com atuações muito dignas na Euro, Stefanie van der Gragt foi dispensada pelo Ajax, em detrimento de uma zaga mais jovem. De veteranas, no duro, a Eredivisie terá só Sherida Spitse, Siri Worm, Kika van Es e Renate Jansen. Mesmo nomes como Lieke Martens e Daniëlle van de Donk, ambas em ligas ainda competitivas, já não ocupam o destaque de antes.

Já a citada Van Domselaar é só a abre-alas da mudança geracional que o futebol feminino neerlandês vive - mudança iniciada na seleção pelo demitido e criticado Mark Parsons, justiça seja feita. Victoria Pelova, Esmee Brugts, Romée Leuchter: todas jovens, todas tiveram espaço na Euro feminina, todas deixaram uma impressão honrosa na campanha da Holanda, todas com espaço cada vez maior em seus clubes. Sem contar nomes como Fenna Kalma, a goleadora e melhor jogadora da temporada passada da Eredivisie feminina. Kalma ainda ficou de fora do torneio continental de seleções, para aborrecimento de muitos - e foi prontamente incluída na primeira convocação de Andries Jonker como técnico da seleção de mulheres. Já Brugts fez o gol da vitória no dramático 1 a 0 contra a Islândia, pela última rodada das eliminatórias da Copa, garantindo a vaga direta no Mundial de 2023 para o time neerlandês. Mais um sinal de que todas essas jogadoras estão prontas para assumirem maiores responsabilidades. 

Há também sinais de fortalecimento na liga. Afinal de contas, dois novos clubes disputarão o campeonato, aumentando o número para 11, disputando 22 rodadas: o Fortuna Sittard criou uma equipe de mulheres, e o Telstar reativou a sua. E o Utrecht já antecipou: também reviverá seu time feminino, para a temporada 2023/24. Porém, o nível de exigência também aumenta. Foi o que Sherida Spitse ponderou, quando os dois novos integrantes foram anunciados: de nada servirá aumentar o número de clubes, se isso não significar um nível técnico mais competitivo. Sem contar Vivianne Miedema: o grande símbolo atual da Holanda (Países Baixos) no futebol feminino sempre faz questão de ressaltar como é importante que as promessas holandesas logo migrem para campeonatos mais competitivos - pelo aspecto fisico e técnico, mas também pelo aspecto da maturidade.

De fato. É bom lembrar que nenhum clube holandês disputou a fase de grupos da Liga dos Campeões feminina passada, o Twente já ficou pelo caminho nesta, e o Ajax terá o dificílimo desafio de passar pelo Arsenal se quiser chegar aos grupos - isso, numa Champions League feminina que terá sua decisão em Eindhoven nesta temporada. No entanto, há esta nova geração que surge. Que iniciará um novo capítulo no futebol feminino holandês. E que terá neste campeonato iniciante o momento para comprovar: está pronta para substituir a geração que tanto marcou, mas cujo adeus começou com Van Veenendaal. E foi só o adeus inicial...

Ainda sem Van Westeringh, o ADO Den Haag conta com Ravensbergen para ser bom no ataque (Kees Kuijt/BSR Agency/Getty Images)

ADO Den Haag

Cidade: Haia  
Equipe feminina fundada em: 2007
Estádio: Cars Jeans Stadion (capacidade para 15.000 torcedores) 
Apelidos: Hagenaren (nome dado aos habitantes e nativos da cidade de Haia)
Títulos: 1 Campeonato Holandês (três Copas da Holanda)
Patrocínio: Girl Power Radio (webrádio)
Técnico: Sjaak Polak
Destaque: Jaimy Ravensbergen (atacante)
Fique de olho: Kirsten van de Westeringh (atacante) e Wiëlle Douma (defensora)
Temporada passada: 4º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: terminar entre os quatro primeiros

O ADO Den Haag pode não ter como fazer frente aos três grandes do futebol feminino na Holanda. Ainda assim, o trabalho do técnico Sjaak Polak merece elogios. Principalmente, pela organização defensiva - que até permite ao time sair para o ataque com relativa capacidade técnica. E esses dois setores têm destaques claros. Na defesa, há a experiência da goleira Barbara Lorsheyd (agora, reserva imediata de Van Domselaar na seleção - pelo menos, por enquanto) e a promissora zagueira Wiëlle Douma. O ataque está em compasso de espera: se Jaimy Ravensbergen é a principal esperança de gols, há a perspectiva da recuperação de Kirsten van de Westeringh, principal criadora de jogadas, vinda de rompimento do ligamento cruzado anterior do joelho. Até a recuperação se consumar, o Den Haag espera manter a organização, para continuar como o "melhor do resto". A competição por isso vai aumentar, e a equipe de Haia parece preparada.

Romée Leuchter já é uma das principais atacantes da Holanda como um todo. E atrai as principais expectativas para ajudar as Ajacieden a, enfim, levarem a Vrouwen Eredivisie (Geert van Erven/Orange Pictures/BSR Agency/Getty Images)

Ajax

Cidade: Amsterdã 
Equipe feminina criada em: 2012
Estádio: De Toekomst (capacidade para 2.250 torcedores) 
Apelidos: Ajacieden (nome dado a torcedores e jogadores do clube); Amsterdammers
Títulos: 2 Campeonatos Holandeses (cinco Copas da Holanda)
Patrocínio: ABN-Amro (banco)
Técnica: Suzanne Bakker
Destaques: Victoria Pelova (meio-campista) e Romée Leuchter (atacante)
Fique de olho: Lisa Doorn (defensora)
Temporada passada: 2º colocado
Copas europeias: Liga dos Campeões (enfrentará o Arsenal-ING, na segunda fase preliminar)
Objetivo: Título

Apesar de todo o investimento, de toda a boa vontade, de ter até um título feminino na temporada passada (a Copa da Holanda), o Ajax ainda não conseguiu o título holandês com que tanto sonha. Para enfim consegui-lo, a aposta é clara na juventude, a ponto de dispensar Stefanie van der Gragt, um nome experiente que poderia ajudar. Além disso, a atacante Kelly Zeeman encerrou a carreira. E Sherida Spitse ficou como o único nome mais calejado para guiar, como capitã, um time jovem e talentoso. Na defesa, Lisa Doorn; no meio-campo, Victoria Pelova e Nadine Noordam; no ataque, Romée Leuchter, Nikita Tromp e Chasity Grant. Todas elas, destaques do Ajax, já capazes de disputarem vaga na seleção holandesa mesmo com pouca idade. De quebra, um nome que sofreu com lesões tem nesta temporada a sua chance de reagir: a goleira Lize Kop se recuperou da grave concussão cerebral que sofreu no ano passado, e virá com tudo para recuperar a titularidade nas Ajacieden e o espaço que um dia teve na seleção. Escolhida a dedo pela diretora Daphne Koster para suceder Danny Schenkel, a técnica Suzanne Bakker já teve um bom começo, ao eliminar o 1.FFC Frankfurt alemão e ficar mais perto da vaga na fase de grupos da Liga dos Campeões. Só aumenta o ânimo para a crença em Amsterdã: dessa vez, vai.

Naomi Piqué é um dos únicos motivos para o Excelsior apostar que as coisas podem ser melhores (excelsiorroterdam.nl/Divulgação)

Excelsior

Cidade: Roterdã
Equipe feminina criada em: 2017
Estádio: Van Donge & De Roo (capacidade para 4.500 torcedores) 
Apelido: Kralingers (de Kralingen, o bairro da cidade de Roterdã onde fica o Excelsior)
Títulos: nenhum 
Patrocínio: Spieren voor Spieren (organização beneficente para ajudar crianças com problemas musculares congênitos)
Técnico: Richard Mank
Destaque: Naomi Piqué (atacante)
Fique de olho: Iris van Bokhoven (atacante)
Temporada passada: 9º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: não terminar em último

O último colocado da Vrouwen Eredivisie passada já está acostumado à dura realidade das posições de baixo da tabela. E deverá continuar acostumado a isso: em que pese um desempenho honroso na Copa da Holanda para mulheres (chegou à semifinal, perdendo para o campeão Ajax), o Excelsior ainda tem dificuldades de estrutura. Foi um alvo preferencial de gols - só o Twente colocou 21 bolas na rede das Kralingers, ao longo de três jogos, na liga passada. Pelo menos, o técnioco Richard Mank ficou para a temporada passada. E tem boas jogadoras, como as atacantes Naomi Piqué e Iris van Bokhoven (candidata a revelação). Entretanto, a principal perspectiva delas é só partir para um clube que tenha mais aspirações dentro do futebol feminino - como fez Sabrine Ellouzi, que se foi para o Feyenoord.

O Feyenoord aproveitou sua temporada de estreia para ver as referências aparecerem no time. Sabrine Ellouzi chega, agora, para tentar ser outra delas (Feyenoord.nl/Divulgação)

Feyenoord

Cidade: Roterdã 
Equipe feminina fundada em: 2021
Estádio: Varkenoord (capacidade para 2.000 torcedores) 
Apelidos: Stadionclub (em holandês, "o clube do estádio" - referência a De Kuip, considerado o mais tradicional estádio do país); Feyenoorders; Rotterdammers
Títulos: nenhum
Patrocínio: EuroParcs (rede de espaços de acampamento)
Técnico: Danny Mulder
Destaque: Sabrine Ellouzi (atacante)
Fique de olho: Jacintha Weimar (goleira)
Temporada passada: 5º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: terminar entre os quatro primeiros

A temporada passada, primeira do Feyenoord disputando o Campeonato Holandês de mulheres, foi para se estabelecer. E isso aconteceu: entre momentos bons (ganhar o primeiro Klassieker feminino oficial, goleando o Ajax por 4 a 1) e ruins (levar 6 a 0 do ADO Den Haag, em casa), terminar em quinto lugar foi um desempenho de não se envergonhar. Agora, já estabelecido, esta temporada é para o Stadionclub se afirmar. Até porque ele já tem seus destaques para apresentar, No gol, Jacintha Weimar foi à Euro feminina às pressas, preenchendo a lacuna deixada pelo corte de Van Veenendaal, e se mostra muito promissora. No meio-campo, Cheyenne van der Goorbergh garante a experiência. No ataque, já havia Pia Rijsdijk e Sophie Cobussen. Sanne Koopman, titular da Holanda na boa campanha no Mundial sub-20 feminino, vira mais uma opção de gols com sua chegada, do VV Alkmaar. E Sabrine Ellouzi veio do Excelsior para ajudar Van der Goorbergh no meio. Enfim, o nível de exigência aumentará um pouco mais no centro de treinamentos de Varkenoord.

Já antológica no futebol feminino da Bélgica, a atacante Tessa Wullaert foi a abre-alas da ambiciosa estreia do Fortuna Sittard na Eredivisie feminina (fortunasittard.nl/Divulgação)

Fortuna Sittard

Cidade: Sittard
Equipe feminina fundada em: 2022
Estádio: Fortuna Sittard Stadion (capacidade para 12.000 torcedores)
Apelidos: FSC, Fortunezen 
Títulos: nenhum
Patrocínio: Azerion (fabricante de games para computador)
Técnico: Roger Reijners
Destaque: Tessa Wullaert (atacante)
Fique de olho: Samantha van Diemen (defensora)
Temporada passada: não disputou
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: não terminar em último

No Campeonato Holandês masculino, o Fortuna causou furor na pré-temporada, com uma ambiciosa contratação (o atacante turco Burak Yilmaz). E no feminino, o clube auriverde de Sittard também celebrou a sua temporada de estreia na Vrouwen Eredivisie com pompa e circunstância. Para começo de conversa, trouxe a principal referência que a Bélgica tem em futebol feminino: a atacante Tessa Wullaert, maior goleadora da história da seleção de mulheres daquele país, de atuações razoáveis na Euro. Depois, vieram nomes promissores do próprio futebol doméstico, como a goleira Claire Dinkla, a meio-campista Dana Foederer e a defensora Samantha van Diemen - esta, tendo nova chance, após saída turbulenta e mal explicada do Feyenoord. Para treinar todas elas, um nome de experiência comprovada no futebol feminino: Roger Reijners, treinador da Holanda na primeira participação dela numa Copa do Mundo (2015). Enfim, o Fortuna Sittard começou com tudo no futebol feminino. Mas está só começando. Só o tempo dirá se a empolgação inicial virará uma condução regular das coisas.

O Heerenveen quer se fortalecer de novo como time bom para revelar jogadoras, e Buikema pode catalisar isso (Photo by Perry van de Leuvert/BSR Agency/Getty Images)

Heerenveen

Cidade: Heerenveen  
Equipe feminina criada em: 2007
Estádio: Sportpark Skoatterwâld (capacidade para 3.000 torcedores) 
Apelidos: Fean (corruptela de "Hearrenfean", nome do time no idioma frísio - falado na província de Frieslândia, onde fica a cidade de Heerenveen), Frísios, Time da Frísia, "De Superfriezen" ("os superfrísios") 
Títulos: nenhum
Patrocínio: Ausnutria (empresa de alimentos infantis à base de leite de cabra)
Técnico: Hans Schrijver
Destaque: Nayomi Buikema (meio-campista)
Fique de olho: Dayna Schra (atacante)
Brasileiras no grupo de jogadoras: nenhuma
Temporada passada: 7º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: não terminar em último

Em tempos idos, o time feminino do Heerenveen ficou famoso por ser a porta de entrada de várias boas jogadoras para uma carreira regular: para ficar só num exemplo disso, Vivianne Miedema começou sua trajetória no time da Frísia. Contudo, até mesmo esse posto tem sido perdido pelo Fean nas temporadas recentes. Para tentar recuperá-lo, optou-se por um técnico experiente, embora mais vinculado ao futebol masculino: Hans Schrijver, 63 anos. E Schrijver terá alguns nomes promissores, como a meio-campista Nayomi Buikema (já presente na seleção sub-19 da Holanda) e a atacante Dayna Schra. Quem sabe seja suficiente para fazer o Fean ter uma posição um pouco melhor - não muito, mas um pouco - na liga.

Muitos reforços experientes vieram. Mas é de uma novata já comprovada, Esmee Brugts, que o PSV mais espera o talento para ser levado mais a sério (Broer van den Boom/BSR Agency/Getty Images)

PSV

Cidade: Eindhoven  
Equipe feminina criada em: 2012
Estádio: Sportcomplex De Herdgang (capacidade para 2.500 torcedores) 
Apelidos: Boeren (em holandês, "fazendeiros" - referência ao grande número de fazendas e áreas verdes na região onde fica Eindhoven); Eindhovenaren (nativos de Eindhoven) 
Títulos: nenhum Campeonato Holandês (uma Copa da Holanda)
Patrocínio: Brainport Eindhoven (conglomerado formado por cinco empresas de Eindhoven)
Técnico: Rick de Rooij
Destaques: Esmee Brugts (atacante) e Joëlle Smits (atacante)
Fique de olho: Lisan Alkemade (goleira)
Temporada passada: 3º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: Título

Se o rival Ajax tem a pressão ampliada para tentar destronar o Twente no topo da Eredivisie, a pressão no PSV é ainda maior. A temporada passada foi uma tremenda decepção em Eindhoven: um time que ficou a muitos pontos da disputa do título, deixou passar a Copa da Holanda que vencera em 2020/21, nem mesmo teve a Eredivisie Cup para se consolar. Para tentar voltar a ser concorrente digno de menção, o clube passou por algumas reformulações. Uma delas, por obrigação: o fim da carreira de Sari van Veenendaal abre caminho para Lisan Alkemade, titular no gol da Holanda quarta colocada no Mundial sub-20 feminino, ocupar a vaga no gol dos Boeren. Outras delas, por investimento: nomes experientes, Siri Worm e Kika van Es chegam para ajudar Mandy van den Berg a estabilizar a defesa. No meio-campo, a vida sem Desirée van Lunteren (outra veterana que parou) passa a ter a mexicana Anika Rodríguez como destaque, além de Inessa Kaagman, mais um reforço de longos serviços prestados à seleção. No ataque, há Naomi Pattiwael; Joëlle Smits, de volta após a apagada passagem pelo Wolfsburg... e Esmee Brugts, um dos grandes símbolos da nova e talentosa geração holandesa que surge. A ponta-esquerda tem todo o talento técnico para personificar uma fase em que o PSV, quem sabe, consiga transformar investimento em resultados.

Chelly Drost é uma das raras veteranas num grupo novo, para o reiniciante Telstar (sctelstar.nl/Divulgação)

Telstar

Cidade: Velsen
Equipe feminina criada em: 2022
Estádio: BUKO Stadion (capacidade para 3.260 torcedores)
Apelidos: De Witte Leeuwinnen ("As Leoas Brancas", derivação de "Witte Leeuwen", "leões brancos", apelido do time masculino)
Títulos: nenhum
Patrocínio: Sportcity (rede de academias)
Técnico: Marelle Worm
Destaques: Chelle Drost (meio-campista) e Dominique Bruinenberg (meio-campista)
Fique de olho: Isa Gomez (atacante)
Temporada passada: não disputou
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: não terminar em último

O Telstar é um "quase novato". Afinal, chegou a disputar a antiga BeNeLiga até 2016 - com direito até a um terceiro lugar, em 2011/12. Porém, veio a falta de dinheiro, a desativação da equipe feminina, toda a estrutura passando para o VV Alkmaar... e só agora os "Leões Brancos" podem ter também as "Leoas Brancas". Coube à diretora Yvonne van Gennip comandar a montagem de um grupo novo, que terá experiência somente em duas meio-campistas, Chelle Drost e Dominique Bruinenberg. A técnica Marelle Worm aprendeu no lugar e com a pessoa certa: tendo jogado a maior parte da carreira no ADO Den Haag, Worm foi pupila de uma certa Sarina Wiegman. E mesmo (re)iniciante, o Telstar começa com um bom clima para impulsionar o futebol feminino. Até por um parceiro mais ligado ao futebol masculino: Andries Jonker, novo técnico da seleção, teve o último trabalho no time de homens do Telstar, e incentivou bastante a criação da equipe feminina.

Goleadora máxima do futebol feminino dos Países Baixos, atacante muito promissora em termos de seleções, melhor da Eredivisie passada: Fenna Kalma simboliza um Twente que já é dominante, e quer ser ainda mais (Rene Nijhuis/BSR Agency/Getty Images)

Twente

Cidade: Enschede
Equipe feminina criada em: 2007
Estádio: Het Diekman (capacidade para 2.500 torcedores) 
Apelidos: Tukkers (gíria para nativos do Twenthe, região da província de Overijssel onde fica a cidade de Enschede)
Títulos: 8 Campeonatos Holandeses (duas Copas da Holanda, uma Supercopa da Holanda e duas BeNeLigas)
Patrocínio: Roetgerink (vestuário e sapataria)
Técnico: Joram Pot
Destaque: Fenna Kalma (atacante)
Fique de olho: Daphne van Domselaar (goleira) e Marit Auée (defensora)
Temporada passada: Campeão
Copas europeias: Liga dos Campeões (eliminado pelo Benfica-POR, na primeira fase preliminar)
Objetivo: Título

Somente a precoce eliminação nas fases preliminares da Liga dos Campeões das mulheres e a saída de Kerstin Casparij, rumando para o Manchester City, foram motivo de lamentação no Twente. De resto, o time de Enschede continua com o grupo inalterado para tentar manter o domínio que hoje tem no futebol feminino dos Países Baixos, exemplificado com o tricampeonato da Vrouwen Eredivisie, o título da Eredivisie Cup e a vitória na Supercopa da Holanda, conquista que abriu esta temporada. Se é verdade que se deve ter cautela na observação do trabalho sob um novo técnico  (Joram Pot, vindo do Zwolle para suceder Robert de Pauw), os destaques estão todos lá. No gol, está Daphne van Domselaar, de atuações tão surpreendentemente boas na Euro, tornando-se na seleção o que já é nos Tukkers - ou seja, titular absoluta. Na defesa, Marisa Olislagers, outra que já vira útil para a seleção com sua versatilidade, podendo jogar como volante mais à frente. No meio-campo, Kayleigh van Dooren, que segue no radar das convocações, como boa criadora de jogadas. E no ataque, o trio que virou a cara das últimas conquistas: Anna-Lena Stolze, Renate Jansen e Fenna Kalma. Pouco, ainda? Pois o Twente trouxe para a zaga uma rara holandesa que mostra boas perspectivas defensivas - Marit Auée, vinda do Zwolle, importante na boa campanha no Mundial sub-20 feminino. Há ainda Kim Everaerts, pronta a receber mais chances na lateral esquerda. Enfim, o Twente teve poucas perdas. E tem muita esperança de conseguir o tricampeonato seguido da Vrouwen Eredivisie, para transformar o domínio que já tem em hegemonia.

O VV Alkmaar pode ser modesto, mas é um clube que revela bons nomes - e tem alguma segurança em Maudy Stoop (Jan Mulder /BSR Agency/Getty Images)

VV Alkmaar

Cidade: Alkmaar 
Equipe feminina criada em: 2017
Estádio: Sportpark Robonbosweg (capacidade para 2.000 torcedores)
Apelidos: não tem
Títulos: três Campeonatos Holandeses (uma Copa da Holanda)
Patrocínio: Schot
Técnica: Mark de Vries
Destaque: Maudy Stoop (defensora)
Fique de olho: Veerle van der Most (atacante)
Brasileiras no grupo de jogadores: nenhuma
Temporada passada: 8º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: não terminar em último

Um dia, o VV Alkmaar teve força no futebol feminino holandês, sim. Quando era o AZ Alkmaar, chegou a ser tricampeão da liga (2007/08, 2008/09, 2009/10). Só que o mecenas Dirk Scheringa largou o clube, o dinheiro diminuiu, e o AZ desativou seu clube. Restou ao VV Alkmaar aproveitar, a partir de 2017, a estrutura então parada do Telstar para seguir com o futebol feminino. Enquanto os bons tempos não voltam, pelo menos o clube aposta na continuidade: o técnico Mark de Vries renovou contrato, há jogadoras promissoras - a zagueira Maudy Stoop, mesmo jovem, já é capitã e demonstra liderança... e o VV Alkmaar também se mostra capaz de ser um criadouro. Como mostram as transferências da goleira Roos van Eijk para o Milan-ITA, de Sanne Koopman para o Feyenoord... pode ser um caminho para, quem sabe, ficar mais perto das campanhas honrosas, como as que o antecessor AZ fazia.

Sem Naomi Hilhorst por algum tempo, Danique Noordman é a principal jogadora para tentar catapultar o Zwolle, cheio de nomes promissores (Kees Kuijt/BSR Agency/Getty Images)


Zwolle

Cidade: Zwolle  
Equipe feminina criada em: 2010
Estádio: Mac³Park (capacidade para 13.250 torcedores) 
Apelidos: Zwollenaren, Dedos Azuis (em holandês, "Blauwvingers")
Títulos: nenhum 
Patrocínio: AKM Media (empresa de elementos multimídia)
Técnico: Olivier Amelink
Destaque: Danique Noordman (meio-campista)
Fique de olho: Marushka van Olst (atacante) 
Temporada passada: 6º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: ficar entre os quatro primeiros

O Zwolle pode ser um time muito longe de ser campeão, mas virou um bom revelador. Que o diga o Twente, atual tricampeão holandês de mulheres, que levou nesta temporada a principal zagueira (Marit Auée) e o treinador (Joram Pot) dos "Dedos Azuis". Tudo bem: o técnico que chega, Olivier Amelink, é acostumado a trabalhar com equipes de jovens - embora sua experiência seja mais vinculada ao futebol masculino. Ainda assim, nomes como a meio-campista Danique Noordman são esteios em torno dos quais novatas de destaque podem aparecer. É verdade que o time foi altamente prejudicado por mais uma lesão da atacante Naomi Hilhorst, principal nome em campo. Ainda assim, há várias candidatas a revelação: a goleira Tess van der Flier, a zagueira Zaina Bouzerrade, a meio-campista Danique Noordman (esta, titular da Holanda no Mundial sub-20 feminino), a atacante Marushka van Olst. Todas podem ajudar os Zwollenaren a chegarem perto de Feyenoord e ADO Den Haag, na disputa para ver qual clube é o "melhor do resto".