sexta-feira, 31 de março de 2017

A última fronteira

Incentivado por Kuyt, remanescente da última vitória em Amsterdã, o Feyenoord parte para aquela que pode ser a batalha final no caminho do título (Gerrit van Keulen/VI Images)
Quem já jogou determinados games, homem e/ou mulher, sabe como é difícil chegar às fases finais de alguns deles. E sabe como é ainda mais difícil vencer os adversários mais fortes e exigentes. Por fim, sabe como também é mais leve, prazerosa e alegre a sensação de superar esses adversários e conseguir, enfim, “zerar o jogo”, após tanto tempo aprendendo truques. Para citar dois exemplos: é inigualável o alívio que se sentia quando se vencia a temível dupla Goro-Shang Tsung, em Mortal Kombat. Assim como era merecedor de respeito a(o) cidadão(ã) que conseguisse superar os exigentes (popularmente falando, “apelões”) Balrog, Vega, Sagat e M. Bison, no final de Street Fighter II.

Eis a situação do Feyenoord, neste final de semana que marca a retomada do Campeonato Holandês, com a 28ª rodada. Afinal, o líder da Eredivisie tem seis pontos de vantagem para o Ajax, seu arquirrival. Uma vantagem que parece segura. Todavia, esta rodada trará a mais esperada edição do Klassieker, como são conhecidos os clássicos entre as duas equipes, em muito tempo. Naturalmente, já seria um desafio para o primeiro colocado da liga – até porque a Amsterdam Arena será o local do dérbi. Só que as circunstâncias tornam ainda mais difíceis e tensas as perspectivas para a equipe de Roterdã.

Em primeiro lugar, por causa de um fato estatístico. Há quase 12 anos o Stadionclub não ganha do Ajax em Amsterdã – mais precisamente, desde 28 de agosto de 2005, quando fez 2 a 1, pela terceira rodada do Holandês da temporada 2005/06 (Dirk Kuyt e Salomon Kalou marcaram para os visitantes, enquanto Angelos Charisteas diminuiu para o Ajax). Houve momentos em que uma nova vitória ficou próxima – por exemplo, ela ficou perto na 10ª rodada da temporada 2011/12, quando os Feyenoorders abriram o placar, mas os Ajacieden foram buscar o empate por 1 a 1. Contudo, segue a espera.

Em segundo lugar, porque determinadas circunstâncias prometem tornar ainda mais difícil a preparação do grupo, para o técnico Giovanni van Bronckhorst. Uma delas, inclusive, tirará do jogo aquele que talvez seja o melhor jogador desta Eredivisie: Tonny Vilhena. O meio-campista foi suspenso por três jogos, graças a um artifício constantemente visto no futebol brasileiro. Começou graças a um lance flagrado pelas câmeras, durante a segunda derrota do Feyenoord na temporada (1 a 0 para o Sparta Rotterdam, na 25ª rodada): com o cotovelo, Vilhena atingiu a cabeça de Mathias Pogba, do Sparta.

Juiz daquela partida, Danny Makkelie nada flagrou, e nem punição deu. Só que a “tuchtscommissie” da federação holandesa (“tuchtscommissie”, ao pé da letra, é “comissão de disciplina” – algo semelhante ao que é o STJD no Brasil) reviu as imagens, flagrou o cotovelaço e não teve dó: a pena inicial foi de quatro jogos de suspensão para Vilhena. Obviamente, o Feyenoord entrou com recurso, e até conseguiu o efeito suspensivo, que liberou o meio-campista para os jogos contra AZ e Heerenveen (neste, aliás, Vilhena marcou o gol da vitória Feyenoorder: 2 a 1, de virada). Mas na quarta passada, a comissão de recursos da federação julgou em última instância. Mesmo com Danny Makkelie dizendo que não viu a cotovelada – e se tivesse visto, daria apenas o amarelo a Vilhena -, a comissão de disciplina aliviou pouco: três jogos para Vilhena, um dos quais retroativo. 

Trocando em miúdos: o camisa 10 do Feyenoord, centro de quase todas as jogadas da equipe, não estará em campo, justamente no que pode ser a partida mais importante de uma campanha que pode ser histórica para o clube. Assim como dois jogadores de relativa experiência no grupo que está à disposição de Van Bronckhorst: Terence Kongolo (com lesão muscular na coxa) e Eljero Elia (inchaço no tornozelo) também são duas fortes dúvidas para o jogo.

No julgamento, Vilhena perdeu o direito de estar no Klassieker (ANP)
Para piorar, o Ajax parece um time forte o suficiente para aproveitar esses problemas. Quando nada, porque trata-se de um quadrifinalista de Liga Europa – não é nada, não é nada, mas já fazia tempo que os Godenzonen não viviam uma fase promissora como a atual. Certo, na rodada anterior, o empate por 1 a 1 contra o Excelsior foi um tropeço inesperado e lamentado. Ainda assim, para o nível técnico da Eredivisie, o meio-campo do Ajax pode ser considerado tão capacitado quanto o do Feyenoord para decidir um jogo. Davy Klaassen tem clara ascendência sobre a equipe; Lasse Schöne sempre é perigoso nas cobranças de falta; Hakim Ziyech tem habilidade para criar jogadas – assim como Amin Younes, no ataque. E se a defesa do Feyenoord parece mais firme, com Brad Jones seguro no gol e Eric Botteghin sendo o melhor zagueiro desta Eredivisie, a defesa Ajacied cresce de produção, com Davinson Sánchez se destacando mais e mais. O único senão para os anfitriões deste Klassieker é a provável ausência do lesionado Kasper Dolberg.

Dolberg é a maior dúvida para o Ajax antes da partida decisiva (Sander Chamid/VI Images)
Ao Feyenoord, visitante, resta confiar em outros destaques da temporada, como Nicolai Jorgensen (não só goleador, mas também o jogador que mais passes para gol deu neste Campeonato Holandês) e Karim El Ahmadi. Resta confiar em Dirk Kuyt, sempre fonte de fôlego e luta inesgotáveis – presente na vitória de 2005, Kuyt falou grosso: “Quero ser campeão a qualquer custo”. Resta lembrar que o sonho do desfile com a Eredivisieschaal pela avenida Coolsingel está cada vez mais presente e vivo na cabeça da fanática torcida. Finalmente, resta pensar: para uma equipe que deseja fazer história, não há desafios insuperáveis, apenas vitórias sucessivas. E nesta temporada, o Feyenoord já provou que quer fazer história e lavar a alma. Precisa superar a última fronteira, se quiser eliminar as desconfianças e entrar definitivamente na rota do título aguardado há 18 anos. Vencer o Klassieker, contra todas as circunstâncias adversas, seria a melhor das provas de que chegou a hora. 

Para relembrar (e brincar)

Esqueçam o que o colunista escreveu sobre as boas perspectivas da seleção holandesa, na semana passada, certo? Claro que um técnico com pouca experiência, como Danny Blind, não ajudava. Mas a geração de jogadores é medíocre, também.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 31 de março de 2017)

quarta-feira, 29 de março de 2017

Pelo menos isso

A Holanda implora por um rumo a seguir, e lamenta as sucessivas decepções. Como Martins Indi fez durante o amistoso contra a Itália (Maurice van Steen/VI Images)
Depois de tudo que aconteceu após a derrota para a Bulgária, o amistoso contra a Itália, nesta terça, na Amsterdam Arena, era o menos importante para a seleção holandesa. Tão logo veio a notícia esperada da demissão de Danny Blind, torcida e imprensa se consumiram no debate sobre quem poderia ser o substituto. Com as opções cada vez mais diminutas (Frank de Boer está longe de ser unanimidade; Giovanni van Bronckhorst e Phillip Cocu seriam apostas; Ronald Koeman não quer, e repetiu isso à revista Voetbal International - "Eles já tiveram a chance deles"), começaram os pedidos para que Louis van Gaal aceitasse deixar a ideia do fim oficioso de sua carreira, para treinar a Laranja pela terceira vez. Num ambiente assim, a única coisa que se esperava era que a Holanda, pelo menos, não desse vexame, já que uma derrota era mais do que previsível. 

A homenagem a Clarence Seedorf, por seu histórico como jogador da equipe (recebeu o título e o broche de "embaixador" da federação, após 87 partidas pela Oranje, entre 1994 e 2008), só trouxe mais lembranças do que a seleção holandesa um dia já foi. Assim como a presença de Louis van Gaal no estádio, que só aumentava o alarido sobre o interesse da KNVB em sua volta. Ninguém estava ligando muito para as mudanças até surpreendentes feitas pelo interino Fred Grim em relação ao time que jogara em Sófia. Na zaga, a esperada escalação de Wesley Hoedt, já que a experiência com Matthijs de Ligt dera muito errado; na lateral direita, Kenny Tete ganhava uma chance; no ataque, a grande alteração, com Memphis Depay experimentado no meio da área, enquanto Jeremain Lens assumia a ponta direita - Arjen Robben ficou no banco.

No primeiro tempo, com uma Itália mais fechada, a Holanda teve o espaço para atacar. Até começou mais perigosa, trocando passes e chegando pelos lados do campo. E mereceu o primeiro gol, aos 11', quando Alessio Romagnoli desviou acidentalmente para as redes uma finalização de Quincy Promes. Porém, bastaram apenas 67 segundos para que outra falha crônica da seleção holandesa se fizesse sentir: o espaço dado para contra-ataques, e a liberdade dada aos jogadores adversários. Assim Éder teve a possibilidade de ajeitar a bola, após Wesley Hoedt tirar parcialmente, e finalizar de fora da área, com precisão, no canto direito de Jeroen Zoet, para o 1 a 1.

Bastou: a Azzurra pôde se colocar organizada na defesa, enquanto a Oranje ficaria no seu estilo infrutífero de troca de passes, para tentar achar um espaço, que não aparecia.Só apareceu numa bola aérea, quando Bruno Martins Indi completou um escanteio cabeceando no travessão, aos 25'. Minutos depois, os italianos deixarem claro qual era a melhor equipe, aos 32', virando o jogo também numa bola parada: após escanteio, Marco Parolo cabeceou, Zoet rebateu, mas Leonardo Bonucci estava lá para conferir o rebote.

No segundo tempo, com a entrada de Tonny Vilhena, periodicamente a Holanda teve a bola, e até voltou a rondar a área - quase conseguindo o empate num chute colocado de Promes, bem defendido por Gianluigi Donnarumma, aos 58'. Mas, de modo geral, seguia a roda-viva: toques para achar espaço na frente, espaço para contra-ataques adversários atrás. Num desses contra-ataques, Andrea Belotti (outra grande expectativa da Azzurra) bateu forte para boa defesa de Zoet, aos 70'; noutro, aos 81', Leonardo Spinazzola quase fez o terceiro gol transalpino, forçando o goleiro holandês a rebater. Nos minutos finais, entre outras alterações, Sneijder entrou em campo. E dele partiram as tentativas derradeiras para o empate: dois chutes, aos 85' e 87', que já serviram para justificar a escalação de Donnarumma, realmente destinado a ser o camisa 1 da Azzurra após Gianluigi Buffon.

Restou a Fred Grim (que não sabe se ficará na próxima comissão técnica holandesa) elogiar pontualmente: "Jogamos com fluência e vontade, mas cedemos os gols com muita facilidade". Restou a Kevin Strootman, que começou como capitão, elogiar o demissionário Danny Blind ("Quando ele foi demitido, contou a todos nós, e nos disse belas palavras. Não é algo comum com técnicos demitidos, voltar para falar com o elenco"). E resta à federação encontrar um técnico, para as próximas datas FIFA, em junho (amistosos contra Costa do Marfim e Marrocos, além do jogo contra Luxemburgo, pelas eliminatórias da Copa de 2018). Inclusive, talvez, com a ajuda dos dois veteranos principais do grupo - claro, Sneijder e o autor da ideia, Robben: "Já falei que queremos estar envolvidos [na escolha]. Estamos na seleção há 14 anos, e sabemos do que o grupo precisa, e o que se quer do novo treinador".

Finalmente, resta um consolo inútil à seleção holandesa: se o fim destas datas FIFA foi com sofrimento, pelo menos não houve vexame.

segunda-feira, 27 de março de 2017

E foi um voo cego...

Danny Blind: um ano e oito meses depois, a saída da seleção. Talvez nem a chegada devesse ter ocorrido (ANP)
Fevereiro de 2014. Já sabendo que Louis van Gaal só iria até a Copa do Mundo, a federação holandesa tinha algumas opções para contratação como novo técnico da seleção. A mais razoável era Ronald Koeman: o ex-zagueiro desejava assumir o comando da Laranja; seu histórico como jogador nela era inquestionável (78 partidas, entre 1978 e 1994, com duas Euros e duas Copas no currículo, além de ter sido capitão da Oranje); e ficaria livre ao final da temporada 2013/14, quando seu contrato com o Feyenoord expiraria. Porém, Guus Hiddink, então parado após deixar o Anzhi-RUS, insinuou que também desejava voltar à seleção, em suas colunas no diário De Telegraaf. Bert van Oostveen, diretor de futebol da federação, fez a sugestão; Hiddink treinador e Koeman auxiliar, até a Euro 2016. Magoado com a falta de consideração, Koeman recusou a proposta - e foi seguir sua carreira de técnico, em Southampton e Everton. Então, decidiu-se naquele fevereiro: Hiddink foi contratado para ficar até a Euro 2016, e Danny Blind, já então auxiliar de Van Gaal, continuaria na comissão técnica, para suceder Hiddink após a Euro - e até a Copa de 2018.

Junho/julho de 2015. Já estava claro que a situação da Holanda era muito frágil. Após a surpreendente (mas desgastante) campanha na Copa de 2014, a Oranje tinha voltado ao 4-3-3 - mas, com um estilo taticamente antiquado e frágil defensivamente, sofria no grupo A das eliminatórias para a Euro 2016, sem conseguir fazer frente à intensidade e à compactação de Islândia e Turquia, mais agudas nos contragolpes, além da eficiência da República Tcheca. Em meio à campanha difícil, estava claro também que Hiddink não conseguia impor à seleção a mesma liderança que Van Gaal impusera à jovem geração de jogadores. De quebra, internamente, Bert van Oostveen demonstrava mais atração pelo trabalho de Danny Blind do que pelo veterano técnico. Resultado: mesmo após uma vitória sobre a Letônia, pelas eliminatórias da Euro, Hiddink pediu demissão. E o "projeto" para 2018 foi "antecipado": Blind foi "promovido" a treinador.

Na época, o mesmo faz-tudo deste blog fez este texto para a Trivela, aproveitando o trocadilho óbvio e sem graça para perguntar se Blind não seria um "voo cego", um risco alto demais, para alguém com apenas 422 dias de trabalho como técnico (substituindo o demitido Ronald Koeman no Ajax, entre 14 de março de 2005 e 10 de junho de 2006), tendo mais experiência como diretor. Pois bem: a federação insistiu por um ano e quase nove meses. Até a melancólica derrota para a Bulgária, no sábado passado, pelas eliminatórias da Copa de 2018, que tornou inevitável a decisão de demitir Danny Blind, anunciada neste domingo, após reunião entre o demissionário e diretores da federação - que já haviam tomado a decisão após a partida em Sófia, segundo o diário Algemeen Dagblad. Para o amistoso contra a Itália, na próxima terça, em Amsterdã, a decisão previsível será deixar no cargo, interina e excepcionalmente, o auxiliar técnico Fred Grim, treinador da seleção holandesa sub-21 até o ano passado.

A dupla Blind e Hiddink: o que parecia organização da federação se revelou aposta precipitada (ANP)
Foi o último capítulo da desastrada decisão tomada em fevereiro de 2014. E o adjetivo foi reconhecido pelo diretor interino de futebol da KNVB, Jean Paul Decoussaux, em entrevistas coletivas: "Não deu certo". Ficou óbvio, com o irregular desempenho da seleção sob Blind: 7 vitórias, 7 derrotas e 3 empates - sendo que, em jogos competitivos, por eliminatórias de Euro e Copa, foram cinco derrotas em nove jogos, o mesmo desempenho dos antecessores (Hiddink, Van Gaal, Van Marwijk e Van Basten) somado.

Fracasso tão óbvio quanto a continuação dos problemas, consequência da decisão: com o fracasso de Hiddink e Blind, a Holanda simplesmente não tem muitas opções para contratar, como técnico. Por motivos óbvios, Guus Hiddink não voltará. Nem Louis van Gaal. Com trabalho bem desenvolvido no Everton (e ainda de orgulho ferido pela recusa de 2014), Ronald Koeman sequer ouvirá falar de seleção holandesa até a Copa de 2018. Frank Rijkaard deixou a carreira de técnico. Frank de Boer, a opção mais falada, está chamuscado pelo trabalho péssimo na Internazionale. Phillip Cocu e Giovanni van Bronckhorst até são promissores, mas parecem precisar de mais cancha na carreira antes de encararem tal desafio. Opções estrangeiras? Aí seria necessário vencer a resistência dos próprios holandeses - embora se fale em alemães como Ralf Rangnick ou até Jürgen Klinsmann.

Jean Paul Decoussaux desconversou sobre todas as possibilidades, em entrevista coletiva. Sobre técnicos estrangeiros serem uma opção, ampliou: "Tudo é uma opção". E citou, talvez, a melhor e mais desejada escolha: "Precisamos de alguém que possa ajudar o futebol holandês a se reerguer. Pode ser Koeman, também". Em desordem interna, a dupla da federação, formada por Decoussaux e pelo ex-goleiro Hans van Breukelen, diretor-geral da entidade, tem até junho para resolver isso, antes das novas datas FIFA, com os amistosos contra Costa do Marfim e Marrocos (e a partida contra Luxemburgo, pelas eliminatórias da Copa). Até lá, restará a Blind pai lamber as feridas da demissão, como já fez na nota à imprensa: "Estávamos no bom caminho. A derrota contra a Bulgária foi um acidente. Horrível terminar assim". Talvez o fim fosse diferente, não fosse a decisão precipitada de 2014 - e o voo cego de 2015...

sábado, 25 de março de 2017

Esqueçam

Danny Blind parece perguntar: "o que eu posso fazer?". A federação talvez faça, com a demissão (Maurice van Steen/VI Images)
Na sexta, 24 de março, este blog publicou a coluna cujo faz-tudo publica no site Trivela, há quase nove anos. E o tom era até positivo: indicava que a seleção da Holanda passava por um período de depressão, mas que estava notando, pouco a pouco, que a vida continua. E que a Laranja não era um time irremediavelmente ruim. Podia muito bem vencer a Bulgária, em Sófia, pela quinta rodada das eliminatórias europeias para a Copa de 2018 - e, a partir disso, poderia provar a superioridade em relação às outras seleções do grupo A (excetuando-se a França).

Pois bem, o que se viu neste sábado, no estádio Vasil Levski, fez com que o blogueiro se reavaliasse pesadamente. E que era melhor esquecer o conteúdo publicado no dia anterior: sim, a Holanda é um time ruim. Já passava por dificuldades, claro. Mas, bem ou mal, notavam-se perspectivas aqui e ali: o empate fora de casa contra a Suécia, uma derrota honrosa para a França em casa, a vitória tranquila sobre Belarus. No entanto, a vitória sobre Luxemburgo já tivera dificuldades. E por fim, fazia tempo que a Laranja não passava uma impressão tão desalentadora, tão desanimadora, quanto a que se viu na derrota por 2 a 0 para a Bulgária, que deixou a equipe na quarta posição do grupo.

O desânimo que tomou conta da torcida holandesa (e o volume das críticas dos jornalistas) só foram menores, talvez, do que a surpresa provocada pelo técnico Danny Blind, tão logo a escalação foi anunciada. Sem Stefan de Vrij, lesionado no tornozelo, a zaga precisava de mudanças. E Blind deu chance imediata e inesperada a Matthijs de Ligt, 17 anos e sete partidas pela equipe adulta do Ajax no Campeonato Holandês. Já parecia ousadia demais convocar De Ligt, e ele figurou na lista de 25 chamados. Escalá-lo, então, parecia insensatez. Mas o novato tornou-se o estreante mais jovem da história da Oranje desde 1931, formando a zaga que começou jogando em Sófia com Bruno Martins Indi. Outra surpresa: para tornar o meio-campo mais acelerado, Blind colocou Davy Klaassen como titular no setor, junto a Kevin Strootman e Georginio Wijnaldum, deixando Wesley Sneijder no banco de reservas.

Em entrevista à tevê holandesa, antes do jogo, Blind assumiu a responsabilidade pela escalação de De Ligt: "É um risco assumido. Eu não tenho um zagueiro destro [Martins Indi é canhoto]: não tenho Bruma, não tenho Van Dijk, nem mesmo Vlaar. Confio nele, pelo desempenho nos treinos". Porém, apostando nas bolas longas e na pressão contra a saída de bola holandesa, a Bulgária ensaiava trazer mais perigo - tanto que conseguira falta próxima à área, já nos primeiros segundos de jogo. Bastaram apenas cinco minutos de jogo para que se visse quanto a aposta do treinador fora errada e irresponsável. Num dos lançamentos longos, De Ligt falhou ao tentar acompanhar Spas Delev. E o atacante búlgaro aproveitou saída hesitante de gol de Jeroen Zoet (que ainda atrapalhou De Ligt) para ficar com a meta à sua frente, e fazer 1 a 0.

De Ligt (no centro) foi a aposta de Blind. E jogado na fogueira, queimou-se como um garoto desamparado (ANP)
O gol definiu o espírito da partida. Motivou ainda mais a Bulgária para continuar pressionando a saída de bola, já no meio-campo, contra uma Holanda que seguia em sua via-crúcis: um time dando espaço para os contra-ataques, perdendo bolas no meio-campo (principalmente com Kevin Strootman, de atuação péssima) - e quando tinha a posse de bola, tentava tocar para achar espaço no 4-1-4-1, de modo infrutífero. Além de sempre procurar a aposta de sempre, Arjen Robben, que tentava puxar espaço pela direita - sem estar, no entanto, no 1-contra-1 em que é tão bom, sempre tendo dois marcadores à sua espera.

Com os espaços deixados nas costas de Rick Karsdorp e Daley Blind, pelas laterais, a Bulgária chegava costumeiramente - principalmente pela direita, com o dia elogiável de Stanislav Manolev. Não demorou muito e, aos 20', veio o merecido segundo gol, em nova infelicidade de De Ligt. Mais uma bola longa, e Delev teve espaço para dominar a bola, virar-se e arriscar belo chute colocado, no canto esquerdo de Zoet, para deixar os anfitriões em definitiva tranquilidade com o 2 a 0.

Pior ainda do que a fragilidade na defesa, era a inatividade holandesa no meio-campo e no ataque. Bem postada na defesa, a Bulgária não dava espaço para criação de jogadas. No entanto, já com vantagem suficiente no placar para poder apostar nos contra-ataques, começou a ficar na defesa. Aí, a Holanda começou a tentar ataques - e esbarrou na própria inapetência. Apenas Davy Klaassen e Bas Dost tentavam algo. Porém, raras vezes se entendiam, e as bolas ficavam nas mãos do goleiro Nikolay Mihaylov. A falta de criação no meio-campo era tão exasperante que Robben precisava trazer a bola da direita para o setor. Mas, aos poucos, aos trancos e barrancos, a Oranje tentava algo. Principalmente, com Dost. Aos 40', o chute do atacante saiu longo, por cima do gol; mas aos 44', veio a primeira grande chance (talvez a única holandesa no jogo). Num lançamento de Strootman, Klaassen escorou de cabeça, e o atacante bateu pela linha de fundo.

A essa altura, no final do primeiro tempo, Danny Blind já colocara para aquecer o Wesley Sneijder velho de guerra, mais Wesley Hoedt, zagueiro. E ambos entraram para o segundo tempo. A entrada de Sneijder era mais do que justa, no lugar de um anônimo Georginio Wijnaldum. No entanto, o mal já estava feito, e não dava para notar na substituição de De Ligt por Hoedt um lamentável ar de "fritura", como se um jovem de 17 anos fosse o único culpado dos males que ocorriam para a Laranja em Sófia.

Tanto De Ligt não era culpado que o segundo tempo seguiu no mesmo ritmo do primeiro. A Holanda seguiu com a posse de bola - e sem saber o que fazer com ela. Até forçou Mihaylov a trabalhar mais: num chute de Quincy Promes, aos 58', e num arremate de Klaassen (após triangulação com Sneijder e Dost), aos 62'. Mas o time seguia perdido, atarantado contra uma Bulgária que já conseguira o que queria. E talvez a grande prova de como a Holanda esteve perdida em campo veio aos 70', com a entrada de Luuk de Jong no lugar de Quincy Promes. Luuk foi fazer a dupla de ataque com Bas Dost, enquanto Sneijder foi ocupar a lacuna deixada na ponta esquerda. Dois atacantes altos - mas nem Sneijder, nem Robben têm o cruzamento para a área entre suas características principais. E a pressão que a Holanda ensaiava morreu.

Aí, foi inevitável a derrota. Justa, mas inesperada. Que colocou a Holanda na quarta posição do grupo A, superada pela própria Bulgária. E que começou a tornar a chegada à Copa de 2018 algo distante: não só pela distância para a França, líder do Grupo A (12 pontos), mas pela distância para a repescagem (já são seis pontos para a Suécia, vice-líder, que goleou Belarus - 5 a 0). E mesmo que chegue à segunda posição, em caso de esperada derrota para a França, a Laranja ficaria com a perspectiva de chegar apenas a 19 pontos. Muito provavelmente, seria a pior segunda colocada - logo, não teria a vaga na repescagem.

Robben lamenta em gestos. E em palavras: "Dizer o quê?" (European Press Agency)
Porém, mesmo a repescagem parece distante demais, após a atuação triste neste sábado. Arjen Robben, o capitão, sintetizou tudo em duas frases: "Dizer o quê? É um pesadelo". Após entrar no segundo tempo, Wesley Hoedt mostrou certo inconformismo com a opção de Blind por De Ligt: "Eu aceito, mas não entendo. Escalar [De Ligt] porque é destro? Oras, Van Dijk e Bruma são destros e podem jogar juntos. Por que dois canhotos [Hoedt e Martins Indi] não poderiam?" E Sneijder também fez algumas críticas: "Faltou eficiência e agressividade. Não dá para treinarmos duro como treinamos, e aí começar o jogo de uma maneira tão ruim. Parece que jogamos no lixo outra chance de estar num grande torneio".

Para Blind, restou a tristeza, expressa nas frases à tevê holandesa: "Estou triste. Foi uma atuação muito ruim, está claro. Eles marcaram na primeira bola longa que conseguiram no jogo. Daí, puderam jogar como queriam". E talvez, a consciência de que sua sina de demissionário já está marcada, com tantos resultados ruins: "Eu preciso pensar, e a federação também fará isso". Na entrevista coletiva, mais indicações: "Preciso ser honesto, comigo e com a federação". Honestidade que Arjen Robben já mostrou, ao criticar o alarido pedindo a demissão de Blind: "Não acho que um novo técnico traria jogadores diferentes dos que estão aqui. Já antes da Copa de 2014 não tínhamos muita qualidade". E confirmando que não jogará o amistoso contra a Itália: "Combinamos que eu voltaria [ao Bayern] depois de hoje. Não estou fugindo da raia, mas nada está em jogo na terça".

Bem, se algo estava em jogo, a Holanda perdeu. E talvez o amistoso contra a Itália seja apenas o começo da procura nos escombros, após mais um vexame para a longa coleção dos últimos anos. Esqueçam o que se escreveu aqui: sim, a seleção da Holanda está ruim. Muito ruim.

Eliminatórias para a Copa de 2018 - Europa
Bulgária 2x0 Holanda
Data: 25 de março de 2017
Local: Estádio Vasil Levski, em Sófia
Juiz: William Collum (Escócia)
Gols: Spas Delev, aos 5' e 20'

Bulgária
Nikolay Mihaylov; Strahil Popov, Bozhidar Chorbadzhiyski, Vasil Bozhikov e Petar Zanev (Anton Nedyalkov, aos 86'); Simeon Slavchev; Stanislav Manolev, Georgi Kostadinov, Ivelin Popov (Bozhidar Kraev, aos 67') e Aleksandar Tonev; Spas Delev (Nikolay Bodurov, aos 88'). Técnico: Petar Hubchev

Holanda
Jeroen Zoet; Rick Karsdorp, Matthijs de Ligt (Wesley Hoedt, no intervalo), Bruno Martins Indi e Daley Blind; Kevin Strootman, Davy Klaassen e Georginio Wijnaldum (Wesley Sneijder, no intervalo); Arjen Robben, Bas Dost e Quincy Promes (Luuk de Jong, aos 68'). Técnico: Danny Blind

sexta-feira, 24 de março de 2017

A vida continua


Após algum tempo, enfim Danny Blind pode se apresentar um pouco mais otimista com a Holanda (European Press Agency)
Desde a fracassada participação nas eliminatórias da Euro 2016, a seleção da Holanda vive uma espécie de “depressão”. Para uma seleção tradicional como é a do país batavo, a ausência impactou demais – é certo que ficar de fora da Copa de 2002 foi até mais feio, mas a repercussão ainda era menor (embora já considerável). Pior: a “depressão” é agravada por dois fatores. A lembrança recente do que a seleção pode fazer (nem parece que se fala de uma equipe que fez o que fez na Copa de 2014, quando ninguém esperava o terceiro lugar, e que estava acostumada a despachar adversários nas eliminatórias dos torneios), e a desconfiança constante de torcida e acompanhantes de futebol em geral, a partir da ausência da Euro. A ponto de já se falar, até exageradamente, que a Holanda viverá uma espécie de “hungarização”, estando condenada a viver das lembranças para sempre, nos clubes e na seleção. Como a Hungria, após 1954 – participação na Euro 2016 à parte.

Tal desconfiança tem razão de ser. Afinal, também não se supunha que o vexame holandês fosse ser tão grande na qualificação para o torneio continental de seleções. Sem contar a dificuldade na renovação de jogadores, já abordada nesta coluna. No entanto, o olhar de soslaio para a Laranja já está tomando um vulto grande demais. E o grupo convocado para as datas Fifa – neste sábado, contra a Bulgária, em Sofia, pelas eliminatórias da Copa de 2018, e na próxima terça, em amistoso contra a Itália, na Amsterdam Arena – tem as condições de provar que, se não é a melhor geração de jogadores que a Holanda teve (longe disso), também não é a pior, como parece.

Para começo de conversa, os trabalhos de preparação dos 25 jogadores convocados, em Noordwijk, já tiveram um clima mais otimista. E ao olhar para a relação feita por Danny Blind, ela até abre algumas possibilidades. Principalmente num setor sempre problemático: a defesa. Que, tudo indicava, sofreria ainda mais para estes jogos: afinal, com as lesões de Jeffrey Bruma e Virgil van Dijk, nenhum dos zagueiros titulares nas últimas partidas de 2016 estará à disposição. 

Mas, se Bruma e Van Dijk estão machucados, Stefan de Vrij está recuperado e voltou a ser lembrado. Como já mostrou na Copa de 2014, o zagueiro oferece segurança - e até mais habilidade com a bola nos pés. Caso se recupere de um problema no tornozelo, sofrido durante os treinos, De Vrij ainda poderia formar a dupla de zaga no 4-3-3 com outro convocado: justamente o seu companheiro na Lazio, Wesley Hoedt, estreante na Laranja. Ambos formam a terceira melhor defesa do Campeonato Italiano, só perdendo para Juventus e Roma – e o entrosamento nos Biancocelesti pode muito bem ser reproduzido na Oranje.

De Vrij: se recuperado, pode ser muito útil na zaga da seleção holandesa (Soenar Chamid/VI Images)

Sem contar aquela que foi a maior surpresa da convocação: Matthijs de Ligt. Tudo bem, o zagueiro de 17 anos vem correspondendo nas oportunidades que ganha no Ajax; foi muito bem na partida de volta das oitavas de final da Liga Europa, contra o Copenhague; e o próprio técnico do Ajax, Peter Bosz, sugeriu: “Se eu fosse o técnico da seleção, ousaria com [a convocação de] De Ligt”. O que não se esperava era que Danny Blind atendesse aos pedidos e incluísse o jovem na lista final – embora só se devam esperar oportunidades no amistoso contra a Itália. 

Ainda assim, Blind foi bem positivo ao falar de De Ligt: “Eu não sou o pai dele, não o conheço como homem, mas gosto das reações dele em campo. Ele tem aprendido muito com o Ajax, sejam coisas boas ou ruins. Pode ser que ele comece jogando, ainda mais porque temos duas partidas a serem disputadas”. Se aproveitar a chance, o novato certamente será mais uma opção. Como o é Rick Karsdorp, muito bem pelo Feyenoord na temporada, já se consolidando como nome na lateral direita, onde disputa posição com a dupla do Ajax (o titular Joël Veltman e o reserva Kenny Tete). Na lateral esquerda, não há muita contestação: Daley Blind é o nome.

O meio-campo também foi outro setor do time que aparentemente sofreria, mas oferece motivos para esperança, aqui e ali. Davy Klaassen já entrou naquela categoria de jogadores que está grande demais para o Campeonato Holandês; é o mais importante na equipe do Ajax, controlando o ritmo da equipe e mostrando por que é o capitão Ajacied. Contrariando todas as expectativas, Kevin Strootman conseguiu ótima sequência de jogos na temporada, ganhou paz após as lesões, e enfim é o que todos esperavam que ele fosse quando chegou à Roma: um dos pilares da equipe. Assim como Georginio Wijnaldum, certamente um dos melhores e mais importantes jogadores do Liverpool na atualidade. Sem contar Jens Toornstra e Tonny Vilhena: também convocados, os meio-campistas certamente serão lembranças de destaque no Feyenoord cada vez mais próximo do consagrador título holandês. Porém, nenhum deles ainda é páreo para a importância do capitão Wesley Sneijder no elenco – e poucos ousam imaginar Danny Blind escalando a Oranje sem ele, por mais que o nível de suas atuações tenha caído visivelmente.

Robben: como ousar pensar a Oranje sem ele, ainda? (ANP/Pro Shots)

Mas se há quem pense que Sneijder devia ser passado na seleção holandesa (e nem é absurdo pensar assim), simplesmente não há quem imagine a Laranja sem Arjen Robben na ponta direita do ataque, com a camisa 11. E Robben assumiu, em entrevista coletiva, que pensou na possibilidade: “Eu me perguntei se deveria seguir nas duas frentes, clube e seleção, ou se somente jogaria pelo Bayern. Até falei com minha família, com minha esposa e com o técnico [Blind]”. Para a sorte da Holanda, as lesões renitentes deram uma trégua. Foi o suficiente para que o atacante voltasse a ser muito importante nos bávaros rubros. E para que ele decidisse seguir em frente: “Agora, já estou em forma há um tempo. Por isso, decidi continuar na seleção. Ainda quero jogar mais uma Copa”.

E ao lado de Robben, no centro do ataque, está uma das grandes dúvidas de Danny Blind. Até aqui, Vincent Janssen é grossa decepção – até previsível, a bem da verdade – no Tottenham, mas tem cumprido seu papel na seleção. Porém, tem na concorrência um Bas Dost que voltou a viver grande fase – não só como goleador do Campeonato Português, mas marcando gols a ponto de disputar seriamente a Chuteira de Ouro europeia. Para os dois jogos, a questão foi "resolvida" por uma gripe que levou ao corte de Janssen - Dost deverá ser o titular, com Luuk de Jong chamado às pressas para a reserva. No entanto, a dúvida está posta sobre quem será o “camisa 9” holandês. Na ponta esquerda, também parece clara a opção por outro “renascido das cinzas”: Memphis Depay, enfim com tempo e oportunidades para jogar no Lyon - e começando a se destacar nos Gones.

Bas Dost: crescendo no clube e na seleção (European Press Agency)

Aliás, os casos de Dost e Memphis merecem parênteses. Talvez estes dois atacantes estejam passando por um processo semelhante ao que Klaas-Jan Huntelaar passou em sua carreira. Após despontar muito bem em Heerenveen e, principalmente, no Ajax, Huntelaar chegou com muitas apostas sobre si no Real Madrid. Fracassou no clube da capital espanhola - e foi ainda pior no Milan, dizimando esperanças sobre ser um atacante de ponta. Ainda assim, foi para o Schalke 04, e conseguiu levar a carreira no futebol alemão com regularidade, mostrando que também não era totalmente desprovido de talento. Talvez a mesma coisa possa acontecer com Depay, que ganha no Lyon a possibilidade de jogar num campeonato de nível técnico acessível o suficiente para mostrar que não é a promessa apagada que se viu no Manchester United. E possa acontecer também com Dost: embora já não seja mais uma promessa, o atacante vive no Sporting uma fase que possibilita apagar as lembranças da passagem irregular pelo Wolfsburg. Ambos serão craques? Quase certamente, não serão. Mas também não serão de se jogar fora.

Janssen, Dost, Memphis, Klaassen, Wijnaldum, Strootman: várias boas opções para formar uma equipe boa. Não excelente, mas boa. Por incrível que pareça, também acaba sendo um problema para a Holanda, já que não são nomes respeitáveis como os veteranos Sneijder e Robben. Contudo, é preferível ter uma variedade razoável de nomes a uma variedade cheia de problemas. É justamente o que acontece entre os goleiros. Maarten Stekelenburg parecia definitivamente recuperado, mas lesionou-se novamente e perdeu o lugar no Everton; Jasper Cillessen parece contentar-se só de estar no Barcelona e poder jogar as partidas na Copa do Rei; Michel Vorm tem experiência e capacidade, mas não tem a menor chance de jogar no Tottenham; após a turbulenta passagem pelo Ajax, Tim Krul apenas recupera o ritmo de jogo no AZ. Resta Jeroen Zoet – que até já foi mais importante no PSV, mas tem cumprido seu papel, o que parece suficiente.

É um problema. Mas que, nem de longe, significa que o time da Holanda é indefensavelmente ruim. Parece melhor que todos os adversários do grupo A das eliminatórias europeias para a Copa (exceto a França, claro). Já seria suficiente para tentar a repescagem – onde um possível adversário seria a Itália, contra a qual a Laranja se testará no amistoso da próxima terça. Se toda morte traz um período de luto, após o qual é necessário continuar, a Holanda já parece serena para entender que a vida continua, nesta sexta que marca o primeiro ano do desaparecimento de Johan Cruyff.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 24 de março de 2017)

terça-feira, 21 de março de 2017

810 minuten: como foi a 27ª rodada da Eredivisie

O Roda JC não aproveitou as chances que teve. Jensen (à direita) e Ünal, sim; vitória do Twente (Jeroen Putmans/VI Images)

Roda JC 0x3 Twente (sexta-feira, 17 de março)

Na abertura da 27ª rodada, o Roda JC deu a impressão de que conseguiria sua segunda vitória seguida no Campeonato Holandês - e a terceira consecutiva em seu estádio, o Parkstad Limburg Stadion. Já aos sete minutos de jogo, Mitchel Paulissen ficou livre na área para a finalização, mas o goleiro Nick Marsman salvou o Twente, com grande defesa. Enes Ünal ainda tentou trazer os Tukkers visitantes ao ataque, mas seu chute, aos 15', saiu pela linha de fundo. E o Roda JC reapareceu com Dani Schahin, aos 27', em nova finalização bem defendida por Marsman. Mais uma chance perdida pelos Koempels.

Que não fizeram, e tomaram: aos 30', o finlandês Fredrik Jensen ficou com a bola após carrinho errado do zagueiro Frédéric Ananou, tocou na saída do arqueiro Benjamin van Leer e colocou o Twente na frente do placar. Duro golpe para os mandantes. E o que viria seria pior: aos 42', de novo livre na área, Jensen mandou a bola no ângulo, marcando o segundo da partida. Tentando reagir no segundo tempo, o Roda JC criou chances com Abdul Ajagun (chute para fora, aos 49') e Mikhail Rosheuvel. Mas, de novo, quem colocou a esférica no filó adversário foi o Twente: aos 77', Enes Ünal guardou o seu 13º gol na Eredivisie. E o Twente já tem mais pontos do que teve em 2015/16. Após o imbróglio da temporada passada, quem diria...

Lamprou defendendo: cenário comum no empate entre Groningen e Willem II (Orange Pictures)
Groningen 1x1 Willem II (sábado, 18 de março)

O Willem II chegou ao Noordlease Stadion em melhores condições na tabela, como nono colocado. Mas o Groningen foi a equipe que mais atacou. Por necessidade (já eram oito partidas sem vitória na Eredivisie) e por capacidade (muitas chances foram criadas no primeiro tempo). Então, por quê diabos os Groningers demoraram a marcar? Simples: pela ótima atuação de Kostas Lamprou. O goleiro do Willem II estava lá para frustrar todas as oportunidades dos mandantes: agarrou um cabeceio de Alexander Sorloth aos 16', espalmou chute de Juninho Bacuna aos 20', defendeu arremates de Mimoun Mahi e Jesper Drost.

De tanto bater, porém, a água do Groningen furou a "pedra" no gol dos Tricolores visitantes, logo no começo do segundo tempo. Aos 49', num bate-rebate na área, a bola sobrou com Ruben Yttegaard Jenssen, e o volante chutou forte no ângulo para colocar os mandantes na frente. Porém, se os anfitriões tinham um bom ataque, essa também tem sido a qualidade do Willem II. Que se apresentou aos 54': Jordy Croux apareceu rápido, e cruzou para Obbi Oularé cabecear e fazer 1 a 1. O Groningen continuou tentando (por exemplo, em cobrança de falta de Yoëll van Nieff, aos 68'), mas Lamprou seguiu no caminho. E de novo, o arqueiro foi responsável por um resultado valioso para o Willem II.

Abraçado por Amrabat e festejado por Troupée, Labyad abriu o caminho da fácil vitória do Utrecht sobre um NEC desalentador (Broer van den Boom/VI Images)
NEC 0x3 Utrecht (sábado, 18 de março)

Em apuros na reta final do campeonato, o NEC teve a defesa fortalecida em sua escalação: o técnico Peter Hyballa escalou o time de Nijmegen num 5-3-2. Precisou mudar isso logo aos sete minutos, com a séria lesão no tornozelo que tirou o zagueiro Robin Buwalda de campo (Arnaut Groeneveld, volante, foi colocado no meio-campo, formando um 4-5-1). De qualquer forma, não haveria muitas esperanças para a torcida presente ao estádio De Goffert: o Utrecht se impôs facilmente diante de um time mandante, mas desorientado. Isso ficou claro no primeiro gol, aos 28': Zakaria Labyad teve toda a liberdade para chutar de fora da área, e a bola ainda teve desvio antes de balançar as redes do goleiro Joris Delle, no primeiro gol do atacante belga pelo clube.

Naquele momento, a torcida mandante já começou a vaiar. E muito mais vaiaria a partir do segundo gol, aos 37', quando o Utrecht teve espaço para bonita jogada de ataque: começou com Sofyan Amrabat, que lançou com precisão para Yassin Ayoub finalizar. O primeiro tempo terminou com o NEC saindo de campo de cabeça baixa, precisando dar alguma satisfação. No segundo tempo, até mostrou mais garra, mas nada que desse trabalho à defesa dos Utregs. Que marcaram o 3 a 0 aos 63', num chute à queima-roupa de Sébastien Haller, confirmando um triunfo fácil dos visitantes. E aumentando a ameaça da zona de repescagem/rebaixamento para o NEC. Grande parte da torcida, desiludida, saiu de campo antes mesmo do apito final. É preciso reagir, enquanto é tempo.

As vaias ao final do primeiro tempo surtiram efeito: mais atento, PSV não demorou para marcar o gol da vitória (Maurice van Steen/VI Images)
PSV 1x0 Vitesse (sábado, 18 de março)

Com Siem de Jong crescendo de produção nas rodadas mais recentes, Phillip Cocu deu ao irmão mais velho de Luuk outra chance de começar a partida como titular. Ainda assim, Marco van Ginkel voltou também à equipe - em detrimento de Bart Ramselaar, que foi para a reserva. Todavia, nada disso serviu para o PSV apresentar muita coisa que servisse durante o primeiro tempo. O máximo que se viu foi uma finalização de Luuk de Jong, aos 6', afastada com os pés pelo goleiro Eloy Room. Do Vitesse, pouco se viu, também: somente dois arremates infrutíferos de longe (Ricky van Wolfswinkel, aos 21', e Nathan, aos 30'). As vaias da torcida, ao final de um primeiro tempo sem gols - oitava vez que isso aconteceu na temporada, com o PSV, em casa -, pediam melhora para a vitória.

A melhora veio rapidamente, na etapa complementar. E uma jogada ensaiada rendeu o gol, aos 50': Andrés Guardado cobrou escanteio rasteiro, até a entrada da área, onde Siem de Jong chutou alto, de primeira, no ângulo esquerdo de Room. O gol fez a partida melhorar, dos dois lados. O Vitesse saiu mais para o jogo: já aos 55', Lewis Baker chutou perigosamente de fora, forçando Jeroen Zoet a defender em dois tempos, e Navarone Foor quase empatou no minuto seguinte, ao chutar por cima. Após segurar a vantagem, o PSV foi à frente na parte final: Jürgen Locadia mandou bola na trave aos 78', Siem de Jong bateu para defesa de Room aos 80', Van Ginkel finalizou aos 87' para nova intervenção do goleiro do Vitesse (e o meio-campista ainda reclamou ter sofrido pênalti de Guram Kashia). Mas os Boeren conseguiram segurar o triunfo, que manteve as esperanças do vice-campeonato.


Pusic agradece um de seus gols. E o Sparta agradeceu a ele por uma importante vitória (Carla Vos/sparta-rotterdam.nl)
Sparta Rotterdam 3x1 Heracles Almelo (sábado, 18 de março)

O Sparta ganhou esperanças grandes, após a surpreendente vitória sobre o líder Feyenoord, havia duas rodadas. Esperanças que sofreram duro baque, com a goleada sofrida para o Vitesse, na 26ª rodada. E que teriam de ser renovadas, contra o Heracles Almelo, relativamente seguro no meio da tabela. Para alegria da torcida presente em Het Kasteel, os Spartanen começaram melhores o jogo. E o primeiro gol até demorou: aos 29', Loris Brogno deixou a bola com Ryan Sanusi, que arriscou o chute de fora da área. A esférica desviou no zagueiro Justin Hoogma, deixando o goleiro Bram Castro sem ação. A prova do bom dia que o Sparta viveria veio aos 35': Tim Breukers foi calçado por Brogno na área, e o juiz Bas Nijhuis apitou pênalti, que Samuel Armenteros bateu para... a defesa de Roy Kortsmit, no terceiro penal salvo pelo goleiro dos Kasteelheren nesta temporada. Mesmo assim, os Heraclieden visitantes cresceram no fim do primeiro tempo, criando chances.

Mesmo saindo em vantagem ao final do primeiro tempo, o Sparta sabia que precisava ampliar o placar. Já no começo do segundo tempo, os donos da casa fizeram isso. E graças a um jogador que não marcara ainda, nos seis jogos que fez desde sua chegada ao clube: o meio-campista Martin Pusic. Aos 52', Jerson Cabral cobrou falta, e o jogador austríaco cabeceou para as redes - isso, imediatamente após os jogadores do Heracles reclamarem de falta cometida por Rick van Drongelen sobre Samuel Armenteros (e como era o último homem, Van Drongelen seria expulso). Mais vinte minutos, e Pusic fez 3 a 0, de novo em cabeceio - agora, num cruzamento de Brogno. O gol de Joey Pelupessy, mantendo a honra do Heracles aos 89', foi até bonito, num belo chute, no ângulo. Mas não serviria mais para evitar a vitória do Sparta, que abriu cinco pontos em relação à zona de repescagem/rebaixamento. Na montanha-russa, os Kasteelheren viveram um bom dia.

Vilhena vibra com seu gol - e faz a torcida do Feyenoord vibrar: vitória dura e fundamental para o líder (ANP/Pro Shots)
Heerenveen 1x2 Feyenoord (domingo, 19 de março)


A goleada sobre o AZ já tirara da torcida o medo de que o Feyenoord se abatesse com a derrota para o Sparta Rotterdam. Ainda assim, o Heerenveen merecia todo o cuidado: mesmo em queda na tabela, a equipe da Frísia jogava em casa, tinha um ataque talentoso, e também tinha pelo que lutar no campeonato (a manutenção de seu lugar na zona dos play-offs por vaga na Liga Europa). Deste modo, o líder da Eredivisie foi ao estádio Abe Lenstra com todos os destaques à disposição - incluindo Tonny Vilhena, já que um recurso do clube à federação permitiu que o efeito suspensivo possibilitasse a presença do meio-campista na escalação de Giovanni van Bronckhorst.

E essa dificuldade previsível se concretizou. Durante todo o primeiro tempo, o Heerenveen se impôs ofensivamente, criando mais chances. Começou aos 12', quando Stefano Marzo cruzou e Pelle van Amersfoort cabeceou perto do gol de Brad Jones. Continuou aos 16', em outro cabeceio que passou perto, desta vez de Luciano Slagveer. E se concretizou em gol aos 18': Miquel Nelom derrubou Reza Ghoochannejhad na área, Dennis Higler apontou a marca da cal, e o próprio "Gucci" converteu a penalidade para o 1 a 0 do Heerenveen. Que continuou buscando o gol: aos 38', Jones fez uma ótima defesa, em chutes de Lucas Bijker. E o primeiro tempo terminou, trazendo fantasmas de volta à torcida dos Rotterdammers.

Todavia, se há alguma coisa contra a qual este Feyenoord está determinado a lutar, é contra fantasmas. Já no fim do primeiro tempo, Dirk Kuyt tivera uma chance, num chute para fora. E na etapa final, o primeiro colocado da Eredivisie comprovou essa posição: jogou com determinação e força ofensiva em busca da virada. Aos 53', quase veio o empate: Jorgensen cruzou, e Eric Botteghin cabeceou forte, para ótima defesa de Erwin Mulder. Se não pôde dar assistência, Jorgensen resolveu a seu modo: marcando. Aos 56', o dinamarquês completou na segunda trave um cruzamento de Karim El Ahmadi, que passara por toda a área, fazendo seu 19º gol no campeonato. 

A doce rotina da torcida do Feyenoord: ver Jorgensen marcar - e o gol de empate foi decisivo (Maurice van Steen/VI Images)
Mas o Feyenoord não estava satisfeito. E coube justamente àquele por cuja presença o clube lutou tanto dar a vitória desejada e necessária: Vilhena. O meio-campista quase fez, num primeiro chute, mas aos 70' foi preciso: após passe de Steven Berghuis, Tonny dominou com a cabeça antes de um forte voleio, que estufou as redes de Mulder para consolidar a virada do Feyenoord. Imediatamente, o atacante Henk Veerman entrou no Heerenveen, que voltou a atacar no final do jogo. Aí entrou Brad Jones, autor de duas ótimas defesas aos 80', em chutes de Slagveer e Sam Larsson. O Feyenoord sofreu, mas conseguiu garantir outra vitória contra um adversário traiçoeiro. Nada mal, antes daquela que pode ser a última fronteira antes do fim do tabu de 18 anos: o Klassieker contra o Ajax, na Amsterdam Arena, em 2 de abril. Dirk Kuyt preconizou: "Agora, é vencer na Arena". O desfile em Coolsingel parece um sonho cada vez mais real. O Feyenoord está muito, muito perto.

Só restou ao Ajax agradecer o apoio da torcida, após a atuação decepcionante contra o Excelsior: tropeço pouco recomendável (ANP/Pro Shots)
Excelsior 1x1 Ajax (domingo, 19 de março)

Como de costume nas últimas rodadas, o Ajax sabia o que precisava fazer: vencer seu adversário, para manter-se acessíveis quatro pontos atrás do Feyenoord na disputa da liderança do Campeonato Holandês. E nesta rodada, a tarefa era até mais fácil: mesmo fora de casa, enfrentar um Excelsior que sofre de novo com a ameaça de rebaixamento. No entanto, uma alteração ofensiva perturbou um pouco os planos de Peter Bosz: machucado, Kasper Dolberg ficou de fora da partida no estádio Woudestein, dando lugar a Justin Kluivert, enquanto Bertrand Traoré ia para o centro do ataque. A defesa também sofreu: com leves dores, Joël Veltman e Nick Viergever também foram poupados, cedendo seus lugares a, respectivamente, Kenny Tete e Matthijs de Ligt - este último, no centro das atenções, após a atuação elogiável contra o Kobenhavn, pela Liga Europa, na quinta passada, e a convocação para os jogos da seleção holandesa nas próximas datas FIFA.

Talvez seja só coincidência. Mas o fato é que o Ajax se mostrou irreconhecível no começo da partida, jogando preguiçosamente. Apenas uma chance foi criada: aos 12', uma cobrança de falta de Lasse Schöne mandou a bola para fora. No minuto seguinte, quase o Excelsior surpreendeu: Hicham Faik fez belo passe em profundidade, que deixou Mike van Duinen cara a cara com André Onana. Porém, o atacante dos mandantes foi frustrado por um carrinho preciso de De Ligt, que o desarmou - e, de certa forma, justificou o alarido em torno de seu nome. Ainda assim, o aviso tinha sido dado.

Aos 26', o Excelsior foi mais preciso. E fez 1 a 0, num lance que mostrou caprichosamente como o destaque de um minuto pode ser o vilão de outro: De Ligt dominou a bola no campo de ataque, mas saiu errado, deixando a bola nos pés de Van Duinen. O atacante entrou na área, finalizou, e a bola resvalou em Kenny Tete antes de entrar no gol - marcado como gol contra de Tete. A situação ficava adversa para o Ajax. Só não ficou mais porque o empate veio rápido: aos 32', Hakim Ziyech passou a bola a Kluivert, que finalizou para o 1 a 1, seu primeiro gol pela equipe adulta dos Ajacieden - novamente, um Kluivert marcava na Eredivisie, exatos dez anos e um dia após o pai Patrick marcar o último gol de sua carreira pela liga, pelo PSV (e num clássico contra o Ajax - goleada de 5 a 1, em 2006/07...).

De Ligt viveu as duas faces da moeda: carrinho preciso para desarmar e falha no gol do Excelsior (ANP/Pro Shots)
Ainda no primeiro tempo, De Ligt quase consertou seu erro com um gol, mas o goleiro Warner Hahn apareceu bem para defender, aos 41'. Terminou a etapa inicial, começou a etapa complementar, e a dinâmica do jogo era a mesma: o Ajax tocando a bola, mas sem conseguir achar espaços na defesa bem postada do Excelsior. Somente aos 62' veio uma chance para os visitantes: Daley Sinkgraven cabeceou, para fora. Mateo Cassierra entrou em campo, e nada. Ao contrário: quase o Excelsior fez 2 a 1 aos 78', quando Ryan Koolwijk cruzou, e Faik escorou para grande defesa de Onana, no reflexo. Abdelhak Nouri foi mais uma aposta saída do banco do Ajax, e Amin Younes também tentou no final, mas o placar ficou mesmo no 1 a 1, colocando os Godenzonen seis pontos atrás do Feyenoord, justamente na reta final do campeonato. Um tropeço muito lamentado, a ponto do capitão Davy Klaassen dizer à FOX Sports holandesa: "Agora, no momento, não podemos falar de título". Se serve de consolo, a oportunidade de consertar o erro já está na 28ª rodada, com o confronto direto entre os dois competidores pela Eredivisieschaal. Que Klassieker promissor teremos...

O gol de Warmerdam (no centro) decretou mais uma vitória do Zwolle no clássico contra Go Ahead Eagles (ANP/Pro Shots)
Go Ahead Eagles 1x3 Zwolle  (domingo, 19 de março)

O "Dérbi do rio Ijssel" começou com tudo, fora e dentro de campo. Fora, porque a torcida do Go Ahead Eagles usou todos os sinalizadores a que tinha direito, e ainda estendeu uma faixa com a frase "Beat the bastards" ("Ganhem dos manés", numa tradução mais amena), alimentando o ambiente e enchendo de fumaça o estádio Adelaarshorst. E dentro, porque o GAE correspondeu abrindo o placar logo aos 3': Elvis Manu cruzou bonito para o meio da área, com a parte externa do pé direito, e Pedro Chirivella finalizou quase na pequena área. Todavia, o que parecia o melhor dos começos para o Kowet, mandante, durou apenas dois minutos: aos 5', a bola sobrou para Queensy Menig, que driblou o goleiro Theo Zwarthoed e colocou o 1 a 1 no placar. Após um começo frenético, o ritmo de jogo caiu no Adelaarshorst - só mais uma chance veio no primeiro tempo, aos 39', num chute de longe, de Ryan Thomas.

Na etapa complementar, o Zwolle é que partiu mais em busca do gol. Mas perdeu muitas chances: com Younes Mokhtar (chute aos 55'), Thomas (aproveitou rebote e chutou para fora, aos 58'), Menig (tentou encobrir Zwarthoed, que espalmou para fora aos 62') e Mustafa Saymak (chutou forte, forçando defesa de Zwarthoed, aos 67'). Mas quando o empate parecia iminente, os Zwollenaren conseguiram a vitória, no fim: aos 83', o volante Django Warmerdam bateu forte no canto, virando o placar. E aos 88', o capitão Bram van Polen converteu pênalti para confirmar o 3 a 1. Vitória duplamente saborosa. Pela primeira vez em sua história, os "Dedos Azuis" ganharam os dois clássicos contra o Go Ahead Eagles numa temporada. E mais importante: subindo para a 11ª posição, o Zwolle minora cada vez mais os fantasmas do rebaixamento. Que só aumentam para o Go Ahead Eagles, último colocado da Eredivisie, a sete rodadas do fim da temporada.


O momento que simbolizou o bom dia do AZ: Van Overeem arrisca para fazer um golaço (Pro Shots)
AZ 4x0 ADO Den Haag (domingo, 19 de março)

Humilhado pelo Lyon na eliminação da Liga Europa, sem vencer na Eredivisie havia quatro jogos, também goleado na rodada passada (5 a 2 para o Feyenoord): o AZ entrou em campo pressionado para o jogo que fechava a rodada, com uma alteração importante - Ron Vlaar ficaria no banco de reservas, com Rens van Eijden formando a dupla de zaga. E finalmente, o time de Alkmaar exibiu novamente as qualidades que já não mostrava havia certo tempo. Principalmente, a união entre velocidade e habilidade no ataque. Com elas, os Alkmaarders fizeram 2 a 0 rapidamente. Aos 7', Alireza Jahanbakhsh ajeitou a bola de cabeça, e Dabney dos Santos entrou chutando para as redes; aos 13', num rápido avanço, Stijn Wuytens lançou em profundidade, e Dabney concluiu para marcar 2 a 0 no placar, seu segundo no jogo.

Ainda antes do intervalo, aos 34', veio o gol que não só tranquilizou de vez o AZ, mas se converteu no mais bonito tento da rodada: Joris van Overeem recebeu de Wuytens, já perto do gol, e viu o goleiro Robert Zwinkels adiantado. Decidiu arriscar. Bem pensado e melhor feito: um toque sutil, exato, que passou encobrindo Zwinkels para entrar suavemente na meta e representar brilhantemente o 3 a 0 e a superioridade dos mandantes na partida. No segundo tempo, o time de Alkmaar continuou pressionando. Aos 53', Dabney quase marcou pela terceira vez, completando cruzamento de Mats Seuntjens por cima do gol. Mas a goleada só seria completada aos 60', com o nigeriano Fred Friday, em outra bonita jogada: Van Overeem ajeitou de calcanhar para Friday arrematar forte. Finalmente, o AZ voltava a dar um dia de alegria à sua torcida - e finalmente, após oito jogos pelo clube e 24 gols sofridos, Tim Krul saía de campo sem ter a meta vazada. 

domingo, 19 de março de 2017

Perto de "vvvoltar"


O VVV-Venlo já prepara a festa da volta à primeira divisão (Daniel van den Berg/vvv-venlo.nl)
Quick Boys, Achilles ’29, Go Ahead Eagles… vez por outra, há nomes pitorescos nos clubes do futebol holandês. Outro fenômeno comum nas nomenclaturas das agremiações daquele país é a “sopa de letrinhas”: PSV, NEC, NAC (Breda), MVV, ADO, o falido AGOVV Apeldoorn... Pois bem: geralmente, nessas siglas, as letras “V” são referentes a “voetbal” (futebol) e “vereniging” (união, associação). Bastou que fosse fundado um clube, na cidade de Venlo, em 7 de fevereiro de 1903, para que ficasse previsível o nome: Venlose Voetbal Vereniging, Associação de Futebol de Venlo. O tempo e a coincidência pitoresca encarregaram-se de tornar o VVV-Venlo um clube que conseguiu unir, em um só nome, a curiosidade e as letras.

E é justamente a equipe aurinegra que está às portas do retorno à Eredivisie. Assim como ocorreu com os últimos campeões da segunda divisão holandesa, o VVV conseguiu disparar num certo momento da temporada. E atualmente, com a Eerste Divisie já na 30ª rodada (a ser iniciada hoje), a oito do final, os Venlonaren já ostentam 69 pontos. Na teoria, uma vantagem já gigante para o segundo colocado: 11 pontos. Na prática, quase inalcançáveis 15 pontos para o único time que possa impedir o acesso direto à primeira divisão, luxo único para o campeão. “Como assim? Quem é o segundo colocado?”, há de perguntar o leitor. Calma, que ele já virará assunto. Sexta-feira, no Espreme a Laranja (sabe como é, piada sem graça e pênalti não se perdem...).

A curiosidade do VVV-Venlo em sua campanha já na rota do título é que o clube não possui muitos destaques individuais em sua equipe. Goleador? Longe disso: o topo da lista está com Tom Boere, do FC Oss, clube nas últimas posições da tabela, autor de 28 gols. Depois, vem Piotr Parzyszek, do De Graafschap (que caiu da Eredivisie, via repescagem), com 19 gols. E jogadores do VVV só aparecerão na sétima posição da lista, com os atacantes Ralf Seuntjens e Vito van Crooy, cada um com 13 gols. Clube com mais gols marcados? Não, também não é: é o segundo, com 65. O líder da Eerste Divisie só ponteia na defesa menos vazada (18 gols sofridos) e no número de chutes a gol (255).

Desta forma, é possível dizer que o principal mérito do VVV-Venlo em sua campanha está na coesão do time – e no equilíbrio entre experiência e juventude. Mesmo tendo se frustrado na busca do acesso, em 2015/16 (foi eliminado na segunda fase dos play-offs, pelo Go Ahead Eagles), a diretoria seguiu confiando no trabalho de Maurice Steijn como técnico. Manteve no elenco Ralf Seuntjens, o principal destaque da temporada passada. Algumas perdas foram contrabalançadas com contratações razoáveis para os baixos padrões técnicos da segunda divisão – os meio-campistas Clint Leemans e Joey Sleegers são bons exemplos.

E os reforços entrosaram-se bem com a base que já existia, fosse com os mais experientes no clube (o volante Danny Post e o zagueiro Jerold Promes), fosse com as novidades (das quais o atacante Vito van Crooy, 20 anos, é a mais satisfatória). Assim, o caminho foi aberto para a volta à primeira divisão, após quatro anos. Já se fala abertamente que é questão de tempo a comemoração da “vvvolta” do VVV-Venlo – onde, só para continuar com os “v”, já jogou VV...Vampeta, que passou o primeiro semestre de 1995 cedido ao clube de Venlo.

Contudo, se o VVV-Venlo é o destaque mais claro desta temporada na segunda divisão holandesa, o vice-líder supracitado também tem lá suas razões para merecer atenção. Não que também seja barbada para subir: afinal de contas, as equipes B que disputam a Eerste Divisie já sabem que a promoção à elite é proibida para elas. Até por isso, o Jong Ajax, time de aspirantes dos Amsterdammers, dá oportunidade constante a gente que logo aparecerá no time de cima. E o nível da geração tem sido bom o suficiente para ocupar a segunda posição, com 58 pontos – quatro à frente do MVV Maastricht, único clube a poder ameaçar na prática o título do VVV.

Van de Beek, Nouri, Kluivert, De Ligt e Sierhuis (de cima para baixo, da esquerda para direita): a nova geração do Ajax já dá capa de revista, é é considerada "o futuro" (Reprodução/Voetbal International)
Basta citar a lista de jogadores jovens que, nesta temporada, já atuaram no Jong Ajax e também receberam as primeiras oportunidades entre os comandados por Peter Bosz: o zagueiro Matthijs de Ligt, os meio-campistas Frenkie de Jong e Abdelhak Nouri, os atacantes Pelle Clement e Justin Kluivert – sem contar David Neres, que vai sendo “treinado” no Jong Ajax antes de ser mais usado no time de cima. Com mais ritmo de jogo, os novatos ganham mais confiança e preparação para serem opções imediatas para Peter Bosz, além de virarem apostas quase imediatamente. Nouri já esteve sob os holofotes nesta temporada; Kluivert também; e a “febre da vez” é De Ligt, 17 anos, que teve atuação primorosa contra o Copenhague, nesta quinta, pela Liga Europa – a ponto dos exagerados já pedirem sua presença na convocação de Danny Blind para os jogos contra Bulgária (eliminatórias da Copa) e Itália (amistoso). E até mesmo gente exclusiva do Jong Ajax, como o atacante Kai Sierhuis, tem merecido certa atenção.

Além dos novatos, já falados a ponto de merecerem capa da revista Voetbal International, há também o caso de gente mais velha que, para ganhar ritmo após se recuperar de lesão, joga algumas partidas antes de voltar ao time de cima. Ou mesmo ganha nos aspirantes as oportunidades que não recebe na equipe principal. O que já aconteceu com muita gente, nesta temporada, pelo Jong Ajax: Jaïro Riedewald, Davinson Sánchez, Heiko Westermann, Thulani Serero, Mateo Cassierra, Vaclav Cerny... aconteceu até mesmo com Tim Krul, que fez duas solitárias partidas pelo Jong Ajax na segunda divisão antes de deixar o clube. E também acontece com outro exemplo de equipe B que faz boa campanha: o Jong PSV, quarto colocado. Pelos aspirantes de Eindhoven, já estiveram Oleksandr Zinchenko, Siem de Jong, Steven Bergwijn, Jürgen Locadia...

O que não quer dizer que os Eindhovenaren também não desovem na equipe de jovens suas “cartas na manga”. Uma vez ou outra, Phillip Cocu já se valeu dos préstimos dos atacantes Sam Lammers e Ramon-Pascal Lundqvist. E já se fala que, para 2017/18, mais gente do Jong PSV aparecerá no grupo de cima para não sair mais: o zagueiro Jurich Carolina, o volante Pablo Rosario, o meio-campista Kenneth Paal, além dos citados. Pelo menos para isso, a inclusão das equipes B dos grandes clubes na segunda divisão tem servido: para dar ritmo de jogo aos novatos holandeses – que assim, quem sabe, rendam o que não têm rendido nas seleções de base.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 17 de março de 2017)

quarta-feira, 15 de março de 2017

810 minuten: como foi a 26ª rodada da Eredivisie

Kruiswijk foi o herói do dia: enfim, sentiu o gosto de balançar as redes na carreira (Jeroen Putmans/VI Images)

Vitesse 5x0 Sparta Rotterdam (sexta-feira, 10 de março)

O Sparta Rotterdam vinha de duas vitórias seguidas no Campeonato Holandês - inclusive, surpreendendo com a vitória sobre o Feyenoord, na rodada passada. No entanto, os Spartanen ainda tinham contas a acertar em Arnhem: afinal de contas, os mandantes os eliminaram na semifinal da Copa da Holanda. Para tentar o terceiro triunfo consecutivo, os Kasteelheren vieram com o mesmo esquema visto contra o Feyenoord: um 5-3-2, com Mathias Pogba na frente. Porém, não demorou para o Sparta ver que esta rodada não seria igual àquelas que passaram. Um erro do lateral Denzel Dumfries rendeu o 1 a 0 ao Vitesse: aos 22', Dumfries tentou recuar a bola de cabeça para o goleiro Roy Kortsmit. Deixou-a nos pés de Ricky van Wolfswinkel, que conferiu. Estava aberta a porteira para a vitória categórica do Vitesse. Aos 34', bela jogada de Navarone Foor rendeu o segundo gol: o meio-campista driblou Dumfries no meio das pernas, e tabelou com Nathan antes de concluir.

Porém, o grande momento do dia veio com o terceiro gol, aos 40'. Havia algumas rodadas, o zagueiro/lateral Arnold Kruiswijk batera o duvidoso recorde de jogador da Eredivisie com mais tempo sem marcar gols em toda a carreira. Pois bem: de cabeça, Kruiswijk colocou pela primeira vez a bola nas redes, após 25.318 minutos, desde que começou a atuar, em 2002, no Groningen. O 3 a 0 virou goleada de vez no minuto final do primeiro tempo, com Marvelous Nakamba. Com a vitória garantida, só veio mais um gol na etapa final: Guram Kashia, aos 61', completando escanteio escorado. Mas o herói do dia já era Kruiswijk, que saiu de campo aplaudido após, enfim, ter acabado com sua seca pessoal. E até fez piada: "Os outros comemoraram mais o meu gol do que eu!".


O ADO Den Haag agradeceu tanto a sua primeira vitória no returno que Havenaar até mereceu um beijo ao marcar (Laurens Lindhout/adodenhaag.nl)

ADO Den Haag 1x0 NEC (sábado, 11 de março)

Do modo como a partida começou em Haia, parecia que a via-crúcis do ADO Den Haag iria continuar. Como último colocado da Eredivisie, o time da casa sofreu com os ataques mais frequentes e perigosos dos visitantes de Nijmegen. Eles começaram cedo (aos 15', Mohamed Rayhi chutou para fora, perto do gol defendido por Robert Zwinkels), mas os mais perigosos vieram na parte final. Aos 35', Rayhi mandou a bola mais perto: chutou-a no travessão. Aos 37', Gregor Breinburg tentou em chute semelhante: arrematou da entrada da área, forçando Zwinkels a espalmar para fora. E aos 42', Jay-Roy Grot saiu em posição legal para a finalização, livre, mas chutou fracamente, nas mãos do goleiro.

Na etapa complementar, os Nijmegenaren começaram mais ofensivos. Rayhi tentou um chute aos 47', mas arrematou por cima do gol; no minuto seguinte, Grot voltou a ter chances; aos 52', Ali Messaoud tentou cruzar, mas a bola veio fácil para Zwinkels defender. Ao Den Haag, franco-atirador, só restavam tentativas esparsas. Para sorte dos mandantes auriverdes, uma delas rendeu o gol sonhado. Aos 72', Mike Havenaar (que saíra da reserva, substituindo Guyon Fernandez) completou para as redes, de cabeça, um cruzamento de Ruben Schaken. No último minuto, Zwinkels ainda evitou o empate, agarrando bola vinda no cabeceio de Messaoud. E o ADO Den Haag pôde, enfim, comemorar sua primeira vitória no returno. Na hora certa para manter chances de permanência na primeira divisão.

PSV teve suas dificuldades, mas fez o que lhe resta: venceu mais uma e manteve-se tranquilo (ANP/Pro Shots)
Go Ahead Eagles 1x3 PSV (sábado, 11 de março)

Enfrentando um adversário que tenta se livrar da zona de repescagem/rebaixamento, o PSV sofreu no primeiro tempo. Nem tanto com a pressão dos mandantes, mas com algumas polêmicas de arbitragem. A primeira delas, aos 11': numa cobrança de escanteio, Gastón Pereiro cabeceou para o gol, mas o tento foi invalidado pelo juiz Kevin Blom (na jogada, Héctor Moreno deu um empurrão num marcador). Depois, o volante Marcel Ritzmaier chutou a bola de propósito nas costas de Luuk de Jong, que reclamou - sem que ninguém fosse punido. Finalmente, aos 34', Sam Hendriks deu uma dura entrada em Siem de Jong, mas apenas a falta foi marcada, sem que um cartão fosse dado. Luuk reclamou, e quem levou o amarelo foi ele.

Então, houve muita briga e pouco futebol em Deventer? Não foi bem assim. Claro que os visitantes de Eindhoven tentaram o gol. Primeiramente, aos 19', num chute de Pereiro que saiu pela linha de fundo. Aos 24', o atacante uruguaio apareceu de novo: arrematou para difícil defesa do goleiro Theo Zwarthoed. O GAE só avançou no final da primeira etapa: aos 38', Jarchinio Antonia arriscou de fora da área, por cima do gol, enquanto Elvis Manu apareceu livre, dois minutos depois, tocando em cima do arqueiro Jeroen Zoet. Por fim, aos 40', os Boeren visitantes abriram o placar: Rochdi Achenteh agarrou Davy Pröpper na área, Kevin Blom marcou o pênalti, e Siem de Jong (começando como titular, novamente) converteu para o 1 a 0 do PSV.

Todavia, novamente os Eindhovenaren tiveram dificuldades para manter a vantagem. Já aos 48', veio o empate do Kowet: Sam Hendriks tabelou com Daniel Crowley, recebeu pela direita da grande área e cruzou para o meio, onde já estava Manu, que completou para o gol vazio. Restou aos visitantes correrem atrás. Pereiro quase fez de novo, Siem de Jong perdeu chance ainda maior, mas quem marcou o segundo foi mesmo o irmão mais novo de Siem: aos 61', Santiago Arias cruzou rasteiro para o camisa 9 escorar, sendo outro De Jong a marcar no jogo, fazendo o 2 a 1. Quatro minutos mais tarde, Pereiro perdeu uma daquelas chances imperdíveis: driblou Zwarthoed e ficou com a meta inteira à sua frente, mas chutou em cima do lateral Joey Groenbast. Pelo menos, o gol não fez falta aos visitantes. Até porque, aos 84', num chute colocado, Andrés Guardado fez o terceiro, para assegurar a vitória. Fora ou dentro de casa, não restam muitos objetivos ao PSV nesta temporada, a não ser tentar beliscar o vice-campeonato holandês - de outro modo, a terceira colocação já é quase uma certeza. Assim, pelo menos, veio mais uma vitória.



O Heracles levou um susto no primeiro tempo, mas batalhou até conseguir a vitória contra o Utrecht (ANP/Pro Shots)
Heracles Almelo 2x1 Utrecht (sábado, 11 de março)

O retrospecto do Utrecht nesta temporada, jogando em campos de grama sintética, era admirável: sem derrotas (quatro vitórias - três pelo Holandês, uma pela Copa da Holanda -, dois empates). E na grama sintética do estádio Polman, em Almelo, os ofensivos Utregs resistiram a um chute de Brandley Kuwas, logo no primeiro minuto de jogo, para arriscarem um pouco mais, ainda que num primeiro tempo desanimado. Sébastien Haller e Nacer Barazite chutaram, até que, aos 26', saiu o gol dos visitantes. Thomas Bruns perdeu a bola no meio-campo, para Sofyan Amrabat. O volante passou a Haller, e deste para seu parceiro de ataque, Gyrano Kerk, que bateu. O goleiro Bram Castro ainda rebateu, mas Yassin Ayoub estava a postos para aproveitar a sobra e pespegar o 1 a 0 nos mandantes. O Heracles ainda tinha motivos para reclamar: no primeiro tempo, Kuwas sofreu falta dura de Mark van der Maarel, mas o zagueiro do Utrecht sequer levou o que seria seu segundo cartão amarelo no jogo.

Restou voltar a buscar o empate. Que foi conseguido pelos mandantes de Almelo já no primeiro minuto do segundo tempo: o zagueiro Justin Hoogma deu um chutão, que só parou com o ótimo domínio de Kuwas, arrematando para as redes, da entrada da área. O 1 a 1 empolgou a partida: as duas equipes passaram a buscar chances para a vitória em Almelo. Aos poucos, os Heraclieden chegavam mais. Quase viraram o jogo em dois chutes consecutivos, de Tim Breukers e Kevin Conboy, ambos rebatidos pelo goleiro David Jensen. Todavia, aos 86', os Almelöers se impuseram: Kuwas lançou Bruns em profundidade, o meio-campista finalizou para a defesa de Jensen, mas a sobra ficou para o próprio camisa 10 do Heracles impor a primeira derrota do Utrecht em grama sintética nesta temporada do futebol holandês.

Elbers (segundo da esquerda para a direita) agradece: o Excelsior viveu o dia que sonhava em Heerenveen (ANP/Pro Shots)
Excelsior 4x1 Heerenveen (sábado, 11 de março)

12 jogos sem vitória para o Excelsior, mais uma vez brigando para não cair na Eredivisie. Enquanto isso, se caiu de produção neste returno (só vencera duas das nove partidas), o Heerenveen continua brigando mesmo assim na zona dos play-offs por vaga na Liga Europa. Porém, pelo que se viu no estádio Woudestein, parecia que os Kralingers é que faziam a temporada sem muitos problemas. Depois de muito tempo, o Excelsior fez ótima partida. Impôs respeito desde o começo, e não demorou para abrir o placar: aos 15', Stanley Elbers driblou Lucas Bijker pela direita, arriscou o chute quase sem ângulo e se deu bem, enganando o goleiro Erwin Mulder e fazer 1 a 0. Mais cauteloso, o time da casa dava a posse de bola ao Heerenveen, apostando nos contra-ataques. Em um deles, veio o segundo gol: aos 42', Hicham Faik cobrou escanteio, e o zagueiro Jürgen Mattheij se antecipou à marcação de Joost van Aken, cabeceando para ampliar a vantagem dos anfitriões.

E bastou o segundo tempo começar para que o Excelsior deixasse ainda mais clara a sua superioridade em campo: aos 47', o lateral esquerdo Milan Massop fez o terceiro gol dos Kralingers. Nos visitantes da Frísia, o técnico Jürgen Streppel insistiu em acelerar o ataque: tirou de campo Sam Larsson, Martin Odegaard e Arber Zeneli, o trio mais criativo de meio-campo/ataque do Fean. Não mudou muito as coisas: Ryan Koolwijk quase fez 4 a 0. Porém, serviu para que um dos que entraram, Luciano Slagveer, diminuísse o placar, em voleio, aos 77'. Sem problemas: nos acréscimos, aos 90' + 2, Nigel Hasselbaink apareceu sozinho na cara do gol, para confirmar a goleada que, pelo menos por uma rodada, tirou o Excelsior da zona de repescagem/rebaixamento.

Em Willem II x Zwolle, pelo menos esse lance não foi polêmico: Falkenburg abre o placar (Henry Dijkman/VI Images)
Willem II 2x0 Zwolle (domingo, 12 de março)

Tanto os Tricolores mandantes quanto os "Dedos Azuis" visitantes parecem ter aprendido a lição no returno: afastaram os perigos de repescagem/rebaixamento no returno, vivendo um período de ascensão para a segurança do meio de tabela. O estádio em Tilburg veria qual dos dois estava mais avançado nessa reação. E pelo que se viu na etapa inicial, o Willem II foi o vencedor inquestionável deste "confronto direto". Já aos 4', o atacante Obbi Oularé forçou o arqueiro Mickey van der Hart a fazer boa defesa. E os Tilburgers controlaram o jogo, até abrirem o placar, aos 24': Dico Koppers (lateral esquerdo convertido em ponta) arriscou o chute, Van der Hart rebateu, mas Erik Falkenburg estava alerta para pegar o rebote e fazer 1 a 0. Aos 36', Falkenburg quase marcou mais um, só que ficou outra polêmica do futebol holandês sobre "gol ou não" na temporada: a bola vinda do cabeceio foi tirada por Ouasim Bouy, em cima da linha, e Bjorn Kuipers mandou o jogo seguir. Como o Willem II Stadion não tem a tecnologia "olho-de-gavião", ficou o dito pelo não validado.

Trocar dois jogadores aos 40 minutos do primeiro tempo, como o técnico Ron Jans fez, já era sinal claro de como o Zwolle estava frágil em campo. No ataque, a entrada de Kingsley Ehizibue até deu mais posse de bola aos Zwollenaren, mas criar chances de gol, que são boas, os visitantes só criaram aos 61', num arremate de Nicolai Brock-Madsen, defendido sem problemas por Kostas Lamprou. No minuto seguinte, Lamprou agarrou bola vinda em cabeceio de Danny Holla. E aos 74', Ryan Thomas teve a grande chance do empate, mas chutou nas mãos do guarda-metas grego. Depois disso, o Willem II passou a controlar o jogo, tentando encaixar um contra-ataque. Que veio nos acréscimos, aos 90' + 1, para Thom Haye finalizar, fazendo 2 a 0 e colocando o time da casa na nona colocação do Campeonato Holandês, afastando de vez o perigo de rebaixamento - que voltou às preocupações do Zwolle, pelas vitórias de Excelsior e ADO Den Haag. Nada grande, mas é bom tomar cuidado.


Jorgensen estava adormecido? Pois escolheu ótima hora para "acordar": três gols, um passe para outro, e destaque absoluto na goleada do Feyenoord (Pro Shots)
Feyenoord 5x2 AZ (domingo, 12 de março)

Derrotado na rodada anterior. Sem alguns importantes jogadores: lesionados, Brad Jones, Terence Kongolo e Eljero Elia desfalcariam a equipe. Tonny Vilhena, um dos melhores jogadores do time e do campeonato, pressionado por uma sanção à sua espera: quatro jogos, por uma cotovelada em Mathias Pogba, na derrota para o Sparta. E enfrentando um adversário sempre exigente. De fato, o líder do Campeonato Holandês tinha o que responder à sua torcida. E tentou impor sua superioridade como se deve: sendo ofensivo desde o começo. Já aos 4', Jens Toornstra passou a bola a Miquel Nelom. E o lateral esquerdo chegou à grande área e chutou, quase sem ângulo, na rede pelo lado de fora. Ainda assim, no espaço dado para contragolpes, o AZ trazia algum perigo. Aos 7', Alireza Jahanbakhsh fez jogada individual pela direita, passando a Joris van Overeem. Todavia, o meio-campista não conseguiu dominar bem a bola, que chegou fácil para a defesa de Kenneth Vermeer  (de volta, substituindo Brad Jones após se recuperar do rompimento no tendão de Aquiles, por meio ano).

Mas o embalo do Feyenoord precisava de um gol. Que não demorou a acontecer, como em outras partidas. Derrick Luckassen colocou a mão na bola, rente à grande área, e o juiz marcou falta. Na cobrança, Toornstra mandou na barreira. Porém, a jogada seguiu, a bola voltou, e aos 11', Rick Karsdorp dominou no meio-campo, lançando em profundidade. Na área, estava Nicolai Jorgensen, pronto para dominar e bater cruzado, na saída de Tim Krul, fazendo seu 16ª gol no campeonato.  

Se o atacante dinamarquês reapareceu para mostrar o tamanho de sua importância na campanha do Stadionclub, outro velho conhecido participou da bonita jogada do segundo gol, aos 21. Novamente titular, Dirk Kuyt passou de calcanhar a Jorgensen, que também devolveu de taquito a El Ahmadi. O marroquino cruzou, e a bola foi para o outro lado, onde Toornstra pegou, tabelou com Jorgensen e bateu da entrada da área, no ângulo direito de Krul, ampliando a vantagem.

Pressionado, o AZ só ganhou chances em alguns momentos. Uns, em jogadas individuais: aos 27', Ridgeciano Haps arriscou de fora da área, mandando a bola perto do gol. Outros, em erros dos jogadores adversários: aos 36', Eric Botteghin tentou sair com a bola, mas seu passe errado deixou a posse nos pés de Levi García. O trinitário avançou com campo livre à sua frente, mas bateu para fora, sobre o gol de Vermeer. De resto, seguiu o domínio do Feyenoord. Que teve grande oportunidade aos 32':  Karsdorp apareceu livre e cruzou. A defesa do AZ rebateu, mas Steven Berghuis apareceu rápido para aproveitar a sobra, batendo de primeira. Krul rebateu, e Jorgensen perdeu grande chance de gol, arrematando para fora.

Confiante, o Feyenoord parecia determinado a provar que a derrota para o Sparta Rotterdam fora apenas um acidente de percurso. Não demorou para tranquilizar de vez a torcida no segundo tempo: aos 59', fez o terceiro gol. Toornstra fez lançamento da direita, e Jorgensen deu uma assistência primorosa: com o peito, o dinamarquês ajeitou a bola à feição para Kuyt bater cruzado, no canto direito, e voltar a marcar no Campeonato Holandês.

Junto a Jorgensen, o capitão Dirk Kuyt foi outro a reaparecer bem, com um gol e a luta de sempre (feyenoord.nl)
Mas bastaram quatro minutos para o AZ lembrar que merecia respeito. Aos 63', após falta de Berghuis em Haps, Dabney dos Santos levantou para a área na cobrança, e Derrick Luckassen cabeceou na segunda trave, sem marcação, para diminuir: 3 a 1. Se houve algum momento de certo susto do Feyenoord no jogo, foi esse. Nada de fazer a torcida temer, mas foi o suficiente para erros ofensivos: aos 69', Berghuis escorregou ao chutar, para fora. E para avanços mais frequentes do AZ - o mais perigoso, aos 70', quando Van Overeem cruzou para a área, Wout Weghorst se antecipou à marcação de Eric Botteghin, chegou livre à área e escorou a bola por cima do gol, trazendo certo perigo.

Bastaram esses sustos para o primeiro colocado da Eredivisie se recompor e retomar o tranquilo domínio que teve no jogo. Aos 78', Tonny Vilhena (livre para jogar, com o recurso contra a suspensão) passou a bola a Bart Nieuwkoop, que bateu rasteiro, rente à trave, em grande chance. Mais dois minutos, e veio o quarto gol. Jorgensen tentou dominar a bola na área, quando foi puxado por Luckassen. O juiz Pol van Boekel não pestanejou: marcou o pênalti. E a cobrança de Jorgensen foi perfeita: deslocando Krul, mandando a bola no canto direito, para fazer seu 17º gol no campeonato. Tinha mais? Tinha mais: aos 82', Toornstra lançou Jorgensen, que estava livre e em posição legal. Krul tentou sair rápido da área, mas o goleador da Eredivisie driblou rápido o goleiro para tocar suavemente e fazer logo seu 18ª tento na Eredivisie, terceiro no jogo, provando sua reação, seu valor neste determinado Feyenoord - e confirmando a goleada que não seria perturbada nem mesmo pelo segundo gol do AZ (aos 90' + 1, um lançamento em profundidade após desarme pegou Weghorst livre para dominar a bola, entrar na área e tocar na saída de Vermeer).

O Groningen até criava chances, mas não fazia gols. Sorte do Roda JC, que criou as chances, marcou e venceu (Jeroen Putmans/VI Images)
Roda JC 3x1 Groningen (domingo, 12 de março)

O Parkstad Limburg Stadion sediou um jogo em que oportunidades perdidas e eficiência definiram o vencedor. Curiosamente, a primeira chance perdida veio do time que conseguiu os três pontos: aos 20', Mitchel Paulissen cabeceou, forçando o goleiro Sergio Padt a espalmar a bola. Depois, aos 30', Mimoun Mahi quase deu o primeiro gol ao Groningen: saiu da linha de impedimento em boas condições para o chute, mas finalizou para fora. Bastou: no minuto seguinte, Mikhail Rosheuvel cruzou, e Abdul Ajagun cabeceou para colocar o Roda JC na frente do placar.

O segundo tempo transcorreu no mesmo ritmo. Quem começou criando chances foram os Koempels mandantes: aos 47', Dani Schahin arrematou para fora, em jogada na qual poderia ter passado a Ajagun, em melhor posição para chutar. Aos 49', o Groningen chegou, de novo com Mahi, de novo para fora. E o Roda novamente levou vantagem: aos 54', de cabeça, Christian Kum fez 2 a 0. E a história repetiu-se finalmente, aos 66': Bryan Linssen perdeu uma chance, e no contragolpe seguinte, Rosheuvel deixou a Paulissen, que cruzou para Schahin escorar e marcar o terceiro dos donos da casa. Linssen ainda minorou os danos para o Groningen, marcando aos 73', em bonito chute da entrada da área, mas sequer terminou o jogo: foi expulso aos 89'. E o Roda JC comemorou a vitória.


Não, Dolberg não está lamentando. Ao contrário: está comemorando o segundo gol na vitória do Ajax (Maurice van Steen/VI Images)

Ajax 3x0 Twente (domingo, 12 de março)

O Ajax entrou em campo para fechar a rodada sabendo o que tinha de fazer: como sempre, ganhar, para manter em acessíveis quatro pontos a desvantagem para o líder Feyenoord. Também como sempre, os Godenzonen iniciaram a partida na Amsterdam Arena tentando pressionar o Twente em sua defesa. Logo aos 5', Kasper Dolberg saiu livre da linha de impedimento, após receber passe de Hakim Ziyech, e entrou na grande área pela esquerda, finalizando para a defesa de Nick Marsman, que saiu bem do gol e espalmou pela linha de fundo. Aos 8', Dolberg apareceu de novo: o camisa 25 passou por Kamohelo Mokotjo e Stefan Thesker antes de arriscar chute rasteiro, defendido por Marsman.

Contudo, o forte ritmo ofensivo do Ajax nos primeiros minutos foi dando lugar às jogadas individuais mais esporádicas. Aos 14', após passe de Bertrand Traoré, Hakim Ziyech arriscou chute rasteiro, perto do canto esquerdo de Marsman. Mesmo com a desaceleração, porém, o Twente só trouxe perigo numa bola parada: aos 16', Bersant Celina cobrou falta, por cima do gol de André Onana. Depois, o Ajax voltou. Aos 24', após um escanteio, Joël Veltman tentou mandar para o gol com um voleio, mas a bola saiu por cima. Mas a chance mais palpável de gol para os Ajacieden veio já aos 43'. Amin Younes fez a jogada tradicional: pela esquerda, carregou a bola driblando vários jogadores, e cruzou. Chegando livre na pequena área, Traoré perdeu a grande chance da etapa inicial: escorou para fora. No minuto seguinte, o atacante burquinês ainda tentou marcar, mas seu chute saiu fraco.

Na etapa final, o Ajax tinha 45 minutos para conseguir a vitória. Voltou a tentar desde o começo. Aos 47', Ziyech cruzou da direita, mas Marsman saiu do gol com segurança para defender. Aos 50', em cobrança ensaiada de córner, Ziyech de novo alçou a bola na área, e Marsman deixou sua meta para socar a bola. Davinson Sánchez e, depois, Davy Klaassen ainda pegaram as sobras para o chute, mas mandaram para fora. Mais um minuto, e Traoré fez o que normalmente tem feito: puxou o ataque pela direita, chegou perto da área e arriscou o chute, mandando para fora.

De tanto tocar, o Ajax enfim abriu o espaço que precisava - e foi eficiente para abrir o placar, aos 55'. Ziyech iludiu Mokotjo com um drible de corpo, e lançou Klaassen. O capitão Ajacied chegou à linha de fundo e tocou para trás. No meio, entrava pela área Younes, que bateu de primeira, no canto esquerdo do Marsman, para fazer 1 a 0. No minuto seguinte, Ziyech chutou colocado, mandando pela linha de fundo, perto do gol

Acompanhado por Schöne, Amin Younes parece apontar e pedir a lembrança: foi ele quem abriu o caminho da vitória (Maurice van Steen/VI Images)
Aos 61', Dolberg voltou a aparecer: mandou a bola para a área, ela passou por cima de Klaassen, e ficou à feição para Justin Kluivert (que substituíra Traoré) cabecear. Todavia, Marsman foi mais rápido e tirou a esférica da área - Kluivert caiu, e houve alguns pedidos (injustificados) de pênalti. Novamente, o Ajax estava mais rápido em campo. E aos 67', a marcação por pressão rendeu resultado prático: o 2 a 0. Ziyech desarmou Celina no campo de ataque, e já passou a Younes. Da esquerda, o alemão lançou Dolberg, e o dinamarquês resolveu sozinho: entrou pelo meio da área, driblou Marsman e tocou para as redes.

Vitória praticamente garantida, o Ajax deu-se ao luxo de perder algumas chances seguidas. Aos 87', um voleio de Dolberg, para fora; no minuto seguinte, após driblar dois jogadores, Ziyech concluiu e Marsman espalmou. Nos acréscimos, enfim, o terceiro gol dos Amsterdammers: aos 90' + 1, Younes tocou, Ziyech driblou Joachim Andersen pela esquerda e cruzou, e Dolberg entrou pelo meio da área para o 3 a 0 - no início, pensou-se que o camisa 25 estivesse em impedimento, mas o tento foi validado. E o Ajax cumpriu sua tarefa: manteve-se perto do Feyenoord. Segue a briga dos arquirrivais, até o esperado Klassieker de 2 de abril.