sábado, 24 de dezembro de 2016

Retrospectiva: o "fim da história"?


"Natal sem Cruyff: nosso futebol perdeu seu farol". Mais um lamento, no triste 2016 que a Holanda viveu no futebol (AD Sportwereld)

Já faz algum tempo (precisamente, um ano, dois meses e 10 dias) que a seleção da Holanda teve confirmado o seu maior vexame nos últimos tempos: a ausência na Euro 2016. Ausência que não foi esquecida, nesse tempo todo: basta um tropeço da Laranja, seja pelas eliminatórias para a Copa de 2018, seja por um amistoso, para que volte o olhar pesado de desconfiança sobre a presença da equipe na próxima edição da Copa. Sem contar a já crônica má fase da maioria dos times do país em torneios continentais. Ou a rotina repetitiva do Campeonato Holandês, cuja disputa pelo título já parece resumida a Feyenoord e Ajax - embora a luz do PSV tenha se mantido ainda acesa com o empate no clássico contra o Ajax, domingo passado.

Tudo isso já serviria para que 2016 tivesse sido um ano esquecível para o futebol holandês. Porém, um fato foi (e é) ainda mais marcante nesse olhar melancólico com que o ludopédio é visto atualmente no país: claro, a morte de Johan Cruyff, em 24 de março. Ainda dói lembrar do falecimento do maior jogador de sua história, do primus inter pares, do sujeito que lhe deu uma cara dentro de campo. Prova disso é a capa da edição do AD Sportwereld, o caderno de esportes do diário Algemeen Dagblad, que abre esta coluna. A mensagem fala em "um Natal sem Cruyff". Em suma, ainda é triste saber que a Holanda não tem mais seu JC.

E é triste não só pela morte em si. Mas porque ela representou para muita gente, em imprensa e torcida, uma espécie de “fim da história”. Como se fosse, implicitamente, o final do capítulo que tornou a Holanda conhecida por seu futebol no mundo todo. E como se, daqui por diante, o caminho fosse inexorável rumo ao esquecimento, ou a viver das memórias. Mas isso é inevitável, mesmo? De fato, o caminho da Holanda é inevitavelmente voltar ao que ela era antes de 1974: uma seleção do terceiro escalão europeu?

Claro, não dá para responder isso agora. E mesmo se fosse possível, muito provavelmente, a resposta seria negativa. O futebol holandês já viveu períodos de baixa, e este é apenas mais um deles. De mais a mais, ciclos vêm e vão dentro do futebol – que o diga a vizinha Bélgica, há dez anos uma seleção considerada decadente, e hoje relativamente respeitada (até um pouquinho além da conta, às vezes). Ou seja: por mais que pareça pequena a chance de reação em algum momento, ela ainda existe.

O problema é que, para aumentar as chances dessa reação, duas características são indispensáveis: humildade e modernização. Duas coisas que andam em falta no futebol holandês. Um bom exemplo disso é o anacronismo tático visto no país, tanto na seleção quanto nos clubes. Casos dos últimos anos deixam claro como a Holanda precisa urgentemente modernizar o estereótipo do “4-3-3 com dois pontas”, vindo desde 1974, no qual confia. Jogando no 4-2-3-1, com mais proteção à defesa, a Oranje conseguiu chegar à final da Copa de 2010; no 5-3-2 pensado por Louis van Gaal, pela força das circunstâncias, a equipe laranja fez uma campanha surpreendentemente agradável na Copa de 2014.

Fenômeno semelhante também ocorreu com clubes. Sendo assumidamente defensivo fora de casa, o PSV também foi boa surpresa na Liga dos Campeões passada; e agora, tentando ser mais veloz e ofensivo, o Ajax causou impressão relativamente boa na fase de grupos da Liga Europa. Isto é, aqui e ali, há exemplos de que ainda é possível ser mais atual, mais... “moderno”. O problema é que tais opções colidem com o ideário holandês de futebol – obviamente, calcado muito nas ideias de Johan Cruyff. Para o Número 14, o futebol era menos estudo, menos previsibilidade, e mais imaginação individual, mais decisões rápidas dentro de campo, mais dependência do acaso - aliás, uma das frases do gênio diz: “Coincidência é lógica”. 

Até tem seu fundo de verdade. Mas hoje, por mais contraditório que pareça, para que um time seja fluido e circule bem dentro de campo, mudando taticamente ao sabor das circunstâncias da partida (como fazia, ora bolas, a seleção holandesa de 1974), muito precisa ser “estudado” fora de campo. Citando uma discussão que esteve em voga: mesmo para o time jogar com a despreocupação de um Renato Gaúcho, é preciso ter um metodismo – como mostram vários exemplos por aí, alguns até de um jeito obsessivo. 

Eis o drama da Holanda: não quer largar as ideias de Cruyff, mas ao mesmo tempo sabe que precisa fazer isso algumas vezes, se quiser ser realmente grande no futebol. Eis outra dúvida gigantesca (até comentada aqui vez por outra, principalmente no espaço de comentários), a que a morte de Cruyff pode levar a pensar: afinal de contas, a Holanda é grande? A resposta mais próxima da verdade: é uma seleção média, com status de seleção grande. Ninguém mandou ter atuações de sonho em 1974, descortinando novos rumos para o futebol mundial – coisa que outras “médias”, como Inglaterra e Portugal, jamais fizeram. Mas também ninguém mandou perder três finais de Copa, muito menos ter uma raquítica estante de títulos. E como bem souberam Espanha e França antes da bonança, sem títulos você pode até ser respeitada, mas isso vai até a página 2. Por mais cruel e impiedoso que seja, cabe o ditado: se a Holanda quer respeito definitivo, que faça por merecer. E só merecerá respeito definitivo... com títulos. Não adianta chorar. E conquistar esses títulos está mais e mais difícil.

Assim como dificilmente adiantará a Eredivisie querer ser um campeonato novamente atraente para novatos se não tomar atitudes práticas. Está certo que o Campeonato Holandês jamais foi tão interessante quanto se pensa (nem mesmo nos tempos campeões de Ajax e PSV o nível técnico era atraente). Sempre foi uma liga de segundo escalão. Mas até por isso, era um cenário ideal para o desenvolvimento de novos atletas, como um “ensaio geral” na Europa antes de craques tentarem coisa melhor. Provas disso não faltam: Romário, Ronaldo, Luis Suárez... mas isso mudou. Gigantes europeus têm suas redes de olheiros muito mais desenvolvidas. As contratações são muito mais precoces. 

Não há muito jeito das ligas menores sanarem isso – e se há um jeito, não é desejando mudar o formato de disputa do campeonato, como pensa a Eredivisie, inspirada na variedade maior de vencedores na liga da Bélgica. Há a velha ideia de unificar as ligas belga e holandesa, formando a famosa "Beneliga", mas ela anda em baixa hoje, por dois motivos. O primeiro é que isso já foi tentado nas ligas de futebol feminino, sem sucesso - tanto que ambas já voltaram a ser autônomas. O segundo é até mais complicado: num momento em que há clara guinada mais nacionalista no mundo, como falar em união - ainda mais sendo a Holanda a terra de Geert Wilders, sonhando em se tornar primeiro-ministro do país com discurso anti-Islã? Talvez o jeito seja fazer os grandes holandeses se organizarem, tentarem falar mais grosso, serem mais ambiciosos. Até porque, tradição por tradição, não deixam nada a dever a grandes portugueses, russos, ucranianos...

Enfim, talvez a morte de Cruyff não seja “o fim da história”. Mas só se ela representar o fim de certas utopias que não cabem mais no momento atual do futebol mundial. Se a Holanda seguir grudada a elas, aí sim, o perigo será grande de o “sonho” ter acabado.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 23 de dezembro de 2016. Revista e atualizada)

domingo, 18 de dezembro de 2016

810 minuten: como foi a 17ª rodada da Eredivisie

A imagem que resume Ajax x PSV: o clube de Eindhoven celebra a manutenção de suas chances, o Ajax lamenta muito (Pieter Stam de Jonge/VI Images)

Willem II 2x1 Heerenveen (sexta-feira, 16 de dezembro)

O Heerenveen já tinha sofrido um tropeço em um jogo de abertura de rodada: no caso, a 12ª, quando caiu para o Sparta Rotterdam (3 a 1). Nesta rodada derradeira do primeiro turno do Campeonato Holandês, foi até pior. Afinal de contas, o Willem II ainda peleja na disputa equilibrada para fugir das últimas posições. Jogando em Tilburg, os donos da casa valeram-se do único setor notável nesta temporada para começarem a vencer o jogo: o ataque. E dentro dele, valeram-se de um personagem de destaque: Fran Sol. Foi ele quem fez 1 a 0, aos 15', completando na segunda trave o escanteio cobrado por Thom Haye.

Todavia, um lance de azar resultou no empate dos visitantes da Frísia. Aos 24', Arber Zeneli cruzou rasteiro da esquerda, e o zagueiro Freek Heerkens desviou acidentalmente para as próprias redes. Heerkens quase consertou sua falha aos 30', mandando a bola na trave, num cabeceio. Mas a vitória do Willem II veio de novo com Fran Sol: já no segundo tempo, aos 58', ele aproveitou uma sobra de novo córner batido por Haye para fazer o 2 a 1, deixando um gosto amargo na volta do técnico Jurgen Streppel ao Willem II Stadion, agora treinando o adversário. Se serve de consolo, pelo menos o Heerenveen entra na pausa de inverno garantido na quarta colocação.

Roda JC 0x0 Utrecht (sábado, 17 de dezembro)

Exatamente na rodada passada, escreveu-se aqui mesmo que a invencibilidade então ostentada pelo Roda JC era enganosa - afinal de contas, dos sete jogos sem perder, seis eram empates. Pois bem, o time de Kerkrade caiu para o Groningen. E o invicto da vez tornou-se o Utrecht, que foi visitar os Koempels com oito partidas sem derrotas na Eredivisie (cinco vitórias, três empates), mais a classificação às quartas de final da Copa da Holanda. E os Utregs quase abriram o placar, já aos dois minutos de jogo: Willem Janssen mandou a bola para as redes, de voleio, mas o juiz Allard Lindhout anulou o gol, alegando impedimento - inexistente, como o próprio Lindhout reconheceu pesaroso à FOX Sports holandesa: "Lamentável, é muito chato, principalmente para Janssen. O chute tinha sido belíssimo".

Depois disso, até inesperadamente, quem teve as melhores chances para vencer o jogo foi o Roda JC. Ainda na etapa inicial, aos 23', Ard van Peppen cruzou, e o cabeceio de Nestoras Mytides mandou a bola perto do gol defendido por David Jensen. Já no segundo tempo, Abdul Ajagun foi responsável por algumas boas chances dos mandantes - a principal delas veio já aos 49', tocando na saída de Jensen, e vendo o zagueiro Mark van der Maarel tirar a pelota em cima da linha. Ao longo da etapa final, as duas equipes tiveram chances aqui e ali. Mas ficou no placar o 0 a 0, que mantém tanto a aflitiva situação do Roda JC (penúltimo colocado, com dez empates na temporada!) quanto a invencibilidade do Utrecht, sexto colocação do campeonato.

Berghuis não viu ninguém à sua frente na comemoração do primeiro gol. Nem o Feyenoord, "campeão de inverno" (feyenoord.nl)

Feyenoord 3x1 Vitesse (sábado, 17 de dezembro)

De novo, o Feyenoord estava em céu de brigadeiro. Tudo graças aos 4 a 0 categóricos fora de casa sobre o AZ, na rodada passada do campeonato, e à segura classificação às quartas de final da Copa da Holanda, com inapeláveis 5 a 1 no ADO Den Haag. Por sinal, essa última goleada resolveu certa dúvida que havia ficado após domingo passado, com a permanência de Dirk Kuyt no banco de reservas: Kuyt não só jogou pela copa, mas fez três gols contra o Den Haag. E voltou a ser escalado no começo contra o Vitesse, com Steven Berghuis indo para a ponta direita - e Jens Toornstra, para o banco de reservas.

Tão logo o jogo começou, ficou claro qual seria a tática do Vitesse: permitir os avanços do Stadionclub, para então avançar nos contragolpes. Com a desatenção inicial dos laterais (principalmente Miquel Nelom, pela esquerda), os visitantes de Arnhem foram trazendo perigo. Por exemplo, aos quatro minutos: um lançamento em profundidade deixou a bola com Ricky van Wolfswinkel. Livre pela direita, o atacante quase driblou o goleiro Brad Jones, mas ficou sem ângulo para o chute. Então, cruzou para o meio da área. Rick Karsdorp tirou parcialmente de cabeça, mas Marvelous Nakamba entrou chutando de primeira o rebote, forçando Jones a rebater com os punhos, em grande defesa. Depois, aos 12', Lewis Baker cobrou falta perigosa, e Jones defendeu.

Mesmo dominando o jogo na posse de bola, e até chegando vez por outra, o Feyenoord precisava de um gol para não se complicar, e colocar em risco a primeira posição na tabela. Com "ajuda" da defesa do Vitesse, isso aconteceu, aos 15'. Karsdorp apareceu pela direita e cruzou a bola. Parecia um cruzamento inócuo, tanto que Kelvin Leerdam iria ajeitá-lo para sair jogando. E ajeitou... para Eljero Elia. Leerdam falhou: dominou errado, a bola escapou de sua posse, Elia roubou-a e tocou na saída do arqueiro Eloy Room para fazer o gol que o Feyenoord necessitava.

Aí, sim, a equipe da casa conseguiu os espaços para transformar a posse de bola em ataques e chances. Uma delas, aos 19', em chute de Nicolai Jorgensen, para boa defesa de Room. Todavia, seguiam abertos os espaços perigosos para contragolpes do adversário. Num deles, veio o empate do Vitesse, aos 24'. Aliás, a jogada começou até num lance de azar: Nelom tentou lançar em profundidade, mas a bola bateu no árbitro Dennis Higler e voltou para Van Wolfswinkel. O atacante acelerou o contra-ataque, passou a Milot Rashica, e este cruzou a bola para a área. Na segunda trave, de voleio, Adnane Tighadouini pegou de primeira, mandando no canto direito de Jones e dando o empate que o Vitesse até fazia por merecer.

Novamente, o Feyenoord teria de correr atrás. Pelo menos, o domínio dos anfitriões já era claro no gramado de De Kuip. Isso se via na profusão de chances. Aos 26', chute cruzado de Dirk Kuyt, para fora. Aos 31', a mais perigosa de todas: Tonny Vilhena cobrou escanteio, e Eric Botteghin subiu para cabecear forte, mandando a bola na trave. No rebote, o próprio Botteghin testou de novo, mas a bola já foi mais fraca, fácil para Room defender. E aos 34', em nova bola aérea, Jorgensen tentou cabecear, mas a bola ficou mesmo à feição foi para Steven Berghuis. O ponta direita bateu forte, e Room rebateu espalmando.

Tentando, o Feyenoord conseguiu de novo o que queria: ir para o intervalo com a vantagem no placar. Aos 42', Nelom cobrou lateral e deixou a bola com Elia. Este cruzou para a área, e Berghuis foi muito atento: antecipou-se à marcação do lateral esquerdo Kosuke Ota, chegou livre na pequena área e cabeceou à queima-roupa para o 2 a 1. Dali a dois minutos, o Vitesse ainda teve uma oportunidade, numa bola parada, em falta perto da área. Mas Lewis Baker bateu fraco. E a torcida ficou com a gostosa impressão de que os Rotterdammers estavam entrando na rota de mais uma vitória.

Impressão plenamente confirmada no segundo tempo. Prensando o Vitesse em seu campo de defesa, o Feyenoord voltou com tudo. Já aos 49', em córner, Jorgensen cabeceou, mas Baker tirou em cima da linha; no minuto seguinte, Vilhena cobrou falta, e Terence Kongolo (de volta após lesão muscular) cabeceou para as redes, mas seu gol foi anulado por impedimento. Finalmente, aos 57', o gol que já estava demorando. Vilhena carregou a bola desde a esquerda para o meio, chegou perto da área e deixou com Kuyt. Este se virou e entregou a Berghuis, que só bateu forte, cruzado e rasteiro, no canto direito de Room, para sacramentar a vitória que garantiu o que já era praticamente certo: que o Feyenoord termina o primeiro turno na liderança do Campeonato Holandês.

À FOX Sports do país, Giovanni van Bronckhorst exultou: "Estou orgulhoso do time e de onde estamos". Razões não faltam. Há muitos e muitos anos não era tão grande o sentimento de "agora vai" na torcida. A tarefa do Feyenoord é saber usar isso como motivação para enfim quebrar o tabu de 17 anos sem títulos, não transformá-lo no pernicioso "já ganhou". Mas isso fica para a intertemporada. Agora, cabe terminar 2016 celebrando o "título de inverno". Até porque ele foi ganho com 13 vitórias, 3 empates e 1 derrota. Exatamente a mesma campanha do Feyenoord no 1º turno da temporada... 1998/99, a última em que a Eredivisieschaal foi para De Kuip. Superstição? Imagina...

Twente continha o AZ. Até que o gol contra de Peet Bijen pôs tudo a perder (Ed van de Pol/AZ.nl)

Twente 1x2 AZ (sábado, 17 de dezembro)

Se jogar mais defensivo e compactado, mesmo em casa, já tinha dado certo contra o Ajax, por que não acreditar que daria contra o AZ? Pois então o Twente fez a mesma coisa no Grolsch Veste: apostava nos contragolpes contra os visitantes de Alkmaar. Que, pela vez deles, tiveram a primeira chance logo aos 10': Robert Mühren arrematou na área, e o goleiro Nick Marsman desviou para fora a bola, que ainda resvalou na trave. Os Tukkers responderam aos 23': Enes Ünal cabeceou, e Sergio Rochet fez grande defesa, no reflexo, socando a bola por cima do gol. E as chances de gol no primeiro tempo ficaram nisso, até pela postura cautelosa dos anfitriões.

Já na etapa final, bastaram 47 segundos para o AZ enfim furar a defesa bem fechada dos mandantes: Alireza Jahanbakhsh cruzou, e Wout Weghorst conferiu para o 1 a 0. Só aí o Twente ousou mais. Já aos 50', quase teve a recompensa: Ünal marcou, mas o tento foi invalidado por impedimento. Só aos 68' é que veio o gol sempre esperado do atacante turco, logo após pedidos de pênalti por desvio de bola na mão de Derrick Luckassen: Chinedu Ede fez o pivô, e Enes chutou direto para as redes. Mas quando os adeptos em Enschede já esperavam o placar igual, aos 90' + 2, o Twente provou do veneno que fizera o Ajax experimentar na rodada passada: Thomas Ouwejan cruzou, e o zagueiro Peet Bijen desviou acidentalmente para o 2 a 1 do AZ, que segue nos calcanhares do Heerenveen. Pelo menos, o Twente exibiu novamente a vontade que o levou a um primeiro turno até acima das expectativas.

Excelsior 2x2 NEC (domingo, 18 de dezembro)

Por mais que tenha caído de produção ao longo do primeiro turno, por mais que agora tenha voltado a estar onde se esperava que estivesse (tentando sair das últimas posições), o fato é que o Excelsior mostrou alguns jogadores de certo talento. Com eles, o time de Roterdã começou melhor o jogo em seu estádio. Já aos sete minutos, tinha criado duas chances de gol. E aos 11', conseguiu abrir o placar: Kevin Vermeulen deixou a bola com Stanley Elbers, e o atacante tocou suavemente para fazer 1 a 0. Porém, com a vantagem no placar, os Kralingers diminuíram o ritmo. Algo pouco recomendável contra um NEC que fez trajetória parecida no turno: cheia de irregularidades, mas com talentos aqui e ali. Um deles empatou o jogo, aos 41': Jay-Roy Grot, em chute forte da entrada da área.

No segundo tempo, o rumo da partida foi semelhante. No começo, reanimado para tentar passar de novo à frente, o Excelsior não demorou para fazer 2 a 1. De novo, com Vermeulen envolvido na jogada: o meio-campista tabelou com Khalid Karami, e deixou o lateral esquerdo livre para finalizar com precisão. No decorrer da etapa final, os mandantes tiveram mais chances para definirem a vitória: aos 71', Nigel Hasselbaink chegou a marcar, mas teve o gol anulado por impedimento, enquanto Grot perdeu a chance do segundo gol no jogo, aos 75'. Azar: no minuto seguinte, após escanteio, o zagueiro Dario Dumic subiu para fazer o 2 a 2. Resultado que mantém a irregularidade das duas campanhas. O Excelsior ainda inspira cuidados; o NEC ainda parece mais controlado. A ver em 2017.

ADO Den Haag 1x0 Sparta Rotterdam (domingo, 18 de dezembro)

Não bastasse ter apenas uma vitória nas últimas 13 partidas pela Eredivisie, a queda nas oitavas de final da Copa da Holanda foi dura para o ADO Den Haag. Isso, sem contar o caos interno, com o racha entre a empresa chinesa United Vansen, proprietária do clube (e o mecenas, Hui Wang), e a diretoria formada por holandeses. Enquanto as partes já estão se resolvendo na Justiça Comum, o Den Haag entrou em campo tentando salvar o que resta do ano contra o Sparta Rotterdam, que também não trazia bons resultados nas últimas quatro partidas: apenas um ponto. Ainda assim, fora de casa, foram os Spartanen que criaram a única oportunidade real de gol, num primeiro tempo mais monótono. Aos 41', Paco van Moorsel deu ótimo passe para Zakaria El Azzouzi, mas o atacante tocou por cima do gol.

O Den Haag recolveu isso no segundo tempo. Voltou mais acelerado. E chegou ao gol, aos 57': em rápido contragolpe, Gervane Kastaneer deu a bola a Ruben Schaken. Este cruzou, e Sheraldo Becker conferiu para as redes. A partir daí, o que se viu foi a pressão do Sparta em busca do empate. Aos 69', duas finalizações seguidas foram impedidas em ótimas defesas de Ernestas Setkus: a primeira de Thomas Verhaar, a segunda de Craig Goodwin. A situação do ADO Den Haag ficou ainda mais dramática aos 79', com a expulsão do volante Hector Hevel. No entanto, mesmo com um jogador a menos, o time auriverde não só conteve o Sparta, como quase fez 2 a 0 aos 85' (Tyronne Ebuehi ficou livre com a bola após contra-ataque, cara a cara com o goleiro Roy Kortsmit, mas chutou para fora). E o ADO Den Haag conseguiu uma vitória que lhe dá alguma razão para sorrir, neste difícil fim de ano que o clube de Haia vive. Tão difícil quanto a situação do Sparta

Groningen 1x1 Go Ahead Eagles (domingo, 18 de dezembro)

Do jeito que a partida começou no Noordlease Stadion, em Groningen, a equipe da casa deu a impressão de que conseguiria vencer com facilidade. Tanto pela facilidade ao criar chances no início dos 90 minutos, quanto pelo belíssimo gol que marcou, aos 20': Simon Tibbling passou a bola primorosamente, de primeira, a Mimoun Mahi. O ângulo para o chute estava difícil, mas Mahi (substituto do desfalque Bryan Linssen) não se acanhou: bateu sem ângulo mesmo, estufando as redes no alto do gol. Porém, coube justamente a um jogador que veio do Groningen devolver o Go Ahead Eagles ao jogo.

Dispensado antes da temporada, o atacante Jarchinio Antonia empatou rapidamente. E o gol também foi bonito: aos 31', Antonia recebeu a bola de Leon de Kogel, num passe em profundidade, e chutou forte para o 1 a 1. Já no segundo tempo, aos 64', Antoia quase virou o jogo, exigindo boa defesa do goleiro Sergio Padt. Mas o resultado ficou mesmo no empate, que prejudicou ambos: interrompeu a sequência de três vitórias em casa do Groningen, e faz com que o Go Ahead Eagles termine o primeiro turno na última colocação da Eredivisie.

Heracles Almelo 3x0 Zwolle (domingo, 18 de dezembro)

No meio de semana, o Zwolle já havia tido motivos para praguejar: um pênalti nos acréscimos do segundo tempo já representara a eliminação da Copa da Holanda, para o Utrecht. E já no começo da partida em Almelo, os visitantes viram que não seria dia deles, de novo. Logo aos 15 minutos, o zagueiro Bart Schenkeveld segurou Brandley Kuwas na área, como último homem: o árbitro Edwin de Graaf marcou pênalti, deu o cartão vermelho a Schenkeveld, e Samuel Armenteros conferiu na cobrança de pênalti, fazendo 1 a 0. Dali por diante, o Heracles óbvia e claramente dominou o jogo. Nem mesmo a lesão muscular que tirou Brahim Darri do campo diminuiu o poder ofensivo dos Heraclieden. Na verdade, até que demorou para o Heracles ampliar sua vantagem.

Chances foram criadas, mas os Almelöers foram ineficientes, mesmo diante de um Zwolle que tinha tremenda onda de azar. Já tinha um homem a menos, ficou com dois a menos aos 61' (Bram van Polen levou o segundo cartão amarelo), e viu Queensy Menig se lesionar. Todavia, os visitantes ainda conseguiram trazer perigo aos 71', num chute de Ryan Thomas que exigiu a defesa de Bram Castro. Só aí o Heracles voltou a tomar mais cuidados. Como recompensa, conseguiu os gols que buscava. Aos 78', Vincent Vermeij cabeceou para as redes; aos 81', Daryl van Mieghem deu números finais à vitória que garantiu um fim de ano mais tranquilo para o Heracles. Coisa que passará longe do Zwolle: não bastasse estar há seis jogos sem vitória (dois empates e quatro derrotas), penando na 16ª posição, os "Dedos Azuis" terão três suspensos para o primeiro jogo de 2017. Contra... o Ajax.

Ajax 1x1 PSV (domingo, 18 de dezembro)

Nada melhor do que um bom clássico, para fechar não só o primeiro turno da Eredivisie 2016/17, mas também o próprio futebol europeu de clubes em 2016. As escalações nem traziam muitas novidades. No Ajax, Anwar El Ghazi substituiria o lesionado Bertrand Traoré; o PSV tinha a volta de Andrés Guardado, após um longo tempo em recuperação de lesão muscular. Todavia, tão logo rolou a bola na Amsterdam Arena, logo se viam mais chutes de fora da área e jogadas truncadas do que uma partida fluida.

Se haviam chances. elas eram do Ajax. Logo aos três minutos, de fora da área, Hakim Ziyech arriscou de fora da área, exigindo difícil defesa de Jeroen Zoet. Aos 6', Davy Klaassen recuou a bola para Lasse Schöne bater. O arremate desviou na defesa, e saiu pela linha de fundo. Avançando aos poucos, o time da casa foi cedendo espaço para os contragolpes do PSV. Que começaram aos oito minutos: Davy Pröpper deixou a bola com Bart Ramselaar. E o meio-campista viu Gastón Pereiro livre pela esquerda. Passou a bola ao uruguaio, que bateu cruzado, para fora, rente à trave esquerda.

As duas equipes continuaram alternando, então. O Ajax seguia apostando nos chutes: aos 9', Schöne lançou de trivela para Klaassen, que entrou livre pela direita da grande área e bateu forte, de voleio. Bateu na rede pelo lado de fora, enganando muita gente, pela impressão de ter entrado. O PSV respondia contra-atacando: aos 11', Santiago Arias veio pela direita, e cruzou a bola para a área. Ali estava Luuk de Jong, que subiu sozinho e cabeceou, para André Onana defender.

E se o leitor estranha ver mais meio-campistas aparecendo no Ajax, é porque o principal atacante da equipe já estava baleado. Logo aos dois minutos, após cair de mal jeito numa disputa aérea, Kasper Dolberg torceu o joelho, e vinha sentindo dores desde então. Ainda assim, seguia em campo. O que não se esperava era que outro atacante se lesionasse - e até mais gravemente. Aos 16', El Ghazi segurava a bola pela direita, impedindo a chegada de Héctor Moreno, até que Andrés Guardado chegou correndo, derrubando-o com o joelho nas costas. Falta tão dura que El Ghazi caiu e não se levantou mais: saiu de campo aos 21', de maca, preocupando, dando lugar a Mateo Cassierra. Incrível e erradamente, Guardado sequer levou cartão amarelo do juiz Pol van Boekel. Mais quatro minutos, e Dolberg não aguentou: cedeu à lesão no joelho, saindo para dar lugar a Vaclav Cerny.

A lesão de El Ghazi assustou bastante. Assim como o fato de Pol van Boekel ter deixado o lance passar batido (Pro Shots)

As lesões que vitimaram dois de seus atacantes, mais a dureza das divididas no meio-campo (principalmente com Guardado), tornaram o clássico ruim de ser assistido. Apenas o Ajax tentava chegar ao gol, mas em jogadas de bola parada, como aos 28', quando Ziyech cobrou falta, defendida por Zoet. A temperatura do jogo só foi se reaquecer aos 37': Amin Younes aproveitou bola perdida por Guardado, dominou e passou a Cassierra, na entrada da área. O colombiano dominou pela esquerda, mas finalizou fraco, deixando a defesa fácil para Zoet.

Só então, trocando passes, o Ajax foi chegando. Aos 39', Younes fez jogada individual: aproveitou saída de bola errada de Daniel Schwaab na linha de fundo, carregou a bola para a área e bateu forte, mas Zoet defendeu sem dar rebote. Aos 43', Klaassen deixou a bola à feição para Cassierra bater. O colombiano finalizou cruzado, e Zoet defendeu em dois tempos, com dificuldade. Já nos acréscimos, aos 45' + 2, jogada semelhante à ocorrida havia quatro minutos: Klaassen recebeu a bola em lateral, e deixou com Cassierra. De novo, o camisa 19 bateu cruzado e rasteiro. De novo, perdeu a chance: bola para fora. Ao acanhado PSV, só um cabeceio de Luuk de Jong, aos 44', para fora.

No segundo tempo, felizmente, bastaram quatro minutos para que o Ajax conseguisse movimentar o jogo. Da melhor maneira possível: com um gol. E que gol saiu aos 49'! Pela esquerda, Younes carregou a bola e passou para o meio. Cassierra abriu o caminho num corta-luz inteligente, e Klaassen ficou com o caminho livre para bater com precisão, no ângulo esquerdo de Zoet, fazendo talvez o mais bonito gol da rodada.

Só aí, em desvantagem, é que o PSV tratou de atacar, conforme Luuk de Jong reconheceu à FOX Sports holandesa, após o jogo. Aos 55', Gastón Pereiro veio pela esquerda, alçou a bola na área, e Davy Pröpper subiu sozinho, cabeceando por cima do gol, em boa chance. Mais dois minutos, Luciano Narsingh cruzou da direita, e Luuk de Jong quase fez outro gol impressionante: mandou a bola para o gol, com uma puxeta, brilhantemente espalmada pela linha de fundo por André Onana. No escanteio subsequente, Luuk cabeceou no canto esquerdo, e Onana voou para pegar.

Enquanto o PSV avançava, o Ajax tentava manter a posse de bola. E continuava atacando, quando podia. Aos 62', até houve um gol de Cassierra, após boa jogada individual de Ziyech, anulado por impedimento. Se teve o tento invalidado na primeira vez, Cassierra não teria desculpas na chance perdida aos 64'. Em rápida troca de passes, Schöne deixou o camisa 19 na cara do gol para finalizar. Mas Zoet saiu bem do gol, e defendeu o arremate do colombiano com os pés, em grande intervenção. Nada parecia definido conforme o jogo ia acabando, e as duas equipes criavam chances. Aos 71', Siem de Jong (substituto de Guardado) quase marcou, mas Jaïro Riedewald o desarmou na hora certa. Mais seis minutos, e foi a vez de o Ajax ousar: Vaclav Cerny bateu cruzado, para fora.

O Ajax achava que tinha o jogo controlado, ainda que o PSV buscasse o gol. Até que Siem de Jong frustrasse a todos (Pro Shots)

Quando a torcida do Ajax já vislumbrava a vitória, aos 81', a "lei do ex" apareceu na Amsterdã, de uma maneira cruel. Pereiro fez ótimo lançamento pelo alto, e a defesa do Ajax permitiu o avanço de Siem de Jong. O camisa 10 entrou pelo meio da área, e tocou na saída de Onana, pela esquerda, para empatar o jogo. E já era tarde para evitar o 1 a 1 que melhorou ainda mais, se é que era possível, o final de ano que o Feyenoord tem: líder da Eredivisie, com uma vantagem mais segura (cinco pontos) à frente do vice-líder do Ajax. Se serve de consolo ao PSV, ele e o Ajax estagnaram...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Ajax x PSV: ficará ainda pior para um deles

Ajax chegaria melhor para o clássico. Mas duas derrotas seguidas abateram um pouco a equipe (ANP)

Desde a temporada 1999/2000, em apenas duas vezes o Campeonato Holandês não terminou com a festa do título reservada para Ajax ou PSV. Com relação ao âmbito internacional, os feitos desses dois clubes também são mais conhecidos na atualidade – por mais que o Feyenoord também tenha sua história em competições continentais. Basta dizer que foi o clube de Roterdã que conquistou o primeiro título europeu da Holanda (a Copa dos Campeões 1969/70) e o último (a Copa da UEFA, na temporada 2001/02). Além do mais, há a dinâmica pelas disputas da Eredivisieschaal nas últimas temporadas, nas quais esses clubes logo se destacam e se isolam, num "campeonato" só deles. E tudo isso faz crer até que só há dois grandes na Holanda, já que tanto Amsterdammers quanto Eindhovenaren logo se impõem.

Pelo menos, era assim até a temporada atual. Porque neste primeiro turno de Eredivisie que se encerra neste fim de semana, com a 17ª rodada e o início da pausa de inverno, o Feyenoord conseguiu se manter como o clube de maior destaque. Certo, o Stadionclub tem menos dominação do que tinha no início do torneio, quando chegou a ostentar nove vitórias nos nove primeiros jogos. Ainda assim, se recompôs. E na rodada passada, contra o AZ, fora de casa, a equipe de Giovanni van Bronckhorst mostrou aquela que foi considerada a melhor atuação de uma equipe holandesa na liga nacional, em 2016/17. Pela velocidade e volúpia ofensiva dos visitantes, o 4 a 0 em plena Alkmaar ficou muito barato.

Com o título de “campeão de inverno” praticamente garantido, o Feyenoord encerra o turno contra o Twente, em casa, com um clima de otimismo que havia muito não se via em De Kuip. O que leva a um cenário pouco habitual, pelo menos nos últimos 15 anos: Ajax e PSV farão o clássico da 17ª rodada sem disputarem diretamente a liderança do campeonato. Claro, ambos ainda aspiram à conquista do título nacional. Mas ao olhar a tabela, fica a impressão de que o jogo a ser realizado na Amsterdam Arena é “apenas” para definir quem será o adversário que perseguirá o líder Feyenoord no returno.

Em termos racionais, seria possível dizer que o Ajax é o grande candidato a cortar o barato do arquirrival – e que continuará sendo, mesmo que perca o clássico de domingo. Afinal, os Ajacieden estão na segunda posição, a apenas três pontos de distância da primeira posição. E também têm três pontos de vantagem para o PSV, que está em terceiro lugar. Mas a equipe da estação Bijlmer Arena segue mostrando um estilo de jogo ofensivo, veloz e mais variável. O que tem trazido mais animação às suas partidas, e à temporada que faz. 

É visível e notável, por exemplo, a diferença entre o Ajax macambúzio e apático que jogou a Liga Europa em 2015/16, saindo na fase de grupos sem nenhuma vitória em casa, e o Ajax focado e acelerado que liderou com categoria seu grupo na mesma competição nesta temporada, chegando com otimismo justo para as partidas da segunda fase contra o Legia Varsovia-POL – por sinal, vencido na mesma fase, em 2014/15. Então, é lícito supor que o Ajax patrolará o rival de Eindhoven daqui a dois dias? Não necessariamente. 

Certo, jogadores não faltam para chamar a responsabilidade e decidir o clássico em Amsterdã. Estarão em campo Hakim Ziyech, Kasper Dolberg, Davy Klaassen, Lasse Schöne, até o reabilitado Anwar El Ghazi (fez as pazes com o técnico Peter Bosz e foi reintegrado ao grupo principal) - a única ausência importante será Bertrand Traoré, com lesão muscular na coxa. E já se falou neste blog, também, de como as atuações de gente como André Onana e Davinson Sánchez têm sido confiáveis na defesa, permitindo até que se corra riscos.

Todavia, os resultados das duas últimas partidas acenderam um leve sinal de alerta na Amsterdam Arena. No domingo passado, pela 16ª rodada da Eredivisie, o Ajax já tinha dificuldades para superar o Twente, fora de casa. Mas, bem ou mal, conseguia um ponto, contra um adversário traiçoeiro, de campanha inesperadamente razoável. Até que, aos 45 minutos do segundo tempo, ao escorregar na área, o zagueiro Nick Viergever tentou espanar a bola com a mão. Foi pilhado no gesto, expulso, e o Twente ganhou o pênalti que Mateusz Klich converteu para derrotar o Ajax por 1 a 0.

Tudo bem, nada que representasse crise. Porém, preocupou mais a eliminação na Copa da Holanda. Por mais que tenha jogado com um time reserva contra o Cambuur, ser eliminado pelo oitavo colocado da segunda divisão holandesa, por 2 a 1, e jogando mal, já é motivo para apupos, quando se trata do grande clube nacional. Por sinal, o reconhecimento desse vexame partiu até do próprio grupo. Suspenso para o clássico, Viergever pôde jogar, mas apregoou depois da partida: “Se é para mostrar contra o PSV algo como hoje, melhor nem entrarmos em campo”. Peter Bosz foi tão duro quanto o zagueiro: “Vergonha? Olha, chamar isso de ‘vergonha’ ainda é ser bondoso”.

A volta de Andrés Guardado é muito esperada pelo PSV; quem sabe, com ele, o meio-campo melhore (VI Images)

Pelo menos, se o sinal do Ajax ainda é um amarelo bem leve, o do PSV já é definitivamente vermelho. A Copa da Holanda já era passado, com a eliminação para o Sparta Rotterdam. Mas algumas lesões foram pondo a nu as fragilidades do grupo de jogadores dos Boeren. E Phillip Cocu não conseguiu pensar caminhos táticos para escondê-las. Resultado: nas partidas mais recentes da temporada, o PSV apresenta uma repetição tática exasperante. 

Sem contar a falta de eficiência para transformar posse de bola em gols – até pela má fase que vive Luuk de Jong. Isso já tinha se visto claramente na eliminação da Liga dos Campeões: nem mesmo pressionando, o time conseguiu vazar o Rostov. No jogo anterior, pela Eredivisie, contra o Roda JC, fora de casa, um 0 a 0 daqueles de fazer dormir o mais animado torcedor. E já depois da eliminação, na rodada passada, contra o Go Ahead Eagles, o drama para colocar a bola na rede continuou: só aos 24 minutos do segundo tempo, Siem de Jong fez o 1 a 0 salvador – e isso, contra o último colocado da liga...

Se parte disso é culpa da tática, parte é evidentemente técnica. As lesões que tiram do time Andrés Guardado e Jorrit Hendrix enfraqueceram o meio-campo: apenas Bart Ramselaar merece destaque, com as aparições constantes no ataque. De resto, há apenas uma estéril e lenta troca de passes. Ou as tentativas de escalar gente como Oleksandr Zinchenko e Siem de Jong no setor, sem muito sucesso. Nem mesmo Davy Pröpper, cuja habilidade nos passes normalmente é muito útil, tem atuado bem. Se serve de consolo, o clássico marcará a volta de Guardado, recuperado do problema muscular na coxa.

Com a lentidão do meio-campo, os atacantes ficam impossibilitados de colaborar. E mesmo que tenham chances, não as aproveitam. Já foi citada aqui a seca que viveu - ainda vive, de certa forma - Luuk de Jong: considerando todas as competições que o PSV disputou, o capitão marcou apenas dois gols nos últimos 14 jogos, tendo até ficado no banco (contra o Atlético de Madrid, pela Liga dos Campeões). Pelas pontas, tanto os titulares Gastón Pereiro e Luciano Narsingh quanto o reserva imediato Steven Bergwijn sofrem com o mesmo problema: até têm driblado bem, criando constantes chances, mas precisam melhorar a pontaria.

Assim, enquanto o Feyenoord vai mantendo vivo e intenso o sonho de enfim quebrar o tabu que o aflige há 17 anos, Ajax e PSV reencontram-se apenas para ver quem será o principal adversário. E reencontram-se precisando terminar 2016 com mais paz. O eventual derrotado do clássico só verá a situação piorar mais para a intertemporada. 

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 16 de dezembro de 2016. Revista e atualizada)

domingo, 11 de dezembro de 2016

810 minuten: como foi a 16ª rodada da Eredivisie

O Feyenoord reagiu à eliminação na Liga Europa do melhor jeito possível: com uma exibição de gala contra o AZ. 4 a 0 foi pouco (ANP/Pro Shots)

Groningen 2x0 Roda JC (sexta-feira, 9 de dezembro)

Pode-se dizer que está em crise um time que não perdia havia sete rodadas? Claro, se esse time for o Roda JC. Afinal de contas, de nada adiantava tal invencibilidade se ela era formada por seis empates e apenas uma vitória, sequência que manteve o time oscilando entre a última e a penúltima posição durante este primeiro turno. Ainda assim, conseguir vencer o Groningen, no jogo de abertura da 16ª e última rodada do turno, poderia significar um grande impulso para sair da zona de repescagem/rebaixamento. Mas a realidade não demorou a se impor: já aos dez minutos, o Groningen abriu o placar. Ruben Yttegaard Jenssen fez boa jogada individual, e deixou a bola limpa para Mimoun Mahi finalizar e marcar seu quinto gol na competição.

A bem da verdade, os mandantes só não ampliaram a vantagem ainda nos primeiros 45 minutos porque o goleiro Benjamin van Leer salvou o Roda JC por algumas vezes - por exemplo, num perigoso cruzamento de Hans Hateboer, ou num chute à queima-roupa de Tom van Weert. Mesmo francamente defensivo (a tal ponto que até abdicou de atacar - deu apenas oito chutes no jogo, contra 18 do Groningen), o Roda até se animou mais a avançar no segundo tempo, com oportunidades para Tom van Hyfte, Nestoras Mytides e Abdul Ajagun. Porém, nenhum deles foi competente no "último toque". Sorte dos mandantes, que fizeram 2 a 0 aos 71': após escanteio, Alexander Sorloth aproveitou a sobra após bate-rebate e mandou para as redes, encerrando a invencibilidade do Roda JC.

NEC 3x0 ADO Den Haag (sábado, 10 de dezembro)

Como o blog citou na coluna cujo signatário envia ao site Trivela toda sexta (e é republicada aqui, também na sexta), o ADO Den Haag vive uma preocupante crise interna - que já não é debelada pelos resultados dentro de campo, como foi em 2015/16. Para piorar, não teria sua zaga titular em campo (Tom Beugelsdijk e Thomas Meissner estavam suspensos). A esperança era fiada no fato de que o NEC, adversário desta penúltima rodada do turno, também faz uma campanha irregular. Todavia, rapidamente a equipe de Nijmegen pôs fim a qualquer possibilidade de bom resultado para os visitantes. Já aos 10 minutos, os anfitriões abriram o placar: com um bom passe em profundidade, Ferdi Kadioglu deixou Kévin Mayi na cara do gol, e o atacante colocou a esférica no filó adversário.

Mais dois minutos, e um gol contra ampliou a vantagem do NEC: o zagueiro Dario Dumic cabeceou, e a bola desviou no zagueiro Tyronne Ebuehi, deixando o arqueiro Ernestas Setkus sem chances de defender. Posteriormente, Édouard Duplan até teve chance para diminuir, mas seu arremate saiu fraco, aos 43'. E no minuto seguinte, o NEC é que marcou de novo: Mayi deixou com Mohamed Rayhi, que chutou forte para as redes. No segundo tempo, o cenário seguiu inalterado, com o NEC mantendo o jogo sob controle e aprofundando a crise do ADO Den Haag: apenas uma posição acima da zona de repescagem/rebaixamento, com só uma vitória nos últimos 13 jogos. E até o técnico Zeljko Petrovic já parece cansado. Confessou, à FOX Sports holandesa: "Fiquei furioso no vestiário. Quem joga assim não é digno de vestir a camisa deste clube". E segue(m) a(s) crise(s) em Haia.

Siem de Jong (à esquerda) marcou o gol que tirou o PSV do sufoco. E pôde comemorar com o irmão Luuk (Jeroen Putmans/VI Images)

PSV 1x0 Go Ahead Eagles (sábado, 10 de dezembro)

Talvez a semana que passou tenha sido a pior para o PSV em muito tempo. Pelo Holandês, decepcionou no empate sem gols contra o Roda JC; pela Liga dos Campeões, a falta de ação do meio-campo e a ineficiência do ataque exasperaram a torcida, tornando justa a eliminação dos torneios continentais, sem nem mesmo a Liga Europa como consolação. Assim, vencer o lanterna da Eredivisie se tornava alta e duplamente necessário. Para reanimar-se rumo à segunda metade da temporada (que só terá a disputa da liga para os Boeren) e para conter a crise já relativamente aberta. E até que o PSV tentou isso desde o começo. Já aos cinco minutos, Luuk de Jong fez o pivô, ajeitando para Davy Pröpper, que chutou por cima do gol. Mais tarde, aos 14', após cruzamento de Daniel Schwaab, Oleksandr Zinchenko tentou um cabeceio para mandar a bola a Luuk de Jong, mas ele foi fraco, e o goleiro Theo Zwarthoed não teve dificuldades.

Aos poucos, Luciano Narsingh foi ganhando destaque nas jogadas ofensivas. Aos 15', o camisa 11 dos Eindhovenaren fez a primeira delas: numa boa jogada individual, driblou o lateral direito Joey Groenbast com um corte seco e chegou à grande área armando o chute, mas a bola rasteira bateu em Sander Fischer e saiu pela linha de fundo. Depois, aos 21', Narsingh recebeu de Joshua Brenet, cortou para o meio da entrada da área, mas bateu para fora. Outra boa oportunidade veio aos 23', com Gastón Pereiro: após troca de passes na área, a bola foi parar com o atacante uruguaio, que chutou em cima do lateral Rochdi Achenteh.

E o incômodo filme das últimas partidas da temporada se repetia para o PSV. Posse de bola não faltava (73% no primeiro tempo!), mas sem mobilidade para superar a fechada defesa do Go Ahead Eagles - atuando num 5-3-2, às vezes até no 5-4-1 -, ela de nada servia. Os visitantes de Deventer eram inteligentes: espaçavam os laterais para conter os avanços de Santiago Arias e Brenet, povoavam o meio da área para impossibilitar as finalizações de Luuk de Jong. As chances seguiam: aos 25', Narsingh bateu cruzado na área, e Zwarthoed rebateu.

E aos 28', a maior delas: Narsingh deixou a bola em profundidade com Bart Ramselaar. O meio-campista entrou em velocidade e tocou na saída de Zwarthoed, mas a bola foi caprichosamente na trave. Oleksandr Zinchenko, colega de Ramselaar no meio-campo, apareceu no fim: aos 39', o ucraniano cobrou falta, Zwarthoed espalmou a bola, e De Jong ainda cabeceou o rebote, mas o goleiro do Go Ahead Eagles teve reflexos suficientes para, mesmo caindo, espalmar de novo para fora. Depois, aos 45', Zinchenko cobrou falta de longe, e o goleiro rebateu com dificuldades. Sem contar finalização de Narsingh na rede pelo lado de fora.

No segundo tempo, enfim o Go Ahead Eagles teve mais chances, ainda que pouco perigosas: aos 52', Darren Maatsen entrou na área, mas finalizou para fora, e Marcel Ritzmaier tentou encobrir Zoet de fora da área no minuto seguinte, mandando a pelota perto do gol. Mas o que continuava impressionando negativamente era a falta de ação ofensiva do PSV. E quando Phillip Cocu decidiu mudar as coisas, a reação foi inicialmente negativa: ao tirar Gastón Pereiro para colocar Siem de Jong, ouviram-se vaias aqui e ali. Siem disse à FOX Sports holandesa: "Não sei porque a vaia ocorreu. Talvez fosse por quererem um zagueiro saindo para a entrada do atacante".

O fato é que, se a vaia era para o mais velho dos irmãos De Jong, ele a calou do melhor jeito possível: fazendo o gol que os Boeren tanto precisavam, seu primeiro pelo clube. Aos 68', Brenet cruzou, e o camisa 10 desviou para marcar o 1 a 0 da vitória que, pelo menos por enquanto, minorou as desconfianças de torcida e imprensa. Ainda assim, ficou a lição: o PSV precisará ser muito mais eficiente no ataque, se quiser superar o Ajax no clássico da próxima semana, pela última rodada do turno.

Sam Larsson apareceu para virar o jogo no Heerenveen (VI Images)

Heerenveen 2x1 Excelsior (sábado, 10 de dezembro)

O Heerenveen pode até ser um dos times que ousa desafiar os três grandes holandeses, fazendo boa campanha na Eredivisie. Mas não foi isso que se viu durante o primeiro tempo no estádio Abe Lenstra. O time da casa jogou muito lentamente, sem criatividade. E o Excelsior aproveitou, conseguindo duas oportunidades. Na primeira, Nigel Hasselbaink bateu para boa defesa do goleiro Erwin Mulder, aos 13'. Na segunda, aos 43', o gol chegou, com algo de fortuito. Khalid Karami cruzou da direita, a bola bateu na mão de Lucas Bijker, e o juiz Pol van Boekel apitou o pênalti que Hasselbaink cobrou bem, para colocar os visitantes de Roterdã na frente. Logo no minuto seguinte, Reza "Gucci" Ghoochannejhad cabeceou, a pelota foi no braço do zagueiro Bas Kuipers, e Van Boekel mandou o jogo seguir. Claro, saiu de campo vaiado pela torcida do Heerenveen.

Pelo menos, não demorou muito para a superioridade dos mandantes se restabelecer na província da Frísia, durante o segundo tempo. Já aos 48', veio o empate: Arber Zeneli fez o pivô, e deixou a bola à feição para Sam Larsson arrematar forte e deixar o 1 a 1 registrado no placar. Pouco depois, aos 53', Larsson bateu de novo, para defesa difícil do arqueiro Tom Muyters. A virada do Heerenveen estava caindo de madura. E antes que ela "apodrecesse", veio o 2 a 1 esperado, já no final da partida: aos 79', Larsson cobrou falta com perfeição, no ângulo de Muyters, para decretar a vitória que mantém o Fean disputando ponto a ponto com o AZ a quarta posição - e o honroso título de "melhor do resto", enquanto o triunvirato de grandes da Holanda continua estanque na disputa do título.

Zwolle 0x0 Willem II (sábado, 10 de dezembro)

Já no primeiro minuto de jogo em Zwolle, no Mac³Park Stadion, o goleiro do Willem II, Kostas Lamprou, precisou aparecer duas vezes, em chutes de Bram van Polen e Queensy Menig. Era o começo de um jogo de "ataque contra defesa"? Quase isso. Certo, o Zwolle até atacou mais no primeiro tempo, mesmo. Mas eficiência, que é necessária, foi item raro de se ver no ataque dos Zwollenaren. Prova disso foi a chance perdida por Menig, aos 33': recebeu passe e ficou livre com a bola, na cara de Lamprou, mas preferiu tentar driblar o goleiro grego a chutar ao gol. Resultado: bola para fora, quando o arremate enfim veio.

Na etapa complementar, enfim, o Willem II saiu para tentar o gol. E quase conseguiu, aos 53': Thom Haye passou por dois marcadores, mas chutou para a defesa do goleiro Mickey van der Hart. A partir daí, as duas equipes passaram a buscar mais o gol. Pelo lado mandante, Menig perdeu outro gol aos 63', chutando rebote por cima; pelo visitante, Bartholomew Ogbeche exigiu boa aparição de Van der Hart, aos 66'. No final, a torcida precisou mesmo ver o "oxo" no placar. Azar, principalmente, do Zwolle: há três jogos sem marcar, e pelejando na antepenúltima posição da tabela. Mas o Willem II também tem o que melhorar: o clube de Tilburg está pouco acima, em 13º.

Mesmo num jogo fraco, o gol de Van Wolfswinkel permitiu ao Vitesse sair numa boa de campo (ANP/Pro Shots)

Sparta Rotterdam 0x1 Vitesse (domingo, 11 de dezembro)

Motivado por, enfim, ter ganho em casa, o Vitesse visitava um Sparta que tinha muito o que melhorar para sua própria torcida, após a goleada sofrida para o rival citadino Feyenoord. Curiosamente, quem mudou a escalação em relação à rodada passada foram os visitantes de Arnhem: recuperado de lesão, Ricky van Wolfswinkel voltou imediatamente aos titulares, enquanto o Sparta entrou em campo quase sem alterações em relação à goleada de semana passada (só mesmo o lateral esquerdo Rick van Drongelen ficou de fora). Todavia, mesmo com essas motivações, o primeiro tempo rendeu pouquíssimas emoções em Het Kasteel. Quase nenhuma mesmo. Pouquíssimos chutes a gol, equipes com dificuldades ofensivas.

A rigor, isso ficou inalterado no segundo tempo. Exceto por um chute de Loris Brogno, para fora, a partida em Roterdã era daquelas de causar bocejos até no mais empolgado torcedor - e de fazer o desinteressado dormir. Pelo menos, o Vitesse começou a procurar mais o ataque, com a entrada de Nathan no lugar de Adnane Tighadouini. E acabou ganhando o único gol de um jogo fraco, quando já se esperava pelo 0 a 0: aos 83', Kosuke Ota cobrou escanteio, e Van Wolfswinkel cabeceou para definir a vitória dos visitantes aurinegros. Ainda houve tempo para a expulsão de Stijn Spierings, deixando o Sparta com dez homens, aos 90' + 3. E numa partida desanimada, pelo menos o Vitesse saiu com a boa sensação de estar se encaixando.

AZ 0x4 Feyenoord (domingo, 11 de dezembro)

O jogo em Alkmaar colocaria frente a frente dois adversários cujas atuações na Liga Europa haviam deixado impressões bem diferentes. Tendo começado mal na fase de grupos, com um empate e duas derrotas, o AZ reagira brilhantemente - e coroara isso com a vitória sobre o Zenit (já classificado, é verdade) na quinta passada, conseguindo a classificação à segunda fase, que parecia muito difícil. Já o Feyenoord não fora sombra do time que vencera merecidamente o Manchester United na estreia pela competição europeia: mesmo precisando superar o Fenerbahçe por dois gols, o Stadionclub já começara com falhas defensivas temerárias em De Kuip. Numa delas, imperdoável, de Rick Karsdorp, Moussa Sow fez o 1 a 0 para o Fener. E o Feyenoord esturricou no gramado, desde então: não passou nem perto de conseguir o empate, que dirá a virada. E caiu na primeira fase, decepcionando.

Algo precisava mudar no clube de Roterdã para o jogo contra um adversário sempre difícil no Campeonato Holandês. E Giovanni van Bronckhorst mudou. Surpreendeu na escalação: deixou o capitão Dirk Kuyt no banco, passando a braçadeira a Tonny Vilhena e o posto na ponta-direita para Steven Berghuis. Muitas razões foram especuladas, mas a verdadeira era tática: embora a ascendência de Kuyt sobre o grupo de jogadores seja inquestionável, ele já não dá tanta velocidade ao time. E bastou a partida começar para que o Feyenoord comprovasse como Van Bronckhorst tinha acertado na escalação.

Porque os visitantes de Roterdã tiveram atuação impecável, melhor até do que a vista nos 6 a 1 sobre o Sparta, na semana passada. Envolveram o AZ rapidamente, com trocas velozes de passe, e auxílio constante entre meio-campistas e atacantes. Por sinal, a jogada do primeiro gol, aos 11 minutos, saiu apenas entre dois dos três escalados na frente: Nicolai Jorgensen ajeitou a bola para Berghuis, e o substituto de Kuyt bateu com precisão, no ângulo de Sergio Rochet, fazendo 1 a 0. Mais quatro minutos, e Eljero Elia quase fez o segundo: da esquerda, cortou para o meio e bateu na trave.

Diante de tal volúpia, até demorou o 2 a 0, aos 19'. E veio de alguém inesperado, numa bela jogada. Criticado pela insegurança mostrada contra o Fenerbahçe na Liga Europa, Jan-Arie van der Heijden respondeu às críticas com um golaço: partiu da defesa com a bola dominada, passou pela marcação e deixou com Jorgensen, que devolveu a ele. Livre na área, Van der Heijden teve o trabalho de tocar na saída de Rochet para ampliar a vantagem do Feyenoord. A sensação era unânime: 2 a 0 era muito pouco, pelo tamanho do domínio Feyenoorder no AFAS Stadion.

Se Jorgensen já podia ser considerado um dos destaques do jogo, com duas assistências, estava na hora de o goleador do Campeonato Holandês se fazer notar pela sua função mais importante. Foi o que o dinamarquês fez, ainda antes do intervalo: aos 45', Karim El Ahmadi lançou Vilhena, e o meio-campista cruzou para Jorgensen conferir, fazendo 3 a 0 e isolando-se ainda mais no topo da artilharia da competição, com 12 gols. Diante de uma partida praticamente perdida, John van den Brom ainda tentou algo no intervalo, colocando Alireza Jahanbakhsh e Dabney dos Santos no ataque.

Não deu certo: a defesa do AZ vivia péssimo dia. Sorte do Feyenoord, que pôde concluir sua goleada aos 60': em rápido contragolpe, Elia veio pela esquerda e cruzou a bola para a área. Mesmo com três marcadores contra si, Vilhena teve espaço para dominar e bater no ângulo esquerdo defendido por Rochet, cravando o 4 a 0 fora de casa. Só aí as entradas de Bart Nieuwkoop, na lateral direita, e Renato Tapia, no meio-campo, controlaram mais o ímpeto ofensivo exibido em campo. Que tinha sido suficiente para construir a goleada que praticamente tornou o Feyenoord campeão do primeiro turno na Eredivisie, com uma atuação apontada como das melhores vistas nesta temporada. O que um jogo não faz...

Utrecht 2x0 Heracles Almelo (domingo, 11 de dezembro)

Se foi citado aqui que a invencibilidade do Roda JC era enganosa, a do Utrecht era merecedora de atenção. Há sete jogos sem perder (quatro vitórias, três empates), os Utregs mostram clara evolução nas partidas recentes, continuada com a vitória sobre o Heracles. Que poderia ter sido obtida de maneira mais fácil: mesmo com a superioridade técnica ao longo do primeiro tempo, só um gol contra deu a vantagem ao time da casa. Aos 32', num escanteio, a bola bateu nas costas do zagueiro Mike te Wierik e foi para as redes. Porém, o Heracles não se acovardou com a desvantagem. Ao contrário: deixou de lado o 5-3-2 da escalação, com a entrada de Brandley Kuwas no intervalo, e foi à frente.

Com o Utrecht sem deixar o ataque de lado, o jogo ganhou em emoção. Principalmente aos 74', quando cada time pôs uma bola na trave em jogadas seguidas (Sébastien Haller quase fez um golaço, acertando o travessão numa bicicleta; depois, foi a vez de Robin Gosens acertar o poste, num chute de fora da área). Todavia, no fim, os donos da casa conseguiram o gol necessário para vencerem com tranquilidade. Aos 85', Te Wierik cometeu pênalti, que Haller converteu com segurança para garantir o triunfo. Depois, aos 88', o atacante Jaroslav Navrátil foi expulso. E o Utrecht pôde comemorar sua oitava partida seguida sem perder, que já o coloca na sexta posição do campeonato.

O Twente comemora o gol tardio, ao fundo. E o Ajax de Ziyech sofre uma dura derrota na disputa do título (ANP/Pro Shots)

Twente 1x0 Ajax (domingo, 11 de dezembro)

Na disputa particular com o Feyenoord pela liderança, o Ajax teria um desafio parecido ao do arquirrival: enfrentaria um adversário traiçoeiro, de boa campanha - e fora de casa. A única diferença é que os Ajacieden não exerceram no Grolsch Veste, de Enschede, o mesmo domínio exercido pelo Feyenoord em Alkmaar. O que não quer dizer que foram defensivos. Tanto que a primeira chance da partida veio dos visitantes: aos quatro minutos, no seu retorno ao Grolsch Veste onde brilhou com a camisa 10 do Twente, Hakim Ziyech cobrou falta para fora. Aos sete minutos, Amin Younes passou a bola a Anwar El Ghazi, que finalizou da esquerda, também pela linha de fundo.

Contudo, para o azar dos Amsterdammers, o Twente também vivia um bom dia. E começou a tentar o gol, também. Aos 16', Mateusz Klich cobrou falta com perigo, forçando a defesa de André Onana em dois tempos. Periodicamente, tanto Enes Ünal quanto Bersant Celina também davam trabalho à defesa dos Godenzonen. Porém, as maiores chances ainda foram do Ajax: aos 23', El Ghazi perdeu boa oportunidade (tentou fazer jogada sozinho, mas finalizou mal, muito longe), enquanto Younes quase marcou belo gol aos 44' (sua jogada tradicional: veio pela esquerda, cortou o zagueiro e bateu cruzado, rente à trave defendida por Nick Marsman).

O jogo era até razoável, mas faltava aceleração. Que veio logo no minuto inicial do segundo tempo. Kasper Dolberg, enfim, apareceu: arriscou de fora da área, mandando a bola perto do gol. Mais cinco minutos, e Lasse Schöne usou de seu ponto forte, a bola parada, para quase colocar o Ajax na frente: sua cobrança de falta exigiu boa defesa de Marsman. Acuado, o Twente só tentou algo aos 62': Celina lançou Enes Ünal na frente, e o atacante turco ficou livre para chutar. Só não marcou porque, de novo, Davinson Sánchez mostrou fabuloso poder de recuperação na jogada: o zagueiro colombiano correu atrás de Celina e o desarmou no instante exato do chute, mandando a bola para fora.

Todavia, dali por diante, nenhuma das duas equipes criou jogada de real perigo. O Ajax experimentava mais em cobranças de faltas e escanteios. E parecia que assim o jogo terminaria. Até que no último minuto de jogo, veio o duro golpe para o time de Amsterdã. Nick Viergever tocou a mão na bola, o juiz Dennis Higler viu, e não só marcou o pênalti: também deu o segundo amarelo a Viergever, expulsando-o com o vermelho consequente. Klich cobrou bem, e fez o 1 a 0 que o Ajax não poderia mais responder nos acréscimos.

O gol tardio representou um triplo golpe para o agora vice-líder do Campeonato Holandês. Após 20 partidas na temporada, de novo o Ajax saiu derrotado de campo. Pior: exatamente na última partida fora de casa pelo Campeonato Holandês em 2016, unindo as duas temporadas (2015/16 e esta), a equipe perdeu a chance de terminar invicta atuando fora da Amsterdam Arena. Mas pior, pior mesmo, foi permitir que o Feyenoord ganhasse uma vantagem de três pontos - pequena, mas muito valiosa, nesta penúltima rodada do primeiro turno. Até porque o Ajax fechará 2016 num clássico contra o PSV. Se vencê-lo já era importante, agora o é ainda mais.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

ADO Den Haag: de volta ao tiroteio

Quando virou dono do ADO Den Haag, Hui Wang sorria. Agora, a situação é bem diferente. Para ele, para adversários, para o clube e para a torcida (Tom Bode/VI Images)

O leitor já deve conhecer uma daquelas histórias em que o clube de futebol acha um parceiro para chamar de seu – mas que é daquelas parcerias fadadas ao fracasso, desde o começo. Dá para citar, como um grande exemplo no Brasil, o Corinthians com a MSI, entre o final de 2004 e 2007: o que parecia o pulo do gato para tornar o clube do Parque São Jorge gigantesco, começando com a contratação de Carlos Tevez, passou por incontáveis dores de cabeça no cabo-de-guerra entre Kia Joorabchian e Alberto Dualib, terminando no melancólico rebaixamento à Série B em 2007. 

Pois bem: desde o ano passado, o ADO Den Haag parece viver uma dessas histórias cujo final promete ser previsivelmente desastroso. Uma briga que vive, de novo, um tiroteio explosivo. Tanto que o blog até já comentou sobre isso, há quase um ano (mais precisamente, em 18 de dezembro do ano passado). A empresa chinesa de marketing esportivo United Vansen comprou o clube da cidade de Haia – e seu dono, Hui Wang, tornou-se o acionista majoritário, com 98 por cento das ações. Chegou prometendo mundos e fundos, até que aos poucos o Conselho Deliberativo e a torcida começaram a se perguntar onde estava o dinheiro, e por que Hui Wang demorava a aparecer novamente na Holanda. 

Estava iniciada a briga. De um lado, Hui Wang dizendo que faltava paciência, que o clube só estava em crise financeira por gastar todo o dinheiro investido pela United Vansen sem planejamento algum, e que o projeto levaria o Den Haag a se desenvolver e ser um clube médio e sustentável, em médio prazo (dez anos, segundo o empresário chinês). Do outro, não só a torcida sentia-se ludibriada, mas o Conselho Deliberativo queria vingança, além da diminuição da influência de Wang no organograma do clube. Todo esse caos corroeu o clube auriverde durante boa parte da temporada 2015/16. 

As consequências só não foram piores porque, dentro de campo, a equipe correspondeu. Contando com um trio de atacantes de qualidade técnica aceitável, para os padrões baixos do futebol holandês (Ruben Schaken, Mike Havenaar e Édouard Duplan), mais a revelação inesperada e satisfatória (Dennis van der Heijden, também atacante), mais o bom desempenho de dois defensores (o goleiro Martin Hansen e o zagueiro Tom Beugelsdijk, ídolo da torcida), o Den Haag conseguiu segurar-se no Campeonato Holandês sem muitos sustos: ficou em 11º lugar. 

Além do mais, Hui Wang teve importante vitória interna: impôs um novo diretor geral ao clube, o aliado Mattijs Manders, destituindo do cargo o adversário Jan Willem Wigt. O dono da United Vansen começou até a aparecer mais na Holanda, para reuniões com a diretoria e os conselheiros. Por fim, e mais importante: o dinheiro enfim apareceu, com o aporte de 13 milhões de euros. E o ADO Den Haag foi momentaneamente promovido à “categoria 2”, dentro da pirâmide de classificação que a federação holandesa faz para a situação financeira dos clubes – na categoria 2, ficam os clubes que começam a sair da penúria.

Ainda assim, por trás da aparência de normalidade, continuavam as ameaças de uma nova crise. Um dos responsáveis pela crise interna não ter vazado, mantendo certo nível dentro de campo, o técnico Henk Fräser não quis pagar para ver: aceitou o convite do Vitesse para a atual temporada. E o técnico sérvio Zeljko Petrovic teria vários novos jogadores para experimentar, principalmente na defesa – já que o aporte financeiro no início de 2016 permitiu manter os destaques ofensivos em Haia.

O primeiro furo no remendo feito por Hui Wang começou em setembro passado. O diário NRC Handelsblad noticiou que o pequeno empresário Dick van Tintelen exigia que o ADO Den Haag lhe devolvesse 10 mil euros. A razão? Investindo no clube parte dos lucros ganhos com sua empresa farmacêutica (a Starbalm, da própria cidade), Van Tintelen alegou que Hui Wang teria prometido a ele divulgação da Starbalm na China... e tinha ficado na promessa. Um porta-voz do clube se apressou em dizer que “soluções estavam sendo procuradas”.

Mas o novo capítulo da crise explodiu mesmo em meados de outubro. De novo, a United Vansen parou de sustentar o clube – e de novo, Hui Wang parou de aparecer em Haia. Obviamente, o Conselho Deliberativo e a direção do clube recomeçaram a carregar nas críticas ao acionista majoritário, exigindo sua presença numa reunião. Esta reunião, com a presença de todo o conselho e dos outros acionistas, ocorreu na semana entre os dias 24 e 30 de outubro. 

Hui Wang saiu dela irritado – desde então, nunca mais apareceu em Haia. A razão: sua segunda intenção continuava sendo fortemente repelida por conselheiros - entre eles, gente conhecida no meio do futebol e com história em Haia, como Martin Jol. O empresário chinês quer não só um compatriota como diretor geral (tem nome: Lee Zheng), mas também fazer do ADO Den Haag um clube com forte presença de gente do país asiático. Pasmem: há planos até de fazer do Den Haag o clube que receberia um jogador amador do país, para ali desenvolver sua carreira, como parte de um reality show a ser exibido na tevê chinesa. E no plano de colocar compatriotas na direção e no conselho, um nome cogitado para diretor é o de um... ex-ator: Bao Xian Wei, que vive na Holanda há muitos anos, já foi lutador de artes marciais e enveredou pelo cinema, atuando em filmes holandeses.

Claro, a grita foi gigante contra os planos de Hui – que em contrapartida, disparou à emissora de tevê NOS que o clube não o teria comunicado sobre os problemas financeiros: “Não faço ideia do que está acontecendo. Eles [Conselho Deliberativo] não me disseram nada. Já investimos de seis a sete milhões de euros no clube. E pedimos que o investimento fosse feito na modernização das instalações e do estádio. Mas o ADO não está fazendo isso. Até onde pude ver, há cerca de um milhão investido em coisas que não sei o que são”.

Enquanto isso, a preocupação cresce. Há quem fale até em perigo crescente de não ter dinheiro para pagar salários, em algum tempo. E dentro de campo, já não há mais a compensação existente em 2015/16: nas últimas doze partidas pelo Campeonato Holandês, só uma vitória, e o clube já cai para a 15ª posição, primeira fora da zona de rebaixamento. A torcida, claro, já culpa alguém: são cada vez mais numerosas as faixas pedindo a saída de Hui Wang. O mecenas, por sua vez, pede compreensão dos adeptos. “Estamos do mesmo lado”, estampava a carta assinada pelo filho de Hui, Terry Wang. 

Fica a espera pelas cenas dos próximos capítulos. Mas o ADO Den Haag parece repetir o ditado: algo que começa mal dificilmente vai terminar bem. 

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 9 de dezembro de 2016)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Era tarde demais

O PSV não atacou quando e como devia. Por isso inveja o Rostov, que vai à Liga Europa (Joep Leenen)

Armar o time no 5-3-2 é mais do que uma tática válida como qualquer outra; é até aconselhável, se sua defesa for excessivamente frágil e enfrentar um time traiçoeiro. Todavia, caso a equipe jogue em casa, preocupar-se primeiro em não tomar gols pode ser contraproducente. Se a equipe simplesmente precisa da vitória, sem a qual estará eliminada do torneio que disputa, o 5-3-2 pode ser um tiro no pé. E se tal esquema é empregado contra um adversário que também não atacará muito nem fará questão da posse de bola, aí a escolha do técnico será inegavelmente errada. 

Pois bem: foi o que se viu do PSV em seu jogo derradeiro pela Liga dos Campeões. Precisando vencer para conseguir a vaga de consolação na Liga Europa, os Boeren tinham condições de fazê-lo. Não que o Rostov fosse de se menosprezar. Longe disso: a vitória sobre o Bayern de Munique comprovou como a equipe russa, além de se valer de uma notável sabedoria tática, possui jogadores capazes de criarem perigo ofensivo (Christian Noboa, Dmitri Poloz e Sardar Azmoun são os exemplos mais notórios). No entanto, é claro que o Rostov era grande mas não era dois.

Phillip Cocu achou que era. Só assim para explicar como os Eindhovenaren foram tão avaros no ataque, durante o primeiro tempo. Somente se tentava alguma coisa pelas pontas: fosse com Santiago Arias, pela direita, fosse com Joshua Brenet, pela esquerda - e aí, também merecem críticas os meio-campistas. Nenhum dos três teve velocidade, nem criou jogadas que superassem as compactadas linhas dos visitantes de Rostov-do-Don. O que "matou de inanição" Luuk de Jong e Steven Bergwijn, os dois da frente. As críticas talvez só possam ser amainadas para Bart Ramselaar: cada vez mais seguro no meio, o camisa 23 do time de Eindhoven não temia arriscar chutes de longe. 

O Rostov? Ficava na dele. Afinal, qualquer empate lhe colocava na segunda fase da Liga Europa. Então, tirando um ou outro chute perigoso (como um de Poloz, ainda no primeiro tempo), a equipe de fora se defendia, continuava controlando o meio, restando apenas os cruzamentos infrutíferos de Arias e Brenet. 

Somente depois do intervalo as coisas começaram a mudar no PSV: Bergwijn começou a voltar mais para pegar a bola, e também arriscar chutes, como vinha fazendo Ramselaar. E aos 60', enfim, Cocu decidiu abrir mais sua equipe, deixando o 5-3-2 de lado para colocar Siem de Jong e Gastón Pereiro em campo, tirando respectivamente Arias e Zinchenko. O time da casa virava um 3-4-3: afinal, já não restava muito tempo para o gol que poderia levar à vitória necessária.

Claro, a maior ofensividade do PSV levou a contragolpes mais perigosos do Rostov - como aos 67', quando Sardar Azmoun arriscou chute de fora, forçando Jeroen Zoet a fazer sua primeira (e única) defesa importante no jogo. Todavia, o time da casa começou a chegar mais ao gol. Fosse nos chutes de fora, a opção preferencial: Bergwijn levou o goleiro Soslan Dzhanaev a encaixar bem a bola, num arremate de longe, aos 75'. Aos 80', à queima-roupa, Luuk de Jong quase fez o dele, mas escorou cruzamento em cima de Dzhanaev. Havia três minutos, Luciano Narsingh substituíra Nicolas Isimat-Mirin, deixando o PSV com quatro atacantes. Aos 86', o lance de mais drama: novo cruzamento para a área, Dzhanaev saiu mal do gol, a sobra ficou com o PSV, e a bola foi rolada para Ramselaar bater rasteiro. Só não entrou porque foi tirada em cima da linha. 

Todavia, já era tarde demais para ser ofensivo. Mais cinco minutos de acréscimo, o jogo acabou, e a participação do PSV nos torneios continentais também - desde 1992/93 a equipe não era eliminada na fase de grupos da Liga dos Campeões com tão poucos pontos (2). Deixando a torcida com duas alternativas: vaiar (o que fez tão logo Craig Thomson apitou o fim da partida) e pensar que a equipe do coração tentou o ataque tardiamente. Phillip Cocu até defendeu a abordagem mais cautelosa, na entrevista coletiva após o jogo: "Nesse tipo de partida, é importante não ficar em desvantagem, ainda mais contra aquela que talvez seja a equipe de contragolpe mais perigoso. Falar depois é fácil".

Tudo bem, o Rostov era mesmo perigoso. Ainda assim, era obrigatório para o PSV, pelo menos, buscar mais a vitória, ser mais ofensivo. Se bem que talvez não desse certo mesmo assim, diante de uma equipe cujo meio-campo sente claramente as ausências de Andrés Guardado e Jorrit Hendrix. Sem contar a falta de gols, exposta no empate contra o Roda JC, no sábado passado. Se não há qualidade para fazer gols, como jogar ofensivamente? Eis a questão que o atual bicampeão holandês terá de responder nos campos holandeses, se quiser o tri.

domingo, 4 de dezembro de 2016

810 minuten: como foi a 15ª rodada da Eredivisie

Vilhena impressionou. O Feyenoord também: 6 a 1 no clássico contra o Sparta, e liderança mantida junto do Ajax (ANP/Pro Shots)

Heracles Almelo 2x0 NEC (sexta-feira, 2 de dezembro)

Vida que segue, bola que rola. Se a tragédia aérea ocorrida na Colômbia foi lembrada antes e durante cada jogo do Campeonato Holandês (com um minuto de silêncio antes de todas as partidas, mais jogadores e trios de arbitragem usando tarjas pretas nas mangas das camisas), a antepenúltima rodada do primeiro turno ocorreu normalmente. E começou com o NEC trazendo mais perigo no ataque, mesmo sem dois jogadores do setor no grupo - Reagy Ofosu e Quincy Owusu-Abeyie chegaram atrasados à preleção, e foram barrados do jogo pelo técnico Peter Hyballa. Seja como for, a primeira chance de gol foi dos visitantes de Nijmegen, com Kévin Mayi, completando perto das redes após desvio de Julian von Haacke.

Mas na primeira oportunidade que teve, o Heracles é que colocou a bola na casinha. Contando com a sorte: aos 37', Lerin Duarte arriscou de fora da área, e um desvio na zaga tirou as chances de defesa do goleiro Joris Delle. Era o 1 a 0 do Heracles. Que quase virou 1 a 1 aos 39': Mayi cabeceou a bola na trave de Bram Castro. Na etapa final, a pressão do NEC continuou: aos 50', Von Haacke quase empatou, mandando a pelota de novo na trave. Aos 74', Mohamed Rayhi também teve sua chance, finalizando perto do gol. Porém, de novo num contragolpe, o Heracles fez 2 a 0, aos 82': Thomas Bruns arrematou, Delle defendeu na primeira, mas Samuel Armenteros estava a postos para conferir a sobra e garantir a vitória dos Heraclieden, estabilizados no meio da tabela.

Go Ahead Eagles 1x3 Heerenveen (sábado, 3 de dezembro)

Derrotado na rodada passada pelo Willem II, adversário direto na tentativa de escapar da zona de repescagem/rebaixamento, o Go Ahead Eagles entrou em campo precisando da vitória. Seria difícil consegui-la, contra um Heerenveen que está logo abaixo do trio de ferro holandês, dono das três primeiras posições. Mas pareceu que o GAE iria conseguir surpreender de novo jogando em sua casa, em Deventer: já aos sete minutos, o atacante Darren Maatsen recebeu a bola de Marcel Ritzmaier e arriscou bonito chute de fora da área para fazer 1 a 0. Cresceu a esperança de uma surpresa. Que durou pouco: já aos 20', Sam Larsson fez bonito passe para Reza "Gucci" Ghoochannejhad dominar e deixar o 1 a 1 no placar do estádio Adelaarshorst.

Aos 27', coube a "Gucci" diminuir ainda mais as ilusões dos mandantes. O atacante iraniano virou o jogo para o Heerenveen em escanteio: córner cobrado, o lateral esquerdo Rochdi Achenteh rebateu errado, e ele estava lá para aproveitar e fazer 2 a 1. E o sonho dos anfitriões de deixar a última colocação foi encerrado ainda antes do intervalo: Arber Zeneli arriscou de fora, a bola bateu na trave, e sobrou para Yuki Kobayashi marcar o terceiro do Fean. Na etapa final, o Go Ahead Eagles até arriscou vez por outra - por exemplo, com um chute de Ritzmaier na trave. Mas nada que impedisse a vitória que manteve o Fean disputando o posto de "melhor do resto" na Eredivisie. E o Go Ahead Eagles, caindo cada vez mais, na última posição da tabela.

Luuk de Jong fervendo de raiva: após ensaiar reação contra ADO Den Haag, PSV tropeçou de novo (ANP/Pro Shots)

Roda JC 0x0 PSV (sábado, 3 de dezembro)

Desde que a bola rolou no Parkstad Limburg Stadion, em Kerkrade, deu para notar que o ritmo do jogo seria muito semelhante ao de outras partidas entre grandes e pequenos na Eredivisie: o grande tentando atacar, com massiva posse de bola, e o pequeno segurando-se, com uma defesa muito compactada, saindo somente nos contra-ataques. Supostamente escalado num 4-3-3, o Roda revelou que a verdade em campo era um 4-2-3-1, com defesa e meio muito próximos e recuados. Sem espaço nem velocidade para tocar a bola no chão, o PSV teve a primeira chance só aos 10 minutos: Oleksandr Zinchenko fez o lançamento da direita, a bola encobriu a defesa, e Bart Ramselaar entrou livre na área, dominando o lançamento. Porém, o meio-campista tocou por cima do gol.

Aos poucos, porém, também se via que de nada adiantava os visitantes de Eindhoven terem a posse de bola que tinham, se eram pouco criativos na hora de atacar e finalizar. Aos 14', Siem de Jong (titular, de novo) bateu de longe. E para muito longe. Os Koempels mandantes seguiam na deles: só avançavam na boa. Como aos 18', quando Mikhail Rosheuvel bateu de longe, exigindo defesa de Jeroen Zoet, que agarrou a bola com alguma dificuldade. Só aos 24 minutos é que surgiu uma chance respeitável de gol, para os Boeren: Ramselaar deixou a Luuk de Jong, que estava na área. O capitão se desvencilhou da marcação, ficou frente a frente com o goleiro Benjamin van Leer e bateu, mas Van Leer fez ótima defesa à queima-roupa.

O Roda JC teve a sua oportunidade aos 30': em bola vinda de cruzamento da direita, Héctor Moreno tirou parcialmente, mas a sobra ficou limpa para Mikhail Rosheuvel bater forte e rasteiro. Só não entrou porque Santiago Arias estava na pequena área e tirou providencialmente, colocando o pé na frente. Depois, o PSV ainda pôde reclamar de jogada incorretamente anulada pelo juiz Kevin Blom, aos 34': Luuk de Jong saiu livre de marcação numa bola alta, em posição legal. O atacante tocou para as redes, mas o juiz apontou impedimento inexistente. Depois,  aos 44', ainda houve tempo para Abdul Ajagun arriscar de fora da área, mandando a bola pela linha de fundo, relativamente perto do gol.

No segundo tempo, o Roda é que teve uma boa chance para o 1 a 0: logo aos 49', Ajagun dominou livre a bola na meia-lua, mas bateu fraco, fácil para a defesa de Zoet. Paralelamente, os visitantes de Eindhoven seguiam tocando e tocando, numa lentidão exasperante. Só aos 62' criaram algo digno de nota, numa troca de passes que terminou com o chute de Arias espalmado por Van Leer, por cima do gol. Imediatamente depois, Steven Bergwijn e Luciano Narsingh substituíram, respectivamente, Zinchenko e Gastón Pereiro. Sem sucesso. O 0 a 0 foi o nono tropeço do PSV nos últimos 12 jogos fora contra o Roda JC pela Eredivisie, num jogo em que ter visto tinta secar teria sido mais interessante. Só restou a Luuk de Jong repetir a ladainha de tropeços anteriores. "Desse jeito não seremos campeões", advertiu o camisa 9 à FOX Sports holandesa. Não serão mesmo. Já estão seis pontos atrás da dupla Feyenoord/Ajax.

Excelsior 3x3 AZ (sábado, 3 de dezembro)

Se Roda JC e PSV fizeram um jogo sem muita emoção em Kerkrade, o que ocorreu em Roterdã foi o contrário. Desde o começo da partida no estádio Woudestein, mesmo na parte inferior da tabela, o Excelsior se impôs diante do AZ, que logo respondia. Essa tônica começou logo aos nove minutos: Kevin Vermeulen cruzou e deixou Stanley Elbers livre para abrir o placar. Mas a vantagem do Excelsior durou meros dois minutos: aos 11', Muamer Tankovic é que criou as condições para Robert Mühren fazer seu sexto gol no campeonato, recolocando os visitantes de Alkmaar no jogo. Sem problemas: aos 26', Wout Weghorst derrubou o zagueiro Jürgen Mattheij na área, o juiz Dennis Higler deu o pênalti, e Nigel Hasselbaink fez 2 a 1 para o Excelsior.

Sem problemas para o AZ também: após o meio-campo Mats Seuntjens já ter cabeceado a bola na trave, veio outro empate aos 34'. O lateral esquerdo Ridgeciano Haps preparou a jogada, e só ficou para Tankovic o trabalho de finalizar e fazer 2 a 2. A maluquice do jogo seguiu na etapa final, com chances de parte a parte. Até que aos 65', o meio-campista Iliass Bel Hassani perdeu a bola em seu setor, abrindo espaço para o contragolpe concluído por Hicham Faik, recolocando os Kralingers mandantes na frente. Aí, o AZ precisou esperar um pouco mais. Mas por fim, conseguiu o empate: aos 76', cabeçada fortíssima de Stijn Wuytens decretou o 3 a 3 final. Que prejudicou o Excelsior (perdeu a chance de se firmar no meio de tabela com a vitória) e o AZ (na disputa particular com o Heerenveen, deixou a quarta posição ao adversário com o tropeço). Mas que foi bem animado.

A homenagem de Nathan foi tão emocionante quanto elogiável foram o bom senso do juiz Kamphuis e da federação (ANP/Pro Shots)
Vitesse 3x1 Zwolle (sábado, 3 de dezembro)

A pressão da torcida sobre o Vitesse era compreensivelmente grande: afinal de contas, para um time que poderia muito bem chegar à disputa com AZ e Heerenveen pelas migalhas que os três grandes deixam no topo da tabela, seis jogos sem vitória (e dois meses sem vencer no próprio estádio) são demais para se aguentar. Demorou até demais para vir o primeiro gol: aos 32', um carrinho do zagueiro Dirk Marcellis derrubou Lewis Baker na área, e o pênalti foi marcado. Especialista em bolas paradas, Baker não se acanhou: bateu seguro para o 1 a 0. Aos 41', veio a ampliação da vantagem do Vites: o chinês Zhang Yuning (que já tivera um gol anulado) completou de cabeça um cruzamento de Milot Rashica para as redes.  O jogo seguiu sob controle do Vitesse no segundo tempo. Mas é justo dizer: a entrada do volante Django Warmerdam aumentou um pouco a organização do Zwolle, e o clube visitante passou a atacar mais.

Numa dessas investidas, aos 67', veio o gol: Warmerdam cobrou escanteio, e o lateral direito Bart Schenkeveld subiu para cabecear e diminuir a vantagem. Voltava o temor aurinegro de uma nova decepção. Temor que aumentou nos acréscimos: o goleiro Mickey van der Hart, do Zwolle, foi para a área em escanteio, e num voleio, mandou a bola na trave. Por sorte, no rebote, um rápido contra-ataque foi puxado, e o brasileiro Nathan concluiu para fazer 3 a 1. E protagonizar na comemoração o gesto mais bonito da rodada: tirou a camisa do clube, mostrando por baixo uma preta, com o distintivo da Chapecoense. Aí veio o melhor: o juiz Jochem Kamphuis mostrou bom senso exemplar e não puniu Nathan com o amarelo, como as regras pedem. Enquanto Nathan terminou o jogo às lágrimas com a triste lembrança, Kamphuis justificou: "Eu decidi imediatamente não puni-lo com o amarelo. Foi um acontecimento terrível, e deve ter sido muito especial para ele poder homenagear os amigos dessa maneira. Sei que vou ouvir [perguntas da federação]. Acho interessante que perguntem, mas sei que tomei a decisão justa".

Tomou mesmo. Tanto que a federação não só não o puniu, como o parabenizou, nas palavras do diretor de operações Gijs de Jong: "Às vezes, você precisa fazer algo diferente. E Jochem teve perfeitamente essa sensibilidade. Árbitros são seres de carne e osso, precisamos deixar claro. Claro que regras são regras. Mas ontem foi uma exceção".

ADO Den Haag 0x2 Utrecht (domingo, 4 de dezembro)

Em meio à explosiva crise interna eclodida nesta semana, entre o chinês Hui Wang, acionista majoritário, e o conselho deliberativo do clube, o ADO Den Haag esperava minorar o impacto dela com uma vitória sobre o Utrecht. Aliás, além de minorar o impacto das turbulências fora do campo, o triunfo também ajudaria bem dentro dele: nas dez partidas mais recentes pela Eredivisie, o Den Haag só conseguira quatro pontos. Todavia, após primeiros minutos de poucas emoções em campo, o Utrecht começou a aprofundar a crise dos mandantes auriverdes: aos 30', Yassin Ayoub fez a jogada individual, chegou à linha de fundo e cruzou rasteiro para Nacer Barazite completar, fazendo 1 a 0 para os Utregs. E o primeiro tempo poderia ter se encerrado com um 2 a 0 no placar: Sébastien Haller perdeu boa chance, aos 36', tocando livre por cima do gol. Sem contar o pênalti cometido pelo zagueiro Tom Beugelsdijk em Ayoub, aos 44', que foi visto pelo árbitro Pol van Boekel como falta fora da área.

Só restava aos mandantes de Haia atacar. O que quase levou ao empate, no princípio do segundo tempo: aos 51, Gervane Kastaneer acertou a trave, cara a cara com o goleiro David Jensen (substituto do lesionado Robbin Ruiter). Pouco depois, as entradas de Sheraldo Becker e Dennis van der Heijden converteram o esquema do time anfitrião de 4-4-2 para 4-3-3 bem ofensivo. E o final do jogo teve um ritmo bem acelerado. Aos 75', imediatamente após golaço de Haller (bicicleta) ser anulado por impedimento, Beugelsdijk recebeu o segundo cartão amarelo e foi expulso, deixando o ADO Den Haag com dez. Porém, o Den Haag ainda mandou uma bola na trave, aos 82', com Aschraf El Mahdioui. Para, no minuto seguinte, após receber passe de Richairo Zivkovic, Haller enfim colocar a bola nas redes para valer. Um 2 a 0 que leva o Utrecht à sexta posição, com 15 pontos ganhos nos últimos sete jogos, comprovando a reação após um começo difícil de primeiro turno. Ao ADO Den Haag, em 15º lugar, resta lidar com duas crises: a esportiva e a diretiva.

Feyenoord 6x1 Sparta Rotterdam (domingo, 4 de dezembro)

Em mais um minuto de silêncio pela catástrofe que vitimou boa parte do grupo de trabalho da Chapecoense na terça passada, novo ato de simpatia: os onze jogadores do Sparta Rotterdam vestiram camisas pretas com o distintivo do clube catarinense e a frase "we are with you" (em inglês, "estamos com vocês"). Além disso, as imagens da tevê holandesa exibiram constantemente o brasileiro Eric Botteghin, e um solitário torcedor com bandeira do Brasil nas arquibancadas de De Kuip. Concluída a homenagem, bastou o primeiro minuto de jogo para notar que o clássico de Roterdã seria "ataque contra defesa": Tonny Vilhena cobrou uma falta na entrada da área, mandando a bola na barreira.

Ao longo daqueles primeiros minutos, o que se notava era só o Feyenoord em mais uma de suas boas atuações, unindo velocidade na troca de passes dos meio-campistas (não à toa, Vilhena e Karim El Ahmadi eram os melhores em campo) à proximidade com os atacantes. Ao Sparta, só restava povoar demais a defesa, com até cinco jogadores na área tentando fechar os espaços, e apostar nos contra-ataques. Só deu certo uma vez, aos 11': Zakaria El Azzouzi saiu rápido pela direita, inverteu o jogo para Loris Brogno (enfim, titular dos Kasteelheren, novamente), e o atacante belga chutou forte para Brad Jones rebater com dificuldade, antes de Eric Botteghin tirar pela linha de fundo. Aos 21', Jens Toornstra ainda teve uma chance, arriscando para fora.

Todavia, estava claro: bastava o Feyenoord encaixar uma troca de passes, que o gol sairia. A superioridade era clara demais para isso não acontecer. E nem precisou de muitos passes para o 1 a 0, aos 24': Eljero Elia saiu pela esquerda para cruzar a bola, Rick van Drongelen tirou-a da área na primeira vez, mas a sobra ficou limpa para Vilhena arriscar belo chute, no canto direito do goleiro Roy Kortsmit, colocando o Stadionclub na frente - e possibilitando ao meio-campista homenagear a mãe falecida na comemoração. Aos 37', Dirk Kuyt quase marcou: recebeu a bola na área e fintou um zagueiro com um corte seco, mas seu arremate saiu fraco demais. Tudo bem: Toornstra compensou isso aos 43', fazendo 2 a 0 num outro golaço de fora da área. Pela direita, o camisa 28 recebeu a bola de Nicolai Jorgensen, matou na coxa e deixou-a quicar no chão antes de um arremate de bate-pronto, que encobriu Kortsmit e foi no ângulo direito.

A volúpia ofensiva do Feyenoord continuou no segundo tempo: logo aos 51', Elia cruzou da esquerda, e Jorgensen ajeitou na primeira trave, batendo à queima-roupa para Kortsmit defender sem dar o rebote. No minuto seguinte, em contragolpe, com a defesa do time da casa frouxa (até pela vantagem), enfim o Sparta teve outra chance no jogo: El Azzouzi chegou à área e deixou com Stijn Spierings, mas o chute rasteiro do camisa 10 dos Spartanen foi bem defendido por Brad Jones. Se os rivais citadinos não fizeram o seu gol, o Feyenoord foi atrás rumo à goleada. Conseguida com a ajuda de Jorgensen. Aos 59', uma jogada clássica da equipe rendeu o terceiro gol: bola pelo lado direito, Toornstra cruzou, e o camisa 9 escorou para as redes seu 10º gol pelo Campeonato Holandês. Mais cinco minutos, e o próprio dinamarquês puxou jogada de ataque, deixou a bola com Elia, e recebeu de volta para finalizar rasteiro, da entrada da área, no canto direito de Kortsmit, garantindo o 4 a 0, o 11º tento na Eredivisie e o isolamento no topo da tábua de goleadores.

Algumas chances foram perdidas, ainda, mas deu tempo para que Eric Botteghin fosse mais um brasileiro a marcar na rodada (aos 73', de cabeça, completando cruzamento de Miquel Nelom) e a homenagear a Chapecoense - agora, apenas apontando para a tarja preta e para o céu. Nada mais tirava a vitória do Feyenoord. Mesmo depois do gol do Sparta - aos 86', Thomas Verhaar marcou de cabeça -, Elia ainda acertou chute cruzado aos 90' + 1 para ratificar de vez a goleada que garantiu aos Rotterdammers mais uma semana na liderança da liga. Nada mal para se animar antes do decisivo jogo contra o Fenerbahçe, pela Liga Europa. Que pode dar a vaga na segunda fase do torneio continental, lustrando ainda mais a boa temporada que se vive em De Kuip.

Willem II 0x0 Twente (domingo, 4 de dezembro)

Quando veio a primeira chance do jogo na cidade de Tilburg (aos 11', Kamohelo Mokotjo arrematou no ângulo, exigindo boa defesa do goleiro Kostas Lamprou), parecia que o Twente faria valer sua superioridade técnica e sua melhor posição na tabela do campeonato. Que nada: aos 19', o Willem II começou sua pressão. Jordy Croux cruzou da direita, e Fran Sol Ortiz cabeceou na pequena área, para fora, raspando a trave. Mais três minutos, e Croux fez tudo sozinho na segunda jogada de perigo, aos 22', batendo perto do gol. Aos 32', de novo Croux cruzou, de novo Fran Sol complementou, de novo a bola passou perto. Finalmente, aos 40', Anouar Kali arriscou de fora, forçando o guarda-valas Nick Marsman a salvar o Twente. Enfim, foi até injusto o Willem II sair da etapa inicial sem um gol.

Os Tukkers visitantes precisavam reagir. Foi o que fizeram na etapa complementar. Já aos 51', o atacante Yaw Yeboah cobrou falta com perigo, e Lamprou fez boa defesa. Aos 58', quem apareceu foi o destaque do Twente na temporada: após cruzamento de Bersant Celina, Enes Ünal quase foi às redes pela 10ª vez na Eredivisie, chutando para fora a bola, de voleio. Aos 73', precisando sair da pressão, o técnico Erwin van de Looi tirou o meio-campista Thom Haye, colocando Jari Schuurman em campo. As equipes trocaram chances até o final. Aos 81', o volante Dylan Seys cabeceou para fora; dois minutos depois, Kali teve a grande chance para dar a vitória aos anfitriões tricolores, mas arrematou para fora. Um 0 a 0 que não merecia tal placar, com muitas chances no Willem II Stadion.

Sánchez (à direita) não deixou o Groningen se engraçar muito: fez o primeiro gol na vitória do Ajax (ANP/Pro Shots)

Ajax 2x0 Groningen (domingo, 4 de dezembro)

Quando começou o jogo derradeiro da rodada, na Amsterdam Arena, o Groningen deu a primeira estocada, aos dois minutos: Ruben Yttegaard Jenssen arriscou rasteiro de fora da área, e o goleiro André Onana esticou-se para espalmar a bola no canto esquerdo. Ficava a pergunta: contra um visitante que se ensaiava destemido, conseguiria o Ajax impor seu estilo de marcação por pressão e toques rápidos de bola? Ainda mais após os oito minutos, quando Albert Rusnák quase marcou, chutando cruzado na área.

Não demorou muito para que o time da casa desse a resposta: sim, fora só um susto, logo o time da casa ditaria o ritmo do jogo. Começou aos 9', com a primeira chance Ajacied. Amin Younes mandou a bola da esquerda, a zaga rebateu, e Lasse Schöne mandou a sobra de primeira, num voleio que forçou o goleiro Sergio Padt a espalmar por cima. No escanteio subsequente, veio o 1 a 0: Davinson Sánchez entrou pelo meio da área e completou de cabeça para as redes, marcando seu terceiro gol na temporada.

Começava então o já conhecido frenesi ofensivo dos alvirrubros de Amsterdã na temporada. Aos 12', após escanteio, Younes dominou pela área e deixou de calcanhar a Donny van de Beek (no lugar do suspenso Davy Klaassen), que finalizou para boa defesa de Padt. Jogada mais perigosa ainda viria no minuto seguinte: Younes puxou a bola desde a esquerda, e deixou-a com Vaclav Cerny (substituto do lesionado Bertrand Traoré). O camisa 30 ajeitou e bateu na rede pelo lado de fora.

Mantendo a posse de bola e prensando a defesa do Groningen contra seu próprio gol, de novo o Ajax se impunha. Depois, o ritmo foi caindo aos poucos. Periodicamente, em arremates de longa distância, os anfitriões ainda pressionavam. Assim ocorreu aos.23', quando Kasper Dolberg arriscou de fora da área, e Padt novamente precisou aparecer, defendendo o chute alto em dois tempos. Aí, a equipe preferiu manter a posse de bola, evitando dar espaço para os contragolpes. E só voltou a atacar aos 42'. O Ajax trocou passes no campo de ataque, e Joël Veltman inverteu o jogo com Daley Sinkgraven. Da esquerda, o lateral arrematou cruzado, de fora da área, e Padt defendeu de novo.

As estatísticas ao final dos primeiros 45 minutos comprovavam: com 18 chutes contra 3, o Ajax novamente sufocava um adversário. Porém, o time voltou desatento no segundo tempo. Deixava mais espaços para jogadas do Groningen. Numa delas, em bola parada, quase veio o empate, aos 52'. Yoëll van Nieff cobrou falta da  direita. Onana deixou completamente descoberto o canto, para tentar sair do gol. Resultado: Van Nieff mandou ali a bola, e o empate só não se consumou porque a bola bateu na trave.

Para eliminar qualquer temor maior, aos 55', Younes (talvez o melhor jogador da partida) apareceu novamente. O alemão de ascendência libanesa recebeu a bola, cortou para o meio e arriscou de pé direito. A bola foi quase precisa: na junção do travessão com a trave esquerda de Padt. Depois, o Groningen só tentou finalizar mais uma vez, aos 63': Simon Tibbling arriscou o cruzamento, mas Mimoun Mahi fracassou na finalização: seu voleio saiu totalmente errado, deixando a bola com Onana.

O Ajax também conservava a sua vantagem, sem muita velocidade. Apenas tentou uma jogada aos 66', quando Hakim Ziyech, de fora da área, para perto do gol. Ziyech já até havia sido derrubado, em jogada na qual torcida e jogadores do Ajax pediram pênalti, ignorado pelo juiz Serdar Gözübüyük. Este só apontou a marca da cal aos 72', numa jogada que envolveu um velho conhecido que estava de volta. Após passar semanas "de castigo" na equipe B do Ajax, por briga com o técnico Peter Bosz, Anwar El Ghazi foi reintegrado ao elenco do time principal. Entrou em campo aos 60', substituindo Van de Beek. E aos 72', recebeu passe em profundidade de Veltman, caiu na área ao passar por Rusnák, e o pênalti foi marcado. Ziyech bateu mal, o goleiro Padt até desviou na bola, mas ela entrou no canto esquerdo: 2 a 0.

O que não quer dizer que o Ajax passou o resto do jogo sem percalços. Aos 78', Van Weert cruzou da esquerda, e Rusnák, do meio da área, perdeu grande chance, batendo por cima do gol de Onana. Dois minutos depois, veio a chance de ratificar a vitória: num escanteio, o zagueiro Etienne Reijnen puxou Nick Viergever pela camisa, e o juiz marcou mais um pênalti. Ziyech foi de novo para a cobrança, e bateu no meio. Só que o goleiro Padt comprovou de novo porque está sendo um dos melhores desta temporada na Holanda: ficou parado no meio, e defendeu a cobrança. Pelo menos, o erro do camisa 22 não custou nada ao Ajax, que conseguiu sua 19ª partida seguida de invencibilidade. E segue unido ao Feyenoord na liderança do Campeonato Holandês.