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O temor de queda na fase de grupos da Eurocopa já cercava a seleção feminina da Holanda (Países Baixos). E ele se concretizou, dando má impressão (Sebastien Bozon/AFP/Getty Images) |
De certa forma, por mais que a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) estivesse no "Grupo da Morte" da Eurocopa feminina, era bem mais plausível falar em eliminação precoce das Leoas Laranjas do que numa boa campanha. Como o próprio guia de apresentação deste Espreme a Laranja indicava, talvez houvesse veteranas demais e novidades de menos no grupo que iria para a fase de grupos do torneio continental de seleções europeias de mulheres. Além do mais, também era notável que Inglaterra e França, em situações-limite, talvez tivessem mais recursos técnicos a buscar, o que poderia fazer diferença em busca das vagas nas quartas de final.
Com a delegação na Suíça, então, mais coisas influíram na eliminação. Um depoimento do técnico Andries Jonker a um podcast da emissora NOS, indicando que pensou seriamente em antecipar a sua saída já anunciada, diante dos maus resultados em maio, pela Liga das Nações, trouxe de volta as dúvidas sobre a hora do anúncio da federação - na verdade, trouxeram até a certeza de que tal momento tinha sido inadequado, por tirar o foco do grupo na Euro (e tirar também um pouco da autoridade de Jonker sobre as jogadoras). Com bola rolando, até veio uma vitória esperada - 3 a 0 - contra o País de Gales. Mas a atuação contra a Inglaterra foi desastrosa, e a goleada por 4 a 0 já introduziu o clima de "fim de festa". Confirmado, afinal, no último jogo pelo grupo D, contra a França, quando nem o começo promissor das holandesas impediu que as Azuis tomassem a vitória por goleada (5 a 2), no segundo tempo, quando o forte ataque delas trabalhou bem.
A eliminação também indicou algumas coisas. Por mais que seu descontentamento com a federação fosse claro desde o anúncio de sua saída, Jonker não "se ajudou", com decisões que prejudicaram as atuações (como uma mudança tática que desconjuntou o meio-campo contra a Inglaterra - para piorar, Sarina Wiegman, compatriota de Jonker e técnica das Lionesses, ainda revelou que "esperava a mudança tática"). As jogadoras, por sua vez, mostraram as crônicas falhas defensivas, sem conseguir nenhum tipo de avanço ofensivo contra as adversárias mais fortes. De quebra, nenhuma das que jogaram revelou alguma liderança que pudesse acalmar a equipe holandesa em momentos traumáticos. Nem mesmo Sherida Spitse, que esteve em campo até mais do que se esperava. Bem descreveu o jornalista Chris Tempelman, enviado especial da revista Voetbal International ao torneio: "De qualquer jeito, as jogadoras das Leoas Laranjas parecem se superestimar. Na verdade, não são tão boas quanto acham que são". Verdade dura, mas verdade, tendo em vista que a única craque indiscutível do país na atualidade, Vivianne Miedema, ainda sofre com as consequências da grave lesão no joelho que teve.
Enfim, talvez a melhor mostra do tamanho da queda holandesa esteja em outras frases de Tempelman: "Vejam as seleções nas quartas de final desta Euro. Além de Inglaterra e França, Alemanha, Espanha, Itália e Noruega também são melhores do que a Holanda, no momento. A Suíça tem a vantagem do 'fator casa', mas honestamente, o entusiasmo e a boa forma das suíças também faltaram às Leoas Laranjas". E isso faz prever que a Holanda terá, no mínimo, um caminho mais complicado nas eliminatórias para a Copa de 2027. A não ser que melhore sob o novo técnico, Arjan Veurink, ainda auxiliando Sarina Wiegman na Inglaterra.
Análise geral feita, é hora da particular. Como foram as holandesas em campo na Eurocopa?
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Van Domselaar cometeu falhas. Mas sai da Euro sem tantos problemas, e deverá seguir absoluta como titular da Holanda (ProShots/Getty Images) |
GOLEIRAS
1 - Daphne van Domselaar (3 jogos, 270 minutos jogados, 9 gols sofridos): Recuperada de uma lesão no tornozelo que perturbou o fim de sua temporada no Arsenal - na Liga dos Campeões vencida pelas Gunners, a goleira só foi titular na partida de volta da semifinal e na final pela importância das partidas -, Van Domselaar até que não fez feio. Claro, impossível dizer que sua Euro foi boa, já que foram nove gols sofridos em apenas três partidas. Mas falhar, mesmo, pode se dizer que "Daph" só falhou no segundo gol inglês na goleada por 4 a 0 (o chute de Georgia Stanway era defensável, pois mandou a bola no canto em que ela estava), e no quarto gol francês da partida final (Van Domselaar pareceu mal posicionada, apenas seguindo a bola que bateu nas duas traves). De resto, não teve muito o que fazer, diante de uma defesa cronicamente frágil. A goleira não fez milagres, mas também não passou vergonha. Se sua importância para as Leoas Laranjas caiu, foi pouquíssimo. Van Domselaar deverá seguir titularíssima nos anos que virão, em situação normal.
16 - Lize Kop (não jogou)
23 - Daniëlle de Jong (não jogou)
LATERAIS
18 - Kerstin Casparij (3 jogos, 244 minutos jogados): A lateral (na direita, contra País de Gales e Inglaterra; na esquerda, contra a França) teve altos e baixos. Ambos simbolizados nas duas primeiras partidas. Contra as galesas, sem tanta exigência técnica, Casparij passou os 90 minutos sem problemas. Já contra as inglesas... pode-se dizer que a camisa 19 começou a mostrar o tamanho da fragilidade holandesa naquela goleada sofrida por 4 a 0, sendo facilmente superada tanto por Leah Greenwood (mais), quanto por Lauren Hemp (menos), ambas com amplo espaço para atacarem pela esquerda. Na partida derradeira, contra a França, as várias mudanças na escalação inicial influíram também na posição de Casparij, que passou os 90 minutos na lateral esquerda, daquela vez. E foi um pouco melhor, sem grandes falhas como as vistas contra a Inglaterra. Mas só "um pouco": vale lembrar que ela cometeu, já nos acréscimos, o pênalti convertido por Sakina Karchaoui para completar o 5 a 2 das "Bleues" francesas. De todo modo, Casparij deverá ser titular nos próximos tempos da seleção holandesa. Mas precisa ter sua posição melhor definida na lateral: será direita - onde dificilmente terá concorrentes, por atacar melhor - ou esquerda, onde Caitlin Dijkstra é melhor defensivamente?
2 - Lynn Wilms (2 jogos, 117 minutos jogados): Sempre útil como reserva, em termos defensivos, até que Wilms apareceu mais do que esperava. Com o jogo contra o País de Gales resolvido, na estreia, a defensora teve chances na lateral direita, substituindo Kerstin Casparij no meio do segundo tempo (mais precisamente, aos 19 minutos). Com a capacidade de desarmes - roubou a bola tantas vezes quanto Casparij na Euro, 6 -, Wilms recebeu a preferência de jogar na lateral direita os 90 minutos contra a França. Até se esforçou na defesa, só que por seu lado, em algumas desatenções, a França trouxe perigo, e por fim fez o gol que abriu o placar com Sandie Toletti. De todo modo, se entrou na Euro sem clube, Wilms se mostrou o suficiente. Antes mesmo da participação holandesa terminar, já teve anunciada sua transferência para o Aston Villa. Na liga inglesa, Wilms tem condições de manter ritmo de jogo em cenário competitivo. Logo, tem condições de seguir nas convocações da Holanda. Quem sabe, até, sendo mais titular do que reserva. Não que Wilms tenha se destacado, mas diante da fraqueza holandesa em geral, até que a aparição na Euro não foi tão ruim...
22 - Ilse van der Zanden (não jogou)
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Sherida Spitse é cada vez mais questionada. Mas não foi de todo ruim nesta Euro. E mesmo com a idade avançada, já adianta que segue à disposição nas Leoas Laranjas (GSI/Icon Sport/Getty Images) |
ZAGUEIRAS
20 - Dominique Janssen (3 jogos, 270 minutos jogados): Aos 30 anos de idade, certamente Janssen tem qualidade técnica e experiência para se converter numa das líderes holandesas nas eliminatórias da Copa de 2027. Todavia, nesta Eurocopa malograda para as holandesas, Janssen foi das jogadoras mais atingidas pelas críticas. Nem tanto contra o País de Gales - afinal de contas, em que pesassem algumas chances das "Dragoas" no fim do 1º tempo, as Leoas Laranjas mal sofreram defensivamente. Mas nos jogos contra as adversárias diretas pelas vagas nas quartas de final (quem duvidava?), Janssen sofreu. Primeiro, com as inglesas: quase sempre mal posicionada e lenta, a zagueira da camisa 20 foi presa fácil para Alessia Russo se converter na melhor jogadora daquela goleada por 4 a 0. Depois, com as francesas: se houve esperança laranja em conseguir o "Milagre de Basileia" ao sair para o intervalo vencendo por 2 a 1, no intervalo partiu de um erro de Janssen a jogada em que Marie-Antoinette Katoto empatou a partida, catapultando a França para a virada e a goleada. Tantos erros fizeram com que Janssen fosse das mais criticadas jogadoras neerlandesas, mais criticada até do que Sherida Spitse, habitual "bode expiatório" da defesa das Leoas Laranjas - isso, sendo a única das 23 convocadas que atuou em todos os minutos holandeses na Euro. Isso sinaliza que Janssen tem condições de seguir importante. Mas precisará melhorar. De fato, foi mal na Euro.
8 - Sherida Spitse (3 jogos, 148 minutos jogados): Após a derrota para a França, na zona mista, Spitse negou a expectativa sobre a Euro ser o capítulo final de sua longa história pela seleção feminina da Holanda (Países Baixos): "Posso não jogar mais, claro, mas renovei contrato com o Ajax, por dois anos. Enquanto eu tiver ânimo, vou continuar". A dúvida é se talvez a sequência de Spitse seja bem vinda por imprensa e torcida, porque a volante/zagueira é cada vez mais o "bode expiatório" das críticas sobre a decadência da seleção holandesa. Críticas que, pelo menos nesta Euro, nem precisavam de tanta intensidade. Porque, diante de uma atuação defensiva terrível contra a Inglaterra, Spitse saiu do banco no intervalo, substituindo Veerle Buurman, e de fato acalmou um pouco a equipe. Até mesmo levou a bola ao ataque, com alguns lançamentos. Entretanto, um dos pontos mais criticados de Spitse foi visto na jogada do terceiro gol inglês, quando Keira Walsh ganhou a jogada facilmente na corrida sobre Spitse, pela esquerda. Falhas como essa levam a capitã holandesa (sempre que está em campo, a braçadeira é dela) a ser cada vez mais questionada. Com certa justiça. Mas também com certo exagero. Fica a questão se a presença de Spitse será considerada rumo à Copa de 2027. Pode até ser, pois não foi desastrosa como se temia. Mas será cercada de polêmica: para muitos, Spitse deveria ficar de fora.
4 - Veerle Buurman (2 jogos, 126 minutos jogados): Na estreia contra o País de Gales, aconteceu o que se esperava: com apenas 19 anos, Buurman já recebeu a preferência como titular. E foi bem, naquele jogo: com longos lançamentos, acelerava os ataques holandeses - inclusive, um lançamento da zagueira começou a jogada do segundo gol naquela vitória por 3 a 0. Contra a Inglaterra, inclusive, mesmo em atuação desastrosa das defensoras holandesas como um todo, Buurman foi quem menos falhou. Contudo, ali terminou sua participação na Eurocopa: durante o primeiro tempo, teve um corte na boca, e mesmo que isso não impedisse sua continuação no jogo, Buurman acabou saindo para ceder lugar a Sherida Spitse, mais experiente, e não voltaria a entrar em campo. De todo modo, sua experiência valeu, e a jovem ficou pouco "chamuscada". É outra que certamente ficará para o ciclo que virá.
3 - Caitlin Dijkstra (3 jogos, 61 minutos jogados): mesmo numa Euro péssima para as marcadoras holandesas, Dijkstra acabou passando sem tanta pressão como outras colegas de zaga. Não que tenha ido bem: a partida em que mais jogou foi justamente os 4 a 0 contra a Inglaterra, quando veio a campo no intervalo, para substituir Esmee Brugts na lateral esquerda - e teve um dos gols das Lionesses saindo por seu setor. De todo modo, no restante da fase de grupos, a defensora jogou pouco: os nove minutos finais contra o País de Gales, e os seis minutos finais contra a França. Talvez, ganhando mais cancha na lateral esquerda, Dijkstra pode resolver o problema crônico que é a escalação de Esmee Brugts, mais ofensiva (até demais), naquela posição. É ver como será sua sequência no Wolfsburg.
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Veloz, ofensiva, persistente: talvez Victoria Pelova tenha sido a única jogadora da Holanda (Países Baixos) a sair ganhando na malograda campanha na Euro (Aitor Alcalde/UEFA/Getty Images) |
MEIO-CAMPISTAS
17 - Victoria Pelova (3 jogos, 269 minutos jogados, 2 gols, 1 passe para gol): Se houve uma holandesa, uma única holandesa, a ter coisas boas para se lembrar desta Euro, foi a meio-campista da camisa 17. E isso já se viu no jogo de estreia das Leoas Laranjas: nos 3 a 0 contra o País de Gales, Pelova se destacou não só pelo gol que fez, mas pela velocidade que deu, jogando mais adiantada, como ponta-esquerda. E se passou em branco nos 4 a 0 sofridos para a Inglaterra (até pela péssima atuação holandesa como um todo), Pelova foi a principal responsável pela fugaz esperança que os Países Baixos tiveram contra a França. No primeiro tempo, fez o (belo) gol de empate nas francesas, cruzou a bola que Selma Bacha completou acidentalmente para as redes no gol contra, chamou a responsabilidade, criou jogadas, avançou... enfim, Pelova mostrou que pode até ser uma líder nos próximos anos da seleção holandesa feminina. Mostrou que, se a recuperação do rompimento do ligamento cruzado anterior foi bem feita, certamente terá seu espaço no Arsenal. E pode entrar num círculo virtuoso em sua carreira.
14 - Jackie Groenen (3 jogos, 265 minutos jogados): para uma das três jogadoras com mais minutos jogados nesta Euro, Jackie Groenen apareceu pouco demais para a seleção. Em alguns momentos, isso pode ser encarado de maneira positiva: contra o País de Gales, na estreia vitoriosa das Leoas Laranjas, Groenen foi daquelas que apareceu pouco e ajudou muito, sempre a postos para desarmes limpos, iniciando as jogadas com a distribuição de bola. Nos jogos seguintes, porém, a pouca aparição indica pontos a melhorar: Groenen tentou ajudar na marcação - frouxíssima - do meio-campo holandês contra Inglaterra e França, até cartão amarelo tomou na derrota para as francesas, mas não teve sucesso. Ainda assim, só o fato de ser a jogadora com mais acerto de passes na Holanda (90%) indica que Groenen tem sua importância no time. Muita importância. Seguirá para o trabalho tentando a vaga na Copa de 2027, com plenas condições de ser titular absoluta - e uma das líderes da equipe.
18 - Wieke Kaptein (3 jogos, 202 minutos jogados): Entre os rescaldos da má campanha, Kaptein ficou do lado de quem ainda merece voto de confiança. Na parte boa, Kaptein mostrou vontade de jogar, participou da criação de ataque nos 3 a 0 sobre o País de Gales, recebeu confiança para ser escalada contra a Inglaterra. Na parte ruim, Kaptein já aumentou a voz, mesmo antes de completar os 20 anos de idade que fará, para reclamar ter começado no banco contra a França: "Eu não soube de nada. No treino, só vi os coletes sendo distribuídos, ninguém me falou nada. Acho que tinha jogado bem contra a Inglaterra". De todo modo, cada vez mais preponderante na parte ofensiva do meio-campo - até incrível para uma novata -, Kaptein tende a ganhar cada vez mais importância na seleção feminina da Holanda (Países Baixos), nos próximos anos. A "mascote" da Copa de 2023 aprendeu bem as lições em 2025...
10 - Daniëlle van de Donk (3 jogos, 172 minutos jogados, 1 passe para gol): Se Van de Donk entrou na Eurocopa dando a impressão de que seria seu último torneio vestindo laranja, "Daantje" sai do torneio continental deixando uma porta entreaberta. Brilhou a ponto de deixar saudades? Nem tanto. Mas a camisa 10 jogou bem nos 3 a 0 sobre o País de Gales, não só pelo cruzamento para o gol de Victoria Pelova, mas por ter acelerado as jogadas, com passes rápidos. Em clubes, ficou com a imagem rediviva ao ser anunciada como reforço do London City Lionesses, que chega ambicioso à primeira divisão inglesa. Ao ser colocada na reserva contra a Inglaterra (e causar polêmica colateral: o técnico Andries Jonker alegou que tomou a decisão por dores leves de Van de Donk, mas ela comentou que se sentia bem o suficiente para começar jogando), não só escapou do peso dos 4 a 0 tomados, como também teve sua falta sentida por torcida e imprensa, já que poderia ajudar as holandesas a manterem a posse de bola. Ela entrou aos 66' (21 minutos do 2º tempo), mas aí já não havia muito a fazer. Contra a França, de volta às titulares, Van de Donk nem apareceu tanto, mas já tinha apagado o tom de despedida que sua participação nesta Euro poderia ter, embora fosse uma despedida. Tanto que tudo isso apareceu na sua declaração mais repercutida após a eliminação, à emissora NOS: "Foi meu último torneio [pela seleção]. Mas se Arjan [Veurink, próximo técnico da Holanda] quiser, pode me ligar. Não foi minha última partida". É ver qual a aparição que Van de Donk terá nas eliminatórias da Copa de 2027. Se é que terá...
21 - Damaris Egurrola Wienke (2 jogos, 11 minutos jogados): "Tento ver o lado positivo de tudo. Também posso aprender muito com essa situação, mas às vezes fico mal, não consigo fazer isso. Quando estou aqui, tento fazer o meu melhor". Com este lamento sincero ao diário De Volkskrant, durante a Euro, Damaris revelou indiretamente o quanto é mal utilizada na seleção holandesa de mulheres. Parece incrível que uma meio-campista titular absoluta no OL Lyonnes (o ex-Lyon), um dos times mais prestigiosos do futebol feminino na Europa, só tenha jogado 11 minutos nesta Eurocopa. E não foi por estar machucada, não: Damaris passou a maior parte do tempo na reserva, entrou nos cinco minutos finais - mais acréscimos - contra a Inglaterra, nos seis minutos finais contra a França, e foi só. A revista Voetbal International até alfinetou: "Para ser reserva, algum motivo existe. Damaris Egurrola geralmente mostrou que não alcança o nível [para ser titular]". Mas como mostrar nível, sem muitas chances? Só resta à volante manter esperanças na nova fase das Leoas Laranjas, sob o comando de Arjan Veurink: "Claro que penso em minha situação. Não posso mentir. Vem aí alguém diferente, com talvez uma comissão completamente nova: um novo começo". Voto de confiança do treinador vindouro, Damaris merece.
ATACANTES
6 - Jill Roord (3 jogos, 203 minutos jogados): Nesta Eurocopa, Roord sempre esteve a um passo do destaque, sem conseguir alcançá-lo jamais. Na estreia contra o País de Gales, a atacante foi das melhores das Leoas Laranjas em campo: jogando pela ponta esquerda, a camisa 6 ajudava na criação de jogadas de ataque, sem deixar de lado a finalização - tanto que acertou a bola na trave por duas vezes. Só faltou isso: o seu momento de destaque. Que não veio nem contra a Inglaterra, quando a equipe dos Países Baixos foi praticamente nula no ataque. Nem contra a França, quando nomes quando Victoria Pelova e Lineth Beerensteyn apareceram mais na frente. Ainda assim, não se pode dizer que Roord foi nula nesta Eurocopa feminina. Tem condições de ser nome de ponta na seleção, para os anos que virão. Aliás, dependendo da condição física de Vivianne Miedema, talvez seja até protagonista.
7 - Lineth Beerensteyn (3 jogos, 154 minutos jogados, 1 passe para gol): Na habitual postagem em perfil pessoal no Instagram após a eliminação, Beerensteyn confessou: "Os altos e baixos neste torneio me ensinaram muito sobre resiliência e paixão". A atacante sabia do que estava falando. Afinal de contas, por muito pouco uma lesão muscular sofrida no fim da temporada passada não causou seu corte da convocação (até por isso, Shanice van de Sanden seguiu com a delegação neerlandesa, mesmo sem estar na lista oficial). Mas Beerensteyn se concentrou na recuperação - tanto no treinamento no centro da federação holandesa, na cidade de Zeist, quanto na estadia da delegação na cidade suíça de Spiez. Foi premiada: entrou em campo aos 26 minutos do segundo tempo contra o País de Gales, e até teve lá suas chances de marcar gol. Contra a Inglaterra, passou em branco como todo o ataque holandês, vindo a campo para o segundo tempo. Mas no duelo derradeiro, contra a França, Beerensteyn se esforçou para ajudar enquanto as Leoas Laranjas tiveram chance de classificação - tanto que desviou na bola, no lance do gol contra da francesa Selma Bacha. Enfim, a camisa 7 também lamentou. Mas fez sua parte. Participar da Euro já foi algo, e Beerensteyn ainda terá algum tempo de seleção pela frente.
11 - Esmee Brugts (3 jogos, 138 minutos jogados, 1 gol): Brugts sempre foi tida como alguém cujo potencial ainda não foi aproveitado completamente na seleção feminina da Holanda. Em grande parte, por jogar como (falsa) lateral esquerda, sempre partindo para o ataque quando Jill Roord caía para o meio. Pelo menos, na estreia contra o País de Gales, deu certo: ela sempre foi opção de ataque, participou bem, e foi coroada com seu gol. Só que o começo promissor logo se esboroou. Com as falhas defensivas vistas contra a Inglaterra, Brugts foi um dos "bodes expiatórios", substituída por Caitlin Dijkstra no intervalo. Nas várias mudanças para a escalação que começaria contra a França, Brugts foi uma "vítima", começando no banco e só entrando na metade do segundo tempo (67' - 22 minutos), tão logo as Azuis haviam marcado o quarto gol, e pouco se podia fazer para evitar a eliminação holandesa. Enfim, Brugts seguiu sendo aproveitada de maneira aparentemente inadequada, em termos táticos. A ver o que se passará com ela sob o comando de Arjan Veurink.
9 - Vivianne Miedema (2 jogos, 137 minutos jogados, 1 gol): Nos últimos três meses, Miedema teve apenas uma coisa na cabeça: estar na Eurocopa, voltar a aparecer num grande torneio pela seleção feminina da Holanda (Países Baixos). Por causa disso, chegou a ponto de levar um fisioterapeuta a tiracolo para as curtas férias na Grécia, antes da apresentação para os primeiros trabalhos de preparação neerlandesa rumo à Euro. Deu certo: já no último amistoso de preparação, nos 2 a 1 sobre a Finlândia, dois gols da camisa 9, que dava a torcida e imprensa neerlandesas a certeza de que ela estava pronta para ser titular e capitã da equipe. E na estreia contra o País de Gales, quando teve enfim espaço para atacar, Miedema fez um gol que comprovava seu talento e fazia história: com um chute colocado, no canto esquerdo da goleira Olivia Clark, a atacante colocou a bola na rede pela 100ª vez em sua carreira, vestindo laranja. Foi justamente festejada. Pena que foi o último grande momento de Miedema na Euro. Contra a Inglaterra, ela até teve uma chance, no primeiro tempo. Mas não teve espaço nem bola nos pés, foi substituída no intervalo... e, começando como reserva, em decisão questionada, não saiu do banco contra a França. As razões de Andries Jonker: "Ela não entrou porque já tinha jogado duas partidas como titular. Na condição física dela, três são demais". A grande dúvida segue: Miedema terá condições físicas de liderar a seleção da Holanda nas eliminatórias para a Copa de 2027? Porque, condições técnicas, ela lembrou a todos que tem, enquanto esteve em campo. Ainda pode fazer diferença.
12 - Chasity Grant (3 jogos, 185 minutos jogados, 1 passe para gol): Grant acabou aparecendo mais do que se pensava nesta Eurocopa. Em primeiro lugar, porque aproveitou bem os 26 minutos que passou em campo na estreia contra o País de Gales: ao substituir Daniëlle van de Donk, Grant foi bem ativa pela direita do ataque. E em segundo lugar, porque a partir disso, já recebeu responsabilidade grande: começar jogando contra a Inglaterra, na segunda partida. Porém, a partir disso as coisas desandaram: como Vivianne Miedema, Grant até começou fazendo coisa que valesse no ataque, mas logo seu desempenho decaiu, como com toda a seleção holandesa naqueles 4 a 0 sofridos em Zurique. Ainda foi titular contra a França, mas pouco apareceu - só participou da jogada do gol de Victoria Pelova. E saiu da Eurocopa com a aparição sem o resultado promissor que pareceu ter. Mas há possibilidades para Grant nos próximos anos.
13 - Renate Jansen (1 jogo, 2 minutos jogados): antes mesmo da Eurocopa começar, Renate Jansen também indicava que começava a reta final de sua carreira, na seleção e no futebol feminino em geral. No tocante às Leoas Laranjas, sua participação final teve o mesmo tom das anteriores: apenas uma opção confiável no banco. Na verdade, com até mais discrição: a entrada de Renate contra a França, substituindo Victoria Pelova no último minuto, serviu mais como uma homenagem tardia, um reconhecimento pelos serviços prestados em 15 anos de trajetória nas Leoas Laranjas. E a própria atacante confirmou, em seu perfil no Instagram: "Olho com orgulho para seis torneios fantásticos, cheios de memórias lindas, com ótimas colegas de grupo". Agora, é partir para o que Jansen já disse ser a última temporada como jogadora, no PSV. Aqui, ela é destaque. Na seleção holandesa, foi uma coadjuvante útil.
15 - Katja Snoeijs (não jogou)
5 - Romée Leuchter (não jogou)
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Andries Jonker se queixou (com certa justiça) do anúncio antecipado de sua saída da seleção feminina holandesa. Mas não "se ajudou" muito (ProShots/Getty Images) |
Andries Jonker (técnico)
Já começando a Eurocopa feminina sabendo que era seu último torneio à frente da seleção feminina da Holanda (Países Baixos), Andries Jonker tinha todo o direito de estar chateado com o que foi considerado precipitação da federação no anúncio da decisão. Até porque seu trabalho - pouco menos de três anos - foi razoável. Entretanto, a reta final dele deu toda a impressão de que, de fato, Jonker tinha "batido no teto", tinha alcançado seu limite. Primeiro, com os preocupantes resultados na reta final da fase de grupos da Liga das Nações - preocupantes a ponto de fazer Jonker pensar até em antecipar sua saída (ele só decidiu ficar ao "provocar o brio" das convocadas, levando uma camiseta da seleção e fazendo com que todas se comprometessem a assiná-la, num pacto de união). Depois, com oscilações vistas até num amistoso de preparação, o 2 a 1 na Finlândia, que foi superior na etapa final. E finalmente, com decisões polêmicas na fase de grupos. Primeiro, contra a Inglaterra: ao tirar Daniëlle van de Donk e colocar Chasity Grant no onze que começou o jogo, Jonker acabou tirando força do meio-campo holandês - e as inglesas tiveram campo livre para aproveitar, acuar a Holanda na defesa e golear por 4 a 0. Depois, a própria escolha por deixar Van de Donk no banco foi questionada pela meio-campista. Finalmente, as alterações feitas no time que começou contra a França soaram a desespero, e até a precipitação (quando nada, porque Vivianne Miedema, a melhor atacante, começou no banco). Até deram certo por um tempo, já que os Países Baixos começaram intensas como nunca em campo na Euro. Mas a eliminação deixou claro: Andries Jonker podia até estar irritado com a federação, mas não se ajudou...