sexta-feira, 18 de julho de 2025

A Holanda na Euro feminina 2025: a análise sobre quem jogou

O temor de queda na fase de grupos da Eurocopa já cercava a seleção feminina da Holanda (Países Baixos). E ele se concretizou, dando má impressão (Sebastien Bozon/AFP/Getty Images)

De certa forma, por mais que a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) estivesse no "Grupo da Morte" da Eurocopa feminina, era bem mais plausível falar em eliminação precoce das Leoas Laranjas do que numa boa campanha. Como o próprio guia de apresentação deste Espreme a Laranja indicava, talvez houvesse veteranas demais e novidades de menos no grupo que iria para a fase de grupos do torneio continental de seleções europeias de mulheres. Além do mais, também era notável que Inglaterra e França, em situações-limite, talvez tivessem mais recursos técnicos a buscar, o que poderia fazer diferença em busca das vagas nas quartas de final.

Com a delegação na Suíça, então, mais coisas influíram na eliminação. Um depoimento do técnico Andries Jonker a um podcast da emissora NOS, indicando que pensou seriamente em antecipar a sua saída já anunciada, diante dos maus resultados em maio, pela Liga das Nações, trouxe de volta as dúvidas sobre a hora do anúncio da federação - na verdade, trouxeram até a certeza de que tal momento tinha sido inadequado, por tirar o foco do grupo na Euro (e tirar também um pouco da autoridade de Jonker sobre as jogadoras). Com bola rolando, até veio uma vitória esperada - 3 a 0 - contra o País de Gales. Mas a atuação contra a Inglaterra foi desastrosa, e a goleada por 4 a 0 já introduziu o clima de "fim de festa". Confirmado, afinal, no último jogo pelo grupo D, contra a França, quando nem o começo promissor das holandesas impediu que as Azuis tomassem a vitória por goleada (5 a 2), no segundo tempo, quando o forte ataque delas trabalhou bem.

A eliminação também indicou algumas coisas. Por mais que seu descontentamento com a federação fosse claro desde o anúncio de sua saída, Jonker não "se ajudou", com decisões que prejudicaram as atuações (como uma mudança tática que desconjuntou o meio-campo contra a Inglaterra - para piorar, Sarina Wiegman, compatriota de Jonker e técnica das Lionesses, ainda revelou que "esperava a mudança tática"). As jogadoras, por sua vez, mostraram as crônicas falhas defensivas, sem conseguir nenhum tipo de avanço ofensivo contra as adversárias mais fortes. De quebra, nenhuma das que jogaram revelou alguma liderança que pudesse acalmar a equipe holandesa em momentos traumáticos. Nem mesmo Sherida Spitse, que esteve em campo até mais do que se esperava. Bem descreveu o jornalista Chris Tempelman, enviado especial da revista Voetbal International ao torneio: "De qualquer jeito, as jogadoras das Leoas Laranjas parecem se superestimar. Na verdade, não são tão boas quanto acham que são". Verdade dura, mas verdade, tendo em vista que a única craque indiscutível do país na atualidade, Vivianne Miedema, ainda sofre com as consequências da grave lesão no joelho que teve.

Enfim, talvez a melhor mostra do tamanho da queda holandesa esteja em outras frases de Tempelman: "Vejam as seleções nas quartas de final desta Euro. Além de Inglaterra e França, Alemanha, Espanha, Itália e Noruega também são melhores do que a Holanda, no momento. A Suíça tem a vantagem do 'fator casa', mas honestamente, o entusiasmo e a boa forma das suíças também faltaram às Leoas Laranjas". E isso faz prever que a Holanda terá, no mínimo, um caminho mais complicado nas eliminatórias para a Copa de 2027. A não ser que melhore sob o novo técnico, Arjan Veurink, ainda auxiliando Sarina Wiegman na Inglaterra.

Análise geral feita, é hora da particular. Como foram as holandesas em campo na Eurocopa?

Van Domselaar cometeu falhas. Mas sai da Euro sem tantos problemas, e deverá seguir absoluta como titular da Holanda (ProShots/Getty Images)

GOLEIRAS

1 - Daphne van Domselaar (3 jogos, 270 minutos jogados, 9 gols sofridos): Recuperada de uma lesão no tornozelo que perturbou o fim de sua temporada no Arsenal - na Liga dos Campeões vencida pelas Gunners, a goleira só foi titular na partida de volta da semifinal e na final pela importância das partidas -, Van Domselaar até que não fez feio. Claro, impossível dizer que sua Euro foi boa, já que foram nove gols sofridos em apenas três partidas. Mas falhar, mesmo, pode se dizer que "Daph" só falhou no segundo gol inglês na goleada por 4 a 0 (o chute de Georgia Stanway era defensável, pois mandou a bola no canto em que ela estava), e no quarto gol francês da partida final (Van Domselaar pareceu mal posicionada, apenas seguindo a bola que bateu nas duas traves). De resto, não teve muito o que fazer, diante de uma defesa cronicamente frágil. A goleira não fez milagres, mas também não passou vergonha. Se sua importância para as Leoas Laranjas caiu, foi pouquíssimo. Van Domselaar deverá seguir titularíssima nos anos que virão, em situação normal.

16 - Lize Kop (não jogou)

23 - Daniëlle de Jong (não jogou)

Lynn Wilms mostrou um pouco mais de competência defensiva. E recuperou um pouco de espaço na seleção feminina neerlandesa, mesmo ainda reserva (Sebastian Christoph Gollnow/picture alliance/Getty Images)

LATERAIS

18 - Kerstin Casparij (3 jogos, 244 minutos jogados): A lateral (na direita, contra País de Gales e Inglaterra; na esquerda, contra a França) teve altos e baixos. Ambos simbolizados nas duas primeiras partidas. Contra as galesas, sem tanta exigência técnica, Casparij passou os 90 minutos sem problemas. Já contra as inglesas... pode-se dizer que a camisa 19 começou a mostrar o tamanho da fragilidade holandesa naquela goleada sofrida por 4 a 0, sendo facilmente superada tanto por Leah Greenwood (mais), quanto por Lauren Hemp (menos), ambas com amplo espaço para atacarem pela esquerda. Na partida derradeira, contra a França, as várias mudanças na escalação inicial influíram também na posição de Casparij, que passou os 90 minutos na lateral esquerda, daquela vez. E foi um pouco melhor, sem grandes falhas como as vistas contra a Inglaterra. Mas só "um pouco": vale lembrar que ela cometeu, já nos acréscimos, o pênalti convertido por Sakina Karchaoui para completar o 5 a 2 das "Bleues" francesas. De todo modo, Casparij deverá ser titular nos próximos tempos da seleção holandesa. Mas precisa ter sua posição melhor definida na lateral: será direita - onde dificilmente terá concorrentes, por atacar melhor - ou esquerda, onde Caitlin Dijkstra é melhor defensivamente?

2 - Lynn Wilms (2 jogos, 117 minutos jogados): Sempre útil como reserva, em termos defensivos, até que Wilms apareceu mais do que esperava. Com o jogo contra o País de Gales resolvido, na estreia, a defensora teve chances na lateral direita, substituindo Kerstin Casparij no meio do segundo tempo (mais precisamente, aos 19 minutos). Com a capacidade de desarmes - roubou a bola tantas vezes quanto Casparij na Euro, 6 -, Wilms recebeu a preferência de jogar na lateral direita os 90 minutos contra a França. Até se esforçou na defesa, só que por seu lado, em algumas desatenções, a França trouxe perigo, e por fim fez o gol que abriu o placar com Sandie Toletti. De todo modo, se entrou na Euro sem clube, Wilms se mostrou o suficiente. Antes mesmo da participação holandesa terminar, já teve anunciada sua transferência para o Aston Villa. Na liga inglesa, Wilms tem condições de manter ritmo de jogo em cenário competitivo. Logo, tem condições de seguir nas convocações da Holanda. Quem sabe, até, sendo mais titular do que reserva. Não que Wilms tenha se destacado, mas diante da fraqueza holandesa em geral, até que a aparição na Euro não foi tão ruim...

22 - Ilse van der Zanden (não jogou)

Sherida Spitse é cada vez mais questionada. Mas não foi de todo ruim nesta Euro. E mesmo com a idade avançada, já adianta que segue à disposição nas Leoas Laranjas (GSI/Icon Sport/Getty Images)

ZAGUEIRAS

20 - Dominique Janssen (3 jogos, 270 minutos jogados): Aos 30 anos de idade, certamente Janssen tem qualidade técnica e experiência para se converter numa das líderes holandesas nas eliminatórias da Copa de 2027. Todavia, nesta Eurocopa malograda para as holandesas, Janssen foi das jogadoras mais atingidas pelas críticas. Nem tanto contra o País de Gales - afinal de contas, em que pesassem algumas chances das "Dragoas" no fim do 1º tempo, as Leoas Laranjas mal sofreram defensivamente. Mas nos jogos contra as adversárias diretas pelas vagas nas quartas de final (quem duvidava?), Janssen sofreu. Primeiro, com as inglesas: quase sempre mal posicionada e lenta, a zagueira da camisa 20 foi presa fácil para Alessia Russo se converter na melhor jogadora daquela goleada por 4 a 0. Depois, com as francesas: se houve esperança laranja em conseguir o "Milagre de Basileia" ao sair para o intervalo vencendo por 2 a 1, no intervalo partiu de um erro de Janssen a jogada em que Marie-Antoinette Katoto empatou a partida, catapultando a França para a virada e a goleada. Tantos erros fizeram com que Janssen fosse das mais criticadas jogadoras neerlandesas, mais criticada até do que Sherida Spitse, habitual "bode expiatório" da defesa das Leoas Laranjas - isso, sendo a única das 23 convocadas que atuou em todos os minutos holandeses na Euro. Isso sinaliza que Janssen tem condições de seguir importante. Mas precisará melhorar. De fato, foi mal na Euro.

8 - Sherida Spitse (3 jogos, 148 minutos jogados): Após a derrota para a França, na zona mista, Spitse negou a expectativa sobre a Euro ser o capítulo final de sua longa história pela seleção feminina da Holanda (Países Baixos): "Posso não jogar mais, claro, mas renovei contrato com o Ajax, por dois anos. Enquanto eu tiver ânimo, vou continuar". A dúvida é se talvez a sequência de Spitse seja bem vinda por imprensa e torcida, porque a volante/zagueira é cada vez mais o "bode expiatório" das críticas sobre a decadência da seleção holandesa. Críticas que, pelo menos nesta Euro, nem precisavam de tanta intensidade. Porque, diante de uma atuação defensiva terrível contra a Inglaterra, Spitse saiu do banco no intervalo, substituindo Veerle Buurman, e de fato acalmou um pouco a equipe. Até mesmo levou a bola ao ataque, com alguns lançamentos. Entretanto, um dos pontos mais criticados de Spitse foi visto na jogada do terceiro gol inglês, quando Keira Walsh ganhou a jogada facilmente na corrida sobre Spitse, pela esquerda. Falhas como essa levam a capitã holandesa (sempre que está em campo, a braçadeira é dela) a ser cada vez mais questionada. Com certa justiça. Mas também com certo exagero. Fica a questão se a presença de Spitse será considerada rumo à Copa de 2027. Pode até ser, pois não foi desastrosa como se temia. Mas será cercada de polêmica: para muitos, Spitse deveria ficar de fora.

4 - Veerle Buurman (2 jogos, 126 minutos jogados): Na estreia contra o País de Gales, aconteceu o que se esperava: com apenas 19 anos, Buurman já recebeu a preferência como titular. E foi bem, naquele jogo: com longos lançamentos, acelerava os ataques holandeses - inclusive, um lançamento da zagueira começou a jogada do segundo gol naquela vitória por 3 a 0. Contra a Inglaterra, inclusive, mesmo em atuação desastrosa das defensoras holandesas como um todo, Buurman foi quem menos falhou. Contudo, ali terminou sua participação na Eurocopa: durante o primeiro tempo, teve um corte na boca, e mesmo que isso não impedisse sua continuação no jogo, Buurman acabou saindo para ceder lugar a Sherida Spitse, mais experiente, e não voltaria a entrar em campo. De todo modo, sua experiência valeu, e a jovem ficou pouco "chamuscada". É outra que certamente ficará para o ciclo que virá.

3 - Caitlin Dijkstra (3 jogos, 61 minutos jogados): mesmo numa Euro péssima para as marcadoras holandesas, Dijkstra acabou passando sem tanta pressão como outras colegas de zaga. Não que tenha ido bem: a partida em que mais jogou foi justamente os 4 a 0 contra a Inglaterra, quando veio a campo no intervalo, para substituir Esmee Brugts na lateral esquerda - e teve um dos gols das Lionesses saindo por seu setor. De todo modo, no restante da fase de grupos, a defensora jogou pouco: os nove minutos finais contra o País de Gales, e os seis minutos finais contra a França. Talvez, ganhando mais cancha na lateral esquerda, Dijkstra pode resolver o problema crônico que é a escalação de Esmee Brugts, mais ofensiva (até demais), naquela posição. É ver como será sua sequência no Wolfsburg.

Veloz, ofensiva, persistente: talvez Victoria Pelova tenha sido a única jogadora da Holanda (Países Baixos) a sair ganhando na malograda campanha na Euro (Aitor Alcalde/UEFA/Getty Images)

MEIO-CAMPISTAS

17 - Victoria Pelova (3 jogos, 269 minutos jogados, 2 gols, 1 passe para gol): Se houve uma holandesa, uma única holandesa, a ter coisas boas para se lembrar desta Euro, foi a meio-campista da camisa 17. E isso já se viu no jogo de estreia das Leoas Laranjas: nos 3 a 0 contra o País de Gales, Pelova se destacou não só pelo gol que fez, mas pela velocidade que deu, jogando mais adiantada, como ponta-esquerda. E se passou em branco nos 4 a 0 sofridos para a Inglaterra (até pela péssima atuação holandesa como um todo), Pelova foi a principal responsável pela fugaz esperança que os Países Baixos tiveram contra a França. No primeiro tempo, fez o (belo) gol de empate nas francesas, cruzou a bola que Selma Bacha completou acidentalmente para as redes no gol contra, chamou a responsabilidade, criou jogadas, avançou... enfim, Pelova mostrou que pode até ser uma líder nos próximos anos da seleção holandesa feminina. Mostrou que, se a recuperação do rompimento do ligamento cruzado anterior foi bem feita, certamente terá seu espaço no Arsenal. E pode entrar num círculo virtuoso em sua carreira.

14 - Jackie Groenen (3 jogos, 265 minutos jogados): para uma das três jogadoras com mais minutos jogados nesta Euro, Jackie Groenen apareceu pouco demais para a seleção. Em alguns momentos, isso pode ser encarado de maneira positiva: contra o País de Gales, na estreia vitoriosa das Leoas Laranjas, Groenen foi daquelas que apareceu pouco e ajudou muito, sempre a postos para desarmes limpos, iniciando as jogadas com a distribuição de bola. Nos jogos seguintes, porém, a pouca aparição indica pontos a melhorar: Groenen tentou ajudar na marcação - frouxíssima - do meio-campo holandês contra Inglaterra e França, até cartão amarelo tomou na derrota para as francesas, mas não teve sucesso. Ainda assim, só o fato de ser a jogadora com mais acerto de passes na Holanda (90%) indica que Groenen tem sua importância no time. Muita importância. Seguirá para o trabalho tentando a vaga na Copa de 2027, com plenas condições de ser titular absoluta - e uma das líderes da equipe.

18 - Wieke Kaptein (3 jogos, 202 minutos jogados): Entre os rescaldos da má campanha, Kaptein ficou do lado de quem ainda merece voto de confiança. Na parte boa, Kaptein mostrou vontade de jogar, participou da criação de ataque nos 3 a 0 sobre o País de Gales, recebeu confiança para ser escalada contra a Inglaterra. Na parte ruim, Kaptein já aumentou a voz, mesmo antes de completar os 20 anos de idade que fará, para reclamar ter começado no banco contra a França: "Eu não soube de nada. No treino, só vi os coletes sendo distribuídos, ninguém me falou nada. Acho que tinha jogado bem contra a Inglaterra". De todo modo, cada vez mais preponderante na parte ofensiva do meio-campo - até incrível para uma novata -, Kaptein tende a ganhar cada vez mais importância na seleção feminina da Holanda (Países Baixos), nos próximos anos. A "mascote" da Copa de 2023 aprendeu bem as lições em 2025...

10 - Daniëlle van de Donk (3 jogos, 172 minutos jogados, 1 passe para gol): Se Van de Donk entrou na Eurocopa dando a impressão de que seria seu último torneio vestindo laranja, "Daantje" sai do torneio continental deixando uma porta entreaberta. Brilhou a ponto de deixar saudades? Nem tanto. Mas a camisa 10 jogou bem nos 3 a 0 sobre o País de Gales, não só pelo cruzamento para o gol de Victoria Pelova, mas por ter acelerado as jogadas, com passes rápidos. Em clubes, ficou com a imagem rediviva ao ser anunciada como reforço do London City Lionesses, que chega ambicioso à primeira divisão inglesa. Ao ser colocada na reserva contra a Inglaterra (e causar polêmica colateral: o técnico Andries Jonker alegou que tomou a decisão por dores leves de Van de Donk, mas ela comentou que se sentia bem o suficiente para começar jogando), não só escapou do peso dos 4 a 0 tomados, como também teve sua falta sentida por torcida e imprensa, já que poderia ajudar as holandesas a manterem a posse de bola. Ela entrou aos 66' (21 minutos do 2º tempo), mas aí já não havia muito a fazer. Contra a França, de volta às titulares, Van de Donk nem apareceu tanto, mas já tinha apagado o tom de despedida que sua participação nesta Euro poderia ter, embora fosse uma despedida. Tanto que tudo isso apareceu na sua declaração mais repercutida após a eliminação, à emissora NOS: "Foi meu último torneio [pela seleção]. Mas se Arjan [Veurink, próximo técnico da Holanda] quiser, pode me ligar. Não foi minha última partida". É ver qual a aparição que Van de Donk terá nas eliminatórias da Copa de 2027. Se é que terá...

21 - Damaris Egurrola Wienke (2 jogos, 11 minutos jogados): "Tento ver o lado positivo de tudo. Também posso aprender muito com essa situação, mas às vezes fico mal, não consigo fazer isso. Quando estou aqui, tento fazer o meu melhor". Com este lamento sincero ao diário De Volkskrant, durante a Euro, Damaris revelou indiretamente o quanto é mal utilizada na seleção holandesa de mulheres. Parece incrível que uma meio-campista titular absoluta no OL Lyonnes (o ex-Lyon), um dos times mais prestigiosos do futebol feminino na Europa, só tenha jogado 11 minutos nesta Eurocopa. E não foi por estar machucada, não: Damaris passou a maior parte do tempo na reserva, entrou nos cinco minutos finais - mais acréscimos - contra a Inglaterra, nos seis minutos finais contra a França, e foi só. A revista Voetbal International até alfinetou: "Para ser reserva, algum motivo existe. Damaris Egurrola geralmente mostrou que não alcança o nível [para ser titular]". Mas como mostrar nível, sem muitas chances? Só resta à volante manter esperanças na nova fase das Leoas Laranjas, sob o comando de Arjan Veurink: "Claro que penso em minha situação. Não posso mentir. Vem aí alguém diferente, com talvez uma comissão completamente nova: um novo começo". Voto de confiança do treinador vindouro, Damaris merece.

Vivianne Miedema mostrou, em campo, que segue em plenas condições técnicas de liderar a Holanda (Países Baixos). Mas as dúvidas sobre as condições físicas seguem... (Marcio Machado/Eurasia Sport Images/Getty Images)

ATACANTES

6 - Jill Roord (3 jogos, 203 minutos jogados): Nesta Eurocopa, Roord sempre esteve a um passo do destaque, sem conseguir alcançá-lo jamais. Na estreia contra o País de Gales, a atacante foi das melhores das Leoas Laranjas em campo: jogando pela ponta esquerda, a camisa 6 ajudava na criação de jogadas de ataque, sem deixar de lado a finalização - tanto que acertou a bola na trave por duas vezes. Só faltou isso: o seu momento de destaque. Que não veio nem contra a Inglaterra, quando a equipe dos Países Baixos foi praticamente nula no ataque. Nem contra a França, quando nomes quando Victoria Pelova e Lineth Beerensteyn apareceram mais na frente. Ainda assim, não se pode dizer que Roord foi nula nesta Eurocopa feminina. Tem condições de ser nome de ponta na seleção, para os anos que virão. Aliás, dependendo da condição física de Vivianne Miedema, talvez seja até protagonista.

7 - Lineth Beerensteyn (3 jogos, 154 minutos jogados, 1 passe para gol): Na habitual postagem em perfil pessoal no Instagram após a eliminação, Beerensteyn confessou: "Os altos e baixos neste torneio me ensinaram muito sobre resiliência e paixão". A atacante sabia do que estava falando. Afinal de contas, por muito pouco uma lesão muscular sofrida no fim da temporada passada não causou seu corte da convocação (até por isso, Shanice van de Sanden seguiu com a delegação neerlandesa, mesmo sem estar na lista oficial). Mas Beerensteyn se concentrou na recuperação - tanto no treinamento no centro da federação holandesa, na cidade de Zeist, quanto na estadia da delegação na cidade suíça de Spiez. Foi premiada: entrou em campo aos 26 minutos do segundo tempo contra o País de Gales, e até teve lá suas chances de marcar gol. Contra a Inglaterra, passou em branco como todo o ataque holandês, vindo a campo para o segundo tempo. Mas no duelo derradeiro, contra a França, Beerensteyn se esforçou para ajudar enquanto as Leoas Laranjas tiveram chance de classificação - tanto que desviou na bola, no lance do gol contra da francesa Selma Bacha. Enfim, a camisa 7 também lamentou. Mas fez sua parte. Participar da Euro já foi algo, e Beerensteyn ainda terá algum tempo de seleção pela frente.

11 - Esmee Brugts (3 jogos, 138 minutos jogados, 1 gol): Brugts sempre foi tida como alguém cujo potencial ainda não foi aproveitado completamente na seleção feminina da Holanda. Em grande parte, por jogar como (falsa) lateral esquerda, sempre partindo para o ataque quando Jill Roord caía para o meio. Pelo menos, na estreia contra o País de Gales, deu certo: ela sempre foi opção de ataque, participou bem, e foi coroada com seu gol. Só que o começo promissor logo se esboroou. Com as falhas defensivas vistas contra a Inglaterra, Brugts foi um dos "bodes expiatórios", substituída por Caitlin Dijkstra no intervalo. Nas várias mudanças para a escalação que começaria contra a França, Brugts foi uma "vítima", começando no banco e só entrando na metade do segundo tempo (67' - 22 minutos), tão logo as Azuis haviam marcado o quarto gol, e pouco se podia fazer para evitar a eliminação holandesa. Enfim, Brugts seguiu sendo aproveitada de maneira aparentemente inadequada, em termos táticos. A ver o que se passará com ela sob o comando de Arjan Veurink.

9 - Vivianne Miedema (2 jogos, 137 minutos jogados, 1 gol): Nos últimos três meses, Miedema teve apenas uma coisa na cabeça: estar na Eurocopa, voltar a aparecer num grande torneio pela seleção feminina da Holanda (Países Baixos). Por causa disso, chegou a ponto de levar um fisioterapeuta a tiracolo para as curtas férias na Grécia, antes da apresentação para os primeiros trabalhos de preparação neerlandesa rumo à Euro. Deu certo: já no último amistoso de preparação, nos 2 a 1 sobre a Finlândia, dois gols da camisa 9, que dava a torcida e imprensa neerlandesas a certeza de que ela estava pronta para ser titular e capitã da equipe. E na estreia contra o País de Gales, quando teve enfim espaço para atacar, Miedema fez um gol que comprovava seu talento e fazia história: com um chute colocado, no canto esquerdo da goleira Olivia Clark, a atacante colocou a bola na rede pela 100ª vez em sua carreira, vestindo laranja. Foi justamente festejada. Pena que foi o último grande momento de Miedema na Euro. Contra a Inglaterra, ela até teve uma chance, no primeiro tempo. Mas não teve espaço nem bola nos pés, foi substituída no intervalo... e, começando como reserva, em decisão questionada, não saiu do banco contra a França. As razões de Andries Jonker: "Ela não entrou porque já tinha jogado duas partidas como titular. Na condição física dela, três são demais". A grande dúvida segue: Miedema terá condições físicas de liderar a seleção da Holanda nas eliminatórias para a Copa de 2027? Porque, condições técnicas, ela lembrou a todos que tem, enquanto esteve em campo. Ainda pode fazer diferença.

12 - Chasity Grant (3 jogos, 185 minutos jogados, 1 passe para gol): Grant acabou aparecendo mais do que se pensava nesta Eurocopa. Em primeiro lugar, porque aproveitou bem os 26 minutos que passou em campo na estreia contra o País de Gales: ao substituir Daniëlle van de Donk, Grant foi bem ativa pela direita do ataque. E em segundo lugar, porque a partir disso, já recebeu responsabilidade grande: começar jogando contra a Inglaterra, na segunda partida. Porém, a partir disso as coisas desandaram: como Vivianne Miedema, Grant até começou fazendo coisa que valesse no ataque, mas logo seu desempenho decaiu, como com toda a seleção holandesa naqueles 4 a 0 sofridos em Zurique. Ainda foi titular contra a França, mas pouco apareceu - só participou da jogada do gol de Victoria Pelova. E saiu da Eurocopa com a aparição sem o resultado promissor que pareceu ter. Mas há possibilidades para Grant nos próximos anos.

13 - Renate Jansen (1 jogo, 2 minutos jogados): antes mesmo da Eurocopa começar, Renate Jansen também indicava que começava a reta final de sua carreira, na seleção e no futebol feminino em geral. No tocante às Leoas Laranjas, sua participação final teve o mesmo tom das anteriores: apenas uma opção confiável no banco. Na verdade, com até mais discrição: a entrada de Renate contra a França, substituindo Victoria Pelova no último minuto, serviu mais como uma homenagem tardia, um reconhecimento pelos serviços prestados em 15 anos de trajetória nas Leoas Laranjas. E a própria atacante confirmou, em seu perfil no Instagram: "Olho com orgulho para seis torneios fantásticos, cheios de memórias lindas, com ótimas colegas de grupo". Agora, é partir para o que Jansen já disse ser a última temporada como jogadora, no PSV. Aqui, ela é destaque. Na seleção holandesa, foi uma coadjuvante útil.

15 - Katja Snoeijs (não jogou)

5 - Romée Leuchter (não jogou)

Andries Jonker se queixou (com certa justiça) do anúncio antecipado de sua saída da seleção feminina holandesa. Mas não "se ajudou" muito (ProShots/Getty Images)

Andries Jonker (técnico)

Já começando a Eurocopa feminina sabendo que era seu último torneio à frente da seleção feminina da Holanda (Países Baixos), Andries Jonker tinha todo o direito de estar chateado com o que foi considerado precipitação da federação no anúncio da decisão. Até porque seu trabalho - pouco menos de três anos - foi razoável. Entretanto, a reta final dele deu toda a impressão de que, de fato, Jonker tinha "batido no teto", tinha alcançado seu limite. Primeiro, com os preocupantes resultados na reta final da fase de grupos da Liga das Nações - preocupantes a ponto de fazer Jonker pensar até em antecipar sua saída (ele só decidiu ficar ao "provocar o brio" das convocadas, levando uma camiseta da seleção e fazendo com que todas se comprometessem a assiná-la, num pacto de união). Depois, com oscilações vistas até num amistoso de preparação, o 2 a 1 na Finlândia, que foi superior na etapa final. E finalmente, com decisões polêmicas na fase de grupos. Primeiro, contra a Inglaterra: ao tirar Daniëlle van de Donk e colocar Chasity Grant no onze que começou o jogo, Jonker acabou tirando força do meio-campo holandês - e as inglesas tiveram campo livre para aproveitar, acuar a Holanda na defesa e golear por 4 a 0. Depois, a própria escolha por deixar Van de Donk no banco foi questionada pela meio-campista. Finalmente, as alterações feitas no time que começou contra a França soaram a desespero, e até a precipitação (quando nada, porque Vivianne Miedema, a melhor atacante, começou no banco). Até deram certo por um tempo, já que os Países Baixos começaram intensas como nunca em campo na Euro. Mas a eliminação deixou claro: Andries Jonker podia até estar irritado com a federação, mas não se ajudou...

domingo, 13 de julho de 2025

Fim de festa

A Holanda bem que tentou, neste último jogo da fase de grupos. Mas o pessimismo se confirmou: sem resistência diante do poderoso ataque da França, as Leoas Laranjas estão fora da Euro (Image Photo Agency/Getty Images)

Depois de tomar a goleada para a Inglaterra, o clima de fim de festa já se inseriu dentro da impressão sobre a campanha da Holanda (Países Baixos) na Eurocopa feminina. Só o que era chamado de "Milagre de Basileia" poderia causar uma reação. Ela até foi ensaiada, só que os velhos problemas apareceram de novo: com a França goleando por 5 a 2, as Leoas Laranjas voltam a ser eliminadas numa fase de grupos de torneio grande, após 12 anos (tinham caído na Euro 2013). De certa forma, até confirmando as más expectativas que se tinham antes do torneio, por todos os fatores - a saída anunciada do técnico Andries Jonker, a desorganização defensiva, a simples inferioridade técnica em relação a França e Inglaterra... se serve de consolo, pelo menos a torcida foi animada como sempre, e o último jogo trouxe esforço real antes da eliminação.

Já aos 40 segundos de bola rolando, com um cruzamento de Kerstin Casparij, quase alcançado por Chasity Grant, ficou claro que a Holanda teria mais intensidade do que a vista contra a Inglaterra. E se ainda restasse qualquer dúvida, se acabou na primeira chance real de gol holandesa: um chute de Victoria Pelova, espalmado por Pauline Peyraud-Magnin, aos 2'. Só que a França tinha um ataque poderoso, até pelas titulares que voltaram a campo após a goleada sobre o País de Gales. E já lembrou disso na chance seguinte de gol: Delphine Cascarino chutou aos 7', Daphne van Domselaar rebateu, e Selma Bacha ainda fez a goleira holandesa trabalhar de novo.

Assim seguia a Holanda: com Pelova e Daniëlle van de Donk (titular de novo) muito intensas no meio, tentava o gol (como aos 16', em cabeceio de Van de Donk). Só que o talento da França fluía mais em campo. Aproveitando os espaços nas laterais, as Azuis buscavam o gol. E afinal o conseguiram, aos 23', após cruzamento de Marie-Antoinette Katoto, completado num voleio de Sandie Toletti, aniversariante do dia. Poderia ter sido desastroso. Não foi, porque o empate laranja veio logo depois: Van de Donk cruzou, Chasity Grant completou de primeira e fez a goleira Peyraud-Magnin rebater, a jogada seguiu, e foi concluída num indefensável arremate de Pelova, no ângulo direito.

Já animada, já esforçada em campo, a Holanda ficou ainda mais empolgada em busca da virada. A tal ponto que a força nas divididas causou até cartões amarelos a Sherida Spitse (se alternando entre defesa e meio) e Jackie Groenen. Mas as chances apareciam. Como num lançamento de Lynn Wilms, titular na lateral direita, que Lineth Beerensteyn teria alcançado não fosse a zagueira francesa Alice Sombath interceptar aos 34'. Mais ataques holandeses significavam mais riscos na defesa das Leoas Laranjas, o que se viu no chute de Selma Bacha aos 36' (Van Domselaar agarrou firme) e num cabeceio de Katoto, para fora, aos 40'. Contudo, numa jogada carregada por Victoria Pelova, veio a virada holandesa no placar: ela cuzou, Beerensteyn desviou, e a bola bateu em Bacha, na pequena área, antes de entrar. Ainda faltava muito para as Leoas Laranjas, mas ir para o intervalo vencendo era um ânimo, sem dúvidas.

Muito veloz no primeiro tempo, autora de belo gol, Pelova talvez tenha sido a única jogadora holandesa a se destacar minimamente na Euro (Noemi Llamas/Sports Press Photo/Getty Images)

Só que o ânimo acabou rapidamente. Já no começo da etapa final, pareceu claro que a França pressionaria a Holanda enquanto pudesse, a partir dos 52' (sete minutos do segundo tempo), quando Sandy Baltimore cruzou, Van Domselaar falhou na saída de bola, mas Delphine Cascarino errou redondamente. Coisa que a atacante francesa não faria mais, depois. Porque, aos 60', Pelova e Dominique Janssen falharam na troca de passes, Cascarino dominou e lançou a pelota para Katoto empatar. Quatro minutos depois, a própria Cascarino recolocou as francesas na frente do placar, em grande estilo: chute de fora da área, no ângulo esquerdo, indefensável para Van Domselaar.

Aí, se esgotou o ligeiro otimismo que se tinha sobre a Holanda quando o primeiro tempo acabara. A França jogou como quis no ataque, diante dos problemas defensivos crônicos que as Leoas Laranjas têm. Prova deles foi a "linha de passe" no quarto gol, logo aos 67' (22 minutos do segundo tempo), até Sakina Karchaoui chutar, a bola bater nas duas traves e voltar para o arremate de Cascarino, se credenciando como a melhor do jogo. Nem mesmo com a saída de algumas titulares a França reduziu o ritmo - até porque entre as que saíram da reserva, estavam Kadidiatou Diani e Clara Matéo, que aos 80' deu a bola para Baltimore chutar, e Van Domselaar, defender. 

O pênalti cometido por Kerstin Casparij em Melween N'Dongala, nos acréscimos, e convertido por Karchaoui foi só o capítulo final da festa, pelo menos, para as holandesas. A Eurocopa continua. Agora, o foco é na expectativa das reformulações que talvez venham com o futuro técnico, Arjan Veurink - que segue na Euro, auxiliar técnico que ainda é de Sarina Wiegman. Quem sabe, ele ajude a Holanda a superar defeitos gritantes em campo. Tão gritantes que, apesar de se tratar do "Grupo da Morte", era até previsível supor que as holandesas não seriam páreo para França e Inglaterra. Infelizmente...

Euro feminina 2025 - Fase de grupos - Grupo D

Holanda 2x5 França
Data: 13 de julho de 2025
Local: St. Jakob-Park (Basileia)
Juíza: Ivana Martincic (Croácia)
Gols: Sandie Toletti, aos 23', Victoria Pelova, aos 26', Selma Bacha (contra), aos 41', Marie-Antoinette Katoto, aos 60', Delphine Cascarino, aos 64' e aos 67', e Sakina Karchaoui, aos 90' + 2

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Lynn Wilms, Sherida Spitse (Caitlin Dijkstra, aos 84'), Dominique Janssen e Kerstin Casparij; Victoria Pelova (Renate Jansen, aos 89'), Daniëlle van de Donk (Damaris Egurrola Wienke, aos 84') e Jackie Groenen; Chasity Grant (Esmee Brugts, aos 68'), Lineth Beerensteyn e Jill Roord (Wieke Kaptein, aos 68'). Técnico: Andries Jonker

FRANÇA
Pauline Peyraud-Magnin; Élisa de Almeida, Thiniba Samoura, Alice Sombath (Melween N'Dongala, aos 79') e Selma Bacha (Lou Bogaert, aos 71'); Sandie Toletti (Grace Geyoro, aos 58'), Sakina Karchaoui e Oriane Jean-François; Sandy Baltimore, Marie-Antoinette Katoto (Clara Matéo, aos 71') e Delphine Cascarino (Kadidiatou Diani, aos 71'). Técnico: Laurent Bonadei

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Caindo na real

A Inglaterra mostrou sua força na Eurocopa feminina. Azar da Holanda, cujas expectativas levemente positivas foram reduzidas a pó (Fran Santiago - UEFA/Getty Images)

Em qualquer momento entre os 5 e os 10 minutos do primeiro tempo, a bola ficou para uma dividida. Victoria Pelova, meio-campista da Holanda (Países Baixos), foi tentar dominá-la na disputa com a inglesa Georgia Stanway, e... foi facilmente superada por Stanway, fisicamente e tecnicamente. Stanway saiu com a bola, e a jogada seguiu. Foi um lance perdido, mas foi exemplar de como a seleção feminina da Inglaterra se impôs diante das Leoas Laranjas, no segundo jogo de ambas pela fase de grupos da Eurocopa de mulheres. A imposição foi técnica, foi tática, foi em gols: uma goleada por 4 a 0, que apagou qualquer boa impressão que se tivesse da equipe holandesa, após a estreia contra Gales.

Na verdade, a imposição inglesa já se fez notar com apenas 44 segundos de bola rolando em Zurique: com as inglesas pressionando as holandesas, Ella Toone (substituindo Beth Mead para começar o jogo) chegou perto de Wieke Kaptein a ponto de fazer com que a meio-campista precisasse recuar a bola para Daphne van Domselaar. Toone fez falta, mas já era um sinal. Fortalecido pelo tamanho do domínio da dupla Alex Greenwood-Lauren Hemp sobre Kerstin Casparij, na esquerda do ataque inglês, já iniciado aos 4': Greenwood cruzou, e quase Lauren James marcou o gol, cabeceando para fora. E seguido aos 9', quando Hemp foi quem cruzou, e Alessia Russo foi quem quase colocou a bola na rede.

Talvez a única vez em que jogadoras holandesas conseguiram escapar com a bola para o ataque tenha sido aos cinco minutos. Chasity Grant (substituta de Daniëlle van de Donk nas titulares) cruzou, e Vivianne Miedema dominou na área, mas a bola escapou do domínio, e a goleira Hannah Hampton pegou. No mais, a Inglaterra jogou as Leoas Laranjas num "círculo vicioso". Não conseguiam atacar, porque não tinham a bola. E não tinham a bola porque, nas divididas, quase sempre as inglesas ganhavam. Ao ganharem a bola, empurravam as holandesas para a defesa, e elas não conseguiam atacar. O primeiro gol das "Lionesses" até demorou - e nem teve tanta troca de passes assim. Foi mais eficiente: o tiro de meta de Hannah Hampton virou lançamento, Alessia Russo superou Dominique Janssen facilmente na corrida, veio pela direita com a bola, tocou para o meio, e Lauren James dominou na entrada da área antes de um belo chute, no ângulo esquerdo, indefensável para Van Domselaar.

Só um chute de Jill Roord, colocado, para fora, aos 26', interrompeu um pouco a ampla superioridade inglesa. Que teve até mais chances à medida que o primeiro tempo ficava perto do fim. Principalmente, em cruzamentos para a área. E agora, também da esquerda. Como aos 36', quando Keira Walsh cruzou e Lauren Hemp cabeceou para fora. Aos 38', Van Domselaar teve de trabalhar, rebatendo cabeceio de Russo - que voltou a tentar, aos 42', também mandando para fora. O segundo gol inglês ainda viria antes do intervalo, mas pelos pés. De Georgia Stanway, que aproveitou rebote de falta e chutou, no canto direito de Van Domselaar - que talvez pudesse ter defendido, não tivesse tantas holandesas (linha de cinco) acuadas à sua frente, impedindo visão melhor.

Das vindas a campo no intervalo para o time holandês, Spitse foi a "menos pior". Pelo menos, participou de algumas jogadas (Stan Oosterhof/Soccrates/Getty Images)

Restava fazer algo para evitar que o já ruim ficasse pior. E Andries Jonker até fez, colocando Sherida Spitse (para melhorar a saída de bola holandesa), Caitlin Dijkstra (para melhorar a marcação na lateral esquerda) e Lineth Beerensteyn (para, quem sabe, dar tanta velocidade na esquerda quanto Grant poderia dar na direita). A realidade? Já aos 51', Alessia Russo teve gol anulado, por impedimento. Spitse, de fato, entrou até bem, participando da primeira chance holandesa, lançando a bola para Grant completar, para fora. Porém, o lance do terceiro gol inglês, aos 60', foi exemplar da desorganização defensiva das Leoas Laranjas. Um lançamento longo, Keira Walsh dominou na esquerda, passou facilmente por Spitse na direita, cruzou, Ella Toone dominou a bola na esquerda da grande área e chutou, Van Domselaar ainda rebateu, mas Lauren James estava livre para fazer 3 a 0. 

Veio ainda a entrada de Van de Donk, para minorar o tamanho do domínio inglês no meio-campo. Era pouco. E ficou menos ainda com o quarto gol, em outro lançamento longo inglês aproveitado de jeito eficiente: Hemp dominou pela esquerda, cruzou, e Ella Toone teve todo o espaço para dominar e chutar em diagonal no quarto gol. Chances holandesas, só aos 79', quando Spitse aproveitou lançamento de Victoria Pelova mas chutou para fora, e aos 84', em outro arremate errado, de Wieke Kaptein. Mas a Inglaterra sempre deixava claro quem era melhor, em chances como aos 82', quando quase saiu belo gol em triangulação: de Lauren Hemp para Grace Clinton, desta para Alessia Russo, e só Van Domselaar, à queima-roupa, evitou o quinto gol.

Gols a mais ou a menos não fariam diferença, para uma Inglaterra que fez o que a torcida dela desejava: se impôs, mostrou que não está na Euro feminina a passeio. Deixou claro que é bem melhor do que a Holanda, ao fazê-la ser derrotada por mais de dois gols, pela primeira vez num grande torneio (e por mais de um gol, pela primeira vez em participações holandesas na Eurocopa). Às Leoas Laranjas, restam alguns dias para recuperação, antes de outro desafio, contra a França. Que precisa ser vencido, para que a eliminação na fase de grupos não venha. E não aumente a dureza da realidade que ficou clara nesta quarta-feira.

Euro feminina 2025 - Fase de grupos - Grupo D

Inglaterra 4x0 Holanda
Data: 9 de julho de 2025
Local: Letzigrund (Zurique)
Juíza: Edina Alves Batista (Brasil)
Gols: Lauren James, aos 22' e aos 60', Georgia Stanway, aos 45' + 2, e Ella Toone, aos 67'

INGLATERRA
Hannah Hampton; Lucy Bronze (Niamh Charles, aos 83'), Leah Williamson, Alex Greenwood e Jess Carter; Keira Walsh e Georgia Stanway; Ella Toone (Grace Clinton, aos 75'), Lauren James (Chloe Kelly, aos 69') e Lauren Hemp (Beth Mead, aos 75'); Alessia Russo (Agnes Beever-Jones, aos 83'). Técnica: Sarina Wiegman

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Kerstin Casparij, Veerle Buurman (Sherida Spitse, aos 46'), Dominique Janssen e Esmee Brugts (Caitlin Dijkstra, aos 46'); Victoria Pelova, Wieke Kaptein e Jackie Groenen (Damaris Egurrola Wienke, aos 85'); Chasity Grant, Vivianne Miedema (Daniëlle van de Donk, aos 66') e Jill Roord (Lineth Beerensteyn, aos 46'). Técnico: Andries Jonker

sábado, 5 de julho de 2025

A calma antes da tempestade

A estreia na Eurocopa feminina, contra o País de Gales, mostrava a Holanda (Países Baixos) sem espaço para os gols, embora superior. Aí veio Miedema, veio o recorde, veio a vitória (Aitor Alcalde - UEFA/Getty Images)

Sabe-se que o grupo da seleção feminina da Holanda (Países Baixos) na Eurocopa feminina é exigente: a maioria de quem acompanha é unânime sobre o grupo D ser o "Grupo da Morte", incluindo a atual campeã Inglaterra e a França. Porém, também era unânime que o País de Gales, adversário restante da chave, é o time que pode oferecer "alívio" às seleções mais fortes. As galesas seriam as adversárias das Leoas Laranjas na estreia pela Euro - uma vitória era, pois, necessária, e quanto mais gols, melhor. Não chegou a ser uma goleada, mas a vitória por 3 a 0 aumentou um pouco o otimismo holandês rumo aos desafios dificílimos que virão nesta fase de grupos.

No começo do jogo, a Holanda já sinalizou que dominaria a posse de bola. Não com toques curtos, mas com lançamentos longos. De preferência, para as pontas, onde se poderia chegar ao ataque. Assim surgiu a primeira chance: aos 5', Jill Roord passou pela lateral direita Josephine Green e já chutou. A goleira Olivia Clark rebateu meio no susto, a bola ricocheteou e quase entrou. Assim surgiriam vários momentos perigosos holandeses no primeiro tempo em Lucerna.

O segundo foi com Vivianne Miedema: aos 16', pela esquerda da grande área (onde geralmente ficava, partindo do meio da área), ela arrematou e o chute foi bloqueado por Rhiannon Roberts. Na sequência, mais tentativas: Daniëlle van de Donk - despontando menos em campo do que nos amistosos recentes - cruzou, Wieke Kaptein (esta, sim, aparecendo bastante) finalizou, e outra vez a zaga bloqueou. A sobra foi pega por Jackie Groenen, que tentou e... de novo, bola em cima da zaga galesa.

Era perigoso? Nem tanto, porque o País de Gales não tinha a bola. E quando a tinha, não conseguia pressionar. O único momento merecedor de mais atenção foi um cruzamento de Esther Morgan, aos 20', pego sem problemas por Daphne van Domselaar, que ficou sem muita ação no jogo. Depois, aos 44', uma sequência de escanteios galeses, que terminou com um arremate de Lily Woodham, que passou muito acima do gol neerlandês. Em suma: a Holanda mais perdia chances do que sofria ataques. E o grande símbolo disso foi o chute com que Jill Roord acertou a bola na trave esquerda de Clark, aos 35'.

Sem conseguir entrar com troca de passes, já sem acelerar tanto com as bolas longas, a Holanda começava a depender demais de um lance individual para furar o bloqueio galês. Para a sorte das Leoas Laranjas, há uma jogadora plenamente capacitada para tais lances individuais. E ela fez um desses, brilhantes, para o 1 a 0 que desafogou a nacionalidade neerlandesa: já nos acréscimos do 1º tempo, Miedema dominou a bola na área, ajeitou-a (e nisso, já se livrou da marcação de Roberts) e arrematou, colocado, no ângulo esquerdo de Clark. Um golaço digno da marca histórica que alcançou: foi a 100ª vez que a camisa 9 das Leoas Laranjas acertou a bola na rede.

Um gol, passe para outro, e Pelova se destacou no triunfo (Leiting Gao/BSR Agency/Getty Images)

Prevendo que a situação ficaria difícil para as galesas, que precisariam ir mais ao ataque no segundo tempo, a técnica Rhian Wilkinson decidiu proteger mais a defesa das "Dragoas", com a entrada de Ella Powell. Porém, já aos 48', antes mesmo que tal alteração tivesse efeito, Buurman lançou a bola em profundidade pela direita, Van de Donk a alcançou e a cruzou para Victoria Pelova dominar, girar e fazer o segundo gol holandês. O domínio estava assegurado. Poderia ter sido ampliado aos 52', em bela jogada: Miedema deixou Roord na cara do gol, mas novamente a camisa 6 acertou a trave de Clark. Pelo menos, o terceiro gol não demorou: logo após outra bola na trave - Jackie Groenen, em um de seus chutes de fora -, a jogada seguiu, Pelova cruzou, e Esmee Brugts completou para as redes na pequena área.

A partir daí, o jogo estava decidido. Andries Jonker poderia levar a campo nomes como Chasity Grant - que teve sua chance, aos 70', chutando cruzado para fora. Poderia até dar alguns minutos à recuperada Lineth Beerensteyn, que teve possibilidades de marcar aos 75' (Olivia Clark defendeu). Ambas fizeram juntas a mesma jogada de ataque, aos 86': Beerensteyn passou, Grant concluiu, e Josephine Green tirou a bola na pequena área. Mesmo nos acréscimos, as Leoas Laranjas tiveram chances em dois chutes: Groenen (90' + 2, em sobra de escanteio, mandando de voleio para fora) e Pelova (também arrematando por cima, após passe de Grant, que aproveito erro de Olivia Clark na saída de bola).

Esperava-se domínio holandês nesta estreia na Euro. Ele veio. Com calma. A calma antes da "tempestade" dos duelos contra Inglaterra, na próxima quarta, e França, no dia 13.

Euro feminina 2025 - Fase de grupos - Grupo D

País de Gales 0x3 Holanda
Data: 5 de julho de 2025
Local: Allmend (Lucerna)
Juíza: Frida Klarlund (Dinamarca)
Gols: Vivianne Miedema, aos 45' + 3, Victoria Pelova, aos 48', e Esmee Brugts, aos 57'

PAÍS DE GALES
Olivia Clark; Josephine Green, Rhiannon Roberts, Gemma Evans e Lily Woodham; Ceri Holland (Carrie Jones, aos 79'), Angharad James-Turner, Hayley Ladd e Esther Morgan (Ella Powell, aos 46'); Jess Fishlock (Rachel Rowe, aos 64'); Hannah Cain (Ffion Morgan, aos 64'). Técnica: Rhian Wilkinson

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Kerstin Casparij (Lynn Wilms, aos 64'), Veerle Buurman (Caitlin Dijkstra, aos 81'), Dominique Janssen e Esmee Brugts (Sherida Spitse, aos 71'); Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Chasity Grant, aos 64') e Wieke Kaptein; Victoria Pelova, Vivianne Miedema (Lineth Beerensteyn, aos 71') e Jill Roord. Técnico: Andries Jonker

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Há uma (pequena) chance

 Se não foi perfeita, pelo menos a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) se despediu da torcida com vitória rumo à Eurocopa (Pieter van der Woude/Marcel ter Bals/DeFodi Images/Getty Images)

Diante do clima de pessimismo que as últimas rodadas da Liga das Nações deixaram, foi bom que a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) recuperasse um pouco da animação antes da Eurocopa de mulheres que vem aí, ao vencer o amistoso de despedida da torcida, contra a Finlândia, nesta quinta. É certo que ainda há trabalho a fazer nos dias restantes até o 5 de julho da estreia contra Gales, mas alguns lances do amistoso deixaram claro que há uma chance de que as Leoas Laranjas possam ostentar valor e passarem de fase no "Grupo da Morte" que ainda terá França e Inglaterra.

E esses lances tiveram, principalmente, a presença de duas experientes. A primeira delas, Vivianne Miedema. Se o objetivo manifesto do técnico Andries Jonker ao escalá-la era mostrar que o trabalho de recuperação de problemas musculares deu certo, ele foi alcançado. E isso foi mostrado a partir de bela jogada individual que a camisa 9 das Leoas Laranjas fez logo aos três minutos, driblando duas finlandesas na direita, chutando cruzado e vendo a zagueira Natalia Kuikka bloqueando a bola na pequena área. Não bastasse Miedema, Daniëlle van de Donk (escalada como principal criadora de jogadas no meio campo) também apareceu bem. Quase finalizou o cruzamento da atacante, aos 8'. E aos 11', enfim, ambas participaram do primeiro gol: Van de Donk pressionou a outra zagueira finlandesa, Eva Nyström, que errou na saída de bola - e a camisa 11 ficou com ela, passando para Miedema fazer seu 98º gol pela equipe feminina neerlandesa.

Atacando principalmente pelas pontas, com as jogadoras de ataque, a equipe da casa até jogou bem no primeiro tempo em Leeuwarden (no recém-aberto estádio Kooi). Tinha a posse de bola, e atacava. Às vezes acertava, sem valer, como aos 24', no gol impedido de Miedema - participou em posição ilegal da jogada em lançamento de Jackie Groenen. Às vezes, tentava com toque de bola: aos 26', Van de Donk deixou a bola com Wieke Kaptein, que ganhou a dividida, e arrematou cruzado para a defesa da goleira finlandesa, Anna Koivunen - que também impediu gol de Kerstin Casparij, aos 37'. O que não se imaginava é que o 2 a 0 viria de uma forma tão... pitoresca. Tentando finalizar após passe de Miedema, Van de Donk se desequilibrou com a bola, caiu (e até foi atingida na cabeça, pelo joelho de uma finlandesa, acidentalmente). Na incerteza se o lance seguiria, nem Koivunen agarrou a bola na pequena área, nem Nyström deu o chutão. A bola estava solta. Na frente de Miedema. E ela aproveitou: um toque, 2 a 0, seu 99º gol pelas Leoas Laranjas - "Prometi para minha mãe que não faria o centésimo gol aqui; ela não estava no estádio, e nem meu irmão", a goleadora brincou à ESPN holandesa.

Miedema e Van de Donk: os destaques de um razoável primeiro tempo das Leoas Laranjas (Anne Waterlander/Marcel ter Bals/DeFodi Images/Getty Images)

Contudo, aos 38', um primeiro arremate de Linda Sällstrom, agarrado firmemente por Daphne van Domselaar, deixou claro: a Finlândia estava viva no jogo. Ficaria mais viva ainda no segundo tempo, com a diminuição do ritmo holandês. E algumas chances começaram a aparecer. Aos 54', novo chute de Linda Sällstrom, também pego por Van Domselaar; aos 60', a defesa deixou espaço, Sanni Franssi tentou driblar a goleira holandesa, mas ela impediu pegando a bola antes. A partir daí, com o começo das alterações nas formações, o ritmo diminuiu em geral - em que pese um gol anulado de Jill Roord (impedimento), aos 66'. Contudo, as preocupações da etapa final foram concretizadas com o gol finlandês, em jogada individual de Oona Siren, após mais um passe errado - no caso, de Roord.

O técnico Andries Jonker obviamente se irritou com o erro: "De novo, um erro de passe levou a um gol do adversário...". Mas pelo menos, viu uma vitória no fim da preparação para a Euro. E as boas atuações deixaram claro: sim, a Holanda tem uma chance de ir bem no torneio. Pequena, mas tem.

Amistosos

Holanda 2x1 Finlândia
Data: 26 de junho de 2025
Local: Kooi Stadion (Leeuwarden)
Árbitra: Elisabet Calvo Valentín (Espanha)
Gols: Vivianne Miedema, aos 11' e aos 30', e Oona Siren, aos 90' + 3

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Kerstin Casparij (Lynn Wilms, aos 89'), Veerle Buurman (Caitlin Dijkstra, aos 89'), Dominique Janssen e Esmee Brugts (Sherida Spitse, aos 62'); Wieke Kaptein (Renate Jansen, aos 89'), Daniëlle van de Donk (Damaris Egurrola Wienke, aos 89') e Jackie Groenen; Victoria Pelova, Vivianne Miedema (Chasity Grant, aos 62') e Jill Roord. Técnico: Andries Jonker

FINLÂNDIA
Anna Koivunen; Nea Lehtola, Natalia Kuikka, Eva Nyström e Emmi Siren; Oona Siren, Eveliina Summanen, Ria Öling (Koivisto, aos 76') e Katariina Kosola; Linda Sällström (Lilli Halttunen, aos 67') e Sanni Franssi (Aino Kröger, aos 85'). Técnico: Marko Saloranta


sábado, 21 de junho de 2025

O guia da Holanda na Euro feminina 2025: o futuro precisa começar

A seleção feminina da Holanda (Países Baixos) viveu uma montanha russa da Copa até a Eurocopa que vem aí. Agora, está em baixa. Mas tem jogadoras para reagir ao Grupo da Morte (KNVB Media/Divulgação)

A seleção feminina da Holanda (Países Baixos) teria tudo para chegar mais otimista à quinta vez em que disputa uma Eurocopa em sua história. Tudo bem, o grupo D é dificílimo. Principalmente pelas presenças de Inglaterra (a atual campeã da Euro, e vice-campeã mundial entre as mulheres) e França (sempre tradicional, e justamente a algoz das Leoas Laranjas na edição passada, nas quartas de final) - não se pode esquecer de citar o País de Gales, outro integrante da chave. Ainda assim, o grupo de 23 convocadas pelo técnico Andries Jonker tem técnica para entrar na disputa atraindo confiança. Porém, a delegação holandesa chegará à Suíça, país-sede, com mais desconfianças do que talvez devesse ter rumo à estreia contra as galesas, no sábado, 5 de julho, às 13h de Brasília, em Lucerna, além dos esperados duelos contra inglesas (quarta, 9 de julho, às 13h de Brasília, em Zurique) e francesas (domingo, 13 de julho, às 16h de Brasília, na Basileia) - no Brasil, transmissões pela Cazé TV.

Essa desconfiança maior em relação ao que os Países Baixos podem fazer no Campeonato Europeu de seleções de mulheres se deve, talvez, à excessiva cautela nas convocações que o técnico Andries Jonker tem mostrado, nesta reta final de seu trabalho. Ao longo de 2024, Jonker visivelmente dava mais espaço às jovens, até por tantas lesões (de Caitlin Dijkstra, na zaga, a Vivianne Miedema, no ataque, passando pelas ausências de Jill Roord e Victoria Pelova). Principalmente nos amistosos de fim de ano, foram vistas muitas jovens de talento: as zagueiras Lisa Doorn (Ajax) e Gwyneth Hendriks (PSV); as meio-campistas Nina Nijstad (PSV), Ella Peddemors (Ajax) e Danique Noordman (Ajax); e a atacante Chimera Ripa (PSV). Todas elas, testadas em algum momento do "jogo-exibição" que foram os 15 a 0 na Indonésia, em 25 de outubro de 2024; os 2 a 1 na Dinamarca, em 29 de outubro; os 4 a 1 na China, em 29 de novembro; e a única derrota, 2 a 1 para os Estados Unidos, em 3 de dezembro.

Em todos esses amistosos, a Holanda foi bem na mescla de veteranas conhecidas com novos talentos. Paralelamente, os resultados holandeses em torneios de base eram notáveis. Para começo de conversa, o vice-campeonato europeu sub-19, em julho do ano passado; depois, o quarto lugar no Mundial Sub-20 feminino, em setembro de 2024, na Colômbia - mesmo com um time considerado limitado, alcançar o mesmo resultado do Mundial Sub-20 feminino de 2022 foi considerado surpresa ótima; e já em 2025, a Holanda superou a Noruega para se tornar campeã europeia sub-17. Com esses resultados, seria até saudável ver algumas novatas mais capacitadas frequentarem cada vez mais as convocações da seleção principal. E era o que parecia que ocorreria na preparação para a Euro.

Quarta colocada no Mundial Sub-20 de mulheres em 2024, campeã europeia sub-17 há poucas semanas... a base da Holanda vem forte. Mas na seleção adulta, a renovação para (Shauna Clinton/UEFA/Getty Images)

Pois não aconteceu. Durante a Liga das Nações deste ano, na fase de grupos contra Alemanha, Escócia e Áustria, a base holandesa não só foi a já conhecida, como algumas veteranas há muito esquecidas retornaram às relações, casos de Merel van Dongen e Shanice van de Sanden. E as Leoas Laranjas acabaram decepcionando, no momento culminante. Se haviam começado bem a fase de grupos (em fevereiro, empate em 2 a 2 com a Alemanha e virada fora de casa sobre a Escócia - 2 a 1; em abril, dois 3 a 1 na Áustria, em casa e fora), a chance de voltar às semifinais da Nations League foi duramente encerrada com os 4 a 0 inapeláveis da Alemanha, no dia 30 de maio passado. Pior ainda foi ver a Escócia arrancar, em Tilburg, o único ponto que conseguiu no grupo, com o empate em 1 a 1 que acendeu o sinal de alerta rumo à preparação para a Eurocopa.

Esses dois maus resultados lembraram o caminho turbulento que a Holanda (Países Baixos) teve, da Copa de 2023 até agora. Na Liga das Nações 2023/24, contra a Bélgica, a esperança aumentou, na fase de grupos. Contra Inglaterra, Bélgica e Escócia, as Leoas Laranjas conseguiram passar às semifinais - e à disputa de uma vaga olímpica em Paris-2024 -, de modo empolgante, superando as inglesas no saldo de gols, no último lance da última rodada dos grupos, fazendo 4 a 0 na Bélgica, no fim de 2023. Mas bastou 2024 começar para a realidade se impor. Contra a Espanha, nas semifinais, um categórico 3 a 0 das campeãs mundiais; e na decisão do terceiro lugar, contra a Alemanha, que também valia uma vaga olímpica, nem mesmo jogar em casa (Heerenveen) impediu as alemãs de dominarem, fazerem 2 a 0 e frustrarem uma equipe que desejava muito ir a Paris.

Entre o pessimismo da reta final da Liga das Nações retrasada, o otimismo dos amistosos finais de 2024 e a cautela trazida pela queda nesta Nations League, havia as eliminatórias da Eurocopa no meio do caminho. E elas também tiveram muitas dificuldades. Para começo de conversa, as lesões seguiram perturbando. A começar por Jill Roord, fora de combate desde a lesão grave no joelho, sofrida em janeiro. E a continuar por Daphne van Domselaar, que ficou de fora na estreia, em 5 de abril de 2024, fora de casa, em que as Leoas Laranjas viram a Itália fazer 2 a 0 em cima de uma frágil defesa. Pelo menos, no jogo seguinte, no dia 9, uma vitória por 1 a 0 contra a Noruega contrabalançou as coisas. Aí, antes da terceira e quarta rodadas da qualificação, que trariam dois jogos contra a Finlândia, um anúncio que sobrepujou até as partidas: a despedida de Lieke Martens, tão simbólica para a seleção feminina. Em casa, pelo menos, em 31 de maio de 2024, não só Martens teve as homenagens que merecia da torcida presente a Roterdã, como a vitória veio (1 a 0); em 3 de junho, no último jogo da atacante para valer pelas Leoas Laranjas, porém, novamente o ataque teve dificuldades, e o empate por 1 a 1 contra as finlandesas manteve a pulga atrás da orelha. Sem contar que, neste empate, Victoria Pelova foi mais uma holandesa a sofrer a lesão mais temida: o rompimento do ligamento cruzado...

Seria necessário definir a vaga na Euro nas duas rodadas finais, em julho, contra Itália (casa) e Noruega (fora). E os dois jogos trouxeram muito nervosismo. Contra a Itália, em 12 de julho, bastaria uma vitória para se garantir no torneio continental. E a Holanda tentou, insistiu, mandou até uma bola na trave... mas o 0 a 0 não saiu do placar. Seria necessário ter um ponto, diante da Noruega, na cidade de Brann, em 16 de julho de 2024, para assegurar um lugar na Euro. E as Leoas Laranjas sofreram de novo. No ataque, com a falta de pontaria insistente; na defesa, com uma desatenção que fez as norueguesas abrirem o placar, com Caroline Graham Hansen. O perigo de precisar disputar a repescagem se apresentava... mas, se havia perigo, em quem as Leoas Laranjas poderiam confiar? Em Vivianne Miedema. As lesões intercorrentes do grave problema no joelho, sofrido em 2022, deram uma folga. Em julho, ela estava em campo. E a dez minutos do fim daquele jogo em Brann, coube a ela fazer o gol do empate, da vaga na Euro, do alívio. Um alívio tão grande que fez Miedema e a capitã Sherida Spitse chorarem, nas entrevistas pós-jogo. Não era para menos: com tantas machucadas, com tantas dificuldades ofensivas (foram só quatro gols em seis jogos nas eliminatórias)... mesmo com tudo isso, a Holanda estava na Eurocopa.


Entre marchas e contramarchas, as Leoas Laranjas viajarão para a Suíça, já sabendo que terão novo técnico quando a Euro acabar. Por sinal, um adversário de agora: Arjan Veurink, auxiliar de Sarina Wiegman desde os tempos em que ela era a treinadora das Leoas Laranjas, tendo seguido com ela para a Inglaterra (como se sabe, rival no grupo D da Euro), fará o caminho de volta para as Leoas Laranjas, como sucessor de Andries Jonker. Mas se Jonker se queixava das próprias jogadoras no começo do mês ("Parece que estamos tocando a bola sempre para gente de camiseta errada", alfinetou após o empate contra a Escócia, na Liga das Nações), agora o foco das alfinetadas do atual treinador são os críticos ("Eu nunca ouvi essas pessoas falarem nada sobre futebol feminino, mas basta um tropeço que elas sabem imediatamente qual é o motivo"). Durante os dias de treinos, desde a apresentação na quinta-feira passada, 19, Kerstin Casparij expressou otimismo à ESPN holandesa: "Todas neste time têm muitas qualidades. Eu não queria estar na pele do técnico".

O técnico, enfim, escolheu as 23 jogadoras. Elas têm condições de superar as desconfianças e fazerem papel até elogiável nesta Eurocopa que vem aí. Mas ainda segue a impressão de que o apego às veteranas é demasiado, e que o futuro está demorando para começar nas Leoas Laranjas. A ver se a estreia contra Gales ameniza as desconfianças de que, 12 anos após a queda na Eurocopa feminina de 2013, elas correm risco de voltarem a cair já nos grupos.

A provável escalação de Andries Jonker para a estreia da Holanda (Países Baixos) na Euro feminina, contra Gales (buildlineup.com)

Para saber mais sobre as convocadas, clique nas posições para ver descrições detalhadas delas

1-Daphne van Domselaar (Arsenal-ING)
16-Lize Kop (Tottenham Hotspur-ING)
23-Daniëlle de Jong (Juventus-ITA)

18-Kerstin Casparij (Manchester City-ING)
2-Lynn Wilms (sem clube)
22-Ilse van der Zanden (Fiorentina-ITA)

20-Dominique Janssen (Manchester United-ING)
4-Veerle Buurman (PSV)
3-Caitlin Dijkstra (Wolfsburg-ALE)
8-Sherida Spitse (Ajax) 

10-Daniëlle van de Donk (London City Lionesses-ING)
14-Jackie Groenen (Paris Saint Germain-FRA)
21-Damaris Egurrola Wienke (OL Lyonnes-FRA)
19-Wieke Kaptein (Chelsea-ING)
17-Victoria Pelova (Arsenal-ING)

7-Lineth Beerensteyn (Wolfsburg-ALE)
9-Vivianne Miedema (Manchester City-ING)
6-Jill Roord (Twente)
5-Romée Leuchter (Paris Saint Germain-FRA)
11-Esmee Brugts (Barcelona-ESP)
15-Katja Snoeijs (Everton-ING)
13-Renate Jansen (PSV)
12-Chasity Grant (Aston Villa-ING)

Andries Jonker (técnico)
Janneke Bijl (auxiliar técnica)
Arvid Smit (auxiliar técnico)
Erskine Schoenmakers (treinador de goleiras)

O guia da Holanda na Euro feminina 2025: Comissão técnica

TÉCNICO
(KNVB Media/Divulgação)

Andries Jonker 

Ficha técnica
Nome: Andries Jonker
Data e local de nascimento: 22 de setembro de 1962, em Amsterdã (Holanda)
Carreira como treinador: ZFC (clube amador, 1987 a 1988), DRC (clube amador, 1989 a 1991), Volendam (1999 a 2000), seleção feminina da Holanda (2001, como interino, e 2022 a 2025 - saída já anunciada para depois da Euro), MVV Maastricht (2004 a 2006), Willem II (2007 a 2009, acumulando com o cargo de diretor técnico), Bayern de Munique-ALE (2011, interino, e 2011 a 2012, treinando o time B), Wolfsburg-ALE (2017) e Telstar (2019 a 2022, acumulando com o cargo de diretor técnico)
Carreira como auxiliar: Volendam (1997 e 1999), Barcelona-ESP (2002 a 2003), Willem II (2006 a 2007), Bayern de Munique (2009 a 2011) e Wolfsburg-ALE (2012 a 2014)
Carreira como diretor: Federação holandesa (1990 a 1997 e 2000 a 2003, como diretor de seleções regionais e categorias de base) e Arsenal-ING (2014 a 2017, como diretor das categorias de base)

Impossível dizer que Andries Jonker fez um trabalho ruim comandando a seleção feminina da Holanda (Países Baixos). Desde que chegou, em setembro de 2022, Jonker até conseguiu atender à intenção da federação - e das principais jogadoras do grupo: deixar a equipe um pouco mais ofensiva, mais livre das amarras vistas nos curtos tempos sob o comando de Mark Parsons. A prova disso foi a campanha razoável na Copa do Mundo de 2023: se as Leoas Laranjas não brilharam, tiveram um papel mais vistoso por mudanças táticas, como escalar nas laterais Victoria Pelova e Esmee Brugts, meio-campista e atacante de origem, ou fazer a seleção neerlandesa jogar com três zagueiras (uma delas, Sherida Spitse, que já perdia velocidade como meio-campista). Conseguir superar a Inglaterra na fase de grupos da Liga das Nações 2023/24, à custa de muito esforço, para ter a perspectiva de uma vaga no torneio olímpico de Paris-2024, também abria perspectivas para o trabalho de Jonker.

Porém, 2024 fez a seleção neerlandesa cair na real. Entre os "quatro finalistas" da Liga das Nações, duas derrotas, nenhum gol marcado, nada de vaga olímpica. As eliminatórias da Eurocopa, no primeiro semestre do ano passado, também indicaram a séria dificuldade laranja para marcar gols. Mais do que isso: indicavam que as soluções táticas encontradas no trabalho de Jonker estavam com o prazo de validade perto do fim. Se ensaiou saudável renovação nas convocações dos amistosos do fim de 2024, Jonker deixou tudo isso de lado quando 2025 chegou. Talvez por isso, talvez pelas limitações cada vez mais claras do trabalho, o anúncio de sua saída quando a Eurocopa acabasse (e seu contrato com a federação holandesa, também) foi compreensível. Jonker até lamentou nas primeiras datas FIFA ("Fiquei surpreso e triste", respondeu em fevereiro), mas agora já segue. Já pensa no que fará. E está otimista pelo que pode ser esta Euro, capítulo final de seu trabalho: "Elas [jogadoras] mostraram muita energia e entusiasmo, isso se viu já no primeiro treino para a Euro. Férias ajudam nisso". Que ajudem numa boa campanha, para que Andries Jonker se despeça da seleção de forma razoável como seu trabalho foi até agora.

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Janneke Bijl (auxiliar técnica)

Quando foi escolhida para ser auxiliar de Andries Jonker, em 2022, logo após Jessica Torny sair da federação holandesa para o Feyenoord (o qual ainda treina), Janneke Bijl parecia em formação: rumava para ser a quinta mulher nascida na Holanda/Países Baixos a ter o diploma da UEFA e estar apta a treinar equipes e seleções. Três anos depois, Bijl avançou. Não só pela capacidade tática - fala-se que a ideia de fazer a equipe holandesa jogar com três zagueiras partiu dela -, mas também por saber fazer o "meio-de-campo" com o grupo de jogadoras. Talvez por isso, também deixará a seleção holandesa depois da Eurocopa. Não exatamente para uma experiência como técnica principal, mas para aprender ainda mais com outra holandesa que já tem o diploma da UEFA: Bijl será auxiliar de Sarina Wiegman na Inglaterra. De certa forma, justifica o elogio de Andries Jonker, no podcast Vrouwen 1, do site NU Sport: "Já falei que Bijl, e Renée Slegers [técnica campeã europeia com o Arsenal], são as pérolas do futebol feminino holandês".

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Arvid Smit (auxiliar técnico)

Se sua carreira como jogador foi de circulação por vários clubes, principalmente dentro da Holanda/Países Baixos, Arvid Smit ficou mais restrito ao futebol feminino na sua faceta como treinador. Mais precisamente, desde que se tornou auxiliar fixo da seleção holandesa, em 2019, ainda nos tempos de Sarina Wiegman como técnica. Isso o fez conhecedor da modalidade, dentro das fronteiras nacionais, a ponto de muita gente considerar que ele poderia ser o treinador da Holanda (Países Baixos) algum dia. Talvez seja. Mas não agora, porque Smit é mais um nome da comissão técnica das Leoas Laranjas que deixará seu cargo quando a Eurocopa acabar - e como a colega Janneke Bijl, ele também rumará para auxiliar Sarina Wiegman na Inglaterra. Por sinal, o mesmo caminho que fez Arjan Veurink, o técnico que vem aí para os Países Baixos. Quem sabe Arvid repita o mesmo caminho, daqui a uns anos...

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Erskine Schoenmakers (treinador de goleiras)

Eis um nome que fará falta. Afinal de contas, Erskine é mais um que deixará a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) após a Euro que vem aí. E após oito anos de trabalho, o treinador de guarda-metas deixou sua marca. Num país que vem mostrando uma crescente criação de boas goleiras, coube a Schoenmakers aprimorar nomes como Loes Geurts, Sari van Veenendaal e Daphne van Domselaar assim que chegavam à equipe principal. Isso, sem contar goleiras menos conhecidas que também já passaram por suas mãos, como Lize Kop e Femke Liefting - esta, eleita a melhor goleira do Mundial Sub-20 de mulheres, no ano passado. Fica a curiosidade sobre como será a sequência de um trabalho tão bom com suas comandadas como Erskine desenvolveu com as goleiras holandesas.