"Estou feliz pelas vitórias, mas estou triste pelas lesões". Em uma só frase, Andries Jonker, técnico da seleção feminina da Holanda/Países Baixos, resumiu as impressões sobre as duas partidas feitas contra a Áustria, pelas terceira e quarta rodadas da Liga das Nações. As atuações nas vitórias por 3 a 1, em casa (sexta-feira passada) e fora (nesta terça), mostraram até bom nível, em que pesem algumas desatenções. Entretanto, algumas machucadas saíram dos jogos causando preocupação para a sequência da preparação rumo à Eurocopa de mulheres.
Nos primeiros minutos da primeira partida, em Almelo, o cenário pareceu preocupante para as Leoas Laranjas: a Áustria pressionava muito o trio de zagueiras, que se atrapalhava com os recuos de bola. Lances como um cabeceio da zagueira Virginia Kirchberger, aos 5', para fora, e um chute da meio-campista Annabel Schasching, bloqueado por Dominique Janssen, faziam crer que a mudança para um esquema com três zagueiras e três atacantes poderia dar errado. Começou a dar certo aos 12': no primeiro ataque holandês, o primeiro gol - após jogada individual de Lineth Beerensteyn mal afastada pela defesa austríaca, a bola ficou para Jackie Groenen voltar a marcar, de fora da área, num chute no canto esquerdo da goleira Manuela Zinsberger.
A partir daí, a Holanda estabeleceu domínio no jogo. Pela próxima chance que teve (chute de Beerensteyn rebatido por Zinsberger, aos 19'), poderia parecer que as Leoas Laranjas seguiam apostando nas bolas longas para a atacante do Wolfsburg. Que nada: Groenen apareceu muito e bem no meio, assim como Wieke Kaptein e Damaris Egurrola Wienke. E as chances se sucederam: Damaris de cabeça, aos 20', mais um chute de Groenen, aos 23', ambos pegos por Zinsberger. De vez em quando, porém, nos recuos para se proteger, a Holanda errava na defesa. Só aí a Áustria tinha chances. Nem tanto aos 24', quando Daphne van Domselaar tocou tão forte na bola que Veerle Buurman sequer conseguiu dominar, cedendo escanteio "de graça". Mas sim aos 30', quando Jill Roord inverteu errado a bola, esta foi interceptada e passada a Sarah Zadrazil, que chutou na trave.
De certa forma, foram falhas que deram plena razão à reclamação exigente do técnico Andries Jonker, após o jogo, à emissora NOS: "Não jogamos bem, perdemos muitas bolas. Não havia foco, nem concentração (...) Precisamos aumentar nosso nível. A régua é alta, quando se quer ser campeão europeu". Talvez seja algo exagerado, tendo em vista que a Holanda fez o segundo gol logo no início da etapa final (Damaris, aos 48', desviando de cabeça o escanteio de Brugts), e até marcou o terceiro, com Sherida Spitse convertendo pênalti - Beerensteyn foi agarrada por Kirchberger -, três minutos após substituir Caitlin Dijkstra. Mas talvez a queixa de Jonker tenha lá seu fundo de verdade ao se ver que a Áustria cresceu na reta final do jogo, com Van Domselaar precisando fazer duas boas defesas (aos 69', em chute de Maria Höbinger, e aos 81', cara a cara com Carina Brunold, que acabara de entrar em campo). E principalmente, com o gol de honra até merecido das austríacas, já nos acréscimos, quando Maria Plattner completou contra-ataque com campo livre.
![]() |
Volta a campo no primeiro jogo, participação em dois gols no segundo: Victoria Pelova teve motivos para sorrir (KNVB Media/Divulgação) |
Aliás, tal gol rendeu a primeira insatisfação à Holanda/Países Baixos: ao sair do gol para tentar impedir que Plattner marcasse, Van Domselaar torceu o tornozelo, se machucou - e terminaria por ser desligada da delegação, no domingo, até por preservação. Viagem feita à Áustria, Andries Jonker fez nada menos do que cinco alterações na escalação para o jogo desta terça, na cidade de Altach. Uma delas, claro, obrigatória: a entrada de Lize Kop no gol. Outras, até previstas, como Sherida Spitse e Dominique Janssen começando o jogo. Algumas, ainda, surpreendentes, como Victoria Pelova indo para a frente, ao lado de Lineth Beerensteyn. Só que as insatisfações aumentaram, porque a Áustria não só começou pressionando de novo, como desta vez abriu o placar, aos 9': Viktoria Pinther aproveitou erro de Esmee Brugts, veio à área pela direita, cruzou, e Julia Hickelsberger desviou para o 1 a 0 das donas da casa.
A insatisfação só não aumentou porque, assim que o jogo recomeçou, Pelova veio pela esquerda, tocou, e Wieke Kaptein bateu (com desvio na zagueira Virginia Kirchberger) para o 1 a 1. Mas só no decorrer do primeiro tempo é que as Leoas Laranjas se estabeleceram. Na base do toque de bola e de algumas boas atuações - Pelova, Van de Donk -, saiu-se da repetitiva estratégia "bola-alta-para-Beerensteyn-ganhar-na-corrida", e as chances neerlandesas começaram a aparecer: um cabeceio de Van de Donk aos 19' (bloqueado pela zagueira Wenger), chutes de Pelova (20'), Beerensteyn (31'), Spitse (33') e Van de Donk (38'), todos defendidos por Manuela Zinsberger. Com mais rapidez, a defesa também parou de dar sustos - em que pese bola que Kerstin Casparij afastou aos 30', após má saída de gol de Kop, em falta cobrada por Maria Höbinger.
No segundo tempo, a superioridade holandesa continuou. Mas faltava um gol para confirmá-la. Ele veio aos 57', em jogada até involuntariamente coletiva (de Brugts para Beerensteyn, desta para rebote parcial da defesa, Pelova chutou, a bola bateu na trave, e Van de Donk só precisou desviar para o gol vazio). Mais tranquila, a equipe dos Países Baixos até trouxe a campo titulares como Damaris Egurrola Wienke e Vivianne Miedema. Esta brilhou como às vezes faz, no belíssimo terceiro gol, aos 69' (após lançamento em profundidade de Brugts, "Viv" deu drible curto em Sarah Puntigam antes do chute forte no ângulo esquerdo de Zinsberger). Mas voltou a assustar, apenas 14 minutos após entrar em campo, ao voltar a sentir dores e ter de ser substituída - fala-se em lesão no músculo posterior da coxa ou, até, novo rompimento de ligamento cruzado anterior. De quebra, Wieke Kaptein terminou o jogo mancando, mesmo sem sair de campo, com dores claras nos pés.
Mais uma insatisfação. Que amenizou um pouco a satisfação que a Holanda pode sentir com a sua recordista, Sherida Spitse, a pessoa da Europa com mais jogos por uma seleção de futebol, entre homens e mulheres - 241 partidas, superando o recorde feminino da sueca Caroline Seger, já à frente da maior marca masculina (as 219 partidas de Cristiano Ronaldo por Portugal). Pelo menos, no geral, o saldo das Leoas Laranjas foi bom nestas datas FIFA. A ver se as alternâncias de escalação serão menores nas duas últimas rodadas da Liga das Nações, em maio/junho, contra Alemanha (fora) e Escócia (casa). E a ver se as machucadas de agora estarão lá...
Liga das Nações da UEFA - Liga A - Grupo 1
Holanda 3x1 Áustria
Data: 4 de abril de 2024
Local: Polman/Asito Stadion (Almelo)
Árbitra: Désirée Grundbacher (Suíça)
Gols: Jackie Groenen, aos 12', Damaris Egurrola, aos 48', Sherida Spitse, aos 76', e Maria Plattner, aos 90' + 4
HOLANDA
Daphne van Domselaar; Caitlin Dijkstra (Sherida Spitse, aos 72'), Dominique Janssen e Veerle Buurman; Jackie Groenen, Wieke Kaptein (Chasity Grant, aos 62'), Jill Roord (Victoria Pelova, aos 62') e Damaris Egurrola Wienke; Lineth Beerensteyn, Vivianne Miedema (Daniëlle van de Donk, aos 72') e Esmee Brugts (Lynn Wilms, aos 83'). Técnico: Andries Jonker
ÁUSTRIA
Manuela Zinsberger; Laura Wienroither, Claudia Wenger, Virginia Kirchberger e Verena Hanshaw (Chiara D'Angelo, aos 80'); Sarah Zadrazil, Annabel Schasching, Sarah Puntigam (Maria Plattner, aos 63') e Marie Höbinger (Sophie Hillebrand, aos 87'); Viktoria Pinther (Carina Brunold, aos 80') e Lilli Purtscheller (Julia Hickelsberger, aos 62'). Técnico: Alexander Schriebl
Áustria 1x3 Holanda
Data: 8 de abril de 2024
Local: Cashpoint Arena/Schnabelholz (Altach)
Árbitra: Ewa Augustyn (Polônia)
Gols: Julia Hickelsberger, aos 9', Wieke Kaptein, aos 10', Daniëlle van de Donk, aos 57', e Vivianne Miedema, aos 69'
ÁUSTRIA
Manuela Zinsberger; Laura Wienroither, Claudia Wenger, Virginia Kirchberger (Marina Georgieva, aos 85') e Verena Hanshaw; Sarah Zadrazil (Laura Feiersinger, aos 62'), Annabel Schasching, Sarah Puntigam (Maria Plattner, aos 73') e Marie Höbinger (Carina Brunold, aos 85'); Viktoria Pinther (Lilli Purtscheller, aos 62') e Julia Hickelsberger. Técnico: Alexander Schriebl
HOLANDA
Lize Kop; Chasity Grant (Lynn Wilms, aos 74'), Sherida Spitse, Ilse van der Zanden e Kerstin Casparij (Dominique Janssen, aos 46'); Wieke Kaptein, Daniëlle van de Donk (Vivianne Miedema, aos 62') (Renate Jansen, aos 76') e Jackie Groenen; Victoria Pelova (Damaris Egurrola Wienke, aos 62'), Lineth Beerensteyn e Esmee Brugts. Técnico: Andries Jonker