sábado, 5 de julho de 2025

A calma antes da tempestade

A estreia na Eurocopa feminina, contra o País de Gales, mostrava a Holanda (Países Baixos) sem espaço para os gols, embora superior. Aí veio Miedema, veio o recorde, veio a vitória (Aitor Alcalde - UEFA/Getty Images)

Sabe-se que o grupo da seleção feminina da Holanda (Países Baixos) na Eurocopa feminina é exigente: a maioria de quem acompanha é unânime sobre o grupo D ser o "Grupo da Morte", incluindo a atual campeã Inglaterra e a França. Porém, também era unânime que o País de Gales, adversário restante da chave, é o time que pode oferecer "alívio" às seleções mais fortes. As galesas seriam as adversárias das Leoas Laranjas na estreia pela Euro - uma vitória era, pois, necessária, e quanto mais gols, melhor. Não chegou a ser uma goleada, mas a vitória por 3 a 0 aumentou um pouco o otimismo holandês rumo aos desafios dificílimos que virão nesta fase de grupos.

No começo do jogo, a Holanda já sinalizou que dominaria a posse de bola. Não com toques curtos, mas com lançamentos longos. De preferência, para as pontas, onde se poderia chegar ao ataque. Assim surgiu a primeira chance: aos 5', Jill Roord passou pela lateral direita Josephine Green e já chutou. A goleira Olivia Clark rebateu meio no susto, a bola ricocheteou e quase entrou. Assim surgiriam vários momentos perigosos holandeses no primeiro tempo em Lucerna.

O segundo foi com Vivianne Miedema: aos 16', pela esquerda da grande área (onde geralmente ficava, partindo do meio da área), ela arrematou e o chute foi bloqueado por Rhiannon Roberts. Na sequência, mais tentativas: Daniëlle van de Donk - despontando menos em campo do que nos amistosos recentes - cruzou, Wieke Kaptein (esta, sim, aparecendo bastante) finalizou, e outra vez a zaga bloqueou. A sobra foi pega por Jackie Groenen, que tentou e... de novo, bola em cima da zaga galesa.

Era perigoso? Nem tanto, porque o País de Gales não tinha a bola. E quando a tinha, não conseguia pressionar. O único momento merecedor de mais atenção foi um cruzamento de Esther Morgan, aos 20', pego sem problemas por Daphne van Domselaar, que ficou sem muita ação no jogo. Depois, aos 44', uma sequência de escanteios galeses, que terminou com um arremate de Lily Woodham, que passou muito acima do gol neerlandês. Em suma: a Holanda mais perdia chances do que sofria ataques. E o grande símbolo disso foi o chute com que Jill Roord acertou a bola na trave esquerda de Clark, aos 35'.

Sem conseguir entrar com troca de passes, já sem acelerar tanto com as bolas longas, a Holanda começava a depender demais de um lance individual para furar o bloqueio galês. Para a sorte das Leoas Laranjas, há uma jogadora plenamente capacitada para tais lances individuais. E ela fez um desses, brilhantes, para o 1 a 0 que desafogou a nacionalidade neerlandesa: já nos acréscimos do 1º tempo, Miedema dominou a bola na área, ajeitou-a (e nisso, já se livrou da marcação de Roberts) e arrematou, colocado, no ângulo esquerdo de Clark. Um golaço digno da marca histórica que alcançou: foi a 100ª vez que a camisa 9 das Leoas Laranjas acertou a bola na rede.

Um gol, passe para outro, e Pelova se destacou no triunfo (Leiting Gao/BSR Agency/Getty Images)

Prevendo que a situação ficaria difícil para as galesas, que precisariam ir mais ao ataque no segundo tempo, a técnica Rhian Wilkinson decidiu proteger mais a defesa das "Dragoas", com a entrada de Ella Powell. Porém, já aos 48', antes mesmo que tal alteração tivesse efeito, Buurman lançou a bola em profundidade pela direita, Van de Donk a alcançou e a cruzou para Victoria Pelova dominar, girar e fazer o segundo gol holandês. O domínio estava assegurado. Poderia ter sido ampliado aos 52', em bela jogada: Miedema deixou Roord na cara do gol, mas novamente a camisa 6 acertou a trave de Clark. Pelo menos, o terceiro gol não demorou: logo após outra bola na trave - Jackie Groenen, em um de seus chutes de fora -, a jogada seguiu, Pelova cruzou, e Esmee Brugts completou para as redes na pequena área.

A partir daí, o jogo estava decidido. Andries Jonker poderia levar a campo nomes como Chasity Grant - que teve sua chance, aos 70', chutando cruzado para fora. Poderia até dar alguns minutos à recuperada Lineth Beerensteyn, que teve possibilidades de marcar aos 75' (Olivia Clark defendeu). Ambas fizeram juntas a mesma jogada de ataque, aos 86': Beerensteyn passou, Grant concluiu, e Josephine Green tirou a bola na pequena área. Mesmo nos acréscimos, as Leoas Laranjas tiveram chances em dois chutes: Groenen (90' + 2, em sobra de escanteio, mandando de voleio para fora) e Pelova (também arrematando por cima, após passe de Grant, que aproveito erro de Olivia Clark na saída de bola).

Esperava-se domínio holandês nesta estreia na Euro. Ele veio. Com calma. A calma antes da "tempestade" dos duelos contra Inglaterra, na próxima quarta, e França, no dia 13.

Euro feminina 2025 - Fase de grupos - Grupo D

País de Gales 0x3 Holanda
Data: 5 de julho de 2025
Local: Allmend (Lucerna)
Juíza: Frida Klarlund (Dinamarca)
Gols: Vivianne Miedema, aos 45' + 3, Victoria Pelova, aos 48', e Esmee Brugts, aos 57'

PAÍS DE GALES
Olivia Clark; Josephine Green, Rhiannon Roberts, Gemma Evans e Lily Woodham; Ceri Holland (Carrie Jones, aos 79'), Angharad James-Turner, Hayley Ladd e Esther Morgan (Ella Powell, aos 46'); Jess Fishlock (Rachel Rowe, aos 64'); Hannah Cain (Ffion Morgan, aos 64'). Técnica: Rhian Wilkinson

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Kerstin Casparij (Lynn Wilms, aos 64'), Veerle Buurman (Caitlin Dijkstra, aos 81'), Dominique Janssen e Esmee Brugts (Sherida Spitse, aos 71'); Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Chasity Grant, aos 64') e Wieke Kaptein; Victoria Pelova, Vivianne Miedema (Lineth Beerensteyn, aos 71') e Jill Roord. Técnico: Andries Jonker