quinta-feira, 31 de maio de 2018

Duas caras

Uma Holanda "bifacial" contra a Eslováquia. No primeiro tempo, lenta e fraca; no segundo, ofensiva e perigosa. Poderia até ter virado o jogo, mas ficou no empate (Maurice van Steen/VI Images) 
Quando terminou o primeiro tempo do amistoso entre Holanda e Eslováquia, na cidade de Trnava, nesta quinta-feira, o sinal de alerta estava aceso. Afinal de contas, se era prudente atuar com três zagueiros, no 5-3-2, contra os eslovacos, a Holanda apresentara todos os defeitos indesejáveis no futebol "reativo" - sem contrabalançar com as qualidades. E até por isso, perdia por 1 a 0. Pelo menos, consertou os problemas no intervalo, com as entradas. Conseguiu o empate, provando que nem tudo estava perdido. Talvez, até pudesse ter vencido. De todo modo, ficou a impressão de que, se há ajustes necessários, ainda podem ser feitos antes da Liga das Nações.

E como há ajustes! O gol precoce dos donos da casa em Trnava - aos oito minutos, com preciso cruzamento de Marek Hamsik para o cabeceio de Adam Nemec - expôs alguns deles. Primeiro, a excessiva liberdade que o meio-campista teve para pensar a jogada que faria. Depois, a falha ao deixar Daley Blind na marcação: sozinho contra o mais alto atacante eslovaco, não havia muita chance de vencer a disputa no ar pela bola.

Estava dado o cenário para a melhoria da Eslováquia. Sem pressionar o começo das jogadas dos anfitriões, por causa do excesso de lentidão no meio-campo, a Laranja abria possibilidades para que tentassem acertar o gol de Jeroen Zoet. Fosse em jogadas trabalhadas pelas pontas (como aos 20', num cruzamento que Hamsik terminou desviando para fora, de cabeça), fosse em chutes perigosos (como aos 27', quando Juraj Kucka acertou o travessão, num arremate de fora da área). 

Se não pressionava, obviamente a equipe holandesa também não desarmava. E se não desarmava, não havia como a bola chegar à dupla de ataque formada por Quincy Promes e Memphis Depay. Para piorar, nenhum dos laterais avançava com perigo - nem Daryl Janmaat na direita, nem Patrick van Aanholt na esquerda -, nem perturbava a posse de bola da Eslováquia. Só restava esperar por raras trocas de passes, como aconteceu aos 14', quando Kevin Strootman cruzou e Donny van de Beek completou num fraco voleio, facilmente pego pelo goleiro Martin Dubravka. Ou então, por uma bola parada - como aconteceu aos 37', na única chance da Oranje digna de nota, quando Memphis Depay cobrou falta fortemente, e Dubravka voou para espalmar.

A entrada de Vormer simbolizou a melhora holandesa no segundo tempo (ANP)
Claro, haveria mudanças, já que era um amistoso. A má atuação da Holanda até ali as tornava até obrigatórias - depois do jogo, Strootman até comentou à Veronica, emissora holandesa que exibiu o jogo na tevê: "No intervalo, Koeman poderia até ter trocado mais jogadores". Trocou só um: no lugar de Van de Beek, houve a estreia de Ruud Vormer. E o meio-campista do Club Brugge já ajudou: o meio-campo ficou mais forte e compacto. Os laterais também aumentaram a velocidade. As jogadas pelos lados se tornaram mais frequentes já no começo da etapa complementar - foram muitos escanteios. Os desarmes no meio-campo cresceram de frequência.

E a Holanda, enfim, conseguiu o que desejava desde o começo: passou a dominar a Eslováquia. Já poderia ter conseguido o empate aos 54', quando Memphis concluiu um contra-ataque chutando forte na área, para outra boa defesa de Dubravka. Finalmente, aos 60', o empate veio, num arremate de fora - bela tentativa de Quincy Promes. Mostrando velocidade, Vormer quase foi premiado com um gol em sua estreia: aos 65', livre na área, tocou na saída de Dubravka, mas Tomas Hubocan evitou a virada de placar desviando a bola na pequena área.

A partir de então, Koeman passou a experimentar mais na escalação, com as entradas de gente na defesa (Terence Kongolo), no meio-campo (Marten de Roon) e no ataque (Steven Berghuis e Wout Weghorst). As chances ficaram mais escassas, mas a ofensividade seguiu. E entre marchas e contramarchas, a Holanda minorou a impressão ruim que ficara dos 45 minutos iniciais. Em seu perfil pessoal no Twitter, Ronald Koeman reconheceu: "Primeiro tempo fraco. Pouca velocidade, pouca agressividade, ruins com a bola nos pés. No segundo tempo saiu como deve ser". Antes disso, à Veronica, também assumiu: "No intervalo, não atirei nada em ninguém, mas naturalmente estava muito decepcionado. Não podemos começar como fizemos: das cinco bolas que dominamos, quatro foram perdidas e viraram contra-ataques adversários".

Pelo menos, ainda dá para salvar. Foi o que disse Strootman: "Primeiro, temos de treinar bem até segunda. Daí, precisamos continuar". É esperar para ver se haverá progressos no amistoso bem mais difícil contra a Itália. Para que seja melhor, a Holanda não poderá ter as duas caras mostradas contra a Eslováquia. Só a "boa" vista no segundo tempo.

Amistoso
Eslováquia 1x1 Holanda
Data: 31 de maio de 2018
Local: Anton Malatinsky, em Trnava
Árbitro: Bartosz Frankowski (Polônia)
Gols: Adam Nemec, aos 8'; Quincy Promes, aos 60'

Holanda
Jeroen Zoet; Daryl Janmaat, Stefan de Vrij, Matthijs de Ligt, Daley Blind (Terence Kongolo) e Patrick van Aanholt (Eljero Elia); Donny van de Beek (Ruud Vormer), Davy Pröpper (Steven Berghuis) e Kevin Strootman (Marten de Roon); Quincy Promes (Wout Weghorst) e Memphis Depay Técnico: Ronald Koeman

Eslováquia
Martin Dubravka; Peter Pekarik, Tomas Hubocan (Ljubomir Sajka), Milan Skriniar e Mazan; Juraj Kucka (Erik Sabo), Stanislav Lobotka e Marek Hamsik (Ondrej Duda); Robert Mak (Erik Pacinda), Adam Nemec (Michal Duris) e Albert Rusnak (Jaroslav Mihalik). Técnico: Jan Kozak

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