terça-feira, 16 de abril de 2019

O exterminador com futuro

A comemoração do Ajax para o gol da virada: De Ligt abriu caminho para a confirmação de mais uma noite mágica (BSR Agency)
Estava neste blog: por mais que o empate em 1 a 1 tenha sido melhor resultado para a Juventus, no jogo de ida das quartas de final da Liga dos Campeões, a atuação do Ajax no empate deixara esperanças na torcida. Quem sabe fosse possível repetir a brilhante atuação de Madri, contra o Real, nas oitavas da Champions - talento não faltava, já se sabia. Só demorou um pouco mais para os Ajacieden se acostumarem ao jogo. Mas quando o fizeram, veio a repetição do espetáculo. Que fez o Ajax chegar às semifinais do principal torneio europeu, após 22 anos, eliminando mais um gigante. Provavelmente, por ser e estar tão gigante quanto os outros grandes clubes europeus.

A demora para o Ajax impor seu estilo em Turim aconteceu porque a Juventus aprendeu a enfrentá-lo, com o começo sufocante dos Ajacieden na quarta-feira passada. O aprendizado foi mostrado com certas precauções da Juve, antes mesmo do jogo - como colocar Mattia de Sciglio para começar o jogo na lateral direita, já que João Cancelo tivera trabalho com David Neres. Com o jogo correndo, notava-se Dusan Tadic quase sem espaço para seus tradicionais "giros" na frente da área. Notava-se Miralem Pjanic muito mais ativo, não só impedindo Frenkie de Jong de sair para o jogo, como também iniciando as jogadas de ataque. Notava-se maior velocidade do time italiano do Piemonte nos ataques, principalmente com Alex Sandro, pela esquerda. 

E o Ajax sofria com tudo isso. Para piorar, a lesão de Noussair Mazraoui atrapalhou ainda mais a situação, colocando Daley Sinkgraven (recentemente retornado aos campos, após série de lesões musculares nos últimos anos) para tentar melhorar as coisas na lateral esquerda. No meio da área, Matthijs de Ligt cometia algumas falhas. Às vezes, elas eram cobertas por um Daley Blind que viveu uma das grandes noites da sua carreira, aparecendo em todas as partes da zaga para evitar os ataques juventinos. Porém, aos 28 minutos, De Ligt "empurrou" Veltman no puxa-puxa antes de um escanteio. Abriu caminho para Cristiano Ronaldo. Claro, o português aproveitou e fez 1 a 0. Parecia o começo do fim para os visitantes de Amsterdã.

Mas era justo notar: mesmo antes do gol da Juventus, o Ajax já começava a ter espaços para trocar passes, já começava a rondar a área adversária. O símbolo do destemor que crescia era Donny van de Beek. Às vezes esquecido quando os destaques dos Godenzonen são mencionados, o ponta-de-lança mostrava seu valor: sempre era opção para jogadas, aparecia para finalizar, partia para cima. Acabou até tendo sorte no lance do gol de empate, aos 34 minutos, quando o chute de Hakim Ziyech desviou na defesa, e De Sciglio dava condição. Mas foi uma sorte merecida para Van de Beek. Que, a partir do empate, teve mais gente para lhe ajudar.

Van de Beek, o símbolo do destemor Ajacied na virada (VI Images)
Porque, desde que fez 1 a 1, o Ajax recomeçou a impor seu estilo, levemente. Fez a Juventus saber que havia um outro gigante europeu como adversário. Taticamente, mais espaços apareceram. No segundo tempo, Erik ten Hag notou isso, conforme falou na zona mista do Allianz Stadium ao jornal Algemeen Dagblad: "Tentamos algumas coisas, como mandar dois meio-campistas para a zaga e deixar os laterais avançarem. Assim você consegue jogar bola". 

E como o Ajax jogou no segundo tempo. De Jong teve espaço para começar a ditar o jogo com seus passes. Tadic teve espaço para seus giros certeiros, sempre fazendo a escolha certa para acelerar os ataques Ajacieden. Ziyech ajudava Van de Beek: o marroquino mostrava o tamanho de sua técnica, com chutes e passes. Mesmo David Neres, um tanto quanto precipitado no primeiro tempo, crescia de produção com os Amsterdammers. As trocas de passe envolviam mais e mais a Juventus, que já não tinha a bola - e não conseguia criar chances para as finalizações de Cristiano Ronaldo e Moise Kean (substituto de um apagado Paulo Dybala).

As chances iam se avolumando no segundo tempo. A defesaça de Wojciech Szczesny, aos 52', pegando firme com uma só mão o chute de Tadic. A outra defesaça do goleiro polonês, cinco minutos depois, tirando com a ponta do dedo o chute colocado de Van de Beek. O erro de Ziyech aos 60': livre na esquerda da área, preferiu tocar para o meio ao invés de chutar. A salvação de Pjanic aos 63', evitando gol certo de Ziyech. Mas aos 67', não houve como evitar. De Ligt mostrou que aprendera com Cristiano Ronaldo: subida imponente ao alto, num escanteio, para a virada que o Ajax tanto merecia.

Virada que não foi mais ameaçada pela Juventus. Porque este Ajax é diferente do time finalista da Liga Europa 2016/17: é mais seguro, não corre riscos se não precisa corrê-los. Assim, exterminou mais um favorito em seu caminho. Deixou claro o tamanho do acerto que foram as contratações de Blind e Tadic, esteios de experiência. E deixou claro que todos os jovens - De Ligt, De Jong, Van de Beek, David Neres - são exterminadores com muito futuro.

Liga dos Campeões - quartas de final (jogo de volta)

Juventus 1x2 Ajax

Local: Allianz Stadium (Turim)
Data: 16 de abril de 2019
Árbitro: Clément Turpin (França)
Gols: Cristiano Ronaldo, aos 28', e Donny van de Beek, aos 34'; Matthijs de Ligt, aos 67'

Juventus
Wojciech Szczesny; Mattia de Sciglio (João Cancelo), Daniele Rugani, Leonardo Bonucci e Alex Sandro; Emre Can, Miralem Pjanic e Blaise Matuidi; Federico Bernardeschi (Rodrigo Bentancur), Paulo Dybala (Moise Kean) e Cristiano Ronaldo. Técnico: Massimiliano Allegri.

Ajax
André Onana; Joël Veltman, Matthijs de Ligt, Daley Blind e Noussair Mazraoui (Daley Sinkgraven) (Lisandro Magallán); Lasse Schöne, Frenkie de Jong e Donny van de Beek; David Neres, Dusan Tadic e Hakim Ziyech (Klaas-Jan Huntelaar). Técnico: Erik ten Hag

Um comentário:

  1. Mais uma vitória épica da equipe de Amsterdã que vem fazendo história. O futebol merecia um time como este Ajax e este Ajax merece o título. Espero que o desfecho seja o título europeu no início de junho em Madri.
    Felipe eu consegui comprar o livro do Van der Sar escrito pelo Jaap Visser. Estou esperando ansiosamente a entrega dele.

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