segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Mais presenças. Mais chegadas?

Antes mesmo de qualquer competição europeia começar nesta temporada 2021/22, os Países Baixos já podem ter boas perspectivas. Para começo de conversa, a boa campanha do Ajax na Liga Europa da temporada passada fez com que o país chegasse um pouco mais perto de Portugal, na classificação dos coeficientes europeus - a Holanda está na sétima posição dessa lista. E também porque desde a temporada 2007/08 a nação não tinha tantos clubes em fases de grupos de torneios europeus: todos os cinco neerlandeses disputando competições continentais chegaram às chaves (ainda que sendo eliminados em fases preliminares). Pelo menos no início, é inegável que a presença holandesa aumentou - até pelo início da Conference League, a Liga de Conferências, terceiro torneio de clubes no continente, criado especialmente para satisfazer nações sem tanta frequência nas fases decisivas de Liga dos Campeões, ou mesmo de Liga Europa. 

A partir disso é que vem uma espécie de obrigação. Certo, a Holanda melhorou na lista de coeficientes - até mesmo por agora serem descartados os resultados da temporada 2017/18, quando os clubes do país tiveram péssimos resultados (Ajax eliminado nas fases preliminares de Champions e Europa League, e o PSV também eliminado antes mesmo dos grupos nesta última). Mas se quiser continuar mais perto das cinco ligas mais visíveis da Europa - e mesmo superior a ligas de seu tamanho, como Portugal, Bélgica ou Rússia -, a Holanda não pode contar só com o Ajax, responsável por 87% dos pontos ganhos no coeficiente, nos últimos quatro anos. Até porque os Ajacieden já ficam na fase de grupos da Liga dos Campeões, a joia da coroa, há duas temporadas. A campanha marcante em 2018/19 fica mais e mais para trás, e é preciso que outros clubes façam boas campanhas, além do de Amsterdã.

Pelo menos a princípio, nos grupos que couberam aos times holandeses, parece possível. É ver como eles chegam - para Champions League, Europa League ou Conference League.

Liga dos Campeões

Já são duas temporadas de eliminações na fase de grupos da Liga dos Campeões. O Ajax caiu num grupo em que pode sonhar com a ida às oitavas de final - e será muito cobrado para isso (Reuters)

Ajax (lista de inscritos)

Embora ainda haja ecos saudosos da campanha em que o Ajax impressionou o mundo, indo às semifinais em 2018/19 (e só sendo eliminado praticamente no último lance do jogo de volta), o fato é que os Amsterdammers já têm um time quase totalmente diferente. Já há duas temporadas, são eliminados na fase de grupos - e isso até rendia perigos, com o clube caindo no pote 3 do sorteio dos grupos. Quis a sorte que os Ajacieden caíssem numa chave em que têm chances de classificação: mesmo com o Borussia Dortmund como franco favorito à liderança, há chances de disputa pela segunda vaga nas oitavas de final, com Sporting-POR e Besiktas-TUR. E o Ajax sabe: diante dessas boas possibilidades, a pressão pela classificação será grande. 

Há jogadores remanescentes da campanha de dois anos atrás: Noussair Mazraoui, Daley Blind, Dusan Tadic (mesmo perdendo espaço, Nicolás Tagliafico e David Neres também podem ajudar). Outros nomes experientes voltaram de lá para cá, como Maarten Stekelenburg e Davy Klaassen. O ataque continua forte, com nomes como Steven Berghuis, Sébastien Haller e Antony - tanta variedade que causa até dificuldades ao técnico Erik ten Hag na escalação. Sem contar os nomes vindos da base: Ryan Gravenberch puxa a fila, mas há Devyne Rensch, Jurriën Timber, Kenneth Taylor... ainda assim, o ritmo lento com que o Ajax voltou à temporada (mesmo quando vence no Campeonato Holandês, parece apenas jogar para o gasto) deixa a torcida desconfiada. Não há melhor chance para os Amsterdammers apresentarem suas capacidades do que vencerem o Sporting, fora de casa, logo na estreia, quarta-feira.

Liga Europa

A incompetência (e algumas fragilidades no grupo) impediram o PSV de chegar à fase de grupos na Liga dos Campeões. Será necessária toda a atenção para cumprir expectativas na Liga Europa, num grupo equilibrado (Getty Images)

PSV (lista de inscritos)

Passar facilmente por Galatasaray-TUR e Nordsjaelland-DIN, na segunda e terceira fases preliminares da Liga dos Campeões, ampliou na torcida dos Boeren a esperança de que era possível alcançar os grupos da Champions League. Na decisão da vaga, contra o Benfica, houve qualidades vistas, mesmo na derrota por 2 a 1 no jogo de ida, em Lisboa. Em Eindhoven, com estádio lotado (algo valioso, em tempos de pandemia), a expulsão de Lucas Veríssimo, ainda no primeiro tempo, ampliou a esperança de que era possível. Mas faltou atacante. Faltou aproveitar as chances. E o empate que deu a vaga aos benfiquistas decepcionou um pouco.

Decepção superada. Afinal de contas, o PSV provara que tinha um time capacitado: o bom começo de André Ramalho na zaga, a experiência de Marco van Ginkel e Davy Pröpper, a velocidade de Noni Madueke e Cody Gakpo, a habilidade de Mario Götze. Se faltavam opções de ataque, elas vieram na reta final da janela de transferências, com o empréstimo do brasileiro Carlos Vinícius. Além do mais, nomes que pareciam destinados a vendas, como Bruma ou Ritsu Doan, foram reabilitados no grupo do técnico Roger Schmidt. E há as revelações - Fodé Fofana, atacante, à frente. Como único time a ter quatro vitórias em quatro jogos no Campeonato Holandês, o PSV chega dando a impressão de que pode ir bem na Liga Europa. Precisará comprovar, no equilibrado grupo B em que está: Monaco-FRA e Real Sociedad-ESP têm times de nível parecido. A disputa será dura.

Conference League

O AZ perdeu jogadores importantes. Fracassou ao tentar chegar à Liga Europa. Mas tem boas chances em seu grupo na Conference League (Getty Images)

AZ (lista de inscritos)

Pode um time fragilizado se dizer com sorte? Tendo em vista a situação do AZ, sim. O clube de Alkmaar vive situação de reformulação. Os grandes destaques dos últimos anos se foram: Marco Bizot, Teun Koopmeiners, Myron Boadu, Calvin Stengs. Nos play-offs da Liga Europa, ficou claro que algo faltava à equipe: houve chance de reverter a vantagem do Celtic no jogo de ida, mas mesmo com todo o esforço, os Alkmaarders viram o time escocês levar a vaga na LE em pleno AFAS Stadion. E o início inconstante no Campeonato Holandês indica que o técnico Marcel Jansen terá de gastar algum tempo à procura de uma equipe confiável, que volte a sonhar em desafiar os times grandes na Holanda como andou desafiando, antes e durante a pandemia. Só que o grupo D em que os Alkmaarders caíram na Conference traz adversários acessíveis, que podem ser superados: Cluj-ROM, Randers-DIN, Jablonec-TCH.

Dos destaques, ficaram o lateral esquerdo Owen Wijndal e o atacante Jesper Karlsson. Há nomes conhecidos que também formam uma base já relativamente entrosada: os zagueiros Timo Letschert e Bruno Martins Indi (agora, ficando em definitivo), os meio-campistas Fredrik Midtsjo e Dani de Wit. E o grego Vangelis Pavlidis é um reforço razoável para o ataque. Certo, ainda será necessário algum tempo até que o AZ atinja o seu pleno potencial. Mas tendo capacidade e melhorando em pontos fracos na temporada passada (a falta de pontaria, por exemplo), o time alvirrubro pode buscar a vaga na segunda fase. Mesmo enfraquecido.

Após um rápido susto, o Feyenoord se aprumou para chegar aos grupos da Conference League. Se continuar atento e intenso, pode ir às oitavas de final, num grupo equilibrado (ANP)

Feyenoord (lista de inscritos)

Bastaram as fases preliminares da Conference League acontecerem para a má impressão deixada pelo time de Roterdã na temporada passada se dissipar. Certo, o susto contra o Drita-KOS, enfrentado na segunda fase preliminar, foi grande: empate sem gols na ida, virada para 3 a 2 na volta (com o gol da vitória feito aos 89'). Mas dali para frente, só segurança: o Stadionclub passou com facilidade por Luzern-SUI (terceira fase preliminar) e Elfsborg-SUE (play-offs). Contra o time sueco, inclusive, a superioridade no jogo de ida foi tanta - 5 a 0 em De Kuip - que nem mesmo ser derrotado por 3 a 1 na volta assustou tanto.

O Feyenoord reanimou a torcida não só pelas classificações, mas também pelo estilo veloz no ataque, como se esperava do técnico Arne Slot: a perda de Steven Berghuis foi compensada pela chegada de Alireza Jahanbakhsh, pelo bom começo de Luis Sinisterra na ponta-esquerda, até pela ajuda que Guus Til tem dado nas chegadas vindas do meio-campo. Porém, a derrota recente para o Utrecht (Holandês) lembrou a torcida: o Feyenoord até melhorou, mas seu grupo ainda parece curto demais para as exigências da temporada. Correu-se para resolver isso na janela de transferências, com os empréstimos de Reiss Nelson e Cyriel Dessers para o ataque. Terão de provar seu valor num grupo equilibrado, o E: tanto Union Berlin-ALE quanto Slavia Praga-TCH são equipes capazes de se classificar. Não se pode descartar nem mesmo o Maccabi Haifa-ISR. Se o Feyenoord quer manter a confiança da torcida, superar essa chave será um bom augúrio.

O Vitesse já comemorou só por chegar à fase de grupos da Conference League (Pro Shots)

Vitesse (lista de inscritos)

Se o AZ deu sorte, o Vitesse deu azar. Nem tanto, é claro: só ter chegado aos grupos na Conference League já rende um dinheiro valioso para o clube de Arnhem. O que justificou em partes a comemoração grande do Vites pela vaga. O outro motivo de tanta celebração vista foi a dificuldade encarada desde a terceira fase preliminar. O Dundalk irlandês exigiu bastante, arrancando empate por 2 a 2 em Arnhem - só fora de casa o time aurinegro neerlandês se aliviou, fazendo 2 a 1 e indo decidir vaga na fase de grupos. O adversário era o Anderlecht-BEL, bem mais tradicional. Outra vez, classificação com fortes emoções: na ida, fora de casa, o Vitesse arrancava 3 a 2, mas tomou o empate nos acréscimos. Já na volta, em Arnhem, com a torcida apoiando, um grande dia de Maximilian Wittek (dois gols do ala esquerdo), vitória por 2 a 1 surpreendendo os Mauves, e a ida aos grupos.

Tudo para descobrir que a situação será bem mais difícil do que se pensava. Porque, no grupo G em que caiu, há um favorito destacado: o Tottenham. Mesmo na disputa por outra vaga nas oitavas de final, o Rennes francês parece mais confiável do que o Vitesse. Ainda assim, há jogadores em quem a torcida pode apostar. Ainda que quisessem sair do clube na janela de transferências, tanto Riechedly Bazoer quanto Oussama Tannane ficaram em Arnhem. Nomes como o meio-campo Matus Bero e o atacante Loïs Openda podem ajudar. E alguns reforços já provaram valor, como o goleiro Markus Schubert, substituto de Remko Pasveer, agora no Ajax. Além do mais, na temporada passada, o Vitesse foi elogiado exatamente pela solidez que lhe rendeu ótimos resultados em campo: quarta colocação na Eredivisie, vice-campeonato na Copa da Holanda. Será necessário mais, para tentar outra surpresa e ir além. Menos por demérito do Vitesse do que por causa da sorte...

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