terça-feira, 11 de abril de 2023

Lá, como cá

A seleção feminina da Holanda também tem boa impressão após os amistosos, como o Brasil. Até mesmo a derrota valeu pelo que se jogou (Pro Shots)

As datas FIFA do futebol feminino renderam muito otimismo a algumas seleções. Cá na América do Sul, o Brasil sai de seus compromissos com a impressão de que será competitivo na Copa do Mundo de mulheres que vem aí. Tanto pelo desempenho honroso na "Finalíssima" da quinta-feira passada, causando problemas à Inglaterra previamente favorita mesmo com a derrota nos pênaltis, quanto (e até principalmente) pela vitória segura frente a Alemanha, por 2 a 1, nesta terça. Pois bem: embora em menor escala, a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) também tem com que se alegrar. Teve sua derrota contra as alemãs (1 a 0, na sexta passada), mas mostrou evoluções ali. E a goleada por 4 a 1 contra a Polônia, nesta terça, mesmo diante de um adversário de nível menor, também indicou que as "Leoas Laranjas" têm alguma condição de fazerem papel digno em Austrália/Nova Zelândia. 

Em primeiro lugar, antes ainda de bola rolando, a impressão melhor que a Holanda passou tem a ver com o bom clima estabelecido no grupo. Após os tempos sem entrosamento com Mark Parsons, Andries Jonker parece ter autoridade natural e tranquila com as líderes do grupo. Daniëlle van de Donk reconheceu isso ("É exatamente o técnico de que a gente precisava. O futebol não é simples, mas ele faz parecer que é", elogiou ao site NUSport). E aproveitou para comentar qual é o clima preferido entre as jogadoras: "É algo que começou desde [Sarina] Wiegman, que não tem medo de ninguém. Desde ela, existe uma mentalidade vencedora. Se você tem medo de algo, já está perdendo de 1 a 0".

De nada adiantaria o bom ambiente de volta, porém, se o desempenho em campo fosse pobre - ou mesmo desatento, como visto algumas vezes nos amistosos de fevereiro, contra a Áustria. De fato, a Holanda teve algo de diferente nos amistosos de agora. A começar pela opção por um esquema tático que já se revelara mais promissor: o esquema com três zagueiras, tendo Sherida Spitse recuada para ser "líbero". Inclusive, tal esquema teve uma roupagem bem mais ofensiva nos amistosos: com Victoria Pelova como uma verdadeira "ala direita", tendo Kerstin Casparij na esquerda contra a Alemanha e Esmee Brugts, recuperada de lesão leve, contra a Polônia. Ou seja: era o caso de falar em um 3-5-2, ou até num 3-4-3.

Isso resultou numa atuação muito ofensiva na sexta passada, contra a Alemanha. Após um começo cauteloso de parte a parte, a Holanda começou a circular mais a bola. Logo, os espaços vieram. As chances também. O problema é que foram perdidas, por aquela que parece (por enquanto) a mais cotada para preencher no time a lacuna da ausência de Vivianne Miedema: Lineth Beerensteyn. No primeiro tempo, a atacante da Juventus chegou à área duas vezes - nas duas, foi impedida por defesas de Merle Frohms. No segundo, ficou frente a frente com Ann-Katrin Berger, substituta de Frohms, e completou em cima da goleira, e foi desarmada por Sara Doorsoun em outra oportunidade.

Beerensteyn foi "vilã", pelos gols perdidos contra a Alemanha. Mas sabia que podia consertar. Consertou, com outras boas aparições contra a Polônia (Pro Shots)

Se no ataque as chances perdidas foram o principal problema (além de Beerensteyn, Van de Donk acertou a trave, e Damaris Egurrola Wienke também perdeu grande chance no fim), na defesa se notou que as bolas altas são o grande problema da Holanda, na atualidade. Principalmente se surgem em bolas paradas. Foi num escanteio que Sydney Lohmann subiu sozinha para cabecear e fazer o 1 a 0 da Alemanha - derrota lamentada, num jogo em que uma das zagueiras, Stefanie van der Gragt, celebrava seus 100 jogos com a camisa da seleção. E contra a Polônia, quando a Holanda criava mais chances, uma única jogada de cruzamento teve desvio acidental em Van de Donk - e Ewa Pajor, goleadora atual da Liga dos Campeões feminina, saiu sozinha na pequena área para fazer 1 a 0.

Pelo menos, o dinamismo ofensivo da Holanda foi visto de novo no amistoso contra as polonesas. Se Beerensteyn foi vítima das críticas no amistoso da sexta passada ("Beerensteyn não é Miedema", alfinetou a revista Voetbal International), se até ouviu algumas palavras particulares de Andries Jonker no decorrer do jogo contra a Alemanha, soube manter a postura altiva ("Espero ter tantas ou mais chances [contra a Polônia] do que tive contra a Alemanha. Aí a bola vai entrar. É bom que o técnico confie em mim, e só depende de mim mostrar o que posso". Beerensteyn mostrou - "participando" do gol de empate, ao pressionar a zagueira polonesa Malgorzata Grec (que cometeu gol contra), e enfim fazendo o 2 a 1.

Mas nem só de Beerensteyn viveu o ataque da Holanda. Viveu de Martens, enfim mais ativa contra a Polônia, após (outra) atuação apagada contra as alemãs. Viveu de Roord, aparecendo bastante pela direita. Viveu de Brugts, que cruzou para o gol de Beerensteyn. Viveu de Pelova, cada vez mais segura de sua vaga entre os titulares. Mais atrás, viveu de Damaris Egurrola Wienke: enquanto pôde jogar (atuou contra a Alemanha, mas um choque de cabeças a forçou a sair logo no começo contra a Polônia), a volante mostrou como deixa o meio-campo holandês mais dinâmico. Viveu até da estreia de Wieke Kaptein, 17 anos, atacante do Twente, que ganhou sua chance - mas mantém os pés no chão: "Estar na Copa seria um sonho, mas não é real".

Enfim: lá como cá, otimismo há. A Holanda voltou a ter alguma perspectiva na Copa do Mundo feminina. Mesmo sem Vivianne Miedema - embora até sua presença, nos treinos da segunda-feira passada, tenha contribuído para a boa impressão destas datas FIFA.

Miedema (à direita, ao lado de Van Veenendaal) deixou claro, ao ir a um treino e a Holanda x Polônia: mesmo fora de campo pela lesão, continua muito vinculada à seleção (Pro Shots)

Amistosos

Holanda 0x1 Alemanha 
Data: 7 de abril de 2023
Local: Fortuna Sittard Stadion (Sittard)
Árbitra: Olatz Rivero (Espanha)
Gol: Sydney Lohmann, aos 63'

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Victoria Pelova, Stefanie van der Gragt, Sherida Spitse (Aniek Nouwen, aos 74'), Dominique Janssen e Kerstin Casparij (Caitlin Dijkstra, aos 83'); Jill Roord, Damaris Egurrola e Daniëlle van de Donk; Lieke Martens (Lynn Wilms, aos 74') e Lineth Beerensteyn. Técnico: Andries Jonker

ALEMANHA
Merle Frohms (Ann-Katrin Berger, aos 46'); Sophia Kleinherne, Sara Doorsoun, Sjoeke Nüsken e Felicitas Rauch (Hagel, aos 62'); Sara Däbritz, Lena Oberdorf (Alexandra Pöpp, aos 62') e Sydney Lohmann (Lina Magull, aos 62'); Svenja Huth (Klara Bühl, aos 46'), Tabea Wassmuth e Jule Brand (Laura Freigang, aos 83'). Técnico: Martina Voss-Tecklenburg

Holanda 4x1 Polônia 
Data: 11 de abril de 2023
Local: Het Kasteel (Roterdã)
Gols: Ewa Pajor, aos 32', Malgorzata Grec (contra), aos 43', Lineth Beerensteyn, aos 52', Lieke Martens, aos 76', e Jill Roord, aos 83'

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Victoria Pelova (Caitlin Dijkstra, aos 81'), Stefanie van der Gragt (Kerstin Casparij, aos 67'), Sherida Spitse, Dominique Janssen e Esmee Brugts (Lynn Wilms, aos 67'); Jill Roord, Damaris Egurrola (Aniek Nouwen, aos 30') e Daniëlle van de Donk; Lineth Beerensteyn (Katja Snoeijs, aos 81') e Lieke Martens (Wieke Kaptein, aos 81'). Técnico: Andries Jonker

POLÔNIA
Kinga Szemik; Zofia Buszewska, Malgorzata Mesjasz, Malgorzata Grec e Martina Wiankowska (Klaudia Lefeld, aos 86'); Sylwia Matysik, Tanja Pawollek e Natalia Wróbel (Kinga Kozak, aos 64'); Natalia Padilla-Bidas (Kayla Adamek, aos 86'), Ewa Pajor e Weronika Zawistowska. Técnica: Nina Patalon

Nenhum comentário:

Postar um comentário