terça-feira, 14 de novembro de 2023

Vem a bonança?

A seleção masculina da Holanda tem o lugar na Euro muito perto, quase garantido. Até por isso, os problemas parecem mais amenos, embora continuem (KNVB Media/Divulgação)

Diz o ditado que "depois da tempestade vem a bonança". E o 2023 da seleção masculina da Holanda (Países Baixos) tem sido tempestuoso: o começo preocupante nas eliminatórias da Euro 2024, a decepção na Liga das Nações em casa, muitos machucados ao longo das convocações... mas de um jeito ou de outro, a Laranja cumpriu as tarefas que precisava cumprir na qualificação. A bonança deve vir nestas datas FIFA: tem totais condições de garantir a vaga na Euro, contra as duas seleções pior colocadas no grupo B: a Irlanda (neste sábado, 18, em Amsterdã) e Gibraltar (na terça, 21 - no balneário português do Algarve, por reformas no estádio Victoria, onde os gibraltinos mandam suas partidas em casa). 

A situação da Holanda é extremamente cômoda, aliás. Em segundo lugar no grupo B, com 12 pontos, basta uma vitória, em qualquer uma dessas partidas supracitadas, para ter vaga direta na Euro. Se a Grécia, terceira colocada, também tem 12 pontos, o primeiro critério de desempate usado pela UEFA (confronto direto) traz vantagens em caso de mesma pontuação - a Holanda venceu os dois jogos nas eliminatórias (3 a 0 em Eindhoven, 1 a 0 em Atenas). E os gregos só têm mais um jogo na campanha, no dia 21, novamente em Atenas, contra... a França, a grande seleção do grupo, já garantida na Euro. Caso os Azuis superem os helênicos no dia 21, bastarão dois empates para a Holanda. E mesmo em caso de duas derrotas holandesas e uma derrota grega, as duas equipes seguiriam com 12 pontos - e a regra do confronto direto entraria em ação. Somente uma vitória grega, sem nenhum triunfo holandês, faria com que os neerlandeses precisassem da repescagem - na qual já estão garantidos, como vencedores do seu grupo na Liga das Nações passada. Em suma: a Laranja precisará ser muito incompetente para ficar de fora da Euro.

O que não quer dizer que os problemas acabaram. Novamente, muitas lesões impedem que Ronald Koeman tenha o melhor que poderia à sua disposição para os treinos no KNVB Campus, o centro da federação, na cidade de Zeist. Para começar "apenas" com dois nomes fundamentais para a equipe, tanto Frenkie de Jong quanto Memphis Depay ainda se recuperam dos problemas que já os tiraram dos jogos de outubro (De Jong no tornozelo direito, Memphis no músculo posterior da coxa), e nem foram convocados. De lá para cá, a zaga perdeu Matthijs de Ligt (que voltou de contusão e já sofreu outra) e Micky van de Ven (o problema no músculo posterior da coxa deverá tirá-lo de campo pelo resto do ano). Já no domingo passado, antes mesmo das apresentações da delegação, foi anunciado o corte de Nathan Aké, talvez o melhor defensor da seleção no ano - provavelmente por uma lesão leve. Na segunda, mais dois desligamentos: tanto Brian Brobbey quanto Steven Bergwijn foram dispensados logo após chegarem, por problemas leves. Nos treinos de quinta-feira, Jeremie Frimpong se machucou, e foi mais um a deixar o grupo por causa disso - de quebra, Lutsharel Geertruida também sofreu lesão, ainda ficou mais um dia com o grupo, mas foi cortado definitivamente na sexta.

Só restou a Koeman apelar, novamente, para estreantes na convocação. O mais falado foi Jorrel Hato, defensor de 17 anos, que deverá ficar na reserva de Daley Blind (também elogiado, como parte da impressionante campanha do Girona, líder do Campeonato Espanhol). Até compreensível, diante da precocidade de Hato, dos raros nomes a causar sorrisos numa temporada problemática do Ajax. Em janeiro, ele estreou pelo time principal Ajacied; em 20 de fevereiro, a primeira partida pelo Campeonato Holandês, em goleada contra o Cambuur; em abril, o defensor se tornou titular de vez; em setembro, estreou pela seleção sub-21; e agora, está convocado para a equipe principal da Holanda. De quebra, mesmo novo, Hato já mostra alguma versatilidade, jogando tanto no miolo de zaga quanto na lateral esquerda. Koeman reconheceu a importância de um nome para a decisão: Michael Reiziger, técnico da seleção sub-21. "Falamos sobre os jovens da sub-21. Eu procurava um canhoto, era importante (...). Eu até previ, já que Aké foi dispensado. Vi que tinha razão".

Em meio a muitas ausências na zaga da Laranja, Jorrel Hato é a novidade da vez (KNVB Media/Divulgação)

Outra novidade da Holanda era até pedida aqui e ali. E as ausências do ataque - Memphis Depay, Brobbey, Bergwijn, Noa Lang (este, voltando de problema muscular, mas ainda sem condições) - abriram caminho para Thijs Dallinga, 23 anos, mostrando alguma qualidade pelo Toulouse no Campeonato Francês e pela Liga Europa. Outra presença costumeira na seleção sub-21, Dallinga pode ter chance de jogar, dependendo dos resultados que a Holanda conseguir. Embora tenha deixado bem claro que ainda não o conhece a fundo, Ronald Koeman abriu a possibilidade: "Minha escolha por Wout [Weghorst] e [Brian] Brobbey seguia e segue firme. Mas pelas ausências, você olha mais coisas. Daí ele [Dallinga] entrou no cenário".

Mas mesmo as várias lesões já são vistas com mais resignação por Koeman: "Você se acostuma. Sabemos que há muitas contusões por aí. No nosso caso, tem sido mais extremo". Além do mais, algumas alternativas encontradas meio à força começaram a agradar na Holanda. No gol, por exemplo, por mais que Justin Bijlow e Mark Flekken tenham voltado às convocações, o jovem Bart Verbruggen se saiu discreta e normalmente nos jogos de outubro - e provavelmente será o titular contra Irlanda e Gibraltar. Na lateral esquerda, Quilindschy Hartman já agrada a ponto de se pensar que ele pode ser para o lado canhoto o que Denzel Dumfries é no destro: ou seja, um ala que é constante opção de ataque e aumenta a velocidade do jogo holandês. E no meio-campo, se Frenkie de Jong fará falta, Tijjani Reijnders vive fase boa o suficiente para ser considerado opção natural, sem muitos problemas. Até mesmo um nome que retorna foi destacado: o volante Jerdy Schouten, chamado pela última vez na fase de grupos da Liga das Nações (2022), que veio do Bologna ao PSV querendo um espaço na seleção holandesa, afinal conseguido ("É natural que tenha sido chamado, pelo que vem jogando", elogiou Ronald Koeman). E isso, sem contar Xavi Simons, jovem cada vez mais - e corretamente - badalado...

Enfim, como se trata da seleção masculina da Holanda, de histórico que causa desconfianças, até se pode desconfiar que Irlanda (principalmente) e Gibraltar podem perturbar o caminho rumo à Euro 2024. Mas o clima visto nos treinos indica que, para os jogadores, o pior já passou. Depois das tempestades, a bonança da vaga no torneio continental está ao alcance da mão para a Laranja. A não ser que ela falhe de novo e dê razão à versão "errada" do ditado, creditada a Vicente Matheus (1908-1997), ex-presidente do Corinthians, segundo a qual, depois da tempestade, vem a "ambulância"...

Os 23 convocados da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA

Goleiros: Bart Verbruggen (Brighton-ING), Mark Flekken (Brentford-ING) e Justin Bijlow (Feyenoord)

Laterais: Denzel Dumfries (Internazionale-ITA), Jordan Teze (PSV), Quilindschy Hartman (Feyenoord) e Daley Blind (Girona-ESP)

Zagueiros: Virgil van Dijk (Liverpool-ING), Stefan de Vrij (Internazionale-ITA) e Jorrel Hato (Ajax)

Meio-campistas: Tijjani Reijnders (Milan-ITA), Marten de Roon (Atalanta-ITA), Teun Koopmeiners (Atalanta-ITA), Joey Veerman (PSV), Jerdy Schouten (PSV) e Mats Wieffer (Feyenoord)

Atacantes: Donyell Malen (Borussia Dortmund-ALE), Xavi Simons (RB Leipzig-ALE), Cody Gakpo (Liverpool-ING), Calvin Stengs (Feyenoord), Wout Weghorst (Hoffenheim-ALE) e Thijs Dallinga (Toulouse-FRA)

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