terça-feira, 26 de março de 2024

Mais ousadia, por favor

Contra a Alemanha, a Holanda se esforçou inegavelmente. Só que lhe faltou ousadia para buscar a vitória, que acabou sendo da rival (Maurice van Steen/ANP/Getty Images)

Mesmo com a goleada contra a Escócia, estava claro que a seleção masculina da Holanda (Países Baixos) precisava melhorar no amistoso desta terça - até porque seria contra a Alemanha, seleção que atualmente dá passos largos de volta a um bom nível técnico. Contra a rival histórica, a Laranja ficou retraída na maior parte do tempo. Talvez, retraída até demais. E se houve uma lição que a derrota para os alemães por 2 a 1 deixou, foi a de que a equipe nacional neerlandesa pode e deve ser mais ousada, se quer superar as expectativas para ela na Eurocopa que vem aí. Capacidade para isso, ela mostrou que tem.

Tanto tem que aos 4', praticamente no primeiro lance de ataque do amistoso, a favor da Oranje, saiu o gol. No erro cometido por Jonathan Tah ao tentar dominar a bola, Memphis Depay estava a postos, roubou a bola do zagueiro, e cruzou para o meio da área. Lá estava um jogador que, mais uma vez, aproveitou a chance que teve: Joey Veerman, chutando de primeira, fazendo 1 a 0 e iniciando uma ótima atuação, sempre acelerando a partida, sempre controlando bem a bola e ajudando Tijjani Reijnders. Até porque Veerman tinha um conhecido a lhe ajudar no meio: Jerdy Schouten - titular, seu colega de PSV, muito bem na proteção ao trio de zagueiros que manteve a habitual segurança.

Mas se Matthijs de Ligt, Virgil van Dijk e Nathan Aké quase sempre foram seguros pelo chão, a Alemanha logo achou seu jeito. Primeiro, numa bola parada: um escanteio ensaiado, logo aos 11, em que Maximilian Mittelstädt fez 1 a 1 num chute indefensável, batendo de primeira no ângulo direito do goleiro Bart Verbruggen. Depois, os alemães começaram a dominar o primeiro tempo, com os jogadores próximos, trocando passes rapidamente. Principalmente com a dupla Jamal Musiala-Ilkay Gündogan. Aos 17', o primeiro ajeitou, o segundo chegou livre na corrida e finalizou, para ótima defesa de Verbruggen. Aos 24', Florian Wirtz participou de uma jogada também, e seu passe só não foi finalizado por Musiala (que escorregou demais em campo) porque Van Dijk desarmou na hora do chute. E aos 28', Mittelstädt cruzou, mas Verbruggen conseguiu a defesa. Enquanto a Alemanha tinha mais a bola, a Holanda ficava deliberadamente na defesa, esperando um espaço para o contra-ataque. Mas ele só apareceu uma vez, aos 18', quando Donyell Malen (atento na direita, com boa atuação) bateu fraco, e o goleiro Marc-André Ter Stegen afastou a bola sem problemas.

A Holanda nem jogava mal. Nomes como Memphis Depay, Denzel Dumfries, Malen, Reijnders e Veerman ajudavam bem, e a equipe como um todo tinha mais firmeza nas divididas. Só que faltava mais ousadia, se a Holanda quisesse efetivamente a vitória. Ela veio, no começo do segundo tempo, com Dumfries avançando ainda mais do que costuma fazer. E as chances de gol também vieram. Com Memphis, aos 49', após cruzamento de Dumfries afastado parcialmente por Antonio Rüdiger. No escanteio da sequência, aos 50', Veerman cobrou, Malen arriscou o voleio, e Ter Stegen pegou. Quatro minutos depois, Memphis Depay carregou a bola da defesa até o ataque, até sofrer falta - que Blind bateu para fora. Chances mais próximas ainda viriam: aos 57', Malen cruzou da direita, Memphis desviou levemente, mas Reijnders perdeu o gol por muito, chutando acima do gol. E aos 61', após tabela com Malen, que cruzou após passar por Ter Stegen, Depay novamente errou a mira.

Verbruggen apareceu como um goleiro da Holanda não aparecia há tempos: foi bem, e fez boas defesas. Até mesmo no gol que sofreu, tentou (Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images)

Os gols perdidos poderiam fazer falta. E fizeram. Porque Julian Nagelsmann colocou nomes que poderiam ajudar o ataque da Alemanha, com Thomas Müller e Niclas Füllkrug vindo do banco de reservas. Aí Verbruggen começou a se destacar, como fazia tempo que um goleiro da Holanda não fazia. Aos 65', o goleiro espalmou mais um chute de Mittelstädt (destaque pela Alemanha, sem dúvida). Aos 76', contra-ataque rápido deu a chance a Musiala, e Verbruggen afastou. No escanteio da sequência, Füllkrug cabeceou, e o arqueiro do Brighton agarrou sem muitos problemas. E aos 83', foi a vez de Thomas Müller tentar, e Verbruggen rebater. A rigor, o goleiro holandês tentou aparecer com destaque até mesmo no lance do gol da vitória da Alemanha, aos 85': Toni Kroos cobrou escanteio, Füllkrug cabeceou no canto direito, e o arqueiro do uniforme verde se esticou no canto direito para rebater a bola. Até conseguiu. Mas a bola já tinha ultrapassado a linha, como a tecnologia "olho-de-gavião" provaria no ato. A Holanda ainda tentou o empate, sem sucesso.

Embora a derrota nunca seja boa, a Holanda fez uma partida equilibrada. Foi adversária dura contra a Alemanha - que fez 2 a 1 de virada, como na Copa de 1974, cujos 50 anos foram lembrados na vinda de jogadores holandeses a Frankfurt. Contudo, a impressão segue a mesma, até pelo resultado: a Laranja tem um bom time, provavelmente não passará vergonha na Eurocopa... mas parece faltar algo para colocá-la entre as favoritas ao título. E não é só qualidade técnica, não, porque ela existe na zaga e no meio-campo, ainda que menor que a dos candidatos a título. Falta ousadia à Holanda, em campo. Quando a teve, foi melhor no amistoso. Precisará de mais dela, se quiser chamar a atenção na Euro.

Amistoso
Alemanha 2x1 Holanda
Data: 26 de março de 2024
Local: Deutsche Bank Park/Waldstadion (Frankfurt)
Juiz: Espen Eskas (Noruega)
Gols: Joey Veerman, aos 4', Maximilian Mittelstädt, aos 11', Niclas Füllkrug, aos 85'

HOLANDA
Bart Verbruggen; Denzel Dumfries, Matthijs de Ligt, Virgil van Dijk, Nathan Aké e Daley Blind (Xavi Simons, aos 89'); Jerdy Schouten (Marten de Roon, aos 75'), Tijjani Reijnders (Quinten Timber, aos 66') e Joey Veerman (Mats Wieffer, aos 89'); Memphis Depay (Wout Weghorst, aos 75') e Donyell Malen (Cody Gakpo, aos 75'). Técnico: Ronald Koeman

ALEMANHA
Marc-André ter Stegen; Joshua Kimmich (Benjamin Henrichs, aos 79'), Jonathan Tah, Antonio Rüdiger e Maximilian Mittelstädt (David Raum, aos 79'); Robert Andrich (Pascal Gross, aos 59') e Toni Kroos; Jamal Musiala, Ilkay Gündogan (Chris Führich, aos 59') e Florian Wirtz (Thomas Müller, aos 73'); Kai Havertz (Niclas Füllkrug, aos 73'). Técnico: Julian Nagelsmann

Nenhum comentário:

Postar um comentário