quarta-feira, 20 de março de 2024

As coisas estão melhorando?

Não é só o clima na Holanda que está bom, como indicam Ronald Koeman (à esquerda) e o treinador de goleiros Patrick Lodewijks; é o crescimento de muitos jogadores, levando à promessa de uma seleção melhor (Pro Shots/Icon Sport/Getty Images)

A seleção masculina da Holanda (Países Baixos) terminou o ano de 2023 dando a impressão de que estava no mesmo lugar em que terminara a Copa de 2022: uma equipe estável, razoável, mas um escalão abaixo das melhores do mundo. Era melhor do que o preocupante primeiro semestre do ano passado - só uma vitória em quatro jogos -, mas nada que causasse impressão notável. De lá para cá, contudo, alguns desempenhos vistos em clubes dão a saudável impressão de que pode haver uma evolução bem recomendável, em ano de Eurocopa. Quem sabe isso seja visto nos amistosos que abrem 2024 para a equipe neerlandesa, contra Escócia (nesta sexta, às 16h45 de Brasília, em Amsterdã) e Alemanha, país-sede da Euro (na próxima terça, 26, também às 16h45 do horário brasileiro, em Frankfurt). 

O tom do técnico Ronald Koeman na entrevista coletiva de apresentação, na segunda-feira, manifestou essa esperança crescente: "Se estivermos completos, teremos um time muito bom. Seremos difíceis de vencer. E teremos uma boa preparação até a Euro. (...) Há países que têm mais qualidade individual, como a França, com Mbappé. Mas em muitas posições, nós temos jogadores mundialmente reconhecidos. Temos muitos defensores e meio-campistas que jogam por grandes clubes. Muitos países têm ciúme da gente". Que o diga a defesa holandesa, de fato: não é qualquer seleção que pode contar com Virgil van Dijk e Nathan Aké fazendo excelentes temporadas (sem contar as opções na reserva). E o que dizer da ala direita? Se o titular Denzel Dumfries continua tendo seu papel na Internazionale à beira do bicampeonato italiano, anda difícil deixar de fora da Laranja um Jeremie Frimpong impressionante no Bayer Leverkusen, próximo de lavar a alma com o título alemão. Em todas as competições de 2023/24 pelo time das Aspirinas, Frimpong já conta com dez gols e dez passes para gol. Desempenho bom a ponto de fazer Koeman pensar em colocá-lo como titular num trio de ataque: "Ele poderia jogar assim, com Dumfries. É quase como um ponta no Leverkusen".

Nem mesmo as ausências machucadas tiram o sono do treinador, desta vez. Pelo menos, no meio-campo. A princípio, claro que Frenkie de Jong - fora por entorse no tornozelo, sofrida há algumas semanas pelo Barcelona - faz falta. Mas Ronald Koeman acalmou: "Acho que sei quem pode jogar bem com De Jong. Podem ser vários jogadores. Craques sempre se entendem". E de fato, as opções parecem mais confiáveis atualmente do que vinham sendo para o meio-campista ausente. Basta citar Teun Koopmeiners: o meio-campo da Atalanta faz por merecer nova chance como titular. Se desde os tempos do AZ ele já era conhecido pela capacidade defensiva (até mesmo como zagueiro teve seus momentos), agora mostra um salto impressionante no desempenho no ataque: Koopmeiners é o goleador do time italiano na temporada - só no Campeonato Italiano, são 12 gols feitos -, sendo o cobrador principal de faltas e pênaltis, cada vez mais desenvolto na criação de jogadas.

Como Koopmeiners, há mais opções para o meio-campo. Como Xavi Simons, igualmente destacado no RB Leipzig, com 11 passes para gol e sete gols no Campeonato Alemão, já podendo ser considerado titular absoluto da Holanda mesmo aos 20 anos. Como Tijjani Reijnders, constante no Milan. Como Joey Veerman, talvez o melhor jogador do atual Campeonato Holandês, nome que dita o jogo no meio-campo do PSV, líder invicto da Eredivisie. Como o estreante Quinten Timber, irmão do zagueiro Jurriën, elogiado pela combatividade na marcação pelo Feyenoord (onde está um outro meio-campo convocado, Mats Wieffer). Como... Georginio Wijnaldum. Pois é: oito meses depois de sua última aparição vestindo laranja em campo, pela Liga das Nações, o meio-campo de 32 anos (fará 33 em novembro) foi relacionado por Ronald Koeman. 

Wijnaldum está de volta às convocações da Laranja. O que não quer dizer que seu lugar está garantido na Euro (Broer van den Boom/BSR Agency/Getty Images)

Uma lembrança que veio aos poucos: primeiro, o técnico - e Nigel de Jong, diretor de futebol da federação holandesa - foram visitar o meio-campo no Al-Ettifaq saudita em que joga atualmente. Depois, a convocação. Por fim, o treinador deixou bem claro que, embora considere "Gini" um possível lider para a seleção, ele não tem vaga garantida na Euro, e terá nos amistosos um teste: "Ele jogou mais de noventa partidas [pela seleção]. Agora está aqui, por dois jogos. Para ele, e para todo mundo, é um teste. (...) Preciso de gente que pense mais no 'nós'. Digo por experiência própria: a Euro 1988 foi fantástica, a Copa de 1990 foi terrível, e o grupo daquela Copa não era o mesmo grupo da Euro".

Pelo banco de reservas da Holanda também deverá passar um velho conhecido, que andava distante das convocações há um ano, por várias lesões: o atacante Memphis Depay. Que faz uma temporada até razoável: mesmo predominantemente na reserva do Atlético de Madrid, Memphis faz seus gols vez por outra (somados todos os campeonatos que os Colchoneros disputam atualmente, são nove), foi muito importante na classificação às quartas de final da Liga dos Campeões, e está de volta à seleção. Não sem antes ouvir o alerta de Koeman: também não será titular ("Foi importante, acho que está voltando à sua melhor forma. Ainda não está lá, ainda não jogou o bastante. Acho que não poderá jogar as duas partidas completas"). 

De qualquer forma, a presença de Depay - e de outros, como Cody Gakpo e Donyell Malen (este, crescendo no Borussia Dortmund) - ameniza o prejuízo da Holanda não contar com dois atacantes que teriam plenas condições de se destacarem nos dois amistosos, se não fossem problemas musculares. Um, Joshua Zirkzee, talvez o maior responsável em campo pela excelente campanha que o Bologna faz no Campeonato Italiano (4º lugar, perto de vaga na Liga dos Campeões 2024/25), marcando dez gols e sendo um dos grandes atacantes da temporada na Bota - Zirkzee estava na pré-convocação antes de se machucar. O outro, Brian Brobbey, de evolução visível mesmo na problemática temporada do Ajax, até foi chamado, mas precisou ser cortado por lesão sofrida defendendo o time de Amsterdã no domingo passado, contra o Sparta Rotterdam, pelo Campeonato Holandês. Ronald Koeman lamentou não poder testar os dois jovens, mas prometeu: "A porta segue aberta tanto para Brobbey quanto para Zirkzee".

Também livre das lesões, Memphis Depay ameniza em campo as ausências promissoras no ataque. Fora dele, tem opiniões criticadas - e, bem, criticáveis... (Robin van Lonkhuijzen/ANP/Getty Images)

A ausência de dois jovens candidatos a revelação da Holanda na Euro é um problema. Assim como a persistente falta de um titular absoluto que acabe com a rotação no gol. Ausência que abriu espaço até para um retorno. Sem aparecer nas convocações havia três anos (foi o terceiro goleiro da Laranja na Euro passada, e figurava nas listas de Frank de Boer e da primeira passagem de Ronald Koeman), Marco Bizot vem muito bem no Brest, segundo colocado do Campeonato Francês. Seguia ausente - "Não faço ideia [da razão]", comentou em entrevista à revista Voetbal International. Mas recentemente foi chamado para conversas com Patrick Lodewijks, treinador de goleiros da seleção ("Foi bom falar com ele de novo", comemorou na entrevista citada). E foi confirmado na convocação. Mas Bizot deverá ver os amistosos do banco, conforme sinalizou Koeman: "Seria maluquice". A tendência é de que o jovem Bart Verbruggen, que terminou 2023 como titular, novamente tenha chances. Embora não se possa descartar Mark Flekken, que vem bem no Brentford. E o treinador da equipe nacional evocou um convocável que só não esteve na lista de agora por (mais uma) lesão: Justin Bijlow. "Vejo potencial em Verbruggen, mas não sei como Bijlow está".

Na roda-viva de goleiros da Holanda, Bizot voltou. Mas Verbruggen deverá seguir titular... (KNVB Media)

Porém, as maiores preocupações vieram de duas observações feitas fora de campo. Vindo da Arábia Saudita, Wijnaldum já atrai desconfianças naturais pela forma física, num campeonato de menor competitividade. Atraiu ainda mais, sendo criticado após comentários considerados alienados sobre o que vê no país em que joga atualmente: "Tem sido um tempo bom. Para mim, as condições de vida lá são extraordinárias. Não vi lá nada do que falam. Todo país tem coisas boas e ruins, até a Holanda". 

Memphis Depay foi considerado mais desagradável ainda. Em seu perfil no Instagram, o atacante manifestou solidariedade a Quincy Promes, amigo e ex-colega de seleção, atualmente detido nos Emirados Árabes, perto de uma extradição para cumprir em terras holandesas seis anos de prisão, por envolvimento em tráfico de drogas. Ronald Koeman sinalizou o desconforto, na coletiva: "Eu não faria isso. Vou conversar com ele". Embora receptivo à oposição do treinador ("Entendo que as pessoas de fora pensem diferente. Tudo bem. Todo mundo pode ter a sua opinião"), Memphis seguiu defendendo sua posição, no mínimo, polêmica - e no máximo, inadequada nos tempos atuais ("Sou amigo de outros jogadores com casos assim: Dani Alves, Benjamin Mendy. Se sou amigo de alguém, não deixo essa pessoa na mão nunca. Isso não significa que eu ache bom tudo que essa pessoa faz. Ou que eu saiba de tudo que a pessoa faz ou não faz. O Quincy Promes que eu conheço, vocês [jornalistas] não conhecem").

Ainda assim, a impressão é de que a seleção da Holanda vive leve evolução em campo. Leve, mas perceptível. Dependendo de sua organização em campo e de como Ronald Koeman consiga colocar suas preferências táticas (o treinador disse que sempre terá três meio-campistas - o que pode levar a um time com três ou dois zagueiros), a Laranja conseguirá provar que as coisas estão melhorando. Ou se quem a acompanha é que está pirando...

Os 23 convocados da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA

Goleiros: Bart Verbruggen (Brighton-ING), Mark Flekken (Brentford-ING) e Marco Bizot (Brest-FRA)

Laterais: Denzel Dumfries (Internazionale-ITA), Jeremie Frimpong (Bayer Leverkusen-ALE) e Daley Blind (Girona-ESP)

Zagueiros: Lutsharel Geertruida (Feyenoord), Virgil van Dijk (Liverpool-ING), Matthijs de Ligt (Bayern de Munique-ALE) e Nathan Aké (Manchester City-ING)

Meio-campistas: Tijjani Reijnders (Milan-ITA), Marten de Roon (Atalanta-ITA), Teun Koopmeiners (Atalanta-ITA), Georginio Wijnaldum (Al Ettifaq-SAU), Joey Veerman (PSV), Jerdy Schouten (PSV), Quinten Timber (Feyenoord) e Mats Wieffer (Feyenoord)

Atacantes: Donyell Malen (Borussia Dortmund-ALE), Xavi Simons (RB Leipzig-ALE), Cody Gakpo (Liverpool-ING), Memphis Depay (Atlético de Madrid-ESP) e Wout Weghorst (Hoffenheim-ALE)

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