terça-feira, 18 de março de 2025

A paciência está acabando

A seleção da Holanda (Países Baixos) teve treinos tranquilos. Mas precisa deixar o excesso de tranquilidade e ser mais intensa nas quartas da Liga das Nações, para convencer a torcida (Koen van Weel/ANP/Getty Images)

Virgil van Dijk? Está lá. Tijjani Reijnders? Também. Memphis Depay? Está de volta (e daqui a pouco se fala mais sobre ele). Frenkie de Jong? Sua presença teve alguma dúvida, mas está confirmada. Xavi Simons e Cody Gakpo? Presentes. Pois bem: está certo que Denzel Dumfries, Stefan de Vrij e Nathan Aké estão ausentes por lesão, mas o grupo da seleção masculina da Holanda (Países Baixos) tem qualidade. O trabalho de Ronald Koeman já tem dois anos. Há um certo nível técnico, notável pelos resultados: semifinal de Eurocopa em 2024, e, enfim, as quartas de final da Liga das Nações com que a Laranja iniciará este 2025. Por tudo isso, apesar da Nations League não ter a grandeza de uma Eurocopa, muito menos a de uma Copa do Mundo, a Oranje estará sob certa pressão nos dois jogos das quartas, contra a Espanha - a ida, nesta quinta (20), às 16h45 de Brasília, em Roterdã; a volta, no domingo (23), também às 16h45, em Valência. Jogos que, aliás, definem o rumo da equipe nas eliminatórias da Copa de 2026. Indo às semifinais, a Holanda irá para o grupo E da qualificação, contra Turquia, Geórgia e Bulgária; derrotada, encara o grupo G, contra Polônia, Finlândia, Lituânia e Malta.

A pressão é compreensível. Afinal de contas, mesmo podendo ser considerada a melhor seleção europeia da "segunda prateleira" na atualidade, os resultados da Holanda têm sido inconstantes. Basta dizer que, dos 16 jogos da equipe em 2024, só 8 vitórias (de resto, 4 empates e 4 derrotas). O que mais preocupa é que a Laranja sempre tem fraquejado ao pegar seleções da "primeira prateleira", nesta segunda passagem de Koeman. França? Duas derrotas (em 2023, nas eliminatórias da Eurocopa) e um empate (na fase de grupos da própria Euro, em 2024). Alemanha? Um empate e duas derrotas, todos em 2024, num amistoso e nos dois encontros pela fase de grupos da Liga das Nações. Inglaterra? Os 2 a 1 sofridos na semifinal da Euro. Itália? Pouco se lembra, mas houve um 3 a 2 sofrido para a Azzurra, na decisão de 3º e 4º lugares da Liga das Nações passada, em junho de 2023. E se a Croácia também pertence à "segunda prateleira", terceira colocada da Copa do Mundo que foi em 2022 (sem contar o vice na Copa de 2018), a Laranja tomou 4 a 2 dos croatas na semifinal da Nations League 2022/23. 

Ronald Koeman já tem certo tempo de trabalho. Quer seguir. Mas se continuar negando fogo na hora decisiva... (Koen van Weel/ANP/Getty Images)

A falta de intensidade contra grandes adversários irrita a torcida e causa desconfianças da imprensa. Em entrevista à mesa-redonda Studio Voetbal, do canal NOS, Ronald Koeman reconheceu: "Não tenho explicação para isso". Para piorar, houve desempenhos medianos até contra seleções claramente piores, como nos empates contra Hungria e Bósnia (1 a 1, ambos), na fase de grupos desta Liga das Nações. Até mesmo marcos respeitáveis, como alcançar as semifinais da Euro, são creditados muito mais à sorte que a Laranja teve no chaveamento do que propriamente à sua qualidade. O próprio treinador alertou sobre momentos ruins da Holanda na Nations League, em sua entrevista coletiva: "Não podemos ter momentos fracos, como tivemos contra a Alemanha, fora de casa. Ou mesmo contra a Hungria, em casa - foi um milagre não termos saído atrás no placar [a Holanda goleou por 4 a 0]". E mesmo que insinue pensar até em prolongar seu contrato, que vai até a Copa de 2026 ("Não estou certo se a Copa será meu último torneio na seleção"), Koeman sabe que a federação pode pensar diferente ("Ela também decide o que quer"). Uma eliminação para a Espanha, no mínimo, aumentará a pressão.

Se Koeman é o alvo das desconfianças fora de campo, dentro dele o alvo é... Memphis Depay. De volta à Laranja após pouco mais de oito meses de ausência, muito se suspeita do que o atacante do Corinthians (quem imaginaria isso, na época da Eurocopa?!) possa fazer. Alguns têm reservas a Memphis por um motivo, no mínimo, desinformado, e no máximo, preconceituoso, mesmo: o hábito eurocentrista de estranhar que o atacante tenha migrado para o Brasil, destino ainda pouco frequente para jogadores europeus. Ronald Koeman minimizou isto, em sua coletiva: "Eu falei com ele quando ele decidiu [vir para o Corinthians]. Aí acompanho. Tenho uma impressão inicial, e só tenho certeza dela quando o vejo jogar. Quando vi, me convenci de que ele ainda pode ser muito útil para o grupo".  

Preconceitos à parte, algumas desconfianças têm lá suas razões de ser. Para alguns, Koeman foi conservador demais na convocação, e poderia ousar testando nomes como Emanuel Emegha, que desponta na seleção sub-21 dos Países Baixos e tem tido seu destaque no Campeonato Francês (11 gols pelo Strasbourg). Para outros, a última impressão de Memphis vestindo laranja - ou azul - foi ruim: sua participação na Euro 2024 foi negativa, com somente um gol, dificuldades com lesões e críticas à sua falta de intensidade em campo - críticas que já se insinuam em parte da torcida corintiana, aliás. O próprio Memphis foi compreensivo, à emissora NOS, sobre sua longa ausência: "Passei um tempo inativo depois da Euro". 

De volta à Laranja após mais de oito meses, Memphis Depay corre para recuperar o tempo e o espaço perdidos (KNVB Media/Divulgação)

Contudo, é inegável que a nova experiência no Brasil anda remoçando o atacante, elogioso em suas palavras sobre o país de trabalho: "É especial jogar lá. Completamente diferente, as pessoas vivem o futebol de um jeito diferente. Eu já tinha visto um pouco na Copa de 2014, mas agora vejo todo dia". Além disso, faltam opções de ataque para a Holanda: Wout Weghorst se recupera de fratura num dedo do pé, Brian Brobbey faz temporada deficiente pelo Ajax (apenas 7 gols em 38 jogos pelo Ajax nesta temporada 2024/25, em todas as competições), e as desconfianças seguem sobre Joshua Zirkzee (o próprio Ronald Koeman disse à supracitada Studio Voetbal: "Quando estive no Brasil, liguei para ele e comentei que não o tenho achado bem. Em jogos que vi, ele tem errado em algumas opções de jogo"). 

Há ainda a experiência de Depay pela seleção: além de estar perto de se tornar o maior goleador histórico da Oranje, ele está à beira dos 100 jogos pela seleção de seu país natal (os completará se jogar as duas partidas contra a Espanha). Diante de todos esses fatores, Ronald Koeman voltou a apostar em Memphis: "Ele se sente bem e está em forma. Já jogou muitas partidas, pelo campeonato [Paulista] e pela copa [Libertadores]. Está pronto para se juntar aos treinos e jogar. Pode ser já na quinta. Por quê não? Eu também voltei do Brasil, um dia de cansaço e pronto. Fuso horário não é problema".

Além de Memphis ainda poder ser importante, deve-se lembrar: sim, a Holanda tem bons jogadores. Como Tijjani Reijnders, um dos únicos destaques numa apagada temporada do Milan. Como Cody Gakpo, enfim ganhando sequência de jogo e atraindo mais confiança no Liverpool (em que pesem as recentes eliminações). Tem até revelações, como o zagueiro Youri Baas, do Ajax, estreando pela seleção logo na semana de seu aniversário ("Eu não imaginava", reconheceu Baas à NOS). De mais a mais, é o que Ronald Koeman alegou na entrevista coletiva: "A Espanha é a melhor seleção europeia dos últimos anos. Ganhou Liga das Nações, ganhou Eurocopa, então precisamos trabalhar. Mas é um desafio, vejo assim. Podemos ganhar, nem sempre o favorito vence". Então, que vença. A paciência está acabando, e as desculpas para maus desempenhos também. De mais a mais, que modo melhor existe para convencer torcida e imprensa do que superar a atual campeã da Europa?

Os 23 convocados da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA

Goleiros: Bart Verbruggen (Brighton-ING), Mark Flekken (Brentford-ING) e Nick Olij (Sparta Rotterdam)

Defensores: Jeremie Frimpong (Bayer Leverkusen-ALE), Lutsharel Geertruida (RB Leipzig-ALE), Virgil van Dijk (Liverpool-ING), Jan Paul van Hecke (Brighton-ING), Matthijs de Ligt (Manchester United-ING), Youri Baas (Ajax) e Ian Maatsen (Aston Villa-ING)

Meio-campistas: Frenkie de Jong (Barcelona-ESP), Teun Koopmeiners (Juventus-ITA), Tijjani Reijnders (Milan-ITA), Kenneth Taylor (Ajax), Mats Wieffer (Brighton-ING) e Justin Kluivert (Bournemouth-ING)

Atacantes: Brian Brobbey (Ajax), Memphis Depay (Corinthians), Xavi Simons (RB Leipzig-ALE), Cody Gakpo (Liverpool-ING), Noa Lang (PSV) e Donyell Malen (Aston Villa-ING)

Um comentário:

  1. Como foi dito no texto tá na hora de ganhar um enfrentamento grande. A Holanda é seleção grande e precisa mostrar isso!!!

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