O comovente tributo a Cruyff foi a única coisa a se guardar, em mais um dia ruim da Oranje (Rene Bouwman) |
Já era um dia doloroso. Afinal de contas, a lembrança de Johan Cruyff, o maior futebolista da história de seu país, falecido nesta quinta, estava presente em cada número 14 que se via na Amsterdam Arena nesta sexta, antes, durante e depois do amistoso da seleção holandesa contra a França - e eram muitos "números 14" presentes, até na manga das camisas laranjas vestidas hoje. Depois da partida, além de doloroso, o dia também ficou desalentador. A derrota da Oranje, por 3 a 2, deixa claro que a equipe tem falhas defensivas (e até ofensivas) gritantes. E há sérias dúvidas sobre a capacidade que os jogadores têm para resolvê-las, a meses do início de uma campanha que deve ser duríssima, nas eliminatórias para a Copa de 2018.
Na defesa, a menção de que os franceses já venciam por 2 a 0 aos 13 minutos do primeiro tempo já basta para descrever o início pavoroso da Laranja no jogo. Mesmo atuando no 5-3-2, supostamente mais seguro, ficou clara a falta de entrosamento entre Jeffrey Bruma, Virgil van Dijk e Daley Blind. Certo, o primeiro gol saiu em bola parada, na falta cobrada com perfeição por Antoine Griezmann já aos dois minutos do primeiro tempo. Mas o segundo dos Bleus não deu desculpas: mesmo num escanteio, com quase todos os jogadores laranjas dentro da área de defesa, não havia posicionamento inteligente o suficiente para evitar que Blaise Matuidi estivesse livre para aproveitar a sobra - muito menos para evitar a finalização acertada de Olivier Giroud, também sozinho na área.
O curioso é que, no meio-campo e no ataque, até havia alguma velocidade a mais, em comparação com as atuações nas eliminatórias da Euro 2016 e nos amistosos anteriores. Mas... era só. No meio, Davy Klaassen e Jordy Clasie falhavam na saída de bola - e Wesley Sneijder vivia um dia apagado, como de costume nos últimos anos de sua carreira. Somente havia algum lampejo de ataque holandês nos avanços de Joël Veltman e Jetro Willems, pelas laterais, e pelo esforço de Quincy Promes, que até justificava os elogios do técnico Danny Blind, chegando até a voltar para buscar a bola e partir com ela dominada, tentando acelerar, criar alguma jogada digna de nota, sair da pasmaceira.
Mas eram movimentos previsíveis, facilmente marcados pelos franceses, muito melhor entrosados e muito melhor preparados, no caminho para disputarem a Euro que sediarão. Além disso, com a crônica e irritante lentidão dos holandeses na recomposição da defesa sem a bola, era muito mais fácil para os Bleus escaparem da marcação e contra-atacarem com velocidade. Quase sempre, a bola sobrava com Dimitri Payet - que justificava a confiança repetindo na seleção as boas atuações desta temporada pelo West Ham, com chutes perigosos (um deles, logo no primeiro minuto, antes mesmo do gol de Griezmann). Ou sobrava com o próprio Griezmann, o melhor do jogo enquanto esteve em campo, veloz e criativo. Sem contar a opção sempre válida de Blaise Matuidi, melhor até do que o (justamente) badalado Paul Pogba: Matuidi chegava constantemente como alternativa para finalização, quando não criava ele mesmo as jogadas.
Ao final dos 45 primeiros minutos, a sensação de completo desalento era indisfarçável para os holandeses. A ponto de o jornalista Pieter Zwart ter colocado em seu perfil no Twitter três imagens que comprovavam como é alarmante a atuação da defesa da seleção holandesa. Na primeira imagem, uma linha de três marcadores, no meio-campo, deixando um francês livre entre a linha do meio e a defesa. Na segunda, Bruma deixava a linha de marcação da defesa e ia dar o primeiro combate. O que abria espaço para um rápido toque do meio-campista francês, acelerando mais um ataque dos Bleus contra um meio-campo aberto e uma defesa fragilizada, como se pôde notar na terceira foto que Zwart postou. Não só explicava o 2 a 0; aumentava o desânimo, a ponto de se exagerar aqui e ali dizendo que era a pior seleção holandesa de todos os tempos. De quebra, a lesão muscular que tirara Sneijder do jogo ainda no primeiro tempo (e também o tirará do jogo contra a Inglaterra, na próxima terça) aprofundava a apatia.
Pelo menos neste momento, Danny Blind mereceu os elogios. Com a entrada de Memphis Depay (na vaga de Virgil van Dijk, mal de novo) e Ibrahim Afellay (na vaga de Clasie, lento no jogo), o 5-3-2 mudou para o 4-3-3 velho de guerra na Oranje. Até aí, só uma mudança de números - bem lembrou Klaassen após a partida, à FOX Sports holandesa: "Contra o País de Gales [amistoso em novembro passado], o 5-3-2 tinha funcionado". Só que a velocidade aumentou no ataque, e a seleção holandesa criou mais jogadas. Já aos dois minutos, conseguiu o gol, em bola parada - e contando com a sorte do tento não ter sido anulado, já que o braço de Luuk de Jong claramente tocou a bola no desvio para as redes defendidas por Mandanda.
Com a melhora, não só jogadores que já estavam em campo subiram de produção (caso de Willems, Klaassen, Promes e Riechedly Bazoer - substituto de Sneijder), mas também os que entraram ajudaram, casos de Georginio Wijnaldum e Vincent Janssen. Com isso, o empate tardio de Afellay foi até merecido. Só que o lance seguinte ao 2 a 2 foi mais justo ainda: quando Payet se viu com a bola em ataque francês, Veltman foi tentar o desarme, e deixou seu lado livre na área. Payet viu e lançou Matuidi; entrando em profundidade pela área, o meio-campista chutou e fez o gol da vitória justa dos franceses.
Os números negativos se avolumam: foi a quarta derrota da Oranje sob o comando de Danny Blind, a quarta derrota seguida em casa (não acontecia desde 1933!). Mas pior do que novo revés é saber que... é isso que a Holanda tem a apresentar, atualmente. O treinador reconheceu, na coletiva após a partida: "Pode-se aprender com um bom adversário. E eu posso conviver com esta derrota, porque em muitos aspectos de jogo eles estão bem mais avançados do que nós". De fato, não há comparação entre uma seleção francesa cada vez mais afinada para tentar seu terceiro título europeu e uma seleção holandesa que tenta juntar os cacos e fazer a transição de gerações.
Mas ficou claro: será difícil ver rápida melhora da Holanda, com um time excessivamente espaçado, que une o pior de dois mundos: uma defesa que não se define entre marcar por zona ou por homem, e um ataque que fracassa quando é bem marcado. Um jogo para (quase) esquecer. A não ser pela belíssima homenagem no 14º minuto do primeiro tempo, lembrando Johan Cruyff, o símbolo de tempos melhores na história da seleção holandesa.
Minha escalacao da Laranja seria assim, apesar da porra dos tecnicos nunca colocarem os melhores que eu cho, sinto profunda raiva disso:
ResponderExcluirZoet: eu sou Ajax, mas o Cillesen tem que ser banco, pelo amor de deus!!!!!!!!!
Blind
Vlaar
Bruma
Veltman
Clasie
Klaseen
Sneijder
De Pay
Robben
Luke De Jong