quarta-feira, 30 de março de 2016

Luzes (fracas) no fim do túnel

O pênalti convertido pelo promissor Janssen animou a Holanda na vitória honrosa diante da Inglaterra (ANP/Pro Shots)
Só de não ter tomado um gol aos dois minutos de jogo, como ocorrera no amistoso da sexta passada, contra a França, já era possível dizer que a seleção da Holanda jogava melhor contra a Inglaterra, nesta terça, no estádio de Wembley. E se a vitória por 2 a 1 teve algo de sorte, também foi possível ver na atuação da Oranje algumas coisas que, se bem trabalhadas, indicam possibilidade de melhora para a base da equipe que Danny Blind tenta formar, com vistas às eliminatórias para a Copa de 2018.

E se já fora difícil tentar formar uma base antes do jogo contra os Bleus, com tantas lesões em convocados/possíveis convocados, ficou ainda mais árduo para o duelo com o English Team. Já na partida de sexta, Wesley Sneijder lesionou o músculo superior da coxa e foi cortado (ficará um mês fora dos campos). No treino de domingo, mais dois desligamentos foram necessários. Ao sair do gol para evitar chute de Klaas-Jan Huntelaar, Jasper Cillessen teve o rosto atingido involuntariamente pelo pé do atacante: nariz fraturado e goleiro cortado. Pouco depois, Davy Klaassen sentiu dores na coxa, e foi mais um dispensado.

Com tantas adversidades, nem mesmo as convocações rápidas de dois substitutos para Cillessen (Michel Vorm) e Klaassen (Marco van Ginkel) minoravam os problemas de Danny Blind para formar o esquema tático da equipe, que seguiria no 4-3-3 de certo êxito no segundo tempo contra a França. Restou colocar Ibrahim Afellay como principal armador, trazendo de volta aos titulares Georginio Wijnaldum como volante, em papel semelhante ao feito na Copa de 2014. 

No ataque é que veio a grande surpresa: ao invés da prevista escalação de Huntelaar, Vincent Janssen já começaria como titular em seu segundo jogo pela Laranja. Falando à SBS, emissora holandesa de tevê que mostrou o jogo, Danny Blind reconheceu e explicou: "Naturalmente, Huntelaar não ficou feliz, pois queria jogar. Mas eu já defini o papel dele. Sei como joga, e como funciona. Quero ver como os outros atacantes atuam. Em novembro [no amistoso contra País de Gales], eu vi Bas Dost. No jogo passado, vi Luuk de Jong. Agora, quero ver Janssen".

Pelo primeiro tempo, até deu certo. Meio-campo e ataque criaram mais jogadas, e tiveram mais velocidade do que contra a França. Wijnaldum e Riechedly Bazoer protegeram melhor a defesa, e Afellay assumiu bem a responsabilidade de pensar o jogo. Se bem que nem foi o meio-campo o responsável por trazer mais perigo, e sim os jogadores pelas pontas: tanto Quincy Promes (destaque, na soma dos dois amistosos) quanto  Memphis Depay mostraram rapidez para avançar e proteger os laterais - algo necessário, com as atuações temerosas de Joël Veltman e Jetro Willems.

Porém, a rapidez ofensiva não se viu na defesa. Prova disso foi o gol inglês que abriu o placar. Havia ampla superioridade numérica de holandeses na área de defesa: cinco contra quatro. Nem isso impediu que Adam Lallana, Kyle Walker e o autor do gol, Jamie Vardy, trocassem passes com velocidade, envolvendo facilmente o miolo de zaga da Oranje para o 1 a 0 do English Team. Foi o 14º gol sofrido pela seleção, em sete jogos sob o comando de Danny Blind: sem dúvida, a insegurança da defesa é o grande problema do trabalho. Seja no 5-3-2 ou no 4-3-3.

Ainda assim, veio a virada no segundo tempo. Com sorte, como já se disse: o gol de empate saiu de pênalti - ou seja, bola parada -, e foi clara a falta cometida por Janssen na jogada que levou ao gol de Luciano Narsingh. Ainda assim, os méritos holandeses foram inegáveis. A começar pelo goleiro: sempre que foi exigido, Jeroen Zoet se mostrou seguro, e vai se firmando como reserva imediato de Cillessen (por enquanto...). Na zaga, mesmo com a lentidão que possibilitou o gol da Inglaterra, Daley Blind mostrou espírito de liderança e até algum senso de posicionamento, suficientes para justificarem a braçadeira de capitão que ostentou no jogo. No meio-campo, Afellay dava velocidade na criação; e no ataque, enquanto Memphis Depay seguiu com a boa atuação, Narsingh teve um dia de "sim". Irregular no PSV, o ponta-direita entrou bem no lugar de Promes, com velocidade e sem individualismos, e mereceu fazer o gol da vitória.

Mas é inegável: o destaque do dia em Wembley foi Vincent Janssen. Tanto pela coragem em bater o pênalti e empatar o jogo, em seu primeiro gol pela seleção ("Quando marcaram o pênalti, eu pensei 'essa é minha, não vou mais deixar escapar', descreveu Janssen após o jogo, lembrando da chance perdida na jogada imediatamente anterior ao penal), quanto pela participação "decisiva" no gol de Narsingh, ao fazer a falta sem que fosse marcada e ainda cruzar para a finalização. Com 16 gols em 15 jogos no ano, juntando clube e seleção, o nativo de Heesch agarrou bem a sua chance. Impressionou Danny Blind ("Ele não se impressionou, não ficou nervoso", comentou o técnico), e certamente será observado bem mais de perto no restante da temporada. Por Danny Blind, por Fred Grim (técnico da seleção sub-21), por clubes de centros maiores do futebol europeu... nada mal para alguém que só estivera em Wembley a passeio, como Janssen falou à imprensa.

Enfim, a vitória sobre a Inglaterra foi até surpreendente. Pelo que os ingleses haviam apresentado no segundo tempo sobre a Alemanha - e pelo que a Holanda NÃO apresentara contra a França. Valeu pela alegria vista em jogadores e comissão técnica após o jogo. Danny Blind assumiu: "Precisávamos disso, o time e a comissão técnica. Precisamos tentar trazer de volta a vontade". Só ela não basta: é preciso melhorar a fragilidade da defesa e os espaços entre os setores do time holandês. Contudo, é inegável: a vitória em Wembley trouxe as luzes (fracas) no fim do túnel que a Oranje precisa para acreditar numa reação, na nova fase do trabalho.

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