domingo, 17 de julho de 2016

Preparado para o que der e vier

Com vitórias na pré-temporada, PSV se apronta com tranquilidade (PSV Media)

Na semana passada, esta coluna comentava sobre as perspectivas de mudança no Ajax. Sob o comando do técnico Peter Bosz, com um elenco ainda sem grandes alterações, os Ajacieden tentam se tornar uma equipe que retome - de certo modo, até mantenha - a atratividade ofensiva, mas com maior segurança na defesa. Os resultados obtidos nos amistosos de pré-temporada, até agora, indicam necessidade de ainda mais treinos: uma derrota (4 a 3 para o Liefering, time da segunda divisão da Áustria, ainda durante os treinos na cidade austríaca de Mayrhofen) e um empate (2 a 2 com o AFC, clube amador da terceira divisão holandesa).

Pois bem, o PSV também sofreu poucas mudanças em seu elenco. Quase nada aconteceu ainda no elenco dos Boeren. E mesmo que acontecesse, o ambiente no atual bicampeão holandês esbanja tranquilidade. Até porque os resultados nas partidas de preparação têm sido positivos. Bem, nem todos: na sexta passada, houve uma derrota para o Queens Park Rangers (1 a 0), em jogo realizado com portões fechados – a prefeitura de Driel, cidade holandesa onde o PSV começou os treinamentos para a próxima temporada, temia por confrontos entre torcedores das duas equipes. Ainda assim, já houvera uma vitória anterior: 3 a 1, contra o VV Dongen, da quarta divisão holandesa. Na quarta passada, com a delegação do clube holandês já na Suíça, mais uma vitória: 2 a 1 sobre o Saint Etienne. E neste sábado, outro triunfo por 2 a 1, desta vez contra o Sion-SUI.

Por mais que resultados de pré-temporada signifiquem pouquíssima coisa, o fato de apenas Bruma ter deixado o clube até agora possibilita a Phillip Cocu trabalhar com vários jogadores que já conhece. E desde já, o trabalho tem sido duro e focado para a próxima temporada. A tal ponto que Andrés Guardado teve negada a esperada liberação para que fosse um dos três jogadores acima de 23 anos no grupo mexicano que disputará o torneio olímpico de futebol masculino no Rio de Janeiro. Embora não tenha jogado nenhuma partida amistosa, Guardado já voltou aos treinamentos, mesmo após lamentar à ESPN mexicana: “O PSV não me permitiu realizar meu sonho”.

Além do mais, Cocu não descarta do elenco nem mesmo jogadores cujas permanências são incertas para 2016/17: exemplos disso são o volante Stijn Schaars e o atacante Florian Jozefzoon, que estão treinando com o elenco, na cidade suíça de Verbier, sem saber se ficarão no clube (e dificilmente ficarão). De mais a mais, já são experimentadas opções na zaga para ocupar a vaga aberta pela saída de Jeffrey Bruma – a principal e mais previsível delas, Nicolas Isimat-Mirin, lesionou-se ainda nos primeiros treinos. 

Para a sorte do PSV, há vários defensores à espera de uma chance. Como o alemão Daniel Schwaab, reforço recém-chegado do Stuttgart. E principalmente, há dois jovens vindos da base: Jordy de Wijs, já no elenco desde 2015/16, e Menno Koch, que retornou do empréstimo ao NAC Breda. De Wijs e Koch são dois símbolos de uma pretensão pública da diretoria do clube: dar espaço maior a jogadores egressos da base no elenco principal. Assim como o atacante Steven Bergwijn: mesmo disputando com a seleção holandesa o Europeu sub-19, Bergwijn já renovou contrato com os Eindhovenaren até 2021.

Essa intenção de dar mais espaço à base foi expressa por Marcel Brands, diretor geral do clube, à revista Voetbal International: “Os garotos começam com um contrato pequeno. O segundo já é melhor. E quando assinamos o primeiro, eu já digo a eles: ‘Não se preocupem muito com o dinheiro, agora. Você consegue uma chance, se desenvolve, e se tudo der certo o dinheiro vem’. Foi o que aconteceu com gente como Memphis [Depay], Jürgen [Locadia] e Jorrit [Hendrix]”. Essa preparação da base, mais a capacidade que o PSV mostra para fazer contratações criteriosas e precisas, são a chave para aproveitar a ótima situação interna do clube.

Basta dizer que, atualmente, graças à ajuda do grupo de patrocinadores que auxilia a infraestrutura, há em caixa 30 milhões de euros – quantia invejável, para os padrões do futebol holandês. É isso que permite sonhar, por exemplo, com a manutenção do emprestado Marco van Ginkel, que deu muito certo no returno de 2015/16, mas já voltou ao Chelsea (e será observado por Antonio Conte antes da decisão sobre sua permanência em Stamford Bridge). Ou com a contratação do português Bruma, meio-campista do Galatasaray, caso Van Ginkel não volte. Sem contar que a boa situação financeira abre espaço até para contratações repentinas, mas acertadas. Foi o caso de Hidde Jurjus: destaque no rebaixado De Graafschap, o goleiro acertou sua ida para Eindhoven na sexta, após a lesão do terceiro goleiro, Luuk Koopmans. Ágil debaixo das traves, constante na seleção sub-21, Jurjus disputará a vaga de reserva imediato de Jeroen Zoet com o veterano Remko Pasveer.

O bom funcionamento do organograma do PSV também ajuda na preparação para as eventuais saídas. A bem da verdade, apenas uma alteração fundamental foi vista: a saída de outro Bruma – o zagueiro Jeffrey, que tomou o caminho do Wolfsburg por 13,5 milhões de euros. De resto, o elenco segue o mesmo. Ainda assim, há algumas perspectivas de saída. Mesmo que a probabilidade maior seja sua continuação no clube que reergueu sua carreira, Luuk de Jong já olha com carinho para uma volta a um maior centro europeu, como sinalizou seu agente, Louis Laros: “Sempre houve interesse nele, e não é diferente agora. Fala-se de tudo, mas não estamos em negociação. A única coisa concreta é o desejo do PSV em renovar o contrato dele”.

Quem também cogita a saída é Locadia, que deseja voltar a atuar na sua posição principal, dentro da área: “É algo a se pensar, estou ficando velho. Veja o exemplo de Vincent Janssen: num ano, ele conseguiu a chance de jogar como finalizador, e foi para um ótimo clube. Também é meu sonho”. E também há a preparação para Jetro Willems e Luciano Narsingh, outros dois que aspiram à saída: caso não se transfiram nesta janela de transferências, os contratos de ambos (que duram apenas um ano) serão renovados, até para reajustar a multa rescisória e dar mais dinheiro ao PSV caso venha a negociação esperada. No entanto, Willems já disse que abandonou as negociações com o Monaco, e aumentou a chance de ficar em De Herdgang, o centro de treinamentos do clube de Eindhoven.

Enfim, se o Ajax peleja na sua reformulação após um fim traumático de temporada, o PSV segue em céu de brigadeiro. Mesmo se mais perdas vierem, o clube parece preparado para supri-las. E parece preparado também para tentar exercer um domínio semelhante ao da década passada, quando foi tetracampeão entre 2004/05 e 2007/08. Algo bem possível, pelo que se vê.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 15 de julho de 2016)

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