quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Guia do Campeonato Holandês - Parte I (quem quer escapar da queda)

A dois dias de começar, o Campeonato Holandês da temporada 2016/17 terá mais mudanças fora de campo do que dentro. Primeiro, a federação holandesa instituiu a regra de que as equipes terão 12 reservas no banco, ao invés dos cinco anteriores, para “desenvolver os jogadores mais jovens”. Na segunda passada, outra alteração: os times terão de padronizar seus gramados. Todos jogarão em campos com 105m de comprimento e 68 metros de largura – segundo o diretor técnico da KNVB, Jelle Goes, são medidas “mundialmente aceitáveis”.

Dentro do gramado, a indicação é de um cenário muito parecido com o de temporadas passadas (e, cá entre nós, de futuras). Relativamente inalterado em relação ao time que conquistou o bicampeonato em 2015/16, o PSV se destaca como favorito ao tri - até porque o Ajax indica que ainda precisa melhorar, mesmo classificado para os play-offs por vaga na fase de grupos da Liga dos Campeões. O Feyenoord renova as esperanças de acabar com o jejum que já dura 17 anos, com uma equipe que teve algumas contratações - mas ainda precisa de ajustes, já que o esquema usado na decisão da Johan Cruijff Schaal, a Supercopa da Holanda, não agradou. Jogando como armador, Dirk Kuyt não conseguiu criar muitas jogadas. E o time de Roterdã acabou caindo para o PSV, que conquistou a Supercopa pela 11ª vez (segunda consecutiva), ao fazer 1 a 0, com Davy Pröpper. 

De resto, o AZ tentará provar que resistirá à saída de Vincent Janssen; entre os clubes médios, Heerenveen, Groningen, Vitesse e NEC tentarão reagir e superar o surpreendente Heracles. Mas o Espreme a Laranja começará o guia da temporada 2016/17, pelas seis equipes que apenas visam escapar da repescagem e/ou do rebaixamento. Segue, então, a primeira das três partes da apresentação da 61ª edição da história da Eredivisie (celebrando o aniversário de 60 anos).

Transmissões: os canais ESPN seguem exibindo as partidas (um jogo por final de semana - talvez nenhum, dependendo da grade), bem como o serviço on demand da emissora, o Watch ESPN (aí, sim, três jogos por fim de semana, dos três grandes).

Legenda
Jogador (posição, clube)
Transferência definitiva
[transferência definitiva após empréstimo]
Empréstimo
[retorno de empréstimo]

Com seus gols, De Kogel ajudou o Go Ahead Eagles a se recuperar e voltar à primeira divisão (gaeagles.nl)
Go Ahead Eagles

Técnico: Hans de Koning
Destaque: Leon de Kogel (atacante)
Fique de olho: Teije ten Den (atacante)
Temporada passada: 5º colocado da segunda divisão (promovido na repescagem, ao superar o De Graafschap)
Copas europeias: nenhuma
Principais chegadas: Sander Fischer (D, Excelsior), Kevin Brands (M, NAC Breda), Joey Suk (M/A, NAC Breda), Sam Hendriks (A, Ajax) e Henrik Ojamaa (A, Wacker Innsbruck-AUT)
Principais saídas: Bart Vriends (D, Sparta Rotterdam), Jeffrey Rijsdijk (M, Almere City) e Nick de Bondt (A, De Treffers)

A volta rápida do clube de Deventer à primeira divisão do futebol holandês foi até surpreendente. Afinal, em fevereiro, o clube pelejava para se manter entre os clubes que iriam aos play-offs de acesso/descenso, e os resultados irregulares forçaram a demissão do técnico Dennis Demmers (que já estivera na campanha da queda na Eredivisie, em 2014/15). Após um tempo sob o comando de interinos, chegou o técnico Hans de Koning. Que aprumou o time suficientemente, a ponto de conseguir colocá-lo na Nacompetitie, disputando uma vaga de acesso. 

Seria difícil já no duelo da segunda fase, quando o Kowet encarou o VVV-Venlo. A vaga na decisão do acesso veio a duras penas, com um 2 a 2 fora de casa após vencer na ida, em seu estádio. Aí, ficou ainda mais difícil: o GAE tinha pela frente um esforçado De Graafschap, que conseguira a chance da salvação após parecer condenado na Eredivisie. Pois as “Águias” surpreenderam: fizeram 4 a 1 na ida, praticamente encaminhando a promoção à elite, após apenas um ano. E agora, mesmo perdendo um importante jogador no zagueiro Bart Vriends, conseguiram razoáveis contratações – principalmente com os meias Brands e Suk. Tendo superado o Excelsior num amistoso de pré-temporada, quem sabe o clube de nome simpático consiga ficar mais tempo.

Verhaar virou referência na equipe do Sparta Rotterdam. E assim deverá continuar (Pro Shots)
Sparta Rotterdam

Técnico: Alex Pastoor
Destaque: Thomas Verhaar (atacante)
Fique de olho: Ryan Sanusi (meio-campista) 
Temporada passada: Campeão da segunda divisão
Copas europeias: nenhuma
Principais chegadas: Bart Vriends (D, Go Ahead Eagles), Abdul Bai Kamara (D, NEC), Craig Goodwin (M, Adelaide United-AUS), David Mendes da Silva (M, sem clube) e Zakaria El Azzouzi (A, Ajax)
Principais saídas: Christian Supusepa (D, não renovou contrato), Huseyin Dogan (M, não renovou contrato), Giovanni Hiwat (A, Helmond Sport), [Sherjill MacDonald (A, Westerlo-BEL)] e Johan Voskamp (A, RKC Waalwijk)

É comum, na segunda divisão holandesa, haver uma equipe que se destaque a partir da metade do campeonato, para partir célere rumo ao título – e consequentemente, ao acesso direto à Eredivisie. Foi o caso do Sparta: desde 2010/11 fora da primeira divisão, enfim a equipe de Roterdã conseguiu um time bem focado e entrosado, que se sobressaiu quando precisava para garantir o título e o retorno, após cinco anos. E as perspectivas para a reestreia na primeira divisão são boas. Afinal de contas, a base da equipe promovida na temporada passada continua a mesma. 

Nenhum dos destaques deixou Het Kasteel, o estádio do Sparta. O atacante Thomas Verhaar, um dos goleadores da segunda divisão passada, segue vestindo a camisa dos Kasteelheren (“donos do castelo”) – assim como Loris Brogno, seu colega na frente, e os meio-campistas Ryan Sanusi e Paco van Moorsel, principais armadores das jogadas. As contratações de Bart Vriends (para a zaga) e do experiente David Mendes da Silva (para o meio-campo) só aumentam a boa sensação de que a marcação também se fortaleceu. De quebra, sob o 4-3-3 bem treinado por Alex Pastoor, o Sparta já teve bons resultados na pré-temporada, como o empate com o Groningen. Voltar à Eredivisie para ficar é algo possível, se o nível técnico se mostrar aceitável em campo.

O Willem II de Erik Falkenburg não teve razões para comemorar em 2015/16. Espera mais tranquilidade (Toin Damen/ANP)
Willem II

Técnico: Erwin van de Looi
Destaque: Erik Falkenburg (meio-campista)
Fique de olho: Bartholomew Ogbeche (atacante)
Temporada passada: 16º colocado, manteve-se na Eredivisie ao vencer o NAC Breda na Nacompetitie (repescagem)
Copas europeias: nenhuma 
Principais chegadas: [Matthijs Branderhorst (G, MVV Maastricht)], Thom Haye (M, AZ), Elmo Lieftink (M, Vitesse), Jari Schuurman (A, Feyenoord) e Fran Sol (A, Villarreal-ESP)
Principais saídas: Frank van der Struijk (D, não renovou contrato), Rochdi Achenteh (D/M, não renovou contrato), Robbie Haemhouts (M, NAC Breda), Robert Braber (M, Helmond Sport), [Guus Hupperts (M/A, AZ)], [Lucas Andersen (A, Ajax)], [Andy Kawaya (A, Anderlecht-BEL)], Nick van der Velden (A, Dundee United-ESC), Terell Ondaan (A, Excelsior) e Adam Nemec (A, não renovou contrato)

A rigor, o Willem II viveu uma temporada surpreendentemente decepcionante em 2015/16. Em tese, não era time para sofrer com a ameaça de rebaixamento. Mas não mostrou técnica razoável dentro de campo, além de sofrer com as atuações inseguras de alguns jogadores. E enfim, mesmo tendo um grupo de jogadores (um pouco, bem pouco) mais qualificado, teve de superar a repescagem, a duras penas, para se segurar na Eredivisie. Todavia, passou por problemas: perdeu vários jogadores de certa importância, como Lucas Andersen e Terell Ondaan, titulares no ataque. Ainda assim, os Tricolores parecem mais animados do que outros clubes da parte de baixo da tabela. 

Quando nada, porque o técnico Erwin van de Looi recebeu opções consideravelmente razoáveis para o nível técnico da Eredivisie – o volante Thom Haye, constante no AZ, é um bom exemplo. Além do mais, o melhor jogador do time, Falkenburg, segue no clube de Tilburg. E livre de lesões, o atacante nigeriano Bartholomew Ogbeche pode se consolidar como o goleador que falta. Para terminar, entre os resultados na pré-temporada, figura um inapelável 8 a 1 no De Graafschap, outro clube holandês que teve de encarar (sem sucesso) a repescagem. Um indício de que o Willem II pode muito bem evitar os sustos do campeonato passado, se o entrosamento não demorar.


Ryan Koolwijk volta ao Excelsior, para tentar liderar uma equipe que há muito tempo corre risco (sbvexcelsior.nl)
Excelsior

Técnico: Mitchell van der Gaag
Destaque: Ryan Koolwijk (meio-campista)
Fique de olho: Kevin Vermeulen (atacante)
Temporada passada: 15º colocado
Copas europeias: nenhuma
Principais chegadas: Jeffry Fortes (D, Dordrecht), Leeroy Owusu (D, Ajax), Ryan Koolwijk (M, Trencin-ESQ), Anouar Hadouir (M/A, Moghreb Tétouan-MAR), [Carlo de Reuver (A, Helmond Sport)], Terell Ondaan (A, Willem II) 
Principais saídas: Danilho Doekhi (D, Ajax), Daan Bovenberg (D, encerrou carreira), Sander Fischer (D, Go Ahead Eagles), [Yoëll van Nieff (D, Groningen)], Rick Kruys (M, encerrou carreira), Jeff Stans (M, NAC Breda), Adil Auassar (M, Roda JC), Tom van Weert (A, Groningen), Brandley Kuwas (A, Heracles Almelo) e Daryl van Mieghem (A, Heracles Almelo) 

O Excelsior já é ameaçado pelo rebaixamento há pelo menos duas temporadas – e ainda não aprendeu as lições necessárias numa situação assim. Basta dizer que, tanto no Campeonato Holandês passado quanto no retrasado, ficou em 15º lugar, apenas uma posição acima da zona de repescagem/rebaixamento. E seguia com uma defesa insegura, e um ataque excessivamente dependente de alguns jogadores – no caso da temporada passada, dependente de Brandley Kuwas e Tom van Weert.

Pois bem, agora não há mais como depender de ambos, que deixaram o clube. Assim como Stans e Auassar, que ainda tentavam ajudar no ataque, e o experiente Sander Fischer, na defesa. Resta ao técnico novo, Mitchell van der Gaag (substituindo Alfons “Fons” Groenendijk, dispensado ao fim da temporada), formar um time completamente novo. Alguns reforços até ajudam, como o razoável volante Koolwijk e o atacante Ondaan, bem no Willem II. Só que os resultados de pré-temporada fazem prever um ano difícil: já houve derrota até para o Go Ahead Eagles. Um susto foi pouco, dois já foram demais... o terceiro é a queda?

Em meio a menos e mais precisas contratações, Van Hyfte ganhou a chance de liderar meio-campo do Roda JC (Jeroen Putmans/VI Images)
Roda JC

Técnico: Yannis Anastasiou
Destaque: Tom van Hyfte (meio-campista)
Fique de olho: Mikhail Rosheuvel (atacante)
Temporada passada: 14º colocado
Copas europeias: nenhuma
Principais chegadas: Yves de Winter (G, Sint Truiden-BEL), Martin Milec (D, Standard Liège-BEL), Roel Brouwers (D, Borussia Mönchengladbach-ALE), Christian Kum (D, Utrecht), Abdul Ajagun (M, Panathinaikos-GRE),  [Jens van Son (M, Fortuna Sittard)], Nestoras Mytidis (A, AEK Larnaca-CHP), Dani Schahin (A, Mainz-ALE), Adil Auassar (A, Excelsior), [Mitchel Paulissen (A, VVV-Venlo)] e Mikhail Rosheuvel (A, Cambuur)
Principais saídas: Henk Dijkhuizen (D, não renovou contrato), Arjan Swinkels (D, Beerschot-BEL), Jordy Buijs (D, Pandurii-ROM), [Georgi Zhukov (M, Standard Liège-BEL)], Ugur Inceman (M, Eskisehirspor-TUR), Hicham Faik (M, não renovou contrato), Tomi Juric (A, Luzern-SUI), [Mike van Duinen (A, Fortuna Düsseldorf-ALE)], [Kristoffer Petersson (A, Utrecht)], Maecky Ngombo (A, Fortuna Düsseldorf-ALE) e Rydell Poepon (A, Boluspor-TUR)

Na temporada passada, o Roda JC só minorou o sufoco que passou quando fez contratações para todos os gostos na pausa de inverno, após péssimas atuações no primeiro turno. Algumas delas deram certo, principalmente no meio-campo (Marcos Gullón, Inceman) e no ataque (Van Duinen, Ngombo), e o clube da cidade de Kerkrade conseguiu manter-se na primeira divisão, mesmo sem brilho algum. E a diretoria reconheceu que o projeto para o campeonato fora desorganizado: tanto que demitiu o técnico Darije Kalezic, após discordâncias quanto ao rumo do futebol do clube. Assim, os Koempels chegam para 2016/17 tentando algo diferente. 

Várias das caras que chegaram para o returno e evitaram o rebaixamento na Eredivisie passada (Van Duinen, Ngombo, Juric, Faik, Poepon) já deixaram o clube. E as contratações, se foram em menor número, também parecem mais precisas: Christian Kum, Adil Auassar e Mikhail Rosheuvel têm nível técnico aceitável e chegam para ser titulares – bem como o defensor Roel Brouwers, que volta ao clube em que começou a carreira após nove anos no Borussia Mönchengladbach. Se tiverem sucesso no time aurinegro, e se o técnico Yannis Anastasiou desenvolver bem o trabalho, a temporada será mais sossegada do que as anteriores.

Mike Havenaar é o grande destaque. Mas Dennis van der Heijden merecerá atenção, na primeira temporada completa que fará pelo ADO Den Haag (ANP Pro Shots)
ADO Den Haag

Técnico: Zeljko Petrovic
Destaque: Mike Havenaar (atacante)
Fique de olho: Dennis van der Heijden (atacante)
Temporada passada: 11º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: escapar do rebaixamento/vaga nos play-offs por Liga Europa
Principais chegadas: Ernestas Setkus (G, Sivasspor-TUR), Thomas Meissner (D, MSV Duisburg-ALE), José San Román (D, Huracán-ARG), Tom Trybull  (D/M, Greuther Fürth-ALE) e [Gervane Kastaneer (A, FC Eindhoven)]
Principais saídas: Martin Hansen (G, Ingolstadt-ALE), Gianni Zuiverloon (D, não renovou contrato), Robin Buwalda (D, NEC) Timothy Derijck (D/M, Zulte Waregem-BEL), Vito Wormgoor (D, não renovou contrato), [Kyle Ebecilio (M, Twente)] e Thomas Kristensen (M, Brisbane Roar-AUS)

Se o ADO Den Haag terminou a temporada passada num confortável 11º lugar – nada de se comemorar, mas tranquilamente distante da zona de repescagem/rebaixamento -, então, por que colocá-lo entre os clubes que têm como missão evitar as últimas posições da tabela? Apenas e tão somente porque o clube auriverde da cidade de Haia talvez enfrente algumas dificuldades de readaptação. Afinal de contas, algumas coisas mudaram. Mais motivado pelas melhores condições de trabalho, o técnico Henk Fraser se foi rumo ao Vitesse; na defesa, as perdas da janela de transferência foram o goleiro Martin Hansen (autor do marcante gol contra o PSV, na Eredivisie passada), o lateral direito Zuiverloon e o zagueiro Wormgoor. Todos titulares. Sem contar o cenário interno, com a desconfiança contínua sobre o chinês Hui Wang, dono do clube.

Agora, o técnico montenegrino Zeljko Petrovic terá de remontar parte do setor, com os reforços que chegaram, como o zagueiro argentino San Román e o goleiro lituano Setkus. Para facilitar seu trabalho, pelo menos, os destaques do Den Haag em 2015/16 seguem no clube. Tanto no meio-campo, com Danny Bakker cuidando da marcação e Mathias Gehrt armando as jogadas, quanto (e principalmente) no ataque, onde segue bem o trio formado por Édouard Duplan, Mike Havenaar e Ruben Schaken – sem contar o promissor Dennis van der Heijden, que acabou de jogar o Europeu sub-19 pela seleção. Caso a defesa acompanhe rápido o entrosamento já existente no meio e na frente, e o mecenas Hui Wang não desapareça novamente da vida do clube, o ADO Den Haag evitará tranquilamente o rebaixamento, de novo. E até poderá aspirar a coisas maiores.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 22.07.2016. Atualizada)

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