terça-feira, 9 de maio de 2017

Como nossos antecessores


Advocaat: inegavelmente experiente, comandará a Oranje pela 3ª vez. Mas está atualizado? (Soccrates Images)

Fevereiro de 2014. A história é conhecida: Ronald Koeman, entgão treinando o Feyenoord, queria comandar a seleção holandesa. Inclusive, já anunciara que deixaria o Stadionclub ao fim daquela temporada  - o contrato iria terminar, e ele ficaria com o caminho aberto. Só que Guus Hiddink não deixou: em suas colunas no diário De Telegraaf, o treinador também disse querer comandar a Laranja. Diretor técnico da federação holandesa, Bert van Oostveen teve a ideia: após a Copa de 2014, Hiddink treinador e Koeman auxiliar (assim fora na Copa de 1998). Sentindo-se desprestigiado - afinal, já tinha uma carreira desenvolvida - e até magoado com a falta de consideração da federação, Koeman desistiu de qualquer vínculo. Então, ficou decidido e foi anunciado naquele fevereiro: Hiddink treinaria a Oranje após a Copa de 2014, com Danny Blind como auxiliar - e sucessor, após a Euro 2016. Deu no que deu: Holanda fora do torneio continental, e mergulhada na crise atual.

Três anos e três meses após a desastrada decisão, a federação holandesa deu sinal de que não aprendeu lição nenhuma. Nesta terça, o diretor técnico Hans van Breukelen e o diretor comercial Jean-Paul Decoussaux confirmaram o que a imprensa já indicava: Dick Advocaat estava contratado para sua terceira passagem como técnico da seleção holandesa, com Ruud Gullit de auxiliar, em contrato até o fim das eliminatórias europeias para a Copa de 2018 - ou para a própria fase final da Copa, se a Holanda chegar a ela. A explicação do ex-goleiro Van Breukelen deixou clara a falta de preocupação com qualquer coisa de longo prazo: "Havia dois cenários: escolher pelo longo prazo ou fazermos de tudo para alcançar a Copa. Ficamos com a segunda opção. Para ela, precisávamos de um sujeito muito experiente, com autoridade". Até por isso, Advocaat foi o escolhido, diante da recusa de nomes procurados, holandeses (Louis van Gaal, Frank de Boer, Huub Stevens) ou estrangeiros (o alemão Roger Schmidt).

Entretanto, o assunto mais falado na conferência de imprensa foi a verdadeira "novela" da escolha do sucessor de Danny Blind. Se Advocaat era o nome, por que Henk ten Cate, treinando o Al Jazira-EAU (já garantido no Mundial de Clubes, como campeão emiratense), esteve tão próximo de um acordo? Aí, foi hora de Van Breukelen negar: "Isso é o que Henk disse. Eu não disse nada sobre ele [Ten Cate] estar perto de ser o escolhido. Eu tinha duas opções". O diretor criticou Ten Cate, por ter revelado à imprensa holandesa a conversa de ambos: "Se eu tenho uma conversa com alguém, o teor dela deve ficar entre as duas pessoas. Acho até mal educado. Portanto, fico feliz dele não ter sido o escolhido".  E ainda disse algo pouco sabido antes: que Ten Cate só não foi escolhido porque o auxiliar imaginado para ele recusou a oferta: "Durante as conversas, Fred Rutten desistiu de ser o auxiliar". Mas por quê forçar uma dupla de técnico e auxiliar? Van Breukelen: "Eu penso em duplas".

Van Breukelen (à esquerda) e Decoussaux: novos erros na condução da escolha do técnico (ANP/Pro Shots)

Restou Advocaat. Que havia deixado a comissão técnica da própria seleção, há pouco menos de um ano, quando ainda auxiliava Danny Blind, para treinar o Fenerbahçe! Van Breukelen reconheceu que era estranho trazê-lo de volta, ainda mais por ter discordado frontalmente da saída de Advocaat. Mas engoliu em seco: "No momento, estamos numa situação em que os sentimentos devem ser postos de lado, para priorizarmos a qualidade. Passo por cima disso para ver o que é melhor para a seleção". O ex-goleiro também assumiu que a escolha do veterano foi recebida estranhamente entre o grupo de jogadores costumeiramente convocados: "Eles ficaram surpresos. Mas são profissionais como eu, e também passarão por cima disso".

Sendo assim, resta esperar por Advocaat - que ainda trabalha com o Fenerbahçe, nas semifinais da Copa da Holanda, e que deverá encerrar o trabalho na última rodada do Campeonato Turco, em 2 de junho, contra o Adanaspor. Até lá, Fred Grim segue o responsável pela Oranje - e pode até treiná-la no amistoso do dia 31 de maio (contra Marrocos, em Agadir). Depois, volta o "Pequeno General", técnico mais velho a comandar a Oranje (69 anos e quatro meses - completa 70 em 27 de setembro), segundo treineiro com mais partidas no banco da seleção nacional (55 jogos nas duas passagens, entre 1992 e 1994 e entre 2002 e 2004). Com a tarefa pesada de fazer um bom trabalho para apagar as más memórias de suas passagens turbulentas por seleções como Bélgica, Rússia e Sérvia - sem contar trabalhos esquecíveis por Sunderland e Fenerbahçe. 

Mas Advocaat não merece críticas, apenas desconfianças sobre sua desatualização. As críticas vão para a dupla de diretores. Que apesar de ter visto tudo o que viu, é quase a mesma. E age como seus antecessores. 

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