Ajax sofreu demais, como já ocorrera nas quartas de final. Mas suportou pressão e fez história (Ajax Life/Twitter) |
Difícil segurar a comemoração de torcida - e até imprensa - na Holanda. Após 15 anos, um clube do país voltou a figurar entre os finalistas de um torneio europeu - e na Liga Europa, sucessora da Copa da UEFA que o Feyenoord levou em 2001/02 sobre o Borussia Dortmund. O jejum do Ajax era até mais longo: havia 21 anos os Amsterdammers não sabiam o que era jogar uma decisão continental, desde a derrota nos pênaltis para a Juventus, na final da Liga dos Campeões 1995/96. Mais: no contexto atual do futebol europeu, passar da fase de grupos já era algo notável para um clube holandês. Por isso, a significância inegável e elogiável da classificação. Mas o fato é que, até chegar à festa, o Ajax sofreu.
E não precisava ter sofrido. Porque no primeiro tempo, o time mostrou que parecia ter aprendido a lição vinda nas dramáticas quartas de final. Suportou a pressão esperada do Lyon, no começo do jogo em um Parc OL previsivelmente lotado - em grande parte, pelas atuações seguras de Davinson Sánchez (unanimemente elogiado pelo posicionamento nas bolas aéreas e pela capacidade no primeiro combate) e André Onana (bem posicionado em várias defesas - como aos 10', em cobrança de falta de Mathieu Valbuena).
Aos poucos, os visitantes cresceram de produção no ataque. Passaram a tocar a bola - e a criar chances. Como aos 12', quando Kasper Dolberg e Davy Klaassen tiveram dois chutes em sequência, para depois Bertrand Traoré forçar o goleiro Anthony Lopes a espalmar chute sinuoso. Ou aos 14', quando Hakim Ziyech cobrou falta rapidamente, deixando Amin Younes livre com a bola para encobrir Lopes, mandando para fora. Finalmente, aos 27', o gol primoroso de Dolberg (passe de Younes, e o dinamarquês tocou com calma invejável na saída de Lopes, pela esquerda) fazia justiça ao que se via em campo: uma superioridade tamanha que chegava a se ouvir a torcida visitante no Parc OL. De quebra, até havia chances para o segundo gol - como nos chutes de Klaassen, aos 41', e Lasse Schöne, aos 43'.
Foi assim, até a primeira falha da defesa. Desafortunadamente, do destaque Sánchez: o colombiano deixou a bola passar, e Alexandre Lacazette (de volta, já provando seu valor nos Gones) foi mais rápido do que Matthijs de Ligt. O jovem chegou com força excessiva na dividida, o juiz polonês Szymon Marciniak apitou o pênalti, e Lacazette empatou aos 45'. O empate já era prejudicial, mas a pane Ajacied ficou pior ainda aos 45' + 1, quando Nick Viergever deixou Nabil Fekir passar pela direita e cruzar para Lacazette virar o jogo, desviando na pequena área.
O empate de Lacazette: de novo, começando momentos dramáticos para o Ajax (Tom Bode/VI Images) |
Ficava a dúvida: novamente, a juventude do Ajax iria se afetar com a pressão do time lionês? A resposta que o segundo tempo forneceu foi afirmativa. Os avanços de Jérémy Morel pela esquerda passaram a assustar; os de Maxwel Cornet pela direita, ainda mais. De quebra, no meio, Fekir e Lacazette chutavam mais e mais contra a meta. O cartão amarelo levado por Joël Veltman aos 48' já preocupava. O único ponto de segurança no Ajax era Sánchez, que continuava seguro nas bolas aéreas.
Os arremates foram se avolumando: Lacazette aos 55' (Onana agarrou), Cornet aos 55' (para fora), Fekir aos 65' (falha de De Ligt na saída de bola, que deixou o francês livre para bater)... o Ajax tentava aumentar a velocidade nos raros contragolpes, tanto com Traoré e Younes quanto com a entrada de Donny van de Beek na vaga de Schöne. Van de Beek até trouxe perigo, quase marcando um belo gol com a bola mandada no travessão aos 79'. E Kenny Tete até entrou em lugar de Veltman, antes que uma expulsão ocorresse. Porém, estava claro: mais gols do Lyon pareciam desastres esperando para acontecerem. A pressão ampliada com as entradas de Maciej Rybus e Rachid Ghezzal só aumentava a sensação.
Sensação concretizada com o gol de Ghezzal, aos 81'. E com a expulsão de Nick Viergever, aos 84', parecia questão de tempo o quarto gol dos Gones, para levar o jogo à prorrogação. Fekir teve chance aos 85'; Lacazette, aos 87'; Cornet talvez tenha perdido a bola do jogo, em finalização cruzada rente à trave de Onana, aos 89'. E o gol... não aconteceu. O Ajax podia comemorar. A final que parecia um devaneio no começo da temporada era real.
Veio com sustos: a lição das quartas não foi aprendida. Talvez porque o Ajax seja um time feito para atacar, jamais para defender. Talvez porque o Ajax seja um time jovem: seis dos jogadores que terminaram a partida em Lyon nem eram nascidos naquela final de 1996 contra a Juventus. Por tudo isso, o Manchester United (irregular, mas experiente) é favorito para a final de 24 de maio na Friends Arena de Estocolmo.
Mas esses pensamentos ficam para depois. Agora, é hora de ecoar as palavras de Klaassen: "Somos uma máquina de lutar". De Peter Bosz: "Agora, sim, veremos se realmente podemos fazer história". De Matthijs de Ligt: "Foi a mais bonita partida da minha precoce carreira". De Lasse Schöne: "Quando eu falei antes que poderíamos vencer a Liga Europa, acharam que eu estava maluco". De Kasper Dolberg: "Tanta coisa está acontecendo...". De Van de Beek: "Vamos vencer a Liga Europa e também ser campeões holandeses". Numa palavra: é hora do Ajax comemorar. Depois daquela distante derrota para o Rostov-RUS na terceira fase preliminar da Liga dos Campeões, quem diria?
Nenhum comentário:
Postar um comentário