Os jogadores atuam, e Oliseh (segundo à esquerda) treina no banco: o Fortuna Sittard ganha otimismo (Joris Verwijst/Orange Pictures) |
Os leitores que já acompanhavam futebol com sofreguidão na década de 1990 certamente se lembram da geração nigeriana que fez papel honroso nas Copas de 1994 e 1998 (talvez podendo até ter ido além do que as oitavas de final). Um bom jogador que esteve nesses dois Mundiais era o volante Sunday Oliseh: com certo talento na saída de bola, Oliseh teve destaque em pelo menos um momento de Copas (o golaço que definiu a vitória por 3 a 2 sobre a Espanha, estreia das Super Águias em 1998), e fez carreira elogiável e estável na Europa, passando por Ajax, Juventus e Borussia Dortmund.
Pois é: aos 43 anos (fará 44 em setembro), Oliseh já é técnico – até com passagem pela própria seleção nigeriana, entre 2015 e 2016. No fim deste, aliás, foi contratado pelo Fortuna Sittard, clube holandês que disputa a segunda divisão do país. E com pouco mais de um ano de trabalho, o ex-meia tem a possibilidade de colocar seu nome na história da agremiação auriverde. Mesmo no banco, é Oliseh o grande símbolo da campanha que dá aos adeptos do Fortuna a esperança de retornar à primeira divisão, após 16 anos de ausência.
Tal esperança já tem certa garantia: afinal, como melhor clube do “segundo período” da Eerste Divisie (ou seja, melhor desempenho entre a 10ª e a 18ª rodadas), o Fortuna já está garantido na repescagem para definir o acesso à/descenso da/manutenção na Eredivisie. Ainda assim, se é mais cômodo garantir a promoção direta como campeão da segunda divisão, o FSC também está bem: é o terceiro colocado após 21 rodadas, com 44 pontos. Por sinal, é o único “penetra” na disputa do título.
Líder, com 46 pontos, o NEC tem sua presença previsível: afinal, caiu na temporada passada, e tem presença constante na Eredivisie. O segundo colocado (45 pontos), então, quase dispensa apresentações: o Jong Ajax, equipe B do clube de Amsterdã, não pode subir nem participar da repescagem de acesso, por motivos óbvios, e encara a segunda divisão apenas como uma chance para dar ritmo de jogo aos novatos que estão para ser promovidos ao grupo principal dos Ajacieden – ou que ainda não emplacaram nele (como o atacante colombiano Mateo Cassierra, terceiro maior goleador da temporada, com 13 gols).
Tradição não falta ao Fortuna Sittard: mesmo sem títulos holandeses em sua história de 49 anos completos no dia 1º passado, ficou famoso por revelar muitos jogadores (sendo Mark van Bommel o mais conhecido) e é considerado um símbolo da Limbúrgia, província holandesa na qual fica a cidade de Sittard. Porém, nada fazia crer uma campanha tão elogiável como a atual. As causas eram duas. Primeiro, a aflitiva situação financeira vivida pelo Fortuna nos anos recentes: chegou-se a cogitar até a fusão com o arquirrival Roda JC, formando o Sporting Limburg – fusão quase consumada, mas enfim descartada. Preenchido um pouco o vazio do cofre (o empresário turco Isitan Gün comprou o clube em 2016), ficaram os deficientes resultados esportivos como segunda razão para se duvidar da ascensão. Por exemplo: em 2016/17, o Fortuna Sittard ficou em... 17º lugar.
Enfim tendo uma temporada à disposição para trabalhar, Sunday Oliseh montou um time muito coeso. E que teve como mérito a aposta em jovens, como os dois destaques ofensivos do time: Finn Stokkers (vindo do Sparta Rotterdam) e Djibril Dianessy (francês, adquirido junto ao time B do Toulouse), ambos responsáveis pelo gol. A defesa também se vale de um novato: Wessel Dammers, vindo do Feyenoord. Sem contar outro defensor, já comprado pelo Ajax para a próxima temporada: Perr Schuurs (que chegou a ser capitão, com apenas 18 anos!). Resultado: a campanha regular na segunda divisão e os momentos elogiáveis na Copa da Holanda, tendo caído somente na prorrogação das oitavas de final, contra o AZ.
Claro, com tantos jovens e um orçamento tão apertado, alguns tropeços são esperados – como ocorreu na rodada passada e nesta, com duas derrotas seguidas (3 a 0 do Dordrecht, 2 a 1 do FC Emmen). Aí entra a importância de Oliseh na campanha: o nigeriano já pediu mais auxílio da diretoria para que o Fortuna Sittard suporte a reta final (“Se quisermos continuar no topo, precisamos de contratações”). De todo modo, só o fato de já estar assegurado na disputa pelo acesso já está entusiasmando a torcida. Que espera, após 16 anos da queda, o girar da roda do Fortuna.
(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 26 de janeiro de 2018)
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