sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A Holanda aprendeu (um pouco) a lição

Ronald Koeman era considerada a opção certa para aprumar a seleção holandesa em 2018. Aprumou (Pim Ras Fotografie)

Quando 2018 começou, o futebol holandês ainda lambia as feridas do péssimo ano anterior. Com a seleção, a ausência da Copa deixou definitivamente claro: algo precisava mudar, e urgentemente. E de certa forma, essa mesma impressão ficava, ao se olhar o desempenho dos clubes holandeses. Se PSV (futuro campeão da Eredivisie) e Ajax (vice) já monopolizavam a disputa pelo título nacional, ambos tinham seus tropeços feios: os Boeren, ao perderem para o Osijek-CRO já na terceira fase preliminar da Liga Europa, e o Ajax, ao cair tanto na terceira fase preliminar da Liga dos Campeões (para o Nice-FRA) quanto nos play-offs da Liga Europa (para o Rosenborg-NOR). Os Godenzonen, por sinal, tinham a própria crise para resolver, conflagrada pela demissão de Marcel Keizer e do conselheiro técnico Dennis Bergkamp, exatamente há um ano. 

Quase 365 dias depois, a Holanda tem algo a comemorar em seu futebol. Não muito, mas tem. Porque a seleção e os grandes clubes parecem ter aprendido uma importante lição para fazerem o papel mais decente que são capazes de fazer: intensidade, rapidez, capacidade de adaptação tática (e alguma ousadia, diga-se de passagem) são itens fundamentais para o futebol atual. Quando o assunto é a seleção, é justo dizer: desde que sua contratação foi anunciada, Ronald Koeman parecia realmente ser o técnico mais adequado para organizar melhor uma geração que tinha talento aqui e ali, mas não tinha capacidade tática para explorar esse talento, muito menos para rivalizar com seleções em melhor situação.

Os amistosos de março (derrota para a Inglaterra, vitória sobre Portugal) já mostraram: no aspecto defensivo, havia um bom caminho, simbolizado na dupla cada vez mais promissora que formam Matthijs de Ligt e Virgil van Dijk. Faltava apenas ajustar o ataque, ainda sem força, prejudicado pela falta de movimentação das opções - Bas Dost ou Wout Weghorst. Koeman sabia: precisava resolver tudo isso na primeira metade do ano, para começar a Liga das Nações com um time bem definido para tentar fazer frente à França (que a Copa tornou campeã mundial) e à Alemanha. Os empates contra Eslováquia e Itália deram alguma preocupação, mas o importante era testar, não vencer.

Koeman testou. Começou a ver que estava dando certo no amistoso contra o Peru, que simbolizou uma troca de guarda muito importante: saía Wesley Sneijder, após 15 anos e 133 jogos, deixando as saudades do vice-campeonato na Copa de 2010 e o terceiro lugar na Copa de 2014, entrava Frenkie de Jong, já então elogiado como a promessa de um meio-campo organizador como a Laranja não tinha havia muito tempo. Já foi suficiente para uma atuação honrosa na derrota por 2 a 1 para a França, na estreia pela Liga das Nações, em setembro. 

Mais algumas coisas se assentaram: a titularidade de Jasper Cillessen no gol, a capacidade de Ryan Babel em reter a bola no ataque, o crescimento de Memphis Depay, a explosão de Frenkie de Jong. E a Oranje, enfim, mostrou sua reação na ótima vitória contra a Alemanha, em Amsterdã, em outubro. Confirmou-a no triunfo diante da França, em Roterdã, quando se reencontrou com o respeito que andava distante. E mesmo a atuação ruim contra a Alemanha, no jogo decisivo, foi consertada com a mudança tática, às pressas, que rendeu o empate em 2 a 2 e a vaga nas semifinais do torneio amistoso de seleções europeias. Se a seleção precisava de ânimo, precisava jogar bem, terminou 2018 com os objetivos plenamente cumpridos - e dando esperanças de continuar assim em 2019.

Frenkie de Jong não foi só a cara da reação da Holanda na seleção. Também foi a cara da reação do Ajax (ANP)
Se Frenkie de Jong é o símbolo dessa melhora da seleção, também pode ser considerado o símbolo de alguma melhora dos clubes holandeses. Se bem que talvez seu nome não seja o mais exato. Aqui, é melhor citar Dusan Tadic, cuja compra cacifou o Ajax, deixou claro que o time de Amsterdã queria falar grosso nesta temporada - e não só no Campeonato Holandês. Os destaques continuaram no time (Onana, De Ligt, De Jong, David Neres, Hakim Ziyech), outros chegaram (Daley Blind), e os Ajacieden conseguiram: não só mantêm acesa a disputa pelo título na Eredivisie, como enfim tiveram campanha digna de nota na Liga dos Campeões, voltando às oitavas de final.

O PSV não teve a mesma sorte: num grupo dificílimo, amargou a eliminação previsível. Se serve de consolo, porém, também é unânime que o time de Eindhoven mostrou merecer melhor sorte, com boas atuações contra todos os adversários que pegou na Champions League. E tal capacidade foi esbanjada no Campeonato Holandês: com vários jogadores em estado de graça (Angeliño, Jorrit Hendrix, Hirving Lozano, Luuk de Jong, Steven Bergwijn), por uma derrota os Boeren não conseguiram igualar o melhor turno da história da Eredivisie.

Então o campeonato está bom? Nem tanto: Ajax e PSV brilharam contra adversários cada vez mais fracos, entre médios e pequenos, enquanto o Feyenoord vive num limbo estranho: bom demais para "o resto", longe demais da dupla que comanda a liga. Os grandes tentam ajudar, como na iniciativa que se verá a partir de 2021, destinando 5% do lucro pelas participações em competições europeias para as equipes menores. Mas ainda parece longe o dia em que se voltará a ver um médio clube desafiar o trio de ferro, como terá acontecido há dez anos, com o título do AZ.

De todo modo, se a Holanda encerrou 2017 tendo mais perguntas do que respostas sobre o que precisava fazer, ela termina 2018 mostrando que aprendeu (um pouco) a lição. Não se revolucionou, mas soube melhorar em alguns aspectos para poder ter direito àquela gostosa esperança de fim de ano.

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