quarta-feira, 13 de julho de 2022

A duras penas

A Holanda penou, correu muito risco de tomar a virada de Portugal... mas Van de Donk foi quem trouxe o talento individual decisivo da vez. E as Leoas Laranjas venceram na Euro (KNVB Media)


Os fatos ruins só aumentaram os distúrbios que tomam conta da participação da Holanda na Euro feminina. Eram as lesões de Sari van Veenendaal (fora da Euro pelo problema no ombro) e Aniek Nouwen; a reclamação de Vivianne Miedema sobre a excessiva interação das jogadoras com familiares/jornalistas, aumentando o perigo da COVID; os testes positivos de Jackie Groenen e da própria Miedema para o coronavírus; e a entrevista de Jill Roord ao diário De Volkskrant, comentando com certa ironia sobre o comportamento do técnico Mark Parsons. Só uma vitória contra Portugal diminuiria os comentários crescentes. Ela veio. A duras penas, mas veio. E a situação fica sob controle, pelo menos por enquanto, com o 3 a 2 feito em Portugal - dando até a liderança do grupo C da Euro, para um time que ainda está sofrendo.

E a gangorra - ou será montanha-russa? - entre dor e prazer para a seleção laranja ficou clara tão logo o jogo começou. Primeiro, a dor: com a lentidão de Lynn Wilms na direita, diante de um time tão intenso quanto Portugal foi no estádio Sports Village, bastaram apenas cinco minutos para uma defesa de Daphne van Domselaar, a nova titular do gol, num chute de Tatiana Pinto (jogada só anulada por impedimento de Ana Borges, na origem), e para um gol de Ana Borges, também anulado por impedimento. Para, no minuto seguinte, vir o prazer: a velha eficácia de Sherida Spitse nas bolas paradas, o cabeceio de Damaris Egurrola - titular, na ausência de Groenen -, 1 a 0. E Damaris não ficou só no gol: a camisa 21 exibia segurança na posse de bola, capacidade nos lançamentos em profundidade - quase sempre desperdiçados por Lineth Beerensteyn, preenchendo a lacuna da ausência de Miedema -, ajudava bastante Spitse. E na frente, não só Daniëlle van de Donk fazia boa partida, com tentativas - como aos 13', num voleio -, como as falhas portuguesas nas bolas paradas abriram espaço para o 2 a 0, aos 16', em cabeceio que rendeu dores a Stefanie van der Gragt, pelo pé alto de Catarina Amado, que atingiu o nariz da zagueira. 

Porém, nada disso queria dizer que Portugal caíra definitivamente. Sempre que tinham a bola nos pés, e encontravam a defesa neerlandesa desguarnecida, as lusitanas traziam perigo. Principalmente pelas pontas, opção que a Holanda raramente aproveitava. Com velocidade e força física, Jéssica Silva causava problemas a Marisa Olislagers. E Diana Silva tomava o protagonismo de Ana Borges (tornando-se recordista de partidas pela seleção - 146) para driblar constantemente Wilms e Dominique Janssen. Até que esta cometeu pênalti, aos 38', flagrado pelo VAR e convertido por Carole Costa, muito bem na lateral esquerda. E mesmo ganhando ao final do primeiro tempo, a Holanda perdia terreno para a intensa seleção feminina das quinas.

Portugal pode ter tomado dois gols pelas falhas em escanteios, mas a intensidade e a velocidade de seu ataque - bem personificados em Jéssica Silva (à direita) - mereceram aplausos (Daniel Mihailescu/AFP/Getty Images)

Se havia alguma expectativa de que o intervalo pudesse oferecer um tempo para a Holanda se assentar, ela se acabou nos dois primeiros minutos da etapa final. No primeiro, Jéssica Silva novamente driblou Olislagers com facilidade e cruzou, para Daphne van Domselaar (outra atuação segura, agora como titular definitiva do gol) espalmar; no escanteio da sequência, após rebote parcial, Carole Costa cruzou, e Diana Silva cabeceou à queima-roupa, fazendo 2 a 2, com liberdade, diante de uma defesa holandesa mal posicionada. Seguia a velocidade de Diana, a habilidade de Jéssica Silva, a experiência de Ana Borges... a reação portuguesa encurralava a Holanda, passando mais dificuldades até do que as sofridas contra a Suécia. Nem o gol anulado de Roord (impedimento de Beerensteyn na origem da jogada, aos 50') freava a péssima sensação.

Só o talento individual salvou as Leoas Laranjas. Na forma de um chute perfeito de Daniëlle van de Donk, coroando a recuperação pela qual tanto se esforçou ao fazer o gol de uma difícil vitória. E com as alterações de Mark Parsons, que efetivamente ajudaram a seleção na partida. Na defesa, Kerstin Casparij diminuiu os problemas que Jéssica Silva causava na direita; no ataque, Esmee Brugts manteve mais a posse de bola, e até experimentou mais jogadas, quando entrou no lugar de uma Lieke Martens que pouco fez. De quebra, Spitse foi de grande valia nos desarmes, no meio, impedindo que a defesa sofresse tanto com os ataques portugueses.

E a Holanda venceu. Com sofrimento. Pelo visto, ele será a tônica na campanha das Leoas Laranjas durante toda a Euro feminina. Quem sabe ele diminua se as positivadas para a COVID voltarem rápido, ou se a defesa se aprumar, ou se o time souber manter as vantagens que consegue...

Euro feminina 2022 - fase de grupos - Grupo C
Holanda 3x2 Portugal
Data: 13 de julho de 2022
Local: Sports Village (Leigh)
Juíza: Ivana Martincic (Sérvia)
Gols: Damaris Egurrola, aos 7', Stefanie van der Gragt, aos 16', Carole Costa, aos 38', Diana Silva, aos 47', e Daniëlle van de Donk, aos 62'

Holanda
Daphne van Domselaar; Lynn Wilms, Stefanie van der Gragt, Dominique Janssen e Marisa Olislagers (Kerstin Casparij, aos 63'); Sherida Spitse, Jill Roord e Damaris Egurrola (Victoria Pelova, aos 69'); Daniëlle van de Donk, Lineth Beerensteyn e Lieke Martens (Esmee Brugts, aos 82'). Técnico: Mark Parsons

Portugal
Inês Pereira; Catarina Amado, Diana Gomes, Carole Costa e Joana Marchão (Francisca "Kika" Nazareth, aos 65'); Dolores Silva (Fátima Pinto, aos 65'), Andreia Norton e Tatiana Pinto (Vanessa Marques, aos 86'); Diana Silva (Carolina Mendes, aos 86'), Ana Borges e Jéssica Silva. Técnico: Francisco Neto

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