sexta-feira, 10 de junho de 2016

Análise da Eredivisie 2015/16 (II – a parte de cima)

O PSV viveu um sonho na temporada atual: com regularidade e sorte, chegou ao bicampeonato (Pieter Stam de Jonge/VI Images)
(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 10 de junho de 2016)

“Está chegando a hora. A torcida holandesa já se assanha, embora extremamente desconfiada. A imprensa elucubra sobre as hipóteses de escalação, mas não adianta: o técnico Danny Blind não dá dica alguma sobre quais serão os titulares no 4-3-3 com que a seleção da Holanda estreará na Euro 2016, na próxima terça, contra a Hungria, em Bordeaux. Com Robin van Persie e Klaas-Jan Huntelaar fora da convocação, será que a revelação Vincent Janssen já aguentará a pressão de ser titular? E Wesley Sneijder, voltando de lesão nas costelas, será o dono do meio-campo? Memphis Depay responderá em campo às críticas, após a temporada decepcionante no Manchester United?E finalmente: dará certo a aposta arriscada em Arjen Robben (sempre ele), que começa no banco de reservas, mas não podia ficar de fora da Euro, como único craque holandês da atualidade?”

Opa! Desculpe a nossa falha! Este primeiro parágrafo, obviamente, é uma brincadeira. Mas, de fato, muita gente (jornalistas e torcedores) ainda se esquece de que a Laranja está ausente do torneio europeu de seleções que se inicia nesta sexta. Fazendo a cobertura do torneio para a revista Voetbal International, o jornalista holandês Simon Zwartkruis descreveu o drama que vive na França, em um diário de bordo: “O dia nem começou e a pergunta já foi feita umas dez vezes. Seja de um jornalista estrangeiro, um empregado do hotel, um voluntário no estádio, um garçom ou um nativo, vem o pedido inevitável para falar sobre a ausência da Oranje”.

O pior é que a seleção holandesa até deu razões para otimismo – muito leve, mas um otimismo -, ao vencer Polônia e Áustria em amistosos na semana passada, indicando pequena evolução. Sem contar que a janela de transferências ainda não começou para valer: os únicos boatos falam das saídas de Jeffrey Bruma (estaria disputado entre Wolfsburg e Internazionale) e Vincent Janssen (ele quer sair, o AZ diz não ter recebido proposta oficial, mas o Tottenham já sonda o atacante). Enfim, a realidade é inescapável: ao invés da Euro, resta à coluna terminar a análise da temporada 2015/16.

PSV
Colocação final: Campeão, com 84 pontos
Técnico: Phillip Cocu
Maior vitória: Cambuur 0x6 PSV (5ª rodada)
Maior derrota: PSV 0x2 Ajax (28ª rodada)
Principal jogador: Luuk de Jong (atacante)
Artilheiro: Luuk de Jong (26 gols)
Quem mais partidas jogou: Jeroen Zoet (goleiro), que jogou todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado nas quartas de final, pelo Utrecht
Competição continental: Liga dos Campeões (eliminado nas oitavas de final, pelo Atlético de Madrid-ESP)
Conceito da temporada: ótimo

Durante toda a temporada, o PSV esbanjou consistência e segurança. Nem parecia que o time de Eindhoven havia sofrido duras perdas, com as saídas de Memphis Depay e Georginio Wijnaldum. Aí entrou o mérito da diretoria, contratando com precisão: a chegada de Davy Pröpper até fortaleceu a armação das jogadas, deixando Andrés Guardado menos carregado, e Maxime Lestienne se entrosou rapidamente no ataque enquanto pôde (as mortes repentinas de seus pais, em sequência, interromperam a boa temporada que o belga fazia, ao forçar seu afastamento para ajudar a família). Na defesa, embora tenha começado com exageros claros, Héctor Moreno também não demorou para formar dupla de zaga segura com Jeffrey Bruma.

Quando o returno começou, já se podia dizer que a temporada do PSV estava “ganha”, fosse qual fosse o destino do clube nas competições. Só o fato de ter, enfim, marcado a presença holandesa nas oitavas de final da Liga dos Campeões (não acontecia desde 2006/07), já colocava os Boeren em outro nível. De quebra, uma contratação feita em janeiro, que parecia apenas para fortalecer o elenco, deu muito certo: Marco van Ginkel caiu tão bem no meio-campo quanto Pröpper, e ajudava mais o ataque, onde Luuk de Jong era o protagonista supremo, comandando o time com seus gols e sua capitania. De quebra, atacante improvisado na ponta-esquerda, Jürgen Locadia não se saiu mal, como provaram suas convocações para a seleção holandesa.

E ser eliminado como foi na Champions, só caindo diante do futuro finalista Atlético de Madrid nos pênaltis, aumentou ainda mais a respeitabilidade do PSV. O problema é que aumentou também o cansaço da equipe, que enfrentou no fim de semana seguinte o Ajax, adversário direto pelo título. E a derrota por 2 a 0 parecia acabar com o sonho do título. Só restava ao time ser competitivo e confiável, suas duas melhores características. Ele foi, e teve a sorte merecida na última rodada, ganhando o bicampeonato holandês. Dominante no cenário nacional, e respeitável nas competições continentais: o PSV representa tudo que um clube holandês pode almejar, atualmente.

O Ajax de Davy Klaassen achou que o título holandês estava próximo. O De Graafschap mergulhou o time na decepção (Erwin Spek/ANP/Pro Shots)
Ajax
Colocação final: Vice-campeão, com 82 pontos
Técnico: Frank de Boer
Maior vitória: Ajax 6x0 Roda JC (11ª rodada)
Maior derrota: Ajax 1x2 PSV (8ª rodada)
Principais jogadores: Davy Klaassen (meio-campista) e Arkadiusz Milik (atacante)
Artilheiro: Arkadiusz Milik (20 gols)
Quem mais partidas jogou: Joël Veltman (zagueiro) e Nemanja Gudelj (meio-campista), que jogaram todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado na terceira fase, pelo Feyenoord
Competições continentais: Liga dos Campeões (eliminado na terceira fase preliminar, pelo Rapid Viena-AUT) e Liga Europa (eliminado na fase de grupos)
Conceito da temporada: regular

Começar a temporada 2015/16 do Campeonato Holandês sob o signo de uma eliminação vexatória na terceira fase preliminar da Liga dos Campeões, perdendo em casa para o Rapid Viena austríaco, era totalmente desnecessário para o Ajax. Mas também simbolizava o que a equipe de Amsterdã era, dentro de campo: até elogiável no ataque, mas totalmente insegura e frágil defensivamente. E nem mesmo o começo fulgurante na Eredivisie (nas sete primeiras rodadas, seis vitórias e um empate) apagavam o fato de que os Ajacieden eram totalmente inconstantes em campo. A prova disso foi a primeira derrota: em plena Amsterdam Arena, 2 a 1 para o... PSV.

Pelo menos, o Ajax conseguiu cumprir a tarefa “obrigatória” de vencer os pequenos, e segurar-se na liderança do Holandês ao final do primeiro turno. Só que a pressão continuava, ainda mais pelas atuações apagadas na fase de grupos da Liga Europa (não vencer nenhum jogo em casa na fase de grupos foi algo decepcionante). Logo, não impressionou ninguém a perda da liderança, na 21ª rodada, empatando com o Roda JC quando o PSV já vencera o De Graafschap. Só aí, aos poucos, Frank de Boer conseguiu encaixar mudanças benéficas para a equipe. Com as lesões de Kenny Tete e Jaïro Riedewald, Joël Veltman foi para a lateral direita, enquanto Nick Viergever entrou na zaga. E deu certo. Bem como a efetivação de Amin Younes pela esquerda, no ataque. Sem contar o domínio que Davy Klaassen exerceu na equipe, comandando a armação de jogadas e ajudando os colegas a terem melhor posicionamento.

Com o crescimento de produção de titulares absolutos (Riechedly Bazoer, Nemanja Gudelj e, principalmente, Arkadiusz "Arek" Milik, que começou a fazer muitos gols na parte final da Eredivisie), o Ajax conseguiu o que parecia duvidoso: se recompôs, e partiu para buscar a liderança. E conseguiu retomá-la em atuação impecável contra o PSV, na 28ª rodada, fazendo os Eindhovenaren provarem do próprio veneno: ganharam o jogo em contragolpes. Só que a defesa voltava a ratear periodicamente, como no empate contra o Utrecht. Ainda assim, esperava-se, pelo menos, que os Amsterdammers vencessem seus compromissos finais, mais fáceis, para garantirem um título que parecia garantido. O De Graafschap não deixou, expondo a insegurança e a inconstância do Ajax, que nunca pareceu ter “plano B” em caso de adversidade. Por isso, novo fracasso ao final da temporada. A saída de Frank de Boer, já previsível, abre espaço para a mudança esperada e necessária.

Mesmo em momentos difíceis, Kuyt sempre justificou a confiança da torcida do Feyenoord (Stanley Gontha/ANP)
Feyenoord
Colocação final: 3º colocado, com 63 pontos
Técnico: Giovanni van Bronckhorst
Maior vitória: Feyenoord 5x0 Twente (13ª rodada)
Maior derrota: AZ 4x2 Feyenoord (19ª rodada)
Principal jogador: Dirk Kuyt (atacante)
Artilheiro: Dirk Kuyt (19 gols)
Quem mais partidas jogou: Kenneth Vermeer (goleiro), que jogou todas as 34 partidas
Copa nacional: Campeão
Competição continental: nenhuma 
Conceito da temporada: bom

Embora as atuações do primeiro turno pudessem ser consideradas boas, dando esperanças reais de que, enfim, o Feyenoord sairia da fila de 17 anos, ficava o alerta: um empate e uma derrota nas duas últimas rodadas disputadas em 2015 precisavam ser revertidos assim que 2016 começasse. E não havia melhor modo do Stadionclub falar grosso do que vencer o rival PSV, em pleno De Kuip, logo na primeira rodada do returno, para confirmar que estava a sério na disputa do título holandês. Mas outra decepção aconteceu. A pressão até veio da parte dos Feyenoorders, mas jogando nos contragolpes, como gosta, o PSV segurou a barra e fez 2 a 0.

Estava iniciada a derrocada definitiva que destruiu o sonho de acabar com o jejum: entre a 18ª e a 24ª rodada, foram seis derrotas e um empate. Com a defesa excessivamente exposta (principalmente nas laterais) e um meio-campo sem poder de criação, o ataque ficava sem ação e sem confiança. Resultado: torcida frustrada e furiosa, e uma crise crescente, que ameaçou até a terceira posição, pela ascensão impressionante do AZ na tabela. Pensou-se até em demissão de Van Bronckhorst. O antigo ídolo, agora técnico novato, escapou dela. Mas passou algumas rodadas ouvindo os conselhos do “auxiliar pontual” Dick Advocaat, contratado exatamente para isso. 

Não se sabe até que ponto isso ajudou, mas só ali o Feyenoord voltou a crescer. A defesa enfim se acalmou, com Eric Botteghin e Sven van Beek estabilizados no miolo, além de um goleiro confiável em Vermeer; no meio-campo, Tonny Trindade de Vilhena aumentou ainda mais o seu destaque, com rapidez e fôlego até para ajudar o ataque; e Dirk Kuyt era sempre o homem de confiança, mesmo nos piores momentos. E o time se estabilizou, ficando invicto nas doze rodadas seguintes (dez vitórias e dois empates) e se aprumando para, pelo menos, ter dois prêmios de consolação: o título da Copa da Holanda, primeiro troféu do Feyenoord desde 2007/08, e a consequente vaga na Liga Europa. Não era bem o título que todos queriam. Mas, diante do que a temporada foi durante um certo momento, poderia ter sido bem pior. Quem sabe em 2016/17...

Vincent Janssen merece todos os aplausos: protagonizou a incrível reação do AZ na temporada (Laurens Lindhout/VI Images)
AZ
Colocação final: 4º colocado, com 59 pontos
Técnico: John van den Brom
Maior vitória: AZ 5x1 Zwolle (31ª rodada)
Maior derrota: Ajax 4x1 AZ (25ª rodada)
Principal jogador: Vincent Janssen (atacante)
Artilheiro: Vincent Janssen (27 gols)
Quem mais partidas jogou: Vincent Janssen (atacante), que jogou todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado na semifinal, pelo Feyenoord
Competição continental: Liga Europa (eliminado na fase de grupos)
Conceito da temporada: ótimo

Quando o primeiro turno da Eredivisie terminou, a decepção com o AZ era indisfarçável. O time de Alkmaar tinha condições de estar bem acima da 12ª posição que ocupava naquele momento, mas sofria com a falta de entrosamento que apenas começava a ser solucionada. A inconstância era um grande defeito até então, e o elenco ainda jovem sentia falta de referências (que então apenas chegavam, com a volta de Ron Vlaar e Mounir El Hamdaoui – este logo sairia). E o trecho desta coluna na análise do AZ no primeiro turno era definitivo: “A não ser por uma reação impressionante, o AZ dificilmente conseguirá apagar a pesarosa decepção que está protagonizando atualmente”.

E como conseguiu! Que diferença no returno! A “intertemporada” serviu inegavelmente para consertar o que falhava. Vlaar encaixou-se na zaga, e virou o líder que faltava; no meio-campo, Markus Henriksen cresceu de produção na armação, com o promissor Joris van Overeem como coadjuvante, enquanto Ben Rienstra cuidava da armação. E Vincent Janssen quase dispensa apresentações: basta dizer que tinha apenas 6 gols até a pausa de janeiro, e depois dela disparou rumo à artilharia do campeonato. Isso, não só colocando a bola na rede, mas também voltando para ajudar na criação de jogadas, se oferecendo como a opção e buscando a bola. De reforço apenas promissor vindo do Almere City (segunda divisão), Janssen converteu-se na grande revelação da temporada, já com uma posição garantida entre os titulares da seleção holandesa.

Com suas atuações elogiáveis, Janssen foi o símbolo inegável de uma ascensão quase irresistível do AZ: no início do returno, foram sete vitórias nas sete primeiras rodadas, levando a equipe da 12ª à 3ª posição sem escalas. Derrotas justas para Ajax e PSV tiraram o devaneio do título. Mas a boa fase manteve-se, com a terceira melhor campanha do returno, e os Alkmaarders cumpriram o objetivo: novamente, uma vaga em competições europeias. Com uma reação das mais marcantes dos últimos tempos no futebol holandês.

Sébastien Haller, novamente, foi o destaque supremo de um bom time do Utrecht (Maurice van Steen/VI Images)
Utrecht
Colocação final: 5º colocado, com 53 pontos
Técnico: Erik ten Hag
Maior vitória: Heerenveen 0x4 Utrecht (26ª rodada)
Maiores derrotas: Willem II 3x1 PSV (6ª rodada), PSV 3x1 Utrecht (12ª rodada) e Twente 3x1 Utrecht (21ª rodada)
Principais jogadores: Sébastien Haller (atacante) e Bart Ramselaar (meio-campista) 
Artilheiro: Sébastien Haller (19 gols)
Quem mais partidas jogou: Bart Ramselaar e Sébastien Haller, com 37 partidas (33 da temporada regular, mais as quatro do play-off por vaga na Liga Europa)
Copa nacional: vice-campeão
Competição continental: nenhuma
Conceito da temporada: bom

Dá para dizer que a temporada do Utrecht só não foi melhor pelo anticlímax do final de temporada: perder em casa a vaga na Liga Europa para o Heracles foi um duro golpe (até em termos financeiros: embora a situação não seja aflitiva, o clube contava com o dinheiro). Ainda assim, o objetivo primordial dos Utregs quando a temporada começou nem era alcançar qualquer vaga, mas sim mostrar um estilo de jogo mais agradável e competitivo que o das últimas temporadas. E tal objetivo foi cumprido. Se parecia “parte do bolo” no primeiro turno, apenas uma entre as equipes que perseguiam vaga na zona do play-off pela Liga Europa, o Utrecht destacou-se no returno.

Primeiro, pela evolução de vários jogadores: além de Haller, cujo destaque só se consolidou em mais uma ótima temporada (se não saiu em janeiro, certamente agora o atacante francês estará perto de deixar De Galgenwaard). Saltaram aos olhos revelações, como o zagueiro Timo Letschert e o volante Bart Ramselaar (ambos até lembrados por Danny Blind em pré-convocações para a seleção), e também veteranos ressurgidos, como o atacante Ruud Boymans. Num ofensivo 4-4-2 pensado pelo técnico Erik ten Hag, a equipe despontou no returno, superando um Heracles mais irregular e os decadentes NEC e Vitesse. Até sonhou com a terceira posição, mas o AZ estava um passo à frente.

Ainda assim, participar do play-off final pela Liga Europa era bem merecido, e os Utregs poderiam até ser considerados favoritos. Provaram isso na "semifinal", contra o Zwolle: após um empate truncado sem gols no jogo de ida, uma goleada inquestionável na volta (5 a 2). Na final, como um time em momento até mais confiável do que o Heracles, conseguiu bom resultado na ida (1 a 1). Em casa, na decisão, tinha tudo para ganhar a vaga na Liga Europa. Mas uma notícia estranha veio à tona dois dias antes: mesmo com a vaga, o Utrecht poderia ficar de fora do torneio europeu, por falta de informações financeiras em sua licença na KNVB. E finalmente, veio a decepção em campo: sucumbir ao Heracles, que levou o jogo cautelosamente até fazer dois gols fatais, no segundo tempo. A temporada terminou dando um nó na garganta. Mas ele não invalida a ótima temporada do Utrecht.


O Heracles decaiu, teve dificuldades para reagir, mas conseguiu arrancar rumo à Liga Europa (Pieter Stam de Jonge/VI Images)
Heracles
Colocação final: 6º colocado, com 51 pontos
Técnico: John Stegeman
Maior vitória: Cambuur 1x6 Heracles (3ª rodada)
Maior derrota: Heracles 0x5 Roda JC (25ª rodada)
Principal jogador: Iliass Bel Hassani (meio-campista)
Artilheiro: Wout Weghorst (14 gols)
Quem mais partidas jogou: Bram Castro (goleiro) e Joey Pelupessy (meio-campista), que jogaram todas as 38 partidas (34 da temporada regular, mais as quatro do play-off por vaga na Liga Europa)
Copa nacional: eliminado nas oitavas de final, pelo PSV
Competição continental: nenhuma
Conceito da temporada: bom

Quando terminou a primeira metade da temporada, o Heracles era a surpresa mais agradável da competição. Com um estilo de jogo veloz, e um ataque muito insinuante (principalmente pelas pontas), a equipe da cidade de Almelo não estava só prestigiada; estava também cotada para ser “a melhor do resto”, despontava como aquela que mais impressionava – até por ter vencido com autoridade o PSV, já então um dos líderes, e por ter até frequentado a liderança da Eredivisie, em três rodadas. E mesmo com tanta gente a se elogiar no ataque, um destaque parecia unânime: o ponta-direita Oussama Tannane. Mas veio a pausa de inverno, e Tannane tomou o caminho do Saint-Etienne. 

Os Heraclieden sentiram o duro baque dessa perda no returno, inegável e compreensivelmente. Chegaram a sofrer uma sequência de quatro derrotas (com direito a 6 a 3 para o AZ, que lhes tomou o destaque, e um humilhante 5 a 0 para o Roda JC). Chegaram até a cair para a nona posição, fora da zona do play-off pela Liga Europa. Mas a adaptação aconteceu, ainda que aos trancos e barrancos. Wout Weghorst assumiu o protagonismo e começou a marcar gols, enquanto Iliass Bel Hassani, já um bom coadjuvante, se convertia no principal armador. A mudança não devolveu o destaque, mas fez o time conseguir seu lugar no play-off, ainda que de modo mais apagado do que em momentos anteriores.

E seria na Nacompetitie que o Heracles reagiria para a arrancada final. Na "semifinal", contra o Groningen, após perder por 2 a 1 no jogo de ida, caía por 1 a 0 em casa, na volta. Até os 38 minutos do segundo tempo, quando empatou. E aí, partiu para ganhar a vaga na final de modo dramático: virou para 2 a 1 nos acréscimos, e na prorrogação conseguiu golear (5 a 1). Motivadíssimo, contra o Utrecht, soube defender-se de um adversário em melhor momento, e ganhou o prêmio: a vaga na Liga Europa, no que será a primeira participação da história do Heracles num torneio continental. Por linhas tortas, os Almelöers conseguiram o que mereciam, afinal.

Numa temporada irregular do Groningen, Rusnák foi dos raros jogadores a ter presença certa em campo (Erwin Spek/ANP)
Groningen
Colocação final: 7º colocado, com 50 pontos
Técnico: Erwin van de Looi
Maior vitória: Groningen 3x1 Heerenveen (5ª rodada), Groningen 3x1 De Graafschap (30ª rodada) e Groningen 3x1 Heracles (34ª rodada)
Maior derrota: Vitesse 5x0 Groningen (8ª rodada)
Principal jogador: Albert Rusnák (atacante)
Artilheiro: Michael de Leeuw (9 gols)
Quem mais partidas jogou: Sergio Padt (goleiro), que jogou todas as 36 partidas (34 da temporada regular, mais duas do play-off por vaga na Liga Europa) 
Copa nacional: eliminado na terceira fase, pelo Utrecht
Competição continental: Liga Europa (eliminado na fase de grupos)
Conceito da temporada: regular

Com um elenco de qualidade técnica até boa, para os padrões do futebol holandês, o Groningen poderia ter feito uma campanha mais constante nesta temporada. Passou longe disso. Ir sem escalas da euforia à depressão (e vice-versa) foi a tônica para a equipe do norte holandês. Basta notar o que se sucedeu entre o primeiro e o segundo turno. Terminando as primeiras 17 rodadas na oitava colocação, o time alviverde estava bem na disputa por um lugar na zona do play-off – de fato, sua aspiração mais plausível no campeonato.

Após a pausa de inverno, bastou o returno começar para se acreditar que tudo estava perdido. Os jogadores rendiam abaixo do esperado, e o técnico Erwin van de Looi não colaborava, ao pensar um esquema considerado defensivo demais (além de hesitar exageradamente na escolha dele) e ao deixar no banco um destaque técnico inegável, Michael de Leeuw. E nas dez primeiras rodadas do returno, dois empates e oito derrotas - seis delas consecutivas – deixaram o clima num desalento tão grande que Van de Looi anunciou a saída do clube ainda antes do fim da temporada. Curiosamente, foi quando a situação mudou: nos últimos seis jogos, cinco vitórias e um empate levaram os Groningers rumo ao play-off.

Quase deu para superar o Heracles, na "semifinal" da Nacompetitie. Só que a vontade fervilhante dos Almelöers os levou a uma memorável virada. Mas, pelo menos, estar no play-off serviu para o Groningen terminar melhor o campeonato. Fica para Ernest Faber, o próximo técnico, a tarefa de dar mais regularidade ao elenco.

Os gols de Veldwijk ajudaram o Zwolle em mais uma temporada segura e elogiável (ANP/Pro Shots)
Zwolle
Colocação final: 8º colocado, com 48 pontos
Técnico: Ron Jans
Maior vitória: Roda JC 0x5 Zwolle (13ª rodada)
Maior derrota: Zwolle 1x5 Vitesse (9ª rodada) e AZ 5x1 Zwolle (31ª rodada)
Principal jogador: Lars Veldwijk (atacante)
Artilheiro: Lars Veldwijk (14 gols)
Quem mais partidas jogou: Queensy Menig (meio-campista) e Lars Veldwijk (atacante), com 35 partidas (33 pela temporada regular, mais duas do play-off por vaga na Liga Europa)
Copa nacional: eliminado na segunda fase, pelo Feyenoord 
Competição continental: nenhuma
Conceito da temporada: bom

Todo cuidado é pouco. Este foi o lema do Zwolle na temporada 2015/16, pode-se dizer. Já no primeiro turno, o time da cidade homônima se colocou onde queria: na disputa de vaga no play-off da Liga Europa. Dentro de campo, cabia não se desgarrar dessa região da tabela e manter a já conhecida solidez tática da equipe. Fora de campo, era melhor manter o olho vivo nas contas, já que a federação holandesa incluía o clube na perigosa “categoria 1”, que relaciona as agremiações com sérios riscos financeiros. Conseguir conciliar as duas metas seria o melhor dos mundos – e mais um passo na tarefa de tornar o clube autossustentável e frequente na Eredivisie, após o sucesso das duas últimas temporadas. E os “Dedos Azuis” conseguiram. 

Fora de campo, foi mais fácil: a venda do zagueiro australiano Trent Sainsbury foi providencial para aliviar as contas. Dentro de campo, houve riscos. Embora os jogadores emprestados do Ajax (Queensy Menig e Sheraldo Becker) dessem rapidez ao 4-2-3-1 habitual de Ron Jans – com Lars Veldwijk como garantia de chances de gol, no mínimo -, o Zwolle passou boa parte do returno perto da zona do play-off, mas fora dela. Aí entrou a sorte: a boa campanha em casa, mais os tropeços dos adversários diretos, colocaram a equipe onde ela queria, nas duas últimas rodadas.

Veio a Nacompetitie pela Liga Europa, e os Zwollenaren caíram já nas semifinais para o Utrecht – de fato, um time melhor e mais técnico. Mas outra temporada satisfatória estava garantida. De quebra, o clube recebeu a notícia: a KNVB tirou-o da zona de perigo financeiro da entidade, colocando-o em situação mais segura. Pelo visto, o Zwolle está gostando da ideia de virar um clube “médio” no futebol holandês.

"Vako" Qazaishvili simboliza o desalento: indefinições e falhas derrubaram Vitesse no returno (Jeroen Putmans/VI Images)

Vitesse
Colocação final: 9ª colocação, com 46 pontos
Técnico: Peter Bosz (até a 17ª rodada) e Rob Maas
Maior vitória: Vitesse 5x0 Groningen (8ª rodada)
Maior derrota: Vitesse 1×3 Ajax (10ª rodada) e Vitesse 1×3 Utrecht (33ª rodada)
Principais jogadores: Valeri Qazaishvili (meio-campista) e Eloy Room (goleiro)
Artilheiro: Valeri Qazaishvili (10 gols)
Quem mais partidas jogou: Eloy Room (goleiro), que jogou todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado na segunda fase, pelo Heracles
Competição continental: Liga Europa (eliminado na terceira fase preliminar, pelo Southampton-ING)
Conceito da temporada: regular 

Decepção. Não há outra palavra que possa exprimir o que foi a temporada para o time aurinegro da cidade de Arnhem. Pelo que fizera na primeira metade da temporada, a equipe disputava com o Heracles o posto de futebol mais ofensivo e atraente do Campeonato Holandês. Podia até variar bastante em seu esquema: 4-4-2, 4-3-3, 4-3-1-2... e sempre buscando o ataque. Mas se como o Heracles sofreu ao perder Oussama Tannane na janela de transferências, com o Vites foi até pior: a saída do técnico Peter Bosz, rumo ao Maccabi Tel Aviv, foi totalmente inesperada e repentina. O elenco ficava, mas caberia a Rob Maas, auxiliar de Bosz promovido ao comando, manter o alto nível.

E Maas não conseguiu. A torcida mirou a maioria das críticas no treinador, fosse pela indecisão no esquema tático, fosse por decisões impopulares (como colocar no banco o zagueiro georgiano Guram Kashia, capitão e figura querida entre os adeptos), fosse até pela queda brusca no returno (13º lugar, computando apenas as últimas 17 rodadas). Com os jogadores, a crítica era pela apatia: a velocidade do primeiro turno deu lugar a um time lento, inseguro, que às vezes sequer dava um chute a gol. E o castigo demorou, mas veio: três derrotas e três empates nas últimas seis rodadas da Eredivisie eliminaram até a chance de chegar ao play-off pela vaga na Liga Europa, e inviabilizaram a continuação de Rob Maas no comando da equipe. De fato, um final que em nada lembrou a equipe promissora do turno. Ou seja, o Vitesse foi uma... decepção.

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