A foto retrata a comemoração do gol de Wijnaldum. A seleção da Holanda tem muito mais a comemorar (AFP) |
Os sinais de que um caminho vinha sendo encontrado já foram indicados pela escalação, muito semelhante à vista nos dois amistosos da semana. O próprio técnico Danny Blind comentou à SBS6, emissora holandesa de tevê, antes do jogo no Ernst Happel Stadion: "Não quero mudar muito". De fato, só três posições sofreram alteração substancial. No gol, Jeroen Zoet recebeu sua chance desde o começo do jogo; na lateral esquerda, Patrick van Aanholt substituiu Jetro Willems, que se desligou da delegação por dores no pé; e no meio-campo, Kevin Strootman recomeçou um amistoso como titular. De resto, era o que já se sabia.
E o começo da partida indicou um planejamento tático definido: a Holanda esperaria na defesa, e tentaria os contragolpes para superar um time austríaco mais veloz na criação de jogadas (e, claro, também mais motivado pela presença maciça da torcida). O primeiro ataque dos anfitriões quase estragou os planos: após Zlatko Junuzovic tocar fracamente na bola, ela subiu, ficando à feição para Marko Arnautovic tentar uma bicicleta belíssima, forçando uma defesa de Zoet que também foi bonita: atento, o arqueiro do PSV espalmou pela linha de fundo. E não parou por aí: acelerando as chegadas pela direita, onde Kenny Tete sofria tentando marcar Arnautovic e Marcel Sabitzer, a Áustria prometia marcar o gol logo.
Porém, paralelamente, a seleção holandesa também indicava que poderia aproveitar os contra-ataques. Os espaços eram deixados pelos austríacos; o meio-campo se posicionava bem para trocar passes; e de quebra, Vincent Janssen e Steven Berghuis voltavam do ataque para ajudar no desenvolvimento das jogadas. Em suma: a Oranje não estava espaçada em campo. Corrigia uma de suas principais falhas desde o ano passado, na fracassada campanha nas eliminatórias da Euro.
E num lance de sorte, aos nove minutos, o contra-ataque esperado "encaixou": Berghuis dominou a bola pela direita, cruzou para a área, a bola desviou em Christian Fuchs, a zaga formada por Florian Klein e Aleksandar Dragovic parou... e Vincent Janssen ficou livre para cabecear, fazendo 1 a 0. Era o gol que deixaria o jogo à feição para que os holandeses pudessem satisfazer o planejamento tático. Mais do que isso: era o gol que respondia porque Danny Blind dissera antes da partida que "no momento, Janssen era o titular do ataque". São três gols em cinco partidas usando a camisa laranja (ou azul), sem contar os 27 gols que fizeram dele o goleador do Campeonato Holandês 2015/16. Se fez muito pouco na carreira, ainda, o atacante mostra que tem cacife para se consolidar como uma jovem alternativa a Robin van Persie e Klaas-Jan Huntelaar. E pensar que, há não mais que um ano, Janssen estava deixando o Almere City, da segunda divisão...
Festejado pelo gol, Janssen consolida-se mais e mais dentro do grupo de jogadores da Oranje (Maurice van Steen/VI Images) |
O segundo tempo melhorou a situação. Embora Junuzovic e Arnautovic ajudassem, trazendo algum perigo, David Alaba mostrou que é o grande protagonista da seleção austríaca: sozinho ou trocando passes, está em todas as jogadas de ataque. Numa delas, quase empatou, aos oito minutos: puxado por Riechedly Bazoer (este poderia aparecer mais em campo), seguiu na jogada, entrou na área e só não marcou porque Zoet saiu prontamente do gol, encobrindo o ângulo e forçando Alaba a chutar por cima.
Todavia, o cansaço e a própria necessidade de se poupar para a estreia na Euro (dia 12, contra a Hungria) fizeram Alaba desacelerar, e a Áustria amainar nos ataques. Era o que a Oranje mais queria: não só continuou levando perigo nos contragolpes, mas também começou a criar jogadas e a trocar passes com velocidade. Aos 15 minutos da etapa final, quase veio o segundo gol, com Promes recebendo de Van Aanholt e chutando fraco.
Mas aos 22, tão logo Luuk de Jong entrara no lugar de um lesionado Janssen, veio o 2 a 0 merecido. De novo, com Promes envolvido: veio pela esquerda, cruzou, De Jong fez o pivô e escorou para batida colocada de Wijnaldum, no canto esquerdo do goleiro Robert Almer. Não era contra-ataque para desafogar a pressão austríaca. Era... uma jogada. Com os jogadores próximos uns dos outros, dando opções, pensando (e jogando) rápido. Algo que havia muito não se via na seleção holandesa.
Alterações aconteceram - destacando-se a entrada de Jasper Cillessen, saído da reserva para substituir Zoet, com dores no joelho; e a estreia de Tonny Trindade de Vilhena pela Oranje, entrando no lugar de Bazoer. Mas o jogo estava definido ali no segundo gol. Salvo um gol perdido por Marco van Ginkel, substituto de Strootman (completou de cabeça para fora, num cruzamento de Promes, que fizera bela jogada), aos 38 minutos, nada mais aconteceu.
E a Holanda comemorou mais uma vitória promissora, que indicou algumas coisas. Se não há armadores na nova geração que supram a falta de Wesley Sneijder, jogar com mais rapidez faz com que os bons passes de Kevin Strootman sejam aproveitados - e até serve para que Wijnaldum chegue mais à área como elemento surpresa, como fazia nos tempos de PSV. No ataque, as revelações começam a aparecer, literalmente: Berghuis foi ótima surpresa no lugar de Memphis Depay, e Promes pouco a pouco firma-se na reserva de Arjen Robben (que, quando voltar, ainda terá seu lugar). E Vincent Janssen passou fulgurantemente Bas Dost e Luuk de Jong: é o titular. O posto de "homem de área" na Oranje é dele.
Mas acima de tudo, as duas vitórias, contra Polônia e Áustria, serviram para indicar que a Holanda não é uma seleção tão fraca quanto fazia crer o empate contra a Irlanda, ou a ausência da Euro. Não, não está nada pronto: a Oranje ainda se remonta, os adversários visivelmente se poupavam para o torneio continental. Mas o otimismo voltou, como indicaram as palavras de Strootman após a partida à SBS6: "Queríamos muito vencer, pois queremos estar prontos para as eliminatórias da Copa. Visível e definitivamente, há uma linha ascendente". Melhor ainda foi ouvir do antes hesitante Danny Blind: "Parece bom. A maior vitória é que temos maior variedade de jogadas no nosso ataque. Parece um time, de novo".
É isso: após duas semanas de treinos e três jogos, apesar dos pesares, a Holanda já parece ter um time. Pela primeira vez desde que Danny Blind assumiu o comando, não tomou gols. E já tem quatro partidas de invencibilidade, o que não ocorria desde 2014. Não é muito, cabe poupar os elogios. Mas alguma coisa melhorou. A evolução é clara.
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