quarta-feira, 1 de junho de 2016

Dá para melhorar

Janssen e Berghuis comemoram o primeiro gol: símbolos da melhora contra a Polônia (Reuters)

Após o empate contra a Irlanda, na sexta passada, o desânimo era latente em torcida e imprensa, ao comentar a atuação apática e desorganizada da Holanda. De fato, parecia que nem mesmo todo o trabalho feito em Portugal poderia apagar a má qualidade técnica da Laranja - e até havia (e há, ainda) certa razão em se pensar assim. E achava-se que o resultado do amistoso contra a Polônia, nesta quarta, no estádio Energa, em Gdansk, haveria de comprovar isso. A prova da rabugice foi a frase dita por Ronald de Boer, no início da transmissão da tevê holandesa para o jogo: "É melhor pensarmos em 2022". Ou seja, não havia esperança de classificação para a Copa de 2018, justamente o objetivo principal da nova fase do trabalho do técnico Danny Blind.

Claro, achar que a Oranje virou o mais promissor dos times pela vitória de 2 a 1 sobre os poloneses é exagerar um pouco. É tão exagerado quanto o clima de "terra arrasada" que ficou após o empate por 1 a 1. Além do mais, nos dias finais de preparação rumo à Euro 2016, a seleção polaca não tinha obrigação nenhuma de se dedicar ardentemente no amistoso diante de sua torcida. Dito tudo isso, a Oranje merece os reconhecimentos pela boa vitória. Antes de mais nada, porque jogadores e técnicos parecem ter aprendido as lições deixadas pelo jogo contra os irlandeses.

E a prova disso veio já na escalação que Danny Blind mandou a campo para o início. Tanto Marco van Ginkel, no meio-campo, quanto Steven Berghuis, no ataque, tiveram boas atuações contra a Irlanda, dando enfim a rapidez que o lado ofensivo da Oranje precisava então. Foram premiados com a titularidade... e foram melhores ainda nesta quarta. Principalmente Berghuis: na primeira vez em que começou jogando com a camisa laranja, o atacante foi muito bem pela esquerda, se apresentando costumeiramente como opção de jogadas. Com a maior aceleração na troca de passes no meio-campo (o que melhorou as atuações de Riechedly Bazoer e, principalmente, Georginio Wijnaldum), a Laranja chegou muitas vezes mais à área polonesa para tentar o chute.

Basta dizer que, nos 45 minutos iniciais, foram nove chutes, sendo três deles ao gol de Wojciech Szczesny. Índices maiores do que em TODO O JOGO contra a Irlanda. Pelos lados, o já citado Berghuis e Quincy Promes (este, pela direita) chegavam bastante com a bola nos pés. E além dos meio-campistas, há Vincent Janssen, um caso à parte. Enfim podendo participar do jogo, sendo acionado, o atacante apareceu com a qualidade que já começa a despontar Europa afora. Janssen voltava para buscar jogo, fazia tabelas, trazia perigo. Primeiro, aos 14 minutos, quando chutou cruzado exigindo boa defesa de Szczesny. E finalmente, aos 33 minutos, quando fez o primeiro gol, de cabeça, após cruzamento de Berghuis. Em apenas três jogos, Janssen já tem dois gols pela Oranje. Sem dúvida, já se credencia como candidato sério à vaga de titular, até mais badalado do que Luuk de Jong ou Bas Dost.

Porém (ai, porém), mesmo com meio-campo e ataque aparecendo bem mais no jogo, com velocidade e constância, a defesa holandesa continuou cometendo alguns erros. Não foram costumeiros, é verdade, e os próprios atacantes poloneses se pouparam: tanto Robert Lewandowski quanto Arkadiusz Milik não chutaram nenhuma vez ao gol defendido por Jasper Cillessen. Só que bastava uma aceleração maior do jogo dos anfitriões, para colocar a zaga em apuros. Prova disso foi a primeira chance de gol da partida, aos três minutos do primeiro tempo, quando uma rápida troca de passes foi interrompida com falta de Jeffrey Bruma em Lewandowski - e com a vantagem dada pelo árbitro tcheco Miroslav Zelinka, Milik ficou livre e bateu no travessão.

Depois, no segundo tempo, com a Holanda já em vantagem, a Polônia reagiu um pouco com as alterações. Não só Bartosz Kapustka acelerou mais a armação, como as jogadas pelos lados apareceram mais - tanto com o lateral esquerdo Thiago Ciolek, brasileiro de ascendência polonesa, como com Kamil Grosicki, pela direita. E assim, novamente na bola aérea, veio o empate em Gdansk, aos 15 minutos da etapa complementar, quando Milik cobrou escanteio e o zagueiro Artur Jedrzejczyk chegou correndo para empatar, de cabeça. Ali, a falha foi dupla: Van Ginkel foi facilmente superado por Jedrzejczyk, e Patrick van Aanholt (substituto de Jetro Willems na lateral esquerda) se preocupou mais em cobrir a segunda trave do que em ir na bola. E a defesa se consolidou como motivo de preocupação: já são nove jogos seguidos com a seleção sendo vazada.

Van Ginkel foi facilmente superado por Jedrzejczyk na bola aérea, no gol polonês (Maurice van Steen/VI Images)

Temeu-se a volta do marasmo visto na sexta passada. Não aconteceu. A Oranje foi até inteligente: concentrada na defesa, permitia a chegada polonesa e sabia sair rapidamente para os contra-ataques - favorecidos pelas entradas de Kevin Strootman e Luciano Narsingh. Num deles, saiu o belo chute de Wijnaldum que virou o jogo, aos 31 minutos. Era um prêmio para a equipe, que manteve o razoável e inesperado nível técnico mesmo após o gol de empate polonês. Já mais preocupada em se poupar para a Euro, a Polônia sequer buscou nova igualdade com sofreguidão.

Como já se disse, a vitória não deve significar que os problemas acabaram. E o próprio Danny Blind alertou isso, cauteloso, à FOX Sports holandesa: "Não estou aliviado, estou envolvido para fazer o time melhorar. O primeiro tempo teve boa organização, Promes e Berghuis escaparam bem das linhas de marcação, fizeram passes em profundidade, e a defesa também não deu chances, fora a bola na trave. No segundo tempo, tivemos muitas dificuldades num período: eles [Polônia] aproveitavam a maioria das sobras de bola, e usaram mais os passes em profundidade".

Mas quem concluiu melhor foi o autor do gol da vitória, Wijnaldum: "Acho que aprendemos com o jogo passado. Estivemos sem liberdade na sexta passada, e hoje fizemos isso - se não em todo o jogo, em grande parte dele. Atuamos com coragem, e vencemos". Mais do que isso: provaram que a seleção holandesa tem jogadores de qualidade suficiente para fazer a torcida e a imprensa acreditarem que dá para melhorar.


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