sábado, 29 de julho de 2017

Motivação não é tudo

Martens (centro) e Van de Sanden (direita): os destaques que dão o poder ofensivo necessário à Holanda (Maurice van Steen/VI Images)
Já era previsto, e o blog até já comentou: boa vontade não faltaria de imprensa e torcida holandesas em relação à seleção feminina, durante a Eurocopa. E não tem faltado mesmo. Basta citar o crescimento gradual de audiência da NOS, emissora pública de tevê que exibe a Euro, nos jogos das "Leoas Laranjas". Na estreia contra a Noruega, foram 2,1 milhões de telespectadores; contra a Dinamarca, 2,2 milhões; contra a Bélgica, 2,4 milhões. Na vitória por 1 a 0 contra as norueguesas, até Louis van Gaal foi visto nas tribunas do estádio Galgenwaard, do Utrecht. Além do mais, a primeira fase foi superada com relativa segurança: três vitórias. Então está tudo bem com a seleção feminina da Holanda? Nada disso.

Claro, a maioria das coisas segue bem. A própria técnica Sarina Wiegman comemorou falando à NOS, após a vitória sobre a Bélgica: "Três vitórias em três jogos, jamais ousaria sonhar com isso". Tal desempenho foi alcançado, principalmente, pelas ótimas atuações de jogadoras fundamentais. Na defesa, a goleira Sari van Veenendaal apareceu bem na maioria das vezes, e a linha de quatro defensoras se mostrou firme na marcação (tendo como melhor exemplo a zagueira Anouk Dekker) e até ousando no apoio (aqui, vale o destaque para a lateral Kika van Es). No meio-campo, Sherida Spitse mostrou firmeza na contenção, e calma na saída de bola - e nos dois pênaltis que converteu também, diga-se de passagem.

Mas os principais destaques das Leoas estão mesmo no ataque. Pela direita, a atacante Shanice van de Sanden foi permanente opção válida de jogadas, com velocidade impressionante. Tão impressionante que permitiu a ela chegar à área algumas vezes, para finalizar - numa delas, foi a heroína da vitória contra a Noruega, ao cabecear para o 1 a 0, fazendo o gol que a permitiu ser substituída sob muitos aplausos, indo para o banco com lágrimas nos olhos, num jogo em Utrecht, sua cidade natal. Nos jogos seguintes, foi a vez da atacante pelo outro lado aparecer. Pela esquerda, Lieke Martens começou a criar mais jogadas contra Dinamarca e Bélgica. A nova atacante do time feminino do Barcelona quase não conseguiu atuar no "Dérbi dos Países Baixos", por problemas no tornozelo - mas não só recuperou-se, como fez o gol da vitória por 2 a 1, comemorando após o jogo: "Estou muito feliz por ter podido jogar".

Mas, como já se disse, nem tudo está perfeito para a seleção holandesa. Quando nada, porque a súbita popularidade do futebol feminino está cansando alguns jornalistas. Caso de Nico Dijkshoorn, colunista da revista Voetbal International: "É psicose em massa. Nós 'devemos' achar aquilo lindo e maravilhoso, mas é muito fraco". Ou do jornalista Ruud Doevendans, mais comedido: "O ambiente é até legal, mas dá para se contar nos dedos de uma mão as jogadoras que realmente sabem jogar". Má vontade ou não, o fato é que a Holanda ganha sem brilhar. A técnica vem apenas de Martens, Van de Sanden e, esporadicamente, de Daniëlle van de Donk, que sofreu dois pênaltis (um dos quais, contra a Dinamarca, muito duvidoso). Sem contar as dificuldades periódicas na defesa: contra a Dinamarca, a pressão no segundo tempo só foi superada pela boa atuação de Van Veenendaal no gol. E as próprias jogadoras reconheceram: o time sentiu o inesperado gol de empate da Bélgica. "Ficamos sob pressão após o 1 a 1", comentou Lieke Martens à NOS.

De novo, Miedema era a grande esperança holandesa para a Euro. De novo, decepciona (ANP)

Vivianne Miedema, outra vez, decepciona: se bem marcada, não consegue escapar. Ou então, apela para o individualismo, como alertou Doevendans: "O lema da seleção é 'Ons EK' (em holandês, 'nossa Euro'), mas penso que Miedema deve achar que o lema é 'Mijn EK' (minha Euro)". A crítica vem até de membros do futebol masculino: o ex-técnico Aad de Mos, atual comentarista, já palpita que "daria outra chance a alguém no ataque". Por enquanto, a técnica Sarina Wiegman ainda aposta na camisa 9: "Acho que a discussão sobre ela já foi longe demais. Estamos contentes com sua atuação".

Enfim, até agora, tudo bem. Mas o adversário deste sábado será um teste dificílimo: medalha de prata no torneio olímpico, a Suécia está mais do que acostumada com a pressão adversária - fora e dentro de campo, já que se notabiliza por uma dedicação tática defensiva admirável para os padrões do futebol feminino. Sarina Wiegman assumiu: "A Holanda terá de estar no seu melhor para vencer". De fato. Um triunfo ampliará a boa vontade. Mas para isso, motivação não será tudo. É preciso jogar ainda melhor.

Euro feminina - fase de grupos
Holanda 1x0 Noruega
Data: 16 de julho de 2017
Local: Galgenwaard, em Utrecht
Juíza: Stéphanie Frappart (França)
Gol: Shanice van de Sanden, aos 66'

Holanda
Sari van Veenendaal; Desirée van Lunteren, Anouk Dekker, Mandy van den Berg (Stefanie van der Gragt, aos 80') e Kika van Es; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Jill Roord, aos 90' + 1) e Sherida Spitse; Shanice van de Sanden (Lineth Beerensteyn, aos 77'), Vivianne Miedema e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman

Noruega
Ingrid Hjelmseth; Ingrid Wold, Maren Mjelde, Nora Holstad Berge e Elise Thorsnes; Ingrid Schjelderup (Guro Reiten, aos 75'), Maria Thorisdottir e Frida Maanum (Ingvild Isaksen, aos 58'); Caroline Graham Hansen; Ada Hegerberg e Kristine Minde (Emilie Haavi, aos 66'). Técnico: Martin Sjogren

Holanda 1x0 Dinamarca
Data: 20 de junho de 2017
Local: Het Kasteel, em Roterdã
Juíza: Riem Hussein (Alemanha)
Gol: Sherida Spitse, aos 20'

Holanda
Sari van Veenendaal; Desirée van Lunteren, Anouk Dekker, Mandy van den Berg (Stefanie van der Gragt, aos 54') e Kika van Es; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk e Sherida Spitse; Shanice van de Sanden (Lineth Beerensteyn, aos 88'), Vivianne Miedema e Lieke Martens (Renate Jansen, aos 78').  Técnica: Sarina Wiegman

Dinamarca
Stina Lykke Petersen; Theresa Nielsen, Simone Boye Sorensen, Mie Jans e Cecilie Sandvej; Sanne Troelsgaard, Line Jensen, Nanna Christiansen (Maja Kildemoes, aos 64') e Katrine Veje (Stine Larsen, aos 69'); Nadia Nadim e Pernille Harder. Técnico: Nils Nielsen

Holanda 2x1 Bélgica
Data: 24 de julho de 2017
Local: Estádio Willem II, em Tilburg
Juíza: Bibiana Steinhaus (Alemanha)
Gols: Sherida Spitse, aos 27'; Tessa Wullaert, aos 59', e Lieke Martens, aos 74'

Holanda
Sari van Veenendaal; Liza van der Most, Anouk Dekker, Stefanie van der Gragt e Kika van Es; Jackie Groenen (Jill Roord, aos 80'), Daniëlle van de Donk (Kelly Zeeman, aos 75') e Sherida Spitse; Shanice van de Sanden, Vivianne Miedema (Vanity Lewerissa, aos 86') e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman

Bélgica
Justien Odeurs; Laura Deloose, Aline Zeler, Heleen Jaques e Maud Coutereels (Davinia Vanmechelen, aos 46'); Eike van Gorp (Jana Coryn, aos 57'), Lenie Onzia, Tine de Caigny e Davina Philtjens; Tessa Wullaert e Janice Cayman. Técnico: Ives Serneels

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