Luuk de Jong e Sam Lammers, lado a lado: o PSV volta a se renovar para tentar reagir (Ronald Bonestroo/VI Images) |
Já é comum. Aconteceu em 2013/14: com o Ajax se sagrando tetracampeão holandês e com o Feyenoord alcançando o vice-campeonato na Eredivisie, o PSV notou que precisava se remodelar. Nada muito profundo, mas havia a sensação de que era necessário fazer algo. Alguns jogadores saíram, outros chegaram, alguns egressos da base se firmaram no grupo adulto... e deu no que deu: o bicampeonato holandês, uma elogiável campanha na Liga dos Campeões 2015/16, vários jogadores evoluindo na equipe (Memphis Depay, Georginio Wijnaldum, Jeffrey Bruma etc.).
Mas o tempo passou, e a temporada 2016/17 trouxe de volta a necessidade tão conhecida: reformulação. Afinal de contas, o Ajax e o Feyenoord monopolizaram as atenções, enquanto o PSV foi perdendo terreno ao longo do Campeonato Holandês – sem contar a decepcionante participação na Champions League. E agora, neste retorno gradual das equipes aos trabalhos de pré-temporada, quando os Ajacieden treinam num resort na cidade austríaca de Zillertal e o campeão da Eredivisie também já vê no horizonte o primeiro amistoso (contra o amador Lisse, neste sábado), é inevitável perguntar: e o PSV?
Pois os Boeren estão fazendo o que já fizeram: mudando. À primeira vista, a mudança nem parece tão graúda assim: por enquanto, seguem no clube conhecidos como Jeroen Zoet, Santiago Arias, Jetro Willems, Luuk de Jong, Davy Pröpper etc. Ainda assim, bem se ressaltou há pouco: por enquanto. Já se cogitaram as saídas de vários desses jogadores habituais nos Eindhovenaren. Para citar dois exemplos: Zoet já foi falado como um dos vários possíveis substitutos para Pepe Reina no Napoli, e por muito pouco Pröpper não tomou o caminho do Zenit.
Além do mais, a mudança ficou clara em duas saídas notáveis no grupo de jogadores. A primeira, confirmada antes mesmo da Copa das Confederações: a transferência de Hector Moreno para a Roma. A outra também envolveu um mexicano, e foi até surpreendente, a princípio: afinal de contas, o Real Betis ofereceu apenas pouco mais de 2 milhões de euros por Andrés Guardado. No entanto, o diretor esportivo Marcel Brands estava francamente disposto a aceitá-los – até porque o contrato do volante mexicano com o PSV se acabava no meio do ano que vem, e era melhor aceitar pouco dinheiro do que dinheiro nenhum.
E pelas palavras do diretor esportivo do Betis, Llorenç Serra Ferrer, ficava clara a razão pela qual Guardado escolheu vestir alviverde em 2017/18: “Ele escolheu o Betis como lugar para se aprontar e jogar sua quarta Copa. Só isso já diz sobre a magnitude e a relevância deste jogador. Depois, há a experiência e a polivalência dele, além da técnica. Pode jogar como zagueiro, lateral esquerdo, armador, atacante...”.
Guardado fará falta ao PSV. Mas sua saída era necessária para fechar um ciclo (Jeroen Putmans/VI Images) |
Se havia um clube que sabia muito bem dessa importância, é o PSV. Basta ver o levantamento feito pela revista Voetbal International sobre as atuações de Guardado pelo clube, em 2016/17: o autor de mais assistências na temporada (9), o segundo a ter criado mais chances na equipe (70 jogadas de ataque que saíram de seus pés), e o meio-campista que mais tocou na bola, entre os atletas da posição em todos os grandes clubes holandeses (92 toques por jogo). Mas a falta de aceleração no jogo do PSV deixava claro que algo precisava mudar para esta temporada. E a própria torcida do clube pedia isso, indiretamente, ao solicitar que Phillip Cocu desse mais espaço a Jorrit Hendrix, volante enfim recuperado de grave lesão no joelho – e cria da base. Com a saída de Guardado, Hendrix enfim assumirá o controle das ações. Principalmente na marcação.
Para armar, deverá vir outra novidade: Marco van Ginkel, cuja compra em definitivo é um velho sonho que o PSV quer realizar - e o Chelsea parece disposto a facilitar. No ataque, um mexicano simboliza essa vontade de apostar no novo: Hirving Lozano, ganho após disputa com outros clubes europeus. Destinado ao Jong PSV (equipe B, que disputa a segunda divisão holandesa), chegou o brasileiro Mauro Júnior, do Desportivo Brasil. E há muita gente criada em De Herdgang, centro de treinamentos dos Boeren, que terá espaço e será olhada de perto por Cocu. Sam Lammers e Matthias Verreth, no ataque; Dante Rigo, Ramon-Pascal Lundqvist e Pablo Rosario, no meio-campo; Jurich Carolina, na defesa (este, disputando o Europeu sub-19 com a seleção holandesa – assim como o atacante Joël Piroe, também criado em De Herdgang); e Yanich van Osch, no gol. Lammers, Lundqvist e Rosario já foram relacionados definitivamente por Cocu para o elenco que disputará a temporada na Eredivisie. Sem contar Steven Bergwijn: desde 2014/15 no grupo principal, o atacante já ganha mais chances como titular.
Além dos conhecidos formadores da base do time de Cocu (Bart Ramselaar, Pröpper, De Jong, Jürgen Locadia, Gastón Pereiro, Zoet, Arias...), esta geração será responsável por tentar fazer o PSV se reerguer e reaparecer, no próximo Campeonato Holandês. Afinal, se é para a disputa do título se monopolizar entre os grandes, que seja entre o trio de ferro.
(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 7 de julho de 2017)
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