domingo, 30 de julho de 2017

Já é alguma coisa

O alívio de Miedema, o brilho de Martens (à esquerda), o esforço de Van de Sanden: Holanda cresce na Euro feminina (Vincent Jannink/ANP)
Certo, a seleção da Holanda vinha fazendo um papel decente na Euro feminina. Três vitórias em três jogos, apenas um gol sofrido, liderança do grupo A, torcida prestigiando o trabalho. Contudo, as quartas de final mostrariam se havia algo mais do que motivação e eficiência para superar a Suécia, adversário dificílimo, tão capaz taticamente quanto a equipe laranja - e ainda com a medalha de prata olímpica para ostentar. Pois as Leoas Laranjas mostraram que havia: numa das melhores atuações vistas na Euro, fizeram 2 a 0 e igualaram o melhor desempenho do país no torneio continental feminino (em 2009, na Finlândia, a equipe também chegou às semifinais).

De certa forma, a atuação foi até surpreendente. Porque as holandesas deixaram a Suécia impor seu estilo habitual, nos primeiros minutos do jogo em Doetinchem: marcação por pressão, com muita compactação. O que permitiu algumas chances da equipe sueca - principalmente pela ponta esquerda, com Jonna Andersson e Kosovare Asllani, além do permanente perigo que Stina Blackstenius representava no meio do ataque. O que continha a pressão sueca era a segura atuação da dupla de zaga formada por Anouk Dekker e Stefanie van der Gragt (substituindo a lesionada Mandy van den Berg). Ainda assim, era necessário que os destaques holandeses começassem a aparecer, justificassem porque se aposta tanto nelas.

Começaram. E nem demorou tanto assim. Pouco a pouco, Shanice van de Sanden impôs a velocidade costumeira pela direita, além de sempre ser opção para colaborar nas jogadas de ataque. Sherida Spitse fazia bem a saída de bola no meio-campo. Vivianne Miedema dava esperanças: mesmo bem marcada, se mexia mais no ataque e aparecia para as tabelas. Assim como Daniëlle van de Donk, tentando criar mais no meio-campo. Todavia, desde o começo, via-se que Lieke Martens era aquela de quem se poderia esperar muita coisa. Acostumada ao futebol feminino sueco, Martens foi bem procurada pela imprensa daquele país antes do jogo, pelos três anos em Koppärbergs/Göteborg e Rosengard antes da recente mudança para o Barcelona.

Partindo da esquerda, a camisa 11 provava em campo o porquê de tanto interesse: sempre criava jogadas ofensivas, sempre tentava o lance individual com perigo. Assim as Leoas foram se aproximando do gol defendido por Hedvig Lindahl. Como aos 17', quando Lindahl saiu mal do gol, mas Miedema não conseguiu o domínio certo para o chute. Ou aos 27', numa trapalhada da defesa sueca: a zagueira Nilla Fischer recuou errado, e Miedema ficou com a bola na área, mas ao tentar encobrir Lindahl, Linda Sembrandt salvou. Ainda assim, as chances suecas rareavam, enquanto a esperança holandesa crescia. E ela foi concretizada em gol aos 33', numa perfeita cobrança de falta de Martens.

Se já demonstrava a segurança de quem sabia que podia surpreender as suecas, a seleção holandesa cresceu ainda mais após o gol. Nem mesmo os ataques esparsos da Suécia perturbavam a segurança da equipe laranja - como aos 41', quando Blackstenius aproveitou falha de Van der Gragt no tempo de bola, passou por Dekker e bateu cruzado da esquerda, para boa defesa da goleira Sari van Veenendaal. Após o intervalo, a pressão das adversárias continuava em busca do empate, com boas chances de Fridolina Rolfö (aos 47') e novamente Blackstenius (grande chance aos 54', chutando por cima, da grande área). Mas nada disso fazia a Holanda se preocupar exageradamente.

Com a atividade de Van de Sanden, a dedicação de Miedema, Spitse e Van de Donk e o brilho técnico de Martens, era como se a equipe apenas esperasse por uma chance para resolver o jogo de vez. Algumas oportunidades vieram: um chute de Spitse aos 55', um cabeceio de Miedema por cima do gol aos 60'. Mas a chance esperada chegou enfim aos 64': um contragolpe com espaço de sobra cedido pela Suécia, que buscava o empate. Aí se viu a melhor parte das três protagonistas holandesas nesta Euro: o lançamento preciso de Martens, que encontrou Van de Sanden livre na direita. A velocidade da camisa 7, que chegou livre à área e cruzou. E, enfim, Miedema estando onde deveria estar: na posição para finalizar e fazer 2 a 0. O gol que a camisa 9 precisava, a primeira vez que balançou as redes numa grande competição. E isso não passou em branco nas suas declarações à NOS, emissora de tevê que transmite a Euro, após o jogo: "Estou feliz por finalmente ter marcado".

Veloz ao jogar, animadora ao incitar a torcida; Van de Sanden é personagem cativante da Euro (Gerrit van Keulen/VI Images)
Daí por diante, estava definido. Nem mesmo o gol anulado de Lotta Schelin (impedimento da meio-campista sueca aos 81') impediu a certeza de que esta nova geração de jogadoras igualaria o desempenho da geração de Daphne Koster, Anouk Hoogendijk e Manon Melis, chegando às semifinais da Euro. A animação ficava clara nas palavras da técnica Sarina Wiegman: "Vencemos a Suécia, isso já é realizar um sonho por si só. Que venha o próximo jogo". A união, por sua vez, era expressa pelas duas capitãs do elenco - tanto Van den Berg, que começou no banco e entrou no intervalo ("Estamos aqui juntas por um ideal. Sou parte do time, se a treinador achar que outra deve jogar, aceito"), quanto Spitse, que ficou com a braçadeira ("Nós lutamos por cada metro"). Destaque do dia, Martens desconversava sobre o protagonismo: "Pressão? Que nada, não estou sentindo".

Como para times que desejam títulos os desafios ficam cada vez maiores, qualquer um dos adversários na semifinal da próxima quinta será ainda mais perigoso: tanto a Inglaterra, melhor time da primeira fase, quanto a França, tentando a reação dentro da Euro. E Sarina Wiegman sabe disso: "Ambas são equipes de alto nível". Ainda assim, a motivação está ainda maior: já é certa a lotação máxima do Grolsch Veste, em Enschede, o estádio da semifinal, e o apoio da torcida só cresce. Se motivação não é tudo, somada à técnica de gente como Martens e Van de Sanden, já é alguma coisa.

Euro feminina 2017 - quartas de final
Holanda 2x0 Suécia
Data: 29 de julho de 2017
Local: Estádio De Vijverberg, em Doetinchem
Juíza: Bibiana Steinhaus (Alemanha)
Gols: Lieke Martens, aos 33', e Vivianne Miedema, aos 64'

Holanda
Sari van Veenendaal; Liza van der Most, Anouk Dekker, Stefanie van der Gragt (Mandy van den Berg, no intervalo) e Kika van Es; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk e Sherida Spitse; Shanice van de Sanden (Renate Jansen, aos 76'), Vivianne Miedema e Lieke Martens (Lineth Beerensteyn, aos 87') . Técnica: Sarina Wiegman

Suécia
Hedvig Lindahl; Jessica Samuelsson, Nilla Fischer, Linda Sembrandt e Jonna Andersson (Mimmi Larsson, aos 81'); Lotta Schelin, Lisa Dahlkvist, Caroline Seger e Kosovare Asllani; Stina Blackstenius e Fridolina Rolfö (Hanna Folkesson, aos 73'). Técnica: Pia Sundhage

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