De certa forma, é injusto que a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) sempre tenha sido encarada um patamar abaixo, até mesmo em suas melhores fases. Apesar dos pesares, é uma seleção que já tem um título europeu e um vice-campeonato mundial - a mesma coisa que a Inglaterra, por exemplo, conquistou. Contudo, apesar de ter lá sua injustiça, essa imagem também é inquestionável. Porque, na maioria das vezes, em momentos nos quais tem a chance de se superar, de superar expectativas, de provar que é merecedora de mais respeito... a Holanda confirma expectativas pessimistas. Confirma suas dificuldades em cenários adversos. Foi o que aconteceu na decisão de 3º/4º lugares da Liga das Nações (e da última vaga olímpica da Europa no futebol feminino), nesta quarta-feira. As Leoas Laranjas entraram com dificuldades contra a Alemanha, sofreram derrota inquestionável por 2 a 0 e, oito anos depois, estão novamente fora de um grande torneio. Verão o futebol feminino nos Jogos Olímpicos de Paris pela televisão.
Já se sabia que a Holanda encararia dificuldades desde a segunda-feira. Afinal de contas, foi nessa data que tanto Vivianne Miedema quanto Victoria Pelova foram cortadas da delegação, para voltarem ao Arsenal em melhores condições - jogar duas partidas em cinco dias seria demais para Miedema, ainda às voltas com a recuperação de seu ligamento cruzado anterior. Para piorar, na terça-feira, com treinos já no local do jogo, Daniëlle van de Donk ficou de fora, levemente adoentada. Um temor se tornava realidade: de que o cansaço e as machucaduras, que têm vitimado jogadoras holandesas, fizessem com que o time tivesse de ir para a decisão contra a Alemanha à meia força. Ainda mais com a Alemanha sendo um time experiente, que, mesmo eliminado para a França na semifinal da Liga das Nações de mulheres, melhorou no segundo tempo. Enquanto os Países Baixos, por seu lado, passaram os dias seguintes à semifinal ainda se refazendo um pouco da impactante superioridade da Espanha em sua vitória.
O técnico Andries Jonker fez suas escolhas. Algumas, previsíveis: sem Pelova, Kerstin Casparij foi para o jogo contra as alemãs na ala direita. Outras, mais ousadas: no meio-campo (que teve Van de Donk minimamente recomposta), ao invés de Damaris Egurrola Wienke começar jogando, a oportunidade foi dada para Wieke Kaptein, 19 anos incompletos, ter a sua primeira partida como titular da Holanda. Pelo menos para Kaptein, valeu: a meio-campista foi esforçada, jogou coisa que sirva, e até teve uma chance para a Holanda, mandando a bola rente à trave esquerda, aos 7'. E foi só.
Porque, já no primeiro tempo, ficou claro que, de fato, a Alemanha estava bem mais segura do que uma Holanda que se ressentia de suas ausências. E que, ao contrário do que o técnico Andries Jonker preconiza, novamente preferia ficar na defesa, esperando a chance de lançar uma bola que Lineth Beerensteyn pudesse pegar no ataque. Mais ofensivas, as Frauen logo começaram a se impor. No arremate de Sjoeke Nüsken na trave, aos 25'. Na cobrança de falta de Klara Bühl (boa atuação), em que Caitlin Dijkstra desviou na barreira e a bola passou perto do gol, aos 27'. No cabeceio de Alexandra Popp, aos 44', defendido por Daphne van Domselaar.
![]() |
Só Beerensteyn tentou alguma coisa no ataque holandês. Sem sucesso (Olaf Kraak/ANP/Getty Images) |
Depois do intervalo, se a etapa inicial havia sido até equilibrada, a Alemanha afirmou de vez sua superioridade. Lea Schüller veio do banco de reservas para mostrar que seria o destaque da partida. Só não fez 1 a 0 aos 49' porque seu gol foi anulado por impedimento. De resto, as visitantes germânicas acuaram cada vez mais a Holanda - que teve até de passar por trocas na defesa, com Dijkstra se machucando (Lynn Wilms a substituiu). Jule Brand teve uma chance aos 60', Schüller voltou a aparecer aos 64'... e enfim, dois minutos depois, Lena Oberdorf ajeitou de cabeça para Bühl bater e fazer o 1 a 0 merecido da Alemanha.
Ficou pior ainda: minutos depois da desvantagem, Damaris substituiu a esgotada Van de Donk. De nada adiantou: a estratégia holandesa seguiu repetitiva, se resumindo a lançamentos que Beerensteyn pudesse dominar para finalizar (só fez isso aos 57' - Frohms defendeu). A Alemanha contava, além da segurança no meio-campo, com Schüller dominando o ataque. Quase marcando, aos 76', após passe de Sarai Linder - outra boa defesa de Van Domselaar. E enfim, Schüller teve o gol que encaminhou a vitória, aos 78', subindo e cabeceando no canto direito de Van Domselaar. Que fez o que pôde, fez algumas defesas, mas nada que impedisse a vitória, o terceiro lugar alemão e a classificação das Frauen aos Jogos Olímpicos.
Só restou a Andries Jonker reconhecer o "choque de realidade", nas declarações pós-jogo à emissora NOS: "Já tinha acontecido na sexta-feira, contra a Espanha. Achei que pudéssemos ganhar da Alemanha, mas ela também sempre foi melhor". Porque, novamente, a Holanda sucumbiu a seus males em campo - cansaço, contusões, fragilidades. A Holanda não aguentou. Raramente ela aguenta.
Liga das Nações da UEFA - decisão de 3º/4º lugares
Holanda 0x2 Alemanha
Data: 28 de fevereiro de 2024
Local: Abe Lenstra (Heerenveen)
Árbitra: Stéphanie Frappart (França)
Gols: Klara Bühl, aos 66', e Lea Schüller, aos 78'
HOLANDA
Daphne van Domselaar; Kerstin Casparij, Caitlin Dijkstra (Lynn Wilms, aos 54'), Sherida Spitse (Shanice van de Sanden, aos 83'), Dominique Janssen e Esmee Brugts; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Damaris Egurrola Wienke, aos 68') e Wieke Kaptein; Lieke Martens (Katja Snoeijs, aos 83') e Lineth Beerensteyn. Técnico: Andries Jonker
ALEMANHA
Merle Frohms; Giulia Gwinn, Kathrin Hendrich, Marina Hegering e Sarai Linder; Jule Brand, Sjoeke Nüsken, Lena Oberdorf e Klara Bühl (Vivien Endemann, aos 86'); Sydney Lohmann (Lea Schüller, aos 46') e Alexandra Popp. Técnico: Horst Hrubesch
Nenhum comentário:
Postar um comentário