quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

E a Holanda não aguentou

A Holanda tinha problemas. E lamentavelmente, sucumbiu de novo a eles na Liga das Nações: está fora do torneio olímpico feminino de futebol, contra uma Alemanha melhor e mais segura (Olaf Kraak/ANP/Getty Images)

De certa forma, é injusto que a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) sempre tenha sido encarada um patamar abaixo, até mesmo em suas melhores fases. Apesar dos pesares, é uma seleção que já tem um título europeu e um vice-campeonato mundial - a mesma coisa que a Inglaterra, por exemplo, conquistou. Contudo, apesar de ter lá sua injustiça, essa imagem também é inquestionável. Porque, na maioria das vezes, em momentos nos quais tem a chance de se superar, de superar expectativas, de provar que é merecedora de mais respeito... a Holanda confirma expectativas pessimistas. Confirma suas dificuldades em cenários adversos. Foi o que aconteceu na decisão de 3º/4º lugares da Liga das Nações (e da última vaga olímpica da Europa no futebol feminino), nesta quarta-feira. As Leoas Laranjas entraram com dificuldades contra a Alemanha, sofreram derrota inquestionável por 2 a 0 e, oito anos depois, estão novamente fora de um grande torneio. Verão o futebol feminino nos Jogos Olímpicos de Paris pela televisão.

Já se sabia que a Holanda encararia dificuldades desde a segunda-feira. Afinal de contas, foi nessa data que tanto Vivianne Miedema quanto Victoria Pelova foram cortadas da delegação, para voltarem ao Arsenal em melhores condições - jogar duas partidas em cinco dias seria demais para Miedema, ainda às voltas com a recuperação de seu ligamento cruzado anterior. Para piorar, na terça-feira, com treinos já no local do jogo, Daniëlle van de Donk ficou de fora, levemente adoentada. Um temor se tornava realidade: de que o cansaço e as machucaduras, que têm vitimado jogadoras holandesas, fizessem com que o time tivesse de ir para a decisão contra a Alemanha à meia força. Ainda mais com a Alemanha sendo um time experiente, que, mesmo eliminado para a França na semifinal da Liga das Nações de mulheres, melhorou no segundo tempo. Enquanto os Países Baixos, por seu lado, passaram os dias seguintes à semifinal ainda se refazendo um pouco da impactante superioridade da Espanha em sua vitória.

O técnico Andries Jonker fez suas escolhas. Algumas, previsíveis: sem Pelova, Kerstin Casparij foi para o jogo contra as alemãs na ala direita. Outras, mais ousadas: no meio-campo (que teve Van de Donk minimamente recomposta), ao invés de Damaris Egurrola Wienke começar jogando, a oportunidade foi dada para Wieke Kaptein, 19 anos incompletos, ter a sua primeira partida como titular da Holanda. Pelo menos para Kaptein, valeu: a meio-campista foi esforçada, jogou coisa que sirva, e até teve uma chance para a Holanda, mandando a bola rente à trave esquerda, aos 7'. E foi só.

Porque, já no primeiro tempo, ficou claro que, de fato, a Alemanha estava bem mais segura do que uma Holanda que se ressentia de suas ausências. E que, ao contrário do que o técnico Andries Jonker preconiza, novamente preferia ficar na defesa, esperando a chance de lançar uma bola que Lineth Beerensteyn pudesse pegar no ataque. Mais ofensivas, as Frauen logo começaram a se impor. No arremate de Sjoeke Nüsken na trave, aos 25'. Na cobrança de falta de Klara Bühl (boa atuação), em que Caitlin Dijkstra desviou na barreira e a bola passou perto do gol, aos 27'. No cabeceio de Alexandra Popp, aos 44', defendido por Daphne van Domselaar.

Só Beerensteyn tentou alguma coisa no ataque holandês. Sem sucesso (Olaf Kraak/ANP/Getty Images)

Depois do intervalo, se a etapa inicial havia sido até equilibrada, a Alemanha afirmou de vez sua superioridade. Lea Schüller veio do banco de reservas para mostrar que seria o destaque da partida. Só não fez 1 a 0 aos 49' porque seu gol foi anulado por impedimento. De resto, as visitantes germânicas acuaram cada vez mais a Holanda - que teve até de passar por trocas na defesa, com Dijkstra se machucando (Lynn Wilms a substituiu). Jule Brand teve uma chance aos 60', Schüller voltou a aparecer aos 64'... e enfim, dois minutos depois, Lena Oberdorf ajeitou de cabeça para Bühl bater e fazer o 1 a 0 merecido da Alemanha.

Ficou pior ainda: minutos depois da desvantagem, Damaris substituiu a esgotada Van de Donk. De nada adiantou: a estratégia holandesa seguiu repetitiva, se resumindo a lançamentos que Beerensteyn pudesse dominar para finalizar (só fez isso aos 57' - Frohms defendeu). A Alemanha contava, além da segurança no meio-campo, com Schüller dominando o ataque. Quase marcando, aos 76', após passe de Sarai Linder - outra boa defesa de Van Domselaar. E enfim, Schüller teve o gol que encaminhou a vitória, aos 78', subindo e cabeceando no canto direito de Van Domselaar. Que fez o que pôde, fez algumas defesas, mas nada que impedisse a vitória, o terceiro lugar alemão e a classificação das Frauen aos Jogos Olímpicos.

Só restou a Andries Jonker reconhecer o "choque de realidade", nas declarações pós-jogo à emissora NOS: "Já tinha acontecido na sexta-feira, contra a Espanha. Achei que pudéssemos ganhar da Alemanha, mas ela também sempre foi melhor". Porque, novamente, a Holanda sucumbiu a seus males em campo - cansaço, contusões, fragilidades. A Holanda não aguentou. Raramente ela aguenta.


Liga das Nações da UEFA - decisão de 3º/4º lugares

Holanda 0x2 Alemanha
Data: 28 de fevereiro de 2024
Local: Abe Lenstra (Heerenveen)
Árbitra: Stéphanie Frappart (França)
Gols: Klara Bühl, aos 66', e Lea Schüller, aos 78'

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Kerstin Casparij, Caitlin Dijkstra (Lynn Wilms, aos 54'), Sherida Spitse (Shanice van de Sanden, aos 83'), Dominique Janssen e Esmee Brugts; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Damaris Egurrola Wienke, aos 68') e Wieke Kaptein; Lieke Martens (Katja Snoeijs, aos 83') e Lineth Beerensteyn. Técnico: Andries Jonker

ALEMANHA
Merle Frohms; Giulia Gwinn, Kathrin Hendrich, Marina Hegering e Sarai Linder; Jule Brand, Sjoeke Nüsken, Lena Oberdorf e Klara Bühl (Vivien Endemann, aos 86'); Sydney Lohmann (Lea Schüller, aos 46') e Alexandra Popp. Técnico: Horst Hrubesch

Nenhum comentário:

Postar um comentário