sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Enfim aconteceu

Na semifinal da Liga das Nações (e primeira chance de ter a vaga olímpica), a Holanda apenas viu a Espanha provar sua superioridade. Pelo menos há a segunda chance (DAX Images/BSR Agency/Getty Images)

De um lado, a seleção feminina da Espanha, que preza pela posse de bola e pela velocidade na troca de passes - e tem uma geração que consegue fazer isso com maestria, como o título mundial do ano passado já mostrou. Do outro, a seleção feminina da Holanda (Países Baixos), que tem sua força, que tem nomes talentosos, mas que só poderia esperar um espaço em contra-ataques - espaço raramente dado pelas espanholas. A superioridade poderia ter sido vista na Copa do Mundo, mas não foi: as Leoas Laranjas se aguentaram, e a vitória da Roja por 2 a 1, então, foi equilibrada. Mas a melhor equipe foi claramente vista, enfim, na semifinal da Liga das Nações. Nesta sexta-feira, o 3 a 0 no estádio La Cartuja, em Sevilha, foi inquestionável: a Holanda nunca passou nem perto de colocar em risco a vaga da Espanha na final da Liga das Nações (enfrentará a França, que superou a Alemanha) - e, portanto, a vaga da Espanha no torneio olímpico de futebol feminino.

Ao entrar com Vivianne Miedema escalada desde o começo, o técnico Andries Jonker possibilitava duas opções táticas. Com a bola, a Holanda poderia ter um trio de atacantes, com muita movimentação de Lieke Martens e Lineth Beerensteyn, enquanto Miedema, mais recuada, faria o papel tático que normalmente é da machucada Jill Roord; sem a bola, Sherida Spitse recuaria do meio-campo para formar o trio de zagueiras com que as neerlandesas normalmente têm jogado. E restaria esperar que a Espanha desse espaço. Pois não deu. Já no primeiro minuto, um chute de Olga Carmona bloqueado por Caitlin Dijkstra mostrou que a Espanha sufocaria a Holanda, se pudesse. É verdade que, àquela altura, houve esperança para as Leoas Laranjas - aos 6', num cruzamento de Daniëlle van de Donk, completado por Esmee Brugts para fora. Porém, depois disso, o que se viu foi quase um "monólogo" espanhol.

Lenta nas divididas, errando passes em demasia, a Holanda fracassava ao tentar conter a pressão da Espanha na saída de bola. Que o diga Daphne van Domselaar: a goleira errou aos 9', dando a bola nos pés de Athenea del Castillo, que cruzou, mas Salma Paralluelo mandou a bola para fora. Aliás, Paralluelo foi um caso à parte. Quase sempre ganhou os contra-ataques, superando na corrida Sherida Spitse e Caitlin Dijkstra. Mas na hora de finalizar... Salma perdeu o gol aos 8' (toque na saída de Van Domselaar), aos 9' (a chance citada), aos 21' (chute colocado agarrado por Van Domselaar), aos 23' (após lançamento em profundidade, sua finalização foi rebatida por Van Domselaar). Após esta última chance, a goleira da Holanda pediu até atendimento. Tanto por sentir dores na coxa, quanto para dar um respiro, já que a dificuldade era grande.

O respiro não veio. A Espanha continuou acuando a Holanda, que só teve espaço para outra chance aos 17' (Miedema ajeitou para Beerensteyn, que finalizou para a defesa de Cata Coll). No mais, a campeã mundial continuava bem. Tanto pela direita, com Ona Batlle, quanto pela esquerda, com Olga Carmona e Mariona Caldentey, as chances apareciam. E o gol, que demorou tanto, apareceu aos 41', numa inversão de jogo de Batlle dominada por Jennifer Hermoso, que superou a marcação de Kerstin Casparij e chutou para o 1 a 0. Vantagem conquistada, foi ampliada logo aos 45', ainda antes do intervalo, em outra jogada inteligente: Caldentey cruzou da esquerda, Paralluelo puxou a marcação para si, e Aitana Bonmatí superou Jackie Groenen na corrida e completou à queima-roupa para o 2 a 0.

Como titular, Miedema poderia ajudar na criação de jogadas. Ou mesmo na finalização. Esforçou-se, mas não teve bola nem espaço para conseguir isso (Roy Lazet/Soccrates/Getty Images)

Na teoria, ainda havia o segundo tempo. Na prática, a semifinal parecia resolvida. Sem ter o espaço, muito menos a bola, Miedema foi poupada já no intervalo. Damaris Egurrola Wienke a substituiu, e melhorou um pouco o sofrido meio-campo holandês (nem Van de Donk, nem Jackie Groenen foram páreo para o trio espanhol Batlle-Lara Aleixandri-Jennifer Hermoso). A Holanda até criou algumas chances (um cabeceio de Brugts aos 47', um chute de Spitse após escanteio ensaiado aos 58', um cabeceio de Lieke Martens para fora aos 62'). Mas, no geral, o domínio espanhol seguia total. E se houvesse qualquer dúvida, acabou com o terceiro gol, aos 77': Ona Batlle coroou seu ótimo jogo ao cruzar da esquerda (teve muito espaço), e ainda chegar a tempo de pegar a bola que Alba Redondo e Salma Paralluelo tentaram finalizar.

Depois do jogo, só restou a Andries Jonker reconhecer, no pós-jogo da emissora NOS: "Ainda continuamos sendo uma boa seleção, só que a Espanha mostrou que segue melhor do que nós". É verdade que o consolo era grande: com a vitória da França na outra semifinal da Liga das Nações (2 a 1), a Holanda terá contra a Alemanha uma segunda chance de conquistar vaga olímpica no futebol feminino, na decisão do 3º lugar, em casa - o estádio Abe Lenstra, em Heerenveen. Por outro lado, se tiver as fragilidades vistas em Sevilha, terá motivo para temer também as alemãs.

Porque, enfim, aconteceu: a Espanha afirmou a ampla superioridade que tem sobre a Holanda.


Liga das Nações da UEFA - semifinal

Espanha 3x0 Holanda
Data: 23 de fevereiro de 2024
Local: La Cartuja (Sevilha)
Árbitra: Rebecca Walsh (Inglaterra)
Gols: Jennifer Hermoso, aos 41', Aitana Bonmatí, aos 45', e Ona Batlle, aos 77'

ESPANHA
Cata Coll; Ona Batlle, Irene Paredes, Laia Codina e Olga Carmona (Oihane Hernández, aos 73'); Laia Aleixandri, Aitana Bonmatí e Jennifer Hermoso (Vicky López, aos 73'); Athenea del Castillo (Alba Redondo, aos 62'), Salma Paralluelo (Lucia García, aos 83') e Mariona Caldentey (Eva Navarro, aos 83'). Técnica: Montserrat "Montse" Tomé

HOLANDA
Daphne van Domselaar;  Kerstin Casparij, Caitlin Dijkstra, Dominique Janssen (Lynn Wilms, aos 68') e Esmee Brugts (Renate Jansen, aos 79');  Jackie Groenen, Sherida Spitse e Daniëlle van de Donk (Wieke Kaptein, aos 86'); Lieke Martens, Vivianne Miedema (Damaris Egurrola Wienke, aos 46') e Lineth Beerensteyn (Katja Snoeijs, aos 68'). Técnico: Andries Jonker

Nenhum comentário:

Postar um comentário