quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Muitos leões por datas FIFA

Sob o sol do balneário espanhol de Marbella, a Holanda treinou para superar os desafios e conseguir o que quer: a vaga no torneio olímpico feminino - e, de quebra, o título da Liga das Nações (KNVB Media)

Depois de uma classificação tão eletrizante às fases finais da Liga das Nações, superando a favorita Inglaterra no saldo de gols dentro do grupo (sendo que o gol decisivo foi feito aos 48 minutos do segundo tempo, na goleada por 4 a 0 sobre a Bélgica), a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) esperava que a sorte lhe sorrisse mais, a começar pelo sorteio das semifinais, em dezembro do ano passado. Só que a sorte continua de mal com as Leoas Laranjas. Porque é a Espanha, campeã mundial, algoz das holandesas nas quartas de final da recente Copa do Mundo de mulheres, cheia de craques, que as esperará, nesta sexta-feira, às 17h de Brasília, no estádio La Cartuja, em Sevilha. Se quiser conquistar o grande objetivo - a vaga no torneio olímpico feminino de futebol - a equipe laranja precisa vencer para ir à final da Nations League. E se perder, restará a "torcida" pela França, país-sede dos Jogos Olímpicos (portanto, já garantida no futebol feminino neles): se as francesas ganharem da Alemanha na outra semifinal, alemãs e neerlandesas farão da decisão de 3º/4º lugares da Liga das Nações uma "final pelas Olimpíadas". E esta será nos Países Baixos, mais precisamente no estádio Abe Lenstra, em Heerenveen, que também será a sede da final em caso de vitória neerlandesa. Ou de um "amistoso de luxo" sem nada em disputa, caso Espanha e Alemanha façam a final da Nations League - e a fariam já garantidas em Paris-2024.

Se fosse só isso, tudo bem, a Holanda pode mudar sua sorte em caso de vitórias. Só que os problemas tornaram a "ladeira" ainda mais inclinada para cima. Mais um destaque da seleção fará falta, pelo rompimento de ligamento cruzado anterior que tanto medo traz ao futebol feminino atual: Jill Roord foi a vítima da vez da temível lesão, num jogo da Copa da Inglaterra, pelo Manchester City, justamente quando vivia um dos melhores momentos da carreira, titular absoluta como ponta-de-lança em clube e seleção. Um fato que teve reação tristemente resignada do técnico Andries Jonker, à ESPN da Holanda: "De novo você pensa 'parece sério'. Aí vem a confirmação: ligamento rompido, operação. Isso faz mal, é a quarta vez que vivo isso como técnico [lembrando as lesões de Kayleigh van Dooren, Vivianne Miedema e Aniek Nouwen]".

Bastou para Jonker crescer a voz, ao diário Algemeen Dagblad, contra um tema cada vez mais falado no futebol feminino: o excesso de jogos - e a propensão maior a lesões sérias, decorrente dele: "Não podemos estender indefinidamente o calendário no futebol feminino. Todos sabem disso faz tempo, mas aí inventam uma Liga das Nações e um mundial feminino de clubes". O técnico ainda apregoou: "Isso passou do limite, precisamos nos manifestar e vamos nos manifestar, a curto prazo" - à emissora NOS, ele confirmou que um manifesto será emitido após a partida contra a Espanha, e que ele se reunirá com UEFA e FIFA, ao lado de Nigel de Jong, diretor de futebol da federação. E Jonker concluiu: "Há jogadoras que vêm me dizer: 'Estou esgotada, mas preciso jogar uma partida da Liga dos Campeões pelo meu clube, mesmo que na verdade eu queira ficar em casa. O que faço?' Não pode ser assim. Existe uma diferença entre boa forma e bem estar: você pode estar bem preparada, mas... você está calma? O ponto de partida não deve ser o crescimento do futebol feminino, deve ser o bem-estar das jogadoras".

Andries Jonker tem de aturar mais uma lesão de ligamento de joelho em um nome importante das titulares que escala na Holanda. Mas, agora, decidiu tomar atitudes (Roy Lazet/Soccrates/Getty Images)

Sobraram forças para Jonker criticar também a mudança tardia de local da semifinal. Ela estava inicialmente prevista para o estádio Nuevo Mirandilla, em Cádiz. Contudo, com o jogo importante que o Cádiz fará neste domingo, contra o Celta de Vigo, pelo Campeonato Espanhol masculino, o começo do mês teve alteração às pressas para o La Cartuja, em Sevilha. A demora na mudança (o alerta foi feito já no fim de janeiro, sem que a federação espanhola se mexesse a princípio) foi o que causou irritação de Andries Jonker: "É uma bagunça... acho que a Espanha tem uma seleção maravilhosa, com ótimas jogadoras e um estilo de jogo muito bom, mas em organização eles ainda têm o que aprender".

Porém (ai, porém), nenhum desses problemas significa, nem de longe, que a vontade de chegar à vaga olímpica - e ao título da Liga das Nações - diminuiu. O próprio Andries Jonker reconheceu isso: "Quando eu indaguei se elas realmente queriam ir aos Jogos Olímpicos, aí elas me perguntaram: 'Você está bem, professor? É um ponto alto na nossa carreira'". Se é assim, a motivação para pegar a Espanha é tão grande quanto as reclamações, como o treinador indica: "Queremos estar nos Jogos Olímpicos, movemos céus e terras para chegar às semifinais. Agora queremos que dê certo, é matar ou morrer. A confiança cresceu nos últimos jogos - por exemplo, nos jogos contra a Inglaterra [Liga das Nações]. Estamos de novo entre as seleções do topo".

Talvez não no topo, mas sem dúvida tendo uma atacante de topo: Vivianne Miedema. Desfalque no duelo da Copa passada (sua falta foi sentida, nas chances perdidas naquele jogo em Wellington, na Nova Zelândia), ainda no processo de volta de sua grave lesão no ligamento cruzado anterior (vem e vai entre titulares e reservas do Arsenal), Miedema se mostrou muito motivada nos treinos da Holanda, no balneário espanhol de Marbella: "Tenho a sensação de que estou de novo perto de ser a velha 'Viv', e isso é muito bom". Mas não significa que o principal destaque técnico da Holanda está garantida entre as titulares. Claro que é sua expectativa: "A princípio, espero estar em forma. E para jogar 90 minutos nas duas partidas". Mas ela logo é acompanhada de cautela: "Veremos dia a dia".

A mesma cautela que Andries Jonker mostra para outra grande pergunta: qual será a substituta de Jill Roord nas titulares? O técnico mostrou três possibilidades à emissora NOS: "Poderia ser Miedema, mas isso também depende da forma física dela. Damaris e Casparij também são opções". A primeira citada preferiu se focar na lamentação por Roord, sua amiga pessoal: "Não depende de mim dizer se sou a substituta lógica de Jill. Mas para ela isso [lesão] é duro, e é um baque para o time". Podendo entrar para fazer uma dupla de volantes com Jackie Groenen, Damaris Egurrola também lembrou mais a colega ausente: "Primeiro, quero expressar meu apoio a Jill. É difícil perder uma jogadora como ela". Finalmente, Kerstin Casparij - que iria para a ala direita, liberando Victoria Pelova para o meio-campo - já falou mais confiante: "Acho que crescemos como time. Temos mais opções, e isso só faz bem. Não temos medo, não entramos em pânico".

E a cautela foi justificada pelos treinos na chegada a Sevilha, nesta quinta-feira: Miedema e Pelova ficaram fora, a lateral Marisa Olislagers foi chamada às pressas para se juntar ao grupo de convocadas, e há poucas expectativas de que as duas citadas acima começarão jogando contra a Espanha. É mais um leão que a Holanda continua tendo de matar a cada data FIFA: jogadoras machucadas, adversários favoritos... Mas tudo vale a pena se a intenção não é pequena. E a da Holanda não é, como Andries Jonker deixou claro às jogadoras: "Se ganharmos da Espanha, estaremos nas Olimpíadas. É possível? Para mim, é. Se perdermos da Espanha e precisarmos enfrentar a Alemanha, ainda teremos uma chance. Mas a primeira coisa que temos de fazer é ganhar da Espanha. É isso que importa". E também deixou claro nesta frase: "Ganhar a vaga olímpica significa algo, mas não é um título. E eu quero um título".

As 25 convocadas da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA

Goleiras: Daphne van Domselaar (Aston Villa-ING), Lize Kop (Leicester City-ING) e Barbara Lorsheyd (ADO Den Haag)

Laterais: Kerstin Casparij (Manchester City-ING), Lynn Wilms (Wolfsburg-ALE), Merel van Dongen (Rayadas de Monterrey-MEX) e Marisa Olislagers (Twente)

Zagueiras: Caitlin Dijkstra (Twente), Sherida Spitse (Ajax) e Dominique Janssen (Wolfsburg-ALE)

Meio-campistas: Jackie Groenen (Paris Saint Germain-FRA), Daniëlle van de Donk (Lyon-FRA), Victoria Pelova (Arsenal-ING), Damaris Egurrola Wienke (Lyon-FRA), Jill Baijings (Bayern de Munique-ALE) e Wieke Kaptein (Twente)

Atacantes: Lineth Beerensteyn (Juventus-ITA), Lieke Martens (Paris Saint Germain-FRA), Renate Jansen (Twente), Vivianne Miedema (Arsenal-ING), Esmee Brugts (Barcelona-ESP), Katja Snoeijs (Everton-ING),  Shanice van de Sanden (Liverpool-ING) e Romée Leuchter (Ajax)

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