terça-feira, 20 de maio de 2025

A análise do campeão: quem diria? E quem não diria?

O PSV tinha tudo para terminar como terminou: bicampeão holandês. Só não se imaginava que o caminho até o título seria tão tortuoso (ProShots/Getty Images)

Antes mesmo do Campeonato Holandês desta temporada começar, era relativamente unânime que o PSV tinha o melhor e mais técnico grupo de jogadores do futebol da Holanda (Países Baixos). Diante de um Feyenoord que passaria por reformulações com novo técnico e de um Ajax em plena reestruturação, o time de Eindhoven partiria do começo como franco favorito ao bicampeonato, ao 26º título de liga da sua história. E isso aconteceu, de fato. O surpreendente foi que o título tenha acontecido com tantas reviravoltas. Ainda mais quando a referência é o que se viu no primeiro turno. Está certo que o PSV teve duas derrotas nas primeiras 17 rodadas - o 3 a 2 sofrido no clássico para o Ajax (11ª rodada) e 1 a 0 para o Heerenveen (16ª rodada). Ainda assim, de resto, foram 16 vitórias, num domínio quase tão avassalador quanto o da temporada passada, em que o aproveitamento no turno foi 100%. 

Sobravam goleadas, aqui e ali: a campanha já começara com um 5 a 1 no RKC Waalwijk, seguiu-se depois um 7 a 1 no Almere City (3ª rodada), um 6 a 0 no Zwolle (10ª rodada), 5 a 0 no Groningen (13ª rodada)... e a ofensividade típica dos times treinados por Peter Bosz era notável. Já começava nas laterais: pela direita, se Sergiño Dest se machucou, o ponta improvisado Richard Ledezma (outro norte-americano) assumiu o lugar, enquanto Mauro Júnior tinha na esquerda a utilidade muito elogiada por Peter Bosz ("Não é todo time que tem um polivalente como ele"). Num time com a dupla de volantes cada vez mais entrosada - Joey Veerman e Jerdy Schouten eram daqueles pares que se completavam dentro de campo -, as opções de ataque sobravam. Ismael Saibari e Guus Til já eram conhecidos; Malik Tillman ficou de vez para, enfim, começar a cumprir as expectativas sobre ele; Noa Lang, enfim, deixava as lesões que o vitimaram em 2023/24 para ser o nome de técnica insinuante (e de comportamento provocador) que se previa desde que pisou em Eindhoven; se Hirving Lozano ficava em segundo plano, à beira da saída já anunciada para quando 2025 começasse (rumo ao San Diego FC-EUA), o croata Ivan Perisic foi contratação fortuita - sem contrato após deixar o Hajduk Split, Perisic pôde chegar com a temporada já em andamento.

Se havia problema, estava em Ricardo Pepi. Não que o atacante norte-americano estivesse em má fase. Longe, mas muito longe disso: afinal de contas, mesmo vindo da reserva na maioria das vezes, Pepi acumulava 11 gols na Eredivisie. Exatamente por isso, ele queria ser titular. Mas Peter Bosz, embora compreensivo, deixava claro: seu titular era Luuk de Jong. De fato, como deixar de fora aquele que, talvez, seja o mais representativo jogador do PSV até agora no século XXI - e ainda marcando gols (foram sete)? Acabou até sendo providencial, diante da séria lesão no joelho que tirou Pepi de combate pelo resto da temporada. De todo modo, com duas categóricas vitórias no final do 1º turno - 6 a 1 no Twente (15ª rodada) e 3 a 0 no Feyenoord (17ª rodada) -, classificação assegurada na segunda fase da Liga dos Campeões, o PSV parecia rumar para um bicampeonato tranquilo.

Aí tudo mudou.

Porque mais nomes ficaram machucados na virada do ano: Olivier Boscagli (lesão muscular), Jerdy Schouten (lesão no joelho), Malik Tillman (lesão ligamentar), a já citada ausência de Pepi... e a queda foi brusca no começo de 2025. A retomada da Eredivisie teve um empate com o AZ Alkmaar (2 a 2, 18ª rodada). Depois, uma derrota para o Zwolle (3 a 1, 19ª rodada). Aí, um refresco: 3 a 2 no NAC Breda (20ª rodada). Seguido por mais quedas, com o péssimo "hábito" de sofrer gols nos minutos finais: empate em 3 a 3 com o NEC após vencer por 3 a 1 (21ª rodada), empate em casa com o Willem II (1 a 1, gol sofrido aos 38 minutos do segundo tempo), derrota de virada para o Go Ahead Eagles (3 a 2, na 24ª rodada, com dois gols após os 30 minutos da etapa final)... a queda era incontrolável. 

A crise na Eredivisie foi exemplificada na Liga dos Campeões: 7 a 1 sofridos para o Arsenal em plena Eindhoven. Àquela altura, a reviravolta parecia impossível (Marcel ter Bals/DeFodi Images/DeFodi via Getty Images)

E o "estabaco" no chão talvez tenha vindo com os 7 a 1 sofridos do Arsenal, em pleno Philips Stadion, na ida das oitavas de final da Liga dos Campeões, igualando a maior derrota que um clube holandês sofreu por competições europeias. Àquela altura, as críticas se avolumavam a Peter Bosz, pela falta de cuidados defensivos. Sem Schouten, Joey Veerman sofria. Assim como Ledezma, que tinha suas fragilidades na marcação, e Ryan Flamingo, falhando vez por outra nas saídas de bola. Com o Ajax sólido dentro de campo, fazendo 2 a 0 no clássico direto (27ª rodada) e abrindo nove pontos de vantagem na liderança da Eredivisie, parecia que o PSV veria os rivais de Amsterdã, com um grupo mais humilde, conquistarem o título. Só restava manter o vice-campeonato holandês.

Mas só parecia.

Àquela altura, Tillman e Boscagli já estavam de volta. Logo, Dest voltaria. Perisic assumia protagonismo valioso. Por mais que o Feyenoord engatasse uma sequência de vitórias e até sonhasse em tomar a segunda posição, o PSV mantinha em controle. Tinha uma tabela mais difícil do que o Ajax nas sete rodadas restantes, mas foi vencendo: 3 a 1 no Groningen (28ª rodada, fora), 5 a 0 no lanterna Almere City (29ª rodada)... e o 3 a 1 no Twente, primeiro adversário difícil na reta final (30ª rodada), somada a uma surpreendente goleada tomada pelo Ajax em jogo adiantado da 31ª rodada (Utrecht 4 a 0), fez a desvantagem cair para seis pontos. Não era muito, mas era algo - e ficou maior ainda com a goleada por 4 a 1 sobre o Fortuna Sittard, no jogo atrasado da 31ª rodada, fazendo a desvantagem cair para três pontos. O Ajax ainda tinha controle. Mas foi se atrapalhando: 1 a 1 com o Sparta Rotterdam na 30ª rodada, derrota para o NEC na 32ª rodada... e nesta, aliás, o PSV mostrou que estava vivo: no clássico contra o Feyenoord, o desafio mais respeitável, um péssimo começo - 2 a 0 sofridos em De Kuip, em dez minutos do 1º tempo - foi revertido num segundo tempo voluptuoso, com Noa Lang catalisando a reação, concretizada no último minuto dos acréscimos, quando houve a virada (3 a 2).

A goleada no Heracles Almelo já seria celebrada. Foi ainda mais: com o empate do Ajax, a liderança estava retomada. E a reviravolta, consolidada (ProShots/Getty Images)

Àquela altura, o péssimo meio de temporada já estava "perdoado". O time já voltara a ser ofensivo como se sabia que podia ser. Mesmo se a goleada sobre o Heracles Almelo na penúltima rodada (4 a 1) houvesse sido infrutífera, o bom clima já se restabelecera. Só que não foi infrutífera: como os torcedores presentes ao Philips Stadion naquela tarde/noite de 14 de maio de 2025 se lembrarão, o Ajax tomou o empate do Groningen nos acréscimos do 2º tempo (2 a 2). O PSV voltava a ser líder. Só perderia o título se tropeçasse no Sparta Rotterdam, e o Ajax vencesse o Twente, na última rodada. Houve esse risco. Mas o ataque trabalhou quando precisava - com gols de Perisic, o veterano que virou fundamental; de Luuk de Jong, o ídolo confiável de sempre; de Malik Tillman, para muitos o melhor jogador da temporada, mesmo perdendo parte dela. E o PSV fez 3 a 1. E foi campeão.

Quem diria, diante da queda vivida no começo do ano? E quem não diria, diante do fato de que em Eindhoven está o grupo de jogadores mais técnico do futebol da Holanda (Países Baixos) na atualidade?

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