As reservas não se contiveram ao final do jogo: Holanda chegou à final da Euro com atuação notável (Reuters) |
No sábado passado, a seleção da Holanda já provara que estava a sério na Euro feminina que sedia. Fora precisa e eficiente para eliminar a Suécia, uma das favoritas. O talento de Lieke Martens aparecera na hora certa, bem como a capacidade de Vivianne Miedema na finalização. Todavia, ainda ficara a impressão de que as "Leoas Laranjas" precisariam de algo mais, se quisessem superar nas semifinais a Inglaterra, que também só trazia vitórias na campanha. Tanto pelo presente (algumas falhas defensivas foram vistas contra as suecas) quanto pelo passado (a Inglaterra fora a carrasca laranja nas semifinais da Euro feminina 2009). Pois bem: a equipe holandesa provou, com inapeláveis 3 a 0 nas inglesas. Por isso, chegou onde poucos imaginavam: à final da Euro.
Quando a partida em Enschede começou, o que se viu foi o mesmo enredo das quartas de final: a Holanda permitindo que a adversária ficasse com a posse de bola, para tentar sair nos rápidos contragolpes. Em parte, dava certo: outra vez, Shanice van de Sanden era opção sempre confiável para a velocidade, na direita. Em parte, era extremamente arriscado, porque Jodie Taylor, a goleadora da Euro, também estava a postos para aproveitar qualquer falha da defesa. Para que a bola chegasse a Taylor, as jogadoras inglesas apostavam nos cruzamentos. Aí se viu um bom sinal: não dava certo, pela ótima atuação da dupla de zaga formada por Anouk Dekker e Stefanie van der Gragt.
Aos poucos, veio um sinal ainda melhor: a Holanda começou a chegar ao ataque repetidamente, ficando mais com a bola nos pés. Mais: não era só Van de Sanden que se apresentava para as jogadas. Como poucas vezes nesta Euro, as armadoras holandesas chegavam do meio-campo. Como Daniëlle van de Donk, brilhando a ponto de ofuscar Lieke Martens, bem marcada pela esquerda. Ou, finalmente, Jackie Groenen, enfim auxiliando Van de Sanden na direita. Tanto que foi dela o cruzamento para que, aos 22', Miedema aparecesse novamente, com um cabeceio preciso, no contrapé da goleira Siobhan Chamberlain, fazendo 1 a 0. Era a vantagem que a equipe laranja buscava, para poder suportar os ataques da Inglaterra.
E esses ataques vieram. A metade final do primeiro tempo foi um momento de perigo para a equipe anfitriã. Também útil na lateral, Lucy Bronze começou a criar jogadas. Algumas vezes, a defesa falhou: como aos 25', quando Van der Gragt errou numa saída de bola, deixando-a nos pés de Taylor, que só não empatou porque Desirée van Lunteren fez o corte na hora exata, prensando a bola para escanteio - no qual, outra vez, o empate só não ocorreu porque Sherida Spitse (pouco falada, muito firme em campo) estava bem posicionada na primeira trave para desviar, em cima da linha, a bola vinda do cabeceio de Jade Moore. Que ainda bateu na trave, só para assustar mais.
O começo do segundo tempo foi ainda pior. Aos 49', enfim com espaço para se mover, Taylor quase empatou, driblando Van der Gragt, mas chutando fraco para Van Veenendaal defender. No minuto seguinte, foi a vez da própria goleira falhar na saída de bola, entregando-a de graça a Francesca Kirby (pelo menos, Van Veenendaal voltou a tempo para se posicionar bem e defender). Mais engraçado ainda foi o erro que quase ajudou a Inglaterra: aos 58', quando Kirby tentou passar para o meio da área, Van der Gragt chutou fraco, e a bola bateu em cima de Ellen White, quase à queima-roupa, indo direto para Van Veenendaal. Era urgente: a Holanda precisava sair para o ataque, novamente.
Justo quando Holanda mais sofria, gol de Van de Donk (à frente) tranquilizou seleção feminina de vez (Reuters) |
E o gol contra de Bright, nos acréscimos, após chute de Martens, foi o fecho merecido para uma vitória categórica da Holanda. Que foi comemorada como se devia: com as reservas invadindo o campo para comemorar o gol e a vaga na primeira final de Euro da história da seleção feminina holandesa. Um orgulho indisfarçável foi notado nas palavras de todas as jogadoras: Jackie Groenen ("Nosso plano de jogo deu certo"), Daniëlle van de Donk - o nome do jogo ("Eu nunca esperava vitória por 3 a 0, estou tão orgulhosa, tivemos uma performance coletiva, minhas colegas de Arsenal terão de ouvir muito"), Lieke Martens ("O sucesso não veio por acaso, trabalhamos para isso"). Os elogios vieram às carradas, claro - destaque para o de Marco van Basten, no Twitter.
Agora, na final, a Dinamarca. Há alguma vantagem para a Holanda, como Miedema reconheceu na zona mista: "Será muito difícil, mas elas precisaram jogar por 120 minutos [na semifinal contra a Áustria]". De mais a mais, há o apoio quase incondicional da torcida. O otimismo expresso nas palavras da técnica Sarina Wiegman, à NOS: "Tivemos uma ótima performance, e podemos repeti-la no domingo. Vamos rumo ao título". E, acima de tudo, a crença de que a Holanda não é só um time organizado. Tem jogadoras que podem decidir: Martens, Van de Sanden, Miedema, Groenen, Van de Donk... enfim, a Holanda está cada vez melhor. E sonha com a apoteose suprema.
Euro feminina 2017 - semifinais
Holanda 3x0 Inglaterra
Data: 3 de agosto de 2017
Local: Estádio De Grolsch Veste, em Enschede
Juíza: Stéphanie Frappart (França)
Gols: Vivianne Miedema, aos 22'; Daniëlle van de Donk, aos 62', e Millie Bright (contra), aos 90' + 3
Holanda
Sari van Veenendaal; Desirée van Lunteren, Anouk Dekker, Stefanie van der Gragt (Kelly Zeeman, aos 70) e Kika van Es; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Jill Roord, aos 90' + 1) e Sherida Spitse; Shanice van de Sanden (Renate Jansen, aos 89'), Vivianne Miedema e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman
Inglaterra
Siobhan Chamberlain; Lucy Bronze, Stephanie Houghton, Millie Bright e Demi Stokes; Jade Moore (Karen Carney, aos 76') e Fara Williams (Toni Duggan, aos 67'); Jordan Nobbs, Francesca Kirby e Ellen White; Jodie Taylor. Técnico: Mark Sampson
Local: Estádio De Grolsch Veste, em Enschede
Juíza: Stéphanie Frappart (França)
Gols: Vivianne Miedema, aos 22'; Daniëlle van de Donk, aos 62', e Millie Bright (contra), aos 90' + 3
Holanda
Sari van Veenendaal; Desirée van Lunteren, Anouk Dekker, Stefanie van der Gragt (Kelly Zeeman, aos 70) e Kika van Es; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Jill Roord, aos 90' + 1) e Sherida Spitse; Shanice van de Sanden (Renate Jansen, aos 89'), Vivianne Miedema e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman
Inglaterra
Siobhan Chamberlain; Lucy Bronze, Stephanie Houghton, Millie Bright e Demi Stokes; Jade Moore (Karen Carney, aos 76') e Fara Williams (Toni Duggan, aos 67'); Jordan Nobbs, Francesca Kirby e Ellen White; Jodie Taylor. Técnico: Mark Sampson
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