quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Escorregou mas se levantou

A Holanda saiu atrás contra a Polônia. Mas insistiu, insistiu... e mereceu a virada, novamente tendo justificada a confiança em Memphis Depay e Wijnaldum (ANP)

Ao sair do gramado na vitória contra a Bósnia, havia uma impressão geral na seleção masculina da Holanda (Países Baixos): ainda havia coisas a serem consertadas, mas um caminho havia sido encontrado. De certa forma, foi o que se viu de novo em Chorzow, neste jogo final pela fase de grupos da Liga das Nações. Como previsto, a classificação às semifinais ficou com a Itália (merecidamente, aliás). E a Laranja novamente teve desatenções pouco recomendadas. Ainda assim, ao longo dos 90 minutos, exibiu maior qualidade técnica. E foi premiada com uma virada em seu último jogo neste 2020. Resultado que deixa, pelo menos, as coisas pacificadas na seleção, com um digno segundo lugar no grupo 1, mantendo o posto na Liga A, a principal da Nations League.

A rigor, não se esperava mesmo a classificação aos "quatro finalistas" da Liga das Nações. Tanto que algumas experiências foram feitas na escalação: Patrick van Aanholt ganhou chance na lateral esquerda, um trio de ataque promissor iniciou a partida (Memphis Depay voltou a jogar no meio da área, com Calvin Stengs e Donyell Malen pelos lados), e Hans Hateboer ganhou a escolha, já que Frank de Boer preferiu poupar Denzel Dumfries. Porém, bastaram cinco minutos para o lateral direito da Atalanta ter um problema - e o técnico também. Afinal, foi após uma perda de bola na direita que Karol Jozwiak teve espaço livre para avançar com a bola, do campo de defesa até a área, superar Davy Klaassen na corrida, fintar Daley Blind e tocar na saída de Tim Krul, fazendo 1 a 0 para a Polônia.

Até surpreendentemente, o gol foi assimilado de modo rápido pelos neerlandeses. Não demorou muito, e logo a posse de bola maior dos visitantes resultou em mais proximidade do ataque. Resultou em mais atividade pelas pontas, com atuações razoáveis de Stengs e Malen. Resultou até em mais chances. Porém, outro defeito holandês que precisa de correção se fez sentir: a falta de eficiência nas finalizações. Pelo pouco espaço deixado pelos poloneses (a zaga com Kamil Glik e Jan Bednarek foi muito esforçada) ou pelo demérito da Laranja nas conclusões, muitas chances de empate foram perdidas. Georginio Wijnaldum chutou fraco aos 11'; Klaassen errou no domínio aos 12'; Malen cabeceou sem rumo aos 13'; Wijnaldum teve a tentativa bloqueada por Glik aos 26'; Depay arriscou fraco aos 39'; Frenkie de Jong chutou em cima do goleiro Lukasz Fabianski aos 40'... enfim, sobraram oportunidades desperdiçadas. Sobravam até escorregões, no gramado molhado do Estádio da Silésia, para atrapalhar o ataque - Klaassen sofreu com isso, uma ou duas vezes.

Na direita, Jozwiak superou Klaassen na corrida, e Blind no drible, para fazer 1 a 0. Na esquerda, Placheta deu trabalho. E a Polônia assustou a Holanda nos contra-ataques (AP)

E perder tantos gols era algo perigoso. Mesmo em vantagem, mesmo atuando à espera de um contra-ataque, a Polônia estava viva. E tinha dois provedores preferenciais dessa "vida": Piotr Zielinski e Przemyslaw Placheta. O primeiro carregava bem a bola, acelerando o jogo diante da lentidão da Holanda em remontar sua defesa após os ataques (era comum ver o "3-contra-2" nos contra-ataques poloneses, com Blind e Stefan de Vrij precisando segurar tudo). Já Placheta foi boa novidade da Polônia: com muito espaço dado por Van Aanholt, avançava e trazia perigo à área. A maior prova disso foi seu chute na trave, aos 19'. Zielinski também tentou, aos 32' - e aí, Krul defendeu.

Quando o segundo tempo começou, a situação seguiu parecida. Um bom exemplo disso veio aos 47': Frenkie de Jong veio pela esquerda, cruzou... mas alto demais para alguém poder aproveitar. Na sequência, a Polônia dominou, criou mais um contra-ataque... e aí, chegou rapidamente à área, com Placheta perdendo boa chance aos 47'. De quebra, Krul ainda evitou que o cruzamento de Arkadiusz Reca tivesse consequências piores para a Holanda, logo depois. Aí entraram alguns méritos - sim, méritos - de Frank de Boer. Se Hateboer outra vez tinha atuação tímida no ataque e frágil na defesa, o técnico decidiu arriscar, colocando Dumfries. Que apareceu mais no ataque do que Hateboer vinha fazendo.

Mais do que isso: a Holanda seguiu ofensiva. Só que seguia perdendo chances no momento final - como Memphis Depay, que só teve o empate impedido aos 63' pela defesa de Fabianski, se esticando para espalmar chute colocado do camisa 10. Até mesmo com a jogada parada: mesmo impedido, Wijnaldum cabeceou na trave aos 69' - na sequência, com o lance já parado, Klaassen ainda arrematou nas mãos de Fabianski. Parecia até azar. Só restou a De Boer tentar renovar o ataque, com as entradas de Steven Berghuis - e de Donny van de Beek. 

Todavia, coube a dois que já estavam em campo desde o apito inicial levarem a Holanda à virada no fim. Por sinal, dois nomes que carregaram a responsabilidade dos ataques laranjas nestas datas FIFA. Aos 77', sofrendo pênalti, enfim Memphis Depay teve espaço para chutar - e o fez muito bem, na cobrança exemplar de pênalti para o 1 a 1. E aos 84', Wijnaldum mostrou preponderância mais uma vez, subindo sozinho para cabecear e garantir a vitória, com seu terceiro gol em dois jogos, seu 13º nos últimos 21 gols que a Laranja marcou. A Holanda escorregou, mas se levantou. E se não terá nova chance nas semifinais da Liga das Nações, pelo menos conseguiu resultados que tornarão o seu fim de ano mais pacificado. E diminuirão mais a pressão sobre Frank de Boer, para que ele possa formar um time com mais calma e mais confiança rumo à Euro 2021-que-era-2020 (se ela efetivamente acontecer). Condições e jogadores para isso, há.

Liga das Nações da UEFA - Liga A - Grupo 1

Polônia 1x2 Holanda
Data: 18 de novembro de 2020
Local: Estádio da Silésia (Chorzow)
Árbitro: Orel Grinfeld (Israel)
Gol: Kamil Jozwiak, aos 6'; Memphis Depay, aos 77', e Georginio Wijnaldum, aos 84'.

Polônia
Lukasz Fabianski; Tomasz Kedziora, Kamil Glik, Jan Bednarek e Arkadiusz Reca (Maciej Rybus); Mateusz Klich e Grzegorz Krychowiak (Karol Linetty); Przemyslaw Placheta (Kamil Grosicki), Piotr Zielinski (Jakub Moder) e Kamil Jozwiak; Robert Lewandowski (Krzysztof Piatek). Técnico: Jerzy Brzeczek

Holanda
Tim Krul; Hans Hateboer (Denzel Dumfries), Stefan de Vrij, Daley Blind (Luuk de Jong) e Patrick van Aanholt (Owen Wijndal); Davy Klaassen (Donny van de Beek), Georginio Wijnaldum e Frenkie de Jong; Calvin Stengs (Steven Berghuis), Memphis Depay e Donyell Malen. Técnico: Frank de Boer


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