sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Rival fraco. Mas foi histórico




Era para a foto ser de Van Persie, que fez quatro gols. Só que Sneijder marcou o décimo que a torcida pedia (Getty Images)

A seleção de San Marino é fraca. Fragílima. Nível técnico próximo do risível, seguramente um dos piores da Europa. Basta pegar os resultados do time nas duas últimas eliminatórias de que participou. Na qualificação para a Euro 2008, nenhum ponto, dois gols marcados, 57 sofridos. E, na tentativa de chegar à Copa de 2010, números um pouco mais honrosos: se novamente a "Sereníssima" ficou sem pontos, sofreu "apenas" 47 gols. Até fez um, na derrota para a Eslováquia, em 11 de outubro (a saber, Andy Selva foi o autor).

Óbvio, a equipe sanmarinesa é alvo de constante chacota. Tudo fruto da lógica. A população do país é a menor entre as nações que fazem parte da UEFA (31.918 habitantes). Logo, de uma quantidade já pequena não há de se tirar muita qualidade futebolística. E a maioria dos atletas da seleção ainda é amadora. Resultado: volta e meia, a equipe sofre goleadas acachapantes.

A ponto de quase sofrer uma humilhação adicional: nos lendários 13 a 0 sofridos para a Alemanha, nas eliminatórias da Euro 2008, o goleiro Jens Lehmann quase foi cobrar um pênalti que surgira, no último minuto do jogo em Serravalle. Não o fez porque, na última hora, preferiram que Bernd Schneider o cobrasse, para fechar o placar.

Todo este longo preâmbulo para frisar que, nesta sexta, em Eindhoven, a Holanda fez uma tarefa próxima do obrigatório. Falando no popular: bateu em bêbado. Agora, convém lembrar que o grupo em que a Oranje esteve nas eliminatórias para a Copa de 2010 também era sempre apontado como frágil, permanente motivo para dizer que a equipe de Bert van Marwijk "não era isso tudo". Pode não ser a melhor seleção do planeta, mas o desempenho na África do Sul provou que uma chave de baixo nível nas eliminatórias não é sinônimo de time enganador em momentos decisivos.

E a chave para os 11 a 0 que se viram em Eindhoven também foi fundamental para o vice-campeonato: a concentração. Ter goleado por "apenas" 5 a 0 em Serravalle, na primeira partida das eliminatórias da Euro, ainda se perdoava: a ressaca da Copa ainda persistia. Agora, o cenário era outro. Ainda que vitimada pelas ausências de De Jong e, principalmente, de Robben, o time começou seriamente. Com alguns minutos, já havia tido três escanteios.

E, aos sete minutos, Van Persie fez 1 a 0. Estava iniciado o caminho para aquela que seria uma noite histórica. Continuou aos 12, quando Sneijder fez o segundo. E aos 17, quando, de cabeça, Heitinga fez o terceiro. E nada mais ocorreu por parte da Oranje. O que fazia crer que o time ia passar os 73 minutos restantes apenas administrando o jogo. Nada criminoso, mas iria ser decepcionante.

Não foi. Porque Kuyt fez 4 a 0 logo aos quatro minutos, na etapa final. Porque Huntelaar fez dois gols, continuando a render bem com a camisa laranja. Inclusive, foi com o oitavo gol da partida, feito pelo atacante, que a torcida presente ao Philips Stadion lembrou a cena clássica do Flamengo x Botafogo no Campeonato Carioca de 1981: pôs-se a gritar "Dez! Dez!"

Na verdade, 9 a 0 já bastavam para que a Oranje igualasse seu maior placar a favor, conseguido duas vezes: contra Finlândia, em 1912, e Noruega, em 1972. Só que o ânimo continuou. E Van Persie se mostrou imparável no segundo tempo, marcando mais três e sendo o primeiro jogador a marcar quatro gols pela seleção holandesa desde 1990 - e, naquela ocasião, Van Basten ainda fez mais um, em um 8 a 0 contra Malta, pelas eliminatórias da Euro 1992.

Finalmente, veio o êxtase. Aos 34 minutos, Van Persie fez o 9 a 0. A pressão pelo décimo foi quase irrespirável. E, aos 42, Sneijder pôs Eindhoven abaixo. Era a primeira vez que a Oranje marcava uma dezena de gols em sua história. E o minuto final daquela partida ainda reservava uma surpresa agradável a um jovem: tendo acabado de entrar no lugar de Strootman (e, por tabela, estrear pela Oranje adulta), Wijnaldum fez o 11º gol que fechou uma noite histórica.

Volte-se a frisar: era San Marino, provavelmente a pior seleção da Europa. Só que a principal qualidade deste grupo comandado por Van Marwijk se viu mais uma vez: a grande capacidade de concentração, de foco em um objetivo. Serviu para quebrar um recorde. Pode servir na Euro - alguém duvida que a qualificação é altamente provável? Porque, afinal, como disse Van Persie, "este é um grupo realmente bom."

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