sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Parada obrigatória: avaliação do 1º turno – os de cima

Nada mudou muito no ritmo desta intertemporada que vive o futebol holandês. Em regra, os clubes têm seguido o padrão: treinamentos em balneários (Portugal, Espanha ou Turquia) de climas mais amenos, para fugir do rigor do inverno na Holanda, um amistoso aqui e outro ali, enfim, nenhuma grande novidade nos trabalhos de “recauchutagem” antes do início do returno, na semana que vem. Ainda assim, a intertemporada mostra alguma animação no tocante às transferências. Animação notável principalmente na parte de cima da tabela.

Tome-se como exemplo o PSV, que conseguiu concretizar no último dia de 2016 um negócio desejado desde a temporada passada: um novo empréstimo de Marco van Ginkel, figura que jogou pouco e ajudou muito no returno da temporada passada. Ou então, o Twente, que conseguiu uma promissora contratação em Oussama Assaidi, meio-campista que já teve seu sucesso numa passagem pelo Heerenveen (que chegou a render transferência para o Liverpool). 

O frenesi também toma conta do Ajax: não bastasse a saída de Riechedly Bazoer, agora foi a vez de Nemanja Gudelj ser vendido – no ostracismo desde que protestou contra a ida para a reserva, o sérvio foi para o Tianjin Teda, da China. Sem contar a possibilidade de venda de Anwar El Ghazi (o interesse da Lazio é oficial). Por outro lado, volta e meia cogita-se a possibilidade da volta de Klaas-Jan Huntelaar a Amsterdã. No Feyenoord, o único temor é de que o Watford decida antecipar o fim do empréstimo de Steven Berghuis – afinal, os Hornets viram um jogador da posição de Berghuis ir para a Copa Africana de Nações (Adlène Guedioura - Nordin Amrabat também estava convocado, mas foi cortado).

Essa empolgação adicional nem era necessária. Afinal, o fato do Feyenoord liderar com autoridade já aumenta naturalmente a expectativa pelo que o time pode fazer no returno – ou mesmo se superará o trauma de quase sempre perder força na volta da temporada, para seguir firme rumo ao esperado título holandês. Enquanto isso, o Ajax cresce, o PSV tenta juntar alguns cacos para seguir em frente, e AZ e Heerenveen fazem bonito, com o Twente surpreendendo. Hora da última parte da análise de intertemporada da Eredivisie.

Se o Feyenoord tem raça para subir cada vez mais na Eredivisie, Vilhena simboliza isso: com velocidade, raça e técnica, é o nome do campeonato até agora (ANP/Pro Shots)

Feyenoord

Posição: 1ª colocação, com 42 pontos
Técnico: Giovanni van Bronckhorst
Time-base: Jones; Karsdorp, Eric Botteghin, Van der Heijden e Kongolo; Kuyt, Vilhena e El Ahmadi; Toornstra (Berghuis), Jorgensen e Elia
Artilheiro: Nicolai Jorgensen (atacante), com 12 gols
Destaque: Tonny Vilhena (meio-campista)
Objetivo do início: Título/vaga nas competições europeias
Avaliação: Admiravelmente focado, o Stadionclub fez um tremendo começo de temporada. Até caiu de produção, mas segue líder. Há muito a torcida não confia tanto

O Feyenoord abriu a temporada 2016/17 do Campeonato Holandês goleando o Groningen, fora de casa, por 5 a 0. “Ah, e daí? De nada adianta um bom começo se o Feyenoord sempre entrega o ouro no fim”, muitos pensaram. Vitórias sobre Twente, Heracles Almelo, Excelsior e ADO Den Haag nas rodadas seguintes, mas continuou a desconfiança do tipo “com o nível técnico da Eredivisie, até time de várzea”. O olhar de lado, meio desdenhoso, não se aliviou nem mesmo quando a equipe de Roterdã emplacou 1 a 0 no PSV, em pleno Philips Stadion, na sexta rodada. Nem mesmo na nona, quando o Stadionclub revelou um comovente espírito de luta para virar o jogo contra o NEC aos 47 minutos do segundo tempo (2 a 1, fora de casa). Em parte, era injusto, muito injusto. Porque cada vitória que o Feyenoord conseguia revelava tanta raça que parecia querer enfiar goela abaixo dos detratores que o time era, sim, favorito. 

Era difícil criticar uma equipe que tivera agradável surpresa no gol: com a séria lesão do titular Kenneth Vermeer, Brad Jones foi contratado às pressas, e mostrou muita segurança. Era ser ranheta demais colocar desconfianças sobre a segurança de Eric Botteghin, o único jogador da Eredivisie a ter sido titular em todos os minutos do primeiro turno. Era rigidez demais duvidar da melhora na marcação pelas laterais, com Rick Karsdorp e Terence Kongolo. Duro questionar um meio-campo com dois azougues como Karim El Ahmadi e Tonny Vilhena (este, talvez, o melhor jogador do campeonato até agora) – fora a liderança de sempre de Dirk Kuyt, o símbolo desta equipe. E no ataque, por que desconfiar dos gols de Nicolai Jorgensen, outra aposta certeira e técnica? E como ainda duvidar de Jens Toornstra, Eljero Elia e Steven Berghuis, que deram inegavelmente certo? Em suma: por que não acreditar no Feyenoord? 

Eis o problema: periodicamente, o próprio Stadionclub dá motivo aos que acham que o time vai fraquejar a qualquer momento. Basta dizer que foram duas rodadas seguidas empatando em casa – uma delas, no clássico contra o Ajax (1 a 1, 10ª rodada), fazendo crer que o rival de Amsterdã ainda é a “kryptonita” do Feyenoord. Sem contar a primeira derrota, sofrida justamente para o lanterna Go Ahead Eagles, dali a duas rodadas. E para um time que começou a fase de grupos da Liga Europa vencendo em casa o Manchester United, cair sem muita resistência contra o Fenerbahçe não depõe a favor.

Ainda assim, o Feyenoord seguiu. E se recompôs para fazer um final de primeiro turno exemplar, voltando a exibir trocas rápidas de passe na frente e segurança atrás. O que foi suficiente para voltar a ganhar com frequência – e tendo algumas atuações de gala, como nos 6 a 1 sobre o Sparta Rotterdam e nos 4 a 0 sobre o AZ. Os tropeços de Ajax e PSV ajudaram a equipe a retomar certa vantagem na liderança. Mesmo assim, agora, quando o returno começar, os olhares de desconfiança certamente continuarão pairando sobre De Kuip. A sorte do Feyenoord é que o time parece confiar que é capaz de lavar a alma da torcida e quebrar o tabu de 18 anos sem títulos holandeses. E a própria torcida confia nisso. Aliás, havia muito tempo que não confiava tanto.

Ziyech (de costas) e Dolberg apareceram. E o Ajax reagiu para recuperar as esperanças na temporada (Maurice van Steen/VI Images)

Ajax

Posição: 2ª colocação, com 37 pontos
Técnico: Peter Bosz
Time-base: Onana; Veltman, Sánchez, Viergever e Sinkgraven (Dijks); Schöne, Ziyech e Klaassen; Traoré (El Ghazi), Dolberg e Younes
Artilheiro: Davy Klaassen (meio-campista), com 9 gols
Destaques: Hakim Ziyech (meio-campista) e Kasper Dolberg (atacante)
Objetivo do início: Título
Avaliação: O começo foi tão preocupante que o Ajax dava a impressão de não ter se refeito da perda do título em 2015/16. Mas a equipe se refez, e atua bem. Quem sabe...

Durante muito tempo, permaneceu viva para o Ajax a triste lembrança daquele 8 de maio de 2016. A liderança estava na mão, naquela última rodada de Campeonato Holandês: era só ganhar do De Graafschap, já condenado à repescagem (seria rebaixado nela), e comemorar o 34º título nacional em sua história. Mas o time levou o inesperado 1 a 1, morreu psicologicamente em campo, apelou para um “abafa” desesperado e infrutífero, viu o PSV faturar o bicampeonato... e por muito tempo os traumas só se avolumaram. Até mesmo com a temporada atual já iniciada, tendo Peter Bosz no comando.

Tanto que até o novo técnico se assenhorar do que podia fazer com o grupo, alguns vexames já tinham sido dados. Por mais que fosse começo de temporada, difícil esquecer a eliminação para o Rostov nos play-offs da Liga dos Campeões, com direito a goleada sofrida na Rússia. As perdas de Arkadiusz Milik e Jasper Cillessen, dois jogadores fundamentais, só aprofundavam a impressão de que o trauma continuava. E em nada ajudou o começo preocupante no Holandês: um empate sofrido no último minuto contra o Roda JC (2 a 2, na 2ª rodada), e uma derrota para o Willem II, em plena Amsterdam Arena (2 a 1). Enquanto isso, agosto terminava, e nada de contratações. Conformar-se-ia o Ajax com aquele estado de coisas? Logo a torcida se aliviaria ao ver que não. 

Para princípio de conversa, enfim a diretoria resolveu gastar num reforço útil: Hakim Ziyech. E aos poucos, Peter Bosz foi colocando o Ajax num estilo tático bem mais variável, acelerado e ofensivo. Ziyech chegou a Amsterdã impondo respeito: virou mais um protagonista no meio-campo, com sete assistências e três gols, sendo tão destaque como era no Twente. Na defesa, o goleiro camaronês André Onana entrou no lugar de Cillessen e agradou a ponto de fazer prever uma disputa interessante pela posição com o reforço Tim Krul, enquanto Davinson Sánchez virou soberano no miolo de zaga.

No ataque, o novato Kasper Dolberg logo se revelou um finalizador confiável o suficiente para marcar nove gols, ganhando a confiança da torcida. Bertrand Traoré chegou do Chelsea, e se revelou rápido pela direita – assim como Amin Younes é rápido na esquerda. E Davy Klaassen é a segurança de sempre no meio-campo. Com essas melhoras gradativas, o Ajax cresceu, garantiu uma classificação elogiável na Liga Europa, e ganhou o direito de ainda sonhar com o título holandês. O arquirrival Feyenoord ainda tem vantagem segura na ponta, mas os Ajacieden sabem que têm um time capaz de reagir. A autoconfiança voltou à Amsterdam Arena.


Ramselaar é o único jogador do PSV com algo a comemorar na temporada. Mas sozinho ele não consegue acabar com as preocupações (Joep Leenen/ANP)
PSV

Posição: 3ª colocação, com 34 pontos
Técnico: Phillip Cocu
Time-base: Zoet; Brenet (Arias), Isimat-Mirin (Schwaab), Moreno e Willems; Pröpper, Ramselaar e Guardado; Pereiro, Luuk de Jong e Narsingh (Bergwijn)
Artilheiro: Gastón Pereiro (atacante), com 6 gols
Destaque: Bart Ramselaar (meio-campista)
Objetivo do início: Título
Avaliação: Lesões, más atuações e um estilo de jogo “manjado” dificultam demais a vida do PSV na temporada. Um bom recomeço é necessário

Quando a Eredivisie recomeçou, o fato de ter sofrido pouquíssimas mudanças na base que lhe deu o bicampeonato (apenas Jeffrey Bruma saiu) passava a impressão de que o PSV podia sonhar muito concretamente com o tricampeonato nacional. Por incrível que pareça, pode ter sido justamente uma das razões que fez os Boeren caírem de produção na temporada. Por enquanto, Phillip Cocu ainda não conseguiu dar variações táticas à equipe: mesmo tentando até experiências no 5-3-2, o time de Eindhoven ainda se dá melhor com o 4-3-3. O que torna o estilo de jogo da equipe “manjado”, fácil de ser neutralizado. Isso é parte da explicação por uma melancólica primeira parte de temporada: time sofrendo na liga, eliminado da Liga dos Campeões sem vencer um jogo sequer, eliminado até da Copa da Holanda. Mas é isso: apenas uma parte. 

Outra parte se deve única e exclusivamente aos jogadores: muitos deles também não exibem atuações satisfatórias como na temporada passada. Basta olhar para o ataque: várias vezes o PSV saiu de campo sem gols no turno do Holandês (como nos 0 a 0 contra Groningen, Willem II e Roda JC). E várias vezes perdeu pênaltis (foram 12, dos últimos 18). Esquema tático nenhum justifica tais dados. O que justifica é a ineficiência de alguns jogadores que antes faziam isso sem problemas – como, principalmente, Luuk de Jong, que está devendo nas finalizações. No meio-campo, Davy Pröpper há muito já não é satisfatório no papel de elemento-surpresa. Luciano Narsingh e Gastón Pereiro até tentam alguma coisa (assim como o reserva Steven Bergwijn), mas não dão a impressão de protagonismo.

Para piorar, os reforços ainda não saíram a contento: Siem de Jong passou longe de justificar o seu empréstimo, ficando mais no banco do que em campo, enquanto o zagueiro alemão Daniel Schwaab ainda não se revelou alternativa considerável o suficiente para possibilitar variações táticas. Sem contar as lesões que vitimaram dois jogadores de destaque na equipe: o meio-campo perdeu muita força com os problemas de Andrés Guardado e Jorrit Hendrix, e Jürgen Locadia faz alguma falta no ataque. Com tudo isso, não impressiona a temporada mais difícil do PSV. Se serve de consolo, uma contratação já deu certo: Bart Ramselaar oferece velocidade na marcação e na armação, sendo titular absoluto (e ganhando chances na seleção). Para o returno, fica a esperança no retorno de Marco van Ginkel, figura importante em 2015/16. E também a esperança de que o recomeço de campeonato traga resultados que mantenham vivo o sonho do tri.

Na ótima temporada que faz o Heerenveen, Sam Larsson é um dos donos da bola (Jeroen Putmans/VI Images)

Heerenveen

Posição: 4ª colocação, com 29 pontos
Técnico: Jürgen Streppel
Time-base: Mulder; Marzo, St. Juste, Van Aken e Bijker; Van Amersfoort, Schaars e Kobayashi; Zeneli (Slagveer), Ghoochannejhad e Larsson
Artilheiros: Reza Ghoochannejhad (atacante) e Sam Larsson (atacante), ambos com 7 gols
Destaques: Arber Zeneli (atacante), Erwin Mulder (goleiro) e Stijn Schaars (meio-campo)
Objetivo do início: vaga nos play-offs pela Liga Europa
Avaliação: Demorou um pouco, mas o Heerenveen engrenou. Tem um time sólido a ponto de poder até aspirar à vaga direta na Liga Europa

O Heerenveen já agradeceria aos céus só de ter uma temporada com menos turbulências do que se viu em 2015/16, dentro e fora de campo. Para isso, tratou de fazer por onde nas quatro linhas, contratando tanto um técnico notável por fazer times mais sólidos e protegidos (Jurgen Streppel) quanto jogadores que realmente pudessem ser úteis no time titular (Stijn Schaars e Reza “Gucci” Ghoochannejhad), além de manter jogadores técnicos, como Luciano Slagveer e Sam Larsson. Com toda a diretoria trocada fora de campo, o ambiente tinha tudo para ser mais calmo. Mas não foi – não imediatamente: o começo da campanha no turno foi preocupante, com dois empates e uma derrota. Ficou o temor de que a demora na criação do entrosamento pudesse levar a equipe da Frísia de volta a tempos confusos. Mas esse temor não duraria muito: na 4ª rodada, o Fean conseguiu vencer pela primeira vez nesta temporada da Eredivisie (2 a 1 no Zwolle). 

Estava iniciada uma sequência que consolidou o time na parte de cima – e como o “melhor do resto”, abaixo do campeonato particular que os três gigantes holandeses sempre disputam. Foram oito jogos de invencibilidade, com seis vitórias e dois empates – sendo que os empates foram arrancados de dois dos grandes (1 a 1 com o PSV, e 2 a 2 com o Feyenoord). Os destaques foram aparecendo. No gol, Erwin Mulder enfim recuperou a confiança que lhe faltava nos tempos de Feyenoord; como esperado, Schaars converteu-se num volante confiável no meio-campo; no ataque, o iraniano “Gucci” Ghoochannejhad se encarregou dos gols, e a dupla Zeneli-Larsson, da técnica. Sem contar boas surpresas, como o japonês Yuki Kobayashi. Assim se viu um Heerenveen renovado, que superou até o bom AZ para liderar a disputa pela vaga direta na Liga Europa. Alívio maior, impossível.


Janssen foi embora? Sem problemas: AZ apostou em Weghorst, e está se dando bem (Pro Shots)

AZ

Posição: 5ª colocação, com 28 pontos
Técnico: John van den Brom
Time-base: Rochet; Johansson, Vlaar, Wuytens (Luckassen) e Haps; Rienstra, Van Overeem e Bel Hassani; Jahanbakhsh, Weghorst e Dabney dos Santos
Artilheiro: Wout Weghorst (atacante), com 9 gols
Destaques: Ridgeciano Haps (lateral esquerdo) e Wout Weghorst (atacante)
Objetivo do início: vaga nos play-offs pela Liga Europa/vaga direta na Liga Europa
Avaliação: Eis um time que aprendeu a lição. Se pelejaram no primeiro turno antes de decolar em 2015/16, agora Alkmaarders são regulares desde o começo

Na temporada passada, o AZ terminou o primeiro turno como a grande decepção do Campeonato Holandês. Com um time de nível técnico aceitável, capaz de dificultar constantemente as coisas para os três grandes, concluir as 17 primeiras rodadas em 12º era sinal forte de que algo estava errado – e precisava melhorar. A intertemporada veio, e sabe-se o que aconteceu: com Ron Vlaar chegando para liderar a zaga (e o time), mais um Vincent Janssen que se tornou goleador imparável, os Alkmaarders foram direto para a quarta posição no returno. Mais do que isso: mostrando um jogo técnico. Veio a janela de transferências. Alguns membros fundamentais da base da equipe, como o próprio Janssen ou Markus Henriksen, deixaram o AZ. Os reforços sairiam a contento? O time sofreria para manter seu estilo tático? 

Para a alegria da torcida, as respectivas respostas são “sim” e “não”. No meio-campo, por exemplo, Iliass Bel Hassani foi aposta certeira: contratado com a Eredivisie já em andamento, o meio-campista virou titular absoluto – e Van Overeem minorou as saudades potenciais de Henriksen. Assim como também fez Weghorst: o oriundo do Heracles Almelo ocupa satisfatoriamente a tarefa de “homem-gol” antes pertencente a Janssen. Na defesa, além de Vlaar seguir sendo a referência da equipe, Ridgeciano Haps cresceu de produção na temporada, mostrando-se um lateral ofensivo. E o time vai até melhor fora de casa do que dentro. Resultado: o AZ não só seguiu como um time perigoso, mas fez bonito na Liga Europa, avançando à segunda fase. Há alguns anos sendo conduzido com critério nas contratações (teria o consultor Billy Beane, cuja história nos Oakland Athletics inspirou Moneyball, algo a ver?), o AZ mostra que aprendeu a lição. Merece muito respeito.


Haller, o destaque de sempre; Zivkovic, de novo uma esperança. E o Utrecht se mantém em boas condições (Hollandse Hoogte)
Utrecht

Posição: 6ª colocação, com 25 pontos
Técnico: Erik ten Hag
Time-base: Ruiter; Troupée, Leeuwin, Willem Janssen e Van der Meer; Strieder, Amrabat, Ayoub e Barazite; Haller e Zivkovic 
Artilheiro: Sébastien Haller (atacante), com 7 gols
Destaques: Nacer Barazite (meio-campista), Sébastien Haller (atacante) e Richairo Zivkovic (atacante)
Objetivo do início: vaga nos play-offs pela Liga Europa/vaga direta na Liga Europa
Avaliação: Os Utregs foram mais um time que demorou para se estabilizar. E mais um time que, quando fez isso, cresceu bastante de produção, cumprindo as expectativas

Mesmo causando alguma decepção ao final da última temporada (nos play-offs por lugar na Liga Europa, perdeu a vaga para o Heracles Almelo em casa), o Utrecht continuava sendo um time que causava boa impressão na Holanda. Afinal, não só tinha jogadores técnicos na frente, mas parecia um clube que tinha uma ideia do que desejava fazer em campo – e por isso, respaldava a qualquer custo o técnico Erik ten Hag. Contudo, tão logo começou a Eredivisie 2016/17, a impressão foi a pior possível: a derrota para o PSV na primeira rodada (2 a 1) começou uma sequência negativa, sem vitórias nas seis primeiras rodadas – três empates e três derrotas, incluindo aí um 5 a 1 sofrido em casa, para o Groningen. Sem dúvida, era um teste considerável para o respaldo que os Utregs tinham com diretoria e torcida.

O respaldo foi mantido. O time voltou a vencer na sétima rodada, fazendo 2 a 0 no Sparta Rotterdam. A partir daí, as coisas retornaram a um estado mais positivo: o Utrecht voltou a ser regular, sem mais derrotas após a 8ª rodada. No meio-campo, Nacer Barazite voltou a ser um ponta-de-lança perigoso, criando jogadas ou mesmo finalizando. Chegando sob intensa desconfiança, após problemas de comportamento em Groningen, Ajax e Willem II, Richairo Zivkovic enfim agradou, sendo bom atacante. E já se esgotam os adjetivos para descrever a confiança que a torcida tem em Sébastien Haller, constante garantia de gols. Para melhorar, na defesa, Giovanni Troupée ocupou bem a lateral direita, e Willem Janssen, enfim recuperado de renitentes lesões, usou da experiência para atuar bem na zaga. Assim, o Utrecht cresceu de produção. Pode até melhorar, mas já está numa posição mais condizente com o que se esperava dele. E as expectativas seguem boas, com as novas contratações – como o volante Wout Brama.


O sorriso de Enes Ünal é o sorriso do Twente, que faz campanha acima das expectativas baixas (SportPhoto Agency/VI Images) 

Twente

Posição: 7ª colocação, com 24 pontos
Técnico: René Hake
Time-base: Marsman; Ter Avest, Bijen, Thesker e Van der Lely; Mokotjo, Celina e Klich; Yeboah, Ünal e Ede
Artilheiro: Enes Ünal (atacante), com 10 gols
Destaque: Enes Ünal (atacante)
Objetivo do início: vaga nos play-offs pela Liga Europa/escapar do rebaixamento
Avaliação: Quem diria que daria certo?! Com empréstimos certeiros, time esforçado e bom desempenho em casa, os Tukkers conseguem acelerar a reconstrução do clube

Diante do que era o Twente antes da liga começar, quem diria que o final do turno revelaria uma situação diferente da esperada?! Cabe lembrar: o clube de Enschede até garantira a permanência na Eredivisie em campo, mas pela situação de penúria financeira, sofrera a sanção máxima do rebaixamento à segunda divisão – mas para não perturbar o resultado de um campeonato que já terminara, a federação holandesa decidiu dar uma surpreendente colher de chá, mantendo os Tukkers na divisão de elite. O que minorava os problemas, mas nem tanto. 

Afinal de contas, o Twente não só se mantivera na primeira divisão de uma maneira altamente confusa, como as dívidas continuavam. Era necessário vender quem pudesse render dinheiro - só faltaram os rojões estourando quando Hakim Ziyech, enfim, foi vendido (o marroquino chegou a começar a temporada no Grolsch Veste). Restava ao técnico René Hake apostar nos jovens emprestados pelo Manchester City, parceiro do Twente, uni-los aos novatos que ficaram para contar a história e esperar o que aquele time mostraria em campo. O objetivo era um só: a manutenção na primeira divisão. 

Eis que o time está conseguindo fazer isso de uma maneira mais tranquila do que se esperava. Com mais experiência, os defensores estão mais regulares do que na temporada passada, sem tantos erros, acalmando mais a torcida. No meio-campo, Kamohelo Mokotjo se mostra incansável na marcação, e nota-se o primeiro emprestado útil: o polonês Mateusz Klich, que estava emprestado no Wolfsburg. Mas é no ataque que jogam os símbolos da temporada surpreendente, ambos cedidos pelo “parceiro oficioso” Manchester City. O kosovar Bersant Celina mostra capacidade até para armar jogadas, enquanto o turco Enes Ünal cumpre as expectativas: é o vice-artilheiro do campeonato. De quebra, o Twente voltou a falar grosso em casa: é o terceiro melhor da Eredivisie nos jogos em seu estádio. E de clube que apenas pensava em afastar-se das últimas posições, sonha com os play-offs pela Liga Europa. Cabe repetir a pergunta: quem diria?!

Lewis Baker (de frente) vinha bem no Vitesse. Ganhou um grande parceiro com Van Wolfswinkel (vitesse.nl)

Vitesse

Posição: 8ª colocação, com 23 pontos
Técnico: Henk Fräser
Time-base: Room; Leerdam, Kashia, Van der Werff e Ota; Nakamba, Baker e Foor; Rashica, Van Wolfswinkel e Tighadouini
Artilheiro: Ricky van Wolfswinkel (atacante), com 8 gols
Destaques: Lewis Baker (meio-campista) e Ricky van Wolfswinkel (atacante)
Objetivo do início: vaga nos play-offs pela Liga Europa/vaga direta na Liga Europa
Avaliação: Se o objetivo das contratações era tornar o Vites mais regular, ele foi alcançado. A equipe voltou a ser confiável para a torcida, e tem margem para melhora

O segundo turno da Eredivisie passada foi extremamente traumático para o Vitesse. Uma equipe que parecia medrosa, em casa e fora, degringolando técnica e taticamente após a saída repentina de Peter Bosz; uma torcida impaciente; um técnico que não conseguiu controlar a queda brusca (Rob Maas). Resultado: de favorito à quarta posição, a equipe de Arnhem ficou fora até da zona dos play-offs pela Liga Europa. Urgia dar uma satisfação à torcida. Ela veio de dois modos. O primeiro, contratando Henk Fräser, que vinha de um trabalho em que dera ao ADO Den Haag justamente o que faltava ao Vitesse: solidez. O segundo, com outra contratação, desta vez para massagear o ego ferido: trazer de volta alguém que despontara em Arnhem, Ricky van Wolfswinkel. Que, aliás, como o Vitesse, também tinha o que reagir na carreira.

Não se pode dizer que essa reação foi imediata: o mesmo time que estreou no campeonato fazendo 4 a 1 no Willem II fora de casa continua periclitante em seu próprio estádio (é apenas o 12º colocado, considerando só os desempenhos de cada time em casa na Eredivisie). Mas ela está acontecendo. Fräser rapidamente impôs comando ao Vitesse. O que deu confiança aos jogadores. Para começo de conversa, Van Wolfswinkel assumiu o protagonismo que o Vitesse queria dele: é a referência no ataque. A seu lado, o albanês Milot Rashica voltou a mostrar boa produção, bem como outro reforço, Adnane Tighadouini – e o brasileiro Nathan tem aproveitado melhor as chances dadas. No meio-campo, enquanto Marvelous Nakamba cuida da marcação, o inglês Lewis Baker cresceu de importância: muito bem na armação e nas bolas paradas, Baker já mostra nível técnico para voltar ao Chelsea e ser aproveitado lá. Na defesa, Eloy Room segue como um dos melhores goleiros da Eredivisie, enquanto o ídolo da torcida Guram Kashia mostra segurança. Enfim, ainda falta algo, mas o Vitesse parece mais confiável.

Na segunda passagem pelo Heracles, Armenteros faz o que sabe: ser a esperança de gols (Pro Shots)

Heracles Almelo

Posição: 9ª colocação, com 21 pontos
Técnico: John Stegeman
Time-base: Castro; Te Wierik, Hoogma, Pröpper e Breukers; Gosens, Bruns e Pelupessy; Darri (Navratil), Armenteros e Kuwas
Artilheiro: Samuel Armenteros (atacante), com 8 gols
Destaque: Samuel Armenteros (atacante)
Objetivo do início: vaga nos play-offs pela Liga Europa/vaga direta na Liga Europa
Avaliação: Por mais que pareça distante de repetir o ótimo desempenho da temporada passada, o Heracles está crescendo. Por enquanto, se mantém confortável na tabela

Era demais esperar que o Heracles Almelo igualasse a campanha até histórica de 2015/16, quando ganhou a chance de atuar num torneio continental pela primeira vez em sua história. Até porque, quando jogou, o time da cidade de Almelo fez o esperado bate-e-volta: caiu para o Arouca-POR, na terceira fase preliminar da Liga Europa. Sem contar as perdas que vieram entre a temporada passada e esta: só para citar dois nomes fundamentais no ano passado, Iliass Bel Hassani e Wout Weghorst deixaram os Heraclieden. Houve solavancos (o clube chegou a frequentar a 15ª posição, primeira acima da zona de repescagem/rebaixamento), e isso era esperado.

Porém, aos poucos, o técnico John Stegeman começou a refazer algo próximo de um time-base. Aproveitando os destaques em quem a torcida já confia há muito tempo (Bram Castro, Thomas Bruns), aos poucos os reforços foram se entrosando e mostrando valor. Brandley Kuwas começa a justificar sua contratação junto ao Excelsior, enquanto o sueco de ascendência cubana Samuel Armenteros repete no Heracles o que já fizera no Willem II: corpulento e goleador, é a referência perfeita no ataque. Na defesa, após alguns ajustes, a zaga com o jovem Justin Hoogma (18 anos) e Robin Pröpper já começa a se entender. Serviu para um final de primeiro turno mais tranquilo, terminando na nona colocação. Para a torcida, por enquanto, tudo bem.

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